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PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS
Ribeirão Preto
2016
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO
PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS
Ribeirão Preto
2016
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Abstract
I. Introdução ............................................................................................................................ 6
V. Discussão ........................................................................................................................... 22
6
No âmbito familiar, o transtorno promove dificuldades no convívio e no dia-a-dia,
pois, as crianças apresentam dificuldades em seguir regras e normas, em completar tarefas
simples, agindo também com agressividade e intolerância à frustração (Benczik & Casella,
2015).
Em contrapartida, no âmbito escolar as crianças com TDAH apresentam dificuldades
de atenção, desinteresse pelas atividades escolares, são desorganizadas com o seu material e,
muitas vezes, são agitadas (Jafferian & Barone, 2015). Consequentemente, alguns professores
agem de forma mais repressiva, dando ordens e queixam-se dessas crianças, pois estas não
apresentam o mesmo rendimento escolar se comparadas a seus pares (Benczik & Casella,
2015). Destarte, poderá levar a construção de um rótulo, cujas consequências poderão ser
irreversíveis para esses alunos (Jafferian & Barone, 2015).
Já os especialistas, de certa forma, apresentam dificuldade em orientar melhor os
professores e familiares, com a finalidade de trabalharem juntos para ajudar essas crianças
(Campos et al. 2007).
Devido ao grande impacto causado pelo TDAH no ambiente familiar e na vida social
das crianças com este transtorno, torna-se necessário uma intervenção com profissionais
especializados, como o psicopedagogo, a fim de atuar como um facilitador da aprendizagem
(Campos et al. 2007), ajudando o indivíduo a se tornar mais autônomo, além de promover
uma melhor resiliência.
Estudos demonstram que o diagnóstico precoce pode minimizar vários
comprometimentos e possíveis dificuldades no futuro (Pereira et al. 2012), como
comorbidades associadas a este transtorno. Apontam também que as interações familiares
podem produzir grandes efeitos na vida da criança, pois, o contexto familiar é um importante
meio pelo qual ela aprende a se relacionar com o mundo (Regalla et al. 2007).
Sendo assim, os problemas decorrentes do TDAH, em geral, não desaparecem com a
idade e, muitas vezes, as consequências podem persistir até a idade adulta (Dumas, 2011).
Além dos problemas já descritos anteriormente, os indivíduos com TDAH podem apresentar
uma saúde emocional e competência social prejudicada (Guidolim et al, 2013), como também
são vulneráveis a uma vasta variedade de complicações psicossociais (Regalla et al. 2007).
Neste sentido, o presente trabalho pretende fazer um levantamento bibliográfico
acerca do TDAH e suas implicações na vida dos indivíduos com este transtorno, como
comorbidades que interferem negativamente o seu desenvolvimento.
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II. Objetivo
O presente trabalho teve por objetivo geral fazer um levantamento bibliográfico acerca
de estudos relacionados a crianças com TDAH. Os objetivos específicos foram discutir sobre
os benefícios de um diagnóstico precoce associado a uma intervenção psicopedagógica a
essas crianças e as consequências de um diagnóstico tardio.
III. Metodologia
Foi realizado um levantamento bibliográfico, por meio de uma busca na base de dados
SciELO, LILACS e PePSIC, utilizando como palavras-chave “Déficit de Atenção”, “TDAH”,
“Attention Deficit”, “ADHD”, “Psicopedago”, “Psychopedago”, “Attention
deficit/hyperactivity disorder”, “Fatores de Risco”, “Transtorno do deficit de atenção com
hiperatividade”, “Avaliação”, “Família”, “Attention deficit disorder with hyperactivity”,
“Learning Disorders”. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos no
idioma Português, publicados no período de 2006 a 2016.
Na busca inicial foram encontrados um total de 141 artigos com estes descritores nas
bases de dados (SiciELO n= 64, LILACS n= 6, PePSIC n=71). Após a leitura dos resumos
foram aplicados os critérios de exclusão, eliminando os artigos repetidos e os estudos que
avaliaram outras faixas etárias, como também os que continham outros eixos temáticos.
Assim, dos 141 artigos foram selecionados 10 trabalhos. Esses artigos selecionados
foram analisados e agrupados em eixos temáticos, com o intuito de responder às questões
propostas ao longo da pesquisa: Definição do TDAH, Sintomas do Transtorno, Diagnóstico,
Intervenção, Benefícios do diagnóstico precoce e Consequências do diagnóstico tardio.
IV. Resultados
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Em concordância Pereira et al. (2012) descrevem o TDAH como um dos transtornos
psiquiátricos mais estudados na infância e estima-se que seja uma das principais fontes de
encaminhamento infantil ao sistema de saúde. Além disso, Regalla et al. (2007) destaca que o
transtorno atinge cerca de 3% a 6% das crianças desde tenra idade.
Neste contexto, Carvalho et al. (2015) afirmam que o TDAH é um “termo utilizado
para se referir a um transtorno mental crônico, cujas manifestações essenciais são
moduladas pelos estágios evolutivos por que passam os indivíduos” (Carvalho et al., p.293,
2015).
Para Campos et al. (2007) o TDAH é entendido como um transtorno de base
neurobiológica, sendo-lhe imputada uma suscetibilidade de base hereditária.
Além desses autores, Benczik & Casella, (2015) definem o TDAH como um
transtorno multifatorial e heterogêneo do ponto de vista clínico.
Antes da terminologia atual os termos mais conhecidos, segundo Dumas (2011), eram
lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, hipercinesia, síndrome hipercinética ou
impulsiva, reação hipercinética da infância e déficit de atenção com ou sem hiperatividade.
Em complemento, Jafferian & Barone (2015) acrescentam outros termos, como síndrome da
criança com lesão cerebral, síndrome da criança hiperativa e agitação.
Já Antony & Ribeiro (2008), explicitam que essas diversas nomenclaturas se devem a
mudanças terminológicas, refletidas pelas tendências culturais, teóricas e científicas na
conceitualização da etiologia e nos aspectos essenciais do transtorno. Em seus estudos, esses
mesmos autores realizaram um apanhado histórico das terminologias, dentre elas: Lesão
Cerebral Mínima (1947), Disfunção Cerebral Mínima (1962), Reação Hipercinética da
Infância (1968), Síndrome de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (1980),
Distúrbio de Déficit de Atenção por Hiperatividade (1987), Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (1994).
Dumas (2011) evidencia que grande parte dos sintomas do transtorno tendem a
diminuir com a idade. A hiperatividade e a impulsividade podem melhorar por volta do final
da infância ou início da adolescência. Já a desatenção pode persistir por mais tempo,
frequentemente, até o final da adolescência e na idade adulta.
9
natureza desenvolvimental e, por conseguinte, em constante transformação,
desse transtorno. (DUMAS, 2011, p.233)
10
Apesar de vários estudos, ainda não é possível definir uma causa específica
responsável pelo transtorno. Porém, Carvalho et al. (2015) afirmam que se trata de um
transtorno hereditário, com índices que variam de 80 a 90%. Em suas pesquisas estas mesmas
autoras ressaltaram que não existe um único gene responsável pelo TDAH, pois, vários genes
associados e de pequenos efeitos levam a propensão do desenvolvimento do quadro e, ainda,
estudos com neuroimagem demonstram que há evidências de alterações em determinadas
áreas cerebrais, sendo essas significativas nas regiões do córtex pré-frontal dorsolateral,
regiões do gânglio da base e cerebelo.
De acordo com a literatura, a incidência de crianças com TDAH é mais frequente em
meninos. Segundo Carvalho et al. (2015) a prevalência de meninos com dificuldades de
aprendizagem é numa proporção de 6:1 se comparados às meninas. “Este predomínio do sexo
masculino tem sido explicado por hipóteses genéticas, anatômicas, de especialização
hemisférica e devido a causas sociais, dependendo da população estudada” (Carvalho et al.,
p.298, 2015).
Dumas (2011) afirma que a preponderância é da ordem de 2 a 3 meninos para uma
menina. Em contrapartida, essa taxa é mais elevada nos estudos clínicos, podendo atingir até 9
meninos para 1 menina.
Conforme Jafferian & Barone (2015), o TDAH define-se como um transtorno que
parece provocar uma alteração no comportamento e na capacidade de manter a atenção, não
se tratando assim, de uma disfunção. Este transtorno caracteriza por desatenção, distração,
hiperatividade e impulsividade e, por isso, é um dos principais problemas observados na
criança no processo pedagógico nos últimos dez anos.
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Em concordância, Guidolim et al. (2013) baseando-se no DSM concluiram que para a
criança ser classificada com TDAH, esse conjunto de sintomas devem apresentar um grau
maior que aquele observado em outras pessoas com a mesma faixa etária e de
desenvolvimento.
Essas mesmas autoras afirmam que as crianças com TDAH apresentam dificuldades
em emitir comportamentos frequentemente adequados, como, por exemplo, seguir normas,
problemas nas diversas relações, como resolução de problemas, agressividade, pedir
desculpas, aguardar a vez para falar, prestar atenção, ouvir e demonstrar interesse pelo outro,
reconhecer e perceber os sentimentos do outro, compreender a situação, respeitar as
diferenças, oferecer ajuda e compartilhar entre outros (Guidolim et al., 2013).
Antony & Ribeiro (2008) ressaltam que as pessoas com TDAH possuem dificuldade
em inibir os impulsos e regular com consciência a atividade motora. Possuem ainda
dificuldades em emitir com frequência comportamentos relacionados à defesa de direitos, de
autoestima, solicitar mudanças, defender-se de acusações injustas e pressões do grupo
(Guidolim et al., 2013).
Além disso, essas crianças apresentam dificuldade de controlar as emoções, baixa
tolerância à frustração, trocas constantes de atividades, problemas na organização acadêmica e
dificuldade em manter relação de amizade com as outras crianças da mesma idade. Apresenta
também movimentos corporais desnecessários, antecipação de respostas, inabilidade em
esperar um acontecimento e agitação (Guidolim et al., 2013). Essas dificuldades
comprometem a aquisição da linguagem oral e escrita e, por conseguinte, a aprendizagem
escolar (Okuda et al., 2011).
Dumas (2011) aponta que os comportamentos manifestos por crianças com TDAH
persistem durante anos e podem perturbar gravemente a rotina da família e da escola. Assim,
como o nome indica, esse transtorno tem duas dimensões maiores: a Desatenção, de um lado,
e a Hiperatividade e a Impulsividade, de outro.
Em relação à desatenção, a criança é incapaz de manter uma atenção contínua e
prolongada em várias atividades cotidianas, além de não se esforçar como as outras crianças,
desistir mais rápido diante do obstáculo ou do fracasso e, frequentemente, não respeitar regras
(Dumas, 2011).
No que diz respeito à hiperatividade e impulsividade, as crianças que apresentam tais
sintomas, mexem-se sem parar, têm dificuldades de permanecerem quietas, falam
desmedidamente, entre outros (Dumas, 2011).
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Dumas (2011) ressalta ainda que os sintomas são menores ou mesmo inexistentes
quando é proposto para a criança uma atividade que lhe motive, quando brinca livremente ou
quando tem atenção e apoio de um adulto. No entanto, se agravam quando a tarefa é
complexa, exigindo que a criança se organize por si mesma, quando a situação não lhe
interessa ou quando não há uma recompensa imediata do resultado proposto.
Um estudo realizado por Carvalho et al. (2015) comprovou que todas as crianças com
TDAH avaliadas apresentaram idade motora inferior à idade cronológica, o que evidencia que
a motricidade organiza as sensações e percepções que dão origem a aprendizagens cada vez
mais complexas. Depreende-se, então, que a desorganização psicomotora resulta em
alterações na aprendizagem infantil. Neste estudo, constatou-se também que as funções
psicomotoras mais deficitárias foram organização espacial, equilíbrio, organização temporal e
esquema corporal.
À vista disso, Carvalho et al. (2015) explicam que o fato da região frontal do cérebro
estar mais comprometida nos indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade resulta em dificuldades acentuadas nas funções executivas. Esse termo
engloba várias funções que são essenciais para o funcionamento normal dos indivíduos, tais
como:
Neste contexto, Pereira et al. (2012) afirmam que as funções executivas dizem respeito
às habilidades necessárias para planejar, iniciar, realizar e monitorar comportamentos
intencionais, relacionados a um objetivo ou a demandas ambientais. Assim, as funções
executivas são fundamentais para a capacidade de engajamento em comportamento orientado
a objetivos, realizando ações voluntárias e auto-organizadas.
De acordo com Dumas (2011) funções executivas são os processos neuropsicológicos
que interferem na autorregulação e permitem ao ser humano coordenar seu comportamento de
forma flexível e exata em funções das exigências sempre mutáveis de seu ambiente, assim
como de seu estado pessoal. Deste modo, as crianças com TDAH apresentam um déficit de
quatro funções executivas que dependem estreitamente de processos de inibição para o seu
bom comportamento. Esses processos permitem à criança coordenar e controlar o seu
13
comportamento motor e verbal na memória de trabalho, na autorregulação afetiva e
motivacional, na interiorização da linguagem e na reconstituição.
Benczik & Casella (2015) enfatizam que as crianças com TDAH recebem mais
feedbacks negativos de seus pais e possuem pouca oportunidade de interações positivas dentro
e fora do lar.
Conforme Guidolim et al. (2013), as interações sociais possibilitam condições para
aquisição de conceitos, habilidades e estratégias cognitivas que afetam o desenvolvimento
social e aprendizagem. Desta forma, a inabilidade social e os comportamentos inadequados
apresentados pelas crianças com TDAH influenciam negativamente as relações familiares e
escolares.
Em concordância, Okuda et al. (2011) enfatizam que as características nucleares do
TDAH, ou seja, a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade prejudicam o desempenho
acadêmico, os relacionamentos familiar e social, o ajustamento psicossocial e a vida
laborativa.
Além disso, em seus estudos, Dumas (2011) concluiu que essas crianças apresentam
problemas de adaptação, baixa autoestima e sentimento de impotência adquirida ou de
incompetência.
3.3 – Diagnóstico
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Okuda et al. (2011) destacam que as principais características do TDAH são a
desatenção, a agitação psicomotora e a impulsividade, podendo variar em maior ou menor
grau, conforme o subtipo: predominantemente desatento; predominantemente
hiperativo/impulsivo; ou combinado.
Segundo Dumas (2011), o DSM-IV pormenoriza três subtipos do TDAH, o Déficit de
Atenção/ Hiperatividade, tipo predominante desatento, a criança apresenta mais sintomas de
desatenção e menos de hiperatividade e impulsividade. No Déficit de Atenção/Hiperatividade
tipo predominante hiperativo-impulsivo, ocorre o inverso, a criança apresenta mais sintomas
de hiperatividade e impulsividade e menos de desatenção. Já no Déficit de
Atenção/Hiperatividade tipo combinado, a criança apresenta simultaneamente os sintomas de
desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Em contrapartida, a CID-10 não define subtipos, mas discrimina a perturbação da
atividade e da atenção do transtorno hipercinético e transtorno de conduta, dependendo da
criança preencher ou não os critérios de um transtorno de comportamento (Dumas, 2011).
Destarte, a CID-10 torna-se mais restritiva que o DSM-IV, requerendo um número
mais elevado e diversificado de sintomas para determinar um diagnóstico, e, portanto, em
suas pesquisas Dumas (2011) concluiu que em um estudo realizado todas as crianças que
preenchem os critérios do transtorno da CID, também têm o DSM, mas o inverso só é
verdadeiro para 1 em 4 casos.
Além disso, o diagnóstico da CID-10 exige pelo menos seis sintomas de desatenção,
três de hiperatividade e um de impulsividade para a obtenção de um diagnóstico, contudo, só
pode ser feito se a criança não apresentar um transtorno de humor ou um transtorno de
ansiedade. Já o DSM-IV não exclui tal comorbidade e exige apenas seis sintomas de
desatenção ou hiperatividade-impulsividade (Dumas, 2011).
Ademais, correlacionando a CID-10 com o DSM-IV, Dumas (2011) compreende que
esses sintomas devem persistir no mínimo seis meses, começar antes dos sete anos de idade,
mesmo que o transtorno seja diagnosticado posteriormente e ser de natureza invasiva, ou seja,
manifestar-se em mais de uma situação e contexto, como por exemplo, no lar e na escola.
A 5ª edição do DSM, lançado em 2013, sofreu algumas alterações. O DSM-IV a
exigência era que os sintomas estivessem presentes até os sete anos de idade, contudo, nesta
nova versão (DSM-V), foi alterada para os doze anos, “(…) tendo em vista as mudanças
comportamentais que podem ocorrer e podem ser confundidas com esse transtorno de
hiperatividade” (Jafferian & Barone, p. 120, 2015).
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Dumas (2011) afirma que atualmente é comum avaliar a criança em situações
diferentes e por diversos métodos, por exemplo, entrevistas clínicas, questionários ou escalas
de comportamento, entrevistas diagnósticas estruturadas e observações diretas, contudo,
muitos estudos concluem que os dados obtidos nem sempre coincidem e podem complicar o
diagnóstico. Além disso, o diagnóstico pode ser dificultado também pelo fato dos sintomas
definidores do TDAH depender da idade e do sexo da criança avaliada.
Desidério & Miyazaki (2007) salientam que ao realizar um diagnóstico de TDAH se
faz necessário diferenciar os sintomas do transtorno dos comportamentos típicos da idade em
crianças ativas, como por exemplo, correrias e barulhos excessivos.
Jafferian & Barone (2015) abordaram em seus estudos o efeito do diagnóstico do
TDAH, partindo do pressuposto de que o diagnóstico é muitas vezes percebido como um
rótulo que marca o destino do sujeito, ou seja, o laudo médico funciona como um orientador
do rumo da criança. Deste modo, o sujeito rotulado não terá oportunidade de mostrar-se como
sujeito do aprender, sendo subjugado em suas capacidades.
Como o ato de aprender é extremamente complexo, Carvalho et al. (2015) evidenciam
a necessidade de uma abordagem interdisciplinar, tendo como objetivo investigar todos os
fatores envolvidos (cognitivo, acadêmico, familiar, comportamental, psicomotor) com a
problemática, realizando, assim, um diagnóstico diferencial.
Destarte, Campos et al. (2007) concluiram que devido ao fato do TDAH provocar
grande impacto em diversos aspectos na vida dos afetados, dos familiares e da sociedade,
mas, principalmente na vida escolar dessas crianças e adolescentes, torna-se imprescindível
uma equipe multidisciplinar para a obtenção de um diagnóstico, sobretudo, do psicopedagogo
para a elaboração de um melhor atendimento às crianças com TDAH.
3.4 – Intervenção
Benczik & Casella (2015) em seus estudos demonstraram que as interações entre pais
e filhos com TDAH, tendem a ser mais conflituosas, ocorrendo mais estresse e coerção. Deste
modo, é imprescindível o desenvolvimento de projetos que contemplem intervenções no
ambiente familiar.
16
interagem diretamente com o portador do transtorno, na tentativa de
promover a saúde mental, a qualidade de vida e desenvolver possibilidades
de relacionamentos interpessoais, familiares e sociais mais saudáveis e
qualitativamente mais positivos. (BENCZIK & CASELLA, p.101, 2015)
Neste contexto, Jafferian & Barone (2015) enfatizam que as pessoas com o
diagnóstico do TDAH apresentam geralmente uma dificuldade em aceitar regras e limites,
impedindo, assim, uma organização necessária para a apropriação do conhecimento. Portanto,
essa é uma questão importante a ser trabalhada na intervenção psicopedagógica com pacientes
que têm este transtorno, para que se tornem sujeitos autônomos.
Segundo Campos et al. (2007), os especialistas que atuam nessa área são unânimes em
ressaltar que o tratamento realizado com o acompanhamento interdisciplinar, associado ou
não à terapia medicamentosa, tem sido o ideal.
À vista disso, Desidério & Miyazaki (2007) evidenciam que grande parte dos
especialistas consideram a medicação estimulante, como o modo mais efetivo no tratamento
do TDAH, embora exista controvérsias a esta afirmação. Esses medicamentos são
considerados seguros e capazes de promover benefícios significativos mais rapidamente.
A medicação mais eficiente, disponível no Brasil, é o metilfenidato, sendo o mais
conhecido a Ritalina. Esta medicação diminui ou elimina os sintomas nucleares do transtorno
em cerca de 70% dos casos. Quando não se obtém resultados positivos com a Ritalina, a
opção mais viável inclui os antidepressivos (Desidério & Miyazaki, 2007).
Contudo, vale ressaltar que nenhum destes tratamentos, metilfenidato ou
antidepressivos, promove a cura do TDAH, “mas sim uma redução temporária dos sintomas
e das dificuldades associadas ao problema (ex. depressão, baixa autoestima, baixo
rendimento escolar)” (Desidério & Miyazaki, p.169, 2007).
Deste modo, a psicopedagogia, especialidade cujo objetivo de estudo consiste no
processo de aprendizagem e suas relações nestes processos, pode e deve gerar recursos com o
intuito de promover uma melhor resiliência e indicar caminhos para avaliações e enfoques
terapêuticos específicos.
Em concordância Jafferian & Barone (2015) trazem considerações importantes acerca
da intervenção psicopedagógica, afirmando que o psicopedagogo atua como mediador entre o
aluno e a cultura na circulação do conhecimento, trabalhando com a aprendizagem, e não na
transmissão do saber, despertando no paciente o desejo de aprender e de conhecer o novo.
“Assim a partir da relação estabelecida entre paciente e psicopedagogo o sujeito que não
17
aprende poderá expressar, pela linguagem, dos atos falhos e das associações livres, suas
angústias e desejos nas sessões psicopedagógicas” (Jafferian & Barone, p.122, 2015).
Como abordado anteriormente, Carvalho et al. (2015) chamam a atenção para o papel
da escola no que diz respeito à necessidade de inserir no seu planejamento pedagógico, a
educação psicomotora, sobretudo, no ensino infantil e séries iniciais do ensino fundamental,
pois, esta abordagem integra funções cognitivas, socioemocionais, simbólicas,
psicolinguísticas e motoras, a fim de promover o desenvolvimento global do indivíduo e,
ainda, minimizar a dificuldade de aprendizagem das crianças.
Desidério & Miyazaki (2007) salientam a importância dos profissionais envolvidos na
avaliação e no tratamento do TDAH, de ressaltar as dificuldades que as crianças enfrentam,
destacando o impacto positivo que o apoio familiar e social podem exercer, uma vez que,
quando a criança é estimulada e apoiada ela participa de forma ativa no tratamento.
18
os membros da família. Assim, defende-se que as diferentes formas de interações familiares
podem produzir poderosos efeitos na expressão do transtorno em uma criança.
As dificuldades presentes no âmbito familiar, possivelmente influem sobre o modo
como a criança com TDAH é percebida, conduzida, criada, amada e, então, lançada para a
vida adulta. “Essa influência age de forma singular, apresentando os efeitos de longa
duração sobre o adolescente e o adulto resultantes dessa criança” (Benczik & Casella,
p.101, 2015).
Deste modo, saber se as crianças apresentam TDAH é extremamente importante para
predizer seu futuro ou para elaborar tratamentos, visto que, é necessário considerar os vários
contextos nos quais essas crianças interagem, com quem interagem, e quem, em troca, age
sobre elas (Benczik & Casella, 2015).
Neste sentido, Regalla et al. (2007) ressaltam que a família consiste em um importante
contexto pelo qual a criança aprende a se relacionar com o mundo, pois elas ensinam às
crianças como se aproximar das pessoas, cuidar dos relacionamentos, resolver problemas e
traçar metas, como também negociar as tensões entre desejos individuais e expectativas
sociais.
Tendo em vista que a família é a mais importante provedora do ambiente social da
criança, as autoras destacaram que os hábitos educacionais positivos utilizados pelos pais em
crianças com TDAH diminuíam o risco de essas crianças posteriormente desenvolverem
problemas de conduta (Regalla et al., 2007).
Em seus estudos Pereira et al. (2012) concluiram que as alterações nas funções
executivas estão relacionadas a vários distúrbios, como o TDAH. Assim, ressalta a
importância da avaliação de crianças em idades precoces, salientando que a identificação
precoce sugere um foco ainda maior na infância, uma vez que nesta etapa do desenvolvimento
algumas intervenções poderiam ser úteis na prevenção ou na remediação do problema, como
também na reabilitação a longo prazo, de dificuldades. Portanto, a identificação precoce pode
minimizar vários comprometimentos e dificuldades futuras.
19
3.6 – Consequências do diagnóstico tardio
Dumas (2011) explica que as crianças com TDAH se sentem frustradas com as
exigências, mesmo as mais simples, ignorando-as sistematicamente, não por serem
desobedientes, mas por parecerem não ouvir, não saberem se controlar ou serem incapazes de
fazer o que se espera delas. Contrapondo-se a uma percepção ainda recorrente em algumas
pesquisas, esses problemas não desaparecem com a idade. “Na verdade, essas crianças têm
dificuldades maiores e persistentes que impedem seu desenvolvimento adaptativo – às vezes
com consequências nefastas observadas até a idade adulta” (Dumas, p. 228, 2011).
Essas crianças têm grande probabilidade de desenvolver um transtorno de conduta no
fim da infância ou no início da adolescência, ou ainda, comportamentos delinquentes ao longo
da adolescência e, às vezes, até a idade adulta. No decorrer do seu desenvolvimento, as
crianças e os adolescentes com TDAH têm um risco maior de se acidentar ou de se ferir. Tal
risco é observado até a idade adulta, especificamente, em relação aos acidentes de trânsito
(Dumas, 2011).
20
De acordo com Benczik & Casella (2015) estima-se que 50 a 80% das pessoas que
tiveram TDAH na fase infantil continuam a apresentar na fase adulta, sintomas significativos
associados a importantes prejuízos em diversos aspectos da vida cotidiana.
À vista disso, Campos et al. (2007) ressaltam que o mundo para o paciente com
TDAH é de interpretação complexa, apresentando dificuldade em ser inserido, pois, devido à
agitação motora e impulsividade, atenção não-direcionada e desconcentração, eles tendem a
se perder num mundo de estímulos auditivos, visuais, sensoriais, entre outros.
21
apresentavam uma qualidade de vida melhor, de modo que diversos fatores influenciavam o
impacto do TDAH na vida da criança. Já problemas psiquiátricos na mãe, impulsividade,
comorbidades psiquiátricas e famílias com numerosos filhos podem reduzir a chance de
normalização no funcionamento das crianças com TDAH, indicando, assim, baixa resiliência
(Regalla et al., 2007).
Ademais, Regalla et al. (2007) evidenciam que crianças que experimentam o fracasso
precocemente, comumente observado no TDAH, são vulneráveis a uma vasta variedade de
complicações psicossociais. Essas complicações podem levar a problemas crônicos em
diferentes aspectos da vida, persistindo mesmo quando os sintomas nucleares do transtorno
remitiram ou melhoraram significativamente ao longo dos anos.
V. Discussão
22
o casal, mas também entre os irmãos, pois, às vezes, estes se sentem cansados pela
instabilidade emocional do irmão com o transtorno e por receberem mais atenção de seus pais.
Ao longo do trabalho, foi enfatizado por diversos autores, a extrema importância da
família na vida das pessoas com TDAH. Sendo assim, torna-se necessário que as intervenções
abordem também o ambiente familiar, a fim de contribuir positivamente em seu
desenvolvimento. Por isso, é imprescindível que a avaliação ocorra ainda na infância, pois
nessa fase as intervenções além de prevenir futuras dificuldades, podem ainda reduzir
diversos comprometimentos a longo prazo.
Desta forma, mesmo com o diagnóstico e a intervenção, é fundamental que os pais
tenham um maior conhecimento a respeito da dificuldade enfrentada pela criança com TDAH,
favorecendo sua formação, afinal, os pais devem oferecer o suporte necessário para que seus
filhos enfrentem estas dificuldades que a vida lhe impõe.
Neste trabalho também foi ressaltado acerca de uma equipe multidisciplinar tanto na
avaliação quanto na intervenção, visto que, é importante que a criança seja avaliada em
diferentes contextos e por diferentes métodos. Por conseguinte, devido à complexidade do
transtorno, em alguns casos, na intervenção a criança deve ser acompanhada por diversos
profissionais, como por exemplo, o psicopedagogo. Na intervenção psicopedagógica, além do
psicopedagogo trabalhar com a aprendizagem, despertando na criança o interesse em
aprender, ele pode ainda motivá-la a caminhar sozinha. Além do mais, no tratamento também
poderá ser utilizado medicamentos, dependendo do caso específico.
Outra questão discutida foi que os sintomas do TDAH, em alguns casos, podem
diminuir com a idade ou persistir até a idade adulta, prejudicando várias esferas da vida, por
exemplo, a vida social e escolar, como também, são mais propensos ao uso de substâncias.
Além disso, as crianças e adolescentes com este transtorno apresentam um risco maior
de se ferir e sofrer acidentes, o que pode ser refletido quando adultos em acidentes de trânsito,
pois, são constantemente desatentos e tendem a buscar atividades prazerosas que aumentam o
nível de adrenalina, colocando-os muitas vezes em situações arriscadas, como por exemplo,
brincar com objetos perigosos, praticar esportes radicais sem a devida preparação e dirigir em
alta velocidade. Ademais, essas pessoas podem comer compulsivamente, levando a maus
hábitos alimentares, aumentando assim, o risco de desenvolver obesidade.
Diante de tais considerações, conclui-se que as consequências provocadas pelos
sintomas do TDAH, podem comprometer significativamente a trajetória da vida das pessoas
com este transtorno. Portanto, enfatizamos que o diagnóstico precoce, associado a intervenção
adequada, auxilia de forma positiva as pessoas a vencerem suas dificuldades.
23
Apesar das várias pesquisas encontradas acerca do TDAH, fica a necessidade de mais
estudos sobre o tema, a fim de se obter mais conhecimento em relação as possíveis causas do
transtorno, os benefícios que um diagnóstico precoce pode oferecer, de modo que os pais,
professores e demais profissionais envolvidos possam compreender melhor a criança,
favorecendo tanto na área social, quanto na área familiar e educacional.
24
GUIDOLIM, K. et al. Habilidades sociais em crianças com queixas de hiperatividade e
desatenção. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 30, n. 93, p. 159-168, 2013.
25