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TENSÃO ADMISSÍVEL E DIMENSIONAMENTO GEOTÉCNICO E ESTRUTURAL
(SAPATAS ISOLADAS)
São aquelas que transmitem a carga da estrutura ao solo pelas tensões distribuídas sob a
base e em que a profundidade de seu assentamento, em relação ao terreno adjacente, é inferior
a duas (ou três) vezes a menor dimensão da fundação.
Bloco: elemento de concreto simples (ou até ciclópico) dimensionada de maneira que as
tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto sem
necessidade de armadura (Figuras 1 e 2). Este elemento de fundação só tem sido
usado para obras de pequeno porte/responsabilidade. Este tema é aqui abordado,
pois seu dimensionamento estrutural também é usado no dimensionamento das
bases de tubulões a céu aberto e a ar comprimido a serem estudados no capítulo de
fundações profundas.
2
Figura 2: Altura mínima dos blocos em função de σt (tração admissível no concreto) e σs
(tensão admissível do solo)
Nota: A dedução matemática para se chegar à Figura 2 encontra se no livro “Concreto Armado”
do prof. Telemaco van Langendonck (1954), item 178, editado pela ABCP. Àquela época
limitava-se a tensão admissível à tração do concreto σt a fck/25 ≤ 7 kgf/cm2 (0,7MPa)
quando os concretos apresentavam resistência característica muito inferior ao que hoje se
pratica. Entretanto em fundações é comum já se utilizar concretos com fck superiores a 20
MPa a 35 MPa (200 kgf/cm2 a 350 kgf/cm2) e, por esta razão, pode-se adotar, para esses
concretos, σt = 1 MPa (10 kgf/cm2).
Sapata: elemento de concreto armado, dimensionado de tal modo que as tensões de tração
sejam resistidas pela armadura (Figuras 3 e 4).
3
Figura 4: Vista geral de uma obra com fundações em sapatas
Sapata corrida (também chamada em alguns livros de “viga de fundação”): sapata
sujeita a uma carga distribuída linearmente ou de pilares ao longo de um
mesmo alinhamento.
4
Figura 5: Sapata corrida
Nota: O caso da sapata corrida mostrada na Figura 5 será analisada em capítulo mais
adiante, quando tratarmos de fundações rasas sobre apoio elástico usando o conceito
de coeficiente de reação vertical (uso de “molas” com base no modelo de Winkler) visto
que não se deve adotar, concomitantemente largura b e tensão σs constantes, pois se
assim se proceder o valor do produto b.σs conduz a reações de apoio Ri provavelmente
diferentes das cargas Pi e, portanto, conclui-se que para b = constante a tensão no
solo não poderá ser uniforme. Para que a hipótese de tensão uniforme no solo conduza
a resultados estaticamente possíveis, a largura b (ou a tensão aplicada ao solo) deverá
ser variável, assunto que voltaremos em outro capítulo deste curso.
Radier: elemento de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares, não
dispostos linearmente, da estrutura (Figura 7).
5
Figura 7: Vista de um radier em fase de início de concretagem
Na Figura 8 mostra-se montagens típicas de provas de carga em placa a partir das quais se
obtém a curva tensão x recalque que permitirá, devidamente interpretada fornecer a tensão
admissível. Geralmente a prova de carga é realizada em placa circular de 80 cm de diâmetro. Por
esta razão há que se tomar cuidado na sua interpretação, levando-se em conta o tamanho da
sapata em relação à placa (efeito de escala nos recalques) e o perfil geotécnico do solo onde a
sapata se apoiará. Neste caso poderemos considerar duas situações:
m a n ô m e tro d e f le c t o m e tr o
bom ba m a caco
v ig a d e
r e f e r ê n c ia
D ≅100 cm
z≅2D
tr a d o h e lic o id a l
σ
0 ,1
=
p
is ó b a r a 1 0 % σ
D ≅ 1 00 cm
4 m
tre c h o
a n c o ra d o
a.1) Primeira situação a analisar para validar ou não a prova de carga em placa
Como o bulbo de tensões de uma fundação rasa é da ordem de grandeza de 2 a 2,5 vezes
a largura da fundação, a prova de carga em placa somente poderá ter representatividade se ao
longo do perfil geotécnico abaixo da mesma e até uma profundidade de 2 a 2,5 vezes a menor
dimensão da sapata, não ocorrer solo de menor resistência do que aquele solicitado pela placa.
Na Figura 9 mostra-se uma condição de solo onde a prova de carga em placa não é representativa
6
pois o bulbo de tensões da placa não intercepta a camada compressível, ao contrário do que
ocorrerá com a sapata porque esta terá maior dimensão do que aplaca.
a.2) Segunda situação a analisar para ajustar os recalques obtidos na placa à fundação
O ensaio de placa requer uma adequada interpretação pois, como já expusemos acima, os
bulbos de tensão da sapata são maiores do que o da placa. Por esta razão a curva tensão x
recalque da placa deverá ser ajustada para as dimensões da sapata. Em primeira aproximação
(Figura 10) esse ajuste na curva tensão x recalque pode-se ser feito pelas expressões abaixo,
respectivamente, para os solos granulares e os argilosos.
2
2 .B f
solos granulares (Terzaghi 1955) r f = rp
B +B
f p
Af Bf
solos argilosos (Timoshenko 1951) r f = rp ≅ rp (sapatas quadradas)
Ap Bp
Exemplo: Calcular os recalques que sofrerá uma sapata quadrada com 2,40 m de lado a partir do
resultado de uma prova de carga realizada em placa circular com 80 cm de diâmetro
cujo resultado é apresentado abaixo:
7
Admitir duas hipóteses:
O solo é constituído por areia
O solo é constituído por argila rija
Solução:
a) solo arenoso
2
2 x 2,40
r f = rP
2,40 + 0,8
tensão (kN/m2) 90 180 270 360 450
recalque placa (mm) 2 4 7 11 20
recalque fundação 4,5 9,0 15,8 24,8 45,0
b) correlações
Teixeira (1996) apresentou as fórmulas mais usadas entre nós, usando o NSPT, mostrando
sua origem e limitações.
8
N SPT N SPT
σs = (kgf/cm2) ou σ s = (MPa) com 5< NSPT < 25
5 50
Para solos arenosos, Teixeira se baseia na fórmula de Terzaghi, também com coeficiente
de segurança 3 e considera fundações quadradas de lado B ≤ 10m assentes em solo com peso
específico γ = 1,8 tf/m3 (18 kN/m3), a uma profundidade H = 1,5 m.
Esta equação, em que B é expresso em metros, foi obtida a partir da correlação empírica
entre o ângulo de atrito interno das areias ϕ e o índice de resistência à penetração NSPT:
Para os solos com NSPT < 5 deve-se tomar cuidado verificando-se se são porosos (portanto
sujeitos a excessivos recalques) e, principalmente se são colapsíveis, Cintra (1998). Nestes casos,
a fundação rasa não é recomendável, conforme se mostra na Figura 11.
É importante lembrar que para ocorrer a colapsividade é necessária uma ação conjunta:
água (de chuva ou de vazamentos chegando no solo colapsível) + carga sobre o mesmo.
Figura 11: Danos causados à estrutura apoiada em fundação rasa sobre solo colapsível
d) métodos teóricos
Os métodos teóricos baseiam-se nos valores da coesão e do ângulo de atrito interno do solo.
1 σ rup
σ rup = c.N c .S c + γ .B.N γ S γ + q.N q S q σs =
2 3
10
Nc* = 5
b
S c = 1 + 0,2 (b = menor dimensão da sapata)
a
D
1 + 0,2 para D/b ≤ 2,5
b
dc =
1,5 para D/b > 2,5
c.N c
Sapatas quadradas e corridas: σs = +q
FS
c.N c* .d c
Sapatas retangulares: σ s = +q
FS
Solução:
a) Método teórico:
φ = 0o Nc = 5,14 (Cuidado! O valor de φ refere-se ao solo onde se apoia a sapata)
Nγ = 0
Nq = 1
Sc = 1 + (1/5,14) = 1,2
Sq = 1 + tg 0o = 1
b) Método de Skempton:
D/b = 1/2 = 0,5 Nc = 7,1
80 x 7,1
250 = + 49 FS = 2,8
FS
11
2o Exemplo: Determinar o lado de uma sapata quadrada usando o método teórico com FS = 3.
Desprezar o peso próprio da sapata.
Solução:
c=0 c.Nc .Sc = 0
Nγ = 35
φ = 33o
Nq = 26
Sγ = 0,6
Sq = 1 + tg 33o = 1,65
σrup = 3 x σs 3σs =0 + 0,3x17,5xbx35 + 1,65x17,5x26 σs = 61,25.b + 250
P 4 x550 700
Por outro lado, σ s = = σs ≅
A π .b 2 b2
700
Portanto: 2
= 61,25.b + 250 ou 61,25.b3 +250.b2 = 700
b
A solução desta equação é feita por tentativas chegando-se ao valor b = 145 cm.
b (m) 61,25*b^3 250*b^2 SOMA
1 61 250 311
1,3 135 423 557
1,4 168 490 658
1,5 207 563 769
12
Solução:
15
σz = = 0,3 MPa = 300 kN/m2
50
A área da sapata será A = 1920/300 = 6,4 m2, ou seja, b ≈ 2,50 m e, portanto, 2xb = 5 m.
Como pode ser visto na sondagem, até a profundidade (5 + 2) = 7 m vale a média NSPT = 15,
portanto o valor σs = 300 kN/m2 é a resposta.
3) Referências Bibliográficas
13
van Langendonck “ Cálculo de Concreto Armado” – 1º volume – editado pela Associação Brasileira
de Cimento Portland – 2ª Edição – 1954.
1) Considerações iniciais
Neste item iremos apresentar o método das bielas que se aplicam à sapatas “rígidas”. Não
será abordado o método de dimensionamento de sapatas “flexíveis” pois, na grande maioria do
dimensionamento deste tipo de fundação, elas são dimensionadas como rígidas. Aqueles que
tiverem interesse em dimensionamento das sapatas flexíveis recomenda-se, entre outras
referências bibliográficas, o critério da ACI-318/63 exposto no item 9.1.2 do livro deste autor.
14
2) Sapatas isoladas
É importante ressaltar que a forma das sapatas só ocorre ao longo do perímetro da mesma
(“rodapé”), conforme se mostra nas Figuras 13 e 14. Além disso, o cobrimento da armadura deverá
ser 4 cm, por ser uma estrutura em contato com o solo (Tab. 7.2 da NBR 6118).
Conforme se pode ver pelas fotos acima a fôrma das sapatas pode ser reaproveitada várias
vezes pois são “chapas planas” e verticais o que permite recuperá-las sem perdas de
madeira.
Por esta razão a economia da sapata não está nem na fôrma nem no concreto. Ela está no
consumo de aço. Portanto, quanto menor for esse consumo mais econômica será a sapata.
Isto é conseguido fazendo-se com que a armadura As,a seja igual à armadura As,b. Para se
obter esse objetivo basta fazer com que Ta = Tb, ou seja, a - ao = b - bo, conforme se mostra pelas
expressões acima. Por esta razão sempre que for possível a sapata isolada deverá atender a essa
relação (1º exemplo). Disso resulta que para o caso de um pilar de seção quadrada, a sapata mais
econômica também será quadrada.
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Para levar em conta o peso próprio da sapata pode-se adotar 5% da carga vertical
permanente. Além disso, o cetro de gravidade da sapata deve coincidir com o centro de carga do
pilar (2º exemplo).
1º Exemplo: Dimensionar a sapata para um pilar com carga de 2.900 kN cujas dimensões em
planta são 30 x 100 cm e a tensão admissível do solo seja 0,3 MPa.
Solução:
Carga total na sapata Pk = 1,05 x 2.900 = 3.045 kN sejam 3.000 kN
Área necessária: a x b = 3.000/300 =10 m2 ou 100.000 cm2
Sapata mais econômica: a – b = ao – bo = 100 -30 = 70 cm
− 70 + 4.900 + 400.000
(70 + b).b = 100.000 b2 + 70b – 100.000 = 0 b= ≈ 285 cm
2
a = 285 + 70 = 355 cm
Adotando fck = 15 MPa e aço CA 50A a altura da sapata e a armadura da mesma serão:
285 − 30
≈ 65 cm
4
355 − 100
d≥ ≈ 65 cm adotado d = 100 cm
4
1,96 x3.000
1,44 = 0,98 m ≈ 100 cm h = 105 cm
0,85 x15.000
h1 = 105/2 ≈ 50 cm
3.000.(355 − 100) 1,61x956
Ta = = 956 kN As ,a = = 31 cm2 25 Φ 12,5
8 x100 50
3.000.(285 − 30)
Tb = = 956 kN As,b = As,a = 25 Φ 12,5
8 x100
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2º Exemplo: Projetar uma sapata para o pilar indicado abaixo, com carga de 2.900 kN e tensão
admissível do solo 0,3 MPa. Apresentar apenas as dimensões em planta não
havendo necessidade de se dimensionar a sapata estruturalmente, já que o
procedimento para este dimensionamento já foi mostrado no exemplo anterior.
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Solução:
Trata-se de um pilar cuja seção transversal não é retangular ou quadrada. Para tanto
inicialmente deve-se calcular o centro de carga do mesmo. Como se está admitindo que
tenha carga uniformemente distribuída o centro de carga (C.C.) coincide com o centro de
gravidade (C.G.)
A seguir, conhecida a locação do centro de carga substitui-se o pilar por outro fictício de
forma retangular circunscrito ao mesmo e com o mesmo centro de gravidade.
Por conseguinte, o retângulo circunscrito ao pilar real e que possui o mesmo C.C., que
neste caso coincide com o C.G. terá lados:
3º Exercício: Este exercício mostra que nem sempre é possível executar as sapatas com a – ao
= b - bo em função da existência de divisa, uma outra sapata próxima, etc. Neste
caso a armadura As,a será diferente de As,b. Uma situação em que isso pode ocorrer
é mostrado abaixo. Admitir que a carga indicada nos pilares já inclua o peso próprio
das sapatas e que a tensão admissível do solo seja 0,3 MPa.
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Solução:
Verifica-se que ao se tentar projetar uma sapata quadrada para o pilar P1 e uma sapata
retangular com a - ao = b – bo para o pilar P2, haveria necessidade de se ultrapassar a
linha limite da divisa.
Por esta razão um dos lados das sapatas já é pré-fixado, ou seja, seu valor é igual a
duas vezes a distância do centro do pilara à divisa diminuído de 2,5 cm, necessários
para colocar a forma. Assim:
1.200 40.000
Pilar P1: A = = 4 m2 b =2(85-2,5) = 165 cm a= ≈ 245 cm.
300 165
2.000 66.700
Pilar P2: A = = 6,67 m2 a =2(135-2,5) = 265 cm b= ≈ 255 cm.
300 265
20