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Universidade Tecnológica Federal do Paraná ‐ UTFPR  

Programa de Pós‐Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia ‐ PPGECT 

A relação entre trilhas interpretativas,


Interpretação Ambiental e Educação Ambiental, e
a importância das espécies arbóreas para essas
atividades

Diego Marques da Silva

Álvaro Lorencini Júnior 

 
Resumo 
Muita  confusão  é  feita  com  os  termos  Educação  Ambiental  e 
Interpretação  Ambiental,  isto  porque  há  fortes  relações  entre  eles.  As  trilhas 
interpretativas  também  são  objetos  de  confusão,  principalmente  aquelas 
realizadas  em  florestas.  Estas  trilhas  são  uma  possibilidade  de  se  fazer  a 
Interpretação  Ambiental  (que  deve  ser  parte  integrante  da  Educação  Ambiental) 
principalmente pela presença de potenciais elementos interpretativos, as espécies 
arbóreas.  Este  trabalho  é  um  breve  ensaio  que  objetiva  estabelecer  a  relação 
entre as trilhas interpretativas, a Interpretação Ambiental e a Educação Ambiental 
e,  em  seguida,  mostrar  a  importância  que  as  espécies  arbóreas  têm  para  essas 
atividades.  

Palavras‐chave:  Educação  Ambiental,  Interpretação  Ambiental,  trilhas 


interpretativas, espécies arbóreas. 

Abstract 

The relation  between interpretative  trails, Environmental Interpretation 


and  Environmental  Education,  and  the  importance  of  tree  species  for  these 

II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia  
07 a 09 de outubro de 2010                                                                                              ISSN: 2178‐6135 
Artigo número: 160    
Universidade Tecnológica Federal do Paraná ‐ UTFPR  

Programa de Pós‐Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia ‐ PPGECT 

activities 
Much  confusion  is  made  with  the  terms  Environmental  Education  and 
Environmental  Interpretation,  because  there  are  strong  relations  between  them. 
The interpretative trails also are objects of confusion, especially those carried out 
in forests. These trails are a possibility of to do the Environmental Interpretation 
(which  must  be  an  integral  part  of  Environmental  Education)  mainly  by  the 
presence  of  potential  interpretative  elements,  the  tree  species.  This  work  is  a 
short  essay  that  aims  to  establish  the  relation  between  interpretative  trails, 
Environmental  Interpretation  and  Environmental  Education,  and  then,  show  the 
importance that the tree species have for these activities. 

Keywords:  Environmental  Education,  Environmental  Interpretation, 


interpretative trails, tree species. 

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Introdução
A  Interpretação  Ambiental  teve  seu  início  nos  primeiros  parques  ecológicos  americanos 
ainda em meados dos anos de 1960. Nestes, os apaixonados pela natureza local que passeavam 
pelos  parques,  passaram  a  fazer  o  acompanhamento  dos  turistas  e  explicar  a  eles  tudo  o  que 
sabiam sobre o ambiente que presenciavam, ou seja, eles interpretavam o ambiente a partir dos 
seus  conhecimentos  e  paixões  particulares  (VASCONCELLOS,  2006).  Com  o  passar  do  tempo  a 
Interpretação  Ambiental  foi  vista  como  um  fator  importante  para  os  parques,  pois  integrava 
positivamente os visitantes a eles, o que favorecia no plano de manejo, uma vez que os visitantes 
passavam  a  impactar  menos  o  ambiente,  e  conscientizava  a  população  para  a  importância  da 
preservação  das  áreas  naturais.  Ainda  hoje  a  Interpretação  Ambiental  é  um  dos  aspectos  mais 
importantes  a  ser  considerado  em  um  plano  de  manejo  do  que  chamamos  atualmente  de 
Unidades de Conservação (UCs). 

De  acordo  com  Vasconcellos  (2006,  p.  23),  a  Interpretação  Ambiental  não  pode  ser 
confundida  com  a  Educação  Ambiental,  deve  ser  compreendida  apenas  como  “um  instrumento 
de  comunicação  que  favorece  as  conexões  intelectuais  e  emocionais  entre  os  interesses  da 
audiência e os significados inerentes aos recursos”. Entretanto, Tilden (1977) (apud Vasconcellos, 
2006,  p.  23),  conceitua  a  Interpretação  Ambiental  como  sendo  “uma  atividade  educativa  que 
aspira  revelar  os  significados  e  as  relações  existentes  no  ambiente”,  o  que  torna,  de  fato,  a 
Interpretação  Ambiental  uma  ferramenta  importante  para  a  Educação  Ambiental,  pois  aguça  a 
sensibilidade  e  possivelmente  cria  a  compreensão  ambiental  dos  que  dela  participam;  dois 
objetivos essenciais da Educação Ambiental de acordo com Sato (2003).  

Muitos  outros  autores  também  chamam  a  atenção  para  a  Interpretação  Ambiental  como 
sendo parte importante de um programa mais amplo de Educação Ambiental, ou simplesmente 
admitem,  de  forma  implícita  ou  explícita,  a  forte  relação  existente  entre  ambas.  Bedim  (2004) 
considera  a  Interpretação  Ambiental  em  ambientes  naturais  como  um  instrumento  importante 
para  a  sensibilização  de  seus  participantes  por  meio  de  experiências  de  contato  direto  com  a 
natureza,  o  que  pode  gerar  uma  transformação  ética  em  prol  das  questões  ambientais.  Pedrini 
(2007) admite que a Interpretação Ambiental deve  estar contida na Educação Ambiental, tendo 
como principal meta que o sujeito compreenda o meio natural e cultural que o cerca. Este mesmo 
autor  constata  também,  em  pesquisa  realizada,  que  a  maioria  das  pessoas  pertencentes  aos 
grupos  de  e‐mails  relacionados  com  o  tema  considera  existir  forte  relação  entre  atividade  de 
Educação Ambiental e Interpretação Ambiental, principalmente em atividades ecoturísticas. Além 
disso, pudemos notar nas experiências que tivemos em Interpretação Ambiental o equívoco que 
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pessoas leigas no assunto fazem com o tema, pois na maioria das vezes elas tratam de atividades 
simples  de  interpretação,  principalmente  em  trilhas  interpretativas,  como  sendo  a  própria 
Educação  Ambiental  realizada,  o  que  reforça  ainda  mais  a  estreita  relação  que  existe  entre  as 
duas  atividades,  relação  esta  admitida  por  especialistas  e  percebida  pelo  senso  comum  das 
pessoas em geral. 

Curado  e  Angelini  (2006)  demonstraram,  através  de  dados  estatísticos,  que  atividades 
pontuais  em  trilhas  interpretativas  não  surtem  os  efeitos  desejados  de  uma  atividade  de 
Educação Ambiental de qualidade, que segundo Pedrini (2007) deve ser entendida como sendo a 
Educação  Ambiental  para  Sociedades  Sustentáveis  (EASS),  pois,  além  de  ser  integralmente 
adotada pelo ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental) e pela PNEA (Política Nacional 
de Educação Ambiental), é o conceito mais aceito no mundo, e a continuidade de suas atividades 
é  um  de  seus  pressupostos  básicos,  contrariando  a  pontualidade  característica  de  uma  trilha. 
Costuma‐se  dizer  no  senso  comum  que  a  caminhada  guiada  por  monitores  em  trilhas 
interpretativas é Educação Ambiental, o que, na verdade, é Interpretação Ambiental, que é uma 
atividade realizada em ambientes planejados para a aprendizagem, os denominados espaços não‐
formais de Educação. De acordo com BELL et al. (Edts, 2009) a atividade nesses locais é pontual e 
procura atingir objetivos relacionados com o sensibilizar sensorial e emocional de seus visitantes. 
Quaisquer  outros  objetivos,  como  responsabilidade  ambiental  e  a  verdadeira  compreensão  das 
relações existentes em um ecossistema, não são garantidos no curto tempo de visita. 

As trilhas interpretativas e suas características


Trilhas  são  caminhos  “através  de  um  espaço  geográfico,  histórico  ou  cultural” 
(VASCONCELLOS, 2006, p. 46), traçados pelo homem para a sua mobilidade física ou intelectual. 
Elas podem estar geograficamente localizadas tanto em meios naturais quanto em meios urbanos 
e artificiais. Já foram utilizadas pelo homem com os mais diversos fins, como a caça, o comércio e 
as guerras, e atualmente possuem um novo valor e significados que vêm sendo atribuídos a elas, 
ou  seja,  um  valor  educativo  com  significados  interpretativos.  Esses  caminhos  estão  sendo 
chamados,  de  forma  consensual  por  muitos  pesquisadores  e  especialistas,  de  trilhas 
interpretativas. 

As  trilhas  interpretativas  não  são  apenas  espaços  geográficos  traçados  para  a  mobilidade 
física  e  para  a  contemplação  em  espaços  naturais,  como  muitos  pensam  ao  confundirem  com 
trilhas de aventura e trilhas ecológicas. Elas devem ser caminhos geográficos ricos em significados 

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históricos,  culturais  e  ecológicos,  significados  esses  que  precisam  ser  revelados  através  de 
determinadas  estratégias  interpretativas.  Segundo  Carvalho  et  al.  (2002,  p.  77),  elas  devem 
“proporcionar  ao  visitante  uma  visão  diferente  daquela  que  os  olhos  normalmente  “distraídos” 
não  conseguem  enxergar”.  À  medida  que  os  aspectos  externos  e  internos  da  paisagem  são 
descobertos  pelo  visitante,  a  trilha  interpretativa  se  torna  um  ambiente  que  favorece  as 
sensações,  as  emoções  e  as  percepções,  criando  novas  oportunidades  do  reencontro  com  a 
relação  homem‐natureza  mais  responsável  e  sustentável  (VASCONCELLOS,  2006).  Portanto,  a 
trilha interpretativa é uma oportunidade para a Educação Ambiental.  

As  trilhas  interpretativas  podem  ser  realizadas  com  a  presença  de  guias  (trilha  guiada), 
intérpretes  especializados  no  atendimento  dos  visitantes,  ou  então  com  outros  recursos 
interpretativos  (trilha  auto‐guiada),  como  placas,  painéis  e  folhetos.  Mas,  independente  dessas 
modalidades,  todas  as  trilhas  interpretativas  devem  apresentar  características  importantes  para 
uma  atividade  de  Interpretação  Ambiental  de  qualidade.  Vasconcellos  (2006)  afirma  que  uma 
atividade deste tipo deve ser amena, pertinente, organizada e temática, e Carvalho et al. (2002) 
concordam ao dizer que as trilhas interpretativas devem: ser organizadas em torno de um tema; 
ser prazerosas; e apresentar informações relevantes e significativas. 

Trilhas interpretativas em florestas e a importância das


espécies arbóreas
As  florestas  são  ecossistemas  dotados  de  grande  biodiversidade  e  abundância  de  seres 
vivos e outros eventos estritamente naturais. As trilhas interpretativas em florestas têm grandes 
potenciais  para  a  Educação  Ambiental.  À  luz  dos  cinco  objetivos  considerados  por  Sato  (2002) 
podemos  dizer  que  a  Interpretação  Ambiental  em  florestas  é  capaz  de  satisfazer  ao  menos  três 
deles:  

 A sensibilização ambiental, pois com uma boa abordagem do guia o visitante pode 
passar  a  perceber  as  interações  ecológicas  existentes  na  floresta  com  mais 
facilidade, internalizar a importância da conservação desta e se emocionar com a 
forma como o ser humano interage com ela (de forma quase sempre destrutiva). 

 A compreensão ambiental, à medida que o participante entende a dinâmica dos 
sistemas  naturais  na  floresta  e  de  que  forma  o  ser  humano  participa  dessa 
dinâmica. 

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 A responsabilidade ambiental, pois, ao criar laços afetivos com a floresta por meio 
da  sensibilização,  e  ao  compreender  melhor  o  efeito  de  suas  ações  nesse 
ambiente, é facilitada a tomada das responsabilidades. 

Os outros dois objetivos, a competência e a cidadania ambientais, também são facilitados, 
mas dificilmente serão alcançados em uma atividade pontual como a trilha interpretativa. 

As  florestas  escondem  muitas  situações  invisíveis  aos  olhos  leigos,  como,  por  exemplo,  a 
interação  entre  fungos  e  bactérias  do  solo  com  as  raízes  das  plantas,  o  que  permite  a  elas 
aproveitarem  melhor  os  nutrientes  e  sobreviverem  às  hostilidades  do  ambiente,  ou  até  mesmo 
interações  visíveis  a  olho  nu,  mas  muitas  vezes  imperceptíveis,  como  a  grande  quantidade  de 
artrópodes  que  vivem  nos  solos  unicamente  pelas  condições  microambientais  da  cobertura  de 
folhas que caem das plantas. Essas situações são o que dão ao visitante na floresta uma sensação 
de mistério, de algo a ser descoberto, uma característica que segundo Carvalho et al. (2002) é de 
extrema  importância  para  o  potencial  interpretativo.  Como  dizem  Carvalho  et  al.  (2002)  e 
Vasconcellos (2006) a Interpretação Ambiental deve ser provocante, ou seja, instigar o visitante a 
querer  descobrir  coisas  sobre  o  lugar  e  seus  elementos,  e  nada  mais  provocativo  para  o  ser 
humano que o mistério. 

É  provável  que  as  árvores  sejam  os  elementos  mais  importantes  de  uma  floresta  para  as 
atividades  de  Interpretação  Ambiental  em  trilhas.  São  elas  que  estruturam  a  floresta  e  é  a 
presença delas que nos fazem assim denominar esse tipo de ecossistema (floresta). Além disso, 
elas são a biomassa visível mais abundante, com seus troncos muitas vezes bastante espessos e 
compridos. Não se pode negar que a primeira coisa que se vê ao olhar para uma floresta são as 
árvores. Elas também são sésseis, ao contrário dos animais que são moveis e ariscos, são menos 
instáveis,  ao  contrário,  por  exemplo,  de  espécies  arbustivas  que  têm  um  tempo  relativamente 
curto  de  vida  e  são  frágeis  às  hostilidades  físicas.  Elas  são  tão  importantes  para  os  sistemas 
humanos que suas presenças se fazem sentir a dezenas de quilômetros das florestas: nos móveis, 
nos alimentos, nos produtos de limpeza, nos remédios, etc.. Todas essas características, e muitas 
outras, dão às espécies arbóreas um grande potencial interpretativo e educativo. 

Muitos compartilham dessa mesma idéia sobre as árvores, tanto que em uma quantidade 
relativamente grande de UCs é feita, prioritariamente, a identificação e a sinalização delas para os 
visitantes.  Alguns  autores  (CARVALHO  e  BOÇON,  2004;  DIAS  e  QUEIROZ,  1997,  apud 
VASCONCELLOS, 2006; FUKAHORI e SILVA FILHO, 2002, apud VASCONCELLOS, 2006) utilizaram a 
caracterização  florística  para  a  determinação  do  traçado  original  de  trilhas  interpretativas.  De 
forma geral, esses autores também determinaram que algumas características das espécies, como 
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o  grau  de  beleza  e  destaque  no  ambiente,  a  endemia,  o  grau  de  conservação  e  a  utilização 
antrópica, seriam indicadores importantes para o planejamento das trilhas. 

Dividimos neste trabalho estas características em duas categorias: de “primeira instância” e 
de “segunda instância”. O grau de beleza, o destaque no ambiente e a endemia são características 
importantes  para  o  potencial  interpretativo  à  “primeira  instância”.  Essas  são  características 
próprias do lugar, que são dele antes mesmo de se pensar em realizar a atividade interpretativa, e 
que  ganham  grande  significado  por  atrair  a  atenção  do  visitante.  Carvalho  et  al.  (2002,  p.  85) 
dizem que “um local com potencial interpretativo, para a instalação de uma trilha, é aquele que 
apresenta  grande  diversidade  de  elementos  [...,  que  possui]  plantas  com  diferentes  cores  de 
folhas,  flores  e  frutos,  além  de  formas  e  texturas  diferentes”.  Por  vezes,  uma  espécie  que  nada 
possui  de  bela  para  as  pessoas  pode  ganhar  outro  significado,  como  de  mistério,  por  exemplo, 
apenas por se mostrar diferente, contrastante, em relação às outras a sua volta.  

A  utilização  antrópica  e  o  grau  de  conservação  são  características  de  potencial 


interpretativo  de  “segunda  instância”,  pois  são  características  que  precisam  ser  pesquisada  na 
literatura e, algumas vezes, só serão levadas em consideração depois da determinação do local da 
trilha  interpretativa  pelas  características  de  “primeira  instância”,  no  momento  da  seleção  dos 
pontos  interpretativos.  Dessa  forma,  se  realiza  a  identificação  e  a  caracterização  das  espécies  a 
fim de se descobrir de que forma ela é utilizada pelo homem e se é uma espécie em condições 
seguras  ou  em  risco  de  extinção.  Essas  informações  são  valiosas  quando  se  pretende  tornar  a 
atividade  significativa  e  pertinente  aos  visitantes  e  sensibilizá‐los  para  uma  nova  tomada  de 
responsabilidade em relação ao uso inadequado dos recursos naturais.  

No  presente  trabalho  categorizamos  as  características  importantes  das  espécies  arbóreas 
para  a  Interpretação  Ambiental  em  “primeira  instância”  e  “segunda  instância”,  entretanto  a 
utilização  delas  pode  ocorrer  no  mesmo  momento  da  pesquisa.  Resumidamente,  Carvalho  e 
Boçon  (2004),  por  exemplo,  na  pretensão  de  determinar  o  traçado  de  uma  trilha  interpretativa 
utilizaram três diferentes indicadores para a caracterização das árvores: beleza cênica, utilização 
antrópica e status de conservação. Para cada um desses indicadores foram atribuídos pontos e de 
acordo  com  as  características  que  cada  uma  das  espécies  apresentava  os  pontos  também  eram 
atribuídos  a  elas.  O  traçado  final  da  trilha  foi  determinado  pelos  pontos  que  apresentavam  as 
espécies  com  as  pontuações  mais  altas.  Dessa  forma,  a  temporalidade  do  uso  destas 
características depende muito do contexto do trabalho a ser realizado.

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As espécies arbóreas na abordagem interpretativa


Como  já  foi  mencionado  anteriormente,  nas  trilhas  interpretativas  a  Interpretação 
Ambiental  se  torna  um  instrumento  da  Educação  Ambiental  ao  visar  objetivos  que  envolvem  a 
sensibilização,  a  compreensão  e  a  responsabilidade  dos  visitantes  para  com  as  questões 
ambientais.  Dentre  eles,  a  compreensão,  em  especial,  favorece  ao  aprendizado  das  diversas 
disciplinas. Muitas vezes as trilhas são usadas pelos professores com este fim, a serviço do ensino 
formal.  A  biologia  e  a  geografia  são  as  disciplinas  que  geralmente  mais  se  empenham  em 
atividades deste tipo, mas os conteúdos das outras também podem ser abordados e, por vezes, 
satisfazerem o ensino tanto quanto às duas primeiras. 

As  espécies  arbóreas  na  geografia,  por  exemplo,  pode  servir  como  um  link  para  falar  de 
clima, topografia e posições geográficas, afinal as espécies habitam cada região justamente pelas 
adaptações  que  têm  para  a  posição  da  Terra  em  relação  ao  Sol,  a  intensidade  das  estações  do 
ano, a altitude em que a floresta se encontra, entre outros fatores. A física é uma disciplina que 
normalmente  tem  suas  atividades  práticas  contidas  em  laboratórios  ou  museus  de  ciência  e 
tecnologia,  entretanto  com  as  espécies  arbóreas  de  uma  trilha  pode‐se  trabalhar  com  a 
temperatura condicionada por elas e de fácil medição com a utilização de termômetros, ou com 
conceitos  de  capilaridade  e  pressão,  que  são  essenciais  para  se  entender  a  forma  pela  qual  as 
raízes  absorvem  a  água  do  solo,  o  tronco  carrega  essa  mesma  água  até  as  folhas  e  as  folhas  a 
devolvem  para  o  ambiente  em  forma  de  vapor.  Portanto  existe  inúmeras  possibilidades 
pedagógicas  que  dependem  principalmente  dos  conhecimentos  e  habilidades  educativas  do 
professor ou do intérprete. 

Como  prática  voltada  à  biologia,  podemos  exemplificar  com  uma  aula  planejada  e 
ministrada  na  Universidade  Estadual  de  Londrina  em  2008,  durante  o  estágio  obrigatório  em 
Prática  de  Ensino  na  quarta  série  de  licenciatura.  Para  a  aula  foi  planejada  uma  trilha 
interpretativa  no  campus  da  Universidade.  O  tema  da  trilha  foi  “as  marcas  da  evolução  vegetal 
podem ser encontradas no nosso dia‐a‐dia”. A trilha contou com cinco pontos interpretativos e no 
primeiro  deles  o  intérprete  (que  era  o  primeiro  autor  deste  trabalho  ou  algum  outro  colega  de 
turma) expunha rapidamente sobre as regras da caminhada e se empenhava em criar um discurso 
provocante sobre os mistérios da evolução. Este ponto se encontrava no local que determinamos 
ser  o  início  da  trilha.  Os  demais  pontos  foram  escolhidos  de  acordo  com  as  espécies  arbóreas 
identificadas,  caracterizadas  e  consideradas  importantes  para  a  seqüencialidade  do  discurso 
sobre o tema. A saber: 

II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia  
07 a 09 de outubro de 2010                                                                                              ISSN: 2178‐6135 
Artigo número: 160    
Universidade Tecnológica Federal do Paraná ‐ UTFPR  

Programa de Pós‐Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia ‐ PPGECT 

 Ponto  2:  eram  apresentados  aos  participantes  dois  seres  vivos  com  as 
características  evolutivas  relativamente  mais  primitivas,  as  algas,  disposta  no 
líquen do tronco de uma árvore, e as briófitas , presentes em abundância em um 
tronco  em  decomposição.  Questões  sobre  esses  grupos  eram  formuladas  aos 
visitantes, como, por exemplo, por que a alga só sobrevivia ali enquanto estivesse 
associada com o fungo, e por que a briófita estava no tronco em decomposição? 
Quais  eram  as  diferenças  entre  as  briófitas  com  as  outras  que  conseguíamos 
observar naquele ambiente? A incitação dos intérpretes permitia o envolvimento 
do grupo com o tema e permitia que o caminho se abrisse às explicações. 

 Ponto 3: de frente à samambaia, outras questões surgiram. Era possível explicar 
quais  eram  as  principais  vantagens  evolutivas  das  pteridófitas  em  relação  às 
briófitas,  e  sobre  aquela  interação  ecológica  tão  importante  que  vinha  se 
repetindo aos olhos dos envolvidos, o epifitismo, e por vezes o parasitismo com a 
conhecida Erva‐de‐passarinho, bastante presente naquele ambiente. 

 Ponto 4: era a vez das gimnospermas, que eram representadas pelas araucárias, 
dotadas de muita beleza cênica e imponente altura. Agora era possível se ver uma 
característica marcante e que não se notara nas espécies anteriores, o espesso e 
austero  tronco  com  crescimento  secundário.  E  assim  mais  questões  surgiam, 
principalmente a respeito àquelas estruturas novas: para que serve o tronco? E as 
pinhas? Etc. 

 Ponto  5:  nada  mais  cabível  que  terminar  todo  o  discurso  com  as  espécies  mais 
recentes  evolutivamente,  as  angiospermas,  e  que  talvez  sejam  as  que  mais 
despertam a curiosidade. O que são as flores? O que são os frutos? Porque elas 
são as mais abundantes dentre as quatro classificações de plantas que podemos 
observar?  E,  principalmente,  qual  a  importância  de  toda  essa  história  para  os 
seres humanos e para a natureza como um todo? 

Considerações finais
As  trilhas  interpretativas  se  diferem  das  demais  trilhas  por  serem  caminhos  cheios  de 
significados  geográficos,  históricos,  culturais  e  ecológicos  que  só  fazem  sentido  por  meio  da 
atividade de  interpretação. Essa atividade, quando realizada de forma planejada, é denominada 
Interpretação  Ambiental,  e  pode  ser  um  importante  instrumento  de  programas  maiores  de 
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Educação Ambiental por satisfazer alguns de seus objetivos e abrir caminhos para a realização de 
outros. As trilhas interpretativas ganham destaque particular quando são realizadas em florestas, 
principalmente pela presença das espécies arbóreas, que têm características de grande potencial 
educativo. 

Diversos  pesquisadores  da  área,  dentre  eles  Magro  e  Freixêdas  (1998),  Carvalho  et  al. 
(2002) e Vasconcellos (2006), apontam para a importância de se ter o conhecimento prévio dos 
aspectos  do  ambiente  em  que  se  irá  fazer  o  planejamento  de  uma  trilha  interpretativa.  Este 
trabalho  assume  a  posição  que,  quando  no  planejamento  de  uma  trilha  florestal,  as  espécies 
arbóreas devem ser consideradas como um dos elementos de maior importância do ambiente a 
ser  conhecido  previamente,  e  que  uma  grande  parcela  dos  recursos  e  do  tempo  do  planejador 
deve  ser  gasta  com  elas,  pois,  talvez  mais  que  quaisquer  outros  elementos,  darão  suporte  à 
prática interpretativa realizada por um longo período de tempo. 

Referências
VASCONCELLOS, J. M. de O. Educação e Interpretação Ambiental em Unidades de Conservação. 
Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. Cadernos de Conservação, ano 03, n. 4, 
dezembro, 2006. 
SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: RiMa, 2002. 65p. 
BEDIM, B. P. Trilhas Interpretativas como instrumento pedagógico para a educação biológica e 
ambiental: reflexões, 2004. Disponível em 
<http://www.ldes.unige.ch/bioEd/2004/pdf/bedim.pdf>. Acesso em 20 abr. 2010. 
PEDRINI, A. G. Ecoturismo, interpretação e educação ambientais: consensuando conceitos. In: 
EcoUC, 2., 2007, Itatiaia. Anais... S.l.: s.n., 2007. Disponível em 
<http://www.physis.org.br/ecouc/Artigos/Artigo66.pdf>. Acesso em 20 abr. 2010. 
CURADO, P. M.; ANGELINI, R. Avaliação de atividade de Educação Ambiental em trilha 
interpretativa, dois a três anos após sua realização. Acta Sci. Sci. Biol. Sci., Maringá, v.28, n.04, 
pp.395‐401, out./dez. 2006. Disponível em 
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciBiolSci/article/view/174/240>. Acesso em 18 
maio 2010. 
PEDRINI, A. de G. Um caminho das pedras em educação ambiental.  In: PEDRINI, A de G. (Org).  
Metodologias em Educação Ambiental.  Petrópolis: Vozes, 2007, v. 1, pp.23‐51. 

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BELL, P. et al. Science Learning in Designed Settings. In: ______. Learning Science in Informal 
Environments: People, Places, and Pursuits. Washington: The National Academies Press, 2009. p. 
127‐172. Disponível em <http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=12190>. Acesso em 29 
mar. 2010. 
 
 
 
 
 
Diego Marques da Silva. Mestrando  do Programa de Pós‐Graduação em Ensino de Ciências e 
Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina (UEL/PR). Bolsista CNPq. 
m4ka@hotmail.com 

Álvaro Lorencini Júnior. Professor Associado do Departamento de Biologia Geral da Universidade 
Estadual de Londrina (UEL/PR). Orientador do Programa de Pós‐Graduação em Ensino de Ciências 
e Educação Matemática. alvarojr@uel.br 

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