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CURSO MEGE

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Turma: TJ-SP 188 - 1ª Fase (Reta Final)
Material: Rodada 13

MATERIAL DE APOIO
1
(Rodada 13)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
SUMÁRIO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA ................................................................. 3

1. DIREITO CIVIL ........................................................................................................... 4


1.1. DOUTRINA (RESUMO) ........................................................................................... 5
1.2. LEGISLAÇÃO ........................................................................................................ 27
1.3. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................ 40
1.4. QUESTÕES ........................................................................................................... 49
1.5. GABARITO COMENTADO .................................................................................... 52

2. DIREITO DO CONSUMIDOR .................................................................................... 56


2.1. DOUTRINA (RESUMO) ......................................................................................... 57
2.2. LEGISLAÇÃO ...................................................................................................... 134
2.3. JURISPRUDÊNCIA .............................................................................................. 139
2.4. QUESTÕES ......................................................................................................... 141 2
2.5. GABARITO COMENTADO .................................................................................. 147

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA

(Conforme Edital de Abertura)

1. DIREITO CIVIL – Professora Flávia Martins de Carvalho

Sucessões. A herança e sua administração. Vocação hereditária. Aceitação e renúncia da


herança. Cessão de herança. Excluídos da herança. Sucessão Legítima. Sucessão do
companheiro. (Referente ao ponto 35 do Edital)

2. DIREITO DO CONSUMIDOR – Professora Beatriz Fonteles

Proteção Contratual. Disposições gerais. Cláusulas abusivas. Contratos de adesão.


(Referente ao ponto 5 do Edital)

Defesa do consumidor em juízo. Disposições gerais. Ações coletivas para a defesa de


interesses individuais homogêneos. Ações de responsabilidade do fornecedor de
3
produtos e serviços. Da tutela específica nas obrigações de fazer ou não fazer. Coisa
julgada. (Referente ao ponto 7 do Edital)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1. DIREITO CIVIL (conteúdo atualizado em 24-10-2018)

APRESENTAÇÃO

Nesta última rodada de Civil, trataremos do direito sucessório e seus principais


aspectos. O tema tem grande incidência e merece especial atenção, sobretudo nas
questões relativas à declaração de inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC, que
equiparou de forma relativa o regime sucessório do companheiro ao do cônjuge.

A legislação deve ser revisada com atenção, sem negligenciar o estudo da


jurisprudência. Ao final, reuni algumas questões dos concursos anteriores para
consolidar o conhecimento.

Bons estudos e boa prova!

Flávia Martins de Carvalho

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.1. DOUTRINA (RESUMO)

1.1.1. SUCESSÕES

1.1.1.1. SUCESSÕES EM GERAL

O direito sucessório consiste no conjunto de normas que disciplina a


transferência patrimonial de uma pessoa em função de sua morte.

A sucessão hereditária, também chamada de sucessão “mortis causa”, ocorre


quando, em virtude do falecimento de alguém (sucedido ou autor da herança), o seu
patrimônio é transferido a determinadas pessoas, legitimadas a recebê-lo (sucessores),
as quais, assim, substituem-no na titularidade desses bens ou direitos.

1.1.1.1.1. Da herança e sua administração

Com a abertura da sucessão, que se dá com a morte, tem-se a transferência


5
automática da titularidade da massa patrimonial (princípio da saisine), considerada
como um todo unitário, independentemente de manifestação de aceitação (ou eventual
renúncia) desse(s) novo(s) titular(es).

A herança, portanto, é o complexo das relações jurídicas de expressão


econômico patrimonial e de caráter não personalíssimo deixadas pelo de cujus em razão
de sua morte, que não se confunde com o patrimônio, tendo em vista que ao patrimônio
são agregadas as relações de caráter personalíssimo, que ficam afastadas do complexo
patrimonial que compõe a herança. De acordo com o art. 91 do CC, a herança tem
natureza jurídica de universalidade de direito.

A doutrina aponta como exceções à regra geral da transmissão das relações


jurídicas patrimoniais:

(i) os direitos autorais (art. 41 da Lei 9.610/98);

(ii) usufruto, uso e habitação (art. 1.410, I, do CC);

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(iii) enfiteuse (art. 692, III, do CC/16);

(iv) alvará judicial (Lei 6.858/80), pois são hipóteses em que o


direito não se transmite aos herdeiros.

Não obstante a natureza personalíssima dos alimentos, o art. 1.700 do CC


estabelece que “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do
devedor”. A redação do artigo suscita críticas da doutrina, na medida em que não
restringe o pagamento ao limite da herança, tornando possível que um herdeiro acabe
por receber mais do que outro.

A fim de evitar a desigualdade, parte da doutrina entende que haverá


transmissão das obrigações em favor de alimentandos apenas quando estes não sejam
herdeiros do espólio deixado pelo falecido, sob pena de violação, por via oblíqua, do
princípio constitucional de igualdade entre os filhos. O Enunciado 343 das Jornadas de
Direito Civil, por sua vez, estabelece que “a transmissibilidade da obrigação alimentar é
limitada às forças da herança”. 6
Todos os titulares recebem um direito indivisível consubstanciado na herança,
em regime de condomínio, devendo-se estabelecer a quem compete a sua
administração até que seja realizada a individualização da quota-parte de cada herdeiro.

O art. 1.797 do CC estabelece a quem incumbe a administração provisória da


herança, dispondo que, até o compromisso do inventariante a administração da
herança caberá, sucessivamente:

(i) ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao


tempo da abertura da sucessão;

(ii) ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens,


e, se houver mais de um nessas condições, ao mais velho;

(iii) ao testamenteiro;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(iv) a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das
indicadas nos incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser
afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz.

O patrimônio do falecido, considerado uma massa patrimonial indivisível, de


titularidade conjunta de todos os herdeiros, passa a ser chamado de espólio,
especialmente para fins processuais.

Posteriormente, o juiz nomeará inventariante para administração do espólio,


observada a ordem do art. 617 do CPC/2015, que poderá ou não coincidir com aquele
que estava na administração provisória da herança.

Tanto o administrador provisório quanto o inventariante devem responder


juridicamente pelo espólio, bem como pela prática de atos que possam gerar danos à
massa patrimonial.

O espólio não possui personalidade jurídica, mas tem reconhecida a sua


capacidade postulatória, na forma consagrada pelo art. 75 do CPC/2015. Assim, o 7
espólio, por meio de seu representante provisório ou definitivo, poderá figurar em juízo
tanto como autor quanto como réu.

1.1.1.1.2. Da vocação hereditária

Vocação hereditária é o fenômeno através do qual se atribui a alguém as


condições necessárias para a sucessão de pessoa determinada. Dessa forma, a sucessão
depende da existência de sucessores e a existência de sucessores depende da existência
de vocação hereditária.

O art. 1.798 do CC apresenta a regra geral sucessória, segundo a qual


“legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura
da sucessão”.

Além da hipótese prevista no art. 1.798, existem situações especiais que


também legitimam a suceder, conforme previsto no art. 1.799 do CC.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser
chamados a suceder:

I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo


testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão (prole
eventual);

• Não se confunde a prole eventual com o nascituro, pois


este se refere a ente já concebido, só não nascido; ao passo que
aquela, diz respeito aos que nem concebidos ainda foram.

• Limite para concepção da prole - art. 1.800, § 4º do CC - Se,


decorridos 2 anos após a abertura da sucessão, não for
concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo
disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros
legítimos.

• Prole eventual não biológica - Segundo a doutrina 8


majoritária, nada impede que à categoria de prole eventual
possam se subsumir também os filhos havidos por adoção, ou,
até mesmo, em virtude de reconhecimento direto de filiação
socioafetiva.

• Situação do embrião: O embrião não se confunde com o


nascituro, pois ainda não foi implantado no útero. Assim, a
doutrina discute se o embrião seria legitimado a suceder caso
ainda não implantado no momento da abertura da sucessão.
Prevalece o entendimento de que, por questões de segurança
jurídica, o embrião só seria legitimado se implantado no prazo
de 2 anos, previsto no art. 1.880 do CC, embora também haja
entendimento no sentido de não lhe conferir qualquer
legitimidade.

II - as pessoas jurídicas;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo
testador sob a forma de fundação.

Algumas pessoas, no entanto, não possuem legitimidade sucessória passiva,


isto é, estão impedidas de serem nomeadas herdeiras ou legatárias, nos termos do que
dispõe o art. 1.801 do CC. Havendo disposição testamentária em favor de pessoa que
esteja impedida de suceder, ainda que indiretamente, o testamento será nulo (art. 1.802
do CC).

1.1.1.1.3. Da aceitação da herança

Em razão do princípio da saisine, aberta a sucessão, a herança transfere-se


desde logo aos herdeiros, por força da lei, independentemente de qualquer
manifestação de vontade, formando entre os herdeiros um condomínio só dissolvido
com a partilha.
9
O herdeiro então terá a faculdade de aceitar ou não a herança. A aceitação ou
adição da herança é o ato jurídico unilateral do herdeiro que confirma a transmissão da
herança em caráter definitivo e irrevogável. Não se deve confundir a aceitação com a
delação da herança, sendo esta expressão que caracteriza a situação em que, após a
morte, a herança é colocada à disposição dos herdeiros, que, assim, poderão aceitá-la
ou não.

A aceitação poderá ser expressa, mediante declaração escrita; tácita, quando


resultar de atos próprios da qualidade de herdeiro; ou presumida, decorrente de
situação provocada pelo interessado em juízo, a fim de obter do herdeiro, manifestação
de vontade. Entretanto, não se admite que a aceitação se dê por partes ou de modo
condicional ou a termo.

Entende-se que, como a aceitação da herança acrescenta ao patrimônio, não é


necessária a vênia conjugal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A regra é que o próprio herdeiro manifeste sua aceitação em relação à herança.
Não obstante, o CC apresenta hipóteses em que a aceitação poderá ser feita por
terceiro. São elas:

i) Sucessão no Direito de Aceitação (art. 1.809 do CC): Falecendo


o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de
aceitar passa aos herdeiros, a menos que se trate de vocação
adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.

ii) Aceitação judicialmente permitida a terceiros em razão de


fraude contra credores (art. 1813 do CC). Quando o herdeiro
prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão
eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.
Entretanto, esta aceitação é limitada ao montante dos créditos.

1.1.1.1.4. Da renúncia à herança 10

Renúncia é a declaração de vontade por meio da qual o herdeiro recusa a


herança que lhe fora encaminhada, de forma irrevogável, tornando insubsistente a
transmissão ficta. Dessa forma, no momento da renúncia, a transmissão tem-se por não
verificada (art. 1.804, parágrafo único do CC).

A renúncia é um ato de disposição. Dessa forma, é necessária a vênia conjugal.

Espécies de Renúncia:

• Translativa - É aquela operada em favor de alguém (ex.:


filhos renunciam em favor da mãe). Assim, o herdeiro cede os
seus direitos em favor de determinada pessoa (in favorem).
Nesse caso, como há um negócio jurídico de transmissão, incide
o ITCMD. Na verdade, não se trata propriamente de renúncia, já
que o herdeiro recebe a herança (por força da lei) e cede sua

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
parte à pessoa específica, configurando verdadeira cessão de
direitos hereditários, razão pela qual haverá incidência do
imposto de transmissão.

• Puramente Abdicativa - É aquela em que o herdeiro


renuncia pura e simplesmente, sem encaminhar sua parte a
quem deseje, o que faz com que sua parte seja acrescida ao
monte para partilha entre os demais herdeiros, se houver. Nesse
caso não há incidência do ITCMD contra o renunciante.

A renúncia é sempre solene, assim deve constar expressamente de


instrumento público ou de termo judicial (art. 1.806 do CC), não sendo possível que se
dê por partes ou de modo condicional ou a termo (art. 1.808 do CC).

É possível, entretanto, que haja mais de um título sucessório (herança e legado)


para o mesmo beneficiário. Neste caso, o beneficiário poderá repudiar um ou outro (art.
1.804, §2º, CC). 11
Principal Efeito da Renúncia da Herança - art. 1.810 do CC - Na sucessão
legítima, a parte do renunciante acresce a dos outros herdeiros da mesma classe e,
sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.

Impossibilidade de Sucessão do Herdeiro Renunciante - art. 1.811 do CC -


Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único
legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança,
poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

1.1.1.1.5. Dos excluídos da sucessão

São hipóteses de exclusão da sucessão a indignidade e a deserdação. Ambas


constituem sanção civil, uma pena de natureza civil, aplicada àquele que se comportou
de forma inaceitável jurídica e moralmente em relação ao autor da herança, impondo

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
como consequência a perda do direito subjetivo de receber o patrimônio transferido em
razão do óbito do titular da herança.

1.1.1.1.5.1. Indignidade

A indignidade consiste no isolamento do herdeiro por simples incidência da


hipótese legal e por decisão judicial, podendo atingir herdeiro ou legatário (art. 1.815
do CC).

A ação de indignidade pode ser proposta pelo interessado ou pelo Ministério


Público, quando houver questão de ordem pública. Registre-se que, a legitimidade do
Ministério Público é controvertida. Parte da doutrina entende que, por se tratar a
herança de direito disponível, individual e patrimonial, não haveria legitimidade do MP
para propor a referida ação.

Entretanto, a Lei 13.532 de 2017, alterou o artigo 1.815 do CC para incluir o


§2º, tornando expressa a legitimidade do Ministério Público para propor a ação quando
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o indigno houver sido autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente, não havendo mais que se falar em ilegitimidade do
Ministério Público nessas hipóteses.

Em razão da indignidade, são excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários


(art. 1.814 do CC):

I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de


homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da


herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.

A doutrina entende, majoritariamente, que as hipóteses de indignidade


previstas no art. 1.814 do CC são taxativas. Entretanto, admite-se na doutrina e na
jurisprudência a tipicidade finalística ou tipicidade delimitativa, com o objetivo de
evitar que condutas tão gravosas quanto aquelas previstas no tipo legal fiquem imunes
à censura e reprovação judicial. Assim, permite-se que, no caso concreto, o julgador
possa interpretar as hipóteses de indignidade, taxativamente previstas em lei, para
admitir condutas que se mostrem assemelhadas por natureza, ou seja, condutas que
apresentem a mesma finalidade daquelas tipificadas em lei.

O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em


quatro (4) anos, contados da abertura da sucessão (art. 1.815, parágrafo único do CC).

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• Efeitos da Indignidade

Conforme art. 1.816 do CC, são pessoais os efeitos da exclusão; os


descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura
da sucessão. Aplica-se aqui o princípio da intranscendência da pena.

Dessa forma, a indignidade não afeta o direito de representação dos herdeiros


indignos, mas o excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração
dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses
bens.

• Validade dos Atos Praticados Antes da Exclusão (Teoria do Herdeiro


Aparente) - art. 1.817 do CC - São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a
terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro,
antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o
direito de demandar-lhe perdas e danos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
• Restituição dos Frutos e Rendimentos pelo Excluído - art. 1.817, parágrafo
único do CC - O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que
dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas
com a conservação deles.

• Reabilitação do Indigno - art. 1.818 do CC - Aquele que incorreu em atos


que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.

Sucessão Testamentária do Indigno Não Reabilitado


Expressamente - parágrafo único - Não havendo reabilitação
expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido,
quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade,
pode suceder no limite da disposição testamentária.

1.1.1.1.5.2. Deserdação 14

A deserdação decorre de ato de última vontade do autor da herança que afasta


herdeiro necessário, sendo imprescindível a confirmação por sentença.

Hipóteses de Deserdação:

• Deserdação dos Descendentes pelos Ascendentes - art.


1.962 do CC - Além das causas mencionadas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos descendentes por seus
ascendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade.

• Deserdação dos Ascendentes pelos Descendentes - art.


1.963 do CC - Além das causas enumeradas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a


do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave


enfermidade.

Necessidade de Declaração da Causa de Deserdação em Testamento - art.


1.964 do CC - Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser
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ordenada em testamento.

Necessidade de Provar a Causa da Deserdação pelo Herdeiro Instituído - art.


1.965 do CC - Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe
provar a veracidade da causa alegada pelo testador.

Prazo Decadencial para a Prova da Causa - Parágrafo único - O direito de provar


a causa da deserdação extingue-se no prazo de 4 anos, a contar da data da abertura do
testamento.

No que tange à amplitude dos efeitos da deserdação, a lei é silente e a doutrina


diverge. O deserdado não poderá suceder. Entretanto, o Código não é expresso quanto
ao direito de representação. Assim, há divergência quanto a ser possível ao sucessor do
deserdado herdar por representação ou não, prevalecendo o entendimento de que o
deserdado figurará como se morto fosse aplicando-se aos seus sucessores a mesma
regra da indignidade (princípio da intranscendência das penas).

1.1.1.1.5.3. Indignidade x Deserdação

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Embora tenham características semelhantes, não se deve confundir os
institutos da deserdação e da indignidade, cujas principais distinções estão elencadas a
seguir:

Deserdação Indignidade

Somente os herdeiros necessários Qualquer sucessor (herdeiro ou


(CC, art. 1.845) podem ser legatário) pode ser considerado
deserdados. indigno.

Motivo corresponde a um ato Motivo corresponde a um ato


praticado necessariamente antes praticado antes ou depois da
da abertura da sucessão. abertura da sucessão.

Ato praticado em um testamento Exige ação de indignidade, no


pelo próprio titular do patrimônio, prazo decadencial de 4 anos.
16
com posterior confirmação judicial,
no prazo decadencial de 4 anos.

Decorre do testamento celebrado Decorre do trânsito em julgado da


pelo autor da herança com ação de indignidade.
posterior homologação judicial.

Hipóteses de cabimento: CC, arts. Hipóteses de cabimento: CC, art.


1.814 + 1.961 + 1.963. 1.814.

1.1.1.2. DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

A sucessão legítima, também chamada de sucessão intestada ou ab intestato,


traduz o conjunto de regras que disciplina a transferência patrimonial post mortem, sem

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
a incidência de um testamento válido, ou ainda em concorrência com o testamento,
ante os limites da disposição testamentária.

Os sujeitos favorecidos pela sucessão legítima são os herdeiros necessários,


assim considerados os descendentes, ascendentes e o cônjuge/companheiro(a),
conforme determinação legal. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá
dispor de metade da herança (art. 1.789 do CC).

A legítima, parte indisponível da herança, tem sua base justificadora na


solidariedade social e familiar. Pretende-se, com isso, garantir um percentual mínimo
de patrimônio capaz de assegurar a subsistência de determinados familiares (herdeiros
necessários).

ATENÇÃO! O Código Civil regulou de forma diferente os direitos sucessórios decorrentes


da união estável (art. 1.790, CC) e do casamento (art. 1.829, CC). Entretanto, no
julgamento do RE 646721 com repercussão geral reconhecida, o STF declarou
inconstitucional o art. 1.790 do CC e firmou a seguinte tese: “No sistema constitucional 17
vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art.
1.829 do CC/2002”. Em decorrência, as normas sucessórias aplicadas aos cônjuges
devem ser estendidas aos companheiros.

1.1.1.2.1. Modos de Suceder

O modo de suceder se refere a que título a classe de herdeiros participa da


sucessão:

• Por Direito Próprio - Nesse caso se está sujeito a uma


vocação hereditária direta, ou seja, sem que seja em decorrência
de direito alheio (ex.: filho herda do pai).

• Por Representação - Nesse caso se está sujeito a uma

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
vocação hereditária indireta (em razão de direito alheio), assim
através da representação (ex.: neto herda do avô).

1.1.1.2.2. Modos de Arrecadar

Refere-se à forma que os herdeiros têm acesso aos bens da herança.

• Arrecadação por Cabeça - Diz-se por cabeça a sucessão em


que a herança se reparte um a um, no sentido de cada parte vir
a ser entregue a um sucessor direto (ex.: filhos herdam do pai).

• Arrecadação por Estirpe - Diz-se por estirpe quando a


herança não se reparte um a um relativamente aos chamados a
herdar, mas sim na proporção dos parentes de mesmo grau vivo
ou que, sendo mortos, tenham deixado prole ainda viva (ocorre
18
sucessão por representação). Os que arrecadam por estirpe
arrecadam na forma do art. 1.855 do CC:

“O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os


representantes” (ex.: netos herdam do avô).

Representação - art. 1.851 a 1.856 do CC - A representação se dá quando a lei


permite que se convoquem parentes do herdeiro falecido para virem suceder em seu
lugar em tudo aquilo a que teria direito se vivo estivesse (ex.: netos, de pai morto, são
chamados para herdar do avô).

São pressupostos da representação:

i) Morte Prematura de um do Herdeiros - É a morte do herdeiro


em momento anterior a do autor da herança (ex.: morte do pai
anterior a do avô);

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ii) Existência de Parentes do Morto Prematuramente - O morto
deve possuir herdeiros autorizados a representar;

iii) Autorização da Lei (art. 1.852 e 1.853 do CC) - A lei autoriza a


representação em favor:

a) Dos Descendentes;

b) Dos Colaterais (até sobrinhos - colaterais de 3º grau) - Assim,


não há representação entre cônjuges e ascendentes.

1.1.1.2.3. Ordem de Sucessão Legítima

De acordo com o artigo 1.829 do CC, a sucessão legítima defere-se na ordem


seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge 19


sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente (e ao companheiro/companheira);

IV - aos colaterais.

Deve-se observar que há uma hierarquia entre as classes. Assim, a classe


posterior somente será chamada a suceder se esgotados os herdeiros da classe anterior,
de tal forma que os mais próximos excluem os mais remotos (Princípio da Proximidade).

1.1.1.2.4. Sucessão do cônjuge/companheiro(a) em concorrência com os

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descendentes

Nos termos do art. 1.829, I, do CC, havendo cônjuge/companheiro(a)


sobrevivente, este não terá direito de concorrer com o descendente, se o regime de
bens for:

(i) comunhão universal;

(ii) separação obrigatória; ou

(iii) comunhão parcial, se o autor da herança não deixou bens


particulares.

Por outro lado, haverá direito de concorrer com o descendente, se o regime de


bens adotado foi de:

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(i) participação final nos aquestos;

(ii) separação convencional; ou

(iii) comunhão parcial, se o autor da herança deixou bens


particulares.

O objetivo do legislador foi separar claramente a meação da herança. Assim,


pelo sistema instituído, onde o cônjuge é meeiro e não é herdeiro e vice-versa. Três são
as exceções ao concurso:

1) Na primeira exceção, o cônjuge/companheiro(a) não


concorre com os descendentes quando casado sob o regime da
comunhão universal de bens. Isto porque neste regime tem-se
em favor do cônjuge a meação de todo o patrimônio, sendo a
outra metade deferida aos descendentes. Evita-se, com isso, o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
bis in idem caso o cônjuge/companheiro(a), além da meação,
recebesse a herança sobre toda a fatia patrimonial.

2) A segunda exceção trata da hipótese em que o cônjuge


sobrevivente tem como regime de bens do casamento o da
comunhão parcial. Nesta há bens particulares que não se
comunicam, não sendo objeto da meação (art. 1.659, CC); e bens
comuns, que se comunicam e que, portanto, são objeto de
meação (art. 1.660, CC). Nesse caso, o cônjuge concorrerá com
os descendentes apenas nos bens particulares do de cujos, ou
seja, herdará aquilo que não for objeto da meação.

3) A terceira exceção diz respeito ao regime de separação


obrigatória, previsto no art. 1.641 do CC. Sendo esse o regime, o
cônjuge sobrevivente não concorrerá à herança com os
descendentes, pois o regime busca, justamente, a separação do
patrimônio. Entretanto, o mesmo não ocorre com o regime de
separação convencional. Conforme entendimento do STJ: “1. O
21
cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal,
é herdeiro necessário (art. 1.845, CC); 2. No regime de separação
convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os
descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas
quanto ao regime da separação legal de bens prevista no art.
1.641 do CC. Interpretação do art. 1.829, I, do Código Civil. (STJ,
Ac. 2ª Seção, REsp. 1.382.170/SP, rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 22.4.2015)”.

Outra questão a ser enfrentada é o teor da Súmula 377 do STF, que assim
dispõe: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na
constância do casamento”. Percebe-se que, na prática, a Súmula acaba por estabelecer
regime de comunhão parcial onde deveria vigorar a separação legal, motivo pelo qual
sofre enormes críticas por parte da doutrina.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Objetivando afastar tal consequência, alguns estados, através de provimentos,
permitem que as partes estabeleçam a incomunicabilidade absoluta dos bens através
de pacto antenupcial, afastando a incidência da Súmula 377. Assim, o regime de bens
será o da separação legal, com expressa disposição através de pacto antenupcial de
separação total de bens, com afastamento da Súmula 377.

Cabe lembrar que, somente será reconhecido direito sucessório ao cônjuge


sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente,
nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que a
convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente (art. 1.830, CC).

O artigo supramencionado traz um conflito sucessório, pois se o cônjuge


falecido estiver separado de fato e tiver constituído união estável nos dois primeiros
anos da separação, tanto o cônjuge sobrevivente quanto o companheiro/a estarão
legitimados a suceder. Diante disso, a doutrina aponta como solução a proteção à
família constituída a partir da união estável, que seria vigente no momento da abertura
da sucessão.
22
Quota mínima do cônjuge/companheiro(a) concorrente ascendente dos
herdeiros - art. 1.832 do CC - Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso
I) caberá ao cônjuge/companheiro(a) quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça,
não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança (1/4), se for ascendente
dos herdeiros com que concorrer. A contrário sensu, se a concorrência se der com
descendentes exclusivos do autor da herança, não haverá reserva de quota, sendo a
divisão igualitária entre cônjuge/companheiro(a) e descendentes exclusivos do de cujus.

Evidentemente, somente se verifica a aplicação do artigo nas hipóteses em que


o cônjuge figura como herdeiro, não se referindo aos bens sobre os quais o
cônjuge/companheiro(a) sobrevivente detém meação.

O artigo, porém, deixou de disciplinar a hipótese em que haja concomitância


de descendentes comuns e descendentes exclusivos, na chamada concorrência híbrida,
o que fez nascer três correntes:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1ª C) Deve-se considerar todos os descendentes como se fossem
comuns e manter a reserva da quarta parte ao cônjuge;

2ª C) Deve-se considerar todos os descendentes como exclusivos


e afastar a garantia da quarta parte;

3ª C) Deve-se considerar todos os descendentes exclusivos,


calculando-se a cota parte dos exclusivos para depois retirar, do
que sobrar, os 25% do cônjuge, e, por fim, dividir o restante
entre os herdeiros comuns.

O Enunciado 527 do CJF, por sua vez, assim estabelece: “Na concorrência entre
o cônjuge e os herdeiros do de cujus, não será reservada a quarta parte da herança para
o sobrevivente no caso de filiação híbrida”. Portanto, houve aí a adoção da segunda
corrente.

1.1.1.2.5. Sucessão do cônjuge/companheiro(a) em concorrência com ascendente


23

Conforme dispõe o inciso II do art. 1.829, não havendo descendentes, mas


ascendentes, o cônjuge sobrevivente com estes concorrerá, independentemente do
regime de bens adotado. Ressalte-se que não existe direito de representação em relação
aos ascendentes.

Sucessão quando há duplicidade de linha sucessória - art. 1.836, § 2 do CC -


Este dispositivo diz respeito à sucessão conferida aos ascendentes em concorrência com
o cônjuge e determina que a sucessão será por linha. Esta se faz por meio da divisão da
herança ao meio e sua distribuição autônoma em cada uma das linhas. Assim, em cada
linha, 50% da herança será submetida a divisão de forma separada. Ressalta-se que para
essa sucessão deve haver em cada uma das linhas um ascendente com um grau de
parentesco igual.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna. Além disso, os
ascendentes arrecadam por cabeça.

Do dispositivo no art. 1.836, §2º, depreendem-se duas regras em relação à


concorrência do cônjuge:

i) Concorrendo o cônjuge com dois ascendentes de primeiro grau


(pai e mãe), terá direito a um terço (1/3) da herança.

ii) Concorrendo o cônjuge somente com um ascendente de


primeiro grau ou com outros ascendentes de grau diverso, terá
direito a metade (1/2) da herança.

1.1.1.2.6. Sucessão do cônjuge/companheiro(a) sem concorrência

24
Não havendo ascendentes ou descendentes (art. 1.829, III, CC), ao cônjuge
caberá a totalidade da herança, qualquer que seja o regime de bens, inclusive se o
regime for o de separação de bens (legal ou convencional).

Direito real de habitação do cônjuge/companheiro(a) - art. 1.831 do CC - Ao


cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar.

O artigo 1.831 do CC não se refere a companheiro(a). Entretanto, o art. 7º, p.u,


da Lei 9.278/96, já conferia o direito real de habitação a companheiro(a). Entretanto, a
lei garante o direito a companheiro(a) somente enquanto viver ou não constituir nova
união ou casamento, portanto, de forma condicional e temporária, diferentemente do
que é garantido ao cônjuge, que não possui tal restrição. Dessa forma, a doutrina se
divide quanto à aplicabilidade do art. 7º, p.u., da Lei 9.278/96 aos companheiros.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Uma primeira corrente entende que a Lei não subsiste ante o texto
constitucional, aplicando, por analogia o direito real de moradia, lastreado na própria
Constituição; em sentido diverso apenas quanto ao fundamento, uma segunda corrente
entende pela inconstitucionalidade da Lei, mas defende a aplicação analógica do Código
Civil à hipótese.

O direito real de habitação é personalíssimo, tendo como destinação específica


a moradia do titular, que não poderá emprestar ou locar o imóvel. Entretanto, há
entendimento de que se a renda for utilizada para a manutenção da moradia do
indivíduo, poderá haver a locação. Assim, deve-se analisar cada caso em concreto.

De acordo com o Enunciado 271 das Jornadas de Direito Civil, o cônjuge pode
renunciar ao direito real de habitação nos autos do inventário ou por escritura pública,
sem prejuízo de sua participação na herança. Ressalta-se que parte da doutrina discorda
desta posição, pois afirma tratar-se o direito de habitação de direito fundamental e
irrenunciável. O STJ, por esta mesma razão, entende que o bem de família é
irrenunciável.
25
1.1.1.2.7. Sucessão dos colaterais

O inciso IV do art. 1.829 trata dos colaterais, que somente serão chamados a
suceder, até o 4º grau, na ausência de descendentes, ascendentes ou cônjuge, segundo
a regra de que os mais próximos excluirão os mais remotos.

À guisa de esclarecimento, são considerados colaterais:

(i) de segundo grau: os irmãos;

(ii) de terceiro grau: os tios e sobrinhos; e

(iii) de quarto grau: os primos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Concorrência de Irmãos Unilaterais e Bilaterais - art. 1.841 do CC -
Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um
destes herdará metade (1/2) do que cada um daqueles herdar.

Ausência de Irmãos Bilaterais - art. 1.842 do CC - Não concorrendo à herança


irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais.

Ausência de Irmãos - art. 1.843 do CC - Na falta de irmãos, herdarão os filhos


destes (sobrinhos) e, não os havendo, os tios.

• Concorrência Apenas de Filhos e Irmãos Falecidos - § 1º Se


concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos,
herdarão por cabeça.

• Concorrência de Filhos de Irmãos Bilaterais com


Unilaterais - § 2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com
filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade
(1/2) do que herdar cada um daqueles. 26
• Existência Somente de Filhos de Irmãos Unilaterais ou
Bilaterais - § 3º Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou
todos de irmãos unilaterais, herdarão por igual.

O CC não traz regras a respeito da sucessão dos colaterais de quarto grau. Pode-
se concluir, em relação a tais parentes, que herdam sempre por direito próprio. Ato
contínuo, como são parentes de mesmo grau um não exclui o direito do outro.

Vale lembrar que, para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o
testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar (art. 1.850, CC). Isto se dá
porque os colaterais compõem a única classe de herdeiros legítimos, mas não
necessários (facultativos).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.2. LEGISLAÇÃO

LIVRO V

Do Direito das Sucessões

TÍTULO I

Da Sucessão em Geral

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da
27
abertura daquela.

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da


herança.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto


aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições
seguintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº
878.694) – Comentários: O STF declarou este artigo INCONSTITUCIONAL.

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei
for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que


couber a cada um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

CAPÍTULO II

Da Herança e de sua Administração

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os
herdeiros.

Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e


posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao
condomínio.

Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança;
incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demostrando o valor dos bens herdados.

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-
herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.

§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito


28
de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.

§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer


bem da herança considerado singularmente.

§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer


herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à
sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.

Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,


depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e
oitenta dias após a transmissão.

Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se


distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias.

Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á


inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar da
sucessão, para fins de liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(Comentários: A lei 11.441, de 2007, ao tratar do inventário extrajudicial modificou
regras do Código de Processo Civil referentes à modalidade judicial, estabelecendo o
prazo de sessenta dias. Posteriormente, com o NCPC, o prazo passou a ser de 2 (dois
meses, conforme art. 611).

Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá,


sucessivamente:

I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da


sucessão;

II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um


nessas condições, ao mais velho;

III - ao testamenteiro;

IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos


antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.

CAPÍTULO III
29
Da Vocação Hereditária

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento


da abertura da sucessão.

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:

I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;

II - as pessoas jurídicas;

III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação.

Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão


confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.

§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho


o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art.
1.775.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§ 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se
pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber.

§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os


frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.

§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos
herdeiros legítimos.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:

I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou


os seus ascendentes e irmãos;

II - as testemunhas do testamento;

III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de cinco anos;

IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer,


30
assim como o que fizer ou aprovar o testamento.

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas
a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.

Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os


irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.

Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.

CAPÍTULO IV

Da Aceitação e Renúncia da Herança

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão.

Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita;
quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.

§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os


meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.

§ 2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança,


aos demais co-herdeiros.

Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público


ou termo judicial.

Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança,


poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de
trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por
aceita.

Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a
termo.

§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança;


31
ou, aceitando-a, repudiá-los.

§ 2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob


títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita
e aos que renuncia.

Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de


aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma
condição suspensiva, ainda não verificada.

Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde


que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.

Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros
da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subseqüente.

Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele
for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem
a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.

Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança,


poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.

§ 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao


conhecimento do fato.

§ 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente,


que será devolvido aos demais herdeiros.

CAPÍTULO V

Dos Excluídos da Sucessão

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou


tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem 32


em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de


indignidade, será declarada por sentença.

§ 1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro


anos, contados da abertura da sucessão. (Redação dada pela Lei nº 13.532, de 2017)

§ 2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para


demandar a exclusão do herdeiro ou legatário. (Incluído pela Lei nº 13.532, de 2017)

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído


sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.

Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração


dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses
bens.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-
fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença
de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-
lhe perdas e danos.

Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos


que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das
despesas com a conservação deles.

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será
admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou
em outro ato autêntico.

Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em


testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da
indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária.

CAPÍTULO VI

Da Herança Jacente 33
Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a
guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente
habilitado ou à declaração de sua vacância.

Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão


expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira
publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança
declarada vacante.

Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas
reconhecidas, nos limites das forças da herança.

Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que


legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas
respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em
território federal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de vacância, os colaterais ficarão
excluídos da sucessão.

Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta
desde logo declarada vacante.

CAPÍTULO VII

Da petição de herança

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o


reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de
parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

Art. 1.825. A ação de petição de herança, ainda que exercida por um só dos herdeiros,
poderá compreender todos os bens hereditários.

Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo,
fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado o disposto nos arts.
1.214 a 1.222.
34
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há de aferir
pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.

Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder de


terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens
alienados.

Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro
aparente a terceiro de boa-fé.

Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está
obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de
proceder contra quem o recebeu.

TÍTULO II

Da Sucessão Legítima

CAPÍTULO I

Da Ordem da Vocação Hereditária

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) – Comentários:
Conforme entendimento do STF, onde se lê “cônjuge”, deve-se ler “cônjuge ou
companheiro(a)”.

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este


com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao


tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato
há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente. 35
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será
assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de
habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge
quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior
à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos,
salvo o direito de representação.

Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de


seus ascendentes.

Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros


descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em
concorrência com o cônjuge sobrevivente.

§ 1º Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção
de linhas.

§ 2º Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha


paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço
da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for
aquele grau.

Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro
ao cônjuge sobrevivente.

Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art.
1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.

Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o
direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
36
Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais,
cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.

Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os
unilaterais.

Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.

§ 1º Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por cabeça.

§ 2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um


destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.

§ 3º Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão


por igual.

Art. 1.844. Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível,
ou tendo eles renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal,
se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território
federal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
CAPÍTULO II

Dos Herdeiros Necessários

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da
herança, constituindo a legítima.

Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o
valor dos bens sujeitos a colação.

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador
estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade,
sobre os bens da legítima.

§ 1º Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima em


outros de espécie diversa.

§ 2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens
37
gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus
dos primeiros.

Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou
algum legado, não perderá o direito à legítima.

Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador
disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

CAPÍTULO III

Do Direito de Representação

Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.

Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca na
ascendente.

Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos


filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o que herdaria o
representado, se vivo fosse.

Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes.

Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão


de outra.

[...]

CAPÍTULO X

Da Deserdação

Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados,
em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
descendentes por seus ascendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave; 38
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o


marido ou companheiro da filha ou o da neta;

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.

Art. 1.964. Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada
em testamento.

Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe


provar a veracidade da causa alegada pelo testador.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de
quatro anos, a contar da data da abertura do testamento.

39

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.3. JURISPRUDÊNCIA

SÚMULAS DO STF

Súmula 149 – É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de


petição de herança.

Súmula 377 - No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na


constância do casamento.

Enunciados das Jornadas de Direito Civil

Enunciado 118 – O testamento anterior à vigência do novo Código Civil se submeterá à


redução prevista no § 1º do art. 1.967 naquilo que atingir a porção reservada ao cônjuge
sobrevivente, elevado que foi à condição de herdeiro necessário. 40
Enunciado 264 – Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a
fazer cessar o direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incs. I e II
do art. 1.814 do Código Civil.

Enunciado 265 – Na hipótese de concubinato, haverá necessidade de demonstração da


assistência material prestada pelo concubino a quem o credor de alimentos se uniu.

Enunciado 266 – Aplica-se o inc. I do art. 1.790 também na hipótese de concorrência do


companheiro sobrevivente com outros descendentes comuns, e não apenas na
concorrência com filhos comuns. Comentários: O STF declarou o artigo 1.790
INCONSTITUCIONAL.

Enunciado 267 – A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões
formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a
vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem
às regras previstas para a petição da herança.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Enunciado 268 – Nos termos do inc. I do art. 1.799, pode o testador beneficiar filhos de
determinada origem, não devendo ser interpretada extensivamente a cláusula
testamentária respectiva.

Enunciado 269 – A vedação do art. 1.801, inc. III, do Código Civil não se aplica à união
estável, independentemente do período de separação de fato (art. 1.723, § 1º).

Enunciado 270 – O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de


concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da
separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aqüestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que
a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser
partilhados exclusivamente entre os descendentes.

Enunciado 527 – Na concorrência entre o cônjuge e os herdeiros do de cujus, não será


reservada a quarta parte da herança para o sobrevivente no caso de filiação híbrida.

Enunciado 528 – É válida a declaração de vontade expressa em documento autêntico,


também chamado "testamento vital", em que a pessoa estabelece disposições sobre o 41
tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar
sem condições de manifestar a sua vontade. Comentários: O testamento vital não tem
natureza jurídica propriamente de testamento. Vide “Doutrina”.

Enunciado 529 – O fideicomisso, previsto no art. 1.951 do Código Civil, somente pode
ser instituído por testamento.

Enunciado 609 – O regime de bens no casamento somente interfere na concorrência


sucessória do cônjuge com descendentes do falecido.

Enunciado 610 – Nos casos de comoriência entre ascendente e descendente, ou entre


irmãos, reconhece-se o direito de representação aos descendentes e aos filhos dos
irmãos.

Enunciado 611 – O testamento hológrafo simplificado, previsto no art. 1.879 do Código


Civil, perderá sua eficácia se, nos 90 dias subsequentes ao fim das circunstâncias
excepcionais que autorizaram a sua confecção, o disponente, podendo fazê-lo, não
testar por uma das formas testamentárias ordinárias.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Enunciado 641 – A decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou a
inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil não importa equiparação absoluta
entre o casamento e a união estável. Estendem-se à união estável apenas as regras
aplicáveis ao casamento que tenham por fundamento a solidariedade familiar. Por outro
lado, é constitucional a distinção entre os regimes, quando baseada na solenidade do
ato jurídico que funda o casamento, ausente na união estável.

Enunciado 642 – Nas hipóteses de multiparentalidade, havendo o falecimento do


descendente com o chamamento de seus ascendentes à sucessão legítima, se houver
igualdade em grau e diversidade em linha entre os ascendentes convocados a herdar, a
herança deverá ser dividida em tantas linhas quantos sejam os genitores.

Enunciado 643 – O rompimento do testamento (art. 1.973 do Código Civil) se refere


exclusivamente às disposições de caráter patrimonial, mantendo-se válidas e eficazes as
de caráter extrapatrimonial, como o reconhecimento de filho e o perdão ao indigno.

Enunciado 644 – Os arts. 2.003 e 2.004 do Código Civil e o art. 639 do CPC devem ser
interpretados de modo a garantir a igualdade das legítimas e a coerência do
42
ordenamento. O bem doado, em adiantamento de legítima, será colacionado de acordo
com seu valor atual na data da abertura da sucessão, se ainda integrar o patrimônio do
donatário. Se o donatário já não possuir o bem doado, este será colacionado pelo valor
do tempo de sua alienação, atualizado monetariamente.

JULGADOS DO STJ

União estável. Vocação hereditária. Partilha. Companheiro. Exclusividade. Colaterais.


Afastamento. Arts. 1.838 e 1.839 do CC/2002. Incidência. Na falta de descendentes e
ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou companheiro
sobrevivente, não concorrendo com parentes colaterais do de cujus. Incialmente, é
importante ressaltar que no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a
distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado
em ambos os casos o regime do artigo 1.829 do CC/2002, conforme tese estabelecida
pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento sob o rito da repercussão geral (RE

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
646.721 e 878.694), entendimento esse perfilhado também pela Terceira Turma desta
Corte Superior (REsp 1.332.773-MS, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 1/8/2017 –
Informativo 609). Além disso, a Quarta Turma, por meio do REsp 1.337.420-RS, rel. Min.
Luis Felipe Salomão, DJe 21/9/2017 (Informativo 611), utilizou como um de seus
fundamentos para declarar a ilegitimidade dos parentes colaterais que pretendiam
anular a adoção de uma das herdeiras que, na falta de descendentes e de ascendentes,
o companheiro receberá a herança sozinho, exatamente como previsto para o cônjuge,
excluindo os colaterais até o quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios-avôs e
sobrinhos-netos). Nesse sentido, os parentes até o quarto grau não mais herdam antes
do companheiro sobrevivente, tendo em vista a flagrante inconstitucionalidade da
discriminação com a situação do cônjuge, reconhecida pelo STF. Logo, é possível
concluir, com base no artigo 1.838 e 1.839, do CC/2002, que o companheiro, assim como
o cônjuge, não partilhará herança legítima, com os parentes colaterais do autor da
herança, salvo se houver disposição de última vontade, como, por exemplo, um
testamento. (REsp 1.357.117-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade,
julgado em 13/03/2018, DJe 26/03/2018). 43

Parentes colaterais não são legitimados ativos para a ação de anulação de adoção
proposta após o falecimento do adotante, em virtude da inconstitucionalidade do art.
1.790 do Código Civil declarada pelo Supremo Tribunal Federal. Inicialmente¸ cumpre
destacar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por meio do RE 878.694-MG
(Tema 809 de Repercussão Geral) e do RE 646.721-RS (Tema 498), declarou que "o art.
1.790 do Código Civil de 2002 é inconstitucional, porque viola os princípios
constitucionais da igualdade, da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade na
modalidade de proibição à proteção deficiente e da vedação ao retrocesso". Com efeito,
extrai-se do voto proferido pelo Ministro Luís Roberto Barroso que o Código Civil, ao
diferenciar o casamento e as uniões estáveis no plano sucessório, promoveu um
retrocesso e uma inconstitucional hierarquização entre as famílias, ao reduzir o nível de
proteção estatal conferido aos indivíduos somente pelo fato de não estarem casados,
violando a igualdade, a dignidade da pessoa humana, a proporcionalidade, e
contrariando, ademais, a vedação à proteção insuficiente, bem como a proibição ao

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
retrocesso. Ainda quanto ao assunto, cumpre registrar que a presente controvérsia foi
julgada de forma semelhante pela Terceira Turma do STJ, no julgamento do REsp
1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 1/8/2017, conforme divulgação
do Informativo de Jurisprudência n. 609 (13/9/2017). No caso dos autos, porém, o art.
1.790, III, do CC/2002 foi invocado para fundamentar o direito de sucessão afirmado
pelos recorridos (irmãos e sobrinhos do falecido) e consequente legitimidade ativa em
ação de anulação de adoção. É que, declarada a nulidade da adoção, não subsistiria a
descendência, pois a filha adotiva perderia esse título, deixando de ser herdeira, e,
diante da inexistência de ascendentes, os irmãos e sobrinhos seriam chamados a
suceder, em posição anterior à companheira sobrevivente. Nessa linha, considerando
que não há espaço legítimo para o estabelecimento de regimes sucessórios distintos
entre cônjuges e companheiros, a lacuna criada com a declaração de
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 deve ser preenchida com a aplicação do
regramento previsto no art. 1.829 da atual legislação civil, que estabelece a seguinte
ordem de sucessão: I- descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente; II-
ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III- cônjuge sobrevivente e; IV- colaterais. 44
Considerando a ordem de vocação engendrada para o casamento, verifica-se que tanto
a sucessão de cônjuges como a sucessão de companheiros devem seguir, a partir da
decisão do STF, o regime atualmente traçado no art. 1.829 do CC/2002 (RE 878.694/MG,
Rel. Min. Luis Roberto Barroso). Desse modo, na falta de descendentes e de
ascendentes, o companheiro receberá a herança sozinho, exatamente como previsto
para o cônjuge, excluindo os colaterais até o quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos,
primos, tios-avôs e sobrinhos-netos). (REsp 1.337.420-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
por unanimidade, julgado em 22/8/2017, DJe 21/9/2017)

DIREITO CIVIL. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL DA AÇÃO DE PETIÇÃO DE


HERANÇA EM RECONHECIMENTO PÓSTUMO DE PATERNIDADE. Na hipótese em que
ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito
em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do
prazo prescricional para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do
trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade, e não o trânsito em

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
julgado da sentença que julgou a ação de inventário. A petição de herança, objeto dos
arts. 1.824 a 1.828 do CC, é ação a ser proposta por herdeiro para o reconhecimento de
direito sucessório ou a restituição da universalidade de bens ou de quota ideal da
herança da qual não participou. Trata-se de ação fundamental para que um herdeiro
preterido possa reivindicar a totalidade ou parte do acervo hereditário, sendo movida
em desfavor do detentor da herança, de modo que seja promovida nova partilha dos
bens. A teor do que dispõe o art. 189 do CC, a fluência do prazo prescricional, mais
propriamente no tocante ao direito de ação, somente surge quando há violação do
direito subjetivo alegado. Assim, conforme entendimento doutrinário, não há falar em
petição de herança enquanto não se der a confirmação da paternidade. Dessa forma,
conclui-se que o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data
do trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese,
confirma-se a condição de herdeiro. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 17/5/2016, DJe 20/5/2016.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ILEGITIMIDADE DA VIÚVA MEEIRA PARA FIGURAR


45
NO POLO PASSIVO DE AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA. A viúva meeira que não ostente
a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de
petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens
integrantes de sua fração se encontrem em condomínio pro indiviso com os bens
pertencentes ao quinhão hereditário. Isso porque eventual procedência da ação de
petição de herança em nada refletirá na esfera de direitos da viúva meeira, tendo em
vista que não será possível subtrair nenhuma fração de sua meação, que permanecerá
invariável, motivo pela qual não deve ser qualificada como litisconsorte passiva
necessária (REsp 331.781-MG, Terceira Turma, DJ 19/4/2004). Deve-se ressaltar, ainda,
a natureza universal da ação de petição de herança, na qual, segundo esclarece
entendimento doutrinário, não ocorre a devolução de coisas destacadas, mas do
patrimônio hereditário: por inteiro, caso o autor seja herdeiro de uma classe mais
privilegiada; ou de quota-parte, caso seja herdeiro de mesma classe de quem recebeu a
herança (REsp 1.244.118-SC, Terceira Turma, DJe 28/10/2013). Desse modo, o autor terá
o reconhecimento de seu direito sucessório e o recebimento de sua quota-parte, e não

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de bens singularmente considerados, motivo pelo qual não haverá alteração na situação
fática dos bens, que permanecerão em condomínio pro indiviso. Assim, caso não se
questione a fração atribuída à meeira, eventual procedência do pedido em nada a
alterará. Ressalte-se que diversa seria a situação se os bens houvessem sido repartidos
entre meeira e herdeiros de forma desigual, e o autor da ação se insurgisse contra a
avaliação e especificação dos bens atribuídos à meeira, alegando prejuízo à metade
destinada aos herdeiros. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
23/2/2016, DJe 2/3/2016.

DIREITO CIVIL. HERANÇA DE BEM GRAVADO COM CLÁUSULA DE INCOMUNICABILIDADE.


A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou
testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após a morte
deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido bem,
observada a ordem de vocação hereditária. Isso porque a cláusula de
incomunicabilidade imposta a um bem não se relaciona com a vocação hereditária.
Assim, se o indivíduo recebeu por doação ou testamento bem imóvel com a referida
46
cláusula, sua morte não impede que seu herdeiro receba o mesmo bem. São dois
institutos distintos: cláusula de incomunicabilidade e vocação hereditária. Diferenciam-
se, ainda: meação e herança. Ressalte-se que o art. 1.829 do CC enumera os chamados
a suceder e define a ordem em que a sucessão é deferida. O dispositivo preceitua que o
cônjuge é também herdeiro e nessa qualidade concorre com descendentes (inciso I) e
ascendentes (inciso II). Na falta de descendentes e ascendentes, o cônjuge herda
sozinho (inciso III). Só no inciso IV é que são contemplados os colaterais. Pode-se
imaginar, por exemplo, a hipótese em que um bem é doado ao cônjuge (ou legado a ele)
com cláusula de inalienabilidade. Dá-se o divórcio e o bem, em virtude daquela cláusula,
não compõe o monte a ser partilhado. Outra hipótese, bem diferente, é a do cônjuge
que recebe a coisa gravada com aquela cláusula e falece. O bem, que era exclusivo dele,
passa a integrar o monte que será herdado por aqueles que a lei determina. Monte,
aliás, eventualmente composto por outros bens também exclusivos que, nem por isso,
deixam de fazer parte da herança. Não se desconhece a existência de precedente da 4ª
Turma, no qual se decidiu, por maioria, que "estabelecida, pelo testador, cláusula

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
restritiva sobre o quinhão da herdeira, de incomunicabilidade, inalienabilidade e
impenhorabilidade, o falecimento dela não afasta a eficácia da disposição
testamentária, de sorte que procede o pedido de habilitação, no inventário em questão,
dos sobrinhos da de cujus" (REsp 246.693-SP, DJ 17/5/2004). Ressalte-se, contudo, que
a jurisprudência mais recente do STJ, seguindo a doutrina e a jurisprudência do STF,
voltou a orientar-se no sentido de que "a cláusula de inalienabilidade vitalícia tem
vigência enquanto viver o beneficiário, passando livres e desembaraçados aos seus
herdeiros os bens objeto da restrição" (REsp 1.101.702-RS, Terceira Turma, DJe
9/10/2009). Por outro lado, a linha exegética segundo a qual a incomunicabilidade de
bens inerente ao regime de bens do matrimônio teria o efeito de alterar a ordem de
vocação hereditária prevista no CC/2002 não encontra apoio na jurisprudência
atualmente consolidada na Segunda Seção (REsp 1.472.945-RJ, Terceira Turma, DJe
19/11/2014; REsp 1.382.170-SP, Segunda Seção, DJe 26/5/2015; AgRg nos EREsp
1.472.945-RJ, Segunda Seção, DJe 29/6/2015). REsp 1.552.553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 24/11/2015, DJe 11/2/2016.
47
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição. STJ. 2ª Seção.
EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF
5ª Região), julgado em 23/05/2018 (Info 628).

JULGADOS DO STF

Ementa: Direito constitucional e civil. Recurso extraordinário. Repercussão geral.


Aplicação do artigo 1.790 do Código Civil à sucessão em união estável homoafetiva.
Inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre cônjuges e
companheiros. 1. A Constituição brasileira contempla diferentes formas de família
legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se as famílias formadas
mediante união estável, hetero ou homoafetivas. O STF já reconheceu a “inexistência
de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de um novo e autonomizado núcleo doméstico”, aplicando-se a união estável entre
pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesas consequências da união estável
heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j. 05.05.2011). 2. Não é
legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a
família formada pelo casamento e a formada por união estável. Tal hierarquização entre
entidades familiares é incompatível com a Constituição de 1988. Assim sendo, o art.
1790 do Código Civil, ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar a
companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios bem inferiores aos
conferidos à esposa (ou ao marido), entra em contraste com os princípios da igualdade,
da dignidade humana, da proporcionalidade como vedação à proteção deficiente e da
vedação do retrocesso. 3. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o
entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha
havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que
ainda não haja escritura pública. 4. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação,
em repercussão geral, da seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é
inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, 48
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do
CC/2002”. (RE 646721, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.4. QUESTÕES

1. (Ano: 2017; Banca: VUNESP; Órgão: TJ-SP; Prova: Juiz Substituto) Pedro casa-se com
Maria, pelo regime da comunhão parcial de bens, e com ela tem três filhos: Paulo,
Luciana e João. Após ficar viúvo, Pedro se casa com Luísa, pelo regime da comunhão
universal, e com ela tem um filho: Antônio. Pedro e Luísa morrem. Em momentos
posteriores, morrem Paulo e Luciana e, depois, Antônio, cada qual deixando dois
filhos. Último dos irmãos a morrer, João era solteiro, não vivia em união estável e não
deixou filhos.

Como fica a partilha dos bens deixados por João?

a) Os filhos de Paulo, Luciana e Antônio herdarão por representação e em partes iguais,


uma vez que não há distinção entre colaterais de mesmo grau.

b) Os filhos de Paulo, Luciana e Antônio herdarão por cabeça, mas aos de Antônio, por
ser irmão unilateral, caberá a metade dos demais.

c) Os filhos de Paulo, Luciana e Antônio herdarão por cabeça e em partes iguais.


49
d) Os filhos de Paulo, Luciana e Antônio herdarão por representação, mas aos de
Antônio caberá a metade dos demais, uma vez que na classe dos colaterais os mais
próximos excluem os mais remotos.

2. (Ano: 2017; Banca: VUNESP; Órgão: TJ-SP; Prova: Juiz Substituto) Arlindo casa-se
com Joana pelo regime da comunhão universal de bens e com ela tem dois filhos,
Bruno e Lucas, ambos solteiros e sem conviventes em união estável. Arlindo e Lucas
morrem em um mesmo acidente de trânsito, tendo Lucas deixado um filho menor. Dos
atestados de óbito, consta que o falecimento de Arlindo ocorreu cinco minutos antes
do de Lucas.

Assinale a alternativa correta

a) Os bens deixados por Arlindo serão transmitidos a Joana, Bruno e ao filho de Lucas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
b) Em razão dos falecimentos no mesmo acidente, a presunção é a de que a morte do
mais velho precede a do mais jovem, o que faz com que a herança do filho de Lucas fique
restrita à parte em que seu pai sucederia, se vivo fosse.

c) Os bens deixados por Arlindo serão transmitidos a Bruno e a Lucas, observada a


meação de Joana.

d) Em razão dos falecimentos no mesmo acidente e da comoriência, a presunção é a de


que Arlindo e Lucas morreram simultaneamente, o que exclui a transmissão de bens
entre eles.

3. (Ano: 2015; Banca: VUNESP; Órgão: TJ-SP; Prova: Juiz Substituto) Acerca do Direito
das Sucessões, assinale a alternativa correta.

a) Considera-se imóvel o direito à sucessão aberta, exigindo-se escritura pública para


sua cessão, não se admitindo que a renúncia da herança conste de termo judicial.

b) A morte do responsável cambiário é modalidade de transferência anômala da


obrigação, repassável aos herdeiros, salvo se o óbito tiver ocorrido antes do vencimento
50
do título.

c) É eficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre bem da herança
singularmente considerado.

d) É intransferível ao cessionário de direitos hereditários o direito de preferência


inerente à qualidade de herdeiro.

4. (Ano: 2013; Banca: VUNESP; Órgão: TJ-SP; Prova: Juiz Substituto) Assinale a
alternativa correta.

a) Somente ofensa física que resulte em lesão grave autoriza a deserdação de herdeiro
necessário em testamento.

b) A deserdação do herdeiro necessário pode ser feita em testamento sem que o


testador declare sua causa, mas, nesse caso, caberá a quem aproveite a deserdação
justificá-la.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
c) A exclusão de herdeiro ou legatário da sucessão nos casos de indignidade deverá
sempre ser declarada por sentença.

d) Uma vez excluído da sucessão por motivo de indignidade determinado herdeiro, seus
descendentes também não sucedem.

5. (Ano: 2013; Banca: VUNESP; Órgão: TJ-SP; Prova: Juiz Substituto) Relativamente à
ordem da vocação hereditária, assinale a alternativa correta.

a) Concorrendo à herança irmãos bilaterais e unilaterais, cada um desses herdará


apenas a metade do que cada um daqueles herdar.

b) Concorrendo à herança somente um avô materno e dois avós paternos, a cada um


tocará 1/3 (um terço) da herança.

c) Se concorrerem à herança somente um filho de irmão pré-morto e duas filhas de irmã


pré-morta, àquele tocará metade da herança e a cada uma destas, 1/4 (um quarto) dela.

d) Incluem-se na sucessão legítima os colaterais até o terceiro grau.


51

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.5. GABARITO COMENTADO

1. B

A questão se resolve pela aplicação do CC, art. 1.843, caput e parágrafos. Senão,
vejamos:

Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.

§ 1º Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por


cabeça.

§ 2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um


destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.

§ 3º Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão


por igual.

2. C 52
A questão se resolve pela aplicação do CC, art. 1.829, I. Senão, vejamos:

“Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em


concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime
da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo
único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares”.

Registre-se que, em razão do regime de bens, a esposa não será herdeira, mas sim
meeira.

3. D

ALTERNATIVA A: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.806. “A renúncia da herança deve


constar EXPRESSAMENTE de instrumento público ou termo judicial”. Registre-se que,
conforme CC, o art. 80: “Consideram-se imóveis para os efeitos legais: II - o direito à
sucessão aberta”.

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ALTERNATIVA B: INCORRETA. Conforme entendimento do STJ (REsp 260004/SP):
COMERCIAL. TÍTULOS DE CRÉDITO. AVALISTA. ÓBITO ANTES DO VENCIMENTO.
OBRIGAÇÃO NÃO PERSONALÍSSIMA. TRANSMISSÃO AOS HERDEIROS. I - O aval, espécie
de obrigação cambial, é autônomo em relação à obrigação do devedor principal e se
constitui no momento da aposição da assinatura do avalista no título de crédito. II -
Existente a obrigação desde a emissão do título, o avalista era devedor solidário no
momento do óbito, constituindo o transcurso da data do vencimento apenas requisito
para a exigibilidade do montante devido. III - A morte do responsável cambiário é
modalidade de transferência anômala da obrigação que, por não possuir caráter
personalíssimo, é repassada aos herdeiros, mesmo que o óbito tenha ocorrido antes
do vencimento do título. IV - Nos termos do artigo 255, § 2º, do RISTJ, a divergência
jurisprudencial deve ser demonstrada por meio do cotejo analítico, com transcrição de
trechos dos acórdãos recorrido e paradigma que exponham a similitude fática e a
diferente interpretação da lei federal. Recurso especial conhecido e provido.

ALTERNATIVA C: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.793. § 2º. É ineficaz a cessão, pelo co-
herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado 53
singularmente.

ALTERNATIVA D. CORRETA. Conforme CC, arts. 1.794 c/c 1.795: “Art. 1.794. O co-
herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se
outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto” e “Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se
der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida
a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão. Parágrafo único.
Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o quinhão
cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias”. Em acréscimo, o art. 520
assim estabelece: “Art. 520. O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos
herdeiros”.

4. C

ALTERNATIVA A: INCORRETA. Conforme CC, arts. 1.962 e 1.963: “Art. 1.962. Além das
causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus
ascendentes: I - ofensa física; II - injúria grave; III - relações ilícitas com a madrasta ou

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
com o padrasto; IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade” e “Art. 1.963. Além das causas que enumeradas no art. 1.814, autorizam
a deserdação dos ascendentes pelos descendentes: I - ofensa física; II - injúria grave; III
- relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido
ou companheiro da filha ou o da neta; IV - desamparo do filho ou neto com deficiência
mental ou grave enfermidade.

Em complemento, o art. 1.814 assim estatui: “Art. 1.814. São excluídos da sucessão os
herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de
homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; II - que houverem acusado
caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua
honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III - que, por violência ou meios fraudulentos,
inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de
última vontade”.

ALTERNATIVA B: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.964. Somente com expressa


declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento.
54
ALTERNATIVA C: CORRETA. Conforme CC, art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou
legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença.

ALTERNATIVA D: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.816. São pessoais os efeitos da


exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como ele morto fosse antes
da abertura da sucessão.

5. A

ALTERNATIVA A: CORRETA. Conforme CC, art. 1.841 CC. Concorrendo à herança do


falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do
que cada um daqueles herdar.

ALTERNATIVA B: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.836. Na falta de descendentes, são


chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente. §
2º. Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna
herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ALTERNATIVA C: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.835. Na linha descendente, os filhos
sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se
achem ou não no mesmo grau.

ALTERNATIVA D: INCORRETA. Conforme CC, art. 1.839. Se não houver cônjuge


sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os
colaterais até o quarto grau.

55

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2. DIREITO DO CONSUMIDOR (conteúdo atualizado em 26-10-2018)

APRESENTAÇÃO

Caros alunos,

Nesta rodada, abordaremos os Contratos de Consumo e a Defesa (coletiva) do


Consumidor em Juízo, encerrando a nossa proposta de materiais escritos para essa
Turma de Reta Final do TJ/SP.

Ambos são temas de muita importância dentro do Direito do Consumidor e se


encontram recheados de inovações jurisprudenciais. Além disso, há inúmeras Súmulas
publicadas pelo próprio TJ/SP, especialmente na seara dos contratos de planos de saúde
e de compra e venda de bens imóveis.

Bons estudos.

Beatriz Fonteles. 56

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1. DOUTRINA (RESUMO)

2.1.1. DA PROTEÇÃO CONTRATUAL

2.1.1.1. DISPOSIÇÕES GERAIS

2.1.1.1.1. Do prévio conhecimento do conteúdo do contrato pelo consumidor (art. 46)

Segundo o art. 46 do CDC, os contratos que regulam as relações de consumo


não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar
conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Dessa forma, são consideradas como não vinculativas as cláusulas


desconhecidas, ou que o consumidor não teve oportunidade de conhecer, havendo a
chamada violação do “dever de oportunizar” (o conhecimento). Ex.: Contrato de seguro
de vida, em que cláusula limitativa de direito deve ser cominada previamente e em
termos claros e ostensivos, sob pena de sua não vinculação.
57
2.1.1.1.2. Da redação clara e inteligível dos contratos de consumo (art. 46)

Além da necessidade de prévio conhecimento, o mesmo art. 46 do CDC exige


que os instrumentos sejam redigidos de modo claro, sem dificultar a compreensão do
seu sentido e alcance.

Assim, também não vinculam o consumidor as cláusulas incompreensíveis ou


ininteligíveis, geralmente diante de um sério problema de redação que visa a enganar o
consumidor. A não vinculação decorre do dolo contratual praticado pelo fornecedor, via
de regra com o intuito de induzir o consumidor a erro e obter um enriquecimento sem
causa.

Exemplo clássico citado pela doutrina são as famosas cláusulas presentes em


contratos de adesão que fazem referência a determinado conteúdo registrado em
cartório, que integraria o contrato (embora quase nunca seja efetivamente dado
conhecimento de sua redação ao consumidor).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1.1.1.3. Princípio da interpretação mais favorável ao consumidor (art. 47)

O famoso art. 47 do CDC preceitua que as cláusulas contratuais serão


interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, consagrando o princípio
consumerista acima intitulado.

Trata-se de previsão mais ampla do que a do art. 423 do Código Civil, que
estabelece a interpretação mais favorável ao aderente apenas nos contratos de adesão
e quando houver cláusulas ambíguas ou contraditórias.

O STJ tem entendimento pacífico no sentido de que a falta de clareza e a


dubiedade das cláusulas impõem ao julgador uma interpretação favorável ao
consumidor, bem como a nulidade de cláusulas que atenuem a responsabilidade do
fornecedor, ou redundem em renúncia ou disposição de direitos pelo consumidor (AgRg
no REsp 1.331.935/SP, T3, Rel. Ministro Ricardo Villas Boas Cuêva, DJe 10/10/2013 e
vários outros julgados). 58
Ex.: Não é possível a recusa de cobertura de cirurgia bariátrica para tratamento
de obesidade mórbida por plano de saúde na hipótese em que haja, por um lado,
cláusula contratual excludente de tratamento para emagrecimento ou ganho de peso e,
por outro, cláusula de cobertura de procedimentos cirúrgicos de endocrinologia e
gastroenterologia, tendo em vista que o conflito interpretativo deve ser solucionado
em benefício do consumidor, consoante estabelece o art. 47 do CDC. (REsp
1.175.616/MT, T4, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 04/03/2011).

2.1.1.1.4. Da vinculação das declarações constantes de escritos particulares, recibos e


pré-contratos (art. 48)

É comum, no mercado de consumo, que os consumidores recebam recibos,


escritos particulares ou mesmo pré-contratos como documentos comprobatórios dos
seus direitos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Para resguardar o consumidor, o CDC dotou-os de força vinculativa, a teor do
art. 48.

Assim como no caso da informação ou publicidade suficientemente precisa (art.


30 do CDC), o consumidor pode valer-se da tutela específica da obrigação do fornecedor,
conforme art. 84 do CDC (com remissão expressa no art. 48), ou do resultado prático
equivalente. Ex.: imposição de multas de diferentes periodicidades, busca e apreensão
etc.

2.1.1.1.5. Do prazo de reflexão ou de arrependimento (art. 49)

Com a expansão do mercado de consumo e das formas de aquisição de bens e


serviços, tem crescente importância o fornecimento que ocorre fora do
estabelecimento comercial, como em domicílio, por telefone e pela internet.

59
OBSERVAÇÃO: Para a doutrina, jurisprudência e para as bancas de concursos, as vendas
feitas pela internet consideram-se como “fora do estabelecimento comercial”, haja vista
que o termo “especialmente” usado pelo dispositivo legal tem sentido meramente
exemplificativo, e permitem a invocação do direito de arrependimento.

Para essas situações específicas, o CDC consagra a possibilidade de o


consumidor exercer o direito de arrependimento, no prazo de 07 (sete) dias, cujo termo
inicial é: a) a assinatura do contrato; ou b) o ato de recebimento (e não de postagem)
do produto ou serviço.

Confira-se a redação do art. 49 do CDC:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7


dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do
produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento
comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de


arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente
pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão
devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Direito de desistência imotivada – dentro do prazo legalmente previsto, o


consumidor, independentemente da existência de qualquer vício do produto ou serviço,
pode desistir imotivadamente da contratação, não estando sujeito a qualquer condição.

Devolução imediata dos valores pagos pelo consumidor – ao exercer o seu


direito de arrependimento no prazo legal, o consumidor tem o direito de receber, de
forma imediata, a devolução dos valores pagos, devidamente atualizados
monetariamente. Como há o desfazimento do negócio jurídico, deve haver o retorno ao
status quo ante, com a devolução atualizada de tudo que foi despendido. 60

ATENÇÃO! O consumidor deve arcar com os custos de postagem (remessa e/ou


reenvio)?

NÃO! Esse é o posicionamento do STJ:

Exercido o direito de arrependimento, o parágrafo único do art. 49 do CDC especifica


que o consumidor terá de volta, imediatamente e monetariamente atualizados, todos
os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
entendendo-se incluídas, nestes valores, todas as despesas com o serviço postal para
a devolução do produto, quantia esta que não pode ser repassada ao consumidor.

Eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor neste tipo de contratação são


inerentes à modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento comercial (internet,
telefone, domicílio). Aceitar o contrário é criar limitação ao direito de arrependimento
legalmente não previsto, além de desestimular tal tipo de comércio tão comum nos
dias atuais. (REsp 1340604/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 15/08/2013, DJe 22/08/2013).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ATENÇÃO! O Poder Judiciário pode impor multa ao fornecedor nos casos de atraso na
entrega de mercadoria ou restituição decorrente de arrependimento?

NÃO! Esse é o posicionamento do STJ:

Em compras realizadas na internet, o fato de o consumidor ser penalizado com a


obrigação de arcar com multa moratória, prevista no contrato com a financeira, quando
atrasa o pagamento de suas faturas de cartão de crédito não autoriza a imposição, por
sentença coletiva, de cláusula penal ao fornecedor de bens móveis, nos casos de atraso
na entrega da mercadoria e na demora de restituição do valor pago quando do exercício
do direito do arrependimento.

O STJ considerou diferentes as situações a seguir:

- No pacto entre o consumidor e a operadora de cartão por ele escolhida não se pode
cogitar de desequilíbrio contratual, uma vez que a cobrança de encargos moratórios é
contrapartida contratual e legalmente prevista diante da mora do consumidor, que
obteve o crédito de forma fácil e desembaraçada, sem prestar garantia adicional alguma 61
além da promessa de pagar no prazo acertado.

- A previsão da atualização monetária denota que pode haver demora no reembolso ao


consumidor – mas essa demora não prejudica o equilíbrio da relação de consumo a
ponto de demandar a imposição, genérica e abstrata, por lei, de cláusula penal. Em
suma, o legislador não anteviu quebra automática e necessária no equilíbrio contratual
nos casos de atraso na entrega de mercadoria ou restituição decorrente de
arrependimento, ao menos não a ponto de lançar mão da imposição da multa ao
fornecedor, como norma geral e abstrata. Informativo 628 STJ 2018. REsp 1.412.993-
SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, por maioria,
julgado em 08/05/2018, DJe 07/06/2018.

Por fim, eventual cláusula contratual que retire do consumidor o direito de


arrependimento é considerada nula de pleno direito, conforme art. 51, II, do CDC.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1.1.1.6. Da garantia contratual (art. 50)

Ao lado da garantia legal (que é obrigatória e independe de termo expresso),


existe a possibilidade de o fornecedor estabelecer uma garantia contratual (há
facultatividade).

Constitui modalidade de decadência convencional, sendo o prazo concedido


geralmente pelo vendedor para ampliar o direito potestativo dado pela lei ao comprador
de determinado bem de consumo.

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será


concedida mediante termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser


padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste
a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que
pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo
62
ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no
ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de
instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.

É inadmissível substituir a garantia legal pela contratual, pois a primeira é


obrigatória e inderrogável, enquanto a última é meramente complementar. Recorde-se
que os prazos de garantia legal são aqueles previstos no art. 26 do CDC, ou seja 30
(trinta) dias para os bens não duráveis e 90 (noventa) dias para os duráveis.

A garantia contratual é uma liberalidade. Qual a razão, pois, para o fornecedor


implementá-la? A crescente concorrência de mercado, de modo a diferenciar um
produto ou serviço dos demais, atraindo mais consumidores. É uma forma de afirmação
do fornecedor no mercado de consumo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Complementaridade da garantia contratual – já se sabe que a garantia
contratual é complementar à legal. Mas o que isso significa?

Significa que o prazo legal de garantia somente flui após o encerramento do


prazo da garantia contratual, conforme entendimento do STJ.

Como mencionado, a garantia contratual depende de termo escrito, a ser


entregue pelo fornecedor, com os requisitos previstos no parágrafo único do art. 50 do
CDC. O não cumprimento dessa obrigação (“deixar de entregar ao consumidor o termo
de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo”) é
crime de consumo, tipificado no art. 74 do CDC.

2.1.2. DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS

2.1.2.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A abusividade das cláusulas contratuais é aferida objetivamente, ou seja, 63


depende apenas da verificação da desconformidade concreta entre o seu conteúdo e o
sistema de proteção ao consumidor, independentemente da análise da conduta
subjetiva do fornecedor. No CDC, essas cláusulas são nulas de pleno direito e podem, via
de regra, ser reconhecidas de ofício.

ATENÇÃO! O STJ não admite a declaração de ofício das cláusulas abusivas em


contratos bancários.

Súmula 381. Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da


abusividade das cláusulas.

Importante ter cuidado com o fato de que a vedação prevista na súmula é limitada às
cláusulas abusivas insertas em contratos bancários. Para outros contratos, é permitida
a sua declaração de ofício, tal qual se extrai do teor do caput do art. 51 do CDC.

Em que pese as duras críticas doutrinárias ao enunciado acima, o STJ continua a aplicar
a referida súmula em julgados recentes (ex vi AgRg no REsp 1403056/RS, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, T4, DJe 07/03/2016).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Vale destacar que o rol de cláusulas abusivas constante do art. 51 do CDC é
meramente exemplificativo (numerus apertus), como bem denota o caput ao
prescrever que “são nulas de pleno direito, entre outras”.

A abusividade e consequente nulidade podem ocorrer em quaisquer tipos de


contratos de consumo, sejam ou não de adesão. Não há, ademais, gradação nos vícios
(irregularidade – anulabilidade – nulidade, por exemplo). Todo e qualquer caso previsto
no art. 51 é de nulidade de pleno direito.

Com relação aos efeitos, o reconhecimento da nulidade é feito por uma decisão
de cunho declaratório, que, como tal, produz efeitos ex tunc (ou seja, retroagem ao
nascedouro do contrato).

2.1.2.2. CLÁUSULAS ABUSIVAS EM ESPÉCIE

2.1.2.2.1. Cláusulas que interfiram na responsabilidade do fornecedor por vícios e que


impliquem em renúncia ou disposição de direitos (inciso I)
64

A lei veda que o fornecedor tente se eximir da sua responsabilidade por vícios
de produtos ou serviços. Não importa que seja exoneração ou mera diminuição da
responsabilidade.

Ex: Súmula 302 do STJ. É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que
limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

Não se admite, igualmente, que haja previsão contratual que implique em


renúncia ou disposição de direitos por parte do consumidor.

Exceção: o inciso I do art. 51 prevê uma importante exceção, corriqueiramente


cobrada em provas. Admite-se a limitação da indenização eventualmente devida pelo
fornecedor caso o consumidor seja pessoa jurídica e em situações justificáveis. A
possibilidade de justificação será aferida no caso concreto, haja vista tratar-se de um
conceito indeterminado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1.2.2.2. Cláusulas que subtraiam do consumidor a opção de reembolso da quantia já
paga (inciso II)

Eventuais cláusulas que subtraiam do consumidor o direito à restituição


previsto no CDC são nulas de pleno direito.

2.1.2.2.3. Cláusulas que transfiram responsabilidades a terceiros (inciso III)

Nesses casos, a abusividade é patente por afetar o sistema de solidariedade e


de responsabilidade objetiva adotado pelo CDC. A cláusula é nula ainda por se afastar
da responsabilidade decorrente do risco-proveito prevista no CDC.

2.1.2.2.4. Cláusulas que estabeleçam obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o


consumidor em desvantagem exagerada ou que sejam incompatíveis com a boa-fé ou 65
a equidade (inciso IV)

A lesão tratada neste dispositivo é uma lesão objetiva, bastando o mero


desequilíbrio pela quebra da boa-fé e da função social para a sua configuração. Ato
contínuo, a lesão consumerista gera a nulidade absoluta e não relativa do contrato,
trazendo uma consequência de maior gravidade.

A previsão deste inciso consagra uma verdadeira cláusula de abertura, pois


permite, na casuística, a subsunção de incontáveis cláusulas abusivas.

Parâmetros de configuração da cláusula abusiva - § 1o - Presume-se exagerada,


entre outros casos, a vontade que:

- ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que


pertence (inciso I);

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
- restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à
natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou
equilíbrio contratual (inciso II);

- se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,


considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse
das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso (inciso III).

2.1.2.2.5. Cláusulas que estabeleçam a inversão do ônus da prova em prejuízo do


consumidor (inciso VI)

A inversão do ônus da prova constitui uma proteção ao consumidor


estabelecida pelo CDC (direito subjetivo do consumidor, caso preenchidos os requisitos
legais – art. 6o, VIII). Assim, por razões óbvias, não se pode utilizar desse benefício criado
em desfavor daquele que justificou a sua criação.
66
2.1.2.2.6. Cláusulas que determinem a utilização compulsória de arbitragem (inciso
VII)

É importante atentar que somente a imposição compulsória da arbitragem está


vedada. Isso não impede que o consumidor, de comum acordo com o fornecedor,
institua compromisso arbitral e opte pela arbitragem.

Nesse sentido, o STJ:

“Assim, é possível a cláusula arbitral em contrato de adesão de


consumo quando não se verificar presente a sua imposição pelo
fornecedor ou a vulnerabilidade do consumidor, bem como
quando a iniciativa da instauração ocorrer pelo consumidor ou,
no caso de iniciativa do fornecedor, venha a concordar ou
ratificar expressamente com a instituição, afastada qualquer

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
possibilidade de abuso” (REsp 1189050/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe
14/03/2016).

2.1.2.2.7. Cláusulas que imponham representante para concluir ou realizar outro


negócio jurídico pelo consumidor (inciso VIII)

O comando em questão trata da chamada cláusula-mandato, pela nomeação


de um mandatário impositivo ao consumidor. A cláusula é considerada abusiva pela
presunção absoluta de um desequilíbrio, afastando do vulnerável negocial o exercício
efetivo de seus direitos.

Súmula 60 do STJ. É nula a obrigação cambial assumida por


procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo
interesse deste.
67

2.1.2.2.8. Cláusulas que deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,


embora obrigando o consumidor (inciso IX)

Trata-se de situação de cláusula puramente potestativa, pois deixa o negócio


ao livre arbítrio apenas do fornecedor ou prestador. Assim, há uma clara vedação à falta
de equivalência contratual, em que o fornecedor tem um direito sem a devida
correspondência jurídica em relação à outra parte.

2.1.2.2.9. Cláusulas que permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação


do preço de maneira unilateral (inciso X)

Esta regra se refere aos negócios que já foram firmados. Assim, não é possível
a modificação unilateral, após ter-se efetuado a transação.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1.2.2.10. Cláusulas que autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor (inciso XI)

Mais uma vez, veda-se a cláusula puramente potestativa, denominada cláusula


de rescisão unilateral ou de cancelamento unilateral. Reside por igual no conteúdo da
norma a máxima que veda o comportamento contraditório, relacionada à boa-fé e às
justas expectativas depositadas no negócio jurídico.

Observe, porém, que o dispositivo faz uma ressalva: se igual direito for
garantido ao consumidor, a cláusula será possível e lícita.

2.1.2.2.11. Cláusulas que obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de


sua obrigação, sem que igual direito lhe seja concedido contra o fornecedor (inciso XII)

68
O CDC não veda a estipulação que impõe ao consumidor o pagamento das
despesas de cobrança em decorrência do inadimplemento, mas apenas determina que
esse direito seja uma via de mão dupla; ou seja, somente será válida a cláusula se constar
do mesmo modo contra o fornecedor.

A título de exemplo, é nula a cláusula contratual que impõe ao consumidor o


pagamento de taxas que seriam da instituição financeira, caso da TEC (Tarifa de Emissão
de Carnê).

OBSERVAÇÃO: Súmula 565 do STJ - A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC)
e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida
apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n.
3.518/2007, em 30/4/2008.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ATENÇÃO! Informativo 611 STJ (REsp 1.361.699/MG): Não há abusividade na cláusula
contratual que estabeleça o repasse dos custos administrativos da instituição
financeira com as ligações telefônicas dirigidas ao consumidor inadimplente.

Inicialmente, ressalta-se que com base no princípio restitutio in integrum, consagrado


no art. 395 do Código Civil/2002, imputa-se ao devedor a responsabilidade por todas as
despesas a que ele der causa em razão da sua mora ou inadimplemento, estando o
consumidor, por conseguinte, obrigado a ressarcir os custos decorrentes da cobrança
de obrigação inadimplida a tempo e modo, desde que igual direito lhe seja conferido
contra o fornecedor, nos exatos termos do art. 51, XII, do Código de Defesa do
Consumidor.

Por fim, a necessidade de reposição integral dos danos causados por um dos
contratantes ao outro decorre do sistema jurídico, por extensão legal conferida pelo art.
51, XII, do CDC, de modo que a garantia da reparação total valerá tanto para o
fornecedor quanto para o consumidor, independentemente de expressa previsão
contratual.
69
REsp 1.361.699-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em
12/9/2017, DJe 21/9/2017.

2.1.2.2.12. Cláusulas que autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o


contrato após a sua celebração (inciso XIII)

O fornecedor não pode modificar unilateralmente o contrato e sem qualquer


motivo, sendo a sua cláusula autorizadora nula por abusividade. A correta interpretação
seria no sentido de se vedar qualquer alteração posterior do contrato, qualquer quebra
das regras do jogo, a gerar um desequilíbrio ou uma situação de injustiça contra o
consumidor.

2.1.2.2.13. Cláusulas que infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais


(inciso XIV)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Diante da sua abrangência difusa, a proteção do meio ambiente envolve
igualmente a celebração de contratos. Nesse contexto, pode-se afirmar que o
instrumento que viola valores ambientais é nulo por desrespeito à função social do
contrato.

2.1.2.2.14. Cláusulas que estejam em desacordo com o sistema de proteção ao


consumidor (inciso XV)

Esta previsão consagra o sistema aberto de proteção ao preconizar a nulidade


de qualquer cláusula que entre em conflito com o sistema de proteção consumerista.

2.1.2.2.15. Cláusulas que possibilitem a renúncia do direito de indenização por


benfeitorias necessárias (inciso XVI)
70
São necessárias as benfeitorias que visam à conservação do bem principal, tidas
como essenciais ao último. Diante da relação de essencialidade com o bem principal, o
CDC deduz como abusiva a cláusula de renúncia às benfeitorias necessárias. Não se pode
esquecer da presunção de boa-fé a favor do consumidor, a gerar o direito de indenização
por tais benfeitorias, nos termos do art. 1.219 do CC.

2.1.2.3. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DO CONTRATO

O par. 2o do art. 51 do CDC esclarece que, via de regra, é possível separar a


cláusula abusiva do restante do ajuste, em consagração do princípio da conservação do
contrato, em sintonia com alguns dispositivos do Código Civil que possuem a mesma
finalidade (ex.: art. 184).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Assim, em primeiro lugar, o intérprete deve, por meio de esforços de
integração, tentar salvar o contrato, isolando a cláusula abusiva e mantendo o restante
do acordo, desde que mantido o equilíbrio material entre as prestações.

Ex.: em um contrato bancário, há possibilidade de serem declaradas nulas


apenas as cláusulas que prevejam juros acima das taxas legais, mantido o ajuste nos
demais pontos.

O ponto nodal para a conservação ou não é a inexistência de ônus excessivo


para qualquer das partes, o que será objeto de análise do caso concreto.

Recorde-se, por fim, que o art. 6o, V, do CDC, prevê como um dos direitos
básicos do consumidor “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas”. Desse modo, abrem-se duas possibilidades diante de
uma cláusula abusiva:

a) afastá-la por completo diante da nulidade; e 71


b) modificar o conteúdo do contrato, de modo a manter o
equilíbrio entre as partes.

2.1.2.4. REQUERIMENTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A DECLARAÇÃO DE


NULIDADE

O par. 4o do art. 51 do CDC preceitua que:

§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o


represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a
competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula
contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer
forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações
das partes.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O dispositivo acima, é importante advertir, não estabelece uma legitimidade
exclusiva do Ministério Público para a propositura de demandas que visem ao
reconhecimento da abusividade de uma cláusula inserida em contrato de consumo. Visa
apenas a reforçar a possibilidade de o órgão ministerial adotar providências visando ao
ingresso com ações para combater a abusividade, em especial de cunho coletivo.

2.1.2.5. ANÁLISE DE CLÁUSULAS ABUSIVAS CORRENTES NO MERCADO DE CONSUMO

Aqui, os terrenos mais férteis são os contratos de plano de saúde e os contratos


bancários, que merecem nossa especial atenção. Antes de ingressarmos nessas duas
espécies, importante destacar alguns julgados recentes do STJ relativos a outras
modalidades de contratos:

72
ATENÇÃO! Validade (não abusividade) da cláusula de tolerância nos contratos de
compra e venda de imóvel (até 180 dias):

A cláusula de tolerância é aquela comumente prevista em contratos firmados para


aquisição de bem imóvel, para cuja edificação existe uma previsão temporal, sujeita a
um “atraso” máximo, previsto contratualmente. Na prática, diz-se que esse prazo é de
06 (seis) meses, mas a Lei regente prevê o prazo de até 180 dias. Essa prática, constante
de contratos firmados, é válida. Assim, agem dentro da legalidade as construtoras que
adotam esse período de atraso da obra para entregar o empreendimento ao adquirente.

Informativo 612 STJ (REsp 1.582.318/RJ): Não é abusiva a cláusula de tolerância nos
contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê
prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento
e oitenta) dias – chamada de cláusula de tolerância.

Apesar de o Código de Defesa do Consumidor incidir na dinâmica dos negócios


imobiliários em geral, não há como ser reputada abusiva a cláusula de tolerância. Isso
porque existem no mercado diversos fatores de imprevisibilidade que podem afetar

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
negativamente a construção de edificações e onerar excessivamente seus atores, tais
como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no
setor, entre outros contratempos.

Assim, a complexidade do negócio justifica a adoção no instrumento contratual, desde


que razoáveis, de condições e formas de eventual prorrogação do prazo de entrega da
obra, o qual foi, na realidade, apenas estimado, tanto que a própria lei de regência
disciplinou tal questão, conforme previsão do art. 48, § 2º, da Lei n. 4.591/1964. Logo,
observa-se que a cláusula de tolerância para atraso de obra possui amparo legal, não
constituindo abuso de direito (art. 187 do CC). Por outro lado, não se verifica também,
para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do
consumidor, o que comprometeria o princípio da equivalência das prestações
estabelecidas. Tal disposição contratual concorre para a diminuição do preço final da
unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente, pois ameniza o risco da atividade
advindo da dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande
magnitude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis.
73
ATENÇÃO! Informativo 630 do STJ 2018 (Recurso Repetitivo):

É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de


pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda do
Programa Minha Casa, Minha Vida, desde que previamente informado o preço total
da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de
corretagem, ressalvada a faixa em que não há intermediação imobiliária.

REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, Segunda Seção, por maioria, julgado em 13/06/2018, DJe 15/08/2018
(Tema 960).

ATENÇÃO! Informativo 629 do STJ 2018 (julgado da Corte Especial):

O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de


direitos transindividuais de consumidores que celebram contratos de compra e venda
de imóveis com cláusulas pretensamente abusivas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
EREsp 1.378.938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, por unanimidade, julgado em
20/06/2018, DJe 27/06/2018

2.1.2.5.1. Cláusulas (não) abusivas em contratos de planos de saúde

Situações objeto de Súmulas do STJ:

a) Súmula 609 do STJ - A recusa de cobertura securitária, sob a


alegação de doença preexistente, é ilícita se não houve a
exigência de exames médicos prévios à contratação ou a
demonstração de má-fé do segurado.

b) Súmula 597 do STJ - A cláusula contratual de plano de saúde


que prevê carência para utilização dos serviços de assistência
médica nas situações de emergência ou de urgência é
74
considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24
horas contado da data da contratação.

Comentários: a cláusula de carência é considerada válida, mas o


prazo de carência para as situações de emergência ou urgência
é de, no máximo, 24 (vinte e quatro) horas, contadas da data da
contratação.

c) Súmula 302 do STJ. É abusiva a cláusula contratual de plano


de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do
segurado.

Decisões veiculadas em Informativos do STJ recentes:

a) Informativo 632 STJ 2018 – Recurso Repetitivo - Nos planos


de saúde coletivos custeados exclusivamente pelo empregador
não há direito de permanência do ex-empregado aposentado

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ou demitido sem justa causa como beneficiário, salvo
disposição contrária expressa prevista em contrato ou em
acordo/convenção coletiva de trabalho, não caracterizando
contribuição o pagamento apenas de coparticipação, tampouco
se enquadrando como salário indireto.

- É assegurado ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao


aposentado que contribuiu para o plano de saúde em
decorrência do vínculo empregatício o direito de manutenção
como beneficiário nas mesmas condições de cobertura
assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de
trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral (arts. 30
e 31 da Lei n. 9.656/1998).

- Com efeito, nos termos do art. 30, § 6º, da Lei n. 9.656/1998,


não é considerada contribuição a coparticipação do consumidor,
única e exclusivamente, em procedimentos, como fator de
moderação, na utilização dos serviços de assistência médica ou
75
hospitalar, como ocorre nos planos coletivos custeados
integralmente pela empresa.

REsp 1.680.318-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda


Seção, por unanimidade, julgado em 22/08/2018, DJe
24/08/2018 (Tema 989)

b) Informativo 632 STJ 2018 - A operadora de plano de saúde


não pode negar o fornecimento de tratamento prescrito pelo
médico, sob o pretexto de que a sua utilização em favor do
paciente está fora das indicações descritas na bula/manual
registrado na ANVISA (uso off-label).

Quanto ao ponto, a jurisprudência do STJ está sedimentada no


sentido de que é o médico, e não a operadora do plano de saúde,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
o responsável pela orientação terapêutica adequada ao
paciente.

Assim, a ingerência da operadora, além de não ter fundamento


na Lei n. 9.656/98, constitui ação iníqua e abusiva na relação
contratual, e coloca concretamente o consumidor em
desvantagem exagerada (art. 51, IV, do CDC).

(REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade,


julgado em 28/08/2018, DJe 06/09/2018).

c) Informativo 612 STJ 2017 - Cinge-se a controvérsia a saber se


é abusiva cláusula contratual de plano de saúde que limita a
cobertura de tratamento psicoterápico a 12 (doze) sessões
anuais.

Há abusividade na cláusula contratual ou em ato da operadora


de plano de saúde que importe em interrupção de tratamento 76
psicoterápico por esgotamento do número de sessões anuais
asseguradas no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da
ANS, visto que se revela incompatível com a equidade e a boa-
fé, colocando o usuário (consumidor) em situação de
desvantagem exagerada (art. 51, IV, da Lei nº 8.078/1990).

(REsp 1679190/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,


TERCEIRA TURMA, julgado em 26/09/2017, DJe 02/10/2017).

d) Informativo 610 STJ 2017 - Não é abusiva a exigência de


indicação da CID (Classificação Internacional de Doenças),
como condição de deferimento, nas requisições de exames e
serviços oferecidos pelas prestadoras de plano de saúde, bem
como para o pagamento de honorários médicos.

Conclui-se, por fim, que a exigência da CID pelas operadoras de


planos de saúde não se mostra iníqua ou incompatível com a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
boa-fé – pois a indicação da enfermidade objeto de tratamento
constitui elemento intrínseco à relação estabelecida entre o
paciente, o médico e a própria operadora.

(REsp 1.509.055-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por


unanimidade, julgado em 22/8/2017, DJe 25/8/2017).

e) Informativo 599 STJ 2017 - Mesmo antes da entrada em vigor


da Resolução ANS n. 279/2011, é indevido cobrar reajuste de
ex-empregado demitido sem justa causa que opta por
permanecer vinculado ao plano de saúde em que se encontrava
antes da demissão, na condição de beneficiário, pelo prazo que
lhe assegura o art. 30, § 1º, da Lei n. 9.656/1998, nas mesmas
condições de cobertura assistencial e mediante o pagamento
integral das mensalidades, só lhe podendo ser atribuído algum
aumento que também tenha sido estipulado aos empregados
77
em atividade.

Vale, ainda, lembrar que a jurisprudência deste STJ firmou-se no


sentido de que a Lei n. 9.656/1998 é autoaplicável, não necessita
de regulamentação para a produção dos efeitos nela previstos,
na medida em que já contém todos os elementos necessários ao
exercício dos direitos que assegura. Desse modo, se o art. 30 da
Lei n. 9.656/1998 assegura o direito à manutenção do plano de
saúde, em caso de demissão sem justa causa, "nas mesmas
condições de cobertura assistencial" de que gozava na vigência
do contrato de trabalho, "desde que assuma o seu pagamento
integral", impõe-se reconhecer que a própria lei condicionou a
continuidade da contraprestação financeira, apenas sob o
aspecto subjetivo, ou seja, transferindo integralmente a
obrigação de pagamento da contribuição para o beneficiário, em
substituição ao seu ex-empregador, só lhe podendo ser
atribuído algum reajuste que também tenha sido concedido aos

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
empregados em atividade. (REsp 1.539.815-DF, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 7/2/2017, DJe
14/2/2017).

Outras decisões de relevo:

a) A realização de exames, internações e demais procedimentos


hospitalares não podem ser obstada aos usuários cooperados,
exclusivamente pelo fato de terem sido solicitados por médico
diverso daqueles que compõem o quadro da operadora, pois
isso configura não apenas discriminação do galeno, mas também
tolhe tanto o direito de usufruir do plano contratado como a
liberdade de escolha do profissional que lhe aprouver. Assim, a
cláusula contratual que prevê o indeferimento de quaisquer
procedimentos médico-hospitalares, se estes forem solicitados 78
por médicos não cooperados, deve ser reconhecida como
cláusula abusiva, nos termos do art. 51, IV, do CDC. (REsp
1330919/MT, T4, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe
18/08/2016).

b) É abusiva a cláusula contratual de seguro de saúde que


estabelece limitação de valor para o custeio de despesas com
tratamento clínico, cirúrgico e de internação hospitalar. Na
espécie, a seguradora assumiu o risco de cobrir o tratamento da
moléstia que acometeu a segurada. Todavia, por meio de
cláusula limitativa e abusiva, reduziu os efeitos jurídicos dessa
cobertura, ao estabelecer um valor máximo para as despesas
hospitalares, tornando, assim, inócuo o próprio objeto do
contrato. A cláusula em discussão não é meramente limitativa
de extensão de risco, mas abusiva, porque excludente da própria

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
essência do risco assumido, devendo ser decretada sua nulidade.
(REsp 735.750/SP, T4, Rel. Ministro Raul Araújo, DJe
16/02/2012).

Os exemplos acima não são exaustivos, mesmo porque os julgados nesse


sentido são muitos. Foram selecionados apenas os temas mais corriqueiros e que, no
nosso sentir, podem vir a ser abordados em provas.

Há, por outro lado, situações outras em que NÃO existe, pelo menos prima
facie, abusividade. Vejamos os casos emblemáticos:

a) Cinge-se a controvérsia a saber se é abusiva cláusula


contratual de plano de saúde que prevê a coparticipação do
usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre
o custo do tratamento. A adoção da coparticipação no plano de
saúde implica diminuição do risco assumido pela operadora, o 79
que provoca redução do valor da mensalidade a ser paga pelo
usuário, que, por sua vez, caso utilize determinada cobertura,
arcará com valor adicional apenas quanto a tal evento. Não há
falar em ilegalidade na contratação de plano de saúde em
regime de coparticipação, seja em percentual sobre o custo do
tratamento seja em montante fixo, até mesmo porque
"percentual de co-participação do consumidor ou beneficiário"
(art. 16, VIII, da Lei nº 9.656/1998) é expressão da lei. Vedação,
todavia, da instituição de fator que limite seriamente o acesso
aos serviços de assistência à saúde, a exemplo de
financiamentos quase integrais do procedimento pelo próprio
usuário, a evidenciar comportamento abusivo da operadora.
(REsp 1566062/RS, T3, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 01/07/2016).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
b) O aumento da idade do segurado implica a necessidade de
maior assistência médica. Em razão disso, a Lei n. 9.656/1998
assegurou a possibilidade de reajuste da mensalidade de plano
ou seguro de saúde em razão da mudança de faixa etária do
segurado. Essa norma não confronta o art. 15, § 3º, do Estatuto
do Idoso, que veda a discriminação consistente na cobrança de
valores diferenciados em razão da idade. Discriminação traz em
si uma conotação negativa, no sentido do injusto, e assim é que
deve ser interpretada a vedação estabelecida no referido
estatuto.

Na hipótese dos autos, o aumento do valor do prêmio decorreu


do maior risco, ou seja, da maior necessidade de utilização dos
serviços segurados, e não do simples advento da mudança de
faixa etária. Se o reajuste está previsto contratualmente e
guarda proporção com o risco e se foram preenchidos os
requisitos estabelecidos na Lei n. 9.656/1998, o aumento é legal. 80
(REsp 1381606/DF, T3, Rel. Ministro João Otávio de Noronha,
DJe 31/10/2014).

ATENÇÃO! Conclusão: São lícitas (não abusivas) as cláusulas constantes em planos de


saúde que:

a) estabeleçam o regime de coparticipação, desde que não caracterize o financiamento


integral do procedimento por parte do usuário ou fator restritivo severo ao acesso aos
serviços;

b) reajustem a mensalidade em razão da alteração da faixa etária, exceto quando: i)


não respeitar os limites e requisitos previstos na Lei n. 9.656/98; ii) aplicar índices de
reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o usuário;

c) estabeleçam prazos de carência para determinadas coberturas do seguro, havendo


mitigações no que diz respeito a tratamentos de urgência de doença grave (Súmula 597
do STJ).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
SÚMULAS DO TJ/SP SOBRE CLÁUSULAS ABUSIVAS EM CONTRATOS DE PLANOS DE
SAÚDE:

Súmula 90: Havendo expressa indicação médica para a utilização dos serviços de
“home care”, revela-se abusiva a cláusula de exclusão inserida na avença, que não pode
prevalecer.

Súmula 92: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita o tempo de
internação do segurado ou usuário (Súmula 302 do Superior Tribunal de Justiça).

Súmula 94: A falta de pagamento da mensalidade não opera, per si, a pronta rescisão
unilateral do contrato de plano ou seguro de saúde, exigindo-se a prévia notificação do
devedor com prazo mínimo de dez dias para purga da mora.

Súmula 101: O beneficiário do plano de saúde tem legitimidade para acionar


diretamente a operadora mesmo que a contratação tenha sido firmada por seu
empregador ou associação de classe.

Súmula 103: É abusiva a negativa de cobertura em atendimento de urgência e/ou


emergência a pretexto de que está em curso período de carência que não seja o prazo 81
de 24 horas estabelecido na Lei n. 9.656/98. (Súmula 597 do Superior Tribunal de
Justiça).

Súmula 104: A continuidade do exercício laboral após a aposentadoria do beneficiário


do seguro saúde coletivo não afasta a aplicação do art. 31 da Lei n. 9.656/98.

2.1.2.5.2. Cláusulas abusivas em contratos bancários

Aqui, também sem a pretensão de exaurir o assunto, mas apenas preparar os


candidatos para provas objetivas, abordaremos as principais nuances dos contratos
bancários, conforme posicionamento do STJ.

a) Juros remuneratórios: são em regra admitidos, desde que


não superem o limite da taxa média de mercado. No caso dos
contratos do Sistema Financeiro de Habitação, inexiste,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
igualmente, limitação expressa dos juros remuneratórios.

Súmula 382 do STJ. A estipulação de juros remuneratórios


superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

Súmula 422 do STJ. Os juros remuneratórios não estão limitados


nos contratos vinculados ao Sistema Financeiro de Habitação.

Ademais, admite-se a cumulação dos juros remuneratórios com encargos da


inadimplência, exceto com comissão de permanência.

Súmula 296 do STJ. Os juros remuneratórios, não cumuláveis


com a comissão de permanência, são devidos no período de
inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco
Central do Brasil, limitada ao percentual contratado.

Súmula 530 do STJ. Nos contratos bancários, na impossibilidade


82
de comprovar a taxa de juros efetivamente contratada – por
ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento
aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo
Bacen, praticadas nas operações da mesma espécie, salvo se a
taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.

b) Juros moratórios: no caso dos juros moratórios, o STJ


entende que o limite deve ser aquele fixado em legislação
específica. Na falta de previsão legal, entretanto, aplica-se o
limite de 1% ao mês.

Súmula 379 do STJ. Nos contratos bancários não regidos por


legislação específica, os juros moratórios poderão ser
convencionados até o limite de 1% ao mês.

Além disso, cumpre destacar o entendimento de que os juros moratórios

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
independem de expressa pactuação, pois são decorrentes da lei. Assim, são exigíveis
ainda que não haja previsão expressa no contrato (REsp 1.431.572/SC, T3, Rel. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 20/06/2016).

c) Multa moratória: após a vigência do CDC, a multa moratória


só pode ser estipulada até o limite de 2% do valor da prestação
(art. 52, par. 1o). E, ao contrário dos juros moratórios, somente
pode ser exigida caso estipulada expressamente no instrumento
contratual (REsp 1.431.572/SC, T3, Rel. Ministro Ricardo Villas
Bôas Cueva, DJe 20/06/2016).

Súmula 285 do STJ. Nos contratos bancários posteriores ao


Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória nele
prevista.

d) Capitalização de juros: a capitalização de juros pode ser anual 83


(desde que haja prévia pactuação) ou mensal (nas hipóteses
legalmente previstas e havendo estipulação contratual). Esse
entendimento aplica-se inclusive nos contratos de cartão de
crédito.

Súmula 93 do STJ. A legislação sobre cédulas de crédito rural,


comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros.

Súmula 539 do STJ. É permitida a capitalização de juros com


periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir
de 31/3/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP 2.170-
36/01), desde que expressamente pactuada.

Súmula 541 do STJ. A previsão no contrato bancário de taxa de


juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O último enunciado acima transcrito quer dizer que não há necessidade de o
contrato bancário prever expressamente a expressão “capitalização de juros”. É
suficiente, para que esta seja exigível, que sejam previstas as taxas de juros mensal e
anual e, da análise desta, a constatação de os juros serem capitalizados (faz-se a
seguinte operação matemática: se a taxa anual de juros for superior à multiplicação da
taxa mensal por 12, é porque há capitalização).

e) Comissão de permanência: alguns verbetes importantes


sobre comissão de permanência.

Súmula 30 do STJ. A comissão de permanência e a correção


monetária são inacumuláveis.

Súmula 294 do STJ. Não é potestativa a cláusula contratual que


prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de
mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa
do contrato. 84
Súmula 472 do STJ. A cobrança de comissão de permanência –
cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos
remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a
exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual.

OBSERVAÇÃO: A comissão de permanência é inacumulável com: a) correção monetária;


b) juros remuneratórios; c) juros moratórios; e d) multa contratual.

Decisões veiculadas em Informativos do STJ recentes:

a) Informativo 616 STJ 2018 - É abusiva e ilegal cláusula prevista


em contrato de prestação de serviços de cartão de crédito que
autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
consumidores com outras entidades financeiras ou
mantenedoras de cadastros positivos e negativos de
consumidores, sem que seja dada opção de discordar daquele
compartilhamento.

Assim, é possível concluir que a cláusula posta em contrato de


serviço de cartão de crédito que não possibilite ao consumidor
a opção de discordar do compartilhamento de dados é abusiva
por deixar de atender a dois princípios importantes da relação
de consumo: transparência e confiança. (REsp 1.348.532-SP,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em
10/10/2017, DJe 30/11/2017).

b) Informativo 612 STJ 2017 – A limitação de desconto ao


empréstimo consignado (30%), em percentual estabelecido
pelos arts. 45 da Lei n. 8.112/1990 e 1º da Lei n. 10.820/2003,
85
não se aplica aos contratos de mútuo bancário em que o cliente
autoriza o débito das prestações em conta-corrente.

c) Novidade 2017 (Informativos 605 e 597 STJ): os julgados que


serão agora brevemente mencionados referem-se aos contratos
de arrendamento mercantil (ou leasing) e à sua regulamentação
pelo Conselho Monetário Nacional. Em princípio, não citaríamos
os casos, por envolver igualmente Resoluções do CMN.
Considerando, todavia, que o tema foi abordado em dois
informativos distintos do STJ do ano de 2017 e que, no último,
houve julgamento pela 2a Seção, achamos por bem mencionar,
ainda que de forma resumida, a conclusão a que chegou a Corte
Cidadã.

Para tanto, deve se ter como premissa a natureza do contrato de arrendamento

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
mercantil, qual seja: é uma modalidade mista de contrato, que se inicia como forma de
locação de determinado bem, mas que, ao final do pagamento das parcelas da locação,
concede-se ao arrendatário/consumidor a opção de adquirir o bem, mediante o
pagamento da importância denominada Valor Residual Garantido (VRG). O tema diz
respeito justamente aos casos em que o consumidor pretende não esperar o término
das parcelas do leasing, de modo a se antecipar na sua liquidação.

É possível a cobrança de uma tarifa específica para fins de liquidação


antecipada (antes do prazo) das parcelas do contrato de arrendamento mercantil?

- Viabilidade da cobrança da tarifa de liquidação antecipada de


contrato, desde que expressamente prevista nos contratos
entabulados até a data da entrada em vigor da Resolução nº
3.501/2007, ou seja, para as operações de crédito e
arrendamento mercantil contratadas antes de 10/12/2007
podem ser cobradas tarifas pela liquidação antecipada no
86
momento em que for efetivada a liquidação, desde que a
cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no extrato
de conferência (REsp 1392449/DF, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/05/2017, DJe 02/06/2017).

CONCLUSÃO: a) a tarifa de liquidação antecipada só é válida se


estiver prevista em contratos de arrendamento mercantil
celebrados antes da vigência da Resolução n. 3.501/2007 do
CMN (de 10/12/2007); b) a partir de 10/12/2007, a tarifa é
considerada abusiva.

2.1.2.6. CONTRATOS DE CRÉDITO OU DE FINANCIAMENTO (art. 52)

Requisitos para concessão de crédito e financiamento em geral - art. 52,


caput, do CDC - No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre
outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

- preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional


(inciso I);

- montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros


(inciso II);

- acréscimos legalmente previstos (inciso III);

- número e periodicidade das prestações (inciso IV);

- soma total a pagar, com e sem financiamento (inciso V).

Juros convencionais - Nesse caso, STF e STJ entendem que às instituições


financeiras não se aplica a Lei de Usura. Dessa forma, as taxas de juros são estipuladas
conforme o mercado. 87

Súmula 596 do STF. As disposições do Decreto 22.626 de 1933


(Lei de Usura) não se aplicam às taxas de juros e aos outros
encargos cobrados nas operações realizadas por instituições
públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro
nacional.

Súmula 283 do STJ. As empresas administradoras de cartão de


crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros
remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da
Lei de Usura.

Limite da cláusula penal ou multa moratória - art. 52, § 1°, do CDC - As multas
de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser
superiores a dois por cento (2%) do valor da prestação.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Trata-se de norma de ordem pública, sendo nula por abusividade a cláusula
contratual que estabeleça limite maior para a multa moratória. Todavia, em casos de
excesso, na esteira da melhor jurisprudência e em prestígio ao princípio da preservação
do contrato, deve ocorrer a redução do negócio jurídico até o patamar considerado
como válido pela legislação consumerista.

ATENÇÃO! Embora a previsão legal do limite de 2% para a multa moratória esteja


adstrita aos contratos de consumo que envolvam a outorga de crédito ou a concessão
de financiamento, há uma tendência do STJ de estendê-lo para as relações
consumeristas em geral. Esse entendimento é, inclusive, considerado correto em provas
de concursos públicos.

Redução das multas - Quando qualquer multa for excessiva, a doutrina e


jurisprudência têm entendido que se aplica o art. 413 do Código Civil, que afirma que a
penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver 88
sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo,
tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

Direito de liquidação antecipada dos créditos - art. 52, § 2o, do CDC - É


assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente,
mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

ATENÇÃO! O fenômeno do superendividamento:

A definição do fenômeno, trazida pela doutrina de Cláudia Lima Marques, é que se trata
da impossibilidade global do devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, de
pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo.

Cumpre destacar que o direito comparado prevê duas espécies de superendividamento:

- Superendividamento ativo: ocorre quando o consumidor, voluntariamente, se


endivida, influenciado pela agressividade do mercado de consumo e estratégias de
publicidade e marketing de empresas fornecedoras. Há outra subdivisão: i) consciente

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
– quando, imbuído de má-fé, contrai dívidas superiores à possibilidade de pagamento,
com a intenção deliberada de fraudar credores; ii) inconsciente – não há intuito
deliberado do consumidor, mas um agir imprudente, impulsivo, em análise da real
possibilidade de gastos.

- Superendividamento passivo: ocorre por motivos inicialmente não previstos pelo


consumidor, decorrentes de eventos complicados da vida (ex.: morte do parente
provedor da família, caso de doença grave, desemprego, divórcio etc.).

Via de regra, a jurisprudência tende a proteger o mínimo existencial dos consumidores


em superendividamento ativo inconsciente ou passivo.

2.1.2.7. CONTRATOS DE COMPRA E VENDA EM PRESTAÇÕES E ALIENAÇÕES


FIDUCIÁRIAS EM GARANTIA (art. 53)

Nulidade da Cláusula de Decaimento - art. 53 do CDC - Nos contratos de


compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como
89
nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas
que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em
razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto
alienado.

A jurisprudência admite a retenção de parte dos valores pagos para fazer frente
a determinadas despesas:

“A resolução unilateral, nesses casos, enseja a restituição das


parcelas pagas pelo promissário-comprador, mas não em sua
totalidade, haja vista a incidência de parcela de retenção para
fazer frente ao prejuízo causado com o desgaste da unidade
imobiliária e as despesas com administração, corretagem,
propaganda e outras congêneres suportadas pela empresa
vendedora” (AgRg no Ag 717.840/MG, Rel. Ministro VASCO

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS),
TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2009, DJe 21/10/2009).

Súmula 543 do STJ. Na hipótese de resolução de contrato de


promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de
Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das
parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em
caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou
parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao
desfazimento.

Há duas conclusões importantes decorrentes do desfazimento de contratos de


promessa de compra e venda em parcelas ou alienação fiduciária em garantia:

a) É nula de pleno direito a cláusula de decaimento, ou seja,


90
aquela que prevê a perda total das parcelas pagas até então pelo
consumidor;

b) A restituição do montante devido ao consumidor deve ser


feita de forma imediata, e não a prazo ou parcelada.

Compensação ou restituição nos contratos de consórcio – art. 53, § 2o, CDC -


Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a
restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da
vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou
inadimplente causar ao grupo.

Ressalta-se que, conforme a jurisprudência, tais prejuízos devem ser provados


pela empresa administradora do consórcio, não podendo ser presumidos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O direito a desistência do consórcio é um direito potestativo do consorciado.
Nesse contexto, entende-se abusiva a cláusula que afasta do consumidor o direito de
desistir do contrato de consórcio antes do encerramento do grupo.

Em relação ao montante do valor pago pelo consorciado que pode ser retido
pela empresa que administra o consórcio, esse também deve abranger a taxa de
administração.

Obrigatoriedade de expressão em moeda nacional – art. 53, § 3°, CDC - Os


contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente
nacional.

Súmula 35 do STJ. Incide correção monetária sobre as


prestações pagas, quando de sua restituição, em virtude da
retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio.

Súmula 538 do STJ. As administradoras de consórcio têm


liberdade para estabelecer a respectiva taxa de administração, 91
ainda que fixada em percentual superior a dez por cento.

ATENÇÃO! SÚMULAS DO TJ/SP SOBRE CLÁUSULAS ABUSIVAS EM CONTRATOS DE


COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL:

Súmula 1: O Compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a


rescisão do contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos
próprios de administração e propaganda feitos pelo compromissário vendedor, assim
como com o valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem.

Súmula 2: A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e


venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de
parcelamento prevista para a aquisição (Súmula 543 do Superior Tribunal de Justiça).

Súmula 3: Reconhecido que o compromissário comprador tem direito à devolução das


parcelas pagas por conta do preço, as partes deverão ser repostas ao estado anterior,
independentemente de reconvenção.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Súmula 159 - É incabível a condenação da vendedora ao pagamento de multa ajustada
apenas para a hipótese de mora do comprador, afastando-se a aplicação da penalidade
por equidade, ainda que descumprido o prazo para a entrega do imóvel objeto do
compromisso de venda e compra. Incidência do disposto no artigo 411, do Código Civil.

Súmula 160 - A expedição do habite-se, quando não coincidir com a imediata


disponibilização física do imóvel ao promitente comprador, não afasta a mora contratual
atribuída à vendedora.

Súmula 161 - Não constitui hipótese de caso fortuito ou de força maior, a ocorrência de
chuvas em excesso, falta de mão de obra, aquecimento do mercado, embargo do
empreendimento ou, ainda, entraves administrativos. Essas justificativas encerram “res
inter alios acta” em relação ao compromissário adquirente.

Súmula 162 - Descumprido o prazo para a entrega do imóvel objeto do compromisso de


venda e compra, é cabível a condenação da vendedora por lucros cessantes, havendo a
presunção de prejuízo do adquirente, independentemente da finalidade do negócio.

Súmula 163 - O descumprimento do prazo de entrega do imóvel objeto do compromisso 92


de venda e compra não cessa a incidência de correção monetária, mas tão somente dos
encargos contratuais sobre o saldo devedor.

Súmula 164 - É válido o prazo de tolerância não superior a cento e oitenta dias, para
entrega de imóvel em construção, estabelecido no compromisso de venda e compra,
desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível (posição recente
do Superior Tribunal de Justiça).

2.1.2.8. CONTRATOS DE ADESÃO (art. 54)

Conceito - art. 54 do CDC - Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham


sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo
fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Assim, esse contrato é aquele imposto por um órgão, seja ele público ou
privado, geralmente o detentor do domínio ou poderio contratual.

Inserção de cláusulas discutidas no contrato de adesão - art. 54, § 1°, do CDC


- A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.

Admissão da cláusula resolutória - art. 54, § 2°, do CDC - Nos contratos de


adesão admite-se cláusula resolutória, desde que alternativa, cabendo a escolha ao
consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

Admite-se, pois, uma condição resolutiva expressa, desde que esta não traga
uma desvantagem excessiva ao consumidor.

Redação do contrato - art. 54, § 3o, do CDC - Os contratos de adesão escritos


serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho
da fonte não será inferior ao corpo doze (12), de modo a facilitar sua compreensão pelo
consumidor.

O preceito está em sintonia com o art. 46 do CDC, que prevê a nulidade das
cláusulas ininteligíveis ou incompreensíveis. 93

OBSERVAÇÃO: No ano de 2017, o STJ, em um julgado da Terceira Turma, fez-se distinção


entre o contexto dos contratos de adesão e o contexto dos anúncios publicitários, para
entender que, neste, não há obrigatoriedade de se utilizar o tamanho mínimo 12 (doze)
da fonte.

“3. Existência de elementos de distinção entre o instrumento escrito dos contratos de


adesão e o contexto dos anúncios publicitários, que impedem a aplicação da analogia.
Doutrina sobre o tema.

4. Inaplicabilidade da norma do art. 54, § 3º, do CDC ao contexto dos anúncios, sem
prejuízo do controle da prática enganosa com base em outro fundamento”. (REsp
1602678/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 23/05/2017, DJe 31/05/2017).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Destaque das cláusulas limitativas – art. 54, § 4°, do CDC - As cláusulas que
implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque,
permitindo sua imediata e fácil compreensão.

Deve ficar claro que esse preceito não descaracteriza a eventual abusividade
de determinada cláusula, nos termos do art. 51 do CDC.

Contrato de Adesão x Contrato de Consumo – O conceito de contrato de


consumo é retirado da análise dos arts. 2o e 3o do CDC, que apontam os elementos da
relação jurídica de consumo. Por outra via, o contrato de adesão é aquele em que as
cláusulas contratuais são predispostas por uma das partes, de forma plena ou restrita,
restando à outra a opção de aceitá-las ou não.

2.1.3. DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

2.1.3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOS (LATO SENSU)

94
O art. 81 do Código de Defesa do Consumidor prevê:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e


das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a
título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar


de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos


deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para


efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível
de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim
entendidos os decorrentes de origem comum.

Perceba-se, do caput do art. 81, que a defesa do consumidor em juízo poderá


ser feita: a) individualmente; ou b) a título coletivo. A tutela individual será deduzida
em juízo pelo próprio titular do direito, daí tratar-se de situação de legitimação
ordinária; já a tutela coletiva dependerá da atuação de legitimados próprios (legitimação
extraordinária, em regra), que serão estudados quando da análise do art. 82 do CDC.

Quanto à classificação ternária dos direitos coletivos (considerados lato sensu),


temos:

a) Interesses ou direitos difusos – são aqueles que pertencem,


a um só tempo, a cada um e a todos que estão numa mesma
situação de fato (por isso transindividuais e de natureza
indivisível). 95

São os interesses ou direitos objetivamente indivisíveis, cujos titulares são


pessoas indeterminadas e indetermináveis, ligadas entre si por circunstâncias de fato.

Os traços característicos dessa categoria são a indivisibilidade e a


indeterminabilidade dos seus titulares (são indeterminados e indetermináveis), que
estão relacionados entre si por circunstâncias de fato.

A referida indivisibilidade confere à coisa julgada em ações coletivas sobre


direitos difusos efeitos erga omnes, no sentido de que a sentença que versar sobre tais
direitos emanará sua eficácia para além das partes do processo, beneficiando a todos os
que, mesmo não tendo composto um dos polos processuais, tiverem ameaçado ou
lesado o direito versado em juízo.

Exemplo: o direito de não ser exposto à publicidade enganosa, veiculada em


determinado meio de comunicação social.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
b) Interesses ou direitos coletivos (stricto sensu) – são aqueles
objetivamente indivisíveis, de que seja titular grupo, classe ou
categoria de pessoas, ligadas entre si ou com a parte contrária
por um vínculo jurídico base e, por tal razão, determináveis.

Observe-se que, assim como os direitos difusos, são indivisíveis, mas seus
titulares são determináveis, por integrarem determinado grupo, classe ou categoria de
pessoas. Note-se, ademais, que aqui as circunstâncias que unem os titulares são
jurídicas, e não de fato.

Seus traços característicos são a indivisibilidade e a determinabilidade dos


seus titulares, que integram determinado grupo, categoria ou classe de pessoas,
relacionadas entre si por uma relação jurídica base (que, segundo boa parte da
doutrina, pode ser uma relação jurídica entre si ou com a parte contrária).

A coisa julgada referente aos direitos coletivos stricto sensu, em razão de sua
indivisibilidade e determinabilidade de seus titulares, é ultra partes, ou seja, uma 96
sentença de procedência beneficiará todas as pessoas que estejam na mesma situação
jurídica base que fundamentou a sentença.

c) Interesses individuais homogêneos – a despeito da ausência


de definição legal (que se limita a informar que se tratam
daqueles “decorrentes de origem comum”), são essencialmente
direitos subjetivos individuais (e, portanto, divisíveis), cuja
defesa judicial é passível de ser feita coletivamente. Os titulares
são determináveis e têm em comum a origem do direito, cuja
defesa judicial pode ser feita coletivamente por razões de
conveniência, sem impedir a tutela individual.

Referidos direitos podem ser veiculados coletivamente e/ou individualmente,


se assim o preferir seu titular. Em razão disso, são essencialmente direitos divisíveis.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Os seus traços característicos, por conseguinte, são: a divisibilidade e a
determinabilidade dos titulares (são direitos individuais múltiplos enfeixados para uma
defesa coletiva), em razão de uma causa de origem comum.

Exemplo: pessoas sujeitas a fato de um produto ou serviço, como os moradores


que tiveram suas residências atingidas pela queda de uma aeronave.

ATENÇÃO! O STJ entende que essa homogeneidade, para estar presente, demanda um
número razoável de consumidores (o que será analisado no caso concreto, vez que não
foram fixados parâmetros quantitativos no julgado - REsp 823.063/PR, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 14/02/2012, DJe 22/02/2012).

Para melhor fixação das definições e diferenças entre cada modalidade,


visualizemos o seguinte quadro comparativo.

97
Difusos Coletivos Individuais
homogêneos

Objeto Indivisível. Indivisível. Divisível.


jurídico

Titulares Indeterminados e Determináveis Determináveis


indetermináveis (determinabilidade). (determinabilidade).
(indeterminabilidade).

Relação de Circunstâncias de Relação jurídica Origem comum.


origem fato. base.

OBSERVAÇÃO: As provas de concurso de magistratura, na disciplina de Direito do


Consumidor, não costumam cobrar conhecimentos além dos expostos acima. Há
variadas questões ou assertivas que cobram a literalidade da definição de cada espécie

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de direitos coletivos ou abordam determinado caso hipotético para enquadrá-lo na
modalidade correta.

CUIDADO: muitas alternativas se limitam a misturar as definições previstas legalmente.

Para finalizar o estudo do art. 81, é importante ter-se em mente que um mesmo
episódio ou contexto pode dar ensejo ao nascimento de interesses difusos, coletivos
stricto sensu e individuais homogêneos.

2.1.3.2. LEGITIMIDADE ATIVA PARA A TUTELA COLETIVA DO CONSUMIDOR

Os legitimados ativos estão elencados no art. 82 do CDC. Primeiramente, a


despeito do rol de legitimados do art. 82, o art. 90 do CDC preceitua que “aplicam-se às
ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei n. 7.347, de
24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não
98
contrariar suas disposições”.

Ou seja, assim como há dispositivo específico na LACP – art. 21 - indicando a


aplicação das normas do Título III do CDC (Da Defesa do Consumidor em Juízo) à defesa
em geral dos direitos coletivos, há norma no CDC prevendo a aplicação subsidiária da
LACP às ações que envolvam a defesa do consumidor. Trata-se da integração entre CDC
e LACP. Há importância em saber disso quando se compara o rol de legitimados de um
e outro diploma legal, haja vista que, embora extremamente parecidos, não são
idênticos.

No que tange à natureza da legitimidade, trata-se, em regra, de legitimação


extraordinária por substituição processual, eis que o legitimado atua em nome próprio
para a defesa de direito alheio e propõe a ação isoladamente, sem litisconsórcio com o
suposto titular do direito material que se quer tutelar. Essa é a posição mais aceita na
doutrina atual e na jurisprudência.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: Há, porém, uma situação excepcional envolvendo as associações, já que
não são substitutas processuais. Veremos com calma a seguir.

O caput do art. 82 faz referência aos legitimados concorrentemente. Daí a


doutrina aponta as características da legitimidade ativa, em especial:

a) Exclusividade – os legitimados ativos são apenas aqueles


previstos expressamente pela lei.

b) Concorrente – há uma concomitância de legitimados ativos, e


a atuação de um não exclui a dos demais.

c) Disjuntiva – cada colegitimado pode agir sozinho, caso queira.


O litisconsórcio com qualquer outro colegitimado é facultativo
(como permite a LACP), não sendo necessário o ajuizamento
conjunto.
99
OBSERVAÇÃO: A LACP prevê, em seu art. 5o, par. 2o, a possibilidade de litisconsórcio,
nos seguintes termos: “Fica facultado ao Poder Público e a outras associações
legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das
partes”.

Trata-se de hipótese de litisconsórcio facultativo.

2.1.3.2.1. O Ministério Público

Trata-se do primeiro legitimado previsto legalmente (há igual previsão no art.


5o, I, da LACP).

Não se exige do Ministério Público pertinência temática, ou seja, não há


exigência de que só possa defender direitos difusos, coletivos ou individuais

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
homogêneos relacionados a um determinado tema; está autorizado à defesa de direitos
transindividuais de qualquer temática, incluída a consumerista.

OBSERVAÇÃO: No que tange à legitimidade do MP para tutelar, em ação coletiva,


direitos individuais homogêneos, apesar de alguns questionamentos doutrinários, o STJ
firmou o entendimento de que o MP tem legitimidade para propor ACP e ação coletiva
com o propósito de velar por direitos difusos e, também, direitos individuais dos
consumidores, ainda que disponíveis.

Nesse sentido:

Novidade 2018 – Súmula 601 do STJ. O Ministério Público tem legitimidade ativa para
atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos
consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

Novidade 2018 – Corte Especial – Info 629 STJ.

O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos
transindividuais de consumidores que celebram contratos de compra e venda de
100
imóveis com cláusulas pretensamente abusivas.

(...)

Daí porque se firmou a compreensão de que, para haver legitimidade ativa do Ministério
Público para a defesa de direitos transindividuais não é preciso que se trate de direitos
indisponíveis, havendo de se verificar, isso sim, se há "interesse social" (expressão
contida no art. 127 da Constituição) capaz de autorizar a legitimidade do Ministério
Público.

(EREsp 1.378.938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, por unanimidade, julgado em


20/06/2018, DJe 27/06/2018).

OBSERVAÇÃO: Antes da edição da Súmula 601, havia alguns julgados do STJ que não
reconheciam a legitimidade ativa do Ministério Público para pleitear em nome de
interesses – especialmente individuais homogêneos – de consumidores. Todavia, a
questão vem se pacificando a partir da edição do mencionado verbete. Prova disso é o
julgado acima, em sede de Embargos de Divergência na Corte Especial. Na origem, a 4 a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Turma do STJ não havia reconhecido a legitimidade ativa do MP, o que foi revertido em
sede de EREsp.

Em sequência, algumas situações específicas que envolvem relações de


consumo:

- Súmula 643 do STF: O Ministério Público tem legitimidade para


promover ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade
de reajuste de mensalidades escolares.

- O Ministério Público é parte legítima para figurar no polo ativo


de ação civil pública e de ações coletivas contra operadoras de
planos de saúde para questionar cláusulas contratuais tidas por
abusivas, seja em face da indisponibilidade do direito à saúde,
seja em decorrência da relevância da proteção e do alcance
social (REsp 1554448/PE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE 101
NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2016, DJe
26/02/2016).

2.1.3.2.2. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal

Os entes da Administração Direta não precisam demonstrar pertinência


temática, de modo que eles não estão limitados à defesa, em ação coletiva, de um
determinado tema.

É preciso atentar apenas para os limites territoriais do ente envolvido, a fim de


que esteja presente o interesse processual. Por exemplo, não se vislumbra legitimidade
ativa de um Município X para ajuizar uma ação que visa a beneficiar apenas
consumidores residentes em um Município Y.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ATENÇÃO! Novidade 2018 – Informativo 626 STJ. Município tem legitimidade ad
causam para ajuizar Ação Civil Pública em defesa de direitos consumeristas
questionando a cobrança de tarifas bancárias.

“Trata-se, em verdade, de dever-poder, decorrente da supremacia do interesse público


sobre o privado e da indisponibilidade do interesse público, a impor aos entes políticos
o dever de agir na defesa de interesses metaindividuais, por serem seus poderes
irrenunciáveis e destinados à satisfação dos interesses públicos. Ademais, (...) não se
questiona sua pertinência temática ou representatividade adequada, por serem
presumidas.

(...) no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos


dos consumidores, o Município é o ente político que terá maior contato com as
eventuais lesões cometidas contra esses interesses, pois, conforme afirma a doutrina,
"será no Município que esses fatos ensejadores da ação civil pública se farão sentir com
maior intensidade [...] em face da proximidade, da imediatidade entre ele e seus
munícipes” )REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em
15/05/2018, DJe 18/05/2018).
102

2.1.3.2.3. As entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda


que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos pelo CDC

Ao contrário dos entes federativos, os entes da Administração Indireta


(autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas)
precisam demonstrar pertinência temática, ou seja, deverão demonstrar um interesse
direto, relacionado às suas finalidades (até porque o princípio da especialidade rege
essas entidades, conforme art. 37, XIX e XX, da Constituição Federal).

Observe-se que o dispositivo legal menciona expressamente a possível


legitimidade ativa de entes despersonalizados especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos consumeristas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Em razão disso, admite-se que órgãos de defesa do consumidor
despersonalizados – como os PROCONs – manejem ações coletivas em prol de direitos
dos consumidores.

2.1.3.2.4. A Defensoria Pública

A legitimidade ativa da Defensoria Pública não está prevista expressamente no


CDC (assim como não estava, até o advento da Lei n. 11.448/2007, na LACP). Boa parte
da doutrina e da jurisprudência, todavia, já a admitia como parte legítima em razão da
previsão do inciso III do art. 82 do CDC.

Atualmente, há previsão expressa na LACP (art. 5o, II), conferindo legitimidade


ativa à Defensoria Pública para o manejo de ACP (lembrando-se que o art. 90 do CDC
permite a aplicação subsidiária da LACP às ações coletivas de consumo).

Vale mencionar que o STF sedimentou tal legitimidade (reconheceu sua


constitucionalidade) ao julgar a famosa ADI 3943, que objetivava a declaração de
103
inconstitucionalidade do inciso II do art. 5º da Lei 7.347/85 (com a redação dada pela
Lei 11.448/2007).

A doutrina majoritária entende que também não se exige demonstração de


pertinência temática por parte da Defensoria Pública. Destaque-se que há, todavia,
uma limitação constitucional e legal à sua atuação, qual seja: a defesa dos necessitados.

Cumpre, então, saber qual o atual significado do termo “necessitados”, a fim


de legitimar a atuação defensorial. Mais especificamente, há de se saber se alcança
apenas os necessitados financeiramente (ou seja, os hipossuficientes de recursos
financeiros), ou se o termo abrange outros tipos de necessidade.

Após uma posição inicial restritiva, recentemente o STJ, por sua Corte Especial,
reinterpretou o conceito de “necessitados”, não o limitando aos carentes de recursos
econômicos, mas estendendo-o aos juridicamente necessitados (ou
“hipervulneráveis”), isto é, os socialmente estigmatizados ou excluídos, as crianças, os
idosos, as gerações futuras. No caso concreto, admitiu a legitimidade da Defensoria para
“promover ação civil pública em defesa de interesses individuais homogêneos de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
consumidores idosos que tiveram plano de saúde reajustado em razão da mudança de
faixa etária, ainda que os titulares não sejam carentes de recursos econômicos” (EREsp
1.192.577/RS, Corte Especial, rel. Min. Laurita Vaz, j. 21.10.2015, DJe 13.11.2015).

Esse julgado é emblemático e muito cobrado atualmente. Deve ser essa,


portanto, a posição a ser adotada em provas de concursos públicos que cobrem o
posicionamento da Corte Cidadã.

2.1.3.2.5. As associações

A legitimidade ativa das associações é a que demanda maiores requisitos e


cuidados. Diz-se que, para ter legitimidade, a associação precisa demonstrar sua
representatividade adequada, através dos seguintes requisitos:

a) Constituição na forma da lei (“legalmente constituídas”) –


104
trata-se de requisito formal, para que sejam atendidas as
prescrições legais quanto à criação e ao funcionamento de uma
associação, em especial o previsto no Código Civil (arts. 45 e
seguintes).

b) Pré-constituição – trata-se de requisito temporal, de que a


associação esteja constituída há pelo menos um ano.

Não se trata, porém, de requisito absoluto: há exceções


previstas legalmente em que o julgador pode dispensar esse
requisito, quando houver: (i) manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou (ii) pela
relevância do bem jurídico a ser protegido (LACP, art. 5º, par. 4º;
CDC, art. 82, par. 1º).

Observe-se que compete a análise da dispensa ou não do requisito temporal


ao magistrado atuante no caso específico (a dispensa, portanto, não é automática, e sim

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ope judicis). Ademais, pode ser fundamentada em duas situações alternativas:

i) o manifesto interesse social (cujos parâmetros são a dimensão


ou a característica do dano); ou

ii) a relevância do bem jurídico a ser protegido.

Exemplo de dispensa do requisito temporal pode se conferir no famoso


julgamento da “ACP do Glúten” (REsp 1.600.172/GO), por se entender ser “fundamental
assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor celíaco, que está
adstrito à dieta isenta de glúten, sob pena de graves riscos à saúde, o que, em última
análise, tangencia a garantia de uma vida digna”.

c) Pertinência temática, objetiva ou finalística (também


denominada de nexo de finalidade) – a defesa dos interesses a
105
serem tutelados deve estar entre os fins institucionais da
associação ou ser compatível com as finalidades estatutárias da
associação. No que nos interessa, deve incluir entre suas
finalidades institucionais a proteção ao consumidor.

A finalidade, porém, não precisa ser dotada de alto nível de especificidade,


bastando que tenha um nexo compatível entre os fins institucionais e o objeto da ação
coletiva (mas não pode ser muito genérica, que englobaria a defesa de qualquer direito).

Nesse sentido, o STJ não reconheceu legitimidade ativa a associação cujo


“estatuto da associação, ora recorrente, é desmesuradamente genérico, possuindo
‘referência genérica a tudo: meio ambiente, consumidor, patrimônio histórico, e é uma
repetição do teor do art. 5º, inciso II, da Lei 7.347/85’”. Para a Corte Cidadã, “as
associações civis necessitam ter finalidades institucionais compatíveis com a defesa
do interesse transindividual que pretendam tutelar em juízo. Embora essa finalidade
possa ser razoavelmente genérica, ‘não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob pena

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse,
o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado’.
(REsp 1213614/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
01/10/2015, DJe 26/10/2015).

NOVIDADE 2018 (Informativo 618 STJ): associação com fins específicos de


proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ACP com a
finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT (REsp
1.091.756/MG, Segunda Seção, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, j. em 13/12/2017).

OBSERVAÇÃO: Segundo o STJ, a representatividade adequada de uma associação pode


ser verificada de ofício pelo magistrado, a fim de decidir se possui ou não legitimidade
ativa para propor ação coletiva:

“Com efeito, contanto que não seja exercido de modo a ferir a necessária imparcialidade
inerente à magistratura, e sem que decorra de análise eminentemente subjetiva do juiz,
ou mesmo de óbice meramente procedimental, é plenamente possível que, 106
excepcionalmente, de modo devidamente fundamentado, o magistrado exerça,
mesmo que de ofício, o controle de idoneidade (adequação da representatividade)
para aferir/afastar a legitimação ad causam de associação. (REsp 1213614/RJ, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2015, DJe
26/10/2015).

ATENÇÃO! Questão que merece especial atenção é a relativa à necessidade de


autorização dos associados para que a associação ingresse em juízo na defesa dos seus
direitos.

O CDC, na parte final do inciso IV do art. 82, prevê que para a associação atuar
como legitimada ativa está “dispensada a autorização assemblear”. Poder-se-ia, em
princípio, acreditar que referida previsão legal dispensaria as associações de autorização
dos seus associados (em verdadeira substituição processual). Mas não é nesse sentido
que a jurisprudência dos Tribunais Superiores se firmou.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A diferenciação parte da própria previsão constitucional sobre as associações,
nos seguintes termos: “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente” (art. 5o,
XXI, da CF/88).

A partir dessa previsão, é amplamente majoritário na jurisprudência o


entendimento de que as associações são representantes, e não substitutas processuais,
dos seus associados, exigindo-se autorização expressa dos associados para que estejam
legitimadas a agir.

STF: RE 573.232/SC (Informativo 746 - Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2014,


REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014).
Decidiu que a autorização estatutária genérica concedida à associação não é suficiente
para legitimar sua atuação em juízo na defesa de interesses de seus filiados, sendo
necessário que os associados a autorizem de forma expressa e específica, seja através
de:

107
- declaração individual; ou

- aprovação na assembleia geral da entidade.

Exceção: O mesmo STF considera que a legitimação das associações para


impetrar Mandado de Segurança Coletivo é extraordinária, vez que o inciso LXX do art.
5º da CF/88 não exige autorização dos associados.

A partir do julgado da Suprema Corte, em sede de Repercussão Geral, o STJ


passou a seguir o mesmo entendimento (ex vi REsp 1.165.040/GO, REsp 1.374.678/RJ).
Desse modo, frente à premissa estabelecida pelo STF, o STJ curvou-se a tal
entendimento e já decidiu, por exemplo:

- Associação não tem legitimidade para defender os interesses


dos associados que vierem a se agregar somente após o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ajuizamento da ação de conhecimento – REsp 1.468.734/SP, Rel.
Ministro Humberto Martins, T2, j. em 1o/03/2016;

- O servidor não filiado não detém legitimidade para executar


individualmente a sentença de procedência oriunda de ação
coletiva proposta por associação de servidores (exceto se a
sentença coletiva favorável for proferida em sede de Mandado
de Segurança Coletivo, pelas razões acima explicitadas) – REsp
1.374.678/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, T4, j. em
23/06/2015.

No mesmo passo, a recente decisão do STF:

- Beneficiários do título executivo, no caso de ação proposta por


associação, são aqueles que, residentes na área compreendida
na jurisdição do órgão julgador, detinham, antes do 108
ajuizamento, a condição de filiados e constaram da lista
apresentada com a peça inicial (RE 612.043/PR, Rel. Ministro
Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. em 10/05/2017).

OBSERVAÇÃO: Em caso de dissolução da associação que propôs a ação coletiva, há


possibilidade da sua substituição por outra associação no polo ativo?

Não, mesmo que os interesses discutidos na ação sejam comuns às finalidades de


ambas.

A recusa é fundamentada justamente no fato de as associações serem representantes


de seus associados e necessitarem de autorização específica para agir em nome deles
(art. 5o, XXI, da CF), conforme estudado acima.

Esse foi o entendimento do STJ no julgamento do REsp 1.405.697/MG:

“4. Reconhece-se, pois, a absoluta impossibilidade, e mesmo incompatibilidade, de


outra associação assumir o polo ativo de ação civil pública promovida por ente

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
associativo que, no curso da ação, veio a se dissolver (no caso, inclusive, por
deliberação de seus próprios associados). Sob o aspecto da representação, afigura-se,
pois, inconciliável a situação jurídica dos então representados pela associação
dissolvida com a dos associados do "novo ente associativo", ainda que, em tese, os
interesses discutidos na ação coletiva sejam comuns aos dois grupos de pessoas.

(REsp 1405697/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,


julgado em 17/09/2015, DJe 08/10/2015).

* Não seria aplicável o par. 3o do art. 5o da LACP, que prevê, em caso de desistência
infundada ou abandono da ação pela associação legitimada, a assunção da legitimidade
ativa pelo Ministério Publico ou outro legitimado?

Referida possibilidade legal não inclui as associações. Assim, os demais colegitimados


legais poderiam assumir o polo ativo da ação, com exceção das associações.

2.1.3.3. TUTELA ESPECÍFICA E REGRAS PROCEDIMENTAIS


109
Estão previstas nos arts. 83 e 84 do CDC.

O art. 83 não oferece maiores dificuldades e deixa claro que, para a defesa dos
direitos do consumidor – seja no plano individual ou no coletivo -, são cabíveis todas as
espécies de ação para a efetiva tutela dos seus direitos, sejam de conhecimento –
declaratórias, constitutivas, condenatórias, mandamentais, executivas etc., previstas ou
não no CDC. Para a doutrina, referido dispositivo consagra o princípio da atipicidade
das ações coletivas (ou seja, pode se fazer uso de quaisquer tipos de ações, previstas
em diplomas legais diversos, desde que preenchidos seus requisitos próprios).

Ademais, as tutelas de urgência são plenamente cabíveis, seja de natureza


acautelatória, seja de caráter satisfativo.

Passa-se então à análise do art. 84 do CDC, este sim alvo de muitas questões e
assertivas em provas de concursos públicos de magistratura, em sua maior parte,
cobrando a literalidade de suas disposições.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O art. 84 diz respeito às ações de obrigação de fazer e não fazer, tratando dos
meios à disposição para se obter a tutela específica da obrigação ou que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento.

O CDC acolheu, como regra, a tutela específica, consubstanciada na entrega


exata do que é pleiteado ou na concessão de um resultado prático equivalente. Ou seja,
se a tutela específica não puder ser materialmente cumprida, a regra é a adoção de
providências que assegurem um resultado prático equivalente ao adimplemento, razão
pela qual o magistrado é dotado de uma série de medidas executivas, como
exemplificadas no par. 5o: busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas,
desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, requisição de força policial etc.

A doutrina é tranquila em considerar o rol do par. 5o meramente


exemplificativo, sendo admitidas outras medidas que assegurem o mesmo fim.

OBSERVAÇÃO: A conversão em perdas e danos é medida excepcional, cabível somente


em duas hipóteses (par. 1o): 110
- se o consumidor/autor optar pela conversão; ou

- se forem impossíveis a tutela específica ou a obtenção de resultado prático


correspondente.

A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (par. 2 o). Ou seja, o
pagamento de perdas e danos não exime o infrator do pagamento de multa nem vice-
versa.

O par. 3o do art. 84 prevê os requisitos para a concessão de antecipação de


tutela, liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. Embora sejam
essencialmente similares aos requisitos previstos no CPC, é preciso atentar para a
redação específica do CDC: a) sendo relevante o fundamento da demanda; e b) havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final. Tratam-se de requisitos
cumulativos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.1.3.3.1. A multa (astreinte)

O primeiro ponto a ser comentado é que, embora o par. 4o do art. 84 faça


expressa referência à multa diária, a doutrina em geral entende ser possível que seja
fixada em outra periodicidade (mensal, semestral, anual, por hora etc.). Admite-se,
inclusive, que incida a cada descumprimento; por exemplo, no caso de publicidade
enganosa ou abusiva, a incidência de multa a cada nova veiculação.

Uma das abordagens mais frequentes com relação à multa é quanto à previsão
de que pode ser imposta independentemente de pedido do autor. Ou seja, o
magistrado pode fixá-la inclusive de ofício. São variadas as questões e alternativas –
incorretas – que atrelam a imposição de multa à necessidade de formulação de pedido
pela parte autora.

O juiz poderá, de ofício, não somente fixar a multa, mas majorá-la, reduzi-la,
excluí-la, alterar sua periodicidade etc., tudo de forma que seja suficiente para sua
finalidade coercitiva, em parâmetros razoáveis. 111
A multa, por possuir função coercitiva (e não reparatória), é cumulável com
eventual indenização por perdas e danos (art. 84, par. 2o).

O credor da multa, por sua vez, é(são) o(s) consumidor(es) credor(es) da


obrigação principal, e não o Poder Público.

2.1.3.3.2. Outras regras procedimentais

No que tange às despesas processuais em geral, o art. 87 estabeleceu dois


sistemas distintos:

- Quanto ao adiantamento de despesas processuais → todos os


legitimados estão dispensados do adiantamento;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
- Quanto à condenação da parte autora nos ônus da
sucumbência → o CDC faz menção expressa apenas à associação
autora.

A condenação da associação autora nos ônus da sucumbência ocorre apenas


nos casos em que haja comprovação de má-fé processual. A contrario sensu, não
havendo litigância de má-fé, não haverá condenação da associação autora.

E o parágrafo único estabelece mais duas regras importantes:

a) em caso de litigância de má-fé e de consequente condenação


nos ônus da sucumbência, a associação e seus diretores
responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente
condenados;

b) há uma penalidade prevista equivalente ao décuplo (10x) do


valor das custas.
112

OBSERVAÇÃO: A responsabilidade solidária não é de todos os diretores da entidade;


está limitada àqueles responsáveis pela propositura da ação.

Como a condenação em sucumbência é prevista apenas para o caso em que a


associação autora é litigante de má-fé, há uma discussão doutrinária sobre se o mesmo
se aplicaria ou não aos demais legitimados previstos no rol do art. 82 do CDC, havendo
quem entenda que sim e quem negue essa extensão. Essa controvérsia, porém, não
costuma ser objeto de cobrança em provas de concurso. O mais provável é que seja
cobrada a literalidade do dispositivo.

O art. 88, a seu turno, regulamenta o direito de regresso previsto no parágrafo


único do art. 13, este ao prever que aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua
participação no evento danoso.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O direito de regresso pode ser exercido, processualmente: a) nos mesmos
autos; b) em processo autônomo. Cabe ao interessado optar pelo meio que lhe seja
mais conveniente.

ATENÇÃO! Diante da previsão do direito de regresso, pode-se questionar: é cabível a


denunciação da lide (por exemplo: comerciante, acionado judicialmente pelo
consumidor, denuncia à lide o fabricante)?

NÃO!

O art. 88 do CDC veda a denunciação da lide expressamente.

** Sabe-se que o art. 13 do CDC refere-se à responsabilidade pelo fato do produto (“o
comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior”).

E quanto ao fato do serviço, é vedada igualmente a denunciação da lide (embora não


haja menção expressa no art. 88)?

Após divergência inicial entre as 3a e 4a Turmas do STJ, entrou-se num consenso (a 3a


113
Turma reviu seu posicionamento e se alinhou ao da 4a Turma), em que prevaleceu a
posição extensiva de que a vedação se aplica também à responsabilidade pelo fato do
serviço. (REsp 1165279, T3, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sansevrino, DJe 28/05/2012).

2.1.3.4. AÇÕES COLETIVAS PARA A DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS

O art. 91 do CDC prevê:

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor,


em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores,
ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos
individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos
seguintes.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Todo o Capítulo (inaugurado pelo art. 91 e até o art. 100) refere-se às ações
coletivas para a tutela de direitos individuais homogêneos.

A ação coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos é


uma faculdade, e não uma imposição.

Para a ação coletiva somente estão legitimados aqueles previstos no rol do


art. 82 do CDC (o particular, a vítima dos danos e seus sucessores não podem manejar
ação coletiva, embora possam ingressar individualmente em juízo).

Para o STF, trata-se de legitimidade extraordinária (substituição processual),


pois os legitimados defendem, em nome próprio, direito alheio (interesses das vítimas
ou de seus sucessores), com as ressalvas feitas com relação à legitimidade das
associações.

Vamos ao art. 92 do CDC:

114
Art. 92. O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará
sempre como fiscal da lei.

Esse dispositivo não oferece maiores dificuldades: há obrigatoriedade de


atuação do Ministério Público, sob pena de nulidade dos atos praticados.

Para o STJ (e conforme se apreende da redação legal), quando o parquet atuar


como parte, será desnecessária sua intervenção como fiscal da ordem jurídica.

O art. 93 trata da competência territorial:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é


competente para a causa a justiça local:

I – no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano,


quando de âmbito local;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para
os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras
do Código de Processo Civil aos casos de competência
concorrente.

Observe-se que a definição da competência territorial é feita a partir da


dimensão/âmbito do dano.

Quando o dano ou risco de dano limitar-se ao território de determinado foro,


será de âmbito local. Neste caso, a competência será de juízos (varas) do respectivo
foro. Uma parte da doutrina entende que, caso o dano ou risco abranja poucas
localidades, ainda que em dois estados diferentes (por exemplo, um dano que atinja
duas comarcas vizinhas), continuará sendo de âmbito local e a competência será de
juízos de qualquer um dos foros atingidos ou ameaçados. Essa situação, porém, não tem
previsão legal, mas vem sendo discutida doutrinariamente.

Já se o dano ou ameaça apresenta-se sobre várias comarcas/foros de um 115


mesmo Estado, será de âmbito regional. Tendo em vista que o dano ou risco se
circunscreve ao território de tal Estado, a competência será de um dos juízos da sua
Capital.

Por fim, o dano ou ameaça de dano de âmbito nacional será aquele que
abranger diversas localidades/comarcas em mais de um Estado da Federação. Há quem
defenda que, além da abrangência, o dano ou ameaça deve ter impacto relevante para
o País. Nesse caso, haveria competência territorial concorrente entre o foro das Capitais
dos Estados envolvidos ou do Distrito Federal.

Essa é uma sistematização para explicar o dispositivo legal, que diz menos do
que deveria:

Classificação do dano Foro competente

- Local: um único ou poucos foros. Juízo do foro atingido (onde ocorreu ou


deveria ocorrer o dano).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBS: para parcela da doutrina, pode ser
inclusive em Estados vizinhos.

- Regional: diversos foros de um Estado. Juízo do foro da capital do Estado

OBS: para parcela da doutrina, pode ser atingido ou do DF, se este estiver

de mais de um Estado. envolvido/atingido.

- Nacional: mais de um Estado com Juízo do foro das capitais de quaisquer


impacto relevante. dos Estados e do DF (a competência
territorial é concorrente).

Atente-se que o dispositivo ressalva a competência da Justiça Federal. Assim,


presente uma das situações do art. 109 da CF/88 (em especial o inciso I), a competência
seguirá o ali previsto.

Passa-se ao art. 94 do CDC:


116
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial,
a fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Como explicado acima, os consumidores, vítimas de consumo e eventuais


sucessores não estão legitimados a ingressarem com ação coletiva de responsabilidade
pelos danos individualmente sofridos (conforme comentários ao art. 91); a legitimidade
ativa compete aos entes previstos no art. 82 do CDC. Podem, por outro lado, intervir no
processo.

A fim de propiciar tal intervenção, deve ser publicado edital no órgão oficial,
havendo estímulo legal para que a divulgação seja a mais ampla possível.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
De acordo com a previsão literal do CDC, trata-se de litisconsórcio ulterior.
Parte da doutrina entende que a hipótese mais se aproxima de uma assistência
litisconsorcial. De todo modo, para provas de concurso, o melhor é considerar a
literalidade do CDC (a menos que a questão faça expressa referência à posição da
doutrina).

Para o STJ, não há nulidade no caso de não ser publicado o edital previsto no
art. 94 (REsp 205.481/MG, DJ 01/08/2005).

Os arts. 95 a 98 do CDC tratam da sentença de procedência do pedido na ação


coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos e sobre a posterior
liquidação:

Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será


genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos
causados.

Art. 96. (Vetado). 117


Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser
promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos
legitimados de que trata o art. 82.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos


legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas
indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação,
sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação
dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das


sentenças de liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou
não do trânsito em julgado.

§ 2° É competente para a execução o juízo:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso
de execução individual;

II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

No caso da sentença de procedência de ação coletiva para a tutela de direitos


individuais homogêneos, será condenatória genérica, vez que não há individualização
do montante devido nem das vítimas a serem ressarcidas. Tais fatores serão apurados
em liquidação de sentença.

São incorretas, desse modo, questões e alternativas que afirmem que a


sentença será certa e específica para cada vítima ou sucessor.

A sentença, assim, limita-se a reconhecer a responsabilidade do réu pelos


danos causados. A verificação da situação de cada uma das vítimas (inclusive se são
vítimas dos fatos/eventos) ocorrerá durante a liquidação. Ou seja, a liquidação não
servirá apenas para quantificar os danos, mas igualmente para reconhecer os titulares
do direito a indenização. 118

OBSERVAÇÃO: A liquidação dessas sentenças coletivas no caso de direitos individuais


homogêneos é denominada por Dinamarco de liquidação imprópria, uma vez que a
sentença condenatória não identifica cada uma das vítimas do evento, que, portanto,
precisam comprovar não apenas o quantum debeatur, mas igualmente a condição de
vítima do evento reconhecido na sentença (titularidade do crédito). Ou seja, o título é
subjetivamente ilíquido.

Por se tratar de condenação genérica, não se exige, na propositura da ação


coletiva, a descrição exaustiva das situações de todos os envolvidos, bastando que haja
a narrativa da origem do fato e dos danos causados, ainda que de forma exemplificativa.
É esse o entendimento do STJ:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
“em ações coletivas, é suficiente para a caracterização do
interesse de agir a descrição exemplificativa de situações
litigiosas de origem comum (art. 81, III, do CDC), que precisam
ser solucionadas por decisão judicial” (REsp 1395875/PE, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
20/02/2014, DJe 07/03/2014).

Para a Corte Cidadã, há um procedimento bifásico:

- Num primeiro momento, caracterizado pela limitação da


cognição às questões fáticas e jurídicas comuns às situações dos
envolvidos;

- Apenas posteriormente, em caso de procedência do pedido, é


que a atividade cognitiva é integrada pela identificação das
posições individuais de cada um dos substituídos. 119

Diferentemente da ação de conhecimento coletiva (que só pode ser proposta


pelos legitimados ativos do art. 82 do CDC), as respectivas liquidação e execução podem
ser realizadas: a) pelos legitimados coletivos do art. 82; b) pela vítima e seus
sucessores. Ou seja, pode se ter liquidação e execução individual.

Para a execução individual (vítima e sucessores), deve haver a prévia liquidação


individual.

No que tange à execução coletiva, serão por ela abrangidas aquelas situações
individuais que já tiverem sido fixadas as respectivas liquidações. O manejo da execução
coletiva para as liquidações individuais já realizadas até então não impede outras
execuções posteriores (ou anteriores).

O parágrafo único do art. 98 estabelece a competência territorial para a


execução individual e para a coletiva:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Execução individual Execução coletiva

Foros concorrentes: Foro único:

- da liquidação da sentença; - da ação condenatória.

- da ação condenatória.

Para a execução individual, o foro da “liquidação da sentença” pode ser o do


seu domicílio (vítima ou sucessores), em aplicação analógica do art. 101, I, do CDC, que
prevê que a ação de responsabilidade civil do fornecedor pode ser proposta no
domicílio do autor. Não faria sentido, não fosse essa possibilidade, diferenciar os foros
concorrentes para a execução individual entre o da liquidação da sentença e o da ação
de conhecimento.

No mesmo passo, já entendeu o STJ, na sistemática dos recursos repetitivos:

120
“a liquidação e a execução individual de sentença genérica
proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do
domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da
sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos
limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em
conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos
interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474,
CPC e 93 e 103, CDC)” - REsp 1243887/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/10/2011, DJe
12/12/2011.

STJ: se a sentença foi proferida em ACP promovida por associação em prol de


interesses individuais homogêneos da categoria por ela representada, as vítimas que
não sejam filiadas à associação não têm legitimidade para promover a liquidação e
execução do título (REsp 1.374.678/RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23.06.2015, DJe
04.08.2015).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A fim de finalizar o Capítulo II (“Das ações coletivas para a defesa de interesses
individuais homogêneos”), precisamos estudar os arts. 99 e 100 do CDC:

Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de


condenação prevista na Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 e de
indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do mesmo
evento danoso, estas terão preferência no pagamento.

Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a


destinação da importância recolhida ao fundo criado pela Lei n.
7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto
pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização
pelos danos individuais, salvo na hipótese de o patrimônio do
devedor ser manifestamente suficiente para responder pela
integralidade das dívidas.

121
Apesar da redação um pouco obscura, o dispositivo trata de concurso de
créditos, estabelecendo a prioridade de pagamento quando se tem, de um lado, um
mesmo devedor/condenado, e, de outro, múltiplos direitos a serem ressarcidos
(difusos, coletivos e individuais homogêneos, por exemplo). O que o artigo estabelece é
a preferência de pagamento das indenizações individuais (ou seja, os danos de sujeitos
individualmente determináveis – direitos individuais homogêneos).

No que tange aos direitos difusos e coletivos (que são expressamente previstos
na LACP), havendo condenação em dinheiro (por exemplo, dano moral coletivo), a regra
é a destinação do valor a um fundo (Fundo de Direitos Difusos – FDD), cujos recursos
têm destinação vinculada à reconstituição dos bens lesados (art. 13 da LACP).

O parágrafo único explicita que, com relação a um mesmo devedor, já havendo


uma condenação referente à proteção de direitos difusos ou coletivos (stricto sensu) e
existindo ações em curso visando a tutela de interesses individuais homogêneos,
pendentes de recurso, o recolhimento de valor ao fundo ficará sobrestado, até a
resolução das demandas que tutelem direitos individualizados (de modo a assegurar,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
assim, a preferência estabelecida no caput do art. 99). A exceção ao sobrestamento é o
caso de o patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para responder pela
integralidade das dívidas.

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de


interessados em número compatível com a gravidade do dano,
poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e
execução da indenização devida.

Parágrafo único. O produto da indenização reverterá para o


fundo criado pela Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985.

Para melhor compreensão do mecanismo previsto no art. 100 é preciso ter em


mente o seguinte: as ações coletivas para a defesa de interesses individuais
homogêneos são propostas por um legitimado coletivo em prol, em tese, de todas as
vítimas/sucessores do evento danoso. A sentença condenatória genérica, em princípio, 122
abarca toda essa universalidade de pessoas (desde que comprovem a titularidade do
direito na fase de liquidação e a extensão do dano sofrido).

Pode ocorrer, porém, de nem todas as vítimas reais do evento se interessarem


em promover as competentes liquidação e execução individual, especialmente se o
valor individual de cada indenização não for atrativo financeiramente (mas, em volume,
for significativo).

Nessas situações, quando a totalidade de créditos individuais não chega a ser


executada (dentro do prazo de 01 ano), faculta-se a execução do resíduo (ou seja, a
diferença entre o valor do prejuízo total causado e as quantias individualmente
executadas por cada vítima/sucessor habilitado) aos legitimados coletivos do art. 82 do
CDC.

Ocorre que esse valor residual executado não reverte diretamente para as
vítimas do evento, e sim para o fundo criado pela LACP (no seu art. 13 e acima
mencionado) – Fundo de Direitos Difusos, cuja finalidade é a reconstituição dos bens
lesados (de forma difusa ou coletiva). A essa forma de reparação/execução a doutrina

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
atribuiu o nome de fluid recovery, haja vista que o benefício às vítimas determináveis
ocorrerá apenas de forma indireta, difusa, fluida.

2.1.3.5. AÇÕES DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS

O Capitulo III do Título III (“Da Defesa do Consumidor em Juízo) traz,


adicionalmente ao já estudado nesta Rodada, algumas normas aplicáveis às ações em
geral de responsabilidade do fornecedor, individuais ou coletivas.

Os arts. 101 e 102 do CDC preveem:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de


produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II
deste título, serão observadas as seguintes normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor; 123


II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade
poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração
do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta
hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará
o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu
houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar
a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em
caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização
diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide
ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio
obrigatório com este.

Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código poderão


propor ação visando compelir o Poder Público competente a
proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação
distribuição ou venda, ou a determinar a alteração na

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento de
produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou
perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.

A primeira e mais importante norma é a previsão de que o consumidor pode


optar pelo foro de seu domicílio (art. 101, I). Trata-se de uma faculdade/opção, e não
imposição. Nada obsta, por exemplo, que o consumidor abra mão dessa prerrogativa e
opte por foro de eleição previsto contratualmente, conforme sua conveniência.

O STJ também já entendeu desse modo: “Se a autoria do feito pertence ao


consumidor, contudo, permite-se a escolha do foro de eleição contratual, considerando
que a norma protetiva, erigida em seu benefício, não o obriga quando puder deduzir
sem prejuízo a defesa dos seus interesses fora do seu domicílio” (CC 107.441/SP, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/06/2011, DJe
01/08/2011).

STJ: “O magistrado pode, de ofício, declinar de sua competência para o juízo 124
do domicílio do consumidor, porquanto a Jurisprudência do STJ reconheceu que o
critério determinativo da competência nas ações derivadas de relações de consumo é
de ordem pública, caracterizando-se como regra de competência absoluta” (REsp
1032876/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em
18/12/2008, DJe 09/02/2009).

A segunda norma (art. 101, II) prevê a possibilidade de chamamento ao


processo da seguradora do réu/fornecedor (não é caso de denunciação da lide), a fim
de propiciar a sua condenação solidária. Trata-se, portanto, de uma situação de
intervenção de terceiros expressamente autorizada pelo CDC.

No caso de falência do réu e havendo seguro de responsabilidade, ao


consumidor é facultada a propositura da ação diretamente contra o segurador, vedada
a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil. Perceba-se que o CDC
permite a ação direta contra a seguradora apenas na hipótese de o réu ter falido.

O STJ, porém, pareceu elastecer essa possibilidade ao editar a Súmula 529:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
“No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o
ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e
exclusivamente em face da seguradora do apontado causador
do dano”.

Ou seja, a propositura direta é possível, desde que em litisconsórcio com o


causador do dano.

O art. 102 prevê uma forma de tutela essencialmente preventiva (de cunho
inibitório), visando compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o território
nacional, a produção, divulgação, distribuição ou venda de produto caso o uso ou
consumo regular se revelar nocivo ou perigoso à saúde pública e à incolumidade
pessoal, ou a determinar a alteração na composição, estrutura, fórmula ou
acondicionamento desse tipo de produto.

2.1.3.6. COISA JULGADA 125

Chegamos a um dos pontos mais cobrados em provas objetivas no que tange


ao objeto desta Rodada.

Embora sejam múltiplas as questões e assertivas, a sua quase totalidade cinge-


se à literalidade do CDC (o mais comum é inverter os tipos de coisa julgada com relação
a cada um dos direitos coletivos lato sensu definidos no parágrafo único do art. 81).

Os arts. 103 e 104 do CDC preveem:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença
fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por


insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do
art. 81 [direitos e interesses difusos];

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou


classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos
termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81 [direitos e interesses
coletivos];

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para


beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do
inciso III do parágrafo único do art. 81 [direitos individuais
homogêneos].

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não


prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da
coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência 126


do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no
processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado


com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não
prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente
sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e
seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal


condenatória.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do


parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as
ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não
beneficiarão os autores das ações individuais, se não for
requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da
ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Há dois fatores particulares a serem levados em consideração para aferir os


tipos de coisa julgada: a) o tipo de direito coletivo envolvido; e b) o resultado da
sentença (de procedência ou improcedência).

Para os direitos difusos e coletivos stricto sensu, tem-se o seguinte regime de


coisa julgada:

- Sentença de procedência: coisa julgada material erga omnes


(interesses difusos) ou ultra partes (interesses coletivos).

- Sentença de improcedência por insuficiência de provas: haverá


apenas coisa julgada formal. Poderá ser proposta nova
127
demanda, desde que com prova nova.

- Sentença de improcedência por pretensão infundada: coisa


julgada material.

A coisa julgada material no processo coletivo só atinge o seu objeto litigioso,


que é um direito difuso ou coletivo, de modo que não prejudicará os direitos individuais
dos lesados.

Já para os direitos individuais homogêneos tem-se o seguinte regime:

- Sentença de procedência: coisa julgada material erga omnes,


que abrange todos os titulares desses direitos (todas as vítimas
e seus sucessores), também sendo atingidos favoravelmente
pela coisa julgada.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
- Sentença de improcedência, por qualquer motivo: coisa
julgada, mas não erga omnes. O impedimento será apenas para
a propositura de nova ação coletiva pelos legitimados coletivos,
sendo possível o manejo de ações individuais propostas por cada
lesado.

Como o tipo de coisa julgada depende do resultado da sentença e, igualmente,


da cognição ou não exauriente do assunto (no sentido de haver provas suficientes), há
duas classificações importantes da coisa julgada nas ações coletivas:

a) Coisa julgada secundum eventum litis – é aquela que se


produz apenas na hipótese de um determinado resultado, em
especial, a procedência do pedido autoral. Na verdade, o que
ocorre com a sentença de procedência é a sua extensão
subjetiva a todos os titulares dos direitos individuais. A 128
sentença de improcedência (seja com base em cognição
exauriente ou com fundamento em insuficiência de provas) não
impede a propositura da ação por outros interessados. Trata-
se, por exemplo, da previsão para a sentença de procedência nas
ações coletivas que visam a tutelar direitos individuais
homogêneos.

OBSERVAÇÃO: Em caso de improcedência, o legitimado original da ação coletiva para


tutela de direitos individuais homogêneos e eventuais vítimas/sucessores que, à vista
da publicação do respectivo edital (conforme art. 94 do CDC), tenham intervido como
litisconsortes ativos não poderão propor a ação a título individual.

A contrario sensu, pois, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não


tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização
a título individual (art. 103, par. 2o, do CDC).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
b) Coisa julgada secundum eventum probationis – é aquela que
se produz a depender da cognição exauriente das provas sobre
determinado caso. Aqui, faz fundamental diferença a
improcedência por insuficiência de provas e a improcedência à
vista de provas suficientes. Só haverá coisa julgada em caso de
improcedência se tiverem sido esgotados todos os meios de
prova; a improcedência por insuficiência de provas, por outro
lado, não gerará coisa julgada material.

É o caso da coisa julgada material nas ações coletivas para


tutela de direitos difusos (erga omnes) e coletivos (ultra partes).

Direitos Difusos Direitos Coletivos Direitos


Individuais
Homogêneos

Sentença de Coisa julgada Coisa julgada Coisa julgada


129
procedência material erga material ultra material erga
omnes. partes. omnes.

Sentença de Coisa julgada Coisa julgada Faz coisa julgada


improcedência material erga material ultra material em
(com exaurimento omnes. partes. relação aos
de provas) Impende novas Impende novas legitimados
ações coletivas, ações coletivas, coletivos e

mas não prejudica mas não prejudica eventuais


interesses e interesses e litisconsortes que

direitos individuais. direitos individuais tenham intervido


no processo.

Não impede a
propositura de
ação individual

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
(desde que o
consumidor não
tenha atuado como
litisconsorte ativo
na demanda
julgada
improcedente).

Sentença de Não faz coisa Não faz coisa Faz coisa julgada
improcedência por julgada material julgada material material em
insuficiência de (coisa julgada (coisa julgada relação aos
provas secundum eventum secundum eventum legitimados
probationis). probationis). coletivos e

É possível a É possível a eventuais


propositura de propositura de litisconsortes que

nova ação coletiva, nova ação coletiva, tenham intervido


130
desde que haja desde que haja no processo

prova nova. prova nova. (posição STJ).

Não impede a
propositura de
ação individual
(desde que o
consumidor não
tenha atuado como
litisconsorte ativo
na demanda
julgada
improcedente).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
OBSERVAÇÃO: O STJ, interpretando o art. 103, inciso III e seu par. 2o (que tratam da
coisa julgada nas ações coletivas em que se visa a tutelar direitos individuais
homogêneos), chegou às seguintes conclusões.

1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada


PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer consumidor pode se
habilitar na liquidação e promover a execução, provando o dano sofrido.

2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada


IMPROCEDENTE (não importa o motivo, ou seja, inclusive por insuficiência de provas):

- os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo coletivo como


litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de indenização a título individual.
Ex: os consumidores do medicamento que não tiverem atendido ao chamado do art. 94
do CDC e não tiverem participado da primeira ação coletiva poderão ajuizar ações
individuais de indenização contra a empresa.

- não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro legitimado
coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação; não pode nova ação 131
coletiva).

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO COLETIVO. DIREITOS INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS. MEDICAMENTO "VIOXX". ALEGAÇÃO DE DEFEITO DO PRODUTO. AÇÃO
COLETIVA JULGADA IMPROCEDENTE. TRÂNSITO EM JULGADO. REPETIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 81, INCISO III, E 103, INCISO III E § 2º,
DO CDC. RESGUARDO DO DIREITO INDIVIDUAL DOS ATINGIDOS PELO EVENTO DANOSO.
DOUTRINA.

1. Cinge-se a controvérsia a definir se, após o trânsito em julgado de decisão que julga
improcedente ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos, é
possível a repetição da demanda coletiva com o mesmo objeto por outro legitimado
em diferente estado da federação.

2. A apuração da extensão dos efeitos da sentença transitada em julgado proferida em


ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos passa pela interpretação
conjugada dos artigos 81, inciso III, e 103, inciso III e § 2º, do Código de Defesa do
Consumidor.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
3. Nas ações coletivas intentadas para a proteção de interesses ou direitos individuais
homogêneos, a sentença fará coisa julgada erga omnes apenas no caso de procedência
do pedido. No caso de improcedência, os interessados que não tiverem intervindo no
processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

4. Não é possível a propositura de nova ação coletiva, mas são resguardados os


direitos individuais dos atingidos pelo evento danoso.

5. Em 2004, foi proposta, na 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, pela


Associação Fluminense do Consumidor e Trabalhador - AFCONT, ação coletiva com o
mesmo objeto e contra as mesmas rés da ação que deu origem ao presente recurso
especial. Com o trânsito em julgado da sentença de improcedência ali proferida,
ocorrido em 2009, não há espaço para prosseguir demanda coletiva posterior ajuizada
por outra associação com o mesmo desiderato.

6. Recurso especial não provido.

(REsp 1.302.596/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão


Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015, DJe 132
01/02/2016).

Transporte da coisa julgada in utilibus (art. 103, par. 3o) – a coisa julgada
procedente (ou seja, favorável) proferida em ações coletivas pode ser aplicável a quem
não foi parte no processo, desde que esse terceiro invoque o direito, proceda à
liquidação e execução do respectivo crédito.

O CDC prevê expressamente a possibilidade do transporte in utilibus da


sentença penal condenatória (art. 103, par. 4o).

No CDC, a coisa julgada criminal só serve para o cível quando for in utilibus
(sentença condenatória). Na liquidação, é necessário comprovar o montante do prejuízo
sofrido bem como a condição de vítima.

O art. 104, por sua vez, preceitua que não há litispendência entre ação
individual e ação coletiva. Dessa regra, ressai que a ação individual pode ter curso

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
independente da ação coletiva e que só poderá ser suspensa por iniciativa do seu autor,
bem como que, se não houver pedido voluntário de suspensão pelo autor da ação
individual à vista da ação coletiva, aquela não sofre nenhum efeito decorrente do
julgamento desta, ainda que procedente (posição do STJ: CC 47731/DF, DJ 05/06/2006).

Caso pretenda se beneficiar dos efeitos de determinada ação coletiva, ao tomar


conhecimento, nos autos de sua ação individual, da existência da ação coletiva, para
poder se beneficiar da futura coisa julgada coletiva, a vítima deverá requerer, no prazo
de 30 dias, a contar da ciência da existência da ação coletiva, a suspensão do seu
processo individual (CDC, art. 104).

STJ: Na hipótese dos autos, omitiu-se a parte Ré de informar o juízo no qual


tramitava a Ação Individual acerca da existência da Ação Coletiva proposta pela
Associação Nacional dos Servidores da Justiça do Trabalho-ANAJUSTRA, a fim de
propiciar ao Autor a opção pela continuidade ou não daquele primeiro feito. Desta feita,
à míngua da ciência inequívoca, não há como recusar à parte Autora a extensão dos
efeitos erga omnes decorrentes da coisa julgada na Ação Coletiva (REsp 1593142/DF,
Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
133
07/06/2016, DJe 21/06/2016).

Ou seja, para a Corte Cidadã, se não for cumprido o expediente para a ciência,
na ação individual, acerca da propositura da ação coletiva, os autores daquela poderão
se beneficiar dos efeitos positivos desta.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.2. LEGISLAÇÃO

TÍTULO I
Dos Direitos do Consumidor

CAPÍTULO VI
Da Proteção Contratual

SEÇÃO I
Disposições Gerais

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os


consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de
seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar
a compreensão de seu sentido e alcance.

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor.
134
Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-
contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive
execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos.

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação
de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio.

Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste


artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo
escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer,


de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e
o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento,
acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem
didática, com ilustrações.

SEÇÃO II
Das Cláusulas Abusivas

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios


de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica,
a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos


previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o


135
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade;

V - (Vetado);

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo
consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o


consumidor;

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira


unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito


seja conferido ao consumidor;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem
que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do


contrato, após sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de


tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza


e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao
caso. 136
§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto
quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a
qualquer das partes.

§ 3° (Vetado).

§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao


Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de
cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não
assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou


concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros
requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;

II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;

III - acréscimos legalmente previstos;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
IV - número e periodicidade das prestações;

V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo


não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação. (Redação dada pela
Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)

§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou


parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

§ 3º (Vetado).

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento
em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas
de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em
benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato
e a retomada do produto alienado.

§ 1° (Vetado).
137
§ 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a
restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da
vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou
inadimplente causar ao grupo.

§ 3° Os contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente
nacional.

SEÇÃO III
Dos Contratos de Adesão

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do


contrato.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa,
cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres


ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a
facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação dada pela nº 11.785, de 2008)

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser


redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

§ 5° (Vetado)

138

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.3. JURISPRUDÊNCIA

NOVIDADE 2018 (Informativo 892 STF): No julgamento da ADPF 165, o Plenário do STF
admitiu a possibilidade de celebração de associações privadas celebrarem acordos em
ações coletivas, a despeito da redação literal do art. 5o, par. 6o, da LACP.

A Suprema Corte entendeu que a ausência de previsão legal não configura impedimento
para tanto. O fato de o par. 6o do art. 5o da LACP mencionar apenas “órgãos públicos
legitimados” dá-se porque os entes públicos somente podem fazer o que a lei
determina, ao passo em que aos entes privados é dado fazer tudo o que a lei não proíbe.

Para o Ministro Relator, outrossim, não faria sentido prever um modelo que autoriza a
justiciabilidade privada de direitos e, simultaneamente, deixar de conferir aos entes
privados as mais comezinhas faculdades processuais, tais como a de firmar acordos.

(ADPF 165/DF, Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 01/03/2018).

139
A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário,
ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os
filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em
momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação
jurídica juntada à inicial do processo de conhecimento. STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). Sobre o
mesmo tema, veja também: STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014
(repercussão geral) (Info 746).

NOVIDADE 2018 (Informativo 616 STJ):

É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de serviços de cartão de


crédito que autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores com
outras entidades financeiras ou mantenedoras de cadastros positivos e negativos de
consumidores, sem que seja dada opção de discordar daquele compartilhamento. (REsp

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
1.348.532-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 10/10/2017,
DJe 30/11/2017)

140

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.4. QUESTÕES

1. (TJSP – Juiz Substituto – 2017 - Vunesp) Vítima de acidente automobilístico, Joana


fica hospitalizada durante 90 (noventa) dias. Joana é contratante individual de plano
de assistência médica e hospitalar. A administradora do plano de saúde se recusa a
cobrir a totalidade dos custos da internação, alegando que o contrato limita a
obrigação a 30 (trinta) dias. Durante o período de hospitalização, Joana deixa de
efetuar o pagamento das prestações mensais do plano de saúde. Após se recuperar,
Joana propõe ação requerendo seja o plano de saúde condenado ao pagamento das
despesas referentes a todo o período de internação. Por sua vez, a administradora do
plano de saúde apresenta contestação e propõe reconvenção pleiteando a
condenação de Joana ao pagamento das prestações em atraso, acrescido da multa
contratual de 10% (dez por cento).

É correto afirmar que a ação de Joana deve ser julgada:

a) improcedente, pois não há abusividade na cláusula contratual que limita o tempo de 141
internação hospitalar; a reconvenção é procedente, pois o ilícito contratual foi praticado
por Joana, que está obrigada ao pagamento das mensalidades do plano de saúde, com
acréscimo da multa contratual de mora.

b) parcialmente procedente, devendo as partes dividirem equitativamente os custos da


internação hospitalar que ultrapassaram o limite de 30 (trinta) dias, como forma de não
gerar desequilíbrio contratual; a reconvenção é improcedente, pois ao plano de saúde
não é lícito, enquanto não cumprir sua obrigação, exigir o cumprimento daquela
atribuída a Joana.

c) procedente, pois a limitação temporal da internação hospitalar é admitida somente


nos contratos coletivos de assistência médica; a reconvenção é improcedente, pois a
conduta abusiva da administradora do plano de saúde exclui a obrigação de Joana
efetuar o pagamento das mensalidades referentes ao período de hospitalização.

d) procedente, pois é abusiva a cláusula contratual que limita o tempo de internação


hospitalar; a reconvenção é parcialmente procedente, pois Joana está obrigada ao

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
pagamento das mensalidades do plano de saúde, mesmo diante da recusa de cobertura,
mas a multa contratual não pode exceder 2% (dois por cento).

2. (TJ/RJ – Juiz substituto – 2016 – VUNESP) Carlos dos Santos mora em um


apartamento alugado e pretendendo tornar-se proprietário de sua própria moradia,
assinou um contrato de promessa de compra e venda com uma empresa construtora
para aquisição de um apartamento. O contrato foi celebrado com cláusula contratual
que determina a restituição dos valores devidos somente ao término da obra, ou de
forma parcelada na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e
venda do imóvel, por culpa de quaisquer contratantes.

A partir desses fatos, assinale a alternativa correta.

a) Se a resolução contratual for unilateral do promissário comprador, este terá direito à


devolução das parcelas pagas, mas a devolução não precisa ser imediata, pois inexiste
disposição expressa nesse sentido no Código de Defesa do Consumidor.

b) Se houver resolução do contrato de promessa de compra e venda do imóvel por 142


vontade de ambas as partes, em conformidade com o avençado no contrato, a
restituição dos valores devidos deve ocorrer de forma parcelada ou ao término da obra.
c) Se houver a resolução do contrato de promessa de compra e venda do imóvel em
decorrência de vontade exclusiva do promitente vendedor, caberá a este a imediata
restituição integral das parcelas pagas pelo promitente comprador em aplicação da
legislação consumerista.

d) Esse contrato não se submete ao Código de Defesa do Consumidor, regendo-se


integralmente pelas normas do Código Civil, devendo ser observado o princípio pacta
sunt servanda.

e) Se houver resolução do contrato de promessa de compra e venda do imóvel por


vontade unilateral e exclusiva do promissário comprador, em observação à legislação
consumerista, Carlos dos Santos terá direito à restituição integral das parcelas pagas.

3. (TJ/RS – Juiz substituto – 2018 – VUNESP) No contrato de promessa de compra e


venda de imóvel em construção, além do período previsto para o término do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
empreendimento, há, comumente, cláusula de prorrogação excepcional do prazo de
entrega da unidade ou de conclusão da obra, que varia entre 90 (noventa) e 180 (cento
e oitenta) dias: a conhecida cláusula de tolerância. Considerando isso, assinale a
alternativa correta.

a) Trata-se de cláusula abusiva, por exigir do consumidor vantagem manifestamente


excessiva a favor da construtora.

b) Não se trata de cláusula abusiva, diante dos costumes do mercado imobiliário, que
pode paralisar a obra se houver alguma necessidade financeira.

c) Não se trata de cláusula abusiva, pois ameniza o risco da atividade advindo da


dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magnitude sujeita a
diversos obstáculos e situações imprevisíveis.

d) Trata-se de cláusula abusiva, pois condiciona a entrega do produto sem justa causa
ou limites quantitativos.

e) Trata-se de cláusula abusiva, pois representa uma oferta enganosa do prazo de


entrega do imóvel, que já estabelece condições para o construtor apurar eventual 143
necessidade de atraso.

4. (TJ/RS – Juiz substituto – 2018 – VUNESP) Considerando as regras consumeristas, os


empregados demitidos sem justa causa e os aposentados que contribuíram para plano
de saúde coletivo empresarial, nas condições legais, que tenha sido extinto e um novo
contratado em novas condições:

a) não têm direito de serem mantidos nesse plano, pois as condições dos planos
coletivos impedem novos integrantes sem vínculo com a empresa.

b) não têm direito de serem mantidos nesse plano, por não pertencerem mais aos
quadros da empresa.

c) têm direito a serem mantidos no plano anterior, com as mesmas condições já


pactuadas, por terem ingressado anteriormente à saída da empresa.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
d) não têm direito de serem mantidos nesse plano, desde que tenham sido asseguradas
a eles as mesmas condições de cobertura assistencial proporcionadas aos empregados
ativos.

e) têm direito a serem mantidos no plano anterior, com as mesmas condições, por
abusividade da nova contratação.

5. (TJ/MG – Juiz substituto – 2014) Assinale a alternativa que apresenta informação


incorreta.

a) O Ministério Público poderá propor, em nome próprio e no interesse das vítimas ou


seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente
sofridos.

b) Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

c) O Ministério Público, nas ações coletivas para a defesa de interesses individuais


144
homogêneos, se não ajuizar a ação, atuará sempre como custos legis.

d) Nas ações coletivas de que trata o Código de Defesa do Consumidor, a sentença


sempre fará coisa julgada erga omnes.

6. (TJ/AM – Juiz substituto – 2016 – CESPE) O PROCON do estado do Amazonas, por


intermédio de seu advogado, ajuizou ação civil pública contra determinada empresa
privada de saúde suplementar, pleiteando o reconhecimento judicial da abusividade
da cláusula contratual que prevê aumento dos valores cobrados em todo o estado a
partir do momento que a pessoa atinge a condição de idoso. Requereu, também, a
restituição dos valores pagos por aqueles indivíduos que já haviam atingido a idade de
sessenta anos.

Com referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta de acordo com o
tratamento dispensado pelo CDC à defesa do consumidor em juízo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
a) O foro competente para a propositura da ação coletiva em questão é o da sede da
empresa requerida.

b) A hipótese retrata a existência de direitos individuais homogêneos, pois os titulares


podem ser identificados e se encontram em uma mesma situação fática.

c) Por se tratar de ação coletiva não proposta pelo MP, a atuação deste no processo é
desnecessária.

d) A sentença de mérito fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do


pedido; caso contrário, o consumidor poderá intentar ação individual, ainda que tenha
integrado a demanda como litisconsorte.

e) O juiz deverá extinguir o processo sem análise do mérito, pois o PROCON não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação coletiva.

7. (TJ/DFT – Juiz substituto – 2015 – CESPE) No que se refere à defesa do consumidor


em juízo e às ações individuais e coletivas para tutela do consumidor, assinale a opção
correta de acordo com o CDC e a jurisprudência do STJ.
145
a) É permitido ao consumidor individual ingressar como litisconsorte ativo em ação
coletiva em que se tutele direito individual homogêneo, hipótese em que ficará o
consumidor vinculado ao resultado do processo, mesmo no caso de sentença de
improcedência na ação coletiva.

b) Conforme o CDC, é expressamente proibida a instituição de compromisso arbitral e,


consequentemente, a realização de procedimento arbitral entre consumidor e
fornecedor, ainda que decorrente da livre manifestação de vontade das partes.

c) Para propor ação de responsabilidade civil do fornecedor, o consumidor autor da ação


é obrigado a fazê-lo no foro de seu próprio domicílio, sendo-lhe proibido renunciar ao
direito que possui.

d) Em ação judicial proposta pelo consumidor que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer, é vedado ao magistrado conceder medida diversa da requerida pelo
consumidor, sob pena de se configurar julgamento extra petita.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
e) A desconsideração da personalidade jurídica deve ser requerida em ação judicial
autônoma, sendo vedado ao consumidor requerer a responsabilização do sócio de
forma incidental em ação ajuizada somente contra o fornecedor pessoa jurídica.

8. (TJPR – Juiz Substituto – 2017 - CESPE). Determinada empresa que fabrica cervejas
divulgou propaganda de sua nova bebida, de cor escura, e estampou uma mulher
negra no anúncio, associando seu corpo às características do produto. O MP ajuizou
ACP pleiteando a alteração do anúncio, sob o argumento de que ele era racista e
sexista e que sua propagação violaria os direitos dos consumidores. Nessa ação,
também foi requerido que o magistrado fixasse dano moral coletivo.

Nessa situação hipotética, conforme a legislação aplicável ao caso e o entendimento


doutrinário sobre o tema,

a) a alegação do MP é compatível com a tipificação de propaganda abusiva, pois, no


caso, ocorreu discriminação a determinado segmento social.

b) o ônus da prova da veracidade e correção da informação publicitária incumbirá ao 146


MP.

c) tipificou-se violação de direitos individuais homogêneos pela fabricante de cervejas.

d) o dano moral coletivo só estará configurado se tiver havido abalo à integridade


psicofísica das mulheres negras.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
2.5. GABARITO COMENTADO

1. D

Para a resolução da presente questão, o candidato teria que ter conhecimento da


Súmula 302 do STJ, já estudada acima, e do disposto no art. 52, par. 1 o, do CDC, com a
interpretação que lhe é dada pela doutrina e jurisprudência.

Súmula 302 do STJ. É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no
tempo a internação hospitalar do segurado.

Assim, o conhecimento da súmula já exclui, de pronto, as alternativas A e B como


incorretas.

No que tange à multa contratual, vale ressaltar que o art. 52, par. 1o, do CDC estabelece
o limite de 2% (dois por cento) sobre o valor da(s) prestação(ões) em atraso. Como visto
nesta Rodada, a despeito de o dispositivo em questão estar inserido topologicamente
no art. 52, que trata dos contratos de outorga de crédito ou concessão de
financiamento, há uma tendência de estendê-lo para as relações consumeristas em
147
geral (julgados do STJ apresentados acima). Esse entendimento é, inclusive, considerado
correto em provas de concursos públicos.

Desse modo, a única resposta correta é a alternativa D.

2. C

A questão exige conhecimentos legais e jurisprudenciais dos contratos de compra e


venda de imóveis mediante pagamento em prestações (art. 53 do CDC).

Para a sua resolução, é preciso ter conhecimento da Súmula abaixo e do posicionamento


do STJ que veda a restituição dos valores a prazo (após o término da obra, por exemplo)
ou de forma parcelada. Tal foi visto no resumo doutrinário e é agora revisado:

Súmula 543 do STJ. Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e


venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso
tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.

Para efeitos do art. 543-C do CPC: em contratos submetidos ao Código de Defesa do


Consumidor, é abusiva a cláusula contratual que determina a restituição dos valores
devidos somente ao término da obra ou de forma parcelada, na hipótese de resolução
de contrato de promessa de compra e venda de imóvel, por culpa de quaisquer
contratantes. Em tais avenças, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas
pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente
vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa
ao desfazimento. (REsp 1300418/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 13/11/2013, DJe 10/12/2013).

3. C

Trata-se de julgado do STJ veiculado no informativo 612.

Informativo 612 STJ (REsp 1.582.318/RJ): Não é abusiva a cláusula de tolerância nos 148
contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê
prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento
e oitenta) dias – chamada de cláusula de tolerância.

Apesar de o Código de Defesa do Consumidor incidir na dinâmica dos negócios


imobiliários em geral, não há como ser reputada abusiva a cláusula de tolerância. Isso
porque existem no mercado diversos fatores de imprevisibilidade que podem afetar
negativamente a construção de edificações e onerar excessivamente seus atores, tais
como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no
setor, entre outros contratempos.

Assim, a complexidade do negócio justifica a adoção no instrumento contratual, desde


que razoáveis, de condições e formas de eventual prorrogação do prazo de entrega da
obra, o qual foi, na realidade, apenas estimado, tanto que a própria lei de regência
disciplinou tal questão, conforme previsão do art. 48, § 2º, da Lei n. 4.591/1964. Logo,
observa-se que a cláusula de tolerância para atraso de obra possui amparo legal, não
constituindo abuso de direito (art. 187 do CC). Por outro lado, não se verifica também,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do
consumidor, o que comprometeria o princípio da equivalência das prestações
estabelecidas. Tal disposição contratual concorre para a diminuição do preço final da
unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente, pois ameniza o risco da
atividade advindo da dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de
grande magnitude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis.

Desse modo, considerando o teor do informativo e as justificativas apresentadas pela


Corte Cidadã para o reconhecimento da inexistência de abusividade na cláusula de
tolerância de até 180 (cento e oitenta) dias, a alternativa correta é a letra C.

4. D

Trata-se de cobrança de um julgado do STJ veiculado na grade de Direito Civil dos


Informativos do STJ (Informativo 569 2015).

Os empregados demitidos sem justa causa e os aposentados que contribuíram para


plano de saúde coletivo empresarial que tenha sido extinto não têm direito de serem 149
mantidos nesse plano se o estipulante (ex-empregador) e a operadora redesenharam
o sistema estabelecendo um novo plano de saúde coletivo a fim de evitar o seu colapso
(exceção da ruína) ante prejuízos crescentes, desde que tenham sido asseguradas aos
inativos as mesmas condições de cobertura assistencial proporcionadas aos
empregados ativos (REsp 1.479.420/SP).

Nesse sentido, aliás, a Quarta Turma do STJ (REsp 531.370-SP, DJe 6/9/2012) decidiu
que, embora seja garantida aos empregados demitidos sem justa causa e aos
aposentados "a manutenção no plano de saúde coletivo nas mesmas condições de
assistência médica e de valores de contribuição, desde que assuma o pagamento
integral desta", os valores de contribuição poderão "variar conforme as alterações
promovidas no plano paradigma, sempre em paridade com os que a ex-empregadora
tiver que custear". De fato, pela exceção da ruína - instituto que, conforme definição
doutrinária, representa a circunstância liberatória decorrente da "situação de ruína em
que o devedor poderia incorrer, caso a execução do contrato, atingida por alterações
fáticas, não fosse sustida" -, o vínculo contratual original pode sofrer ação liberatória e

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
adaptadora às novas circunstâncias da realidade, com a finalidade de manter a relação
jurídica sem a quebra do sistema, sendo imprescindível a cooperação mútua para
modificar o contrato do modo menos danoso às partes. É por isso que, nos contratos
cativos de longa duração, também chamados de relacionais, baseados na confiança, o
rigorismo e a perenidade do vínculo existente entre as partes podem sofrer,
excepcionalmente, algumas flexibilizações, a fim de evitar a ruína do sistema e da
empresa, devendo ser respeitados, em qualquer caso, a boa-fé, que é bilateral, e os
deveres de lealdade, de solidariedade (interna e externa) e de cooperação recíprocos.
Além do mais, ressalte-se que a onerosidade excessiva é vedada tanto para o
consumidor quanto para o fornecedor, nos termos do art. 51, § 2º, da Lei 8.078/1990.
Cumpre destacar, também, que a função social e a solidariedade nos planos de saúde
coletivos assumem grande relevo, tendo em vista o mutualismo existente,
caracterizador de um pacto tácito entre as diversas gerações de empregados passados,
atuais e futuros (solidariedade intergeracional), trazendo o dever de todos para a
viabilização do próprio contrato de assistência médica. Desse modo, na hipótese em
apreço, não há como preservar indefinidamente a sistemática contratual original se 150
verificada a exceção de ruína.

5. D

ALTERNATIVA A – CORRETA: Trata-se da previsão do art. 91 combinada com o art. 82,


I, do CDC.

ALTERNATIVA B – CORRETA: Trata-se da previsão literal do art. 84, caput, do CDC.

ALTERNATIVA C – CORRETA: Trata-se da previsão literal do art. 92 do CDC.

ALTERNATIVA D – INCORRETA: A sentença proferida nas ações coletivas de que trata o


CDC podem fazer coisa julgada erga omnes em determinadas situações – interesses e
direitos difusos (salvo se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas)
e interesses e direitos individuais homogêneos (em caso de procedência do pedido), ou
coisa julgada ultra partes – interesses e direitos coletivos stricto sensu (salvo se o pedido
for julgado improcedente por insuficiência de provas).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
6. B

ALTERNATIVA A – INCORRETA: se o aumento abusivo (dano) dos planos de saúde deu-


se em todo o Estado, está-se diante de um dano de abrangência regional, a atrair a
competência da capital do Estado respectivo, conforme previsão do art. 93, II.

ALTERNATIVA B – CORRETA: trata-se, segundo o enunciado da questão, de lesados


(vítimas) com danos individuais subjetivos decorrentes de uma mesma origem comum,
qual seja, o aumento abusivo da mensalidade do plano de saúde em decorrência da
condição de idoso (fato de se completar 60 anos) dos usuários.

Os danos são divisíveis, a depender do tipo de plano contratado, da quantidade de


mensalidades pagas com o aumento etc.

A hipótese, pois, subsume-se à previsão do art. 81, parágrafo único, III, do CDC.

ALTERNATIVA C – INCORRETA: segundo o art. 92 do CDC, o Ministério Público, sempre


que não atuar como autor da ação coletiva, deverá atuar como fiscal da lei.

ALTERNATIVA D – INCORRETA: o erro da assertiva reside na sua parte final “ainda que
tenha integrado a demanda como litisconsorte”. Os efeitos da sentença de
151
improcedência nas ações coletivas que visem a tutelar direitos individuais homogêneos
abrangem os litisconsortes. Segundo o art. 103, par. 2o, apenas aqueles que não tiverem
intervido no processo como litisconsortes é que poderão propor ação de indenização a
título individual.

ALTERNATIVA E – INCORRETA: o art. 82, III, do CDC menciona expressamente a possível


legitimidade ativa de entes despersonalizados especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos consumeristas.

Em razão disso, admite-se que órgãos de defesa do consumidor despersonalizados –


como os PROCONs – manejem ações coletivas em prol de direitos dos consumidores.

7. A

ALTERNATIVA A – CORRETA.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
A permissão para ingresso como litisconsorte ativo está prevista no art. 94 do CDC e a
vinculação ao resultado do processo, seja de procedência ou de improcedência, ressai
do art. 103, par. 2o, do CDC.

Em caso de improcedência, o legitimado original da ação coletiva para tutela de direitos


individuais homogêneos e eventuais vítimas/sucessores que, à vista da publicação do
respectivo edital (conforme art. 94 do CDC), tenham intervido como litisconsortes ativos
não poderão propor a ação a título individual.

A contrario sensu, pois, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não


tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização
a título individual (art. 103, par. 2o, do CDC).

ALTERNATIVA B – INCORRETA.

Não há qualquer previsão nesse sentido no CDC. Somente é nula de pleno de direito a
cláusula contratual que imponha a arbitragem de forma compulsória.

ALTERNATIVA C – INCORRETA.

O consumidor pode optar pelo foro de seu domicílio (art. 101, I). Trata-se de uma
152
faculdade/opção, e não imposição. Nada obsta, por exemplo, que o consumidor abra
mão dessa prerrogativa e opte por foro de eleição previsto contratualmente, conforme
sua conveniência. O STJ também já entendeu desse modo: “Se a autoria do feito
pertence ao consumidor, contudo, permite-se a escolha do foro de eleição contratual,
considerando que a norma protetiva, erigida em seu benefício, não o obriga quando
puder deduzir sem prejuízo a defesa dos seus interesses fora do seu domicílio” (CC
107.441/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
22/06/2011, DJe 01/08/2011).

ALTERNATIVA D – INCORRETA.

O magistrado pode conceder, inclusive de ofício, medidas que visem à tutela específica
ou ao resultado prático equivalente. A mais notória delas é a possibilidade de imposição
de multa diária, independentemente de pedido da parte, conforme previsto no art. 84,
par. 4o, do CDC.

ALTERNATIVA E – INCORRETA.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
Admite-se, com tranquilidade, a desconsideração da personalidade jurídica nos próprios
autos da ação de execução, sendo permitido ao consumidor requerer a
responsabilização do sócio de forma incidental em ação ajuizada somente contra o
fornecedor pessoa jurídica.

8. A

ALTERNATIVA A – CORRETA.

É possível identificar a alternativa correta mediante o conhecimento do teor do par. 2o


do art. 36 do CDC, que exemplifica, dentre os casos de publicidade abusiva, aquela
“discriminatória de qualquer natureza”.

ALTERNATIVA B – INCORRETA.

Conforme previsão expressa do art. 38 do CDC, “o ônus da prova da veracidade e


correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina”. Trata-
se de uma previsão de inversão do ônus da prova que decorre de disposição expressa
da lei (ope legis).
153
ALTERNATIVA C – INCORRETA.

O anúncio em tela, segundo o enunciado da questão, era violador da proibição de


publicidade abusiva, ante o teor discriminatório.

A publicidade abusiva atinge, de forma indivisível, um número indeterminável de


consumidores, que estarão ligados entre si por circunstâncias de fato.

Não se sabe (nem há condições de saber) todos que vieram ou virão a ser atingidos por
essa publicidade (indeterminabilidade dos sujeitos).

Dessa forma, tratam-se de direitos difusos em jogo, eis que presentes suas
características principais conforme art. 81, parágrafo único, I, do CDC. Observe-se que,
nesta Rodada, apresentamos como exemplo de direitos difusos exatamente a
publicidade enganosa. O mesmo aplica-se à abusiva.

ALTERNATIVA D – INCORRETA.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
O dano moral coletivo atinge direitos da personalidade do grupo massificado, sendo
desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação,
tal qual fosse um indivíduo isolado. Essa é a posição do STJ.

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É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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