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PROGRAMA DE APRIMORAMENTO

PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS

JÉSSICA DANIELLI SILVA DE CARVALHO DAVELA


JÉSSICA YOZHIYOKA ALMEIDA

TDAH: revisão bibliográfica sobre definição, diagnóstico e intervenção

Ribeirão Preto
2016
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO
PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS

JÉSSICA DANIELLI SILVA DE CARVALHO DAVELA


JÉSSICA YOZHIYOKA ALMEIDA

TDAH: revisão bibliográfica sobre definição, diagnóstico e intervenção

Monografia apresentada ao Programa de


Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP,
elaborada no Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo-USP/ Departamento de
Neurociência e Ciências do Comportamento.

Área: Psicopedagogia Clínica


Orientadora: Ana Maria de Almeida Motta
Oliveira

Ribeirão Preto
2016
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

DAVELA, Jéssica Danielli Silva de Carvalho; ALMEIDA, Jéssica Yozhiyoka.

TDAH: revisão bibliográfica sobre definição, diagnóstico e intervenção/;


orientadora Ana Maria de Almeida Motta Oliveira. Ribeirão Preto, São Paulo –
25p. 2016.

Monografia – Aprimoramento Profissional do Hospital das Clínicas da Faculdade de


Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2016.

1. Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade; 2. TDAH; 3. Diagnóstico;


4. Criança.
Resumo

O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é o transtorno psiquiátrico de


contexto desenvolvimental mais comum na infância, cuja prevalência é maior em membros do
sexo masculino. Neste estudo foi realizado um levantamento bibliográfico, abordando a
trajetória do transtorno, os vários sintomas, visando focar os benefícios de um diagnóstico
precoce associado a uma intervenção psicopedagógica a crianças com TDAH, assim como, as
consequências de um diagnóstico tardio. A revisão teórica foi fundamentada em pesquisas
nacionais obtidas por meio da SciELO, LILACS e PePSIC e em um livro sobre o tema. O
estudo evidenciou que o diagnóstico precoce, associado à intervenção adequada, pode
prevenir futuros problemas e reduzir diversos comprometimentos, auxiliando de forma
positiva essas pessoas a vencerem suas dificuldades.

Palavras chaves: Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade; TDAH; Diagnóstico;


Criança.

Abstract

Attention Deficit / Hyperactivity Disorder (ADHD) is the most common childhood


developmental psychiatric disorder with a higher prevalence in males. In this study a
bibliographic survey was carried out, addressing a trajectory of the disorder, the various
symptoms, aiming to focus the benefits of an early diagnosis associated with a
psychopedagogical intervention the children with ADHD, as well as, as a consequence of a
late diagnosis. A theoretical review was based on national research, obtained through SciELO,
LILACS e PePSIC and a book on the subject. The study showed that early diagnosis,
associated with adequate intervention, can prevent future problems and reduce several
commitments, helping in a positive way how people overcome their difficulties.

Key Words: Attention Deficit / Hyperactivity Disorder; ADHD; Diagnosis; Child.


Sumário

I. Introdução ............................................................................................................................ 6

II. Objetivo .............................................................................................................................. 8

III. Metodologia ...................................................................................................................... 8

IV. Resultados ......................................................................................................................... 8


3.1 – Definição do TDAH ..................................................................................................... 8
3.2 – Sintomas do Transtorno ............................................................................................. 11
3.3 – Diagnóstico................................................................................................................. 14
3.4 – Intervenção ................................................................................................................. 16
3.5 – Benefícios do diagnóstico precoce ............................................................................. 18
3.6 – Consequências do diagnóstico tardio ......................................................................... 20

V. Discussão ........................................................................................................................... 22

VI. Referências Bibliográficas ............................................................................................. 24


I. Introdução

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, hoje conhecido como TDAH,


recebeu várias denominações ao longo do século XX (Dumas, 2011). Este transtorno se
caracteriza por desatenção, distração, hiperatividade e impulsividade (Jafferian & Barone,
2015). Os portadores de TDAH tem dificuldade em prestar atenção e mantê-la, de adaptar o
nível de atividade e de moderar as ações impulsivas (Carvalho et al., 2015).
O diagnóstico do TDAH é fundamentado a partir dos comportamentos manifestados
pelos pacientes com base nos critérios diagnósticos determinados pelos Manuais de
Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM) e na Classificação Internacional de
Doenças (CID) (Jafferian & Barone, 2015).
O TDAH é mais comumente diagnosticado durante a infância do que na adolescência,
visto que, alguns sintomas típicos deste transtorno tendem a diminuir ao longo da vida.
Assim, com a idade muitos jovens não preenchem mais os critérios diagnósticos do TDAH,
não porque o transtorno desapareceu, mas porque a natureza desenvolvimental do transtorno
está em constante transformação e, esta transformação, não é considerada pelos critérios
(Dumas, 2011).
Os meninos e as meninas não apresentam, impreterivelmente, os mesmos sintomas, de
modo que as meninas apresentam mais problemas depressivos e ansiosos. Já os meninos,
apresentam mais sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade e, portanto, sua
frequência é maior em membros do sexo masculino (Dumas, 2011).
Os sintomas do TDAH podem ser observados em diferentes contextos, em casa, na
escola ou em outros ambientes (Guidolim et al., 2013). Contudo, na fase escolar, a criança se
depara com novas situações, pois agora ela passará a enfrentar também as exigências da vida
em sociedade. Por isso, de acordo com Guidolim et al. (2013) é com o ingresso na escola que
o transtorno passa a ser reconhecido, visto que, alguns comportamentos típicos do TDAH são
percebidos com maior frequência quando essas crianças são comparadas aos seus pares.
Desse modo, a vida social também é influenciada pelo transtorno, pois, muitas vezes
essas crianças podem vir a ter uma interação social pobre e agressiva (Guidolim et al., 2013),
o que dificultará a convivência com outras crianças e adultos.
O TDAH é considerado um transtorno multifatorial e heterogêneo, sendo assim
reconhecido como um dos maiores desafios para pais, professores e especialistas devido à
ampla variedade de comprometimentos gerados por este transtorno (Benczik & Casella,
2015).

6
No âmbito familiar, o transtorno promove dificuldades no convívio e no dia-a-dia,
pois, as crianças apresentam dificuldades em seguir regras e normas, em completar tarefas
simples, agindo também com agressividade e intolerância à frustração (Benczik & Casella,
2015).
Em contrapartida, no âmbito escolar as crianças com TDAH apresentam dificuldades
de atenção, desinteresse pelas atividades escolares, são desorganizadas com o seu material e,
muitas vezes, são agitadas (Jafferian & Barone, 2015). Consequentemente, alguns professores
agem de forma mais repressiva, dando ordens e queixam-se dessas crianças, pois estas não
apresentam o mesmo rendimento escolar se comparadas a seus pares (Benczik & Casella,
2015). Destarte, poderá levar a construção de um rótulo, cujas consequências poderão ser
irreversíveis para esses alunos (Jafferian & Barone, 2015).
Já os especialistas, de certa forma, apresentam dificuldade em orientar melhor os
professores e familiares, com a finalidade de trabalharem juntos para ajudar essas crianças
(Campos et al. 2007).
Devido ao grande impacto causado pelo TDAH no ambiente familiar e na vida social
das crianças com este transtorno, torna-se necessário uma intervenção com profissionais
especializados, como o psicopedagogo, a fim de atuar como um facilitador da aprendizagem
(Campos et al. 2007), ajudando o indivíduo a se tornar mais autônomo, além de promover
uma melhor resiliência.
Estudos demonstram que o diagnóstico precoce pode minimizar vários
comprometimentos e possíveis dificuldades no futuro (Pereira et al. 2012), como
comorbidades associadas a este transtorno. Apontam também que as interações familiares
podem produzir grandes efeitos na vida da criança, pois, o contexto familiar é um importante
meio pelo qual ela aprende a se relacionar com o mundo (Regalla et al. 2007).
Sendo assim, os problemas decorrentes do TDAH, em geral, não desaparecem com a
idade e, muitas vezes, as consequências podem persistir até a idade adulta (Dumas, 2011).
Além dos problemas já descritos anteriormente, os indivíduos com TDAH podem apresentar
uma saúde emocional e competência social prejudicada (Guidolim et al, 2013), como também
são vulneráveis a uma vasta variedade de complicações psicossociais (Regalla et al. 2007).
Neste sentido, o presente trabalho pretende fazer um levantamento bibliográfico
acerca do TDAH e suas implicações na vida dos indivíduos com este transtorno, como
comorbidades que interferem negativamente o seu desenvolvimento.

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II. Objetivo

O presente trabalho teve por objetivo geral fazer um levantamento bibliográfico acerca
de estudos relacionados a crianças com TDAH. Os objetivos específicos foram discutir sobre
os benefícios de um diagnóstico precoce associado a uma intervenção psicopedagógica a
essas crianças e as consequências de um diagnóstico tardio.

III. Metodologia

Foi realizado um levantamento bibliográfico, por meio de uma busca na base de dados
SciELO, LILACS e PePSIC, utilizando como palavras-chave “Déficit de Atenção”, “TDAH”,
“Attention Deficit”, “ADHD”, “Psicopedago”, “Psychopedago”, “Attention
deficit/hyperactivity disorder”, “Fatores de Risco”, “Transtorno do deficit de atenção com
hiperatividade”, “Avaliação”, “Família”, “Attention deficit disorder with hyperactivity”,
“Learning Disorders”. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos no
idioma Português, publicados no período de 2006 a 2016.
Na busca inicial foram encontrados um total de 141 artigos com estes descritores nas
bases de dados (SiciELO n= 64, LILACS n= 6, PePSIC n=71). Após a leitura dos resumos
foram aplicados os critérios de exclusão, eliminando os artigos repetidos e os estudos que
avaliaram outras faixas etárias, como também os que continham outros eixos temáticos.
Assim, dos 141 artigos foram selecionados 10 trabalhos. Esses artigos selecionados
foram analisados e agrupados em eixos temáticos, com o intuito de responder às questões
propostas ao longo da pesquisa: Definição do TDAH, Sintomas do Transtorno, Diagnóstico,
Intervenção, Benefícios do diagnóstico precoce e Consequências do diagnóstico tardio.

IV. Resultados

3.1 – Definição do TDAH

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade inscreve-se em um contexto


desenvolvimental e conforme Jafferian & Barone (2015) ele caracteriza-se como um
transtorno psiquiátrico mais comum na infância e também o TDAH é o “termo atual para
designar um transtorno desenvolvimental específico, observado tanto em crianças quanto em
adultos, com os sintomas de déficits na inibição comportamental, atenção sustentada e
resistência à distração” (Jafferian & Barone, p.120, 2015).

8
Em concordância Pereira et al. (2012) descrevem o TDAH como um dos transtornos
psiquiátricos mais estudados na infância e estima-se que seja uma das principais fontes de
encaminhamento infantil ao sistema de saúde. Além disso, Regalla et al. (2007) destaca que o
transtorno atinge cerca de 3% a 6% das crianças desde tenra idade.
Neste contexto, Carvalho et al. (2015) afirmam que o TDAH é um “termo utilizado
para se referir a um transtorno mental crônico, cujas manifestações essenciais são
moduladas pelos estágios evolutivos por que passam os indivíduos” (Carvalho et al., p.293,
2015).
Para Campos et al. (2007) o TDAH é entendido como um transtorno de base
neurobiológica, sendo-lhe imputada uma suscetibilidade de base hereditária.
Além desses autores, Benczik & Casella, (2015) definem o TDAH como um
transtorno multifatorial e heterogêneo do ponto de vista clínico.
Antes da terminologia atual os termos mais conhecidos, segundo Dumas (2011), eram
lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, hipercinesia, síndrome hipercinética ou
impulsiva, reação hipercinética da infância e déficit de atenção com ou sem hiperatividade.
Em complemento, Jafferian & Barone (2015) acrescentam outros termos, como síndrome da
criança com lesão cerebral, síndrome da criança hiperativa e agitação.
Já Antony & Ribeiro (2008), explicitam que essas diversas nomenclaturas se devem a
mudanças terminológicas, refletidas pelas tendências culturais, teóricas e científicas na
conceitualização da etiologia e nos aspectos essenciais do transtorno. Em seus estudos, esses
mesmos autores realizaram um apanhado histórico das terminologias, dentre elas: Lesão
Cerebral Mínima (1947), Disfunção Cerebral Mínima (1962), Reação Hipercinética da
Infância (1968), Síndrome de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (1980),
Distúrbio de Déficit de Atenção por Hiperatividade (1987), Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (1994).
Dumas (2011) evidencia que grande parte dos sintomas do transtorno tendem a
diminuir com a idade. A hiperatividade e a impulsividade podem melhorar por volta do final
da infância ou início da adolescência. Já a desatenção pode persistir por mais tempo,
frequentemente, até o final da adolescência e na idade adulta.

(…) os sintomas manifestados pelos jovens com o transtorno tendem a


diminuir com a idade sem que as dificuldades de adaptação deles se reduzam
sensivelmente. Assim, com os anos, são muitos os jovens que não
preenchem mais os critérios diagnósticos do TDAH, não tanto porque o seu
transtorno desapareceu, mas porque os critérios não levam em conta a

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natureza desenvolvimental e, por conseguinte, em constante transformação,
desse transtorno. (DUMAS, 2011, p.233)

Neste contexto, afirma-se que o transtorno diminui ao longo da adolescência e só


persiste na idade adulta em 5 a 15% dos casos. Entretanto, Dumas (2011) ressalta ainda que
50 a 80% das crianças afetadas continuam a ter dificuldades consideráveis na adolescência, e
30 a 50% na idade adulta. Já para Okuda et al. (2011) o transtorno pode persistir até a idade
adulta em torno de 60 a 70% dos casos, afetando as principais atividades da vida desde a
infância. Ademais, diversos estudos evidenciaram a persistência do transtorno na vida adulta e
seu grande impacto sobre a vida pessoal, social, familiar e acadêmica dos portadores de
TDAH (Regalla, et al., 2007).
Alguns fatores de risco podem estar associados ao TDAH. Conforme Dumas (2011) as
complicações na gravidez e no momento do nascimento, assim como certas doenças infantis,
são mais frequentes nas crianças com TDAH do que na população geral. Todavia afirma ainda
que apesar desses fatores de risco potenciais serem muitos, não está claro que todos
desempenhem um papel etiológico, sendo provável que a maioria desses fatores aumente o
risco de psicopatologias, mas, quando estão implicados no desenvolvimento do TDAH esse
crescimento é menos evidente.
Entretanto, evidencia que o cigarro, o álcool e outras drogas desempenham um papel
etiológico no aparecimento dos sintomas do TDAH, pois, muitas vezes, durante a gravidez
essas crianças ficaram expostas a esses elementos (Dumas, 2011).
Já algumas teorias relacionam o TDAH a uma alimentação inadequada, com dieta
desequilibrada, rica em açúcar, colorante ou aditivos alimentares. Porém, até o momento não
existe nenhuma pesquisa que permita estabelecer uma ligação etiológica entre a alimentação
de uma criança e seus comportamentos hiperativos e desatentos (Dumas, 2011).
Frequentemente o TDAH é acompanhado de outros transtornos que interferem
negativamente o desenvolvimento das crianças. Dentre essas comorbidades são encontrados o
Transtorno Oposicional Desafiante (TOD), Transtorno de Conduta, Transtorno de Humor,
Transtorno de Ansiedade, Transtorno Bipolar, Transtorno de Aprendizagem e/ou os tiques,
especificamente, a síndrome de Gilles de la Tourette (Dumas, 2011).
Em concordância, Regalla et al. (2007) enfatizam que além dos sintomas básicos do
transtorno, existem comorbidades como transtornos do aprendizado, transtornos do humor e
de ansiedade, transtornos disruptivos do comportamento e transtornos do abuso de substâncias
e de álcool, presentes em mais de 50% dos casos.

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Apesar de vários estudos, ainda não é possível definir uma causa específica
responsável pelo transtorno. Porém, Carvalho et al. (2015) afirmam que se trata de um
transtorno hereditário, com índices que variam de 80 a 90%. Em suas pesquisas estas mesmas
autoras ressaltaram que não existe um único gene responsável pelo TDAH, pois, vários genes
associados e de pequenos efeitos levam a propensão do desenvolvimento do quadro e, ainda,
estudos com neuroimagem demonstram que há evidências de alterações em determinadas
áreas cerebrais, sendo essas significativas nas regiões do córtex pré-frontal dorsolateral,
regiões do gânglio da base e cerebelo.
De acordo com a literatura, a incidência de crianças com TDAH é mais frequente em
meninos. Segundo Carvalho et al. (2015) a prevalência de meninos com dificuldades de
aprendizagem é numa proporção de 6:1 se comparados às meninas. “Este predomínio do sexo
masculino tem sido explicado por hipóteses genéticas, anatômicas, de especialização
hemisférica e devido a causas sociais, dependendo da população estudada” (Carvalho et al.,
p.298, 2015).
Dumas (2011) afirma que a preponderância é da ordem de 2 a 3 meninos para uma
menina. Em contrapartida, essa taxa é mais elevada nos estudos clínicos, podendo atingir até 9
meninos para 1 menina.
Conforme Jafferian & Barone (2015), o TDAH define-se como um transtorno que
parece provocar uma alteração no comportamento e na capacidade de manter a atenção, não
se tratando assim, de uma disfunção. Este transtorno caracteriza por desatenção, distração,
hiperatividade e impulsividade e, por isso, é um dos principais problemas observados na
criança no processo pedagógico nos últimos dez anos.

3.2 – Sintomas do Transtorno

O TDAH consiste em um conjunto de sintomas de desatenção, hiperatividade e


impulsividade e segundo Benczik & Casella (2015) esses sintomas se manifestam por meio de
um padrão persistente e frequente ao longo do tempo e dizem respeito ao:

Excesso de agitação, inquietação, falta de controle, falar em demasia,


interromper os outros, responder antes de ouvir a pergunta inteira,
incapacidade para protelar respostas, como também distrair-se com
facilidade, não prestar atenção a detalhes, dificuldade para memorizar
compromissos, organizar e realizar tarefas, perder objetos, entre outros.
(BENCZIK & CASELLA, p.94, 2015)

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Em concordância, Guidolim et al. (2013) baseando-se no DSM concluiram que para a
criança ser classificada com TDAH, esse conjunto de sintomas devem apresentar um grau
maior que aquele observado em outras pessoas com a mesma faixa etária e de
desenvolvimento.
Essas mesmas autoras afirmam que as crianças com TDAH apresentam dificuldades
em emitir comportamentos frequentemente adequados, como, por exemplo, seguir normas,
problemas nas diversas relações, como resolução de problemas, agressividade, pedir
desculpas, aguardar a vez para falar, prestar atenção, ouvir e demonstrar interesse pelo outro,
reconhecer e perceber os sentimentos do outro, compreender a situação, respeitar as
diferenças, oferecer ajuda e compartilhar entre outros (Guidolim et al., 2013).
Antony & Ribeiro (2008) ressaltam que as pessoas com TDAH possuem dificuldade
em inibir os impulsos e regular com consciência a atividade motora. Possuem ainda
dificuldades em emitir com frequência comportamentos relacionados à defesa de direitos, de
autoestima, solicitar mudanças, defender-se de acusações injustas e pressões do grupo
(Guidolim et al., 2013).
Além disso, essas crianças apresentam dificuldade de controlar as emoções, baixa
tolerância à frustração, trocas constantes de atividades, problemas na organização acadêmica e
dificuldade em manter relação de amizade com as outras crianças da mesma idade. Apresenta
também movimentos corporais desnecessários, antecipação de respostas, inabilidade em
esperar um acontecimento e agitação (Guidolim et al., 2013). Essas dificuldades
comprometem a aquisição da linguagem oral e escrita e, por conseguinte, a aprendizagem
escolar (Okuda et al., 2011).
Dumas (2011) aponta que os comportamentos manifestos por crianças com TDAH
persistem durante anos e podem perturbar gravemente a rotina da família e da escola. Assim,
como o nome indica, esse transtorno tem duas dimensões maiores: a Desatenção, de um lado,
e a Hiperatividade e a Impulsividade, de outro.
Em relação à desatenção, a criança é incapaz de manter uma atenção contínua e
prolongada em várias atividades cotidianas, além de não se esforçar como as outras crianças,
desistir mais rápido diante do obstáculo ou do fracasso e, frequentemente, não respeitar regras
(Dumas, 2011).
No que diz respeito à hiperatividade e impulsividade, as crianças que apresentam tais
sintomas, mexem-se sem parar, têm dificuldades de permanecerem quietas, falam
desmedidamente, entre outros (Dumas, 2011).

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Dumas (2011) ressalta ainda que os sintomas são menores ou mesmo inexistentes
quando é proposto para a criança uma atividade que lhe motive, quando brinca livremente ou
quando tem atenção e apoio de um adulto. No entanto, se agravam quando a tarefa é
complexa, exigindo que a criança se organize por si mesma, quando a situação não lhe
interessa ou quando não há uma recompensa imediata do resultado proposto.
Um estudo realizado por Carvalho et al. (2015) comprovou que todas as crianças com
TDAH avaliadas apresentaram idade motora inferior à idade cronológica, o que evidencia que
a motricidade organiza as sensações e percepções que dão origem a aprendizagens cada vez
mais complexas. Depreende-se, então, que a desorganização psicomotora resulta em
alterações na aprendizagem infantil. Neste estudo, constatou-se também que as funções
psicomotoras mais deficitárias foram organização espacial, equilíbrio, organização temporal e
esquema corporal.
À vista disso, Carvalho et al. (2015) explicam que o fato da região frontal do cérebro
estar mais comprometida nos indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade resulta em dificuldades acentuadas nas funções executivas. Esse termo
engloba várias funções que são essenciais para o funcionamento normal dos indivíduos, tais
como:

Elaboração do raciocínio abstrato, alternância de tarefas, planejamento e


organização das atividades, elaboração de objetivos, geração de hipóteses,
fluência e memória operacional; resolução de problemas; formação de
conceitos; inibição de comportamentos, automonitoramento; iniciativa;
autocontrole; flexibilidade mental; controle da atenção; manutenção do
esforço sustentado; antecipação; regulação de comportamentos e
criatividade. (CARVALHO et al. p.295, 2015)

Neste contexto, Pereira et al. (2012) afirmam que as funções executivas dizem respeito
às habilidades necessárias para planejar, iniciar, realizar e monitorar comportamentos
intencionais, relacionados a um objetivo ou a demandas ambientais. Assim, as funções
executivas são fundamentais para a capacidade de engajamento em comportamento orientado
a objetivos, realizando ações voluntárias e auto-organizadas.
De acordo com Dumas (2011) funções executivas são os processos neuropsicológicos
que interferem na autorregulação e permitem ao ser humano coordenar seu comportamento de
forma flexível e exata em funções das exigências sempre mutáveis de seu ambiente, assim
como de seu estado pessoal. Deste modo, as crianças com TDAH apresentam um déficit de
quatro funções executivas que dependem estreitamente de processos de inibição para o seu
bom comportamento. Esses processos permitem à criança coordenar e controlar o seu

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comportamento motor e verbal na memória de trabalho, na autorregulação afetiva e
motivacional, na interiorização da linguagem e na reconstituição.

Dessa forma, a alteração das funções executivas e a falha na autorregulação


promovem grande interferência no bem-estar dessas crianças, bem como na
de sua família, acarretando prejuízos em vários domínios da qualidade de
vida e nos fatores psicossociais relacionados aos aspectos comportamentais,
sociais, escolares e familiares. (BENCZIK & CASELLA, p.100, 2015)

Benczik & Casella (2015) enfatizam que as crianças com TDAH recebem mais
feedbacks negativos de seus pais e possuem pouca oportunidade de interações positivas dentro
e fora do lar.
Conforme Guidolim et al. (2013), as interações sociais possibilitam condições para
aquisição de conceitos, habilidades e estratégias cognitivas que afetam o desenvolvimento
social e aprendizagem. Desta forma, a inabilidade social e os comportamentos inadequados
apresentados pelas crianças com TDAH influenciam negativamente as relações familiares e
escolares.
Em concordância, Okuda et al. (2011) enfatizam que as características nucleares do
TDAH, ou seja, a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade prejudicam o desempenho
acadêmico, os relacionamentos familiar e social, o ajustamento psicossocial e a vida
laborativa.
Além disso, em seus estudos, Dumas (2011) concluiu que essas crianças apresentam
problemas de adaptação, baixa autoestima e sentimento de impotência adquirida ou de
incompetência.

3.3 – Diagnóstico

De acordo com as autoras Jafferian & Barone (2015), o diagnóstico do TDAH é


fundamentado a partir dos comportamentos manifestados pelos pacientes com base nos
critérios diagnósticos determinados pelos Manuais de Diagnóstico e Estatístico das
Perturbações Mentais (DSM) desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA),
em sua versão atual (DSM-V).
Além desses diagnósticos, existem outros que são fundamentados na Classificação
Internacional de Doenças (CID), desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
(Jafferian & Barone, 2015).

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Okuda et al. (2011) destacam que as principais características do TDAH são a
desatenção, a agitação psicomotora e a impulsividade, podendo variar em maior ou menor
grau, conforme o subtipo: predominantemente desatento; predominantemente
hiperativo/impulsivo; ou combinado.
Segundo Dumas (2011), o DSM-IV pormenoriza três subtipos do TDAH, o Déficit de
Atenção/ Hiperatividade, tipo predominante desatento, a criança apresenta mais sintomas de
desatenção e menos de hiperatividade e impulsividade. No Déficit de Atenção/Hiperatividade
tipo predominante hiperativo-impulsivo, ocorre o inverso, a criança apresenta mais sintomas
de hiperatividade e impulsividade e menos de desatenção. Já no Déficit de
Atenção/Hiperatividade tipo combinado, a criança apresenta simultaneamente os sintomas de
desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Em contrapartida, a CID-10 não define subtipos, mas discrimina a perturbação da
atividade e da atenção do transtorno hipercinético e transtorno de conduta, dependendo da
criança preencher ou não os critérios de um transtorno de comportamento (Dumas, 2011).
Destarte, a CID-10 torna-se mais restritiva que o DSM-IV, requerendo um número
mais elevado e diversificado de sintomas para determinar um diagnóstico, e, portanto, em
suas pesquisas Dumas (2011) concluiu que em um estudo realizado todas as crianças que
preenchem os critérios do transtorno da CID, também têm o DSM, mas o inverso só é
verdadeiro para 1 em 4 casos.
Além disso, o diagnóstico da CID-10 exige pelo menos seis sintomas de desatenção,
três de hiperatividade e um de impulsividade para a obtenção de um diagnóstico, contudo, só
pode ser feito se a criança não apresentar um transtorno de humor ou um transtorno de
ansiedade. Já o DSM-IV não exclui tal comorbidade e exige apenas seis sintomas de
desatenção ou hiperatividade-impulsividade (Dumas, 2011).
Ademais, correlacionando a CID-10 com o DSM-IV, Dumas (2011) compreende que
esses sintomas devem persistir no mínimo seis meses, começar antes dos sete anos de idade,
mesmo que o transtorno seja diagnosticado posteriormente e ser de natureza invasiva, ou seja,
manifestar-se em mais de uma situação e contexto, como por exemplo, no lar e na escola.
A 5ª edição do DSM, lançado em 2013, sofreu algumas alterações. O DSM-IV a
exigência era que os sintomas estivessem presentes até os sete anos de idade, contudo, nesta
nova versão (DSM-V), foi alterada para os doze anos, “(…) tendo em vista as mudanças
comportamentais que podem ocorrer e podem ser confundidas com esse transtorno de
hiperatividade” (Jafferian & Barone, p. 120, 2015).

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Dumas (2011) afirma que atualmente é comum avaliar a criança em situações
diferentes e por diversos métodos, por exemplo, entrevistas clínicas, questionários ou escalas
de comportamento, entrevistas diagnósticas estruturadas e observações diretas, contudo,
muitos estudos concluem que os dados obtidos nem sempre coincidem e podem complicar o
diagnóstico. Além disso, o diagnóstico pode ser dificultado também pelo fato dos sintomas
definidores do TDAH depender da idade e do sexo da criança avaliada.
Desidério & Miyazaki (2007) salientam que ao realizar um diagnóstico de TDAH se
faz necessário diferenciar os sintomas do transtorno dos comportamentos típicos da idade em
crianças ativas, como por exemplo, correrias e barulhos excessivos.
Jafferian & Barone (2015) abordaram em seus estudos o efeito do diagnóstico do
TDAH, partindo do pressuposto de que o diagnóstico é muitas vezes percebido como um
rótulo que marca o destino do sujeito, ou seja, o laudo médico funciona como um orientador
do rumo da criança. Deste modo, o sujeito rotulado não terá oportunidade de mostrar-se como
sujeito do aprender, sendo subjugado em suas capacidades.
Como o ato de aprender é extremamente complexo, Carvalho et al. (2015) evidenciam
a necessidade de uma abordagem interdisciplinar, tendo como objetivo investigar todos os
fatores envolvidos (cognitivo, acadêmico, familiar, comportamental, psicomotor) com a
problemática, realizando, assim, um diagnóstico diferencial.
Destarte, Campos et al. (2007) concluiram que devido ao fato do TDAH provocar
grande impacto em diversos aspectos na vida dos afetados, dos familiares e da sociedade,
mas, principalmente na vida escolar dessas crianças e adolescentes, torna-se imprescindível
uma equipe multidisciplinar para a obtenção de um diagnóstico, sobretudo, do psicopedagogo
para a elaboração de um melhor atendimento às crianças com TDAH.

3.4 – Intervenção

Benczik & Casella (2015) em seus estudos demonstraram que as interações entre pais
e filhos com TDAH, tendem a ser mais conflituosas, ocorrendo mais estresse e coerção. Deste
modo, é imprescindível o desenvolvimento de projetos que contemplem intervenções no
ambiente familiar.

Diante do poderoso efeito que o TDAH causa no ambiente familiar, nas


interações familiares, na qualidade de vida e na saúde mental de todos os
membros da família, caberá ao profissional tentar minimizar esse impacto,
desenvolvendo projetos de pesquisa, de atendimentos, de orientação
psicossocial, ou ainda de estratégias de coaching, junto às pessoas que

16
interagem diretamente com o portador do transtorno, na tentativa de
promover a saúde mental, a qualidade de vida e desenvolver possibilidades
de relacionamentos interpessoais, familiares e sociais mais saudáveis e
qualitativamente mais positivos. (BENCZIK & CASELLA, p.101, 2015)

Neste contexto, Jafferian & Barone (2015) enfatizam que as pessoas com o
diagnóstico do TDAH apresentam geralmente uma dificuldade em aceitar regras e limites,
impedindo, assim, uma organização necessária para a apropriação do conhecimento. Portanto,
essa é uma questão importante a ser trabalhada na intervenção psicopedagógica com pacientes
que têm este transtorno, para que se tornem sujeitos autônomos.
Segundo Campos et al. (2007), os especialistas que atuam nessa área são unânimes em
ressaltar que o tratamento realizado com o acompanhamento interdisciplinar, associado ou
não à terapia medicamentosa, tem sido o ideal.
À vista disso, Desidério & Miyazaki (2007) evidenciam que grande parte dos
especialistas consideram a medicação estimulante, como o modo mais efetivo no tratamento
do TDAH, embora exista controvérsias a esta afirmação. Esses medicamentos são
considerados seguros e capazes de promover benefícios significativos mais rapidamente.
A medicação mais eficiente, disponível no Brasil, é o metilfenidato, sendo o mais
conhecido a Ritalina. Esta medicação diminui ou elimina os sintomas nucleares do transtorno
em cerca de 70% dos casos. Quando não se obtém resultados positivos com a Ritalina, a
opção mais viável inclui os antidepressivos (Desidério & Miyazaki, 2007).
Contudo, vale ressaltar que nenhum destes tratamentos, metilfenidato ou
antidepressivos, promove a cura do TDAH, “mas sim uma redução temporária dos sintomas
e das dificuldades associadas ao problema (ex. depressão, baixa autoestima, baixo
rendimento escolar)” (Desidério & Miyazaki, p.169, 2007).
Deste modo, a psicopedagogia, especialidade cujo objetivo de estudo consiste no
processo de aprendizagem e suas relações nestes processos, pode e deve gerar recursos com o
intuito de promover uma melhor resiliência e indicar caminhos para avaliações e enfoques
terapêuticos específicos.
Em concordância Jafferian & Barone (2015) trazem considerações importantes acerca
da intervenção psicopedagógica, afirmando que o psicopedagogo atua como mediador entre o
aluno e a cultura na circulação do conhecimento, trabalhando com a aprendizagem, e não na
transmissão do saber, despertando no paciente o desejo de aprender e de conhecer o novo.
“Assim a partir da relação estabelecida entre paciente e psicopedagogo o sujeito que não

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aprende poderá expressar, pela linguagem, dos atos falhos e das associações livres, suas
angústias e desejos nas sessões psicopedagógicas” (Jafferian & Barone, p.122, 2015).
Como abordado anteriormente, Carvalho et al. (2015) chamam a atenção para o papel
da escola no que diz respeito à necessidade de inserir no seu planejamento pedagógico, a
educação psicomotora, sobretudo, no ensino infantil e séries iniciais do ensino fundamental,
pois, esta abordagem integra funções cognitivas, socioemocionais, simbólicas,
psicolinguísticas e motoras, a fim de promover o desenvolvimento global do indivíduo e,
ainda, minimizar a dificuldade de aprendizagem das crianças.
Desidério & Miyazaki (2007) salientam a importância dos profissionais envolvidos na
avaliação e no tratamento do TDAH, de ressaltar as dificuldades que as crianças enfrentam,
destacando o impacto positivo que o apoio familiar e social podem exercer, uma vez que,
quando a criança é estimulada e apoiada ela participa de forma ativa no tratamento.

Para que ocorra uma verdadeira mudança na forma de se fazer educação,


profissionais, como o psicopedagogo, deverão interagir intencionalmente
como facilitadores da aprendizagem. No momento em que esses
profissionais tiverem mecanismos de entendimento e interferência com o
processo individual de aprendizagem, dificuldades encontradas pelas
crianças portadoras de TDAH serão avaliadas de forma mais coerente, e se
deixará de responsabilizar o próprio paciente pelo fracasso escolar.
(CAMPOS et al., p. 226, 2007)

À vista disso, Jafferian & Barone (2015) evidenciam a importância de os profissionais


da educação e da saúde envolverem-se em uma ética colocando-se num lugar onde possam
ver o sujeito, com suas outras capacidades escondidas atrás do rótulo, colaborando, assim,
para a desconstrução desse rótulo que o impede de ser um sujeito autônomo. Destarte, a
intervenção psicopedagógica pode fazer com que se desconstrua o rótulo, favorecendo o
sujeito a encontrar outro caminho.

3.5 – Benefícios do diagnóstico precoce

Dumas (2011) afirma que o TDAH é o resultado de transações complexas e ainda


pouco conhecidas para as quais a criança, a família nuclear e a família extensa contribui de
forma ativa.
Em concordância, Benczik & Casella (2015) evidenciam a importância da interação da
criança com TDAH no núcleo familiar. Pesquisas apontam que as interações familiares com
uma criança com TDAH tendem a ser mais conflituosas, negativas e estressantes para todos

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os membros da família. Assim, defende-se que as diferentes formas de interações familiares
podem produzir poderosos efeitos na expressão do transtorno em uma criança.
As dificuldades presentes no âmbito familiar, possivelmente influem sobre o modo
como a criança com TDAH é percebida, conduzida, criada, amada e, então, lançada para a
vida adulta. “Essa influência age de forma singular, apresentando os efeitos de longa
duração sobre o adolescente e o adulto resultantes dessa criança” (Benczik & Casella,
p.101, 2015).
Deste modo, saber se as crianças apresentam TDAH é extremamente importante para
predizer seu futuro ou para elaborar tratamentos, visto que, é necessário considerar os vários
contextos nos quais essas crianças interagem, com quem interagem, e quem, em troca, age
sobre elas (Benczik & Casella, 2015).

Para entender quem desenvolve quem continua a apresentar o transtorno ao


longo do tempo, qual criança desenvolverá problemas adicionais, qual terá
sucesso a despeito de seus problemas e, quais indivíduos se sairão mal na
vida adulta, é necessário fazer referência a esse sistema social que é a
família. (BENCZIK & CASELLA, p.101, 2015)

Neste sentido, Regalla et al. (2007) ressaltam que a família consiste em um importante
contexto pelo qual a criança aprende a se relacionar com o mundo, pois elas ensinam às
crianças como se aproximar das pessoas, cuidar dos relacionamentos, resolver problemas e
traçar metas, como também negociar as tensões entre desejos individuais e expectativas
sociais.
Tendo em vista que a família é a mais importante provedora do ambiente social da
criança, as autoras destacaram que os hábitos educacionais positivos utilizados pelos pais em
crianças com TDAH diminuíam o risco de essas crianças posteriormente desenvolverem
problemas de conduta (Regalla et al., 2007).
Em seus estudos Pereira et al. (2012) concluiram que as alterações nas funções
executivas estão relacionadas a vários distúrbios, como o TDAH. Assim, ressalta a
importância da avaliação de crianças em idades precoces, salientando que a identificação
precoce sugere um foco ainda maior na infância, uma vez que nesta etapa do desenvolvimento
algumas intervenções poderiam ser úteis na prevenção ou na remediação do problema, como
também na reabilitação a longo prazo, de dificuldades. Portanto, a identificação precoce pode
minimizar vários comprometimentos e dificuldades futuras.

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3.6 – Consequências do diagnóstico tardio

Dumas (2011) explica que as crianças com TDAH se sentem frustradas com as
exigências, mesmo as mais simples, ignorando-as sistematicamente, não por serem
desobedientes, mas por parecerem não ouvir, não saberem se controlar ou serem incapazes de
fazer o que se espera delas. Contrapondo-se a uma percepção ainda recorrente em algumas
pesquisas, esses problemas não desaparecem com a idade. “Na verdade, essas crianças têm
dificuldades maiores e persistentes que impedem seu desenvolvimento adaptativo – às vezes
com consequências nefastas observadas até a idade adulta” (Dumas, p. 228, 2011).
Essas crianças têm grande probabilidade de desenvolver um transtorno de conduta no
fim da infância ou no início da adolescência, ou ainda, comportamentos delinquentes ao longo
da adolescência e, às vezes, até a idade adulta. No decorrer do seu desenvolvimento, as
crianças e os adolescentes com TDAH têm um risco maior de se acidentar ou de se ferir. Tal
risco é observado até a idade adulta, especificamente, em relação aos acidentes de trânsito
(Dumas, 2011).

O funcionamento adaptativo de muitos indivíduos com TDAH durante a


infância ou adolescência continua comprometido na idade adulta, mesmo
que, em circunstâncias favoráveis, muitos consigam compensar suas
dificuldades mediante escolhas pessoais e profissionais que lhes permitam
evitar as situações em que seus sintomas se manifestam com mais
frequência. Em geral, os dados disponíveis indicam que, embora essas
pessoas não preencham mais os critérios do TDAH, elas tem um risco mais
elevado de apresentar outras psicopatologias – em particular um transtorno
da personalidade antissocial, um transtorno depressivo maior ou uma
toxicomania. (DUMAS, p. 56, 2011)

Em seus estudos, Dumas (2011) também constatou que os hiperativos com um


transtorno de conduta apresentavam taxas de utilização de psicotrópicos como o cigarro e a
maconha de duas a cinco vezes superiores às dos indivíduos apenas com TDAH e dos demais.
Neste contexto, Guidolim et al. (2013) afirmam que as crianças com TDAH podem
apresentar mais conflitos familiares, repetência na escola, baixo rendimento escolar e
problemas de conduta, contribuindo, assim, para uma saúde emocional prejudicada e
competência social menor dos que as outras crianças sem queixas. Ressaltam ainda, que as
principais queixas nas habilidades sociais consistem em fazer e manter amizades, o que
poderá ocasionar problemas conjugais significativos, comentários impulsivos, facilidade de se
frustrar ou de enraivecer, ser visto pelos outros como imaturo, tendo dificuldade de ouvir o
outro e em manter relacionamentos.

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De acordo com Benczik & Casella (2015) estima-se que 50 a 80% das pessoas que
tiveram TDAH na fase infantil continuam a apresentar na fase adulta, sintomas significativos
associados a importantes prejuízos em diversos aspectos da vida cotidiana.
À vista disso, Campos et al. (2007) ressaltam que o mundo para o paciente com
TDAH é de interpretação complexa, apresentando dificuldade em ser inserido, pois, devido à
agitação motora e impulsividade, atenção não-direcionada e desconcentração, eles tendem a
se perder num mundo de estímulos auditivos, visuais, sensoriais, entre outros.

Provavelmente, seu pensamento e raciocínio sofrerão a contaminação dessas


aferências do mundo interno e externo, dificultando suas atividades
intelectuais e, potencialmente, seu aprendizado. Embora não haja
comprometimento da inteligência, é possível que a forma de trabalho de seu
cérebro gere dificuldades na interpretação de problemas, o que poderá se
refletir em comprometimento da aprendizagem e na adaptação do ser às
exigências da sociedade. (CAMPOS et al., p.226, 2007)

Desidério & Miyazaki (2007) enfatizam que as características do transtorno podem


estar relacionadas aos diversos estágios de desenvolvimento, podendo levar a futuros
comprometimentos, como: até os 7 anos podem apresentar baixa autoestima, até os 11 anos
problemas de comportamento, atraso na aquisição do repertório acadêmico e déficit e
habilidades sociais. E dos 13 anos até a idade adulta, podem apresentar comportamento
desafiador e opositivo, comportamento criminoso, expulsão da escola, abuso de substâncias,
baixa motivação e dificuldades de aprendizagem.
Afirmam também que apesar das crianças com TDAH apresentarem características
comuns, existe uma grande variabilidade na forma e no comportamento individual dessas
crianças em diferentes contextos. Desta forma, grande parte delas acabam sendo alvo de
críticas e passam a ser vistas como a “ovelha negra” da família se comparadas aos irmãos,
familiares, como primos ou outras crianças da mesma idade (Desidério & Miyazaki, 2007).
Em seus estudos, Regalla et al. (2007) observaram que a rejeição por pares e o TDAH
na infância podem refletir em resultados negativos na adolescência, bem como
comportamentos externalizantes, comportamentos internalizantes, maus resultados
acadêmicos, transtornos alimentares e uso de substância. Compreende-se, então, que rejeição
por pares é um fator de risco para o desenvolvimento de problemas na vida adolescente e
adulta.
Além disso, constataram que crianças com TDAH sem problemas de conduta ou de
relacionamento com colegas, sem sintomas somáticos ou problemas de coordenação,

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apresentavam uma qualidade de vida melhor, de modo que diversos fatores influenciavam o
impacto do TDAH na vida da criança. Já problemas psiquiátricos na mãe, impulsividade,
comorbidades psiquiátricas e famílias com numerosos filhos podem reduzir a chance de
normalização no funcionamento das crianças com TDAH, indicando, assim, baixa resiliência
(Regalla et al., 2007).
Ademais, Regalla et al. (2007) evidenciam que crianças que experimentam o fracasso
precocemente, comumente observado no TDAH, são vulneráveis a uma vasta variedade de
complicações psicossociais. Essas complicações podem levar a problemas crônicos em
diferentes aspectos da vida, persistindo mesmo quando os sintomas nucleares do transtorno
remitiram ou melhoraram significativamente ao longo dos anos.

V. Discussão

O TDAH, como visto neste trabalho, trata-se de um transtorno psiquiátrico constatado


ao longo da vida. Apesar de várias pesquisas, ainda não foi descoberto uma única causa
responsável pelo transtorno. No entanto, acredita-se na existência de uma influência genética
e também alguns fatores de riscos que podem estar relacionados ao desenvolvimento de
alguns sintomas do transtorno, como complicações na gravidez, uso de substâncias, álcool e
cigarro. Além disso, os autores são unânimes em afirmar que a prevalência do transtorno é
maior em membros do sexo masculino.
Os sintomas nucleares do TDAH são a desatenção, hiperatividade e impulsividade, no
entanto, como abordado no decorrer do trabalho, inúmeros sintomas estão relacionados a
essas três manifestações. Outro ponto importante é que ao realizar um diagnóstico, o
transtorno pode ser classificado em três subtipos, como predominantemente desatento,
predominantemente hiperativo/impulsivo, ou combinado. Ademais, existem outros
transtornos que podem estar associados ao TDAH, os quais podem prejudicar o
desenvolvimento desses indivíduos.
Fica evidente que a complexidade do TDAH provoca um grande impacto na vida das
pessoas com este transtorno, como também dos familiares, principalmente na vida escolar e
social dessas pessoas, visto que, os indivíduos tendem a apresentar mais dificuldades em fazer
e manter amizades, o que pode refletir em futuros problemas nos relacionamentos amorosos,
como no casamento.
Frequentemente, os pais de filhos com TDAH, enfrentam maiores riscos de conflitos
matrimoniais e, esses conflitos não se restringem apenas às interações entre pais e filhos, entre

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o casal, mas também entre os irmãos, pois, às vezes, estes se sentem cansados pela
instabilidade emocional do irmão com o transtorno e por receberem mais atenção de seus pais.
Ao longo do trabalho, foi enfatizado por diversos autores, a extrema importância da
família na vida das pessoas com TDAH. Sendo assim, torna-se necessário que as intervenções
abordem também o ambiente familiar, a fim de contribuir positivamente em seu
desenvolvimento. Por isso, é imprescindível que a avaliação ocorra ainda na infância, pois
nessa fase as intervenções além de prevenir futuras dificuldades, podem ainda reduzir
diversos comprometimentos a longo prazo.
Desta forma, mesmo com o diagnóstico e a intervenção, é fundamental que os pais
tenham um maior conhecimento a respeito da dificuldade enfrentada pela criança com TDAH,
favorecendo sua formação, afinal, os pais devem oferecer o suporte necessário para que seus
filhos enfrentem estas dificuldades que a vida lhe impõe.
Neste trabalho também foi ressaltado acerca de uma equipe multidisciplinar tanto na
avaliação quanto na intervenção, visto que, é importante que a criança seja avaliada em
diferentes contextos e por diferentes métodos. Por conseguinte, devido à complexidade do
transtorno, em alguns casos, na intervenção a criança deve ser acompanhada por diversos
profissionais, como por exemplo, o psicopedagogo. Na intervenção psicopedagógica, além do
psicopedagogo trabalhar com a aprendizagem, despertando na criança o interesse em
aprender, ele pode ainda motivá-la a caminhar sozinha. Além do mais, no tratamento também
poderá ser utilizado medicamentos, dependendo do caso específico.
Outra questão discutida foi que os sintomas do TDAH, em alguns casos, podem
diminuir com a idade ou persistir até a idade adulta, prejudicando várias esferas da vida, por
exemplo, a vida social e escolar, como também, são mais propensos ao uso de substâncias.
Além disso, as crianças e adolescentes com este transtorno apresentam um risco maior
de se ferir e sofrer acidentes, o que pode ser refletido quando adultos em acidentes de trânsito,
pois, são constantemente desatentos e tendem a buscar atividades prazerosas que aumentam o
nível de adrenalina, colocando-os muitas vezes em situações arriscadas, como por exemplo,
brincar com objetos perigosos, praticar esportes radicais sem a devida preparação e dirigir em
alta velocidade. Ademais, essas pessoas podem comer compulsivamente, levando a maus
hábitos alimentares, aumentando assim, o risco de desenvolver obesidade.
Diante de tais considerações, conclui-se que as consequências provocadas pelos
sintomas do TDAH, podem comprometer significativamente a trajetória da vida das pessoas
com este transtorno. Portanto, enfatizamos que o diagnóstico precoce, associado a intervenção
adequada, auxilia de forma positiva as pessoas a vencerem suas dificuldades.

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Apesar das várias pesquisas encontradas acerca do TDAH, fica a necessidade de mais
estudos sobre o tema, a fim de se obter mais conhecimento em relação as possíveis causas do
transtorno, os benefícios que um diagnóstico precoce pode oferecer, de modo que os pais,
professores e demais profissionais envolvidos possam compreender melhor a criança,
favorecendo tanto na área social, quanto na área familiar e educacional.

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