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0.1 A partir da lei 10.216/01 e das discussões apresentadas pelo parecer do MPF, há
violações de direitos nos casos relatados no curta-metragem ‘’ A casa dos mortos’’?
Se sim, quais?
Quanto ao art. 4º que vai dispor que a internação só poderá ser indicada como
ultima ratio, há um exemplo no curta que choca demais em relação a isso, que é o caso
de Almerindo, um senhor que foi internado no manicômio por meio de uma decisão
judicial que o sentenciou a detenção pelo crime que ele cometeu, ou seja, além de
desprezar o pressuposto no artigo 4º da lei 10.216/01, se desprezou o que está decidido
na doutrina jurídica penal de que em caso de detenção, as penas devem sempre começar
no regime semiaberto, ou seja, Almerindo nunca deveria ter estado de maneira definitiva
dentro do manicômio, porém, o mesmo estava, tomando como referência a data de entrada
no manicômio e a publicação do documentário, há mais de 28 anos.
Sim, os internos a todo momento estão tentando afirmar suas vidas, mesmo diante
dos estigmas, opressões e dominações que estão sobre eles, isso é visível, por exemplo,
no próprio rapaz que escreveu o poema “Casa dos Mortos”, o Bubu, que já passou pelo
manicômio 12 vezes, nesse caso, a contradição mora no fato de que os profissionais que
deveriam promover saúde não cumprem seu papel, mas a arte encontrada por Bubu, um
“louco” mostra a possibilidade quase catártica de vida num lugar de morte.
Com tudo isso, podemos entender que mesmo o espaço do manicômio sendo um
lugar de diferentes mortes como o curta aponta, os que estão lá dentro na condição de
objeto deste, ainda conseguem produzir vida, arte, musicalidade e vontade. Os
profissionais de saúde medicalizam com o intuito de docilizar os corpos, mas ainda assim
eles tem algum fôlego, mesmo que, tristemente, para ser expurgado logo em seguida.
0.3 O meio imposto para tratamento cumpriu sua função de tratar um indivíduo em
sofrimento mental? Cumpriu a sua função real de defesa social? Disserte.
Quanto a função de defesa social, a sociedade tende a considerar tudo que difere
do que é o padronizado, de anormal e perigoso, sendo assim a pauta que nos é incutida é
de como os portadores de transtorno mental vivem em um lugar ontológico da
criminalidade, quando na verdade, as questões relacionadas aos transtornos mentais são
múltiplas, com isso quero dizer que há a possibilidade de se conviver com um transtorno
mental, sem necessariamente causar violência contra outrem, dessa forma, o crime não
pode ser apresentar como uma inscrição na natureza dessas pessoas, porém, apenas
justificar com essas condições não é suficiente, pois as possibilidades de cometer crimes
não atendem aos critérios arbitrários que definimos para produzir criminalizações, sendo
essas muito mais frutos de estruturas valorativas (o capital, a moral, a religião, o direito...)
do que necessariamente de uma ontologia (a natureza do ser) do crime.
Sendo assim, não só não cumpre a função de defesa social, mas também usa esses
sujeitos como substância da linguagem e do discurso para dar respostas as urgências
punitivas que a sociedade conclama e que o sistema de justiça, através das suas múltiplas
relações com os segmentos sociais, produz.