Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Dadeus Grings
DIALÉTICA
DA
POLÍTICA
HISTÓRIA DIALÉTICA DO CRISTIANISMO
Colecáo:
TEOLOGIA-1
Porto Alegre
1994
© D. Dadeus Grings
ACHACATALOGRÁRCA
C. D. C. 209
INTRODUCÁO / 9
1. Fu a e inse~ao no mundo / 9
2. .stério a ncarnacáo 12
a Um espírito novo / 13
4. A Igreja de Cristo / 14
5. A sociedade humana 7 16
6. Rela\ao 1 re' a-Estado / 17
Z A vira a constantiniana 18
8... Dificuldade de situar-se / 19
2... Momentos cruciais / 21
1Q, Nostalgia / 21
11. Cristo, ponto ae convergencia / 22
L o PODER ESPIRITUAL / 25
L A IGREIA INDEPENDENTE / 2S
Tese 1: Prega\ao do Evangelho / 25
Antítese: As converso es ao Cristianismo / 28
Síntese: A Comunidade cristá / 30
2. A IGREJA PERSEGUIDA / 40
Tese 2: O sistema pagáo / 40
Antítese: O sistema cristao / 42
Síntese: A era dos mártires / 44
3. AIGREJA LIVRE / 51
Tese 3: O poder político / 51
Antítese: O poder religioso 7 53
Síntese: Líberdade religiosa / 55
4. A IGREJA OFICIAL / 57
Tese 4: O Império cristáo / 57
Antítese: Problemas religiosos / 58
Síntese: Interferencias políticas na Igreja / 59
--------------------------------_
11. O PODER TEMPORAL DAAUTORlDADE ECLESIÁ.STICA / 63
5. A IGREJA ADMINISTRADORA / 63
TeseS: O vazio político / 63
Antítese: Crises humanas / 68
Síntese: O poder temporal da autoridade religiosa / 68
.
Matenal com dlrt'ltos autor ais
6. A IGREJA CIVILIZADORA / 72
Tese 6: Catolicismo popular / 72
Antítese: O domínio dos "Bárbaros" / 73
Síntese: As grandes conversóes / 74
7. A IGREIA LEIGA / 77
Tese 7: Exageros devocionais / 77
Antítese: Nova mentalidade / 78
Síntese: Medidas imperiais / 79
m. SACERDÓCIO E IMPÉRlO / 87
8. A IGREJA DEFENSORA / 87
Tese 8: A inseguran<;a européia / 87
Antítese: Reacáo cristá / 88
Síntese: O Sacro Império Romano / 89
9. AIGREJA UNIVERSAL /93
Tese 9: Cristianismo greco-romano / 93
Antítese: Novas pavos / 94
Síntese: Tentativa de abertura universal /96
10. A IGREJA ENVOLVIDA / 97
Tese 10: Papado decadente / 97
Antítese: O século obscuro de ferro /103
Síntese: As for,as insondáveis da História / 104
11. A IGREJA INSTRUMENTALIZADA / 109
Tese 11: Decadencia eclesiástica / 109
Antítese: Ingerencia política / 109
Síntese: A luta das investiduras /111
12. A IGREJA NO APOGEU /118
Tese 12: O Sumo Pontífice / 118
Antítese: O Imperador / 120
Síntese: A Cristandade / 124
13. AIGREJA EM TENSAo /129
Tese 13: Clima de íncompreensóes /129
Antítese: O cisma do Oriente /131
Síntese: Tentativas políticas de uniáo / 132
14. AIGREIA DOS POBRES / 135
Tese 14: Tendencia a rigueza / 135
Antítese: Movimento pauperístico / 136
Síntese: Op<;ao pela pobreza / 139
CONCLusAo / 347
Dois milenios de história / 347
Novo clima de diálogo / 348
Quatro servicos da sociedade / 351
Politizacáo da sociedade / 353
Deus e o mundo / 356
Multiplicidade de aspectos / 358
Cristo, Luz dos homens / 360
BIBLIOGRAFlA / 363
1
FUGA E INSERCAO
, NO MUNDO
Dla/ética da Política / 9
10 / D. Dadeus Grings
3
UM EspfRITO NOVO
Día/ética da Política / 13
4
A IGREJA DE CRISTO
14 I D. Dadeus Grings
Dia/ética da Política / 15
You have either reached a page that is unavai lable for vi ewi ng or reached your vi ewi ng limit for thi s
book.
como se os interesses de ambos fossem diverfientes. Antes pelo contrário:
nao existe pavo sem autorídade - onde falta a autoridade depara-se com
urna massa informe, sem possibilidade de organízacáo e de conseqüente
consecucáo do bem comum -. Portanto, se alguém se pronuncia contra a
"autoridade", em nome de um suposto POyO, nao o faz senáo com o fito de
substituí-la por outra, que sintonize melhor com as exigencias do momen-
to.
Nao se pode, evidentemente, ignorar que as pessoas que sao deputadas
para exercer o poder - ou porque o conquistaram a forca, ou porque se im-
puseram, ou porque o compraram, ou por mil outras maneiras - nem sem-
pre se empenham pelo verdadeiro bem do POyO que deveriam promover,
quer por interesses egoístas, quer por falta de capacidade, quer pela orgía
do poder, quer por outras razóes. Que se requer, pois, para que exercam
sua verdadeira missáo?
Como se sabe, o exercício do poder civil é missáo específica dos políti-
cos. Todos os cidadáos devem, de algum modo, ser políticos. Mas alguns o
seráo em grau mais elevado, dedicando-se integralmente a esta arte. De
corpo e alma. É exatamente aqui que entra a fé cristá. Assim como alguns
cristáos, para testemunhar publicamente sua fé em Cristo ressuscitado, se
retiravam para a solidáo, também outros cristáos, com o mesmo objetivo
de mostrar a presen<;a de Cristo no mundo, se dedicaráo a política, a admi-
nistracáo de urna empresa, a cultura ... O cristáo procurará pois ser um polí-
tico honesto, que também primará pela competéncia. Nao se mete no que
nao entende, ou no que nao estudou a fundo. E o político cristáo procurará
inspirar sempre de novo as suas atitudes nas lícóes do Evangelho, de serví-
co, de despreendimento, de esperan<;a.
6
RELACAOIGREJA-ESTADO
,
Dia/ética da Política / 17
bos os casos, mas nas respectivas cúpulas, ou seja, na relacáo entre a autori-
dade eclesiástica e a autoridade civil. Isto, porém, revela também - se neste
plano surgirem atritos, numa nacáo que se diz católica - que uma ou am-
bas as autoridades nao representam as aspiracóes de seu povo, ou nao se
mantém nos limites de sua competencia. Veremos, ao longo da História,
esta realidade a significar a forca e também a fragilidade da pregacáo evan-
gélica.
7
A VIRADA CONSTANTINIANA
8
DIFICULDADE DE SITUAR-SE
10
NOSTALGIA
Díalética da Política / 23
o PODER ESPIRITUAL
1
AIGREJAINDEPENDENTE
Tese 1:
PREGA~ÁO DO EVANGELHO
o Reino de Deus comeca no mundo dos homens como urna pequena
semente Iancada aterra. Cresce. Torna-se, aos poucos, árvore frondosa e co-
bre aterra.
Com a idade de cerca de 30 anos, Iesus sai de Nazaré para pregar O Rei-
no de Deus. Depois de alguns dias, volta a sua cidade natal para dizer aos
conterráneos que se está cumprindo nele a profecía de Isaías: "O Espírito
do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu; e enviou-me para anunciar
a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coracáo, para anunciar
aos cativos a redencáo, aos cegos a restauracáo da vista, para por em liber-
dade os cativos, para publicar o ano da grac;ado Senhor" (Le 4,18-19).
Além de pregar ao POyO, [esus escolhe seus discípulos e os forma acu-
radamente. Quer que permane~am com ele, para ouvirem suas pregacóes
ao POyO e receberem ulteriores esclarecimentos e aprofundamentos. Todos
percebem que ele tem um plano concreto, para o qual necessita de auxilia-
res e continuadores.
Os discípulos colocavam-se, as vezes, a questáo da organízacáo do rei-
no de Cristo. Surgiam inclusive discussóes entre eles, sobre quem seria o
maior. [esus, porém:, intervém para mostrar-lhes que o critério da distribui-
~ao dos postos no seu reino diverso dos reinos terrenos: "Os reís dos pa-
é
gáos dominam como senhores e os que exercem sobre eles autoridad e cha-
mam-se benfeitores. Que nao seja assim entre vós; mas o que entre vós é o
maior, torne-se o último; e o que governa seja como O servo" (Le 22,24-26).
[oáo concretiza esta licáo no lava-pés: "Se eu, vosso Senhor e Mestre, vos la-
calcará esta dimensáo, Um dia dirá que preciso procurar, em primeiro lu-
é
Antítese:
AS CONVERSÓES AO CRISTIANISMO
32 I D. Dadeus Grings
Dla/ética da Po/ltlca / 33
te a metade, alegando que era tudo. Em outras palavras, pretendia enganar
a comunidade.
Pedro, porém, o desmascarou. Ambos morreram sob o impacto da acu-
sacáo. Pedro deixou claro que nao se exigía a venda da propriedade, nem
que se entregasse o dinheiro a comunidade. Nao admitia, porém, que se lu-
dibriasse a Igreja de Deus. Em outras palavras, o Apóstolo deixa claro que
reter a propriedade, ou dispor de dinheiro próprio, nao é contrário ao
Evangelho de Cristo. É-o porém o engano, a falsidade. E a partir dali nao
mais se falará da comunháo de bens. A experiencia apenas iniciara e já re-
velara suas falhas.
Mas havia uma segunda razáo. Com o crescimento da comunidade co-
mecou-se a sentir o peso da administracdo. No capítulo 4 dos Atas, Lucas es-
creyera que, entre os cristáos, nao havia nenhum necessitado e que se re-
partía a cada um conforme as suas necessidades. Dois capítulos depois,
esta harmonia comunitária já sofria duro golpe. Com o crescente número
de cristáos, o atendimento se tornou precário, deixando muito a desejar,
Merece ainda destaque um detalhe. Lucas indica que só as viúvas recebiam
um subsídio diario. Quanto aos demais supóe que vivessem de seus pró-
prios recursos e ajudassem a manter a Igreja. S. Paulo, em várias de suas
cartas, dita normas acerca do procedimento a respeito das viúvas. Era um
problema na Igreja primitiva.
O elemento humano manifestou-se novamente entre os cristáos de Je-
rusalém. Os gregos apresentaram queixas contra os hebreus de que suas
viúvas estavam sendo postergadas na distribuicáo diária. Sinal de racismo
dentro da Igreja. Pelo que se pode entrever, os apóstolos investigara m, con-
firmando-se a acusacáo. Nada de perfeito neste mundo! Já se havia passa-
do da mística a política.
Os Apóstolos examinaram atentamente o assunto e concluíram que es-
tavam, de algum modo, com o sistema comunitario que haviam criado, a
trair o próprio mandato divino de evangelizar. "Nao razoável que aban-
é
donemos a palavra de Deus para administrar" (At 6,2). Deixam pois claro
que preciso dissociar a administracáo da pregacáo do Evangelho. E con-
é
de per si, a eqüídade entre os homens, a nao ser para urna pequena elite
que faca voto de pobreza, castidade e obediencia, ou seja, que procure atin-
gir a perfeicáo cristá pela renuncia total. Nao pode ser imposta a todo o
POyO,nem proposta para todos, porque as falhas humanas nao tardaráo a
revelar-se. Somente no século IV a Igreja iniciará novamente a experiencia,
sob o voto de pobreza dos monges. Mas estes nao tinham familia para sus-
tentar, nem exigencias a apresentar. Renunciavam a tudo - e se dispunham
ao jejum e a peniténcía - para consagrar-se totalmente a Deus. Aí a admi-
nistracáo já nao constituirá grande problema.
Cinco antinomias
Nao foi, porém, fácil encontrar a via da síntese em todas as antíteses
que afetaram a organízacáo da Igreja nos primeiros séculos de sua existen-
cia. Acenemos, apenas brevemente, as cinco antíteses que cruzam seus ca-
minhos dialéticos, obrigando a um grande esforco de síntese.
A primeira é o particularismo judaico. Dele tratou o primeiro volume
desta História, ao se elaborar a dialética da unidade do Cristianismo. Le-
vou ao universalismo e abriu, de par em par, as portas a todos os povos,
sem distincáo de origem.
A segunda dialética opóe o elemento carismático ao jurídico. É urna tenta-
~ao perene na Igreja. Notamos que ela tem urna sólida estrutura hierárqui-
ca, apoíada na própria instituicáo dos Apóstolos, por parte de Cristo e na
transmissáo de seus poderes através da imposicáo das máos. Como conse-
qüéncia, multiplicaram-se os ministérios ordenados. Ao seu lado, porém,
existem os dons e carismas, que o Espírito Santo concede diretamente. Des-
tinam-se nao ao bem de quem os recebe mas ao bem da comunidade. A fre-
qüéncía destes carismas e sua importancia na Igreja primitiva levaram al-
guns historiadores a contrapor urna igreja carismática a urna igreja hierár-
quica; ou seja, urna igreja movida pelos dons do Espírito Santo a urna igreja
dirigida por homens investidos de poder.
S. Paulo, porém, já adverte contra esta falsa impressáo. Nao há oposi-
~ao alternativa mas conciliativa, entre carisma e hierarquia, de modo a ca-
ber a esta a missáo do discernimento quanto aos verdadeiros ou falsos pro-
fetas, ou como se diria hoje, entre o carisma e a pura mania e aquel a a mis-
sao de dinamizar a vida da Igre]a.
É verdade que a hierarquia fez prevalecer, de tal modo, sua preponde-
rancia em diversas épocas da História, que tenha como que extinto o Espí-
rito. Considerava como suspeito tuda o que nao estivesse exatamente de
acordo com os cánones. Mesmo assim, no decorrer da História da Igreja, re-
gistram-se carismáticos, que se manifestam particularmente na fundacáo
das Ordens religiosas. Sua aprovacáo oficial, pela autoridade eclesiástica,
constituí o elemento hierárquico, mas a própria fundacáo provém do ele-
38 I D. Dadeus Grings
Conclusáo
A figura de Santo que pode ilustrar esta primeira dialética da Igreja in-
dependente é S. Barnabé. Vende o que possui para dedicar-se integralmente
a pregacáo do Evangelho. E o grande organizador das comunidades e o
conciliador das posicóes contrastantes, como vimos no segundo volume
desta História dialética.
O Cristianismo é implantado no mundo sem se perguntar a ninguém
por alguma licenca, Prega-se o Evangelho e se organizam as Comunidades,
de acordo com as exigencias dos tempos. Vai-se tateando nesta organiza-
C;ao,até encontrar um modelo válido, assumindo elementos tanto dos ju-
deus como dos romanos, sem porém se sub meter a nenhum deles, na sua
estrutura interna. Os cristáos separa m-se corajosamente do Judaísmo, por
se ter tornado incompatível com a nova fé. Nao se separam, porém, nem se
op6em ao Império Romano. Vivem nele e nele se organizam, de modo li-
vre. Sao cristáos sem deixar de ser cidadáos romanos.
A grande síntese que se intui nesta dialética é Cristo, Senhor do mundo.
Nao se opoe as estruturas políticas do tempo. Apenas pede q!le lhe seja
dada a liberdade de viver dentro dos moldes trazidos do céu. E um novo
senhorio, que atinge as consciencias. Traz uma nova mística, na qual o pró-
prio Cristo é o centro indiscutível. .
[esus nao trouxe uma Igreja pronta. Incumbiu, porém, seus discípulos,
aos quais transmitiu, além da doutrina e dos poderes, também a luz e a for-
ca do Espírito Santo, de pregar o Evangelho e tornar todos os homens seus
discípulos. E como conseqüéncia, ir organizando o grupo dos que cressem.
O fator número comporta exigencias sempre novas. Uma coisa é organizar
b) Decadencia romana
A belíssima descricáo da política romana, exarada no Primeiro Livro
dos Macabeus, em linha geral, correspondía a verdade. Roma era urna de-
mocracia, com seu senado e seus cónsules eleitos pelo povo. O sistema fun-
cionou bem, suscitando admiracáo em todo o mundo, pela perfeicáo do
método e pela disciplina das pessoas que o integravam. Aconteceu porém
a passagem do Rubicon, de Caía Júlía César.
Nao há dúvida que [úlio César foi urna personalidade de excepcional
envergadura: um dos maiores estrategas e estadistas da História. Mesmo
como literato ocupa um lugar de entre os clássicos latinos. Exatamente por
ser um homem de predicados tao excelsos, eclipsou, com a sua figura, todo
o sistema político vigente. Implantou uma ditadura. Seu nome ficará liga-
do a História, pela extraordinária atividade que desenvolveu pessoalmente
e pelo novo sistema que introduziu em Roma, transformando a República
em Império. Tal foi a sua influencia que seus sucessores se chamaráo com o
seu nome: Césares. E todos os que, por algurn motivo se julgam ligados ao
Império Romano, ao longo da História até ao século XX, mantenham o
mesmo título: desde o Kaiser da Alemanha até o Czar da Rússia.
A partir de César, o exército comeca a exercer preponderancia na políti-
ca romana. Até a sua ascensáo a prímeíra chefia de Roma, a política compe-
tia exclusivamente aos políticos e a guerra ao exército. Agora, porém, este
há de determinar quem será o imperador, provocando guerras civis sem
conta. O senado perde sua funcáo específica, ficando apenas como urna es-
pécie de ornato e resquício do passado. A política sofre, pois, urna revira-
volta completa.
A própria sociedade romana passou por urna profunda transformacáo.
A corrupcáo comecou a alastrar-se, Nao certamente por causa da ditadura
militar, mas esta foi exatamente uma das conseqüéncias daquela. Algumas
classes gozavam de privilégios tais que acabavam oprimindo os mais po-
bres. A riqueza de uns, adquirida a custa de outros, levou a ociosidade e in-
clusive ao aumento da criminalidade e as mais diversas depravacóes de
q1.1efala S. Paulo no início de sua carta aos Romanos.
Antítese:
O SISTEMA CRISTÁO
42 I D. Dadeus Grings
Síntese:
A ERA DOS MÁRTIRES
dalo cristáo.
Quem, ao invés, o vive na perspectiva da morte e ressurreicáo de Cristo
é capaz de entendé-lo. Porque o vive. Entáo o sofrimento adquire outro
sentido. Nao se há de fugir da Cruz, mas assumi-la todos os días, com co-
ragem, para seguir [esus. Os primeiros crístáos souberam rnorrer por amor
a Cristo e aos homens e, ao mesmo tempo, perdoar e aguardar, na eternida-
de, a conversa o de seu s algozes, para um abrace de indizível alegria no Se-
nhor, que perdoou e redimiu a todos com a sua Cruz.
Por isso, quando alguém sofre, muitas vezes, nao há palavras para con-
solar. Somente a Cruz, a identificacáo com os seus sofrimentos para, con-
sofrendo, viver na esperanca da con-glorificacáo. Na base da Leí da Cruz
está o mistério do pecado, o mistério da maldade humana. A humanidade
nao está num processo de desenvolvimento ascensional tranqüilo. Ser pos-
terior no tempo nao significa necessariamente mais desenvolvido, nem
mais perfeito, nem mais verdadeiro. Há quedas, altos e baixos, ódio, cobi-
ca, orgulho ... Por isso, para a libertacáo da humanidade se requer, além da
pregacáo da Boa Nova, também a reparacáo. A Cruz, que indica o método
de quem sofre para redimir, aponta para o amor que vence o ódio, para o
perdáo que supera a ofensa. Mostra que, assumindo com amor as contra-
riedades, o sofrimento e a própria mor te, se abrem perspectivas de vida em
plenitude. Nesta perspectiva se colocam as bem-aventurancas, O preco da
felicidade é urna renovacáo espiritual em Cristo e o seu segredo a fé emé
Tese 3:
O PODER POLíTICO
76 I D. Dadeus Grings
Tese 7:
EXAGERO S DEVOCIONAIS
Enquanto a autoridade da Igreja, no Ocidente, fazia frente aos graves
problemas e perigos que atingiam a populacáo em todos os planos, devído
a um enorme vazio político, no Oriente os Imperadores interferiam cada
vez mais nas quest6es internas da Igreja, Parece paradoxal: no Ocidente a
autoridade eclesiástica assume grande parte das funcóes da autoridade ci-
vil, que praticamente inexiste, enquanto no Oriente, ao invés, a autoridade
civil se intromete nas questóes da autoridade eclesiástica, provocando sé-
rios atritos.
Várias quest6es estavam pendentes no Cristianismo, que afetavam par-
ticularmente os cristáos do Oriente. Mal se havia debelado o Arianismo,
surgía o Nestorianismo. O Cristianismo, no Oriente, novamente se dividiu
em duas partes, mesmo após o Concílio de Éfeso, que tentara equacionar o
problema, resolvendo-o em questáo de principio, com a definicáo da uni-
dade da pessoa de Cristo.
Levando ao extremo a reacáo contra o Nestorianismo, aparece outra ex-
crescencia no Cristianismo, a sustentar a opiniáo de que, em Cristo, há urna
só natureza. É o Monofisismo. O Concílio de Calcedónia, em 451, definiu a
doutrina ortodoxa, condenando, como herética, a doutrina do Monofisis-
mo. Nova ruptura da unidade eclesial. Quando, mais tarde, se tentou con-
ciliar as posícóes, procurando atrair os monofisitas para a unidade, com a
doutrina da única vontade em Cristo - donde Monotelismo - nao se fez se-
nao criar urna ruptura a mais.
Os Orientais davam a alma pelas disputas teológicas. Iam até ao fundo
das questóes. E a partidpacáo nos debates era intensa. Extravasava as esfe-
ras dos especialistas e descia as ruas e penetrava até nos bares. O Cristia-
nismo popular, no Oriente, apresentava uma forte armadura cultural.
Mas nao eram só discuss6es dogmáticas. Havia também urna profunda
piedade popular. Desde que a Igreja introduzira a devocáo aos mártires e
aos santos, as práticas de piedade foram tomando proporcóes impressio-
nantes. Esta piedade se concretiza va principalmente nas imagens e nas relí-
quias dos santos.
O santo sabia-se estar no céu. Ter, porém, aqui na terra, algum objeto
seu, ou urna imagem su a, nao só ajudava a lembrá-lo e a invocá-lo, mas
ainda tinha um efeito especial- e por que nao dizer mágico? - para os fiéis.
De instrumento pedagógico, a imagem transformara-se num valor em si,
desvirtuando evidentemente a verdadeira devocáo cristá. Poder-se-ia asse-
Ola/ética da Po/ftíca / 77
Antítese:
NOVA MENTALIDADE
SACERDÓCIO E IMPÉRIO
8
A IGREJA DEFENSORA
Tese 8:
A INSEGURAN<;A EUROPÉIA
Desde a "invasáo dos Bárbaros" e a conseqüente queda do Império ro-
mano do Ocidente, no século V, a Europa vive em sobressaltos. A primeira
conseqüéncia trágica da migracáo dos POyOS foi certamente o esfacelamen-
to do Império. Criaram-se diversos estados autónomos e muitas vezes an-
tagónicos. A Europa esta va em efervescencia. Problemas políticos, econó-
micos, sociais e religiosos estouravam por toda a parte. Perdera-se a paz ro-
mana.
Aos poucos, porérn, a situacáo interna se foi estabilizando. Os POyOS
recém-chegados converteram-se ao Catolicismo, voltando a reinar a unida-
de religiosa na Europa cristá. Mas era praticamente só. O único vínculo que
ligava os europeus entre si era a Igreja. Políticamente continuavam as díví-
sóes e oposícóes.
Nesta altura, principalmente a partir do século Vil, se adensam nuvens
negras nos horizontes, arneacarido desabar em temporal sobre toda a Euro-
pa. Num extremo, MaOlné encabece um novo movimento expansionista e
religioso, que logo vai criando corpo. Une, inicialmente, os Árabes, numa
unidade religiosa e política, sob o Islam. Seus sucessores lancam-se a con-
quista do mundo, avancando rápida e irresistivelmente sobre as áreas ocu-
padas pelos cristáos, Conquistam o norte da África e atravessam o Gibral-
tar, ameacando apossar-se de toda a Europa, a comecar pelo Oeste. Nao sa-
tisfeitos com a Espanha, póem o pé na Sicília e avancam pelo sul, através
da península itálica. A Europa treme.
Antítese:
NOVOSPOVOS
No século IX, existia, no Leste europeu, um reino que hoje abrangeria a
Morávia, Eslováquía e parte da Hungria. Ratislau, para garantir sua inde-
pendencia política e, ao mesmo tempo, salvaguardar sua autonomia cultu-
ral, arneacadas pelo Ocidente e, especificamente, por Luís O Germánico, rei
da Baviera, enviou urna embaixada a Constantinopla para obter apoio do
Imperador do Oriente.
O Imperador de Constantinopla enviou para a Morávia os irrnáos de
Constantino que, após seu ingresso no monacato se chamaráo Cirilo e Metó-
dio. 05 dois irmáos logo se empenharam em criar urn alfabeto para a língua
eslava e traduzir para esta língua também trechos seletos da Bíblia. Criou-
se, deste modo, por meio desses missionários, urna nova língua literária,
tomando em consideracáo os diversos dialetos existentes na regíáo. Será
logo urna das tres línguas litúrgicas, ao lado do grego e do latim, que servi-
rá aos eslavos, búlgaros, russos e sérvios.
94 / D. Dadeus Grings
Día/ética da Política I 95
Antítese:
O SÉCULO OBSCURO DE FERRO
Síntese:
AS FORC;AS INSONDÁ VEIS DA mSTÓRIA
de sempre comecar de novo e edificar obras ainda melhores que as que pe-
recem. Pela dial ética humana, vista apenas numa perspectiva material, dir-
se-ia que a síntese das crises dos séculos IX e X deveria ser a dissolucáo to-
tal. Poder-se-ía clamar pelo fim dos tempos. Tudo estava em ruína, inclusi-
ve a Igreja. E como símbolo, a Basílica de S. [oáo do Latráo jazia por terra.
Síntese:
A LUTA DAS INVESTIDURAS
as veras de seu coracáo, que o poder espiritual caísse sob o domínio dos
leigos. Lutou denodadamente pela autonomía da autoridade eclesiástica.
Mas foi longe demais ao excluir praticamente da Igreja toda autoridade
leiga. Criou urna Igreja clerical, ou seja, um espírito sem corpo. Rompía-se
o equilíbrio entre Papado e Império, para evidente prejuízo da Crístanda-
de. Gregório VII teve algumas rusgas também com outros reís, no intuito
Síntese:
A CRISTANDADE
Deus aqui na terra em marcha para a eternidade. Incl ui, poís, corpo e espí-
rito, aspecto pessoal e social.
Até 313, o Cristianismo corre como que paralelo ao Império romano.
Enquanto aquele se preocupava prevalentemente com a parte espiritual,
este promovía a parte material. Mesmo assím, nem um nem outro prescin-
día de ambos os aspectos, o que ocasionou, inclusive, muitas perseguicóes.
A Igreja tentara organizar-se também no plano social, com a comunidade
de bens de [erusalém, que logo faliu, e com urna série de obras de caridade,
por toda a parte, que continuavam a florescer.
Quando o Império se toma oficialmente cristáo, aparentemente termi-
na o dualismo. Comeca o regime de Cristandade: ao poder civil é confiada
a tarefa material e ao poder espiritual a tare fa religiosa. Ambos formam a
mesma e única Igreja. Com a restauracáo do Império, na Idade Média, pa-
rece claro: a parte material da Igreja cabe ao Império e seus auxiliares e a
parte espiritual ao Papado e Episcopado e seus auxiliares.
14
A IGREJA DOS POBRES
Tese 14:
TENDENCIA A. RIQUEZA
Antítese:
MOVIMENTO PAUPERíSTICO
A reacáo contra a riqueza, no século XII, nao surgiu por motivo de jus-
tica, como acontecerá no século XX, mas por motivo de religido. Os monges,
Antítese:
NOVA REALIDADE POLÍTICA
o grande erro de Bonifácio Vlll foi nao reconhecer que os tempos ha-
viam mudado. Quis governar a Igreja no século XIV com a mentalidade do
século XII, ou com a concepcáo de Inocencia ID do início do século XID.
A linha dos "pobres de Cristo" e toda a linha dos espirituais havia cria-
do urna concepcáo nova de Igreja. A plenitude do poder papal, que vencera
os Hohenstaufen, do Império, comecava agora a ser combatida dentro da
própria Igreja. Quando Nicolau IV, em 1292, desda a sepultura, comecava
urna grande luta pela sucessáo. Nao estavam, certamente, em questáo pes-
soas, mas concepcóes de Igreja. As duas famílias: Orsini e Collonna, disputa-
vam o páreo. O conclave durou dais anos, sem se chegar a urna conclusáo.
Por fim decidiu-se oferecer a tiara a urna pessoa totalmente estranha ao co-
légio cardinalício, mas conhecida pela fama de santidade: o eremita de ri-
gorosa vida ascética, Pedro de Morrone, que tomo u o nome de Celestino V.
18
A IGREJA DIVIDIDA
Tese 18:
ESpiRITO MESQUINHO
Síntese:
O REGIME DE PADROADO
A descoberta de novos povos, ainda pagáos, colheu de surpresa a Cris-
tanda de européia. Além do mais, tratava-se de povos que estavam tremen-
damente longe, tanto geográfica como culturalmente. Exigía-se uma nova
mentalidad e e urna nova técnica.
Nos primeiros tempos do Cristianismo, O trabalho missionário fizera-se
por urna penetracáo capilar, conquistando, um por um, os pagáos. Após a
conversáo de Constantino, ínvertera-se o trabalho, tentando atingir os po-
vos de cima. O empenho missionário consistía, prímeíro e prevalenternen-
te, em atrair e converter os reis e príncipes e depois, com o apoio des tes,
batizar as turbas. Certamente menos profundo, este método era mais efi-
caz, apresentava resultados em grande escala, e era menos dispendioso.
Tese 22:
ABSOLUTISMO REGIO
NICOLAI CO
PIiRNJCI TOlllNENSJS
". "•• O"."JO.'.'" o .....
_ a:doftIin ,l.i&ri ;¡:
o liuro de Copérnico
que reuolucionou
a concepdio do mundo.
Mostra como é possível ceder na prática, nas questóes políticas, que sem-
pre estáo abertas a muitas opcóes e que nao necessariamente estác ligados
incondicionalmente aos princípios ideológicos. Volta a figura de Jesus
diante das autoridades públicas, mandando dar a César o que é de César e
a Deus o que é de Deus.
Na prática, nem sempre fácil discernir. Muitas opcóes políticas de-
é
25
A IGREJA E A INDEPENDE:NCIA
Tese 25:
AS NOVAS NAC;ÓES NA AMÉRICA
assunto que lhes diz respeito e que lhes interessa de perto, corresponsabilí-
zando-os.
Apesar de constituírem os pobres da nacáo e apesar de nao gozarem de
nenhum privilégio nem subvencáo estatal, a Igreja norte-americana se im-
pos por seu trabalho e pertinacia. Nao urna Igreja dependente. Tem seu
é
clero próprio, sua cultura e dinamismo próprios. É certo que os países lati-
no-americanos nao poderiam copiar este modelo, porque surgem de outro
contexto histórico e de outra índole racial. Um latino-americano, dificil-
mente, se adaptaria áquele sistema. Mas ele tem o mérito de ser próprio e
nao mera cópia de outros países.
Para o Catolicismo, o surgirnento de países independentes, com popu-
lacáo católica, além da Europa, é muito significativo. Abre-se para o mun-
do. Até o século XIX, a Igreja estava praticamente confinada a Europa. O
resto eram missóes, Quem decidia a política eclesiástica era a Europa. Nao
só Roma. Eram as potencias católicas: Franca, Espanha, Império e Itália.
Excetuando a breve hegemonía napoleónica, que de católico nao tinha
nada, predominam, na Europa do século XIX, as potencias nao-católicas,
que sao a Inglaterra, Alemanha e Rússia.
Com a independencia dos países da América se alarga, consideravel-
mente, a visáo do Catolicismo. Certamente se falará ainda, a longo, das re-
lacóes do Cristianismo COm a Europa, mas agora já nao se trata mais de
urna reversibilidade. Até o início do século XIX, a Europa era maior que a
e
Pepino, 89 Ratislau, 94
Perpétua (Santa), 47 Reducóes indígenas, 197ss
Perseguic;ao, 21, 42 Reforma, 112, 118, 171, 176, 177, 179, 180,
Peste negra, 154, 159, 160, 171, 172, 356 181,182,183,184,185,190,193,203,
Petrarca, 159, 165 205,207,208,324 ss, 331
Pilatos, 196 Rei,21
Pio 11, 175, 188 Reino de Deus, 25
Pio IV, 184 Religiao,44,74, 135, 148,172,195,255,
Pio V, 188, 189, 332 306,307,347,354
Pio VI, 226, 228, 230, 235, 319 Renan, 256, 261
Pio VII, 21,225,233,235-241,246,302,319 Renascenc;a,172
PioIX, 21,210,236,261,268,280, 282,285, República, 230, 242, 243, 263, 285, 286,
287,310,311,319 308,309,310
Pio X, 269, 287, 310, 311 Rerum Novarum, 283, 284
Pio XI, 273, 294, 302-305, 312-315, 320, 322- Revolucáo francesa, 226 ss, 253, 257, 265,
324 275,277,279
Pio XII, 315, 320, 323, 324, 326, 332 Revolucáo francesa (de 1848), 233, 263
Pisa (concilio), 169 Revolucáo russa, 292,296,311
Plessis, 250 Ricardo (dos Visigodos), 74
Plínio,45 Ricci (Lourenco), 225
Pluralismo, 287, 306, 307 Richilieu, 204
Pobres de Cristo, 130-140,143,151 Rigorismo, 38
Pobreza, 135-139, 251,235,251,275,283 Riqueza, 135, 136, 137
Poder, 16,27,51,53,54,55,112,136,145, Rodolfo, 115
148,195,351 Roma, 37,40,63, 64,68, 70, 85, 109, 129-
Policarpo,38 135,152,160,162,164,165,166,167,
Política, 11, 12, 13,44,74,88,91,113,117, 171,174,176,183,208,209,210,248,
129,130,148,168,172,179,186,190, 263,319,331,332
191,192,195,196,202,203,209,228, Romanos, 4ss
236,238,239,252,255,256,259,260, Rómulo,66
265,266,280,284,285,301,306,307, Rufino,66
309,311,313,325,326,334,335,338, Rupturas, 347, 348
343,347,349,354,358,360 Rússia, 286, 292, 298, 322
Polónia, 312
Pontificado, 91, 169, 170, 171 S
Portugal, 193, 194, 197, 203, 225, 243, 290, Sacerdote, 21
296 Sacro Império, 21, 91
Positivismo, 256 Salazar, 296, 298, 315
Prática, 192, 193 Santa Alianca, 233
Proletariado, 275, 276, 280 Savonarola, 175,176
Protestantismo, 178 55,188 ss, 213 Sebastiáo (Sao), 49
Proudhon,278,279,292 Sepé Tiaraju, 202
Pulquéria, 79
Sérgio m, 104, 105
Sérgio Patriarca, 82, 83
Q Setímio Severo, 47
Questáo social, 282, 283 Sexo, 135
Sigismundo, 169, 180
R Simonía, 110
Racionalismo, 190, 191,256,257 Silvestre 11,107,109
Rafael Sanzio, 178 Sínodo romano, 303
U Z
Unam Sanctam, 146 Zeno, 60, 68, 79
EDI u,-".,
filiada a ABEU