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Gestão de

formação de atletas
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2011
Gestão de
formação de atletas
Lato Sensu
Resumo investimentos em infra-estrutura, elaboração
A proposta do presente texto é de oferecer de políticas públicas e também com discus-
ao gestor esportivo que atua na formação de sões sobre a reformulação de leis do esporte,
atletas, um conjunto de informações pertinen- como outras iniciativas, levam a crer que o
tes a área. Apesar de haver uma diversidade legado social, econômico e cultural que fica-
de conteúdos possíveis para a elaboração da rá no país será de extrema relevância para a
presente discussão, optou-se por apresentar melhoria da vida em geral.
alguns aspectos que permitem ao leitor com- Nesse cenário, um tema que tem tomado
preender de forma articula o cenário com- a atenção de profissionais de diferentes áre-
plexo e dinâmico que é o esporte. Enfoques as, envolvidos com a vida esportiva, é a dis-
como a atribuição de valores ao esporte, a di- cussão sobre a profissionalização da gestão
mensão de seus aspectos conceituais e abran- esportiva. Veículos da comunicação de cir-
gência de atuação, permite identificar a forma culação nacional, como revistas, sites espe-
e conteúdo das práticas esportivas, praticadas cializados na internet e jornais têm apresen-
geralmente no interior de estruturas clubísti- tado reportagens destacando a necessidade
cas preparadas e concebidas especialmente que as instituições esportivas, principalmen-
para esse fim. Também, é primordial ao pro- te os clubes esportivos, estão na moderniza-
fissional que se pré-dispõe a atuar nessa área, ção das entidades de prática e administração
distinguir a função do gestor. do esporte.
Levando em consideração a influência dos
Palavras chaves: esporte – gestão – clubes. programas esportivos de formação de atletas
em nosso país, para com a estrutura do espor-
te nacional, há de destacar que o trabalhos
1 Introdução realizados são constituídos a partir do esforço
de uma gama diversificada de profissionais
A prática esportiva tem sido reconhecida (profissionais de educação física, psicólogos,
como um fenômeno social relevante na vida médicos, fisioterapeutas, nutricionistas) que
das pessoas e da sociedade em geral, com distribuídos em organizações públicas, pri-
um número significativo de crianças, jovens, vadas ou do terceiro setor, promovem proje-
adultos ou idosos que despendem tempo e tos multidisciplinares e interdisciplinares que
dinheiro para a sua prática ou consumo. E, atribuem forma e significado aos mesmos.
a capacidade de penetração em diferentes Algumas vezes esses programas esportivos 1
sociedades, sem distinção sócio-cultural ou são justificados, independente da característi-
econômica atrai, a cada dia, um número ca da organização, pelo entendimento como
maior de adeptos. meio e outras como fim em si mesmo, ou seja,
Especificamente no Brasil, com o advento pode-se dizer que os programas contemplam
de mega eventos esportivos como a realiza- projetos de educação pelo e para o esporte.
ção da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e No caso do esporte ser utilizado como ati-
a Olimpíada em 2016, o esporte tem ganhado vidade meio – atividade complementar para
mais destaque em todas as esferas da socie- outros setores- a atividade esportiva vincula-se
dade. A mobilização pública e privada para a tantas outras secretarias, como a Secretaria
a concepção desses acontecimentos com de Saúde e Educação, buscando legitimá-las.
Quando se menciona o esporte como meio disciplina, dentre outros. Com a abordagem
ou fim de uma política, ou de programas, é leva- compensatória, as propostas para a recupe-
do em consideração os valores atribuídos a ele. ração dos desgastes físicos ou emocionais
Com isto, apresentar uma discussão sobre o provocados pelos estresses provocados prin-
assunto irá elucidar detalhes importantes para cipalmente no ambiente do trabalho, são os
a melhor compreensão da gestão esportiva na objetivos mais evidenciados.
formação de atletas. Ainda é pertinente incluir mais uma vi-
são quanto a abordagem central dos projetos
de treinamento de crianças e jovens na pers-
2 Valores atribuídos ao esporte pectiva de formar atletas que está na questão
romântica da prática esportiva. No exemplo
Não é o propósito de este tópico esgotar do discurso do fair play1 , reforçado no argu-
o assunto sobre duplo aspecto educativo do mento de que o importante não é vencer, mas
esporte, mas examinar a ocorrência de um competir, isso fica bem destacado.
entendimento do esporte como instrumento A intenção de apresentar os valores atribuí-
de educação, tendo em vista que existem al- dos a pratica esportiva, essencialmente aos pro-
gumas correntes com a tendência de atribuir jetos de formação de atletas, não é de adotar
valores aos projetos esportivos, cujas justifi- uma postura maniqueísta, mas a de propor re-
cativas estão apoiadas em argumentos a partir flexão sobre essas abordagens para evidenciar
de uma perspectiva funcionalista com visões compreensões reducionistas que tendem a atri-
moralistas, utilitarista, compensatórias nas buir, muitas vezes, responsabilidades e expecta-
mais diversificadas formas de abrangência, tivas de resolver problemas sociais pelo esporte,
que conforme Cunha Jr. (1999) a teoria fun- nas quais compromete a gestão do mesmo.
cionalista predomina uma visão instrumental Entretanto, cabe frisar que o objetivo não é
do esporte que assume essas funções. descaracterizar os possíveis retornos positivos
Tratar do esporte como veículo de educa- conquistados pelos vários projetos esportivos
ção é considerar suas potencialidades para o de caráter social, pois é fato que existem pro-
desenvolvimento pessoal e social dos indiví- jetos sociais vinculados ao esporte que tem
duos, seja como finalidade de consumo, como apresentado indicadores de melhoria de algu-
repouso e prazer propiciados pela prática, ou mas questões sociais, nas quais o mesmo está
mesmo como incentivo de auto-aperfeiçoa- inserido. A exemplo disto cabe citar os proje-
mento. Nesse sentido, um primeiro aspecto tos em zona de vulnerabilidade social, como
a considerar é que o esporte pode ser aceito na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro:
pela riqueza de possibilidades que oferece.
Nessa dimensão, cabe reconhecer a pers- Acreditamos que a prática esportiva
pectiva da abordagem moralista que identifi- como educação social, além de am-
pliar o campo experimental das crian-
ca-se nos trabalho com discurso de propos- ças e jovens, cria obrigações, estimula
tas para retirar as crianças da marginalidade a personalidade intelectual e física e
ou afastar dos vícios das drogas a partir da oferece chances reais de integração
oferta de programas esportivos que ocupem
social. O campo pedagógico do es- 2
porte é complementar às nossas prá-
o tempo ocioso das mesmas. Na perspectiva ticas artísticas no sentido de melhorar
utilitarista, os projetos consideram a oportu- o desempenho dos Zezinhos através
da concentração, do desenvolvimento
nidade das crianças adquirirem hábitos, com- da autoconfiança, do autocontrole, da
portamentos ou mesmo habilidades que con- capacidade de comunicação e ajuda
tribuirão para sua vida adulta, preparando-as também a estabelecer novos modos de
enfrentar situações de stress.2
inclusive para o trabalho, apontando que tais
práticas auxiliam na formação do caráter, 1 Termo utilizado para designar jogo limpo, instituído pelo
Barão de Coubertin, para destacar os ideários olímpicos.
ressaltando alguns valores vinculados com a
2 Disponível em: http://www.casadozezinho.org.br/
prática esportiva, como: capacidade de supe- projetos_detalhes.php?ca=24&cp=8. Acesso em 25 de
rar desafios, aprender a lidar com a derrota, abril de 2010.
Marcos Ruiz da Silva
Outro fator que merece ser destacado, “À medida que a sociedade foi sendo
quanto às projeções vinculadas com o desen- redimensionada em seus fatores de de-
senvolvimento orgânico, suas técnicas
volvimento de projetos esportivos, está rela-
de produção e industrialização, suas
cionado à perspectiva que conferem ao espor- manifestações culturais e seus sistemas
te das crianças à oportunidade de saírem de de reconhecimento e relacionamento
sua condição socioeconômica, a partir de sua social, também o desporto adquiriu
novas funções e definições sociais, e,
profissionalização, ou seja, se tornarem atle- com elas, outras possibilidades de aná-
tas profissionais. Mesmo com maior destaque lise.” (Marchi Junior, 2005, p. 126)
os exemplos de vários atletas de futebol que
saíram de sua condição precária de moradia, Outro aspecto a atentar é que, apesar de
alimentação e educação, muitas vezes de mi- características culturais de cada coletividade
séria, para alcançar espaço destacado de mo- orientar as pessoas à forma de relacionar-se
delo de sucesso na sociedade, essa projeção com o fenômeno esportivo, existem institui-
também está voltada a outras modalidades es- ções que administram a pratica esportiva em
portivas mesmo com menor visibilidade, refor- todo o mundo, estabelecendo o contorno de
çando uma esperança nos praticantes, como o seu funcionamento, favorecidas pelo mode-
atletismo, o voleibol, basquete e outras. lo hierarquizado da administração esportiva
O problema central, nessas abordagens, (Órgão Internacional de Organização do des-
está nas ideias pré-concebidas e nos valores porto, os órgãos nacionais, os órgãos estadu-
atribuídos ao esporte que reforçam a com- ais e os regionais –Ligas, Federações, Confe-
preensão reducionista do objeto, induzindo a derações e órgãos internacionais) que regram
um olhar míope sobre o objeto e que o gestor a forma de funcionamento das diversas mo-
esportivo, muitas vezes, encontra-se envol- dalidades esportivas vinculadas às entidades
vido e acaba por comprometer seu trabalho de prática do esporte, pelas quais se estabele-
com falsas promessas e esperanças. Mesmo ce a dinâmica funcional da vida esportiva nas
porque não é possível atribuir ao esporte toda sociedades.
a responsabilidade para resolver ou conter os Essa hierarquização estabelece um for-
mais diversos problemas sociais. mato muito específico de funcionamento da
Nessa perspectiva falar sobre gestão de cada tipo de modalidade esportiva que é re-
formação de atletas é admitir que exista um produzido nos países que mantém o vinculo
cenário complexo, dinâmico e multifacetado, com os órgãos reguladores. Entretanto, ape-
no qual diversas variáveis constituídas duran- sar da uniformização de um conjunto de re-
te todo o processo civilizacional se relacio- gras, das formas de disputa de campeonatos,
nam num determinado ambiente, orientadas e outras peculiaridades de cada modalidade
pela compreensão do fenômeno esportivo esportiva, que estabelecem certos direcio-
que cada sociedade formou durante seu de- namentos para a prática, vale reforçar que a
senvolvimento. interpretação do esporte na vida das pessoas
Com isto, um primeiro aspecto a conside- mantém as características impregnadas pela
rar sobre o esporte é que ele é um termo po- cultura de cada povo, porém influenciada por
lissêmico, resultado dessa construção social, ambientes externos, no caso, as entidades de 3
carregado de ideias preconcebidas, valores e administração do esporte.
ideologias. Isto porque cada sociedade impri- Quando mencionado as entidades de
me sua compreensão, a forma de ser relacio- administração (federação e confederações) e
nar com o objeto e são vários os exemplos de prática do desporto (clubes), há de consi-
da utilização do esporte como instrumento derar que o tema gestão do esporte é relati-
de manipulação política, ideológica e outros. vamente recente nas discussões acadêmicas
Um caso emblemático foi dos Jogos Olímpi- e também na sua profissionalização para um
cos de 1936 em Berlim, Alemanha, quando trabalho pautado na cientificidade. Um pon-
Hitler usou dos mesmos para tentar demons- to relevante sobre o processo de profissiona-
trar ao mundo, supremacia da raça ariana. lização esportiva em nosso país esta na forma
Marcos Ruiz da Silva
da constituição dessas entidades, pois foram tiu muito à ideia dos atletas receberem algum
criadas e administradas, por muito tempo, por tipo de pagamento para participarem das dis-
indivíduos relacionados com a vida esportiva putas esportivas, até às diversas modificações
que voluntariamente dedicavam parte de seu das concepções filosóficas, direcionando à
tempo para gerir as mesmas. visão de mercantilização do esporte, suas dis-
Apesar do modelo de gestão não ter so- cussões tem tomado proporções significativas
frido muitas alterações, ou seja, geralmente a na sua reestruturação, passando a ser também
federações e clubes ainda são geridos por vo- ser denominado como indústria do esporte.
luntários, há uma série de mecanismos ado- Ponderando o esporte na perspectiva co-
tados, como a contratação de profissionais da mercial, pode-se afirmar que há um mercado
área do esporte para atuarem como gestores contemplando vários negócios gerados por
no nível da média administração, que tem atividades esportivas, tais como: patrocínios,
contribuído para a profissionalização da ges- licenciamentos de produtos, comercializa-
tão esportiva. ção dos direitos de TV e outras mídias, tran-
Apesar de haver uma evolução na profis- sação de jogadores, realização de eventos,
sionalização da administração esportiva du- dentre outros.
rante todo o processo de seu desenvolvimento É interessante destacar que houve uma
no país, é possível destacar que a realização evolução muito diferenciada em termos admi-
dos Jogos Olímpicos em Los Angeles de 1984, nistrativo-organizacionais de algumas modali-
foi um marco que influenciou pensar a gestão dades esportivas, por contar com a influência
do esporte de uma forma mais profissional do modelo de gestão adotado. O caso da Con-
por serem os primeiros Jogos que tratou da federação Brasileira de Voleibol, entidade má-
comercialização do mesmo com perspectivas xima da administração desse esporte no país,
de alçar lucro em sua realização. ganha destaque no meio esportivo pela admi-
Mesmo influenciada pelo mercado, a pro- nistração profissional que adotou. O prestígio
fissionalização esportiva conta com a interfe- da administração do voleibol influenciou sig-
rência do Estado para a determinação de as- nificativamente a sua representação no cená-
pectos de ordem legal sobre o funcionamento rio nacional pelas conquistas obtidas pela se-
das entidades envolvidas com a vida esportiva leção de vôlei e também pela capacidade de
no país. Especificamente no Brasil, é possível tornar a modalidade um produto de destaque
destacar algumas iniciativas, de certa forma na preferência dos brasileiros.
recentes, do Estado no controle da pratica Entretanto, é pertinente, a critério de re-
esportiva que contribuíram para a “corrida” flexão, apontar que ao contrário de um mo-
pela profissionalização da gestão esportiva, delo de gestão do esporte profissional de su-
como a formulação da Lei Zico (8672/93), cesso, como o caso do voleibol, o futebol,
da Lei Pelé(9615/98), o Estatuto do Torcedor ( considerado paixão nacional, não consegue
10.671/2003), dentre outras. apresentar o mesmo desenvolvimento, ou
Outro aspecto interessante de se observar seja, questiona-se que pela abrangência des-
quanto à evolução das discussões sobre ges- sa modalidade no cenário brasileiro e o volu-
tão do esporte está vinculado à ideia de existir me de negócios gerados com ele, com ven- 4
um esporte amador e um esporte profissional, da de produtos (camisetas, bolas, bandeiras
enquanto prática. Apesar de cada forma de e outros objetos de consumo), com a venda
afinidade com o esporte estabelecer critérios de jogadores, os patrocínios milionários das
de análise e também comportamentos distin- empresas, receitas de bilheterias, a sua gestão
tos, existe uma relação de interdependência é ineficiente, hermético. A exemplo disto é
entre ambos provocando influências entre possível destacar as diversas articulações po-
um e outro. líticas dos clubes de futebol, junto ao Estado
Desde condenado pelo ideário burguês, para conseguiram refinanciarem suas dívidas
sob a concepção da ética do movimento com as diversas esferas do Estado (federal, es-
olímpico, na qual a sociedade em geral, resis- tadual e municipal).
Marcos Ruiz da Silva
3 A estrutura do esporte de
Considerando que assuntos relacionados
ao tema gestão de esporte no Brasil ainda está competição surge nos clubes
em fase de consolidação, é pertinente atentar
para o alerta que faz Bastos (2003) de que é Primeiramente, é conveniente fazer uma
necessário para o aprimoramento desse cam- descrição sobre a interpretação da manifesta-
po de atuação, que se conheça a realidade ção esportiva nos clubes para entender melhor
do esporte no Brasil, de suas condições e ne- esse objeto, e com isso identificar a aptidão
cessidades existentes. Esse aspecto permitirá dessas entidades na evolução das práticas em
a construção e a consolidação de práticas ad- seu meio. Para isto, será adotada a compre-
ministrativas aplicadas aos diversos segmen- ensão do Ministério do Esporte sobre esporte,
tos do esporte, levando em consideração as por acreditar que ela contempla orientações
características socioculturais de cada região que permitem identificar a especificidade dos
do país. objetivos a serem alcançados com a prática.
A figura do gestor esportivo no Brasil, é o Todavia vale lembrar que a intenção des-
resultado da evolução da própria organização sa discussão não é propor uma discussão
esportiva em nosso país e apesar de poder- conceitual sobre esporte, mas dar atenção a
mos afirmar que as mobilizações de diversos alguns aspectos de ordem prática quanto a
grupos sociais no fomento ao esporte, datam identificação do ambiente e a finalidade do
iniciativas do século XIX, o tema gestão es- mesmo para com a prática esportiva.
portiva inicia um processo de evolução mais Conforme a lei (9.615/98) que institui
evidente nas discussões, a partir do momento normas gerais sobre a prática esportiva no
que se inicia o processo profissionalização do país, há uma distribuição da manifestação
atleta no esporte. esportiva compreendida em três fenômenos
Apesar das entidades clubísticas assumi- distintos, como o esporte participação, asso-
ram o papel de entidade de prática despor- ciado ao lazer, ou melhor, às práticas esco-
tiva no país e serem responsáveis, em gran- lhidas pelos indivíduos para ocupar o tempo
de parte, pela disseminação das diferentes livre desobrigados de regras, seja qual for o(s)
modalidades em todo o território nacional, objetivo(s) motivador(es) pela forma, modali-
havia ainda a necessidade de se organizar dade ou intensidade de participação; esporte
e gerenciar esta prática. É interessante ob- educação, vinculado às práticas realizadas na
servar que tanto a prática esportiva como esfera da escola com objetivos distintos cons-
a gestão, no século XIX e inicio do século tituídos nas diretrizes currículares; e o espor-
XX, eram amadoras. O Movimento de pro- te rendimento, que trata do esporte praticado
fissionalização da área pode ser observado com objetivo de alcançar a alta performan-
em publicações a partir das décadas de 50 ce, com possibilidade do praticante atingir a
e 60, com manuais de organização espor- profissionalização e também com sua capa-
tiva, sugerindo modelos de regulamentos cidade de gerar negócio. MINISTÉRIO DO
e estatutos, bem como, fornecendo exem- ESPORTE (2005).
plos de estrutura organizacional esportiva. Tendo em vista o objetivo deste texto, que
(Bastos, 2006) é discutir sobre a gestão da formação de atle- 5
Tendo em vista que os clubes socio-des- tas, sem descaracterizar a relevância de cada
portivos são o panorama em que se estabe- manifestação, será destacado o esporte de
leceu o incremento da prática esportiva de rendimento, devido sua relação mais direta
forma sistemática, com os treinamentos regu- com o assunto. Desta forma, cabe esclarecer
lares de atletas e também pela constituição e que manifestação esportiva, especificamente,
participação de eventos esportivos de compe- que trata do esporte de rendimento pode ser
tição - campeonatos e torneios -, discutir so- organizada e praticada de dois modos:
bre sua dinâmica permitirá visualizar alguns • profissional - pensada como trabalho e
pontos para melhor compreender a dinâmica as suas implicações sociais, culturais,
da formação de atletas. econômicas e políticas; tem o intuito
Marcos Ruiz da Silva
de proporcionar retorno quer como atrelado às políticas públicas de esporte do Es-
conseqüência do aumento de renda, tado, como no caso do estado do Paraná, a re-
quer como institucionalização de uma alização dos Jogos Escolares, é relevante frisar
imagem positiva de qualidade. É inte- que o propósito da escola não é formar atletas.
ressante lembrar também, que quando Escondido por trás de um discurso fragili-
se fala de rendimento, de qualidade, zado pelas diversas incongruências, essa dis-
de negócio, começa-se a falar de ta- torção entre discurso e prática é conduzida
lentos, de seleção e, portanto, de eli- até o nível federal, com a realização dos jogos
tização e de exclusão, pois deixa de escolares brasileiros. A efetiva comprovação
ser para todos e passa a ser constituir não está somente na concretização dos Jogos,
privilégio apenas para uma parcela mas em todo o seu formato, seu conteúdo.
muito pequena, podendo compro- Voltando a considerar a dimensão do es-
meter de forma sensível os princípios porte, surge a possibilidade da prática espor-
democráticos com a prática esportiva. tiva constituir-se em prática de caráter formal
Para sua materialização existe entre o e não-formal, onde uma está caracterizada
atleta e a instituição de prática espor- pela liberdade na forma da participação, por
tiva a formalização de um contrato de inexistir a necessidade de cumprimento de
trabalho (Silva, 2009); regras ou normativas estabelecidas pelas ins-
• não profissional – independente da tituições administradoras do esporte (Federa-
probabilidade do atleta profissionali- ções, Confederações), e o outro pela prática
zar-se, esta fase é descaracterizada de subordinada a regras específicas de funciona-
qualquer formalização de trabalhista mento ditadas pelas federações ou confedera-
entre o atleta e a instituição em que ções existente no interior de cada modalida-
o mesmo pratica a atividade. Contu- de. Respectivamente, fica claro as dimensões
do, há abertura para o mesmo receber do esporte-lazer e o esporte-rendimento.
incentivos materiais e patrocínio, sem Para melhor compreender as práticas es-
ocorrer em qualquer vínculo com a portivas não-formais, denominadas enquanto
instituição formadora (Silva, 2009). jogo, sua distinção está pelo fato de ser:
Os diferentes aspectos do fenômeno es-
portivo, apresentado na proposta do Minis- uma atividade livre, conscientemente
tério do Esporte, propõem aspectos distintos tomada como “não-séria” e exterior à
vida habitual, mas ao mesmo tempo
de abordagem e campo de atuação, mas com
capaz de absorver o jogador de ma-
uma forte relação de interdependência entre neira intensa e total. É uma atividade
eles na constituição da cultura esportiva de desligada de todo e qualquer interes-
uma população, essencialmente quando vin- se material, com a qual não se pode
obter lucro, praticada dentro de li-
culado a formulação de políticas publicas. mites espaciais e temporais próprios,
Quando se aborda a questão do esporte, segundo uma certa ordem e certas
principalmente relacionada à formulação de regras. Promove a formação de grupos
políticas de atuação, um primeiro aspecto a sociais com tendências a rodearem-se
se considerar é exatamente a sua abrangên-
de segredo e a sublinharem sua dife- 6
rença em relação ao resto do mundo
cia e seu entendimento para que se possam por meio de disfarces ou outros meios
estruturar as estratégias de ação a partir do semelhantes.3
tratamento que será dado ao assunto, consi-
derando seu objetivo fim e a vinculação com De outra forma, é pertinente integrar as prá-
a característica da instituição promotora. É ticas esportivas formais ao conceito de esporte,
interessante observar, muitas vezes, discursos devido sua prática ser realizada de forma sis-
desarticulados das características da institui- temática e geralmente com objetivos de rendi-
ção e do fenômeno esportivo específico. mento. Isto porque, os resultados alcançados
Mesmo com exemplos de contradição exis- 3 HUIZINGA, J. Homo Ludens. 4 ed. São Paulo: Pers-
tente entre o discurso e a pratica da escola, pectiva, 1995, p. 13.
Marcos Ruiz da Silva
estão condicionados às regras dos órgãos ofi- Quando se fala especificamente de uma
ciais de administração do esporte (nacionais e entidade de prática esportiva, a intenção é
internacionais) e sua prática exige do atleta o estabelecer que exista um local, um espaço
cumprimento de determinadas rotinas de trei- físico, preparado e com recursos humanos,
namento e preparação para a participação em materiais e financeiros, para o desenvolvi-
competições. mento esportivo, que pela configuração, mes-
mo jurídica, está destinado à prática do lazer,
desporto de rendimento, praticado ou seja, não contempla o esporte profissional,
segundo normas gerais desta Lei e re- independente se em suas ações há o direcio-
gras de prática desportiva, nacionais
namento para isto.
e internacionais, com a finalidade de
obter resultados e integrar pessoas e Diversas são as nominações atribuídas a es-
comunidades do País e estas com as sas entidades, como: clubes sociais, clubes de
de outras nações.4 lazer, clubes sociorrecreativos, clubes esporti-
Nesse sentido, para uma melhor compre- vos, clubes sociodesportivos, associações atlé-
ensão sobre a dinâmica do desenvolvimento ticas, grêmios esportivos, dentre outros. Apesar
esportivo no país, é necessário uma leitura de alguns estudos apresentarem algumas dis-
sobre o espaço em que as práticas esportivas cussões sobre a denominação com base na fi-
são realizadas, cujo objetivos estão voltados nalidade dos mesmos, ainda não há entre os
à formação e desenvolvimento de atletas e estudiosos um consenso sobre o assunto. A di-
equipes, ou seja, no interior das entidades de versidade de formas e conteúdos na configura-
prática esportiva5. ção dos mesmos é um fator que tem contribuí-
Considerado pela lei 9.615/986 , conhecida do para a visão polissêmica do objeto.
como Lei Pelé, a lei geral do esporte situa os clu- Apesar de parecer um ponto de pouca re-
bes sócio-desportivos como entidades jurídicas levância a identificação da nominação dessas
de direito privado com ou sem fins lucrativos entidades, é pertinente discutir o assunto em
enquanto entidades de prática esportiva. Elas virtude de que o reconhecimento apresenta a
são regidas por estatuto próprio, com relativa vocação das mesmas. O fato de ainda contar
autonomia na forma de administração, poden- com uma influência amadora na gestão des-
do ou não filiar-se a entidades de administração ses espaços, e com isso, muitas vezes, pouco
do desporto (Federações e Confederações). conhecimento teórico sobre o assunto, as for-
Se esses espaços forem analisados por um mulações pré-concebidas de forma reducio-
viés filosófico, a proposta apresentada para nista direciona as políticas de atuação.
melhor estabelecer a compreensão sobre o Considerando a forte tendência de essas
cenário em que se constituem essas institui- entidades instituírem-se como clubes de na-
ções, está na sugestão de REQUIXA (1980) tureza esportiva, é possível destacar exem-
quando o autor fala sobre espaços físicos des- plos, como os clubes de futebol Corinthians,
tinados à prática de lazer e permite situá-los Atlético Paranaense e Paraná Clube, dentre
enquanto clubes sociorrecreativos. Ele indica outros que apresentam a mesma constituição
que esses estabelecimentos se configuram jurídica e objetivos que os denominados clu-
enquanto equipamentos específicos de lazer, bes sociorrecreativos. 7
ou seja, estruturas físico-arquitetônicas que
foram construídas essencialmente para que O Clube Atlético Paranaense tem por
as pessoas possam apreciar ou praticar ati- finalidade o desenvolvimento das rela-
ções sociais através da prática de ativi-
vidades para o desfrute no tempo disponível
dades recreativas, culturais, artísticas e
(Silva, 2009). esportivas.7

4 Lei 9.615, artigo 3º, inciso III. Disponível em: http:// Outro aspecto que apresenta aos clubes
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm
um forte traço de vinculação com o esporte
5 Lei 9.615. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm 7 Clube Atlético Paranaense: Estatuto Social. Disponível
6 Ibid. em: http://www.atleticoparanaense.com/o-cap/estatutos/
Marcos Ruiz da Silva
é o volume de práticas existentes no quadro para o crescimento de outras modalidades es-
de programação das entidades, comparativa- portivas, na qual diversos investimentos são
mente com outras atividades. A pratica espor- destinados de forma desigual para a promo-
tiva consome um maior percentual do tempo- ção de diferentes modalidades esportivas
espaço dos clubes, visivelmente comprovado Uma dificuldade de compreender os clu-
nos calendários anuais de eventos, nas diver- bes considerados como sociais, como enti-
sas “escolinhas esportivas” de treinamento dades de natureza esportiva, está associada
das inúmeras categorias, no investimento em à dificuldade de penetração que as entidades
edificação, e outros. tem na mídia para divulgar as modalidades
Esse fato é destacado em pesquisa feita praticadas no seu interior, enquanto esporte
por BRAMANTE (2006), sobre a composição espetáculo, dificultando à sociedade em ge-
das programações oferecidas em determina- ral, sua vinculação com o esporte.
do clube sociorrecreativo, na qual o autor Essas entidades que por motivos diver-
faz uma crítica aos gestores, pela forma de sos, mas com grande relação nas questões de
administrá-lo, quando demonstra que há uma disponibilidade financeira, não conseguem
predominância desequilibrada de conteúdo desenvolver de forma profissional uma gama
sociocultural oferecido ao usuário da entida- grande de modalidades esportivas, transfor-
de, pois, o autor afirma que, apesar de existir mando-os na categoria de espetáculos midiá-
um número diverso de instituições que ofere- ticos, e assim contar com a mesma visibilida-
cem diferentes conteúdos, há a predominân- de que o futebol, ficam no anonimato e dessa
cia das atividades esportivas, como: futebol, forma, colocados na compreensão comum
voleibol, basquetebol, natação, peteca, han- como clubes de lazer.
debol, sinuca, bocha, tênis de campo, tênis Outro problema para na gestão do esporte
de mesa e outras, imperando o que ele chama nos clubes, está na dificuldade de compreen-
de monocultura do lazer. sões conceituais sobre o esporte e lazer, que
O alerta que merece destaque quanto a geralmente são reducionistas e absorvidas pelo
critica do autor, é sobre o afunilamento das censo comum sem incutir análises críticas com
oportunidades de lazer, nesse caso, mesmo apoio em fundamentações teóricas, e suas in-
das oportunidades de suas vivências no pró- ter-relações, provocando limites que dificultam
prio esporte, inibindo às pessoas a oportu- avançar nas propostas de formação de atletas.
nidade de diversificação de experiências no Destacando a prática formal do esporte
ambiente esportivo. Isto porque há a existên- nos clubes, encontramos as conhecidas ‘es-
cia de determinadas predominâncias em cada colinhas’ esportivas com atendimento a partir
instituição bloqueando o desenvolvimento de dos 03 anos de idade, formando atletas nas
uma gama diferenciada de esportes. Apesar mais diversas modalidades e categorias, con-
de alguns fatores de significativa influência forme permite as entidades de administração
nesse aspecto, como a origem da etnia funda- esportiva(Federações e Confederações). São
dora e seus objetivos na época da implanta- milhares de crianças, jovens e adultos que re-
ção das atividades, a gestão exerce um papel alizam rotinas diárias de treinamento, e par-
fundamental na definição dos caminhos que ticipação periódica em competições, onde 8
a instituição irá seguir. muitos levam consigo a esperança de profis-
Quanto a reprodução do modelo esporti- sionalizar-se no esporte.
vo e a denúncia que Bramante (2006) faz em Um exemplo recente de resultado de su-
relação à “monocultura da monocultura do cesso na formação esportiva em clubes, prin-
lazer” o futebol é identificado com predomi- cipalmente pelas suas conquistas na Olim-
nância maciça, exercendo sua superioridade píada de Peguim em 2008, e as demais que
em termos de ocupação geográfica no país. se sucederam com participação em diversos
De certa forma, apesar do futebol ser comu- campeonatos internacionais de natação, foi o
mente chamado de esporte nacional, isto destaque na mídia esportiva nacional do atle-
pode ser considerado uma variável inibidora ta Cesar Ciello, do Clube Pinheiros de São
Marcos Ruiz da Silva
Paulo-SP, que obteve várias medalhas de ouro Esse é outro dilema na tomada de deci-
em Campeonatos Mundiais de Natação. são do gestor esportivo quanto à formação de
Apesar do encanto, reforçado pela mídia, atletas. Priorizam-se os trabalhos de médio e
em tornar-se um expoente de destaque na- longo prazo ou os projetos de curto prazo?
cional no esporte, outro fator preponderante Ou seja, valoriza-se a constituição de equi-
na constituição do atleta de alto nível, com pes representativas para conquistar rapida-
capacidade de profissionalizar-se, está na se- mente resultados expressivos e assim divulgar
letividade. Fator este que reduz os milhares o trabalho realizado com os atletas, motivan-
de jovens, em algumas poucas dezenas de do novas crianças à pratica, ou aprecia-se os
atletas de destaque nacional. E ainda, dessas trabalhos de base para no futuro poder com-
poucas dezenas, são poucos que conseguem por as equipes competitivas com condições
realizar-se profissionalmente como atleta pro- de conquistar resultados de relevância para
fissional. Esse é um tema delicado que tam- a instituição?
bém irá nortear o trabalho do gestor esportivo Sem a intenção de caracterizar o que se-
quanto constituir sua política de atuação. ria o ideal, pois há de levar em conta uma
A participação dos clubes na constituição série de variáveis vinculadas com o contexto
da estrutura do esporte nacional é expressi- de cada região, acredita-se que o desenvolvi-
va, conforme dados do CONFAO- Conselho mento de duas frentes de trabalho para que
de Clubes Formadores de Atletas Olímpicos-, uma possa fomentar a outra. Porém, desde
nos quais ele afirma que aproximadamente que a instituição possua condições financei-
80% dos atletas que representaram o Brasil ras, físicas, materiais e humanas para isso.
na Olimpíada em Pequim em 2008, foi for- Ponderando sobre a iniciativa de fomen-
mado em clubes.8 Apesar que esses atletas tar o esporte profissional em clubes sócio-
representavam um número de poucos clu- desportivos, mesmo que a entidade apresente
bes no Brasil. são milhares de clubes sócio- condições estruturais favoráveis ao seu de-
desportivos distribuídos em todo o território senvolvimento, é necessário analisar outros
nacional desenvolvendo sistematicamente aspectos que fazem parte da vida associativa
programas de treinamento e participando das em um clube.
competições promovidas pelas Federações e Sugere-se que essa decisão deve ser per-
Confederações, fornecendo atletas às diversas meada por fatores que contemplem e res-
seleções brasileiras para disputas oficiais. peitem a coletividade dos mantenedores da
Outro aspecto que merece destaque é a instituição, dentre outras considerações, pois,
correlação existente entre a prática formal e a constituição de equipes profissionais não
não-formal do esporte. É relevante a contribui- pode ser motivo de depreciação desse coti-
ção que cada um tem para a constituição da diano, em que receitas destinadas à manuten-
cultura esportiva, considerando que o esporte ção da estrutura, disputa por horários de uso
espetáculo fornece o “modelo”, provocando dos espaços, implantação de novos serviços e
a mobilização das pessoas para a prática es- investimentos em novas obras sejam disputa-
portiva, como exemplo do grande número de das com as despesas dessas equipes.
adesão aos clubes em busca de treinamento Outro aspecto que reforça a vinculação 9
de futebol, no período da Copa do Mundo. E do gestor esportivo dentro dos clubes socior-
de outra forma, esse grande contingente de recreativos na formação de atletas e a dimen-
pessoas procurando pela prática do esporte são desse trabalho pode ser observado na
somente pelo caráter do divertimento ou saú- pesquisa de MEZZADRI, (2000), quando o
de, amplia a possibilidade da descoberta dos autor demonstra que os clubes tiveram uma
talentos esportivos para compor as equipes participação efetiva na constituição do cená-
de alto nível. rio das práticas esportivas da sociedade urba-
nizada, sendo primordiais para o processo de
8 CONFAO: Disponível em: http://www.cbc-clubes.
montagem da estrutura esportiva no Estado
com.br/novo/conselhos/confao/ do Paraná.
Marcos Ruiz da Silva
Um caso comum de ideias preconcebidas Dentre esses fatores, há a configuração
sobre alguns aspectos conceituais que envol- da estrutura administrativa com influência
vem a vida esportiva é a confusão existente direta no desenvolvimento de estratégias,
entre os dirigentes sobre a relação entre es- políticas responsáveis para definir a direção
porte e lazer, sendo este primeiro comumente que tomará a vida esportiva na entidade. Isto
considerado lazer somente quando não há al- por sua vez, reproduz reflexos sobre a forma
gum tipo de competição em evento oficial. com que as pessoas se relacionam com sua
A falta de uma melhor interpretação sobre prática de esportiva.
aspectos teóricos em relação a abrangência e Os clubes, geralmente, apresentam dois
limites entre o esporte-lazer e o esporte profis- níveis hierárquicos administrativos distintos
sional, contribui para reforçar conceitos dis- quanto à sua forma de relacionamento com
torcidos, pois, quando há a participação dos a empresa. O nível estratégico ou diretivo,
associados atletas-amadores, em competições responsável pelas diretrizes é constituído por
de nível estadual ou nacional, geralmente, são associados voluntários, eleitos em processo
condenadas essas práticas pela associação interno de votação. O nível tático é ocupado
que é feita com o esporte profissional. pelo profissional técnico com formação e na
Mesmo com a participação de associa- área específica, contratado geralmente sob
dos em eventos de nível regional, estadual, o regime da CLT – Consolidação das Leis do
nacional ou internacional, não pode ser ana- Trabalho (Silva, 2009).
lisada a prática somente pelo foco da dimen- Essa figuração administrativa dos clu-
são atribuída ao nível de participação (lazer bes propicia diversos conflitos entre os
ou profissão). É comum encontrar nos clubes, profissionais de carreira(funcionários) e o
dentre outros exemplos, associados com uma eleito(diretoria). De um lado, fatores como: a
atividade profissional bem definida, com uma vontade política do administrador em promo-
prática regular nas atividades de seu interesse ver o desenvolvimento do esporte, seu conhe-
e com representação em campeonatos, mas cimento sobre a área em questão, os aspectos
não há todo um conjunto de variáveis que políticos partidários, os compromissos assu-
compõe o cenário profissional para essa ca- midos durante sua campanha política para
racterização, como registro em carteira, ser ser eleito, influenciam os encaminhamentos
sua fonte de renda, ter um compromisso com quanto a vida esportiva na instituição. Do ou-
horários para treinamentos, ter que responder tro lado, o profissional técnico, teoricamente,
pelos resultados perante a instituição, etc. com subsídios prático-teóricos da área especí-
fica, e também, conhecimentos sobre gestão,
Administração dos clubes elucidando a rotina administrativa, fornecem
sociorrecreativos. uma determinada experiência e com isso um
certo olhar sobre o mesmo objeto. Entender
Apesar da especificidade que cada clube a relação entre uma administração político-
possui quanto à concepção e objetivos, há amadora e técnico-administrativa, favorece
diversos fatores de sua funcionalidade que compreender como se processa a gestão e a
são idênticos, como por exemplo: essas enti- definição de diretrizes. 10
dades atendem prioritariamente um conjun- Para identificar a forma da administração
to de pessoas que para frequentar adquirem dos clubes é interessante considerar cargos ad-
um título e pagam uma taxa mensal(Taxa ministrativo-gerenciais como aqueles que di-
de Manutenção e Desenvolvimento) que é retamente apresentam outras pessoas de quem
a principal receita de cada instituição;esses dependem os resultados de seus setores.
clubes são administrados por profissionais A composição sugerida para discutir a
de áreas diversas que exercem um trabalho estrutura administrativa de um clube sócio
voluntário para administrá-los, e geralmente esportivo pode contemplar três níveis hierár-
são eleitos pelo voto dos associados(SANTA quicos:
MÔNICA, 2001).
Marcos Ruiz da Silva
• a alta administração ou diretoria, no a capacidade de ver a empresa de maneira
nível mais alto do organograma; integral e consistem na capacidade de com-
• a administração média ou gerência, preender as complexidades da organização,
no nível intermediário; de modo geral, e promover a adequação do
• os níveis operacionais, nos cargos de comportamento dos participantes da organi-
coordenação, supervisão e/ou chefia zação (MAXIMILIANO, 2000).
(SILVA, 2002). A intensidade da necessidade da habili-
Para cada nível hierárquico, há um deter- dade em cada nível de administração é re-
minado papel a representar na empresa. A alta lacioná-la com a responsabilidade para a ta-
administração ou diretoria que responde pelo refa a ser realizada. Dessa forma é possível
direcionamento maior e pelas operações da afirmar que a diretoria ou alta administração
organização, é representada pelo presidente, pode dispor de pouca habilidade técnica,
pelo vice-presidente e pelos demais diretores. mas grande índice de habilidade conceitual.
Cabe à diretoria desenvolver políticas, es- A média administração ou gerência necessita
tratégias e estabelecer metas para a organi- em comparação do a alta administração, de
zação. Ela estabelece os objetivos (que serão menor quantidade de habilidade conceitual,
desmembrados em metas) e os repassam aos porém, há maior necessidade dessa habilida-
níveis hierárquicos mais baixos. Nessa esfera de do que o nível de supervisão (MAXIMILIA-
é que são decididos os caminhos que toma- NO, 2000).
rão o desenvolvimento do esporte ou qual- Por outro lado, é interessante que a ad-
quer outra área dentro da instituição. ministração operacional, possua maior índice
A média administração ou gerência é co- de habilidades técnicas, devido a necessida-
nhecida em muitas empresas como gerência de de resolução rápida de problemas opera-
de departamento ou gerência de setor, e tem cionais que dependem mais do conhecimen-
sob sua responsabilidade a tarefa de planejar, to técnico. (MAXIMILIANO, 2000).
organizar, dirigir e avaliar as atividades de seu Existe uma inversão de habilidades na pi-
setor ou departamento. Compete a ela criar râmide dos níveis administrativos nos clubes
estratégias de atuação para cumprir a orienta- sócio-desportivos, pois conforme Silva (2009),
ções determinadas pela política da diretoria. geralmente, o diretor é o que possui menor
O nível de gerencia operacional ou co- habilidade conceitual, devido sua origem não
ordenação é responsável pela execução dos estar diretamente ligada com a administração
serviços, atendendo os técnicos, professores de entidades esportivas, e ainda sua formação
e outros profissionais envolvidos no proces- não ter relação com a área. E por outro lado,
so. Este é o nível administrativo mais rela- encontram-se os gestores esportivos dos clu-
cionado com a execução das atividades da bes, geralmente formados em educação física
rotina da empresa. em com vários anos de experiência na rela-
Outros fatores da administração de ins- ção com o esporte. Se for analisado de forma
tituições que diz respeito à gestão esportiva mais crítica é possível imaginar os conflitos
são as diferentes habilidades técnicas relacio- existentes na forma de gestão dos clubes só-
nadas à funções dentro da organização, que cio-desportivos. 11
consistem no conhecimento de métodos e
técnicas para a realização de tarefas específi-
cas. Nessa perspectiva, destacam-se as habi- 4 Estruturação da área esportiva
lidades que são identificadas em: habilidades
de formação de atletas.
humanas, nas quais são aquelas relacionadas
ao tratamento com pessoas e consistem na
capacidade para trabalhar com elas, compre- A proposta neste tópico é apresentar al-
endendo suas atitudes, motivações e necessi- gumas variáveis de estrutura organizada que
dades, exercendo o papel de líder, e as habi- possa atender às necessidades de uma insti-
lidades conceituais que são apontadas como tuição formadora de atletas, independente de
Marcos Ruiz da Silva
seu tamanho, tendo em vista que adaptações Com a capacidade de observar a dinâ-
conforme a realidade da mesma está de acor- mica da vida esportiva nos clubes, compos-
do com a dimensão estrutural (física, humana ta por elementos diversos na constituição do
e financeira). gostar e fazer esportivo, e perceber a relação
A quantitativa de prática esportiva a ser de interdependência entre uma e outra, o es-
realizada em um clube está condicionada à forço dos gestores na organização de estraté-
estrutura física disponível, porém a qualidade gias de desenvolvimento esportivo irá olhar
dessa prática está intimamente ligada à forma atentamente para a estrutura a fim de definir
com que é entendido e como é tratado o con- os limites de atuação de acordo com o foco
ceito de esporte nas esferas administrativas. de cada atividade ou grupo de atividades.
Primeiramente, cabe destacar que a
Figura 01
constituição de um departamento de espor-
tes em um clube atenderá uma diversidade
de pessoas e assim de interesses para com a Departamento e
prática esportiva, nas quais o grande volume esportes
é constituído de associados. A pluralidade
de motivação para as atividades esportivas Abrangência
e suas variações amplia, como: a busca pelo
esporte para sua formação complementar Lazer Terapeuticos Formação
(visão funcionalista), com interesses em de-
senvolver-se a fins de profissionalizar-se; en- Estratégias
quanto prática desinteressada, para ocupar Treinamentos; eventos; campeonatos
prazerosamente seu tempo livre; com pro-
posta de condicionamento físico ou manu- Finalidades
tenção voltado ao bem estar, vinculado com
a saúde; como reabilitação, por indicações
médicas para se restabelecer de problemas
Performance
de saúde e por questões terapêuticas, moti- Bem estar; Saúde; Ma-
(influência
vados por indicações médicas, como forma sociabiliza- nutenção;
dos órgãos
de compensar algum problema de ordem ção, ocupar reabilita-
de adminis-
patológica ou outro e com fins socializado- o tempo ção; com-
tração do
res, ampliando a rede de relacionamentos livre. pensação.
esporte)
pessoais e profissionais.
Essa diversidade de gostos e interesses
esportivos são dependentes dos usos distin-
guidos do corpo nas práticas esportivas, as
A Definição da política para a
quais são identificadas por representações formação esportiva de atletas.
que inferem modelos, seguindo os padrões Definir a trajetória que orientará os pro-
da imagem dominante dos padrões femini- jetos esportivos não é tarefa simples, são inú-
no e masculino nesta mesma posição social meras as vertentes político-ideologicas que 12
(TUBINO, 1991). fornecem subsídios e orientam a forma de
A propagação das influências causadas pensar o esporte, e tratar de formação espor-
pelas práticas esportivas estabelece uma di- tiva é caminhar em um ambiente carregado
nâmica na vida das pessoas com abrangên- de pré-conceitos, principalmente pela forma
cia envolvendo todas suas relações com a piramidal de sua estrutura que pela seletivi-
sociedade , seja como lazer ou profissão, dade, torna-se excludente.
provocando mudanças até nas formas de Essa seletividade, muitas vezes preco-
morar, na escola, no ambiente corporativo, ce, prejudica, de certa forma, que haja uma
nas relações com familiares e outros grupos maior longevidade dos jovens na vida espor-
(LUCENA, 2001). tiva, reduzindo a possibilidade para que esses
Marcos Ruiz da Silva
constituíssem uma cultura da prática regular na idade de 15 a 17 anos, ou seja, devido este
da atividade física, a partir do esporte. Ain- ser o período de maior preocupação dos pais
da nesse aspecto há de considerar o inúmero para a dedicação aos estudos pré-vestibulares,
contingente de crianças que não apresentam há uma evasão de jovens aos programas de trei-
aspectos morfológicos ,considerados ideais namentos esportivos.
para o esporte de rendimento, como estatura, Pensando na perspectiva de romper com
peso e outros, que são inibidos a participarem o modelo piramidal padrão, Greco (2000)
de programas de formação esportiva. apresenta uma sugestão, na qual após a fase
Outro fator polêmico quanto a formação de orientação básica, ou a fase da iniciação
esportiva está relacionado com as perspecti- esportiva, inicia-se a orientação técnica mais
vas dos atletas profissionais em serem reab- específica, de preferência de duas modalida-
sorvidos pelo mercado de trabalho, quando des complementares. Seguindo, na fase de
encerram suas carreiras, devido as dificul- direção, as crianças e adolescentes que não
dades de inserção, sendo que muitas vezes apresentam potencial para seguir com esporte
interromperam os estudos para seguir na car- de alto rendimento devem ser orientadas para
reira de atleta e não alcançaram os retornos que prossigam com a prática esportiva como
econômicos esperados que garantissem con- forma de lazer e também para a saúde. Outro
dições financeiras suficientes para sua “apo- ponto interessante diz respeito à readaptação
sentadoria”. do atleta profissional após encerrar sua car-
Um reflexo provocado por esse indicador é reira esportiva, para que ele continue com a
a existência de uma lacuna no volume de atletas prática esportiva como lazer e manutenção
dedicando-se as rotinas diárias de treinamento de sua saúde. (Adaptado de GRECO, 2000)

Alto rendimento

Especialização

Básica geral Orientação Direção Lazer/ saúde Readaptação

As propostas que visam romper a estrutu- os treinamentos mais específicos, numa fase
ra tradicional (piramidal) do desenvolvimento onde as mesmas estão em plena maturação,
esportivo têm como ideia central oportunizar diminuindo ainda precocemente à admissão.
às pessoas, em geral crianças e jovens, a per- E, ampliando o tempo de permanência desses
manência regular em cursos de formação es- atletas nos treinamentos expande-se a condi-
portivas, as “escolinhas esportivas”. Um dos ção de absorver jovens com qualidades de
princípios da concepção dessa característica prosseguirem com o esporte de rendimento. 13
de trabalho está baseada na constituição de Outro detalhe favorável à descoberta de
uma cultura esportiva na sociedade, resultado talentos está no aumento considerável da
de um trabalho a longo prazo. base, categorias de iniciação esportiva, que
Acredita-se que com a democratização da favorecer ampliar a opção de escolha para as
prática esportiva, tornando-a mais acessível a categorias seguintes.
todos, amplia-se a capacidade de identificar De outra forma, mesmo com um volume
talentos para o alto desempenho, pois, um grande de atletas sem condições de compo-
dos fatores que restringem a descoberta de ta- rem as equipes representativas da institui-
lentos é que geralmente os programas de for- ção, pela própria natureza seletiva do es-
mação esportiva selecionam as crianças para porte de competição, haverá fomento para
Marcos Ruiz da Silva
a participação em competições não oficiais, e adotar estratégias para que os conheci-
mobilizando a vida esportiva em outros ní- mentos, habilidades e comportamentos
veis de perfomance. específicos e gerais, absorvidos de forma
Um aspecto relevante quanto ao poten- teórica e prática, possibilitem maior proba-
cial de desenvolvimento de uma determinada bilidade de obtenção de sucesso na execu-
modalidade esportiva em clube está na apti- ção de suas tarefas.
dão da entidade para com a modalidade. Tra- Levando em conta os diferentes níveis
dicionalmente as escolas de esportes adotam hierárquicos apresentados na administração
atividades e modalidades nos moldes olímpi- de um clube sócio-desportivo, ou ainda em
cos, o que limita o experimento de novas ten- outro tipo de instituição que desenvolva pro-
dências. O contrário também acontece, quan- jetos esportivos, é pertinente afirmar que in-
do novas práticas esportivas são implantadas, dependente do nível gerencial que o profis-
levadas muitas vezes, pelo modismo da épo- sional ocupa, o resultado de seu trabalho está
ca, ou ainda a atender a interesses de grupos relacionado com sua capacidade de motivar
específicos. Existem instrumentos que podem as pessoas sob sua responsabilidade a atingir
ser utilizados para auxiliar a constituição de os objetivos e metas propostas.
propostas mais próximas às necessidades dos Dentro dessa representação, um papel
associados, como pesquisas de interesse. fundamental nesse processo é distinguir o
foco na gestão das pessoas envolvidas no pro-
Profissionais técnicos da área cesso para que a qualidade dos trabalhos ga-
formativa ranta os resultados esperados. Na medida em
que o gestor fizer a alocação de seus talentos,
Um item que merece destaque nesse pro- capacitá-los, promover seu desenvolvimento
cesso de formação de atletas, principalmente e, por conseguinte, eliminar distorções sobre
sob o aspecto do gestor, está na seleção e trei- compreensão da essência de seus serviços, as
namento dos profissionais responsáveis pelo discrepâncias entre o que a instituição espera
desenvolvimento dos treinamentos. que os mesmos façam e o que eles efetiva-
A constituição da equipe de trabalho no mente fazem, serão eliminadas.
desenvolvimento do esporte de base ao ren- Quando se trata de pessoal nas corpora-
dimento é outro elemento com grande influ- ções, há um princípio na gestão de pessoas
ência na evolução dos trabalhos esportivos que admite haver três condições articuladas
na formação de atletas. Além de pensar em e interdependentes para que o profissional
uma equipe multidisciplinar, existem algu- desempenhe seu papel com qualidade: saber,
mas características no perfil profissional que poder e querer. Sem um dos três elementos,
apresentam inclinação para determinadas reduz-se a condição de sucesso:
funções. Dessa forma, há técnicos esportivos Saber – é está ligado ao aspecto cogniti-
que identificam-se com o trabalho de inicia- vo, são informações e conhecimentos que as
ção esportiva e outros com o trabalho mais pessoas possuem sobre o objeto. ( depende
específico de alto rendimento. Também outro da pessoa e da empresa).
detalhe que merece destaque é atentar que Poder – no sentido de haver condições 14
nem todo profissional de Educação Física re- adequadas para o exercício da tarefa (depen-
úne as características necessárias para a for- de da empresa).
mação esportiva de atletas. Um ponto que Querer – é o componente ligado à vonta-
tem demonstrado diferencial no exercício da de de concretizar uma ação. É o aspecto mo-
prática profissional voltada para o treinamen- tivacional que nos impele à conquista de um
to desportivo está na relação que o professor objetivo e muitas vezes é intrínseco (depende
tem com o esporte, ou seja, qual a imersão de da pessoa).
mesmo na vida esportiva de rendimento.
Cabe ao gestor identificar as competên- Saber Querer Poder
cias necessárias para o exercício da função (conhecimento) (atitude) (haver condições)

Marcos Ruiz da Silva


A gestão de formação de atletas e a
existem ferramentas gerenciais e processos
rotina administrativa
que merecem atenção e auxiliam na apro-
É interessante destacar que no desenvolvi- priação da rotina administrativa.
mento da função do gestor há uma rotina que É interessante destacar que se pensar em
basicamente está centrada no exercício de sa- conteúdo específico da prática e conteúdo
ber planejar, organizar, coordenar, controlar e genérico, pode-se enfatizar que os profissio-
corrigir. Entretanto, apesar dessas atividades nais de educação física não possuem conte-
constituírem a essência da administração por údo teórico - pratico na sua formação acadê-
meio de terceiros, o gerente precisa apropriar- mica, suficiente para o exercício de função
se de técnicas e ferramentas que auxiliem na administrativa. Isto porque há conteúdos de
mobilização das pessoas de forma equilibra- ordem contábil, como planejamento e con-
da para atingir os objetivos da organização. trole orçamentário, de legislação trabalhista,
Atualmente, a opção dos administradores e outros que dificilmente são contemplados
é adotar a perspectiva do gestor como lider, em disciplinas como Administração Espor-
acreditando que o foco na atitude do profis- tiva, pela própria limitação temporal, e que
sional no exercício dessa função, altera-se. O fazem parte da rotina de um gestor.
gerente ultrapassa o aspecto formal-burocrá- Porém, há conteúdos de caráter específico
tico de atingir suas metas e parte para uma sobre a natureza da instituição esportiva que
postura de líder. No papel de líder, o gestor esse profissional reúne, nos quais permite ao
direciona seus esforços no intuito de motivar mesmo uma leitura articulada da sua realidade.
as pessoas a atingirem seus objetivos dentro Dessa forma, dentro de um panorama de
da empresa. Nesse rumo, o exercício da ges- gerenciamento de rotina, entende-se que cabe
tão, tem como desafio constituir habilidades ao gestor esportivo buscar subsídios que pos-
pessoais e interpessoais, em um movimento sam habilitá-lo no exercício de sua função.
de canalizar as disposições da equipe a um O trabalho gerencial é conduzido a partir de
objetivo comum. ações e verificações diárias para que seja pos-
Existem alguns estilos de liderança discu- sível realizar com satisfação as obrigações de
tidos entre os estudiosos que se distribuiem cada indivíduo na organização. Muitas vezes,
em liderança autocrática, democrática e libe- o gestor despende grande parte de seu tempo
ral ou laissez faire. Na liderança autocrática, com trabalhos operacionais, tornando difí-
ou como também é chamada de autoritária, o cil dedicar seu tempo às funções gerenciais.
lider toma as decisões sem consider a opnião (Campos, 1994).
de sua equipe e exerce uma postura domina-
dora aos olhos dos demais funcionários. A Li-
derança democrática, comumente chamada Considerações Finais
de liderança participativa, tem na sua forma
de ação tomar decisões com referencia nos As discussões sobre gestão na formação
resultados dos debates promovidos entre as de atletas sugerem uma grande diversidade de
equipe de trabalho. O estilo liberal ou lais- abordagem, nos mais diferentes olhares, seja
sez faire: as pessoas possuem maior liberdade pela ótica do profissional de educação física, 15
para a execução das tarefas, porém, esse tipo do administrador, do psicólogo, do econo-
de liderança pode ser indicativos de ausência mista, do sociólogo, enfim de várias áreas de
de controle do lider (Chiavetto, 2000). estudo que interferem direta e indiretamente
Independente de haver características no processo de construção do pensar e fazer
pessoais que contribuem para o exercício esportivo.
na função de gestor e até a adoção de de- Apresar de no Brasil o grande volume de
terminados estilos, não há indicativos que trabalhos de formação de atletas acontecer
identifiquem que a ausência delas impe- dentro de ambientes privados, ou seja, os clu-
ça alguém de atuar de forma eficiente. A bes sócio-desportivos, é preciso considerar
função gerencial é constituída de rotinas e que o cenário esportivo contempla diferentes
Marcos Ruiz da Silva
espaços de intervenção, diferentes públicos e BRAMANTE, Antonio Carlos. Realinhamento
também diferentes propósitos. Cada um com dos fatores críticos de sucesso na gestão de clu-
sua especificidade de ação e interpretação bes social-recreativos baseado no conhecimen-
gerando no universo envolvido: expectativas, to dos sistemas internos e externos: o caso das
necessidades e demandas que se entrelaçam AABBs. Campinas: Departamento de Estudo
e geram peculiaridades na forma e conteúdo, do Lazer da UNICAMP. Disponível em <www.
formatando algo muito distinto que suscita o quality.com.br>. Acesso em mar. de 2006.
cuidado nas análises e mediações. CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: gerencia-
Ainda que as práticas gerenciais sejam mento da rotina de trabalho do dia-a-dia.
fundadas em aspectos teórico-práticos, cabe Belo Horizonte, Fundação Christiano Ottoni,
ao gestor sensibilidade e aspecto crítico em Escola de Engenharia da UFMG, Rio de Janei-
relação às diversas influências que esse cam- ro, Bloch, 1994.
po é sujeito. Fatores como modismo, relação
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria
de poder, indústria de consumo e outros,
geral da administração. 6 ed. Rio de Janeiro:
constituem um conjunto de referências sedu-
Campus, 2000.
toras provocando tensões que orientam polí-
ticas e projetos esportivos. CUNHA JR. Sociologia e educação física. In:
Destaca-se também que as discussões so- A.G. Faria JR., C.F.F. Cunha Jr., H.T. Nozaki e
bre a formação de atletas divergem em seus C.P. Rocha Jr. (Orgs), Uma introdução à educa-
aspectos filosóficos, com diferentes verten- ção física (179-202). Niterói, RJ: Corpus, 1999.
tes. Dessa forma, fica a responsabilidade do HUIZINGA, Johan. Homo ludens. 4.ed. São
gestor em fazer a leitura do ambiente em que Paulo: Editora Perspectiva, 1993.
está inserido e procurar posicionar-se sob a
MARCHI, JR. Wanderley. Desporto. In: FENS-
perspectiva do compromisso com o indivíduo
TERSEIFER, Paulo Evaldo; GONZÁLEZ, Jaime
e gerir intervenções que respeitem a integri-
(org.). Dicionário crítico da Educação Física.
dade física, emocional e social das pessoas.
Ijuí, RS: Ed. Unijuí, 2005.
Outro ponto que merece atenção para o
gestor esportivo é compreender a inter-rela- Maximiliano, Antonio César Amaru. Teoria
ção entre o esporte de base, nas escolinhas Geral da administração: da escola científica
esportivas ao esporte-espetáculo, e procurar à competitividade na economia globalizada.
administrar as fases desse processo, contri- 2.ed. São Paulo: Atlas, 2000.
buindo para que tanto um quanto outro dialo- MEZZADRI, Fernando. A Estrutura Esportiva do
guem entre si, e proporcione, além do desen- Paraná: da formação dos clubes esportivos às
volvimento das pessoas, o desenvolvimento atuais políticas governamentais. 172p. Campi-
do esporte enquanto de negócios. nas, 2000. (Tese de Doutorado – UNICAMP).
MINISTÉRIO DO ESPORTE. Política Nacional
do Esporte. Brasília: Governo Federal, 2005.
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Marcos Ruiz da Silva

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