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Brasília, 26 de março de 2019

Carta de entidades do movimento negro ao Presidente da Câmara dos Deputados,


Rodrigo Maia

Senhor Presidente,

Historicamente, o ​Estado brasileiro tem acirrado, em vez de eliminar, os padrões de


desigualdade e discriminação a que está submetida a população negra brasileira. Recentes
declarações de parlamentares e de membros do poder executivo, bem como a proposição
de determinados projetos de lei, indicam o agravamento deste quadro.

Solicitamos seu compromisso com os direitos do povo negro. É essencial que, em seu
mandato na presidência da Câmara Federal, o senhor se comprometa a não apoiar projetos
que coloquem em risco direitos conquistados pela luta história do movimento negro, e que
trabalhe para o avanço:

1. do direito à educação:
- pela preservação da Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, conhecida como
Lei de Cotas, que garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno
nas universidades federais e institutos federais de educação, ciência e
tecnologia a alunos negros e brancos, oriundos do ensino médio público, em
cursos regulares ou da educação de jovens e adultos, garantindo percentual
mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas em cada
estado. Vale lembrar da legitimidade das cotas, conquista história do
movimento negro, reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal na ADPF 186
em decisão unânime depois de intensas análises e debates de especialistas
em educação e direitos fundamentais. O processo democrático contou com
posicionamentos diversos e resultou na aprovação das cotas raciais e sociais,
que resultaram em um novo marco na educação brasileira, sendo uma
referência mundial para a efetivação do direito humano à educação. Este
processo, portanto, deve ser respeitado;
- garantir extensão das cotas nos programas de pós-graduação e nos
concursos para docentes das Universidades e Institutos Federais;
- exigir do Ministério da Educação (MEC) e das Universidades a efetivação de
políticas de permanência estudantil para alunos cotistas;
- cumprimento integral do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado por
lei em 2014, que estabelece metas e estratégias para uma educação de
qualidade desde o ensino infantil até a pós-graduação;
- fortalecer políticas públicas e garantir a efetivação de mecanismo de
implementação das diretrizes curriculares sobre a história da África e das
culturas afro-brasileira e indígena previstas no artigo 26 da LDB e nas Leis
10.639/2003 e 11.645/2008;
- fortalecer políticas voltadas para a redução da evasão escolar, defasagem
idade-série de estudantes pertencentes aos grupos étnicos e raciais
discriminados.

2. do direito à justiça:
- promover políticas de enfrentamento à violência contra a população negra,
em especial contra os homicídios que ceifam a vida da juventude negra e o
feminicídio de mulheres negras;

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- assegurar ações de enfrentamento às violações do direito de culto e crença,
com vistas a combater a discriminação contra as religiões de matriz africana;
- exigir do poder executivo orçamento adequado para a implementação das
políticas de promoção da igualdade racial contra o racismo, a violência;
- investigação dos assassinatos de quilombolas em luta por direitos.

3. do direito à terra, território e justiça ambiental:


- garantir a preservação, proteção, demarcação, homologação e registro incondicional
das terras quilombolas, indígenas e de outros povos tradicionais. Necessário se faz
também assegurar recursos orçamentários da União para a titulação das terras e
para o desenvolvimento de políticas sociais e econômicas voltados para o
desenvolvimento sustentável dessas comunidades, com participação das(os)
interessadas(os) nos processos de decisão;
- revogação do acordo assinado entre Brasil e EUA quanto à utilização da base de
Alcântara por outro país, para que as comunidades tenham seus direitos, em
especial à regularização fundiária, efetivados;
- interromper o projeto de construção da Usina Nuclear nos territórios Quilombolas de
Itacuruba em Pernambuco;
- promover políticas ambientais que impeçam a remoção e a desocupação para a
extração do patrimônio ambiental e de outras riquezas, o uso de agrotóxicos e outros
venenos na agricultura e nas outras culturas de criação de animais e o despejo de
detritos e lixos em áreas onde a população negra habita;
- fiscalização do poder executivo na garantia de preservação do ambiente e da cultura
das comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas e na promoção de fontes
alternativas de energia limpa, bem como a democratização, descentralização e
gestão pública da energia de maneira a garantir o direito das comunidades
tradicionais e das populações do meio rural ao seu acesso, na ampliação do acesso
universal à água potável, limpeza urbana e ao saneamento básico, promoção de
soberania alimentar e acesso a alimentação saudável, adequada e com qualidade,
livre de agrotóxicos e não transgênicos;
- realização de consulta Prévia, Livre e Informada, conforme dispõe a Convenção 169
da OIT, para a construção de empreendimentos em territórios de comunidades
tradicionais.

4. do direito à seguridade social - saúde, assistência social e previdência:


- assegurar à população negra acesso a serviços essenciais de saúde, assistência e
previdência social;
- recusar o projeto de previdência de Bolsonaro, que retira direitos e piora as
condições de vida da maior parte da população. Por uma Previdência Social que seja
pública, universal e solidária, reconhecendo os direitos de aposentadoria para todas
as pessoas, não só para as que possam pagar pelo lucro de bancos e seguradoras;
- fiscalizar o racismo institucional nas organizações públicas e privadas e em suas
diferentes políticas, planos e programas de ação;
- exigir do executivo a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra no Sistema Único de Saúde;
- exigir a implementação de políticas de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos nas
áreas da educação, da saúde e da segurança, garantindo o respeito à livre
orientação afetivo-sexual, às identidades de gênero, à autonomia do corpo da mulher

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o direito ao aborto, bem como promover ações voltadas para a saúde sexual e saúde
reprodutiva.

5. do direito à segurança pública:


- reconhecer as flagrantes violações de direitos humanos do “Pacote Anti Crime”
apresentado ao Congresso Nacional pelo Ministro da Justiça e Segurança Pública,
Sérgio Moro, do governo Jair Bolsonaro. A proposta ignora fatos, evidências,
pesquisas, elaborações acadêmicas e científicas, além de toda a mobilização da
sociedade em torno do tema, e propõe algo dissonante ao que vem sendo discutido
e defendido como solução para o grave problema de segurança pública vivida no
Brasil;
- arquivamento do PL-00729/2019 apresentado pelo Deputado Daniel Silveira PSL/RJ,
que disciplina a cessão compulsória de órgãos, no caso em que o cadáver apresenta
indícios de morte por resultado de ação criminosa. O PL já foi devolvido por ser
manifestamente inconstitucional, nos termos do regimento, artigo 137, § 1º, inciso II,
alínea "b", do RICD;
- erradicar o racismo institucional das políticas de segurança, coibindo o uso da
violência racial que produz altos índices de homicídios contra a população negra, por
meio de políticas de segurança pública, baseadas em Direitos Humanos;
- promover a participação, o delineamento e o controle social das políticas de
segurança pública, considerando, fundamentalmente, a participação do movimento
negro nos conselhos deliberativos dessas políticas;
- exigir do executivo ações de enfrentamento ao genocídio da juventude negra, com a
participação ativa dos grupos envolvidos.

6. do direito ao trabalho
- pela preservação da Lei 12.990 de 2014 que estabelece reserva de vagas aos
negros em concursos públicos da administração pública federal, autarquias,
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista controladas
pela União;
- os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção n​o 111, de 1958, da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego
e na profissão;
- promoção da tramitação de projetos de lei que assegurem a igualdade de
oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a
implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do
setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e
organizações privadas.

7. da ratificação de tratados internacionais


- promoção da ratificação da Convenção Interamericana Contra o Racismo, a
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância e da Convenção
Interamericana Contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância, já aprovadas no
âmbito da Organização dos Estados Americanos e assinadas pelo Brasil.

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Respeitosamente,

AfirmAÇão Rede de Cursinhos Populares


AGANJU - Afro Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica
Alma Preta - Portal de mídia negra
Ceert - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
Círculo Palmarino
Coletivo Luiza Bairros - UFBA
Conaq - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas
Conen - Coordenação Nacional de Entidades Negras
Criola
Educafro
Geledés - Instituto da Mulher Negra
Instituto Cultural Steve Biko
Irohin - Comunicação e Memória Afro-brasileira
Latinidades - festival da mulher afro latino americana e caribenha
Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
Maré Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro da Faculdade de Direito da
UnB
MNU - Movimento Negro Unificado
Núcleo de Consciência Negra na USP
PDRR - Programa Direito e Relações Raciais - Faculdade de Direito da Universidade
Federal da Bahia
PVNC - Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes
Uneafro Brasil
Unegro - União de Negros pela Igualdade

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