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Reviver um luto tão no início do ano me faz invariavelmente tocar na ferida, agora fechada, da
perda da Mãe Helena.
A respiração forçando, inutilmente, o coração desacelerar um pouquinho, oprime de dentro
para fora. Assim como as conversas alheias à perda, às perdas… Conversas cotidianas e a folia
das crianças com seus gritos e corridas divertidas irritam-me e me oprimem mais. Mas elas
não têm culpa, estão vivendo, apenas isso.
Quando eu era criança gostava de vir à casa da tia “Mariluísa”. Vínhamos de bicicleta papai
guiando, eu no varão e mamãe na garupa; ao entardecer dos sábados saíamos para falarem dos
episódios da família do papai. Eu ouvia a todos. Ouvia mais que brincava. Ouvir os adultos era
o que mais fazia quando íamos visitar o “Tizé-Moreira” e a tia “Mariluísa”.
Aqui no Batalhão era onde a gente comia arroz-de-leite. Tia Maria Luísa sempre o preparava
em minha infância. E trazia à roda de risos e estórias cearenses vindas de Crateús na linhas
férreas. Era também o lugar onde se louvava a Deus com bíblias que qualquer um poderia ler e
eu ouvia aleluias após a leitura de alguns trechos da palavra de Deus.
Era uma família de crentes, mas sempre me cobravam a bênção dos tios, como se católicos
fossem. Mesmo a tia Maria Luísa, irmã evangelizadora da Escola Dominical me pedia a bênção.
Mas não deixavam de comer carne vermelha na Semana Santa. E eu temia que eles fossem
castigados.
Nas férias da escolinha eu tocava nossa vaca nas manhãs, cedinho, para que ela fosse pastar
nos terrenos depois dos trilhos e às vezes parava na casa dela só pra pedir a bênção de minha
tia crente. Achava que era um deus-te-abençoe diferente, e vinda de um deus que não tinha
velas, santos ou almas em volta dele.
Hoje ela adormeceu em Cristo, espero revê-la quando eu me for também. Não no Dia do Juízo.
Gostaria que fosse antes para dar tempo de pegar em sua mão e dizer: bença tia Mariluísa!