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na Cult na Web
O potencial político da Teoria queer
Entrevista com a professora Guacira Lopes Louro, pioneira na tradução de pensadoras feministas como Judith
Butler
Carla Rodrigues
Pioneira dos estudos queer no Brasil, pioneira na tradu ção de pensadoras feministas como
Joan Scott e Judith Butler, a professora Guacira Lopes Louro avisa que se sente “pouco
confortável” com o qualificativo de “pioneira”. “Afinal, não me parece muito queer assumilo,
não é?”, diz, demonstrando a efetiva ligação entre teoria e prática, entre academia e ativismo.
Há alguns anos, conta ela, um conjunto de condições proporcionou seu contato com a Teoria
queer. Na medida em que que percebia seu potencial provocativo, levou a discussão para os
espaços acadêmicos em que atuava, especial mente o Grupo de Estudos de Educação e
Relações de Gênero (GEERGE) e o Programa de Pós Graduação em Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Uma especificida de marca a sua entrada nos
EDIÇÕES ANTERIORES
estudos queer: sua articulação com a área da educação. “São dois campos aparentemente
muito dis tintos, por vezes até contraditórios”, explica ela nesta entrevista.
CULT: Sua área de atuação é a educação, o que mostra a amplitude disciplinar
da Teoria queer, mas também me leva a perguntar qual a importância de estudar
Teoria queer na educação?
Guacira Lopes Louro: Acredito que a importância ou o al cance que o pensamento queer
pode ter no campo da educação depende do modo como o compreendemos. Considerar o
queer como uma espécie de termo guardachuva que abriga todas identidades não
heterossexuais e comportamentos ou práticas que se desviam das normas regulatórias da
sociedade talvez im plique uma redução do seu impacto. Prefiro ver o queer como uma espécie
de disposição existencial e política, uma tendên cia e também como um conjunto de saberes
que poderiam ser qualificados como “subalternos”, quer dizer, saberes que se construíram e se
constroem fora das sistematizações tradicio nais, saberes predominantemente desconstrutivos
mais do que propositivos. Tenho repetido que os estudos queer (juntamente com outros
estudos contemporâneos) vêm promovendo novas políticas de conhecimento cultural. Assim se
amplia (e muito) a potencialidade de sua articulação com a educação. O movi mento e os
estudos queer podem nos levar a questionar sobre o que conhecemos e sobre o que
desconhecemos, ou melhor, sobre o que nos permitimos conhecer e sobre o que deixamos de
conhecer, o que ignoramos. Se repetimos, tantas vezes, que o queer (como movimento e como
pensamento) é subversivo e provocador, no campo do conhecimento e da educação isso pode
nos levar a fazer perguntas que usualmente não são feitas, a questionar o que costuma ser
inquestionável. Enfim, pode nos levar a ir além do conhecimento estabelecido, legitimado e au
torizado. A potencialidade dessa “disposição queer” me parece, então, imensa para pensar não
apenas os currículos, programas e estratégias da educação formal ou acadêmica, mas para
pensar o campo da educação num sentido muito mais amplo.
Como tradutora, você pode me ajudar a compreender por que não há tradução
brasileira para queer? É uma de cisão ideológica?
Não tenho uma boa resposta para esta pergunta. Já fui ques tionada, várias vezes, sobre a
conveniência (ou inconveniência) da manutenção do termo em inglês; já observei, também,
tentativas que vêm sendo feitas para traduzilo. Queer é um termo que foi assumido e
reapropriado por militantes e inte lectuais com o propósito de subverter a carga pejorativa com
que eram designados todos os “estranhos” ou os fora da nor ma. Ressignificado, ele passou a
ser usado para afirmar uma diferença que não quer ser integrada; em seguida seu sentido se
alargou e queer passou a sugerir um movimento perturbador, passou a sugerir transgressão,
ambiguidade, entrelugar (ou nãolugar). Deslizamentos de significado podem acontecer (e
http://revistacult.uol.com.br/home/2014/10/opotencialpoliticodateoriaqueer/ 1/2
16/04/2016 Revista Cult O potencial político da Teoria queer Revista Cult
acontecem) num mesmo espaço linguístico e cultural, mais ain da se pensarmos que as teorias e
conceitos “viajam”, deslocam se e entram em contato e interação com outros espaços, mistu
ramse a culturas e contextos distintos daqueles em que foram cunhados. Por outro lado, não
dá para esquecer que as palavras também carregam vestígios ou rastros dos significados
anterio res. Olgária Matos afirmou, certa vez, que “traduzir uma língua em outra, uma cultura
em outra, requer preservar aquilo que as faz estrangeiras, suas zonas de obscuridade e
incomunicabili dade”. Talvez não seja possível (ou quem sabe, desejável) encon trar, em
português, uma expressão que efetivamente traduza e consiga contemplar toda a carga
subversiva e perturbadora que o queer em inglês pode sugerir. O movimento e o pensamento
queer que está se fazendo no Brasil vem encontrando espaços e formas de expressão que, ao
mesmo tempo em que mantêm o tom transgressivo e provocador iniciais, manifestamse com
cores, práticas e modos próprios daqui. Por tudo isso, continuo achando muito complicado
encontrar um termo que dê conta do leque de possibilidades teóricas e políticas implicadas em
“queer” e, com a provisoriedade e precariedade que lhe são tão caras, ainda prefiro usálo tal
como o conheci. Talvez se possa tirar proveito dessa zona de incomunicabilidade.
O que há de político – para além do debate sobre sexuali dade – em questionar a TWITTER
normatividade de gênero?
Quando se passa a dizer que não apenas o gênero, mas também o sexo é culturalmente Tweets por @revistacult
construído, quando alguém sugere, como faz Judith Butler, que “talvez o sexo tenha sido,
desde sempre, gênero, de maneira que a distinção sexo/gênero não é, na verdade, distinção Revista Cult
alguma”, está se pondo em risco noções fortemente enraizadas na lógica e na existência de @revistacult
todos. Na medida em que se questiona a normatividade do gênero e da sexualidade se põe em Leia crítica de Um Bonde Chamado Desejo,
xeque algo que pode ser visto como um dos “pilares” do modo como pensamos e vivemos. A
espetáculo dirigido por @rafael_gomes.
lógica binária que define os sujeitos como macho ou fêmea também implica que os gêneros
ow.ly/4mJVzN
serão dois e que a sexualidade deve ser exercida com alguém de sexo/gênero oposto. A
heteronormati vidade que dá suporte a essa lógica, como todas as outras nor mas, se exercita de
modo silencioso, invisível, disseminado. Se ousamos colocar esse binarismo “fundante” em
questão, se ousamos pensar em multiplicidade de gêneros e sexualidades, então outras
dimensões da constituição dos sujeitos, outras dimensões da vida podem também ser
perturbadas, multipli cadas, complexificadas. Há, pois, um potencial político muito expressivo
e intenso no debate em torno da normatividade de gênero e da sexualidade.
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