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Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP

Maria Clara Botelho dos Reis


1º ano de História - Diurno

Resenha crítica da obra “Economia e sociedade na Grécia antiga”


de Michel Austin e Pierre Vidal-Naquet
Capítulo um - “Conceitos e problemas gerais”

Franca
2017
O livro “Economia e sociedade na Grécia antiga”, escrito por Michel Austin e Pierre
Vidal-Naquet, ambos nascidos no século XX, estabelece relações entre obras daquele tempo e
obras posteriores, compara conceitos antigos com conceitos modernos e trata de problemas que
surgem na historicização da Grécia da Antiguidade.

No primeiro capítulo do livro, nomeado “Conceitos e problemas gerais” e dividido em


seis subtítulos, vemos a dificuldade em estabelecer uma história econômica da Grécia Antiga,
e também uma história social.

Em seu subtítulo inicial, “A controvérsia sobre a economia grega antiga”, podemos ver
o desafio da integração de uma história descoberta no século XX, a história econômica, com a
história da Grécia Antiga. Esse desafio se dá principalmente pelo fato de muitos historiadores,
como os alemães Eduard Meyer e Karl Bücher aplicarem conceitos e ideias modernas em um
período anterior, gerando um grande problema anacrônico. O debate sobre o local da economia
na sociedade grega só teve uma melhor compreensão após a contribuição de Max Weber,
economista alemão do século XIX, através de suas comparações entre cidade grega antiga e a
cidade medieval. Assim, Weber conclui que a cidade grega era de consumidores (consumiam
o necessário sem visão de lucro, pois a questão lucrativa não era bem vista, como se coloca
mais à frente no capítulo) e a cidade medieval era de produtores. Retomando as ideias de Weber,
temos o holandês Johannes Hasebroek que traz a perspectiva de que não existe uma história
econômica grega fora do plano político. Além desses dois grandes contribuintes, há também a
obra do húngaro Karl Polanyi, que mostra como a economia grega não poderia ser estudada
separadamente sem se entender as outras relações presentes na cidade. Polanyi se apresenta
totalmente contrário a Eduard Meyer, alegando a ineficácia de utilizar conceitos e termos da
economia moderna para estudar aquela época.

Abrindo o subtítulo “A economia na Grécia está ‘integrada’ na sociedade”, os autores


apresentam a diferença entre os conceitos “oikonomia” e “economia”. Enquanto o primeiro tem
um sentido mais geral de gestão, administração, organização e também de gestão do domínio
familiar como foi tratado na obra de Xenofontes (discípulo de Sócrates), o segundo já tem um
sentido moderno mesmo tendo se originado do primeiro. Portanto, se quisermos achar uma
análise econômica nos autores gregos como Xenofonte, nos frustraremos, pois o sentido da
economia era visto diferente por eles.

Interligando-se a essa questão, são apresentadas as ideias de Tucídides e Platão, que


concordam entre si que a história econômica grega está estritamente ligada com a história
política. Assim, vemos que a “economia” daquele período se fazia integrada não só ao plano
político, mas também ao ético e ao estudo de valores, pois estes influenciavam diretamente e
compunham a sociedade como um todo.

No terceiro subtítulo, “Factores ‘não econômicos’ e atividade econômica”, Vidal


Naquet e Austin explicam uma “hierarquia das ocupações”. No início dessa escala hierárquica
temos a agricultura como mais valorizada, e no final da escala, o comércio e os vários tipos de
atividades manuais como menos valorizados. Essa desvalorização de certos tipos de trabalho
terá grande eco na Idade Média, e será estabelecida pelo historiador medievalista francês Jaques
Le Goff como uma influência na mentalidade da Idade medieval acerca da visão sobre o
trabalho. Essa ideia é trabalhada por Le Goff no capítulo “Trabalho, técnicas e artesãos nos
sistemas de valor da alta Idade Média” do livro “Para um novo conceito de Idade Média”, e se
relaciona também ao fato da vida ociosa ser apreciada na Grécia Antiga. Logo após, os autores
apresentam uma hierarquia dos meios de aquisição. Nesse sistema, enquanto a guerra e a
política são totalmente aceitos como métodos aquisitivos, o comércio com fins lucrativos é
totalmente condenável, visão totalmente influenciada pela ética, o que comprova mais uma vez
como aspectos econômicos não se estabelecem por si mesmos e são totalmente influenciados
por outros. Além disso, é apresentada uma distinção entre ricos e pobres naquele período. Muito
diferente do que entendemos atualmente por riqueza e pobreza, para eles, rico era aquele que
tinha uma vida totalmente vaga e ociosa, enquanto o pobre era o que tinha a necessidade de
praticar algum tipo de atividade.

No subtítulo seguinte “A escravatura na Grécia”, percebemos que, por uma série de


questões como a valorização do ócio, os estigmas negativos das atividades manuais e os
diferentes e valorizados métodos aquisitivos, o trabalho servil era visto pelos gregos como algo
incontestável e, como disse o historiador americano Moses Finley em seu livro também
nomeado “Economia e sociedade na Grécia antiga”, os gregos tomaram como certo que a
escravidão era um fato da vida. Porém, além dessas questões, outros fatores também
contribuíram para que se tivesse essa perspectiva sobre a questão da escravatura. Pode-se citar
como um desses fatores, um desenvolvimento extremamente lento de técnicas de produção,
fazendo com que o trabalho servil se tornasse quase que indispensável. Além disso, o que para
nós é totalmente contraditório (a liberdade de uns e a vida de servidão de outros), para os gregos
na Antiguidade era um fato totalmente aceitável e correlacionado, pois a liberdade de uns não
poderia existir sem que outros fossem escravos. Houveram linhas de pensamento desse período
que tentaram contestar esse pensamento dos gregos, entretanto, Aristóteles se prestou a
discordar disso e dizer que essa relação em que um é livre e o outro não, faz parte do plano
natural das coisas, e mesmo não sendo uma ideia logicamente aceitável, a questão da
escravatura perdurou no mundo grego.

No penúltimo subtítulo, denominado “A história social”, vemos apontado sobre a


história social o mesmo problema da história econômica: a aplicação de conceitos modernos
em um tempo passado e a não existência de histórias social e econômica autônomas. Robert
von Pöhlmann, historiador alemão, dizendo modernizar a história da Antiguidade, acabou
cedendo a esse erro ao aplicar termos modernos na “economia” de tempos anteriores e,
consequentemente, a história social como resultante e correlacionada a história econômica,
acaba também caindo no mesmo erro. A partir disso, os autores da obra resenhada questionam
se esse seria um motivo para abandonar conceitos modernos como luta de classes e classes
sociais. A aplicação desses conceitos na Grécia antiga se dá não de uma maneira restrita, e sim
de uma maneira adaptada, pois na Grécia por exemplo, não existia uma classe operária; um
cidadão poderia trabalhar na mesma função que um escravo, deixando assim de terem objetivos
em comum, como a classe operária tem na modernidade. É então, apresentada a ideia de uma
oposição entre quem possui terras e quem não possui, e é explicado o fato de que os embates
sociais não acontecem de fato, pois mesmo existindo cidadãos com antagonismos, o grupo
escravista não possuía a cidadania e, consequentemente, não podia participar dos conflitos, e
mesmo os cidadãos, não tinham a capacidade de fazer com que esses embates tomassem forma,
pois eram desprovidos de poder político. Além disso, o grande foco das reinvindicações não
tinha um aspecto econômico, e sim, um aspecto de divisão e redistribuição de terras. Também
podemos ver que o antagonismo não existia apenas entre possuidores e não possuidores de
terras, ele existia, por exemplo, entre mulheres e homens, e jovens e adultos.

No último subtítulo, “As fontes principais”, os autores reafirmam mais uma vez a ideia de que
não existem histórias econômica e social separadas, e assim, não existem fontes específicas
sobre estes assuntos. Portanto, faz-se uso da literatura grega geral presente em obras de Platão,
Aristóteles, Xenofonte, Hesíodo e outros, e também um grande uso de documentos epigráficos
e uma forte contribuição arqueológica para poder confirmar, corrigir e completar o que já se
sabia anteriormente através de outras fontes. Ainda assim, dados estatísticos fazem falta e
números exatos não contemplam algumas partes e aspectos do período da Grécia antiga.

Dessa maneira, é possível perceber como ainda cometemos erros ao tentar entender o
passado com os olhos do presente, e também como é importante o trabalho com fontes variadas
para uma leitura mais rica e abrangente do cenário a ser estudado.

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