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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

OSMAR JOSÉ NENEVÊ

A COMUNIDADE UTÓPICA DO SAÍ:


AS DISPUTAS POLÍTICAS POR TRÁS DA EXPERIÊNCIA
FOURIERISTA EM SANTA CATARINA (1842 – 1847)

FLORIANÓPOLIS/SC
DEZEMBRO
2016
OSMAR JOSÉ NENEVÊ

A COMUNIDADE UTÓPICA DO SAÍ:AS DISPUTAS POLÍTICAS


POR TRÁS DA EXPERIÊNCIA UTÓPICA EM SANTA CATARINA
(1842 – 1847)

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial
à obtenção do grau de bacharel e
licenciado em História, pela
Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC.

Orientador: Prof. Dr. João Klug

FLORIANÓPOLIS/SC
DEZEMBRO
2016
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Palavras-chave:

ABSTRACT
Keywords:
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO DO BRASIL ANTES E DURANTE


O FALANSTÉRIO DO SAÍ
1.1. A PRIMEIRA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE E OS EFEITOS DA SUA
DISSOLUÇÃO
1.2. A REVOLUÇÃO DE 7 DE ABRIL DE 1831
1.3. A INSTABILIDADE POLÍTICA DURANTE AS REGÊNCIAS, O
SURGIMENTO DOS PARTIDOS LIBERAL E CONSERVADOR
1.4. O GOLPE DA MAIORIDADE E AS ATENÇÕES DE DOM PEDRO II PARA
AS MUDANÇAS OCORRIDAS NA EUROPA
1.5. AS CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO FAROUPILHA PARA A
PROVÍNCIA DE SANTA CATARINA
1.6. A RETOMADA DA POLÍTICA DE COLONIZAÇÃO
1.7. AS CONVERSAS ENTRE DOM PEDRO II E JULES BENOIT MURE
1.8. A DISSOLUÇÃO DO MINISTÉRIO LIBERAL EM 1842 E AS
CONSEQUENCIAS AO PROJETO DO DR. MURE

2. O FOURIERISMO NO BRASIL
2.1. O SOCIALISMO UTÓPICO E OS IDEAIS FOURIERISTAS
2.2. COLÔNIAS UTÓPICAS PELO MUNDO
2.3. A UNION INDUSTRIELLE
2.4. O OLHAR DOS FRANCESES SOBRE O BRASIL E OS MOTIVOS DA
ESCOLHA DO PAÍS PARA A CONSTRUÇÃO DO FALANSTÉRIO
2.5. A VISITA DE JULES BENOIT MURE AO BRASIL E A ESCOLHA DO SAÍ
PARA A REALIZAÇÃO DO SEU EMPREENDIMENTO
2.6. A VISÃO DE DR. MURE ACERCA DAS DISPUTAS POLÍTICAS DO
BRASIL
2.7. AS DISPUTAS INTERNAS NO SAÍ
2.8. OS MOTIVOS DO FRACASSO DO EMPREENDIMENTO

3. O FALANSTÉRIO DO SAÍ VISTO ATRAVÉS DOS INTERESSES DOS


GRUPOS POLÍTICOS BRASILEIROS
3.1. A IMPRENSA BRASILEIRA NO INÍCIO DO SEGUNDO REINADO E O
APOIO IRRESTRÍTO DO JORNAL DO COMMERCIO AO
EMPREENDIMENTO FRANCÊS E AO DR. MURE
3.2. A RELAÇÃO DOS FALANSTERIANOS COM AS ELÍTES LOCAIS DA
PROVÍNCIA DE SANTA CATARINA
3.3. AS CRÍTICAS DE ANTERRO JOSÉ FERREIRA DE BRITO AO
FALANSTÉRIO E AO APOIO IMPERIAL PARA COM ESSE
EMPREENDIMENTO
3.4. OS RELATÓRIOS DO INSPETOR MAFRA
3.5. AS PRESSÕES E RESISTÊNCIAS DENTRO DO GOVERNO IMPERIAL,
EM RELAÇÃO AO APOIO E FINANCIAMENTO DO EMPREENDIMENTO
FRANCÊS
3.6. AS MUDANÇAS QUE O FALANSTÉRIO TROUXE AO QUADRO
POLÍTICO BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APÊNDICES

ANEXOS

INTRODUÇÃO

Ao abordarmos um assunto referente à colonização em Santa Catarina, muito


provavelmente a primeira coisa que a maioria das pessoas irão lembrar serão as
empresas colonizadoras italianas e alemãs, as quais formaram as primeiras colônias nas
regiões onde hoje estão as principais cidades do estado. Ou talvez lembrem dos
imigrantes açorianos, responsáveis por grande parte da colonização e da cultura presente
nas cidades do nosso litoral. Porventura alguém lembrará que no nosso estado (por mais
que muitos tentem esconder) também houve escravidão, e que a cultura africana é muito
presente e importante aqui, ainda que nem sempre leve o devido crédito e valor. Agora o
que será estranho para muitos é enunciarmos que o assunto em questão é sobre
colonização francesa. Ainda mais admirável será dizer que se trata de uma colonização
socialista utópica, que seguia os princípios ideológicos do pensador francês Charles
Fourier1 e ficou conhecida como Falanstério do Saí 2. A verdade é que apesar de se tratar
de uma comunidade insólita e distinta tanto em Santa Catarina como também no Brasil,
a única experiência de migração francesa para Santa Catarina passa quase despercebida
dentro da história do nosso estado.

Considero algumas hipóteses que explicam a falta do conhecimento deste fato


histórico. Primeiramente a historiografia tradicional catarinense pouco tratou deste
acontecimento, fazendo somente algumas menções. Outra hipótese, que talvez explique
a primeira, é o fato de que a maioria dos imigrantes franceses não permaneceram em
Santa Catarina após o desfecho do Falanstério, ainda que famílias como Ledoux e
Nenevê são encontradas hoje principalmente na região norte do estado.

Apesar de pouco tratado pela historiografia tradicional, recentemente o tema tem


ganhado mais importância na comunidade acadêmica e rendido interessantes trabalhos e
publicações. Uma das primeiras publicações sobre o tema é a dissertação do mestre
Antônio Carlos Güttler3, publicada em 1994. Logo após essa publicação, em 1995, é
lançado o livro “Fourier: utopia e esperança na Península do Saí”, escrito pela mestra

1 Charles Fourier (1772 a 1837), filósofo e socialista francês. Suas obras mais importantes são: Teoria
dos quatros movimentos (1808) e a postumamente editada O novo mundo amoroso (1967).
2 Saí remete ao distrito do Saí, local onde hoje é a parte continental do município de São Francisco do Sul
– SC. Falanstério significa uma união de falanges e era o grande empreendimento arquitetônico projetado
por Charles Fourier. Tratarei mais deste assunto no decorrer dessa monografia.
3 GÜTTLER, A. C. A colonização do Saí (1842-1844): A esperança de falansterianos, expectativa de um
governo. Florianópolis, 1994. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Santa
Catarina.
Raquel S. Thiago4. Outro trabalho que destaco é a tese da doutora Cecília D’Avila
Gallo5, escrita em 2002.

Os trabalhos que destaquei, procuram, em sua maioria, compreender a estrutura


das comunidades socialistas utópicas, partindo da ideia de que estas mesmas foram as
percussoras dos ideais socialistas qual hoje conhecemos 6. Assim, focam nas mudanças
ocorridas principalmente na Europa com a Revolução Industrial e a Revolução
Francesa, vendo o surgimento dessas comunidades como uma resposta alternativa a
exploração do nascente sistema capitalista, como escreve Cecília D’Avila Gallo:

As inúmeras tentativas de implantar um regime de comunidade regida


pelos princípios do fourierismo no século XIX, e que foram
registradas em bibliografia da época e atual, são capazes, por si, de
nos revelar a medida em que aquele século foi marcado, para a
população pobre na França, pela necessidade de recondução da
humanidade aos valores da aliança e do amor, num mundo
fragmentado pela doença do industrialismo. (2002, pg. 263)

Porém, minha problemática parte de outra questão: qual era o interesse do


império brasileiro ao além de disponibilizar o terreno, ajudar também financeiramente
com a realização do empreendimento socialista utópico? Apesar de não focarem nessa
questão, as publicações existentes trazem algumas respostas. Quem mais adentra nesse
assunto é Antônio Carlos Güttler, que percebeu a expectativa do governo imperial,
imaginando que o Falanstério traria a modernidade da Europa e estimularia a economia
brasileira. Entretanto, segundo ele, essas expectativas foram frustradas ao longo do
tempo:

As expectativas políticas e econômicas do governo se


irmanaram momentaneamente às esperanças dos falansterianos,
e embora aparentassem agir conjuntamente, andavam em
paralelo e nunca se encontrariam. Não poderia existir medida
que servisse aos objetos dos dois lados, e seriamos por demais
fourieristas se acreditássemos que algo pudesse satisfazer gregos
e troianos naquela guerra colonial. (1994, pg. 176)

4 S. THIAGO, R. Fourier: utopia e esperança na Península do Saí. Blumenau: Ed. da FURB;


Florianópolis: Ed. da UFSC, 1995.

5 GALLO, I. C. d’A. A aurora do socialismo: fourierismo e o Falanstério do Saí (1839-1850). Campinas,


2002. Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas.
6 Com base no livro: ENGELS, Friedrich. Do socialismo utópico ao socialismo científico. Tradução de
Rubens Eduardo Frias. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2005. Disponível em:
<http://www.livrariacultura.com.br/p/do-socialismo-utopico-ao-socialismo-cientifico-
1443310>. Acesso em: 02/09/ 2016.
Junto com apoio (ao menos) inicial do império, o empreendimento fourierista
teve outro aliado importante, o jornal do Commércio do Rio de Janeiro, responsável por
publicar diversos artigos exaltando o empreendimento francês em Santa Catarina,
publicando inclusive cartas de Jules Benoit Mure7, principal líder e idealizador do
Falanstério do Saí. Para Antônio Carlos Güttler, o apoio do jornal do Commércio ia de
encontro com o apoio das autoridades brasileiras. Segundo ele:

Reforçamos que este apoio parcial evidenciado pelo Jornal do


Commércio, assemelhou-se, por conveniência, a posição das
autoridades brasileiras, que não aceitaram a proposta de colonização
industrial como sistema implantador de uma nova ordem social
revolucionária, mas sim como uma tentativa oportuna de sanar
problemas de diversas ordens que naquele momento exigiam decisões
rápidas. Enquanto que para Mure e demais franceses aproximava-se a
oportunidade de colocar em prática a dinâmica fourierista, para os
nossos políticos era chegado o momento de absorver as inúmeras
ofertas. (1994, p. 103)

Entretanto, diferentemente de grande parte das autoridades brasileiras, o jornal


do Commércio persistiu com seu apoio mesmo quando o Falanstério já dava sinais de
malogro, com brigas e divisões internas. Interessante notar que mesmo anos depois de
decretado o final do empreendimento, o jornal do Commércio continuava publicando
notas em apoio a Jules Benoit Mure, como na publicação de 1848, onde defende o
médico de uma acusação de estupro ainda durante os anos em que esteve no Saí. Na
contramão do jornal do Commércio, nos relatórios do presidente da província de Santa
Catarina, o marechal Antero José Ferreira de Brito, que no início até desejava êxito ao
empreendimento, com o passar dos anos passou a tecer fadadas críticas não só aos
franceses, como também ao apoio do império ao Falanstério. Sobre isto, Raquel S.
Thiago escreve que:

É importante registrar que o Presidente valeu-se do ensejo, para


manifestar velada crítica ao governo imperial. No seu entender, o
governo deixara de socorrer agricultores nacionais, em favor de
estrangeiros cuja atuação estava fadada ao fracasso: “E a este
propósito cumpre que chame a vossa atenção sobre o que os lembrei
na abertura da sessão de 1841, quando fiz conhecer o número de
indivíduos existentes na Província que, não possuindo terras, ou
possuindo-as já esterilizadas, se queriam já estabelecer como colonos
e o não tem feito assim como muitos que mencionei, por falta de
algum pequeno socorro que os ajudasse a subsistir, enquanto não

7 Além de liderar o projeto fourierista, o médico Dr. Mure é considerado o pai da medicina homeopata
no Brasil, tendo realizado suas primeiras consultas no país ainda no distrito do Saí, e posteriormente no
Rio de Janeiro.
colhessem os primeiros frutos de seus trabalhos”. E aproveita para
sugerir que solicitassem à Assembléia Geral (atualmente Federal)
algum auxílio aos nacionais pelo mesmo modo estabelecido para a
Colônia do Saí. (1995, pg. 124)

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é aprofundar melhor as questões de


ordem políticas e econômicas que levaram o império brasileiro a apostar no
empreendimento francês, entrando a fundo na situação política brasileira da época.
Disserto também sobre os motivos do apoio totalmente parcial e descomedido do jornal
do Commércio ao empreendimento, bem como as críticas pesadas do presidente da
província. Para tal, precisamos entender também o olhar do jovem imperador Dom
Pedro II, e seus objetivos e ensejos em modernizar a jovem nação, como nos diz Marcos
Costa:

Para o Imperador, no entanto, era notório que um novo mundo havia


surgido com a revolução industrial, trazendo consigo uma nova
sociedade e uma nova mentalidade liberal, citadina e etc., que se
chocava frontalmente com aquele tipo de prática – a escravidão e o
tráfico -, que se tornaria insustentável de vários pontos de vista:
comercial, moral, humanitário e etc. O que estava claro como um dia
de sol para o imperador era o fato de que uma hora ou outra o Brasil ia
ter que se adequar, pois as mudanças eram inexoráveis, e o modelo
brasileiro estava também inexoravelmente condenado. (2015, pg. 61)

Entretanto, o mesmo Dom Pedro II, ainda muito jovem e tendo recém assumido
o trono após o período regencial, onde as disputas políticas se fortaleceram, ficava
notoriamente “em cima do muro”, mudando de tempos em tempos o seu
posicionamento para agradar, e principalmente para não desagradar, os interesses dos
grupos políticos influentes na época. Citando novamente Marcos Costa:

O país se dividiu desse modo em duas mentalidades, que passaram a


se hostilizar cada vez mais, em dois mundos em guerra permanente.
Nessa guerra, o imperador, pessoalmente, ficará oscilando, como um
pêndulo, entre um e outro, porém não a monarquia, que como veremos
tomará claramente partido de um deles.(2015, pg. 64)

Assim, surge também à questão de como essas disputas políticas influenciaram


na trajetória e no destino do Falanstério do Saí. Lembrando que o empreendimento
francês faz parte da retomada das políticas de colonização do império, paradas desde o
final do primeiro reinado, como descreve Paulo Pinheiro Machado:
A política de colonização é interrompida ainda em 1830, antes da
abdicação de Dom Pedro, como uma derrota imposta pela elite
política do País ao imperador. Uma semana após a votação da lei que
proibia a existência de regimentos estrangeiros, ocorreu a votação da
lei orçamentária para os anos de 1831/1832, que não previa nenhum
gasto com a colonização estrangeira. (1999, pg. 21)

Cabe então verificar como o resultado da colonização do Saí mudou o rumo das
políticas de colonização, principalmente do sul do Brasil, que ficou durante o restante
do período imperial praticamente restrito ao modelo das empresas colonizadoras,
principalmente alemãs e italianas.

Considerando tudo isso, a primeira parte desse trabalho explana sobre o contexto
histórico político brasileiro, desde a dissolução da primeira assembleia constituinte em
1827, até a dissolução do ministério liberal em 1842, mesmo ano da chegada da
primeira leva de franceses vindos para o Falanstério do Saí. O objetivo é expor os
principais acontecimentos que levaram a situação política em que o país estava quando
Dom Pedro II conversou com o Dr. Mure e condescendeu com os planos do médico
homeopata francês.

Assim entramos na segunda parte do trabalho, onde refere ao que foi o


Falanstério do Saí. Faço uma breve dissertação sobre os ideais de Charles Fourier e a
sua influência no mundo, a Union Industrielle e a visão dos socialistas utópicos em
relação ao Brasil, as brigas internas ocorridas desde o projeto do empreendimento na
França e consumadas com a divisão dos falansterianos em duas colônias aqui no Brasil,
e como esses problemas atrapalharam para a conclusão dos objetivos do projeto.

Na terceira e mais importante parte desse trabalho, tratamos dos interesses


brasileiros sobre o projeto francês, utilizando das reportagens do Jornal do Commércio,
e dissertando um pouco sobre a história da imprensa no Brasil, também sobre a relação
dos falansterianos com as elites locais de Santa Catarina, as críticas ao Falanstério,
principalmente do presidente da província, marechal Antero José Ferreira de Brito, e do
legado que a experiência utópica francesa deixou na política brasileira.
Como base teórica, esse trabalho fundamenta-se em autores da nova história
política, como Jaques Jilliard8, René Rémond, Michel Winock9, entre outros. Também se
baseia no que tange a analise das fontes, no método crítico analítico proposto por Mark
Bloch10.

8 JULLIARD, Jacques. “A Política” in LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre. História –novas abordagens. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1988, p. 182 a 193.
9 Ambos em: REMÒND, René. Por uma História Presente. In: REMÒND, René (Org.). Por uma História
Política. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 13 a 37 e 271 a 295.
10 BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: ed. Zahar, 2001.

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