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JASMIN, Marcelo Gantus; JÚNIOR, João Feres.

“História dos Conceitos: dois


momentos de um encontro intelectual”, In: JASMIN, Marcelo Gantus; JÚNIOR,
João Feres (orgs.). História dos Conceitos: Debates e perspectivas. Rio de Janeiro:
Editora PUC, Edições Loyola, IUPERJ, 2006.

Os pressupostos de Koselleck: conceito, contexto e mudança conceitual

“Em primeiro lugar, a distinção entre palavras e conceitos. Todo conceito político e
social está associado a uma palavra, mas nem toda palavra é um conceito social e político.
“Conceitos sociais e políticos possuem uma pretensão substancial à generalidade e têm
sempre muitos significados”. O conceito ligado a uma palavra é sempre mais que esta
palavra: “uma palavra torna-se um conceito quando a plenitude de um contexto político-
social de significado e experiência no e para o qual uma palavra é usada pode ser nela
condensado”. Por isso, “conceitos são o concentrado de inúmeros significados
substanciais”, o que lhes confere uma necessária ambiguidade (Koselleck, 1985ª, p. 84).
Uma palavra pode ser, em seu uso, não-ambígua; um conceito, não.

Em segundo lugar, importa considerar o problema da possibilidade epistemológica da


pesquisa histórica de conceitos isolados, ou seja, considerar o problema da relação
entre os conceitos e o quadro linguístico mais abrangente que os contém.” (p. 24)

“Para Koselleck, importa menos tratar o problema teoricamente do que pragmaticamente,


da perspectiva do historiador em ofício, pois a reivindicação do contexto mais amplo não
tem como definir limites para a sua abrangência, o que torna a noção de contexto
praticamente infinita: passa-se do conceito ao parágrafo, daí ao livro, ao debate político
e social, à linguagem ordinária, à relação com os demais conceitos, e assim
sucessivamente em um movimento infindável. Koselleck argumenta que, não se podendo
realizar todas as tarefas simultaneamente e sendo muitas delas pragmaticamente
excludentes entre si, só resta ao pesquisador individual optar por caminhos segundo os
seus interesses, de modo a responder as questões que deseja. Em outras palavras, os
diversos focos – em um conceito, um texto, uma série de textos ou toda a língua – são
igualmente legítimos e implicam pesquisas factíveis de níveis diversos (Koselleck, 1994,
pp. 7-8).” (pp. 24-25)

“O terceiro ponto diz respeito à legitimidade da noção de mudança dos conceitos


subjacente à Begriffgeschichte, e Koselleck trata a questão a partir do “triângulo
linguístico”: palavra-significado-objeto ou realidade (sejam estes ideológicos ou
empíricos). “O que importa”, afirma, “é que tão logo uma palavra seja usada com um
significado específico e com referência a uma realidade específica, ela é única”
(Koselleck, 1994, p. 8). Dois exemplos do autor ilustram o ponto: a res publica de Cícero
se refere à sociedade romana, e o significado deste conceito está intimamente ligado à
concepção romana de homem. A koinonia politique (“sociedade civil”) de Aristóteles só
pode ser compreendida em relação com a forma política de organização de seu tempo, a
polis grega. Neste sentido, os conceitos ciceronianos ou aristotélicos não mudam no
tempo e estarão sempre relacionados às suas experiências. O que se passa, empiricamente,
é que os leitores posteriores emprestam a esses conceitos significados e aplicações
distintos, mais ou menos associados aos usos anteriores. Em resumo, o conceito de
Aristóteles não tem história, sua recepção, sim, o que aproxima Koselleck de Gadamer
na viabilidade de se escrever uma história da mudança conceitual.” (p. 25)

Mudança conceitual e realidade histórica

“Há duas mudanças esquemáticas acerca da mudança conceitual em Koselleck. A


primeira encontra-se proposta pelo autor numa conferência de 1991 e desenvolve um
modelo elaborado por Heiner Schultz, em 1979, e que observa o problema da mudança
do ponto de vista das relações mais “brutas” entre conceitos e realidades. Supondo que
de um lado haja um estado de coisas e de outro um conceito desse estado de coisas, quatro
situações são possíveis: 1) o estado de coisas e o conceito permanecem estáveis ao longo
de um período de tempo; 2) conceito e realidade se transformam simultaneamente, de
modo harmônico; 3) conceitos mudam sem que haja uma mudança concomitante da
realidade, ou seja, a mesma realidade é conceituada de modo diverso; 4) o estado de coisas
muda, mas o conceito permanece o mesmo, como no caso do conceito marxista ortodoxo
de capitalismo (Koselleck, 1994, p. 9).” (p. 25)

“Se olharmos para a obra de Koselleck, é notório o caráter heurístico e didático desse
esquema, dada a relação mais complexa entre linguagem e história. Antes de mais nada
porque a relação entre conceito e realidade social e política, entre “dogmata” e
“pragmata” não é simples não é de simples separação e oposição. Neste sentido, é
reiterada a posição de que,

enquanto os conceitos têm capacidades políticas e sociais, sua


função e performance semânticas não são unicamente derivadas
das circunstâncias sociais e políticas às quais eles se referem. Um
conceito não é simplesmente indicativo das relações que ele cobre;
é também um fator dentro delas. Cada conceito estabelece um
horizonte particular para a experiência potencial e a teoria
concebível e, neste sentido, estabelece um limite (Koselleck,
1985a, p. 84)

Aqui podemos perceber a relação de filiação tensa e de simultâneo afastamento entre


Koselleck e a versão ontológica da Begriffsgeschichte gadameriana, pois o historiador
quer negar a fusão entre linguagem e história. Diz Koselleck:

Toda linguagem é historicamente condicionada, e toda história


é linguisticamente condicionada. Quem negaria que todas as
experiências concretas que temos só se tornam experiências
pela mediação da linguagem? É justamente isto que faz a
história possível. Mas ao mesmo tempo eu quero insistir que
linguagem e história devem permanecer separadas
analiticamente (Koselleck, 1989, pp. 649-650)

Em outras palavras, a ciência histórica de Koselleck mantém a exigência de


referencialidade ao postular os aspectos extralinguísticos da experiência histórica e ao
afirmar que mudanças estruturais de longo prazo não podem ser identificadas, descritas
ou explicadas por teorias do discurso que excluam a referência a algo externo ao sistema
de signos constitutivos da linguagem.

Daí a separação proposta por Koselleck entre “as circunstâncias que foram, num certo
momento, articuladas na linguagem” e aquelas outras “que não foram previamente
articuladas na linguagem mas que, com a ajuda de hipóteses e métodos, ele [o
historiador] é capaz de extrair dos vestígios” (Koselleck, 1985b, pp. 267-268)

Assim sendo, produz-se um segundo afastamento em relação a Gadamer, pois se repõe o


espaço negado pela “hermenêutica radical” à Historik e, consequentemente, à discussão
sobre o método e a teoria da história. Quando Gadamer busca uma teoria da verdade
baseada na estrutura ontológica da compreensão humana como tal, está simultaneamente
negando validade à discussão metodológica, incluindo-se aí a historiografia e a Historik,
o estudo daquilo que o conhecimento histórico é. Por isso mesmo, a reposição da distinção
entre história e linguagem vem acompanhada das discussões sobre método e teoria da
história em Koselleck.

Vale notar, no entanto, que permanece ativa a “influência” da hermenêutica


gadameriana em Koselleck, na medida em que a história dos conceitos se propõe a
cobrir justamente “a zona de convergência ocupada por conceitos passados e
presentes”, ainda que reivindique uma “teoria” para que torne possível a
compreensão dos “modos de contato e de separação no tempo”, teoria essa
condensada na distinção entre “espaço de experiências” e “horizonte de
expectativas”.

Na relação complexa entre conceitos e realidade, entre dogmata e pragmata, a separação


entre linguagem e história não implica a recusa tout court do caráter linguístico
constitutivo da realidade social e política, mas a busca de um modelo teórico no qual os
significados linguísticos criam, ao mesmo tempo em que limitam, as possibilidades da
experiência política e social.” (pp. 26-27)

Mudança conceitual, continuidade semântica e estrutura temporal dos conceitos

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