Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
08022018 2187
ARTIGO ARTICLE
e ajuste das políticas sociais na América Latina
Abstract This article briefly analyses the central Resumo Este artigo analisa brevemente os pon-
points of the World Bank’s agenda for the reform tos centrais da agenda do Banco Mundial para a
of national states in Latin America, between 1980 reforma dos Estados nacionais na América Lati-
and 2017. The text is based on World Bank doc- na, no período de 1980 a 2017. O texto se baseia
uments and specialized literature. Initially some em documentos do próprio Banco Mundial e na
relevant aspects of the history of the World Bank literatura especializada. Inicialmente, apresenta
and its configuration as a multilateral organiza- alguns aspectos relevantes da história do Banco
tion are presented. Next, it discusses the role of Mundial e de sua configuração como organização
the institution in the encouragement of structural multilateral. A seguir, discute o papel da institui-
adjustment programs for the economies of the re- ção na promoção de programas de ajuste estru-
gion during the 1980s, based on a hyper-market tural das economias da região durante a década
oriented agenda. Afterwards, the process of the de 1980, baseado numa agenda hipermercadista.
renewal and expansion process of the Bank’s po- Após, aborda o processo de renovação e amplia-
litical agenda from the end of the 1990s is looked ção da agenda política do Banco do final dos anos
at, which was based on the maintenance of the 1990 em diante, calcado na manutenção do ajuste
macroeconomic adjustment, the encouragement macroeconômico, na promoção de reformas ins-
of institutional reforms, and combatting extreme titucionais e no combate à pobreza extrema. Por
poverty. Finally, the principal lines in the Bank’s fim, discute as linhas centrais da agenda do Banco
social policy reform agenda are discussed, includ- de reforma das políticas sociais, entre as quais a
ing health. de saúde.
Key words World Bank, Structural adjustment, Palavras-chave Banco Mundial, Ajuste estrutu-
Social policies, Health reform, Public-Private ral, Políticas sociais, Reforma da saúde, Parcerias
Partnerships público-privadas
1
Departamento de História
e Relações Internacionais,
Instituto de Ciências
Humanas e Sociais,
Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro.
Rodovia BR-465, UFRRJ.
23897-000 Seropédica RJ
Brasil. joao_marcio1917@
yahoo.com.br
2188
Pereira JMM
figuração da política social passou por três mu- sariais; crescente matematização da pobreza e
danças principais. Em primeiro lugar, a política focalização das políticas sociais nos mais pobres;
social deixava de ser pensada como um insumo formatação da saúde pública como pacote de mí-
necessário ao investimento privado, como uma nimos sociais; orientação sistêmica ao mercado e
dimensão estrutural da acumulação capitalista, difusão da forma mercadoria em novos domínios
e passava a ser vista estritamente como gasto. da saúde; diversificação dos prestadores de servi-
Como consequência, os conceitos de desenvol- ço para além do Estado; eliminação de restrições
vimento e integração social cediam lugar ao de setoriais à plena competição entre atores priva-
compensação social. Em segundo lugar, ao invés dos nacionais e estrangeiros; regulação fraca das
de incorporar os estratos mais pauperizados da responsabilidades empresariais e regulação forte
população em condições satisfatórias de empre- dos direitos do capital; e, mais recentemente, pri-
go e renda, a nova política social visava impedir vatização por dentro do Estado mediante mo-
uma deterioração ainda maior de suas condições dalidades diversas de parcerias público-privadas
de vida, com um perfil assistencialista. Em ter- (PPPs)36-39.
ceiro lugar, a política social assumia um caráter
transitório e flexível, seja pela confiança no cres-
cimento e no efeito derrame, seja pela adoção de Conclusão
“portas de saída” nos programas sociais. Por tudo
isso, a política social converteu-se numa espécie Após mais de setenta anos desde a sua criação,
de “bombeira”31, orientada para tão somente ali- o Banco Mundial tem se mostrado capaz de se
viar o mal estar social decorrente do ajuste eco- adaptar às mudanças em curso na economia po-
nômico. Os graus e modalidades dessa reconfi- lítica internacional e de seguir promovendo a
guração variaram de país para país na América liberalização econômica e a privatização da vida
latina e, no caso do setor saúde, em geral deram social.
origem a sistemas híbridos32,33. No período analisado (1980-2017), a atuação
Da década de 2000 em diante, a agenda de do Banco para a América Latina se tornou cada
combate à pobreza do Banco Mundial na América vez mais politizada, abrangente e intrusiva. Nes-
Latina se concentrou na disseminação de progra- se sentido, os empréstimos funcionaram como
mas de transferência de renda condicionada, ten- alavancas para a reorientação do gasto público
do como vitrine o programa Bolsa Família, tam- e a indução de novas prioridades e objetivos aos
bém financiado pela instituição34. Para o Banco governos. Do hipermercadismo dos anos oitenta,
– ainda que não necessariamente para os gover- baseado na culpabilização do Estado e na con-
nos nacionais –, tais programas são considerados fiança irrestrita no crescimento econômico e no
como mecanismos auxiliares da liberalização eco- efeito derrame, o Banco se inclinou, nas décadas
nômica, integrando um modelo de política so- seguintes, para uma agenda que aposta no pa-
cial centrado na privatização de serviços básicos pel ativo do Estado na construção de economias
(para os que podem pagar) e em transferências de mercado, competitivas e globalizadas. Nessa
monetárias condicionadas e transitórias (para os concepção, o Estado eficiente e eficaz deve sê-lo,
que ainda não podem fazê-lo)35. A limitação das fundamentalmente, para o capital global. Não há
políticas sociais ao combate à pobreza orienta- lugar nessa agenda para direitos sociais como ex-
se por uma abordagem estreita, preocupada em pressão dos direitos humanos.
focalizar cada vez mais o público-alvo, contar os Ainda há muito a pesquisar sobre o Banco
pobres e individualizar os beneficiários, à parte de Mundial e sua incidência na reestruturação das
qualquer consideração séria sobre como a riqueza políticas sociais no Brasil e na América Latina,
nacional é produzida e apropriada, de forma de- região onde historicamente a instituição concen-
sigual, por grupos e classes sociais, num mundo trou a sua carteira de empréstimos. Tais investi-
cada vez mais globalizado. gações demandam enfoques interdisciplinares e
Para o setor saúde, a agenda de reformas do estudos empíricos que analisem, em diferentes
Banco Mundial seguiu e segue as linhas gerais escalas, as contradições e os acordos de poder que
acima definidas: colonização da gestão pública envolvem o Banco e atores públicos e privados,
do setor pela Economia e por modelos empre- nacionais e globais.
2195
Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional 1. Gwin C. U.S. relations with the World Bank, 1945-
1992. In: Kapur D, Lewis J, Webb R, editors. The World
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Bank: its first half century – Perspectives. Washington:
(CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa Brookings Institution Press; 1997. Vol. 2. p.195-274.
do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). 2. Babb S. Behind the development banks: Washington pol-
itics, world poverty, and the wealthy of nations. Chicago:
The University of Chicago Press; 2009.
3. Wade RH. Greening the Bank: the struggle over the en-
vironment, 1970-1995. In: Kapur D, Lewis J, Webb R,
editors. The World Bank: its first half century – Perspec-
tives. Washington: Brookings Institution Press; 1997.
Vol. 2. p.611-734.
4. Kirk J. India and the World Bank. London: Anthem;
2010.
5. Woods N. The globalizers: the IMF, the World Bank and
their borrowers. Ithaca: Cornell University Press; 2006.
6. Williams D. The World Bank and social transformation
in international politics. London: Routledge; 2008.
7. Harrison G. The World Bank and Africa. London: Rout-
ledge; 2004.
8. Gowan P. The global gamble: Washington’s faustian bid
for world dominance. London: Verso; 1999.
9. Brenner R. The boom and the bubble: the US in the
world economy. London: Verso; 2003.
10. Panitch L, Gindin S. The making of global capitalism: the
political economy of American empire. London: Verso;
2013.
11. Duménil G, Lévy D. Crisis y salida de la crisis: orden y
desorden neoliberales. México: FCE; 2007.
12. Harvey D. Breve historia del neoliberalismo. Madrid:
Akal; 2007.
13. Kapur D, Lewis J, Webb R, editors. The World Bank: its
first half century – History. Washington: Brookings In-
stitution Press; 1997. Vol. 1.
14. United States of America. United States participation in
multilateral development banks. Washington: Depart-
ment of the Treasury; 1982.
15. Williamson J. What Washington means by policy re-
form. In Williamson J, editor. Latin American adjust-
ment: how much has happened. Washington: Institute
of International Economics; 1990. p. 5-20.
16. Babb S. The Washington Consensus as transnational
policy paradigm: Its origins, trajectory and likely suc-
cessor. Review of International Political Economy 2013;
20(2):268-297.
17. World Bank (WB). World Development Report. Wash-
ington: WB; 1990.
18. World Bank (WB). World Development Report. Wash-
ington: WB; 1991.
19. Naím M. Latin America: the second stage of reform.
Journal of Democracy 1994; 5(4):32-48.
20. Burki SJ, Perry G. The long march: a reform agenda for
Latin America and the Caribbean in the next decade.
Washington: The World Bank; 1997.
21. Burki SJ, Perry G. Más allá del Consenso de Washington:
la hora de la reforma institucional. Washington: Banco
Mundial; 1998.
22. World Bank (WB). World Development Report. Wash-
ington: WB; 1997.
23. World Bank (WB). Sub-Saharan Africa: from crisis to
sustainable growth. Washington: WB; 1989.
2196
Pereira JMM
CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons