Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
CASO CONSTRUTIVISTA
RESUMO
Este artigo tem como objetivo fazer um mapeamento da abordagem construtivista dentro da Economia
Política Internacional (EPI). Fazendo uma analogia ao conceito de “Policultura” proposto por Kathleen
McNamara (2009), argumento que a EPI seria uma campo fértil para diversas outras contribuições
derivadas de disciplinas correlatas. Partindo da interpretação da EPI como um campo multifacetado,
pautado pela pluralidade e interdisciplinaridade, o artigo apresenta diferentes análises trazidas pela
abordagem construtivista para a EPI. Tal riqueza de interpretações demonstra a importância do
construtivismo para se superar o status de “monocultura” que o mainstream racionalista (norte americano)
estabeleceu na área, apesar de advogar pela pluralidade do campo. Desse modo, o artigo examina e
apresenta uma série de autores e suas respectivas contribuições procurando evidenciar que o
“construtivismo” possibilitou fazer do campo uma “policultura”, cruzando e interconectando as diversas
análises com o intuito de elaborar melhores explicações e recomendações sobre o que ocorre na EPI de
fato.
ABSTRACT
This article aims to map the constructivist approach within the International Political Economy (IPE).
Taking an analogy to the concept of "Policulture" proposed by Kathleen McNamara (2009), I argue that
IPE would be a fertile field for several other contributions derived from related disciplines. Starting from
the interpretation of IPE as a multifaceted field, based on plurality and interdisciplinarity, the article
presents different analyzes brought about by the constructivist approach to IPE. Such a wealth of
interpretations demonstrates the importance of constructivism to overcome the status of "monoculture" that
the rationalist mainstream (North American) established in the area, despite advocating for the plurality of
the field. Thus, the article examines and presents a series of authors and their respective contributions
seeking to show that "constructivism" made it possible to make the field a "policulture", crossing and
interconnecting the various analyzes with the purpose of elaborating better explanations and
recommendations on what occurs in IPE in fact.
INTRODUÇÃO
Em seu artigo, Of Intellectual Monocultures and the study of IPE (2009), Kathleen
McNamara sintetizou a discussão sobre o excessivo foco da EPI em enfoques
racionalistas e seus métodos quantitivativos. Negando a afirmação de que “não existe uma
1
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais – PPGRI/UFU
EPI construtivista”, a autora faz uma analogia entre a monocultura agrícola
(especializada, eficiente, produtivista e padronizada) e a corrente liberal mainstream na
EPI, principalmente nos pressupostos produzidos pela vertente norte americana da
disciplina.
Baseado na visão de que a EPI seria uma campo fértil para diversas outras
abordagens, o presente artigo tem como objetivo discutir a importância do construtivismo
para se superar o status de “monocultura” que o mainstream na área estabeleceu. Para
que possamos discutir tal questão, divido este artigo em três seções. Na primeira seção
faço um contexto histórico sobre a ascensão do construtivismo na EPI. Nesta, o objetivo
não é fazer uma contextualização histórica de todo o campo, e sim, de como o
construtivismo vai surgir como uma alternativa em um determinado período histórico e
em circunstância determinada a partir das mudanças no contexto internacional ocorridas
a partir dos anos 90. Já na segunda seção, faço uma breve exposição sobre o que
fundamenta o construtivismo, como também, um mapeamento do estado da arte
construtivista dentro da Economia Política Internacional. Para isso, seleciono diversos
autores e trabalhos que utilizam do instrumental teórico construtivista para ampliar seu
campo analítico e metodológico, bem como aponto sobre o cárater que tais trabalhos
seguem e sua distinção para as análises racionalistas. Por fim, na terceira seção elaboro
uma discussão sobre a importância do construtivismo para a superação do que McNamara
chamou de uma “monocultura intelectual” dentro da própria EPI.
CONTEXTO HISTÓRICO
Por outro lado, como afirma Amoore (2002), o campo da EPI também está
intimamente ligado à compreensão da transformação social global. O processo de
globalização foi uma mudança fundamental para os pesquisadores do cenário
internacional. Durante esse período, que gira em torno de meados da década de 80 até a
década de 90, a leitura neoliberal da EPI tendia a tratar o mercado como um fato dado,
central e duradouro. O ressurgimento do capitalismo liberal, representado agora pelo que
se chamou de “neoliberalismo” representou a aceitação categórica da ideologia dos
mercados e o afastamento desse liberalismo incorporado. Chegava ao fim o compromisso
como o chamado Embedded Liberalism. Porém, o que não se compreendia, ou não se
interpretava, era que o mercado nada mais era que um fato social e não natural. Dessa
forma, ele derivava da intensa mudança que essa globalização trouxe, tanto no nos
discursos políticos, como nas doutrinas e nas práticas (Abdelal, 2009).
2
Sobre o construtivismo nas Relações Internacionais, ver: Guzzini (2000); Zehfuss (2004); Adler (1997;
1999).
Para que se alcançasse essa expansão do estudo das idéias na EPI e,
consequentemente, a articulação de outras abordagens na constituição do campo
construtivista na área, diversos autores buscaram em disciplinas correlatas, conceitos e
métodos que auxiliassem no aprimoramento de seu instrumental analítico. Disciplinas
como a Sociologia, a Antropologia, Psicologia, a História, entre outras; foram
importantes para fortalecer, juntamente com a Economia e a Ciência Política, o campo
multidisciplinar da Economia Política Internacional. A construção teórica construtivista
sobre a influência das ideias, normas e crenças coletivamente compartilhadas tornou-se
central para a análise da EPI (Abdelal, 2009).
Portanto, através dessa rápida contextualização, fica claro que o campo da EPI
não somente exige diversidade em sua abordagem (McNamara, 2009), como também, de
fato, vem se tornando um campo cada vez mais plural, abarcando contribuições de
diversas disciplinas. O surgimento de novas abordagens, de caráter reflexivista, vão se
estabelecer como desafios às abordagens mainstream. Estas abordagens, pautadas na
idéia de que a estrutura material é que determina como os agentes agem, tem como
objetivo construir narrativas (modelos heurísticos3) cm o intuito de demonstrar como o
mundo realmente funciona. Essa tentativa de fazê-los corresponder à realidade, é que
garantiria a eles uma posição mais “científica” e de maior rigor metodológico dentro da
disciplina. Será a partir dessa disputa entre as abordagens, de forma geral, racionalistas
versus reflexivistas, que o Construtivismo vai surgir na EPI. Para alguns, como respostas
ao mainstream, para outros como complementar; mas, de forma geral, como uma forma
de ampliar o instrumental analítico do campo. É na próxima seção que abordo sobre as
caracteristícas do construtivismo na EPI e suas diversas contribuições.
Em seu conhecido artigo, The Transatlantic divide: Why are American and British
IPE so different? (2007), Benjamin Cohen afirma que apesar da pluralidade e de seu
caráter interdisciplinar atualmente, a disciplina de EPI como hoje a conhecemos ainda
carece de uma certa definição. Para ele, o campo ainda não possui uniformidade, ou seja,
não está estritamente definido em suas bases, o que nos levaria a questionar sobre o que
a EPI trata. Neste artigo, apesar de focar apenas na análise das escolas “norte americana”
3
Ver: GIGERENZER, G; GAISSMAIER, W. Heuristic decision making. Annual review of psychology,
v. 62, p. 451-482, 2011.
e “britânica”, Cohen aponta uma característica (a falta de uniformidade) que afetaria a
disciplina como um todo, mas que também está presente na própria abordagem
construtivista na disciplina.
Na abordagem construtivista, tal falta de uniformidade impulsiona os autores que
pretendem fazer uma descrição da contribuição construtivista em EPI a buscar maneiras
de categorizar as diversas vertentes de análises presentes nesta abordagem. Tais
categorizações, apesar de serem importantes didaticamente como uma forma de sintetizar
o estado da arte construtivista no campo, também impõem uma certa homogeneização
das diferentes análises dentro desses seguimentos, e podem acabar por discipliná-las de
certa forma, o que prejudicaria seu caráter plural.
Dado que meu objetivo geral neste artigo é o de fazer um mapeamento desta
contribuição no campo da EPI, na tentativa de ser mais didático possível, utilizo a
divisão/categorização feita por Abdelal, Blyth e Parsons (2010) para demonstrar que o
próprio construvismo na EPI é constituído por abordagens variadas que percorrem
caminhos diferentes na tentativa de explicar o papel da construção social na economia
política, ao mesmo tempo, sem marginalizar nenhuma vertente, colocando até mesmo os
pós positivistas como trazendo uma contribuição importante para o papel dos indivíduos
no campo.
Na introdução do livro Constructing the International Political Economy (2010),
Abdelal, Blyth e Parsons afirmam que existe uma enorme diversidade entre os
construtivistas. Para eles, o ponto em comum entre os autores é o da “interpretação
socialmente construída”, mas suas visões sobre o mundo e seu funcionamento são
bastante variados. É a partir desta visão de diversidade de interpretação que os autores
vão elaborar as quatro diferentes lógicas (caminhos) para o construtivismo (paths to
constructivism). Tais caminhos representam as diferentes racionalidades que se
desenvolvem a partir das diversas posições teóricas tomadas pelos autores e que instruem
formas de compreender os processos de construção social, seus surgimentos,
mecanismos e efeitos, porém todos eles sugerem que a construção social importa. São
eles: o caminho do significado, o da cognição, o da incerteza e o da subjetividade4.
O caminho do significado
4
Path of meaning, of cognition, of uncertainty and subjectivity, respectivamente.
O caminho do significado é a lógica mais comum dentre todas. Parte-se do
pressuposto que as construções sociais influenciam a economia política através do
conteúdo (significado) que os próprios fatos materiais possuem. Assim, “a abertura para
a variação socialmente construída na ação não está na imprevisibilidade ou complexidade
do mundo material, mas em seu relacionamento inerte e quase sem sentido com a
existência e a escolha humana” (Abdelal, Blyth e Parsons, 2010, p. 8, trad. nossa). Ou
seja, os indivíduos não se pautam apenas em escolhas racionais, em fatores estritamente
materiais. Suas ações, assim como suas opiniões e ideias, variam também a partir das
construções sociais que revestem os termos materiais e que servem para direcionar e
impulsionar tais ações, como as identidades, símbolos, convenções, normas, entre outros;
que as pessoas construem para motivar e priorizar suas ações.
Todos esses significados que envolvem os fatores materiais e, consequentemente,
influenciam as ações dos indíviduos, restringem as opções a serem tomadas pelos
mesmos. Dessa forma, negligenciar o papel dos significados, e como eles moldam a
capacidade de análise dos individuos, seria fazer uma análise reducionista do
comportamento, pautado apenas na escolha racional. Para os autores construtivistas que
tomam o caminho do significado, dificilmente os atores analisam e interpretam o mundo
exclusivamente em termos materiais. Por trás destes existem diferentes objetivos sociais,
intepretações de como esses fatores materiais servem como formas de atuação no mundo
refletindo as posições tomadas pelos diferentes atores. Ou seja, a economia e a política
internacional são constituídas por fatores materiais e sociais, e estes dão sentido e
possibilitam a interpretação dos fatores materiais.
Em Capital Rules : The Construction of Global Finance (2007), Rawi Abdelal,
investigando a ascensão dos mercados financeiros globais, sua construção e suas
consequências, analisa os atores, as instituições e as normas que validaram e legitimaram
a construção do mercado financeiro e das finanças internacionais. Pautado numa
abordagem voltada para a sociologia política e econômica, o autor examina o papel dos
indivíduos na formação das idéias por trás das finanças internacionais, e como eles
formalizaram um novo consenso dentro de instituições e das agências moldando os
mercados financeiros globais.
De outra forma, abordando essa questão do papel do consenso e de seus impactos,
Kathleen R. McNamara (1999) tenta compreender os motivos pelos quais os Estados
europeus apoiarem a criação União Europeia (UE). A autora argumenta que o
desenvolvimento de um consenso de política econômica neoliberal entre os líderes foi
crucial para a estabilidade no Sistema Monetário Europeu e o avanço para a criação da
UE. Dessa forma, McNamara ponta que o processo de mudança da política neoliberal
depende, e é moldado, pelas crenças historicamente compartilhadas e interpretações de
suas experiências na economia global. Também, Siles-Brügge (2013) e Matthijs e
McNamara (2015) buscam as motivações das mudanças na agenda comercial e da política
economica da UE frente à crise de 2008 e do euro. Ambos vão argumentar a forte
influência dos atores e de suas idéias para apontar soluções e discursos especfícos frente
a crise. Já Hay & Rosamond (2002) mostram como as estruturas ideais se tornaram
institucionalizadas e normalizadas, e argumentam que a implantação dos discursos da
globalização e integração europeia como retórica política são estratégicos e heterogêneos,
variando entre os contextos nacionais e de partidos.
O caminho da cognição
5
Para saber mais sobre os impactos do construtivismo na EPI chinesa, ver Blyth e Wang (2013).
ou seja, tomadas como dadas, mais força e enraízamento essas construções sociais
ganham, e consequentemente, mais profundos são seus impactos (Abdelal, 2009).
Em The Politics of Common Knowledge: Ideas and Institutional Change in Wage
Bargaining, Culpepper (2008) analisa os casos de Irlanda e Itália demonstrando como o
processo de criação de conhecimento comum entre os empregadores e os sindicatos
mudou o curso das negociações sobre as instituições nacionais no que se refere à
negociação salarial. Jones (2009), analisando os impactos da crise financeira global no
apoio euro e ao Banco Central Europeu (BCE), parte da premissa de que a UE depende
de uma legitimação baseada em interesses e não em identidades. O autor argumenta que
os decisores políticos devem se preocupar com a mudança nas percepções sobre o euro
por duas razões: uma econômica (confiança na politica economica) e outra política (BCE
passa a ser responsabilizado por falhas políticas).
Já Widmaier (2010;2016), elabora uma abordagem sobre as mudanças no poder
ideacional e nas influências emocionais e como elas moldam tendências de mercado e do
ambiente político. Dessa forma, o autor entende que conhecimentos comuns e estruturas
de poder ideacional, expressos por agentes que filtram e consolidam idéias, modelam
novos fatos sociais e podem gerar diferentes resultados institucionais. Da mesma forma,
Chwieroth e Sinclair (2013) argumentam que como um Estado se mantém na mobilidade
internacional de capitais depende de com ela é vista coletivamente pelos indivíduos, ou
seja, baseada nas crenças compartilhadas intersubjetivamente (fatos sociais). Partindo
dessa mesma premissa que os processos sociais desempenham um papel importante nos
resultados das políticas e na constituição da dinâmica econômica global, Chwieroth
(2014), tenta explicar o crescimento da importância dos Sovereign Wealth Funds (SWFs)
na economia global, assim como Schwartz e Seabrooke (2008) vão argumentar sobre a
necessidade da Economia Política Comparativa e Internacional (EPC e EPI) de analisar
o papel dos mercados imobiliários residenciais tanto como fonte de conhecimento, quanto
como importante no estabelecimento e na difusão de ideias e políticas publicas.
Trazendo uma nova perspectiva do conceito de “reputação”, Sharman (2007) o
entende como algo relacional, intersubjetivo e gerado e mediado através de filtros
culturais e sociais. Ele argumenta sobre a necessidade da economia política e da política
internacional de ampliar sua visão sobre a questão da reputação e sua utilização na análise
de possíveis ações a serem tomadas por parte dos atores, e até mesmo para entender como
as OI’s dão autoridade aos seus resultados e influenciam os formuladores de políticas.
Partindo dessa questão da legitimidade das OI’s, Seabrooke (2007a) discute as fontes da
crise internacional de legitimidade pela qual passa o FMI. Partindo da noção de que a
legitimidade deve ser entendida não só como expressão das crenças, mas também de
“práticas expressivas”, o autor vai afirmar que existe uma “lacuna de legitimidade” no
fundo entre as suas reivindicações de legitimidade e as práticas expressivas dos que são
governados, ou seja, a conferência dessas reivindicações vai depender dos próprios atos
dos governados, ampliando ou diminuindo a diferença entre reinvindicações e atos.
De outra forma, vendo uma limitação nas abordagens da “EPI regulatória”6
Seabrooke e Hobson (2006; 2007) vão enfatizar a importância da “agência do ator
cotidiano”. Para eles, as ações cotidianas têm consequências importantes para a
constituição e transformação dos contextos local, nacional, regional e global. Dessa
forma, os autores pretendem trazer novas lentes para a EPI, não somente focada nos
agentes da elite, mas também nos agentes cotidianos que, apesar de estarem mais distantes
das decisões, também moldam a governança em todos seus níveis. A partir dessa noção
de importância do embate cotidiano, Seabrooke (2006;2007b) mostra como a
legitimidade doméstica é um importante fator que influencia a natureza da ordem
financeira internacional. Para ele, são os discursos dos grupos sociais e o embate com o
Estado no cotidiano sobre a economia é que estabelecem a legitimidade do sistema
financeiro.
Por outro caminho, Leonard Seabrooke e Tsigou (2009) trazem o conceito de
linked ecologies para mostrar as formas como os atores responsaveis pela “governo” da
economia internacional se deslocam entre papeis publicos e privados (Revolving doors).
O objetivo de tais atores é formar coalizões e estratégias que sejam importantes para a
difusão de suas ideias dentro dessas instituições e, consequentemente, ajudar na criação
de padrões financeiros internacionais e legitimar formas de abordar os problemas da
politica internacional. Também pensando na questão estratégica dos atores, Seabrooke
(2014), a partir do conceito de “arbitragem epistêmica”, aponta como profissionais
específicos são capazes de explorar as diferenças em seus conjuntos de conhecimento
profissional para obter vantagens estratégicas ao estabelecer formas específicas de
conhecimento como as mais apropriadas para lidar com problemas específicos na área de
governança transnacional, adquirindo assim o poder sobre questões transnacionais.
6
“ (...) caracterizamos o mainstream como "Regulatório" porque a questão da ordem e a regulamentação
da economia mundial ocupam o centro do foco da pesquisa” (p.6; trad. Nossa). Exemplos: Neorealismo,
neoliberalismo e estruturalismo clássico.
Zhu (2007;2008) parte do argumento de que a estrutura doméstica e a política são
as principais causas da mudança da política externa chinesa. Em seu artigo de 2007, ela
argumenta que a mudança gradual da política externa chinesa em direção a uma maior
cooperação com a comunidade internacional depois de 1949 deve-se à mudança
ideológica doméstica. Já em Zhu (2008), a autora se debruça sobre as causas domésticas
subjacentes à internalização chinesa das normas internacionais. Seguindo essa abordagem
de tentar explicar por que a China internalizou normas interncionais, especificamente a
de mudanças climáticas, Kang (2010) argumenta que a internalização das normas resulta
de uma combinação de Interesses materiais e interesses não-materiais. Para ele, tal a
internalização é melhor explicada pela necessidade de um novo modelo de
desenvolvimento econômico e seu desejo de reconhecimento e respeito internacional. Su
(2007) também examinou a interação entre a política doméstica e o sistema internacional,
mas, neste caso, ela privilegia o sistema internacional como a principal causa das
mudanças da política externa chinesa.
O caminho da incerteza
7
Ver mais: Knight, Frank H., Risk, Uncertainty, and Profit (1921)
analisar e guias os acontecimentos futuros. A “incerteza knightiana” remete à
impossibilidade de se estimar probabilidades para um determinado resultado na medida
em que não se possui as informações necessárias para se construir probabilidades precisas
para resultados esperados.
A partir da noção de incerteza de Knight, os construtivistas dessa vertente veem
que os acontecimentos da economia e da politica internacional são imprevisíveis tanto no
tempo como no espaço. Os indivíduos estão imersos em um cenário aleatório e incerto
em que a estabilidade só pode alcançada, em alguma medida, “através do
desenvolvimento e implantação de idéias, instituições, normas e convenções
governamentais” (Biernacki, 1995; March e Olsen, 1986; Blyth, 2006 apud Abdelal,
Blyth e Parsons, 2010, p. 12, trad. nossa).
Dessa forma, tais contruções sociais seriam uma tentativa de identificar e enfrentar
a incerteza que os atores enfrentam. Outro argumento importante é que o ambiente
econômico e político internacional passam por mudanças ao longo tempo, e juntamente
com elas, as construções sociais, a partir de conhecimentos acumulados, tendem a mudar
na contínua busca por enfrentar a incerteza inerente na economia política internacional.
Como as mudanças são imprevísiveis, os resultados também serão, de forma que é
importante dar sentido a essas construções na tentativa de adquirir alguma estabilidade.
Blyth (2011) afirma que praticar as ciências sociais sem considerar as idéias, que
são fundamentais para a ação humana e para a causação nos sistemas sociais, é algo
enganoso. Baseando-se nas questões da incerteza e da teoria evolutiva, o autor expõe que
a forma como o mundo social é construído depende da percepção das ideias, pois são elas
que garantem a compreensão da estabilidade e das mudança nos sistemas sociais.
Widmaier (2004), constrastando as visões Keynesiana e Neoclássica, argumenta que as
mudanças de uma visão para a outra, e suas consequencias para a mudança nos interesses
sociais e dos estados, ocasionou a chamada “trindade impossível” (não conciliação da
mobilidade do capital, da estabilidade monetária e da autonomia política). Ao afirmar que
a compreensão keynesiana constitui a cooperação, o autor enfatiza o papel dos agentes e
das mudanças intersubjetivas nas “crises” (mudanças), apontando também que a
redefinição neoclassica impossibilitou a manutenção da trindade, sendo esta, vista melhor
vista como construção social.
O caminho da subjetividade
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEST, J. From the top–down: The new financial architecture and the re-embedding of
global finance. New Political Economy, v. 8, n. 3, p. 363-384, jun. 2003.
BEST, J. The limits of transparency: ambiguity and the history of international finance.
Ithaca: Cornell University Press, 2005. 234p.
BEST, J. The Limits of Financial Risk Management: Or what we didn't learn from the
Asian Crisis. New Political Economy, v. 15, n. 1, p. 29-49, mar. 2010.
BLYTH, M. Ideas, uncertainty, and evolution. In: BÉLAND, D; COX, R. H. (Ed.). Ideas
and politics in social science research. New York: Oxford University Press, 2011, p.
83-101.
BROOME, A.; SEABROOKE, L. Seeing like the IMF: Institutional change in small open
economies. Review of international political economy, v. 14, n. 4, p. 576-601, aug.
2007.
BROOME, A.; SEABROOKE, L. Seeing like an international organisation. New
Political Economy, v. 17, n. 1, p. 1-16, feb. 2012.
CHWIEROTH, J. M. Professional ties that bind: how normative orientations shape IMF
conditionality. Review of International Political Economy, v. 22, n. 4, p. 757-787, jul.
2015b.
COHEN, B. J. The transatlantic divide: Why are American and British IPE so
different?. Review of International Political Economy, v. 14, n. 2, p. 197-219, jan.
2007.
GUZZINI, S.. Benjamin Cohen on global political order: when Keynes meets realism and
beyond. Contexto Internacional, vol 37, n. 3, p. 851-887, sep/dec, 2015.
KEOHANE, R. The old IPE and the new. Review of International Political Economy,
vol. 16, no. 1, p. 34-46, feb. 2009.
LANGLEY, P. In the eye of the ‘perfect storm’: the final salary pensions crisis and
financialisation of Anglo‐American capitalism. New Political Economy, v. 9, n. 4, p.
539-558, dec. 2004a.
LANGLEY, P. (Re) politicizing global financial governance: what's ‘new’about the ‘New
International Financial Architecture’?. Global Networks, v. 4, n. 1, p. 69-87, jan. 2004b.
MATTHIJS, M.; MCNAMARA, K. The euro crisis’ theory effect: northern saints,
southern sinners, and the demise of the eurobond. Journal of European Integration, v.
37, n. 2, p. 229-245, feb. 2015.
MENG, H. Pressure, Cognition and International Image, World Economics and Politics,
n. 4, p. 17–20, 2005.
QIN, Y. The National Identity, Strategic Culture and Security Interests, World
Economics and Politics, n. 1, p. 10–15, 2003.
QIN, Y.; ZHU, L. The New Internationalism and China Foreign Relations, Foreign
Affairs Review, p. 21–24, oct. 2005.
QINGXIN, W. Cultural Norms and the Conduct of Chinese Foreign Policy. In: HU, W.;
CHAN, G.; ZHA D. (Ed). China’s International Relations in the 21st Century:
Dynamics of Paradigm Shifts. Lanham: University Press of America, 2000. P. 143-170.
QINGXIN K.W. The Rise of Neoclassical Economics and China’s WTO Accession.
Journal of Contemporary China, v.20, n.70, p. 449–65, jun. 2011.
PARSONS, C. Ideas and power: four intersections and how to show them. Journal of
European Public Policy, v. 23, n. 3, p. 446-463, mar. 2016.
SEABROOKE, L. Legitimacy gaps in the world economy: Explaining the sources of the
IMF's legitimacy crisis. International Politics, v. 44, n. 2-3, p. 250-268, mar. 2007a.
SEABROOKE, L.; TSINGOU, E. Revolving doors and linked ecologies in the world
economy: policy locations and the practice of international financial reform. Working
Paper. University of Warwick. n.260, 2009. 31p.
SINCLAIR, T. J. Round up the usual suspects: blame and the subprime crisis. New
Political Economy, v. 15, n. 1, p. 91-107, mar. 2010.
SU, C. The Political Economy of the Mutual Transformation of the Domestic and
International Systems: Implications for China and the International System (1978-2007),
World Economics and Politics, n.11, p. 6-9, 2007.
YAN, X.; XU, J. (eds). Selected Materials on the Thoughts between Pre-Qin Dynasty
Nations, Shanghai: Fudan University Press, 2008.
WANG, Q. K. Hegemonic Cooperation and Conflict: Postwar Japan’s China Policy
and the United States, Westport, CT: Praeger, 2000.
WANG, Q. K. Hegemony and Socialization of the Mass Public: The Case of Postwar
Japan’s Cooperation with the United States on China Policy, Review of International
Studies, v.29, n. 1, p. 99–119, jan. 2003.
WANG, Q. K. ‘The Rise of Neoclassical Economics and China's WTO Agreement with
the United States in 1999, Journal of Contemporary China, v. 20, n. 70, p. 449–57,
jun. 2011.
WIDMAIER, Wesley. The power of economic ideas–through, over and in–political time:
the construction, conversion and crisis of the neoliberal order in the US and UK. Journal
of European Public Policy, v. 23, n. 3, p. 338-356, mar. 2016.
ZHU, L. The Transition of Thoughts, the Leadership Ability and Changes in China
Foreign Affairs, International Politics Quarterly, n.1, p. 9–15, 2007.
ZHU, L.; The Change and Consolidation of China’s International Ideas: The Dynamics
and Trend, Foreign Affair Review, v,1, n.101, p.18–26, feb. 2008.