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QUANDO O SILÊNCIO É COVARDE

A rede social é uma janela extraordinária para aproximar pessoas, comungar experiências e
informação. Também é palco em que desfilam vaidades sem fim, do corpo apolíneo ou
venusiano até o papo cult. Como se trata de espaço aberto entre amigos virtuais, que reúne toda
a fauna imaginável, não é um meio adequado ou pelo menos longe está de ser o melhor meio
para discussões sérias. Se alguém postar algo, pode levar uma saraivada de bobagens, para as
quais não faltará um tolo ou um mal intencionado para curti-las. Às vezes sequer o fazem porque
entenderam, ou concordaram. Apertam a mãozinha na tela para bajular ou, sob o efeito matilha,
para proclamar boçalmente “estamos juntos”. Como se sabe, é difícil pastar fora do rebanho.

Como a vaidade não se limita à beleza ou ao glamour, mas atinge o nirvana se tocar a esfera
intelectual, discussões são campo pra lá de minado. Escreve-se pouco e alguém contesta com
meia página, misturando alhos, bugalhos e até, quem sabe, algo sobre o tema em discussão.
Trata-se de estratégia diversionista, na linha do “vamos ampliar a discussão” com o intuito de
impressionar, algo semelhante ao que faz um rato com pelos hirsutos. Quem sabe amedronta o
opositor ... No vale-tudo da rede social sobejam palavras lançadas como mata-cavalo, como
modernidade, ciência, medieval, arcaico, barbárie, pedofilia e outras tantas que miram ora o
cravo, ora a ferradura. Trata-se de um vício, confesso em alta e boa voz quando o sujeito
escreve que não pretende vencer a discussão, apenas apresentar sua visão sobre o tema. Tal
afirmação merece entrar para o rol de mentiras clássicas. Quando se trata de futebol, política e
religião, passo longe. Não tenho mais idade para dissipar o tempo, para enxugar gelo ou para ter
a pretensão de convencer burro velho ou ensinar papagaio velho a falar, eis que também sou ora
burro ora papagaio idoso. Mas não me permito a indiferença com temas capitais.

Um assunto da categoria que não dá para deixar passar é o aborto. Trata-se de tema sensível e
que deploro até o último fio de minha cabeça a caminho da calvície. Tenho lido barbaridades em
defesa desta covardia inominável, dentre as quais prolifera, digamos assim, a campanha em
defesa das árvores em detrimento das sementes. Para os mais renitentes defensores da
legalização do aborto, argumentos que apenas de longe recendam religião são inúteis, tão
inúteis quanto pregar castidade num prostíbulo ou discutir com bêbado.

Recebo diariamente postagens do portal Aleteia e numa delas encontrei o combate não religioso
ao aborto, do filósofo espanhol Julían Marías, cuja essência tentarei sintetizar. Seja onde for, o
homem distingue entre “o quê” e “quem”; entre “algo” e “alguém”; entre “nada” e “ninguém”.
Assim, o filho não é uma “coisa”: não é um “o quê”, e sim um “quem”, um “alguém” que pode ser
chamado de “você” e que, ao passar do tempo, chamará a si mesmo de “eu”. Esse alguém é
vivo e dinâmico e nenhuma coisa chega a virar pessoa. Esse alguém, quando ainda feto, não
pertence à mãe; nem ao pai; nem a ninguém; ele está sendo gestado no ventre da mãe, onde já
é alguém desde que foi concebido como um ser humano absolutamente novo e único. A mulher
nunca dirá “meu corpo está grávido”, mas “eu estou grávida”. A mulher diz “vou ter um filho” e
não “tenho um tumor””. Um feto, realidade humana, não pode ser eliminado como coisa.

Se adotarmos o critério da autonomia no comer, no andar, no viver para dizer que alguém é,
colocaremos no mesmo balaio o bebê no ventre, o adulto em estado de coma e o idoso que
depende do próximo para comer, andar, viver … Ou seja, o aborto e a eutanásia são gumes da
mesma faca. Se o aborto é mera “interrupção de gravidez”, Marías combate eufemismos e
sugere que o enforcamento seja chamado de “interrupção da respiração”. Se legitimamos o
assassinato de fetos para melhorar a raça, evitar a superpopulação ou o sofrimento, então nos
alinharemos com a eugenia nazista ou assumiremos o papel de divindades que decidem entre a
vida e a morte, a morte “necessária”. Segundo Marías, o núcleo do problema é a negação do
caráter pessoal do homem. A mãe passa a ser alguém que sofre o crescimento de um “intruso”,
transformando “alguém” em “algo”, para assim eliminá-lo. Uma monstruosidade. A aceitação
social do aborto foi, segundo Marías, o que de mais grave aconteceu no século XX.
Por fim, quando alguém menciona estudos científicos em defesa do aborto, supostamente
gerados em instituições prestigiosas, fico a lembrar de ex-atletas fazendo comercial de bebida
alcoólica ou profissionais de saúde defendendo medicamentos, devidamente remunerados pelo
laboratório que os produz. O dinheiro compra consciências e pode revogar - se “preciso” for,- até
a lei da gravidade.

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