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Resumo
Os tabuleiros híbridos aço-concreto são utilizados em diversas pontes por razões construtivas
e/ou económicas. Tipicamente, a estrutura do tabuleiro é constituída por vigas de concreto
nos tramos laterais e vigas de aço ou mistas aço-concreto nos tramos principais, habitualmen-
te ligadas com continuidade nas regiões de transição entre os dois materiais.
As normas de projecto referem-se separadamente ao dimensionamento de estruturas de aço e
concreto. Contudo, a ligação híbrida deve ser projectada de uma forma integrada, utilizando
um modelo eficiente e intuitivo de encaminhamento das cargas na região de ligação. Deste
modo, propõe-se um novo modelo de dimensionamento para estas zonas, baseado em formu-
lações desenvolvidas nas últimas décadas, relacionadas com a instabilidade de placas e mode-
los de campos de tensões. Analisa-se pormenorizadamente o caso de estudo de uma ligação
utilizada no tabuleiro híbrido de um viaduto sobre a auto-estrada A4, em Portugal.
Palavras-chave: tabuleiros de pontes híbridas; regiões de ligação; modelos de campos de ten-
sões; instabilidade de placas; modelos de bielas e tirantes.
Abstract
Steel-concrete hybrid bridge decks have been used in several bridges due to constructive and
economical reasons. Usually they adopt reinforced concrete back spans and main spans with
all-steel or steel-concrete composite girders, typically with monolithic connections in between.
Design codes address separately to the design of the steel and concrete parts of the connec-
tion. However, a rational design, with an efficient transfer of stresses between the steel and
the concrete parts, should be based on a global understanding of the connection region struc-
tural behaviour. Therefore, a new model for the design of the connection region is proposed,
based on web shear buckling models developed over the last decades for steel panels and
stress field models for structural concrete elements. A detailed case-study of the connection
region of a hybrid bridge deck, crossing the A4 highway, in Portugal, is presented.
Keywords: hybrid bridge decks; connection regions; tension field models; plate buckling;
strut-and-tie models.
Nos últimos anos, pontes híbridas constituídas pela combinação de tabuleiros de aço
ou mistos aço-concreto, e de concreto armado, têm merecido a atenção dos Engenhei-
ros, devido às suas vantagens económicas, construtivas e estruturais. O conceito fun-
damental de uma estrutura híbrida consiste na utilização racional dos materiais estru-
turais. Tabuleiros de concreto armado protendido são usualmente soluções económi-
cas em pontes de pequeno vão, enquanto os tabuleiros metálicos ou mistos são, em
geral, utilizados em pontes de maior vão, por serem mais leves, rápidos e fáceis de
construir.
144
Uma solução do primeiro tipo foi utilizada nos viadutos sobre a auto-estrada
auto estrada A3 (Figu-
(
ra 1). Nesta ligação, localizada na seção a 1/5 do vão, onde os esforços de flexão das
cargas permanentes são mais reduzidos, os esforços de corte são distribuídos pelos
conetores
onetores dispostos nas almas e banzos de uma peça metálica auxiliar, que permite a
ligação à parte metálica do tabuleiro por soldadura ou aparafusamento.
O segundo tipo de ligação utiliza a compressão da seção de ligação com barras ou ca-
c
bos de protensão.. O afastamento entre barras permite resistir ao momento fletor ins-
in
talado na seção.. Frequentemente, prolongam-se
prolongam se também os cabos de protensão do
tabuleiro de concreto protendido,
protendido ancorando-os
os na zona metálica ou mista. A obra de
alargamento da PI 275 (Portugal) constitui um exemplo deste tipo de ligação, tendo
sido utilizados simultaneamente
ltaneamente cabos e barras protendidass na conexão monolítica -
Figura 2a (Rito & Loureiro, 2006).
2006)
A solução utilizando
zando simultaneamente conectores e barras ou cabos protendidos foi
aplicada, por exemplo, na Ponte de Nagisa (Japão) e na Terceira Travessia do Bósforo
(Turquia). Ambas adotaram um tabuleiro híbrido, suspenso por tirantes e pendurais,
mas vãos principais bastante diferentes, 110 m na Ponte de Nagisa e 1408 m na Tercei-
Terce
ra Travessia do Bósforo.
145
(a) Ligação adotada na PI 275 - Portugal (Rito & (b) Ligação adotada na Ponte de Nagisa -
Loureiro, 2006) Japão (Sato, et al., 2003)
Figura 2 – Exemplos de ligações híbridas com cabos e barras de protensão
(unidades: m).
A ligação utilizada na Terceira Travessia do Bósforo é topo a topo, com “dentes” metá-
licos na seção de concreto, barras protendidas e conetores. As barras protendidas são
dimensionadas para equilibrarem o binário produzido pelo momento fletor atuante,
garantindo ainda a compressão da ligação. O esforço cortante é equilibrado pelos
“dentes” e conetores soldados verticalmente ao longo da extremidade do tabuleiro
metálico e pela força de atrito gerada na interface de ligação entre os dois materiais.
146
A resistência de uma placa ao corte pode ser obtida por diversos métodos (Lebet &
Lääne, 2005), tendo-se adotado o Método do Campo Diagonal de Tração (MCDT), ba-
seado no modelo de Cardiff-Praga. Trata-se do método incluído na ENV 1993-1-1 de
1992, e que deve ser aplicado a vigas de alma cheia com reforços transversais inter-
médios, com espaçamento entre ≤ ≤ 3, sendo e a altura e o espaçamento
entre reforços da alma de espessura
(Figura 3a). De acordo com este mé-
todo, o painel da alma instabiliza quan-
do se atinge a tensão crítica de corte
, não tendo capacidade para absor-
(c) Colapso
tulas plásticas nos banzos. A resistência
Figura 3 – Modelo de comportamento se- última é obtida pela sobreposição da
gundo o MCDT (Stiemer, 2007).
147
resistência pré-critica da placa com a resistência do campo diagonal de trações da fase
pós-critica (Figura 3c).
O valor da tensão associada ao campo de trações pode ser deduzido pelo critério
de von Mises-Hencky. Assim que a tensão de tração na alma atinge o valor da tensão
resistente do aço, ocorre um mecanismo de colapso semelhante ao apresentado na
Figura 4a, formando-se quatro rótulas plásticas nos banzos. A contribuição para a re-
sistência ao corte deste mecanismo, associado ao campo de trações formado na alma,
depende da largura do campo de tensões, definida por . O valor de é, por sua vez,
função da distância entre rótulas plásticas nos banzos comprimido e tracionado, e
, as quais podem ser obtidas através do equilíbrio da viga da Figura 4b.
148
3.2. Modelo do comportamento estrutural da região de concreto estrutural
De fato, estes modelos constituem uma ferramenta sólida para avaliar o comporta-
mento estrutural de um elemento de concreto, permitindo simular espacialmente o
caminho das cargas no interior de uma região em estudo e ainda ter em conta o com-
portamento do concreto em estado fendilhado. Estas vantagens conduzem a que o
Método de Bielas e Tirantes seja particularmente interessante no estudo das regiões
de descontinuidade dos tabuleiros híbridos.
149
No dimensionamento do consolo de concreto armado, uma relação /ℎ baixa conduz
a uma transmissão direta da carga, facilitando a pormenorização dessa região. A cali-
bração do comprimento do consolo curto está também dependente da necessidade
de assegurar que, no caso da adoção de um reforço de extremidade duplo (Figura 6c),
o dimensionamento do painel de apoio × ℎ! não é condicionado pela sua estabili-
dade, mas sim pela sua resistência plástica.
1500
(c) Corte
650
longitudinal
4-4
150
4. Caso de estudo
O Modelo 0 admite que a resistência ao corte é limitada pela tensão de corte crítica da
chapa de alma. Trata-se, assim, de um modelo de uma placa sujeita a um estado de
corte puro, com tensões principais orientadas segundo ângulos de 45o em relação à
direção de atuação do esforço cortante (Figura 7). Este modelo deve ser aplicado
quando não existem reforços transversais de extremidade com capacidade para anco-
rar as trações do campo diagonal, no regime pós-crítico.
151
do Eurocódigo 3 – Parte 1-5. A resistência ao corte calculada por este modelo é de
817 kN, para uma chapa de alma com 1500 mm de altura e 10 mm de espessura.
152
2
∅1
Área (A)
= /
∅2
4
400x35 mm2
20//0.20 + 12//0.20
3200
153
Verifica-se que, considerando apenas 10% da resistência à flexão da laje de concreto,
obtém-se um esforço cortante resistente de 1596 kN (95% superior ao do Modelo 0).
Apesar deste modelo se basear numa adaptação do MCDT, ensaios laboratoriais têm
comprovado a influência benéfica da laje de concreto na resistência ao corte pós-
crítica das vigas mistas (Gomes, Cruz & Silva, 2000).
300
674
790
1500
650
Através da Figura 13 verifica-se que, ao contrário dos modelos anteriores, a carga ver-
tical não pode ser transmitida na vertical até ao apoio pela chapa do reforço de extre-
midade, dando origem à força de desvio "# . Torna-se, assim, necessário adaptar o
154
= / Assim, considerando a fle-
2
∅1 xão vertical do reforço, as-
155
(a) Seção transversal 1-1
300
100
790
1500
650
300
600
156
se na seção mista composta pelo banzo superior/laje, sendo avaliada a resistência à
flexão desta seção tendo em conta:
No caso do momento fletor global instalado na ligação híbrida ser de 40% da resistên-
cia plástica do tabuleiro misto, obtêm-se esforços cortantes resistentes de 1677 kN e
1645 kN, em simultâneo com a atuação de um momento fletor positivo e negativo,
respetivamente (Figura 15).
300
661
790
1500
650
1500
650
157
4.5. Distribuição transversal da reação vertical no consolo curto de concreto
Chapas de topo
Chapas de reforço
400 400
158
É interessante observar a influência da espessura das chapas de topo e das chapas de
reforço/nervuras na uniformização da reação de apoio. A adoção de chapas de topo
com maiores espessuras e de reforços rigidifica a zona central do caixão misto, diminu-
indo os picos de tensão transmitidos à nervura de concreto (observável nas Figu-
ras. 17c e 17d).
O encaminhamento de car-
gas na nervura em concreto
estrutural pode ser traduzi-
do pelo esquema tridimen-
sional do modelo de bielas
e tirantes proposto (Figu-
(a) Modelo de equilíbrio para a reação vertical atuante sobre
ra 18a). Este modelo cor-
o consolo curto de concreto
responde ao caso (d) da Fi-
gura 17, em que a reação
vertical se concentra essen-
cialmente nos 0.4 m junto
ao contorno da seção
transversal na interface de
ligação, na proximidade das (b) Modelo de equilíbrio das barras protendidas e da reação
almas do caixão misto. A vertical
5. Conclusões
159
região metálica/mista e a região de concreto. Para os casos de estudo de uma ligação
rotulada e monolítica, e com base em modelos de campos de tensões, foram propos-
tos modelos para a transmissão de um esforço cortante e um momento fletor para o
dimensionamento da ligação de um tabuleiro híbrido. O estudo realizado conduziu às
seguintes conclusões:
iii. O Modelo 1B, que considera a contribuição de 10% da resistência à flexão da laje
de concreto armado, permite maiores comprimentos de ancoragem da diagonal
do modelo pós-crítico sobre o banzo superior, o que se traduz no aumento para
1596 kN do esforço cortante resistente;
iv. O Modelo 2, com um reforço de extremidade duplo, é mais eficiente que os an-
teriores, conduzindo ao aumento para 1712 kN do esforço cortante resistente da
ligação;
vi. As chapas de topo aplicadas no Modelo 3 têm uma influência relevante na distri-
buição transversal da reação vertical sobre o consolo curto de concreto; esta dis-
tribuição da reação é essencial para definir os modelos de bielas e tirantes de
dimensionamento da nervura de concreto na zona de ligação.
6. Agradecimentos
Este trabalho foi realizado com o apoio de uma bolsa de iniciação à investigação da
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a qual se agradece. Reconhece-se igual-
160
mente o apoio concedido pelos Engenheiros da Armando Rito, S.A. durante a realiza-
ção deste trabalho.
7. Referências bibliográficas
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