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O debate em torno da questão urbana no Brasi l passa pouco a pouco a

ter como centro a defesa de uma política fundiária. Tenta-se demonstrar


teoricamente como tal \ intervenção do Estado _é necessária para resolver os
impasses do desenvolvimento urbano brasileiro - ePromover a justiça social.
O f undamento da argumentação é a crença de que o mercado de terras é
o principal mecanismo gerador dos problemas urbanos: dispersão/hipercon-
centração, déficit habitacional, crescimento periférico, alto custo dos equi-.
pamentos urbanos etc.
A relação entre mercado de terras e o processo de estruturação das
cidades é vista como decorrente, de um lado, das imperfeições do funcio -
namento desse mercado, as quais permitem a especulação com os preços
fundiários, e, de outro, da estreita ligação entre valorizaçãó fundiária e in -
vestimentos públicos em infra-estrutura e equipamento urbanos.
Essas colocações estão baseadas nas crescentes críticas que têm sido
formuladas às teorias de tradição neoclássica. O ponto nodal é o abandono
do pri n cí pi o d o m er ca d o co mo m e c a ni smo d e di s tri b ui ç ão e q ui l i br a d a
das atividades no espaço, na medida em que não preenche todas as condi -
ções para que o preç o das terras seja um elemento regul ador da of erta e
da demanda. Pelo contrário, para esses autores, criam -se nesse mercado
situações de oligopólio geradoras de ineficiências no uso do solo e desi -
gualdades sociais.
Nesse movimento crítico, os autores têm incorporado algumas orien -
tações da Economia do Bem-Estar, segundo a qual:

a) a terra não pode ser assi mi l ada a um f ator de produção;


b) o rendimento da terra propicia um nível de bem-estar superior em
rel ação aos outros ti pos de rendimentos, já que o proprietári o
não despende esforços para auferi -lo;

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solo urbano espaço urbano

c) os preços fundiários são determinados pela apropriação de econo -


mias externas criadas sobretudo pelo poder público; col ocar como pr emi ssa d e an ál i se q ue os pr eços f undi ári o s são f ormados
d) assim sendo, torna-se necessária a intervenção governamental com a partir da hierarquia de preços gerada pelas várias demandas dos agentes
o objetivo de corrigir as' irracionalidades no uso do solo e de pro - capitalistas que valorizam seus capitais através da utilização e da t ransfor-
mo v er a e q üi d a d e na di s tri b ui ç ão s ó ci o - es p a ci al d a ri q ue za. mação do uso do solo urbano. Isso significa dizer que a compreensão dos
mecanismos de formação dos preços da terra, bem como os efeitos destes
A tal argumentação teórica juntam -se considerações de ordem práti - sobre a configuração espacial das cidades, passam, necessariamente, pela
ca. Tenta-se demonstrar que o combate aos ganhos "ilícitos" dos proprie - análise das relações entre valorização dos capitais e uso do solo.
tários seria possível, mesmo tratando -se de uma limitação do direito de Ness e s e nti d o g an h a p arti c ul ar i m port â nci a o est ud o do proc esso
propriedade, pois contaria com o apoio das frações capitalistas da socieda - de produção e di stri bui ção dos objetos i mobili ári os, especi al mente das
de, interessadas em aliviar as tensões sociais decorrentes das desigualdades edificações. Com efeito, o capital que nele se valoriza é grande demandador
sociais nas cidades. Alguns chegam até a pensar na formação de um pacto de solo urbano, pois a cada ciclo da sua reprodução necessita utilizar terra.
dos interesses capitalistas contra os interesses dos proprietários. Duas conseqüênci as surgem dessa especificidade. De um lado, o proprietá -
Não obstante acdaréi - iCia - da argumentação; o que presenciamos é rio fundiário, enquanto monopolizador do uso d a terra, é uma barreira à
uma i ncapacidade do Governo para intervir de maneira efi caz nos meca - valorização do capital produtor dessas mercadorias. O surgimento e o de -
nismos de valorização da terra, não somente no Brasil, mas também nos senvol vimento desse ramo de produção depende das condições que per -
países latino-americanos. Em muitos existe mesmo um conjunto de instru- mi tem ao ca pi tal super ar esse obstác ul o. D e outro l a d o, esse c api tal
mentos jurídicos e i nstitucionais de intervenção que form almente permi- tem a possi bilidade de captar parte do preço do solo através da
tiriam um control e do desenvolvi mento urbano. No entanto, nesses países transformação do seu uso. É necessário, pois, estudar o mercado de terras
juntamente com
é muito acanhada a atividade pl anejadora e o crescimento urbano continua
a produzir as "irracionalidades" na ocupação do solo. o mercado imobiliário, identificando-se os agentes que neles operam e as
relações de cooperação e conflito que estabelecem.
Por não acreditar na existência de um "caráter tropical ", que expli -
Não pretendo aqui realizar tal análise. Espero apenas identifi car al -
caria esses impasses entre intenção : e gesto, penso ser necessário aprofundar
guns aspectos teóri cos da relação entre espaço urbano, mercado de terras
a discussão sobre a natureza da questão fundiária. A meu ver, mesmo con -
e produção dá habitação, fundamentados em pesquisa bibliográfica. Esse
siderando haver avanços recentes nas formul ações teóricas, permanece
,

confusa a relação entre estruturação do espaço urbano e mercado de terras. trabalho tem, portanto, um caráter preliminar .
A noção de especulação, que se tornou a pedra de toque dos debates, serve Num primeiro momento, tentarei estabelecer as bases teóricas para
mais para confundir do que para explicar, pois remete a relação a uma in - compree nsão da rel aç ão entr e espaço ur ba no e a cum ul a ção do c api tal .
determi nação econômi ca, sobretudo quando se quer estabel ecer separa- Este tópico servirá para colocar os termos da questão fundiária a partir da
ções entre ganhos "lí ci tos" e "i lí citos". compreensão mais ampla das contradições da urbanização capitalista. Num
A meu ver, o debate somente tomará cami nhos mai s prof í cuos se segundo, procurarei identificar as relações entre a produção e consumo dos
partir de uma constatação f undamental: o f ato de que a terra é um bem objetos imobiliários e a valorização da propriedade privada da terra urbana,
não-produzido que, portanto, não tem valor, mas que adquire um preço. buscando construir o quadro teórico para a análise das relações entre os
Ora, um bem não-produzido não pode ter seu preço regul ado pel a lei dá agentes presentes nos processos de valorização fundiária e imobiliária. Por
oferta e da procura; pois não há lei regulando a sua oferta. É a procura que sua importância em termos de uso de solo e pelas suas especificidades, cen-
sus ci t a o p r eç o d a te rr a e nã o o e n co n tro n o m er c ad o d e "p ro d ut or es " trarei minha atenção no processo de produção da habitação. Por último,
e compradores de solo. Mas aqui é necessário esclarecer que não é a de - esboçarei algumas conclusões que poss ibilitem alimentar a discussão sobre
manda fi nal formada pel os consumi dores ori entados pel as suas pref erên - o papel da propriedade privada da terra na geração dos problemas urbanos.
cias e levando em consideração as utilidades das várias porções de solo.
.T.rata- s- é- dá— dseM- a- nda capitalista por solo. Em outras palavras, é necessário
solo urbano espaço urbano

A Formação e Renovação do Espaço Construído tos imobiliários é a base física da formação do valor de uso complexo. Ele
nasce da articulação quantitativa, qualitativa e espacial de vários valores de
A busca do estabelecimento de relações entre o espaço e a acumulação do
uso específicos: vias de transportes e comunicações, sistema de captação,
capital tem sido uma constante preocupação de economistas e sociólogos.
tratamento e di stri bui ção de água, si stema de recol hi mento de esgoto,
Para os teóricos da sociedade capitalista ela tem-se resumido na elaboração
sistema de distribuição de energia, moradias, praças, parques, sistema de
de modelos de localização que permitam às firmas maximizar seus investi -
abastecimento etc.
mentos, através da internalização de economias externas. A formação des -
Para a indústria a localização no espaço urbano significa a escolha de
sas economias é irrelevante para esses autores e são assimiladas às "condi-
um pónto que l he permita maximizar a apropri ação do val or de uso com -
ções naturais" da produção.
pl exo. E ssa local ização óti ma se traduz em mai or capaci dade de extrair
Outros autores, mai s preocupados em compreender e criticar a l ó -
mais-valia através do uso das utilidades que compra na forma de merca -
gica global da produção capitalista de mercadorias, têm buscado com -.
dorias e dos efeitos úteis de aglomeração que encontra pceexistente s. Para
preender aqu el a rel ação através do concei to de capi tal soci al fi xo. Para
a esf era de circul ação, o espaço construi - do tem a utilidade de permi tir
eles as firmas se apropriam de um capital produzido socialmente, sem que
uma di minui ção do tempo de duração da imobilização do capital.
nada paguem por essa utilização. A ci dade seri a então um espaço cons -
Mas, se o espaço construído tem um importante papel , no processo
truído, onde estão presentes um conjunto de el ementos que exercem para
de a cu mul aç ão do c api t al , a s u a f orm aç ão e r en ov aç ão é pro bl em áti ca.
o processo global de produção o mesmo papel q ue as máqui nas no interior
A razão principal é que a sua constituição se dá nos marcos das relações
de um processo parti cul ar: capi tal constante fi xo. Embora essa f ormul a -
capi talistas de produção, o que equival e a diz er que el a está subordi nada
ção lance as bases para a compreensão das contradições da urbanização
às leis que regem a produção e circulaçã o de valores. Para melhor com -
capitalista, ela não esclarece a real natureza da relação entre o espaço e a
preender essa af i rmação val e uma comparação entre a f orça produti va
acumulação do capital. Com efeito, cada processo particular de valorização
cri a da no i nt eri or d e um p roc esso pa rti c ul ar de pr od uç ã o e est a, q u e
,

não i ncorpora valor da i nf ra -estrutura e dos equi pamentos urbanos, como


nasce da combinação de vários processos autônomos de produção e cir -
o faz com a utilização das máquinas, das instalações, enfim do capital cons -
cul aç ão d e me rc ad ori as. E nq ua nt o n um a em pres a o c a pi tal co ns eg u e
tante fixo. A relação entre a produção capitalista de mercadorias e o espa -
impor sua domi nação para combi nar mei os de produção e f orça de traba -
ço se dá através da apropri ação pel o capital dos efei tos úteis existentes
lho para melhor utilizar as forças produtivas, o valor de uso complexo de -
nesse espaço. Em outras pal avras, o espaço construído se constitui num
pende de uma cooperação nascida ao azar. É por esse moti vo que convé m
valor de uso complexo l que tem a propriedade de tornar o trabalho social falar em formação do espaço construído e não em produção pois nenhum
mais produtivo de mais-valia. agente capitalista detém o controle sobre o seu surgimento.
O espaço construí do representa uma força produtiva sociali zada, da No que concerne ao sistema espacial de objetos imobiliários, a sua
qual cada capitalista procura apropriar -se para valorizar seu capital em me- for i maçâ'o depende das condi ções econômi cas que permitam a produção
lhores condições. Veremos mais r,cliante os termos dessa relação. Parece - de cada el emento como mercadori a. Com ef ei to, embora o conjunto de
me importante identificar antes os aspectos concretos desse valor de uso objetos formem uma utilidade, cada um em si mesmo é um valor de uso,
compl exo. O mais importante, como há mui to tempo se reconhece, é a muitos produzidos como mercadoria. Assim sendo, a formação desse sis -
concentração espacial de um grande número d e trabalhadores, que tem a tema depende de processos autônomos, o que não garante a necessária
propriedade de gerar uma força p'rodutiva coletiva superior à simples soma articul ação quantitati va, qualitati va e locaci onal .
das forças de cada trabal hador tomado separadamente. Um outro elemento As contradições da urbanização capitalista podem, em grande parte,
é a complexa interdependência entre uma multiplicidade e diversidade de ser entendidas a partir dos obstáculos que se colocam à formação do sis -
uni dades de produção e de ci rcul ação de mercadori as, f ormando aqui l o tema espacial de objetos imobiliários. Em primeiro lugar, a natureza desses
que nos est udos sobr e l oc al i z ação se c un hou como mei o i ndustri al .' Mas objetos (bens duráveis e fungíveis, de co nsumo indivisível) dificulta a sua
o surgimento desses ef eitos úteis de aglomeração depende da existênci a produção na f orma de mercadori a, que exi ge a separação entreprodução
de, um sistema espacial de objetos imobiliários. O siste ma espacial de obje- e 'co nsumo, i ndi vi dual i z ação do consumo e tot al a propri aç ão do o bj eto

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solo urbana espaço urbano

pelo consumidor. Em segundo lugar, a produção exige muitas vezes um


ocupa um lugar específico no conjunto das contradições da urbanização
capital de forte composição orgânica e baixa velocidade de rotação, com
capitalista.
conseqüências ao nível da taxa de lucros. Contudo, esses dois obstáculos,
por si sós, não explicam as dificuldades para a formação do sistema espa -
cial de .objetos imobiliários. Com efeito, alguns objetos já foram produzi-
dos de forma capitalista, como, por exemplo, o sistema de transporte fer -
Produção e Comercialização da Habitação
roviário, que hoje se acha nas mãos do Estado como valor de uso. Por
e Propriedade Privada da Terra Urbana
outro lado, em alguns países certos objetos são produzidos e circulam co -
mo valor de uso e em outros surgem como valor de troca. A forma como
Tentamos mostrar anteriormente que a contradição básica da urbanização
em cada sociedade e em cada momento são vencidos os obstáculos à pro - capitalista é que o espaço construído (como valor de uso complexo) repre -
dução dos objetos imobiliários que constituem o suporte físico do valor de senta uma socialização das forças produtivas cuja formação e renovação
uso complexo é a base para .a compreensão dos processos de urbanização
.
se chocam com as relações capitalistas de produção. O aspecto fundamental
e do surgimento do planejamento urbano. dessa contradição é que o espaço construído é ao mesmo tempo objeto de
Um terceiro obstáculo é a questão fundiária. Ela se expressa, de um consumo (intermediário e final) e de . valorização de capitais especializados
lado; pela necessidade de grandes quantidades de solo urbano para a pro - na produção e circulação dos objetos imobiliários que servem de suporte
dução dos objetos imobiliários, que se contrapõ em ao imenso parcelamento físico do valor de uso complexo.
do uso da terra urbana, característica marcante de todas as cidades ca - Nesta parte do trabalho vamos examinar as contradições do setor
pitalistas. De outro lado, a propriedade privada da terra é um monopólio que produz os objetos imobiliários, tomando como centro a produção de
sobre um eleme nto fundamental da pr oduç ão dos objetos imob iliár ios. edificações para moradia. Nossa preocupação será identificar os agentes
Esse obstáculo, em princípio enfrentado por todos os capitalistas, atinge presentes nesse processo e suas relações.
mais fortemente o setor de produção imobiliário, uma vez que a proprie -
dade privada da terra ressurge como empecilho a cada novo ciclo de repro -
dução do capital. Em conseqüência, no caso da produção de objetos imo-
Valor de Uso da Moradia
biliários, particularmente de edificações, o proprietário fundiário está em
posição de exigir altos tributos para ceder seu monopólio sobre o uso do Antes de entrarmos nessa análise é necessário discutir como se define o
solo. Para que surja e se desenvolva a produção capitalista imobiliária são valor de uso da mercadoria moradia. Essa discussão é importante para que
necessárias certas condições que permitam o pagamento pelo capital desse se compreenda a relação entre os processos de produção e comercialização
alto tributo e ainda lhe reste o lucro médio. Essa posição limitadora é ainda da moradia e o solo urbano. Pertence a nossa consciência a imensa impor-
maior na medida em que o capital se defronta com a terra usada como su tância da localização na determinação dos preços da moradia.. Ela revela
porte de atividades não-capitalistas ou que correspondem a momentos ante- que a utilidade dessa mercadoria não é apenas definida pelas suas caracte -
riores da divisão social do trabalho. São os casos em que a propriedade é a rísticas internas enquanto construção. Seu valor de uso é também determi -
base do pequeno comércio, do artesanato, do campesinato instalado nas nado pela articulação espacial de abjetos imobiliários. O que é vendido não
zonas periurbanas. Nesses casos, um ' obstáculo adicional a ser enfrentado são apenas "quatro muros", mas também um ticket de participaçã) no
pelo capital é a "irracionalidade" do proprietário em não querer transfor - consumo dos objetos imobiliários. 4 A importância desse elemento na de-
mar seu bem em mërcadoria. 3 Muitas vezes, será necessária a intervenção terminação dos valores de uso das moradias cresce na razão direta da dife-
do Estado, na forma dos programas de "renovação urbana" para resolver renciação do espaço construído, ou seja, quanto maiores as desigualdades
esse conflito. quantitativas, qualitativas e locacionais do sistema espacial de objep:)s imo -
biliários, maiores, serão as diferenças dos valores de uso das moradias.
Conc luind o, p odemos afirma r que a p ropr ied ade pr ivada da ter ra É a dependência da moradia vis-à-vis o espaço construídó que con-
não pode ser colocada como a principal causa dos problemas urbanos. Ela fere importância à localização na determinação'clo seu preço. Esta é uma

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solo urbano espaço urbano

constatação importante na medida em que o conhecimento do uso em po - do capital investido na produção de moradi as. Sem essa condição apenas
tenci al dos terrenos permite o control e de um el emento importante do existirão pequenas empresas, de caráter artesanal ou manufatureiro, com
processo de valorização fundiária e imobiliária. Em outras palavras, o con - escassos capital-dinheiro investidos. Assim sendo, torna-se necessária a exis= -
trole do momento de transformação do uso do solo pode permitir que um tência de um pré-financi amento, capaz de aprovisionar em terrenos o capi -
agente se benefi ci e de um preço que não provém apenas do monopóli o tal. Essa função será exercida com o surgimento do capital de incorporação,
sobre a terra, mas do monopólio sobre o acesso ao consumo do sistema como veremos a seguir.
espacial de objetos imobiliários. Utilizaremos ess e elemento quando ana- O segundo obstáculo é a inexistência de uma demanda solvável. Ela
lisarmos a produção capitalista da habitação. se define por uma inadequação do valor da moradia aos salários. Com efei-
to, os preços da moradia tendem a ser extremamente elevados, se compara-
dos aos outros produtos de consumo, e, paralelamente, os rendimentos da
Contradições da Produção Capitalista da Habitação' popul ação tendem a li mi tar -se aos sal ários. O capi tal -moradi a somente
pode realizar-se aos poucos, na medida do seu consumo, pois os salários
F. Engels, em A questão da moradia, analisa o processo social de constitui- tendem a contempl ar as necessi dades habitaci onais de hoje .e não as do
ção da probl em áti ca ha bi taci onal . Na. pol êmi ca q ue tra va com Pro udho n ano que vem. A conseqüênci a é que _o retorno do capi tal comprometi do
e Sax sua preocupação é demonstrar que se trata de uma questão produ - à sua forma di nheiro tenderá a se prol ongar durante um período muito
zi da pel a própri a l ógi ca de f uncionamento da soci edade capi talista. No superior ao das outras mercadorias. .

entanto, E ngel s não consegue ser convi ncente q uando tenta explicar por A produção capitalista da habitação passa .a depender da existênci a
que, malgrado o fato de as moradias alugadas aos operários apresentarem de um capital de circulação capaz de suportar esse longo período de rota -
elevadas taxas de rentabilidade em relação ao investimento realizado, o ção, através do financi amento do consumo, permitindo ao capital constru -
desenvol vimento de um setor capitalista de produção da habitação encon - tor obter uma rotação normal.
tra dificuldades . Na sua opi nião interessava aos capitalistas manter a pe - A emergência e desenvolvimento de um setor capitalista de produção
núri a de moradi as como meio de manter a dominação sobre os operários.' de moradias depende, pois, da existência de agentes capazes de exercer as
Na verdade não estava nos horiz ontes de E ngel s os obstácul os para funções de liberação do terreno e financiamento do consumo, seja através
a valorização de capitais na produção da habitação. Hoje está demonstrado do aluguel seja através da compra. As formas como são atendidas essas ne -
que existem dificuldades estruturais para que tal setor surja e possa suprir cessi dades determi nam em cada soci edade e em cada momento históri co
as necessidades sociais. 6 as características dos processos de produção e circulação da habitação. Eles
Elas dizem respeito às condições de produção e realização do capital constituirão sistemas de produção e de circulação específicos, definidos
investido na construção de moradias. pelos lugares de dominação/subordinação ocupados pelo proprietário fun -
O primeiro obstáculo é a propriedade privada da terra. Ela representa diário, construtor, financiador e usuário.
o monopóli o sobre uma condi ção da produção, que não p ode ser cri ada Passarei agora a tratar desses sistemas. Limitar-me-ei aos sistemas de
pelo próprio capital. ? Como dissemos anteriormente, o capital deve pagar produção. Não preteri do f az er uma históri a dos processos de produção,
um tri buto para obter essa condi ção a cada novo ci clo da sua reprodução. mas apenas construir um quadro teórico que sirva como instrumento de
O que desejamos frisar nesta parte é que o agente que detém o direito de análise.8
uso da terra controla um elemento fundamental no processo de produção.
Esse agente pode ser o proprietário fundi ário ou outro qual quer que obte-
nha o direito de propriedade. O capitalista construtor somente terá contro -
le desse elemento se puder aplicar parte do seu capital na compra da terra.
Sistemas de Produção da Habitação
Mas o setor de produção de moradias somente poderá se constituir e se d e- O primeiro sistema que podemos pensar é o da produção não-mercantil.
senvol ver se houver um fluxo permanente de terrenos disponí veis, condi - Nel e o usuári o é o ag ent e domi n ant e: tem a t erra, por co mprq ou outro
ção fundamental para a existência de um processo contínuo de valorização meio, constrói a moradia ele mesmo ou através da contratação de um agen -

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solo urbano a) surgimento de uma demanda mais estável e de maior poder aqui-
sitivo;
te construtor. A tendência é que esse sistema se desenvolva nas duas franjas b) aumento dos preços dos terrenos, em função, sobretudo, das ren -
opostas do mercado imobiliário, no segmento composto pelos trabalhadores das de localização, exigindo a aplicação de grandes somas de capi -
excluídos do mercado capitalista e no constituído pelas camadas mais enri - tal-dinheiro, como pré-requisito à produção.,
queci das da soci edade. Nos dois casos, a l ógi ca domi nante e determi nada c) transformações no capitalismo, com a emergência dos monopólios
pela utilidade e pelas posses do consumidor, mesmo quando o sistema este - que empurram as frações não-monopolistas para esferas menos
ja integrado com circuitos de valorização de capital (empréstimos imobiliá - rentáveis;
rios, pagamentos de empresa de construção, compra de materiais etc.). d) surgimento de um sistema financeiro capaz de captar pequenas
poupanças, sub-remunerando-as e colocando-as à disposição do
0 segundo sistema é o comando pela lógica rentista. Corresponde ao
setor imobiliário, para o financiamento da produção e da comer -
predomí nio do propri étári o no processo de li beração e transf ormação do
cialização.
uso do solo, produção e na comerci alização das m oradi as. Ele é composto
de três vari antes, o l oteamento, a construção de conjuntos de habitações E m mui tos países f oi necessári a a i ntervenção do E stado para que
e o aluguel da terra a um construtor. Na primeira, o proprietário limita -se a essas condições fossem criadas e esse, ao nosso ver, é o principal objetivo
transformar o uso do solo, acondici oná -lo com alguns objetos urbanos e das políticas habitacionais.
vender os lotes. Na segunda, o proprietário emprega uma soma de recursos Esses sistemas não representam uma cronologi a históri ca da produ -
também na construção de moradias para al ugar. 9 Na terceira, o proprietário ção da habitação. Numa sociedade eles podem coexistir de uma forma arti -
aluga seu terreno a um construtor, sob a condição de nele serem cons truídas culada» Isso equivale a dizer que existem racionalidades heterogêneas no
casas para al uguel e, findo o contrato, o terreno e as casas retornam ao mercado i mobi li ári o e, conseqüentemente, no processo de ocupação do
proprietário. 10 Nas três variantes a racionalidade que preside ao processo é espaço urbano. No entanto, podemos supor que há uma tendência para o
a apropriação de uma renda, fundiária ou imobiliária, capital iza da ou não. predomínio da racionalidade do sistema de i ncorporação na formação do
E sses doi s si stemas predomi nam quando o capi tal ai nda não pene - espaço urbano. Por esse motivo é interessante aprofundar o conhecimento
trou no ramo de produção de moradias, ou penetrou apenas parcialmente, desse sistema.
embora exista uma escassez de moradi as, fruto de um rápi do e i ntenso
crescimento urbano. Geralmente, os construtores são pequenas firmas,
muitas vezes artesanais, que surgem e desaparec em em função da expansão
O Sistema de Incorporação
ou retração do mercado.
O terceiro sistema é o da incorporação imobiliária. Corresponde ao O incorporador é um agente que exerce as seguintes funções: 12
momento em que o papel domi nante é exercido por um capital de circul a - a) escolha e compra do terreno;
ção, uma vez que este passa a controlar o terreno e a transformação do seu b) análise do mer c ado;
uso. O incorporador compra a terra, planeja a operação, encontra financia -
c ) concepção e desenvolvimento do projeto, compreendendo aspec -
mento para a produção e a comercialização e contrata a empresa constru -
tos técnicos, legais, fiscais, financeiros e operacionais;
tora. A racionalidade do processo passa a ser a racionalidade do capital de
d ) mobilização do capital necessário à operação, compreendendo, fi -
circulação. A origem desse capital pode ser variada, desde patrimônios fa -
nanci amento para construção e para o consumidor final.
miliares que passam a ser "aplicados no imobiliário" até o capital financei -
ro, passando por formas combinadas de capitais de origens diferentes. E xi ste uma pol êmi ca sobre a def i ni ção da naturez a desse sente. A
A condi ção bási ca para o surgi mento desse si stema é a ex ti nção ou razão das divergências é o fato de que, apesar de ser um agente capitali sta,
a perda do signifi cado dos sistemas domi nados pelo propri etári o e pelo o incorporador após a compra do terreno assume -a função exarcida pelo
consumidor, que passam a agir nas franjas do mercado. Isso pode acontecer propri etári o f un di ári o. Pe nso q ue s eri a mai s prof í cuo pe nsar o p ap el do
pela ação de vários fatores, a saber: espaço urbano

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solo urbano espaço urbano

incorporador a partir desta dupla função: de capitalista comercial, que in-


veste nas atividades promocionais da produção, e de um proprietário fun- culo "da frente para trás", no qual o dado é o preço de mercado: o i ncor -
diário que exerce o controle sobre o acesso e a transformação do uso do porador descobre um terreno passível de liberação; concebe uma operação
solo. Trata-se de um proprietário fundiário-capitalista comercial, na feliz l evando em co nta o preço máxi mo das moradi as que o "ponto" permi te
expressão de Dechervois e Théret. 1 3 Uma ou outra f unção pode predomi nar, cobrar, a quanti dade total de moradias que podem ser construídas; calcul a
os custos de produção, i ncl uindo a construção, pl anejamento, financiamen -
o que significa que a racionalidade desse agente pode -ser predominantemente
to e comerci alização. E sses el ementos l he permitem cal cular a sua margem
renti sta ou predominantemente baseada no lucro comercial . Os fatores que
de l u cros. " É ess e o da do f u nd am ent al das ne go ci aç ões qu e est a bel ec e
condicionam essa racionalidade s ão as relações travadas pelo incorporador
com 'o propri etário. O preço máxi mo que pode pagar pela terra é aquel e
com os outros dois agentes do processo, ou seja, o proprietá rio inicial da
que não signifi que uma dimi nuição da margem de l ucros para aquém do
terra e a empresa construtora.
determi nado pel a taxa geral de l ucros. O i ncorporador tentará pagar um
preço fundiário que lhe permita um sobrelucro. Isso serás.possi'vel na medi -
Relação incorporador versus proprietário fundiário da em que a l ocalização do terreno no espaço urbano permita ao i ncorpo -
Essa é uma relação diferente da relação clássica que serve a Marx como rador fixar um preço de mercado pela m oradia superior aos praticados na-
parâmetro para a sua análise da renda fundiári a. O incorporador não é o quel e ponto. Nesse caso, o i ncorporador se apropri a de uma renda ori unda
agente-suporte do capital produti vo, como o é o arrendatário que investe da transformação do uso do solo.
na agricultura. Se,u capital se valoriza na esfera da circulação da mercadoria A natureza da rel ação entre propri etário fundiário e incorporador faz
e não no momento da produção. Por isso parece -me dif ícil pensar que o com que o elemento central das empresas que se dedicam à incorporação
prdço da terra pago pelo incorporador seja regulado pelos sobrelucros gera - imobiliária seja a política de compras de terras. Ela se constitui em estraté -
dos no processo de construção. gias de aquisição que permitem ao incorporador liberar o terreno e se apro -
Por outro lado, o proprietário não se ass emel ha ao proprietário ren- priar de parte da renda fundi ária. Segui ndo as pegadas de Topalovls pode -
tista que vive do arrendamento da sua propriedade. Ela pode ser suporte de mos i dentif i car basi camente dois ti pos de estratégi as. A pri mei ra provém
processos de valoriz ação de capi tais, quando se trata de terrenos utiliza dos da i novação i ntroduzi da pelo i ncorporador no uso do sol o, que comporta
por indústrias, empresas comerciais e financeiras; ela pode ser suporte de várias práticas diferentes. A segunda se fundamenta na antecipação sobre a
atividades econômicas não-capitalistas quando se trata de locais usados pelo alta dos preços de mercado das moradi as num a determinada zona, em fun-
ção da real ização pel o Estado de equi pamentos urbanos que mudam os
pequeno comérci o, pelo artesanato e pel o camponês i nstal ado nas
valores de uso das moradias nela localizadas.
fronteiras agrícolas da cidade; a terra pode também ser usada apenas como
suporte de consumo, quando se trata de terrenos utilizados para moradias; Concl ui ndo. O e xam e da rel aç ão entr e propri etári o/ i nc orporador
finalmente, a terra pode servir como meio dd reserva de valor, através da comporta duas dimensões: uma proprietário/capitalista comercial e outra
compra e retenção por um agente econômico. propri etário/proprietário.
Nos primeiro e último tipos de uso o preço da terra pode ser regul ado
por condi ções econômi cas, ou seja, pel os sobrel ucros de local ização
obtidos pelos agentes capitalistas e pelas condições de rentabilidade dos in - Relação incorporador versus construtor
vestimentos realizados nos circuitos financeiros. Mas, nos outros c asos, não Trata-se de uma relação de dominação/ subordinação. Com efeito, por con-
há uma determinação econômi ca da relação entre incorporador e propri e - trolar o acesso e a transformação do uso do solo e por ser um agente -supor-
tário da terra. Em outras pal avras, o preço da terra não é determi nado te do capital de circulação necessário ao financiamento da produção e da
exclusivamente pelo funcionamento das leis de mercado de terras. É a pro - comerci alização, o i ncorporador está em posi ção de domi nação dg proces -
cura capitalista que suscita a oferta de terras urbanas. so de produção. A empresa construtora trabal ha sob a encomenda do
Essa característica da relação entre incorporador e proprietário é evi - incorporador, que define todas as características do produto e muitos ele -
denciada pela prática do cálculo da viabilidade de uma operação. É um cál - mentos do processo de produção.

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solo urbano espaço urbano

O i ncorporador paga ao construtor o preço geral de prod ução, ou


3. Em terceiro l ugar, essa heterogenei dade é maior na medida em
seja, os custos de produção e mais o lucro determinado pel a taxa geral de
que a principal' mercadoria imobiliária — a moradia, é produzida
lucros.
por sistemas que funcionam segundo racionalidades diferenciadas,
É , po rta nt o, um a rel aç ão q u e a dmi te t am bém d u as di mens ões:
determinadas pelas formas como se valorizam propriedade da ter ra
capi tal i sta com erci al / capi tal i sta "i n dustri al " e propri et ári o/ capi tal i sta
e capitais: renda fundiária/imobiliária, lucro comercial/renda
"industrial". 16
f undi ári a e l ucro "i ndustri al ".
Essa dupla posição de dominação torna possível a apropri ação pelo
4. Em quarto lugar, os pontos acima mencionados nos levam a con -
incorporador dos eventuais sobrel ucros surgi dos a nível de produção, em
clui r que a i nfluência do mercado de terra na estruturação do
f unção de f atores li gados a condi ções naturais dos terrenos e l ocalização
espaço urbano é medi atiz ada pel as f ormas como são produzi das
do empreendimento em relação às fontes de matérias -primas, mercado de
e distribuídas as moradias.
trabalho etc.
5. Por último, a questão fundiária urbana não pode ser colocada par-
A l imitação dos ganhos do capi tal construtor ao determi nado pel o tindo-se do pri ncípi o segundo o qual existe um conflito entre
preço geral de produção é a pri nci pal raz ão do atraso tecnológi co do setor interesses capitalistas e fundiários. A meu ver, como surgimento e
de produção de habitações. Com efeito, na medida em que os lucros extra- expansão do sistema de incorporação a tendência é que haja uma
ordi nários tendem a ser transf eri dos ao i ncorporador, a acumul ação d o articulação entre os processos de valorizaç ões fundiária e irnobi-
capital empregado na construção é baixa, o que coloca obstáculos à sua liária, aprofundada com o estabelecimento de relações orgânicas
concentração e ao aumento da sua composição orgâni ca. Convi vem no se - entre a incorporação e o capital financeiro. Apenas para ilustrar
tor um pequeno número de grandes empresas e um grande número de pe - essa tendência, menciono a entrada do Grupo Brascan na incor -
quenas empresas. A organização do trabal ho é ai nda do ti po manuf atureiro poração de edifícios de apartamentos e a recente decisão do Grupo
e as poucas máquinas utilizadas são do tipo ferramentais, ou seja, instru - Atlântica-Boavista em se lançar na incorporação de shoppings.
mentos d e trab al ho ma ni pul ados pel o tra bal ha dor. E m c onseq üê nci a, a
única forma pela qual o capital de construção pode aumentar seus ganhos é Penso, no entanto, que a compreensão exata da questão fundiária
através do aum ento do ní vel de expl oração da força de trabal ho: extensão necessita que, para cada país e mesmo para cada cidade, sejam an alisados
da jornada de trabalho, contratação de subempreiteiros, utilização do "tra - os sistemas de produção imobiliária, e. apreendidas suas articulações.
balho negro" etc.

Conclusões Notas
Gostaria agora de assinalar alguns pontos para discussão. E s s e con ce it o e n co nt ra -s e d e se n vo l vido , p ri n cip al me n te , na s s e gu i nt es o br as:
— P r et e ce i l l e , E . L a p la n if ic at ion urb a in e . Pa r i s , C en t r e de S o cio l og i e U rb a i n e ,
1. Em primeiro lugar, é equi vocado pensar que a formação do espa - 1974,
ço' urbano está submetida a uma monorracionalídade. Coexistem Lojkine , J. L'État, Le marx isme et l' urbain e. Paris, PUF, 1976.
processos dif erenci ados responsáveis pel a configuração espaci al T op al o v, C . L a urb an iz a ción ca p it a list a. M éxi cd, Ed i tor i al Ed i co l , 197 9.
das cidades. 2 . V e r a p r o p ó s i t o C a s t e l l s , M . L a q u e s t k in u r b a in e . P a r i s , M a s p e ro , 1 9 7 3 .
3 . Para es se s ag en te s a propri ed ad e da terr a ka poss e so bre as co ndi çõ e s de produ -
2. Em segundo lugar, o fundamento dessa heterogeneidade é o duplo ção. Muitas vezes, pequenos comerciantes,' artesãos e camponeses resistem à pro -
papel assumido pelo espaço nas sociedades capitalistas. Enquanto l e t ar iz a ção pe l a p rop ri e da de q u e m an t êm . No caso do s do is pr im e iro s, a p rop ri e -
valor de uso complexo, o espaço é apropriado como efeitos úteis dad e pode sig nif i car o a cesso a um a cli ent el a q ue fa ta lme nt e per der á com a ve nd a
de agl omeração que permi tem valoriz ações dif erenci adas dos d a t e r r a . O a t u a l co n f l i t o e m t o r n o d a s d e s a p r o p r i a çõ e s f e i t a s p e l a H i d o e l é t r i ca
de ,It aipu e viden ci a es sa contradi ção. Para os ca mpon eses, o pre ço obtido não
capi tais. Mas a ci dade é também um conjunto de mercadori as
lhes p ermitirá conti nuar livres, como produtores ind epend ente s, sob fetudo con -
imobiliárias.

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s i de ra n do- se qu e o Pa ra n á s ofr e r áp ido pro ce sso d e con ce nt ra ção f un di á ri a .

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