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RESENHA DO FILME “MY FAIR LADY”

Título original: May Fair Lady


Diretor: George Cukor
Lançamento: 1964
Duração: 170 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: Musical, comédia
Elenco: Audrey Hepburn, Rex Harrison, Wildeis
Hyde-White, entre outros.

O filme é um musical e tem como protagonistas Audrey Hepburn, no papel de Eliza


Dootlittle, juntamente com Rex Harrison como Henry Higgins.
Henry Higgins (Rex Harrison) é um estudioso da fonética da língua inglesa, capaz de
identificar a origem de cada cidadão inglês através de sua fala, um homem preocupado com o
bem falar da língua inglesa. Entretanto, apesar dessa qualidade intelectual, é um homem
intolerante com a dificuldade das pessoas em pronunciar de modo correto a língua materna.
Eliza Doolittle (Audrey Hepburn) é uma florista de origem humilde que exerce suas
atividades em um mercado, juntamente com outros vendedores de hortaliças e frutas,
chegando a vender flores nas ruas. A florista produz sua fala com características do dialeto
cockney que é falado por uma classe de trabalhadores de Londres.
De acordo com Zarpelon (2012), o termo Cockney é usado para definir o modo de
falar dos londrinos da classe trabalhora, especialmente aqueles da região do East End. O que
caracteriza o Cockney é o sotaque. Muitos vão além, e dizem que esse jeito de falar é tão
diferente do inglês que se conhece podendo até ser considerado um dialeto. É que além da
diferença na pronúncia, o Cockney costuma fazer uso de gírias rimadas. O Cockney é
considerado um dialeto, mas na prática trata-se apenas de um jogo de vocabulário e rimas às
vezes cômicas, mas quase sem sentido, que vai incorporando novas expressões e jogos de
palavras para confundir os que não conhecem tais gírias. Tudo isso torna o cockney um inglês
inferior, não aceito na sociedade elitizada de Londres, chegando até ser considerado uma
corrupção moderna da língua, não sendo prazeroso de ouvi-lo. Porém, atualmente, o Cockney
é mais aceito como uma forma alternativa ao inglês tradicional.
Logo no começo do filme, Henry Higgins
encontra com a florista Eliza Dootlittle e sua pronúncia
cockney é considerada pelo professor uma afronta ao
idioma inglês. Nesse momento, o professor é desafiado
pelo seu amigo, Coronel Pickering (Wilfrid Hyde-White),
também foneticista, a ensiná-la, durante seis meses, a ser
uma lady, capaz de comportar como uma dama inglesa no
baile da Embaixada no Palácio de Buckingham, sem
despertar suspeitas quanto à sua origem humilde. Tal
desafio envolvia pagamentos em dinheiro objetivando
financiamento de suas pesquisas.
Eliza ao ouvir esses comentários, começa a sonhar com uma vida de conforto,
vislumbrando a possibilidade de sair da pobreza em que vive, sendo capaz, até, de ter, quem
sabe, sua própria floricultura. Seguindo seus instintos, Eliza procura o professor e o convence
a aceitar a árdua tarefa. Diante do aceite do professor, ela se muda para casa dele. Porém, a
convivência não é fácil, pois o professor se mostra arrogante e o gênio da aluna é difícil, ainda
mais que a dificuldade apresentada pela mesma é a produção dos sons das vogais e do “h”
(Eliza não conseguia pronunciar o som fechado da vogal A em may, wait, e, o som aspirado
da letra H em “In Hertford, Hereford and Hampshire, hurricanes hardly ever happen”).
Contudo, a relação desses dois personagens cresce durante as aulas, culminando em
sentimentos que, até então, seriam improváveis de acontecer na vida do professor.
Eliza muda não somente a forma de se comunicar com as pessoas, mas também seus
hábitos, o modo de se vestir, de andar, de enxergar o mundo e de relacionar com ele. Ela
acaba ganhando uma nova versão de si mesma ao adquirir o comportamento burguês da alta
sociedade da época, completamente contrário a sua realidade anterior.
O professor decide testar seu progresso levando-a a um hipódromo, onde apenas
frequentam pessoas da alta sociedade inglesa. Ela quase consegue convencer a todos que é
uma dama, mas só até o momento em que solta um grito entusiasmado com a melhor
pronúncia cockney herdada do meio onde cresceu, revelando que apesar dos “treinamentos”
da fala padrão inglesa, ao contato com emoções, a fala original vêm à tona.

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Mesmo diante do deslize no hipódromo, o treinamento continua até o teste final, uma
recepção a uma família nobre estrangeira. Ela impressiona tanto a família real com seus
modos e pronúncia, que a rainha manda Zoltan Karpathy, antigo aluno de Higgins, averiguar
de onde Eliza realmente é. Karpathy diagnostica que a pronúncia de Eliza é tão perfeita que
ela só pode ter sido ensinada, e, portanto ela só pode pertencer à família real húngara.
Henry Higgins e Coronel Pickering celebram o sucesso dos ensinamentos, tratando
Eliza como mero objeto de um experimento. Esta fica imensamente magoada e, após uma
violenta discussão com o professor, que não entende o rompante de sua aluna, o deixa.
O professor Higgins tenta trazê-la de volta e só então começa a perceber quão
importante ela é para ele. Após alguns incidentes e discussões, envolvendo Pickering, a mãe
de Higgins e Freddy (um rapaz apaixonado por Eliza), eles acabam juntos.
Alguns pontos interessantes podem ser destacados: 1) as pesquisas no campo da
fonética nos anos 1960; 2) a influência da língua padrão na sociedade; 3) a dificuldade de
aprendizagem de uma língua padrão num grupo social com características próprias.
Foi bem interessante ver no filme o modo como as pesquisas no campo da fonética
eram realizadas. Todos os instrumentos
de coleta de dados demonstram as
limitações existentes para os
pesquisadores da época em estudar as
dificuldades de produção de sons de uma
língua, mesmo entendendo que os
aparelhos apresentados no filme era a
tecnologia existente para aqueles
pesquisadores. No entanto, há de se
convir que os estudos na área avançaram muito, tendo os softwares que possibilitam o
desenvolvimento de novas metodologias que corroboram a coleta e análise de dados nesse
campo.
A influência da língua padrão inglesa na sociedade está bem marcada durante todo o
filme. Nota-se que a língua padrão é um divisor de águas, tendo o pobre e o rico em lados
distintos, sendo que a classe burguesa não reconhece como “normal” as variações da língua e
seus dialetos, mas, ao contrário, as trata como sendo formas inferiores de se falar o que fora
padronizado pela elite, estigmatizando assim, quem adotou as outras formas. Estas que se

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aderem a grupos discriminados, mas que nelas se fortalecem para sobreviverem diante dos
abastados.
Diante dessa marcação viva da língua, foi possível o professor Higgins identificar a
origem da florista, bem como afirma

[...] As diferentes formas que empregamos ao falar e ao escrever dizem, de


certo modo, quem somos: dão pistas a quem nos ouve ou lê sobre o local de
onde viemos, o quanto estamos inseridos na cultura letrada dominante de
nossa sociedade, quando nascemos, com que grupo nos identificamos, entre
várias outras informações. (COELHO, et al, 2015, p. 16).

O professor Higgins, ao mostrar seu grau intelectual e arrogante, perante a maneira


de expressar da florista constata a
intolerância das pessoas diante das
variações linguísticas produzidas por
outras pertencentes a grupos sociais
distintos do dele, provocando, assim, a
estigmatização de um povo que não fala
a mesma língua que ele, ao ponto de
ridicularizá-lo perante aqueles que se
encontram no mesmo nível dele.
Ou seja, ao se estabelecer a diferença entre variante padrão e não padrão pode-se
dizer que

As variantes padrão são, grosso modo, as que pertencem às variedades


cultas da língua; já as variantes não padrão costumam se afastar dessas
variedade. Mesmo que não seja a variante mais usada por uma comunidade,
a variante padrão é, em geral, a variante de prestígio, enquanto a não padrão
é muitas vezes estigmatizada – pode haver comentários negativos à forma
ou aos falantes que a empregam. (COELHO, et al, 2015, p. 18). (grifo do
autor).

Este pensamento se confirma quando ao ser ridicularizada, a florista almeja mudar


sua vida e fazer parte da sociedade prestigiada de Londres, confirmando assim, que, às vezes,
o pobre, estigmatizado pelas suas características econômicas, sociais, históricas e culturais,
sonha em mudar de vida mediante a ascensão a uma classe superior, ou seja, se ele se vestir
melhor, falar melhor, se portar como os da classe almejada será aceito por ela.

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A variação apresentada no falar da florista é regional, pois o dialeto falado por ela
indica uma região específica de Londres. Essa variação faz parte dos condicionantes
extralinguísticos, ou seja,

[...] variação regional, também conhecida por variação geográfica, ou ainda


variação diatópica, é a responsável por podermos identificar, às vezes com
bastante precisão, a origem da pessoa pelo modo como ela fala. Através da
língua, é possível saber que um falante é gaúcho, mineiro ou baiano, por
exemplo [no caso do Brasil]). (COELHO, et al, 2015, p. 38).

A variação regional está associada, às vezes, à


etnia colonizadora de um grupo social, sendo o
colonizador e os migrantes desse grupo são constituintes
do estabelecimento ou não da variação perante a
comunidade, influenciando, assim, a vida do dialeto.
No entanto, vale ressaltar que a florista também
apresenta, em sua fala, dificuldades de produção do som
das vogais e da letra “h” como são produzidos na língua
padrão inglesa e utilização de palavras estranhas à língua
padrão inglesa. Todavia, essa suposta dificuldade está ligada às características próprias do
cockney – criação e combinação de palavras não pertencentes a língua padrão, que se
encontram dentro dos estudos de variação lexical, ou seja,

[...] na classificação dos dialetos em geral, os aspectos lexicais são menos


sistematizáveis do que os fonético-fonológicos, morfológicos ou sintáticos,
visto que esses últimos são regulados por condicionadores internos, além dos
externos, enquanto os lexicais estão intimamente ligados a fatores
extralinguísticos, de caráter cultural, sobretudo etnográficos e históricos.
(COELHO, et al, 2015, p. 25).

O respeito à existência das variações que compõem os dialetos possibilita que a


mesma permaneça viva, pois dentro de um mesmo padrão têm-se variações que, muitas das
vezes são tidas como tendências na variante padrão. O sentido de respeito explicitado aqui
inclui, também, às dificuldades dos alunos da educação básica a aprenderem a língua padrão
da qual, muitas das vezes, não é a dele.
Esse é um dos pontos destacados que se encontra fortemente visível no filme. O
treinamento dado a uma pessoa objetivando o aprendizado de uma língua culta de

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determinada sociedade distinta da sua. A imposição da língua de prestígio a grupos sociais
tidos desprestigiados, a título de ascensão à classe superior, torna o ser humano robotizado.
Na prática pedagógica do professor de Língua Portuguesa é recorrente a ação de
relevar a língua padrão do português brasileiro em desfavor das variações linguísticas
presentes nela, ou ainda, a não aceitação da língua não culta com suas variações não
padronizadas. Principalmente daqueles que têm o livro didático como principal ferramenta de
ensino, bem como daqueles que não cuidam da formação contínua.
O professor deve se atentar no ato de “corrigir” seus alunos quando estes
(re)produzem falas contendo variações não padrão da língua brasileira no ambiente escolar,
pois estará reforçando a divisão de classes em prol da confirmação do prestígio da língua
cultura.
Bortoni-Ricardo (2004, p. 38) em seus estudos sobre variação linguística identificou
durante suas pesquisas em sala de aula, alguns padrões de conduta do professor em relação a
regras linguísticas não-padrão utilizadas pelos alunos, sendo eles:
 o professor identifica “erros de leitura”, isto é, erros na decodificação do material
que está sendo lido, mas não faz distinção entre diferenças dialetais e erros de decodificação
na leitura, tratando-os todos da mesma forma;
 o professor não percebe uso de regras não-padrão. Isto se dá por duas razões: ou o
professor não está atento ou o professor não identifica naquela regra uma transgressão porque
ele próprio a tem em seu repertório. A regra é, pois, “invisível” para ele;
 o professor percebe o uso de regras não-padrão, não intervém, e apresenta, logo
em seguida, o modelo da variante-padrão.
Nesse sentido, pode-se inferir que a língua padrão e a não padrão se confrontam na
oralidade, estabelecendo, por parte do professor o que é errado e o que é certo, privilegiando a
norma culta da língua padrão como uma referência a ser seguida, pois ela está presente na
sociedade de falantes cultos e prestigiados.
Ora, essa é uma problemática relevante dentro dos estudos linguísticos que engloba
aspectos de natureza ideológica, envolvendo preconceito social. Desta forma,

[...] é pedagogicamente incorreto usar a incidência do erro do educando


como uma oportunidade de humilhá-lo. Ao contrário, uma pedagogia que é
culturalmente sensível aos saberes dos educandos está atenta às diferenças
entre a cultura que eles representam e a da escola, e mostra ao professor
como encontrar formas efetivas de conscientizar os educandos sobre essas
diferenças. Na prática, contudo, esse comportamento é ainda problemático
para os professores, que ficam inseguros, sem saber se devem corrigir ou
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não, que erros devem corrigir ou até mesmo se podem falar em erros.
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 38).

Em suma, o filme demonstra positiva e negativamente como a normatização da


língua influencia o ser humano, bem como atribui a ela o poder de ressignificação da essência
do indivíduo e agregação de novos valores.
Existe algum problema em não usar “adequadamente” a língua padrão culta, e
preferir a língua não padrão ou o dialeto de grupos sociais minoritários? Esses últimos
considerados incorretos e vistos com maus olhos por boa parte da sociedade, sendo alvo de
estudos e pesquisas científicas com adeptos e opositores ao sistema atual de classificação da
linguagem.
Sabe-se que o preconceito linguístico está longe de ser superado, uma vez que
inúmeros dialetos estão espalhados pelo mundo (muitos desconhecidos) e sempre provocarão
uma espécie de estranhamento intelectual por parte daqueles que se dizem instruídos e
partícipes de uma sociedade dita culta.

REFERÊNCIAS

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na


sala de aula, São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

BLOG DO NOBLAT. Quem fala Cockney? Disponível em:


<http://noblat.oglobo.globo.com/cronicas/noticia/2010/03/quem-fala-cockney-270306.html>.
Acesso em: 3 nov. 2017.

COELHO, I. L. (Orgs.) et al. Para conhecer sociolinguística, São Paulo: Contexto, 2015.

ZARPELON, Fabrício. Tudo em Londres para brasileiros. Março, 2012. Disponível em:
<http://tudodelondres.blogspot.com.br/2012/03/o-dialeto-cockney.html>. Acesso em: 3 nov.
2017.

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