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Mesmo diante do deslize no hipódromo, o treinamento continua até o teste final, uma
recepção a uma família nobre estrangeira. Ela impressiona tanto a família real com seus
modos e pronúncia, que a rainha manda Zoltan Karpathy, antigo aluno de Higgins, averiguar
de onde Eliza realmente é. Karpathy diagnostica que a pronúncia de Eliza é tão perfeita que
ela só pode ter sido ensinada, e, portanto ela só pode pertencer à família real húngara.
Henry Higgins e Coronel Pickering celebram o sucesso dos ensinamentos, tratando
Eliza como mero objeto de um experimento. Esta fica imensamente magoada e, após uma
violenta discussão com o professor, que não entende o rompante de sua aluna, o deixa.
O professor Higgins tenta trazê-la de volta e só então começa a perceber quão
importante ela é para ele. Após alguns incidentes e discussões, envolvendo Pickering, a mãe
de Higgins e Freddy (um rapaz apaixonado por Eliza), eles acabam juntos.
Alguns pontos interessantes podem ser destacados: 1) as pesquisas no campo da
fonética nos anos 1960; 2) a influência da língua padrão na sociedade; 3) a dificuldade de
aprendizagem de uma língua padrão num grupo social com características próprias.
Foi bem interessante ver no filme o modo como as pesquisas no campo da fonética
eram realizadas. Todos os instrumentos
de coleta de dados demonstram as
limitações existentes para os
pesquisadores da época em estudar as
dificuldades de produção de sons de uma
língua, mesmo entendendo que os
aparelhos apresentados no filme era a
tecnologia existente para aqueles
pesquisadores. No entanto, há de se
convir que os estudos na área avançaram muito, tendo os softwares que possibilitam o
desenvolvimento de novas metodologias que corroboram a coleta e análise de dados nesse
campo.
A influência da língua padrão inglesa na sociedade está bem marcada durante todo o
filme. Nota-se que a língua padrão é um divisor de águas, tendo o pobre e o rico em lados
distintos, sendo que a classe burguesa não reconhece como “normal” as variações da língua e
seus dialetos, mas, ao contrário, as trata como sendo formas inferiores de se falar o que fora
padronizado pela elite, estigmatizando assim, quem adotou as outras formas. Estas que se
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aderem a grupos discriminados, mas que nelas se fortalecem para sobreviverem diante dos
abastados.
Diante dessa marcação viva da língua, foi possível o professor Higgins identificar a
origem da florista, bem como afirma
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A variação apresentada no falar da florista é regional, pois o dialeto falado por ela
indica uma região específica de Londres. Essa variação faz parte dos condicionantes
extralinguísticos, ou seja,
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determinada sociedade distinta da sua. A imposição da língua de prestígio a grupos sociais
tidos desprestigiados, a título de ascensão à classe superior, torna o ser humano robotizado.
Na prática pedagógica do professor de Língua Portuguesa é recorrente a ação de
relevar a língua padrão do português brasileiro em desfavor das variações linguísticas
presentes nela, ou ainda, a não aceitação da língua não culta com suas variações não
padronizadas. Principalmente daqueles que têm o livro didático como principal ferramenta de
ensino, bem como daqueles que não cuidam da formação contínua.
O professor deve se atentar no ato de “corrigir” seus alunos quando estes
(re)produzem falas contendo variações não padrão da língua brasileira no ambiente escolar,
pois estará reforçando a divisão de classes em prol da confirmação do prestígio da língua
cultura.
Bortoni-Ricardo (2004, p. 38) em seus estudos sobre variação linguística identificou
durante suas pesquisas em sala de aula, alguns padrões de conduta do professor em relação a
regras linguísticas não-padrão utilizadas pelos alunos, sendo eles:
o professor identifica “erros de leitura”, isto é, erros na decodificação do material
que está sendo lido, mas não faz distinção entre diferenças dialetais e erros de decodificação
na leitura, tratando-os todos da mesma forma;
o professor não percebe uso de regras não-padrão. Isto se dá por duas razões: ou o
professor não está atento ou o professor não identifica naquela regra uma transgressão porque
ele próprio a tem em seu repertório. A regra é, pois, “invisível” para ele;
o professor percebe o uso de regras não-padrão, não intervém, e apresenta, logo
em seguida, o modelo da variante-padrão.
Nesse sentido, pode-se inferir que a língua padrão e a não padrão se confrontam na
oralidade, estabelecendo, por parte do professor o que é errado e o que é certo, privilegiando a
norma culta da língua padrão como uma referência a ser seguida, pois ela está presente na
sociedade de falantes cultos e prestigiados.
Ora, essa é uma problemática relevante dentro dos estudos linguísticos que engloba
aspectos de natureza ideológica, envolvendo preconceito social. Desta forma,
REFERÊNCIAS
COELHO, I. L. (Orgs.) et al. Para conhecer sociolinguística, São Paulo: Contexto, 2015.
ZARPELON, Fabrício. Tudo em Londres para brasileiros. Março, 2012. Disponível em:
<http://tudodelondres.blogspot.com.br/2012/03/o-dialeto-cockney.html>. Acesso em: 3 nov.
2017.