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Trabalho de Antropologia II

Fichamento: “A noção de pessoa”, de Marcel Mauss.

(Entregue originalmente em 18/09/2018)

Mauss se propõe, no texto, a explicar como a categoria de pessoa (Eu) surgiu e


se desenvolveu ao longo dos séculos e ainda é, mesmo hoje, flutuante, delicada,
preciosa, e passível de maior elaboração. Inicia salientando que, apesar de todos
ingenuamente a naturalizarem, há que se substituir essa visão por outra mais precisa.

Adverte o antropólogo, ainda, que sua intenção é


[...] oferecer, bruscamente, um catálogo das formas que a noção adquiriu em diversos
pontos, e mostrar de que maneira ela acabou por ganhar corpo, matéria, forma, arestas, e
isto até nossos tempos, quando ela finalmente tornou-se clara, nítida, em nossas
civilizações (nas ocidentais, muito recentemente) e não ainda em todas. (p. 360).

Mauss pontua também que não tratará de lingüística nem psicologia, e que sua
pesquisa se voltará inteiramente para o direito e a moral, mas reconhece, no que se
refere à psicologia, que nunca houve ser humano que não tenha tido o senso, não apenas
de seu corpo, mas também de sua individualidade espiritual e corporal ao mesmo
tempo, e que a psicologia desse sentido fez imensos progressos no último (dele) século.

Explica então que o assunto que ele pretende abordar, que é um assunto de
historia social, é descobrir "de que maneira ao longo dos séculos, através de numerosas
sociedades, se elaborou lentamente, não o senso do "eu", mas a noção, o conceito que os
homens das diversas épocas criaram a seu respeito [...]." (p. 371). E arremata:

O que quero mostrar é a série das formas que esse conceito assumiu na vida dos
homens, das sociedades, com base em seus direitos, suas religiões, seus costumes, suas
estruturas sociais e suas mentalidades. (p. 371).

Observando quanto é recente a palavra filosófica "Eu", a "categoria do Eu", o


"culto do Eu" (sua aberração) e o "respeito ao Eu" - em particular, ao dos outros (sua
norma), na seção "O personagem e o lugar da pessoa", Mauss aborda a organização
social dos índios Pueblos dos Zuñi, os quais o autor reputa "muito comparáveis em
civilização material e em constituição social aos mexicanos e aos mais civilizados
índios das duas Américas" (p. 372), e destaca dois pontos, a saber: a existência de um
número determinado de prenomes por clã e a definição do exato papel desempenhado
por cada um na figuração do clã, e expresso por esse nome (daí a noção de
"personagem").

Com efeito, trata-se de um sistema de ordenamento que utiliza um dispositivo


relativamente simples para simbolizar esse ordenamento, nos quais os nomes
correspondentemente classificados em termos de parentesco indicam a posição relativa
de cada "parente" na cadeia de parentesco, evitando assim qualquer possibilidade de um
erro na ordem correta em uma cerimônia ou procissão, por exemplo. Sintetiza Mauss:
"Assim, por um lado, o clã é concebido como constituído por um certo numero de
pessoas, na verdade personagens; e, por outro, o papel de todos esses personagens é
realmente figurar, cada um por sua parte, a totalidade prefigurada do clã." (p. 374).

O cientista conclui, sobre os Pueblos, que

Se considerarmos que essas vidas dos indivíduos, forças motoras dos clãs e das
sociedades sobrepostas aos clãs, asseguram não apenas a vida das coisas e dos deuses,
mas a "propriedade" das coisas; e que não apenas asseguram a vida dos homens, neste
mundo e no além, mas também o renascimento dos indivíduos (homens), únicos
herdeiros dos portadores de seus prenomes (a reencarnação das mulheres é uma questão
bem diferente), compreendereis que vemos já entre os Pueblos, em suma, uma noção da
pessoa, do indivíduo confundido com seu clã mas já destacado dele no cerimonial, pela
máscara, por seu título, sua posição, seu papel, sua propriedade, sua sobrevivência e seu
reaparecimento na terra num de seus descendentes dotados das mesmas posições,
prenomes, títulos, direitos e funções. (p. 374-5)

Referindo-se a outro grupo de tribos da América, os Kwakiutl, do noroeste dos


Estados Unidos, Mauss mostra que esses índios
[...] instalaram entre eles um sistema social e religioso no qual, numa imensa troca de
direitos, de prestações, de bens, de danças, de cerimônias, de privilégios, de posições, as
pessoas e os grupos sociais são simultaneamente satisfeitos. (p. 376).

Numa intrincada atribuição de nomes entre os membros, nosso antropólogo


mostra que se trata mais do que do prestígio e da autoridade do chefe e do clã, e sim da
própria existência destes e dos antepassados que se reencarnam nos detentores de tal
direito,

[...] que revivem no corpo dos que carregam seus nomes, cuja perpetuidade é garantida
pelo ritual em todas as suas fases. A perpetuidade das coisas e das almas só é garantida
pela perpetuidade dos nomes dos indivíduos, das pessoas. Estas agem apenas como
representantes e, inversamente, são responsáveis por todo o seu clã, suas famílias, suas
tribos." (p. 377).
Mauss conclui a seção pontuando que um imenso conjunto de sociedades chegou
à noção de personagem, de papel cumprido pelo indivíduo em dramas sagrados, assim
como na vida familiar, e passa da noção de personagem à noção de pessoa e de "Eu", na
seção seguinte, "A persona latina", na qual aborda duas grandes e antigas sociedades
que foram as primeiras a tomar consciência da noção de persona e que, segundo nosso
autor, "a inventaram para, por assim dizer, dissolvê-la quase definitivamente, já a partir
dos últimos séculos que precederam nossa era." (p. 383). Refere-se ele à Índia
bramânica e búdica, e à China antiga.

Na próxima seção, "A persona", o antropólogo mostra que, diferentemente dos


hindus e dos chineses, os latinos parecem ter sido os que primeiro estabeleceram
parcialmente a noção de pessoa, fazendo, assim, da pessoa humana uma entidade
completa, independente de qualquer outra, exceto de Deus. Para os romanos, "a
"pessoa" é mais do que um elemento de organização, mais do que um nome ou o direito
a um personagem e a uma máscara ritual, ela é um fato fundamental do direito." (p.
385), do qual apenas o escravo é excluído.

Na próxima seção, "A pessoa: fato moral", Mauss mostra como os estóicos, com
sua moral voluntarista, pessoal, enriqueceram a noção romana de pessoa, devido à
influência das escolas de Atenas e de Rodes sobre o desenvolvimento do pensamento
moral latino. "A consciência moral introduz a consciência na concepção jurídica do
direito. Às funções, honrarias, cargos e direitos, acrescenta-se a pessoa moral
consciente." (p. 391).

Contudo, a noção de pessoa carecia ainda de base metafísica segura, a qual lhe
será fornecida pelo cristianismo, fato abordado por nosso autor na seção a seguir, "A
pessoa cristã", a qual, sinteticamente, deixa claro que os cristãos foram os que fizeram
da pessoa moral uma entidade metafísica, depois de terem sentido sua força religiosa, e
que a pessoa é uma substância racional indivisível, individual.

Na seção seguinte, "A pessoa, ser psicológico", Mauss percorre a historia da


filosofia para mostrar como se fez dessa substância racional individual o que ela é
agora, uma consciência e uma categoria.
Nosso autor conclui o capitulo, no qual procurou, ainda que esquematicamente,
reproduzir todo o percurso que a noção de pessoa, de Eu, precisou empreender para
chegar à que nós a temos hoje, ponderando, dentre outras coisas, ate mesmo se essa
categoria será sempre reconhecida como tal, lembrando que ela ainda é "questionada
não apenas por todo um Oriente que jamais chegou às nossas ciências, mas até mesmo
em países onde esse princípio foi encontrado." (p. 397). E finaliza, conclamando-nos a
defende-la, mas sem moralizar.

REFERÊNCIA

MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “eu”.


Sociologia e antropologia, p. 369-397, 2003.

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