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17 de Fevereiro de 2016
Vou contar uma história para vocês, para que entendam em que ponto a Ciência
brasileira se insere nessa crise. Ao personagem, dou o nome de Carinha. Obviamente, é
uma história generalista, que jamais pode ser aplicada a todos, mas pelo menos a uma
enorme parcela dos acadêmicos. Você verá muitos amigos seus na pele do Carinha.
Talvez, você mesmo.
(****PS. Permitam-me uma edição aqui. Fui infeliz quando exemplifiquei o colega
como um engenheiro civil, pois o mercado para esse profissional atualmente também
encontra-se em crise. Tente imaginar qualquer profissão facilmente absorvida pelo
mercado de trabalho privado e o texto continuará com o mesmo objetivo).
Em dois anos, o Carinha tenta produzir alguns artigos para enriquecer o currículo. Tem
planos para publicar cinco, mas publica um, em revista de qualis baixo. Em paralelo,
entra num forte estresse para entregar sua dissertação e passar pelo forte crivo da banca,
que pode reprová-lo. Será? Na semana de sua defesa, seu colega também é aprovado,
mas com um projeto medíocre e mal conduzido, que, apesar de criticado, foi
encaminhado pela banca porque reprovações não são interessantes para a avaliação de
conceito do Programa. Normas do MEC.
4 – Já mestre, publica mais um artigo e entra no Doutorado, em 2012. Foi mais difícil
que o Mestrado, porém mais fácil do que teria sido anos atrás, por conta do bom número
de bolsas disponível. Boa parte daqueles colegas medianos desiste da vida acadêmica,
mas aquele dito cujo sem perfil de cientista de alto nível também é aprovado. Afinal, ter
bolsas desocupadas não é interessante, porque senão o Programa é obrigado a devolvê-
las. Normas do MEC.
6 – Eis que, em 2016, Doutor Carinha se depara com uma grave crise financeira. Cortes
profundos no orçamento, principalmente no Ministério da Educação, tornam escassas as
vagas como docente. Concursos em cidades remotas do interior, antes com dois, cinco
concorrentes no máximo, contam hoje com 30, 50, 80.A solução então é caminhar
urgentemente para um Pós-Doutorado, com bolsa de R$ 4.100,00, metade do que ganha
seu amigo engenheiro, mas ok, dá um caldo bom, ainda que continue sem direitos
trabalhistas. Pouco tempo atrás, as bolsas sobravam e os convites eram feitos pelo
próprio professor. Hoje, ele enfrenta uma seleção com 30. Ele passa, o outro colega já
fica pelo caminho, assim como centenas espalhados pelo país. O que eles estão fazendo
agora?
Alarmante é ver um outro exército de Carinhas, esse qualificado, com boas produções,
só que desempregado e enfrentando a maior dificuldade financeira de suas vidas.
Alguns há anos em bolsas de Pós-Doutorado, sem saberem se essas podem ser cortadas
no ano seguinte. Se forem, nenhum mísero centavo de seguro desemprego. Na rua,
ponto. Outros abandonando por vez a carreira para tentar os já escassos concursos
públicos em outras áreas ou mesmo para fazer doces caseiros, entre outras alternativas.
Teremos cerca de dez anos pela frente para que essa curva entre oportunidades e
demanda volte a estabilizar. Não tenho dúvidas de que alcançaremos isso. Mas, até lá,
cabe a pergunta. O que faremos com os novos Carinhas que ainda surgem a cada
vestibular?
O que pode ser mais importante que Ciência?
Por hugofernandesbio em Ciência e Política
22 de Abril de 2015
Bem, eu sei que muitos já vão dar uma resposta pronta, possivelmente ligada a algo
afetivo ou espiritual. Respeito demais (mesmo!). Mas vamos tentar, pelo menos agora,
amarrar nossa pergunta a questões, digamos, mais “terrenas”.
Provavelmente, você está lendo esse texto em um computador ou quem sabe no seu
celular ou tablet. Olhe bem para os componentes do seu aparelho. O plástico presente na
maior parte dele não é matéria prima encontrada na natureza. Ele é desenvolvido a partir
de décadas de pesquisa em materiais de resistência, durabilidade e baixo custo. A tela
finíssima é graças ao advento e consolidação da nanotecnologia, ciência recente quando
comparada aos códigos binários que permitem respostas eletrônicas aos seus comandos
de digitação. Se você estiver num ambiente urbano, olhe tudo em sua volta e tenha a
certeza de que cada item que você está vendo, desde a tinta da parede até os freios de
um automóvel, só está aí porque milhares de cientistas investiram muito tempo, muito
cérebro e muito dinheiro nisso. Se você por um acaso estivesse no meio da floresta
agora, saiba que novas espécies são descobertas praticamente todos os dias e que as
relações ecológicas entre seres vivos e o meio estão se revelando cada vez mais
complexas, graças a pesquisadores que estão nos ajudando a como medir nossos
impactos no planeta e a como resolvê-los. O que você comeu hoje passou por testes
químicos e por décadas de melhoramento genético. A economia de uma nação é baseada
em estatística avançada. O remédio que você tomou quando ficou doente não foi uma
descoberta acidental. Uma cirurgia de sucesso não foi alcançada naquele momento, ela
nasceu em dezenas de laboratórios bem antes disso. Em resumo, você não teria sequer
chegado até aqui se não fosse pela Ciência.
Talvez, eu não tenha falado nenhuma novidade para você. Mas será que damos o real
valor para esses processos? E eu ainda o convido a um seguinte questionamento. Pense
mentalmente no nome de cinco cientistas… Agora pense mentalmente no nome de
cinco cientistas brasileiros.
Aposto duas coisas agora. No primeiro desafio, sua mente visitou cientistas estrangeiros
mais velhos como Einstein, Hawking, Darwin, Marie Curie, não é isso? Já o segundo eu
arrisco dizer que foi bem mais difícil. Carlos Chagas, talvez?
Pois bem, vamos fazer um resumo agora da relação do brasileiro com a Ciência.
Podemos usar exemplos que já deram certo inclusive. Lembra do Mundo de Beackman,
aquele cientista maluco que ao lado de uma garota e um rato gigante desvendavam
vários experimentos? Ou quem sabe do Chocolate Surpresa, que vinha acompanhado de
cartões repletos de informações incríveis? Ou ainda do Tíbio e Perônio, do Castelo
Ratimbum? Se você lembrou desses programas com um sorriso no rosto, pensa que
iniciativas como essa podem voltar a dar certo.