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Presidente
Prof. Marcelo Campos Galuppo
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Conselho Fiscal
Prof. Edvaldo Britto
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Prof. Jaime Wandederley Gasparotto
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Profª. Juliana Neuenschwander Magalhães (Suplente)
Representante Discente
Prof. André Guilherme Lemos Jorge
Colaboradores:
Heloisa Simon
Graduanda em Ciência da Computação - UFSC
Elisangela Pruencio
Graduanda em Administração - ASSESC
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-7840-019-4
FUNDAÇÃO BOITEUX
2008
ÍNDICE
Apresentação ..................................................................................................................35
Juliana Cavalcante Dos Santos; Lilia de Pieri; Patrícia Persona Chamilete Rizzi - A
RELEVÂNCIA DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NA SOLUÇÃO DOS
CONFLITOS E NA GARANTIA DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS...................163
2
Leticia Jean do Amaral Arantes Daré - O DIREITO À ALIMENTAÇÃO COMO
CONSEQUÊNCIA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.....803
DESENVOLVIMENTO E CIDADANIA
Cristiane Ribeiro da Silva; Gabriela Saes Pedroso; Juliana Izar Soares da Fonseca
Segalla - O IDOSO E A DEFICIÊNCIA – UM NOVO OLHAR À QUESTÃO DA
INCLUSÃO SOCIAL DO IDOSO..............................................................................1017
5
TUTELA ANTECIPADA DE OFÍCIO
RESUMO
ABSTRACT
When the populace turns to the judicial system in search of solutions to their problems,
they anticipate a fair installment, bound to celerity, efficiency, and isonomy which are
ways to assure individual rights as proclaimed by the Constitution. This paper, will
discuss the possibility of anticipated sentencing ex-officio as a way to guarantee the
public’s rights and expectations.
Just because the Civil Justice Process does not explicitly consider such practice, it
should not be a deciding factor so that in exceptional situations that occur in our daily
lives, the judge excuse himself from ruling with common sense and neglect the explicit
need of sentencing ex-officio due to the inexistence of an official request from a party in
Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.
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the process. The referential theoretical of this reflection substantiate-itself in the
doctrinaire legal and jurisprudential analysis, taking for base the constitutional
beginnings that elucidate all the legislation with focus towards justice.
Inasmuch, there is nothing better than adequate practical solutions to a critical
rationalism, moving beyond the duality between ‘reality judgments’ and ‘worth
judgments’, in the sense to produce concrete outcomes to the decisions. It is in this
context that was born the concession of the sentencing ex-officio, already present in the
Brazilian jurisprudence that should be applied as a form to guarantee the rights of a
party, even if not explicitly demanded by said party.
1. Introdução
Acredita-se que no atual estagio da sociedade, a jurisdição precisa dar um novo salto,
pois não há mais espaço para uma prestação morosa e sem eficácia. Na era da
tecnologia, da comunicação instantânea, dos sistemas on line, ainda encontramos o
velho procedimento judicial dependente de papeis, de mandados, de máquinas de
escrever, de formalismo etc, e nos questionamos se um dia a celeridade e segurança
encontrarão alguma composição satisfatória no mundo jurídico construído para a
sociedade.1 Em uma época de complexidades, mudanças e incertezas, como a que
atravessamos hoje, o processo burocrata e lento é mofa contra as necessidades pessoas.
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A pesquisa contida neste trabalho foi embasada em obras doutrinárias e jurisprudência,
utilizando-se os métodos compilativos, indutivos, dedutivos e bibliográficos científicos
para a sua elaboração, que está disposta nesta introdução, um único capítulo de
desenvolvimento, seguindo em uma breve conclusão.
1. Desenvolvimento
Logo, se faz preciso assegurar o direito de forma rápida e efetiva, prestigiando a parte
que busca o Judiciário, porquanto, conforme a linha defendida por Luiz Guilherme
Marinoni, a demora do processo sempre beneficia quem não tem razão.6
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De fato, como a natureza do processo em si não é rápida, uma vez que precisa, em
regra, de uma instrução aprofundada7 e a grande litigiosidade acarreta um número
desproporcional de processos para os magistrados8, nada mais oportuno que um
instituto que possa dar celeridade e efetividade à prestação jurisdicional.
Vê-se que as hipóteses aventadas pelo legislador, nos casos dos incisos I e II do referido
artigo, ensejam juízo de probabilidade, na medida que se concederá a demanda por meio
de cognição sumária; usualmente antes da instrução e com base em prova documental.
Mas, nada impede que as provas sejam colhidas durante a instrução e a tutela seja
deferida no momento anterior da sentença e até mesmo na sentença.10
Destarte, não são em todos os casos que se irá conceder a tutela antecipada, mas apenas
nas circunstâncias delineadas quando o autor demonstrar ao julgador o seu direito,
através de provas cabais, e a necessidade de sua imediata concessão, dado que a
situação por si enseja total, ou parcial, adiantamento do pedido, seja pela possibilidade
de produzir situações de risco, ou nos casos de protelação e abuso do réu, ou, ainda,
quando o(s) pedido(s) se mostrar(em) incontroverso(s).
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Portanto, a tutela antecipada não é regra em todas ações, mas sim exceção, pois se trata
de uma tutela diferenciada que pode orientar-se pelo valor urgência, ou pelo valor
evidência, como também abranger ambas situações a depender do caso concreto. Por
isso, a tutela antecipada corresponde a uma tutela diferenciada, “cuja característica no
plano teleológico, é sua aptidão para melhor distribuir o ônus do tempo no processo,
evitando ou pelo menos minimizando o dano marginal emergente da duração do
processo..”12
A tutela antecipada de ofício opõe-se à corrente majoritária que tem por imprescindível
o pedido expresso formulado pelo litigante interessado. A veemência da frase “a
requerimento da parte”, contida no artigo 273 do CPC, leva a dedução de que é
impossível a concessão da tutela antecipada sem o requerimento expresso da parte. 13
Mas, é preciso lembrar que o Direito não pode, nem deve, ser construído com base em
entendimentos eternos e pacíficos, porque atua diretamente na sociedade, que está em
constante devir, sendo necessário uma ordem jurídica que a acompanhe.14
O dia-a-dia forense nos mostra que não há temas absolutamente pacíficos no Direito. Os
órgãos de julgamento são capazes de produzir decisões, afastando opiniões defendidas
com vigor e de forma quase uníssona pela doutrina e por outros órgãos julgadores.
59
“APELAÇÕES CÍVEIS – EMBARGOS À EXECUÇÃO – PREVIDENCIÁRIO –
REVISÃO DE BENEFÍCIOS – EXTINÇÃO (ARTIGO 269, IV, DO CPC) – REFORMA
– ANULAÇÃO DA SENTENÇA – ARTIGO 130 DA LEI Nº 8.213/91 – M.P. Nº 1.523-8
– LEI Nº 9.528/97 – INCLUSÃO DE EXPURGOS INFLACIONÁRIOS – TUTELA EX
OFFICIO – POSSIBILIDADE.
III – Ao meu aviso, entender-se o contrário não condiz com a idéia do Processo Justo,
na moderna acepção de prestação jurisdicional;
IV – Nessa esteira, entende o Min. LUIZ FUX não haver razões para impedir a
incoação estatal na antecipação de tutela, qualquer que seja a hipótese, eis que, não se
deve confundir a neutralidade com omissão e, tampouco, a imparcialidade com
responsabilidade (Tutela de segurança e Tutela da Evidência. São Paulo: Saraiva,
1996, página 74);
60
EM FACE DA SUA PATOLOGIA (PORTADOR DE HIV), ALÉM DE IDADE
AVANÇADA, TODOS CONSIGNADOS PELO EXPERT OFICIAL;
Neste sentido, há artigo escrito pelo Juiz Federal George Marmelstein Lima intitulado
“Antecipação de tutela de ofício?” 17, cujo trecho adiante transcrito edifica a pertinência
do instituto concedido ex officio, senão vejamos:
61
“(...) afastar taxativamente a possibilidade de iniciativa judicial no tocante à tutela
antecipatória pode levar a soluções injustas.
A aceitação do poder oficial no tocante à antecipação dos efeitos da tutrela, ainda que
excepcional, não viola o princípio dispositivo, pois o juiz estará proferindo decisão
judicial nos limites do pedido.
Também, não se verifica ofensa ao contraditório, uma vez que essa antecipação tem
como característica a provisoriedade e como pressuposto a reversibilidade. Terá a
parte contrária, portanto, oportunidade para demonstrar o não cabimento da
providência. E o juiz, convencendo-se do equívoco, poderá revoga-la.
“(...) inferem-se vários sinais emitidos pelo legislador e pela sociedade na direção de
que se deseja a concretização do ideal de justiça na vida real. O Direito deve estar a
serviço da vida, e não a vida a serviço do direito.
Por isso, acredito que a tutela antecipatória pode ser deferida, de ofício, em casos
excepcionais onde se evidencia que: a) o feito tem natureza previdenciária ou
assemelhada; b) o valor do benefício é imprescindível para subsistência do autor; c) a
parte é hiposuficiente, não só do ponto de vista econômico, mas também de
conhecimento dos seus direitos; d) o direito postulado de forma induvidosa; e) a falta
de prévio requerimento de tutela antecipatória, como motivo para não concessão de
antecipação de tutela, revela-se como flagrante injustiça contra a parte autora”.
62
“a) o condicionamento de antecipação da tutela ao pedido da parte, quando ocorrer o
abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório, vai de encontro à
orientação adotada pelo Código de Processo Civil quanto à aplicação, ex officio, das
sanções, além de alijar a participação do Estado na solução dos conflitos e favorecer,
ainda que reflexamente, o exercício abusivo dos direitos;
Como restou evidenciado, algumas vozes na doutrina pátria, ainda que minoritárias,
lecionam que a tutela antecipada pode, em alguns situações, ser concedida de ofício, isto
é, sem a presença de requerimento manifesto da parte.
Fácil perceber, destarte, que a tutela antecipada é uma espécie de medida jurisdicional,
que tem seu fundamento na Constituição da República de 1988, mais precisamente no
princípio do acesso à justiça (CR/1988, art. 5º, inciso XXXV – “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”).
Este direito deve ser compreendido em sua plenitude e não apenas como o direito de se
formalmente requerer algo perante um juiz, mas sim como o direito de efetivamente
obter a tutela jurisdicional adequada em face do caso concreto e como resultado útil da
experiência profissional.21
63
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”
Por isso, nas situações em que as matérias discutidas tragam consigo um pedido de
urgência na sua obtenção e não tendo sido solicitado a antecipação da tutela pelo
causídico, é possível a antecipação de ofício, sobretudo quando se tratar de demandas
aforadas por pessoas hiposuficientes, que é uma realidade tão comum na Justiça
brasileira.22
Fica claro que, mesmo existindo vedação no caput do art. 273, bem como a existência
do princípio da iniciativa, previsto na Legislação Processual em vários dispositivos (art.
2o, 128, 459, 460, entre outros do CPC), a legislação brasileira tem caminhado para dar
maiores poderes ao juiz, a fim de prestigiar a efetividade processual, a exemplo do art.
461 do CPC, que remete a possibilidade de concessão de ofício da tutela específica, in
verbis:
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido,
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994).
“Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências
que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento.
64
prevista no §5o do art. 461, consolida a possibilidade da concessão de ofício da tutela
específica.
Ora, sendo assim, maior razão para aceitar a antecipação de ofício dos efeitos da tutela,
pois a medida cautelar pode ser concedida de ofício. Não seria lógico, portanto, que o
juiz pudesse conceder, incidentalmente, nos autos principais, uma medida cautelar de
ofício e não pudesse conceder a antecipação de tutela.
Vale dizer, outrossim, que na prática dos Juizados Especiais Federais, não obstante o
artigo 4o da Lei 10.259/2001 remeter a possibilidade da concessão de ofício, somente,
para as medidas cautelares, os magistrados concebem de ofício a antecipação de tutela.
Em tais situações, o referido artigo é confrontado com o disposto no art. 798 do CPC,
que remete além dos procedimentos cautelares específicos, que o código regula no
Capítulo II do Processo Cautelar, a possibilidade do juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequada, quando houver fundado receio de que uma parte, antes
do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.25
65
Convém assinalar a preocupação do magistrado George Marmelstein Lima28 que
demonstram as facetas de um problema, consubstanciando no dever do juiz conceder de
ofício a antecipação de tutela:
“Reconheço, pois, a existência de pedido implícito, pois tenho que o aspecto humano
deve prevalecer sobre o formalismo. Não vivemos em um Estado Democrático de
Direito construído sobre o pilar do respeito à dignidade da figura humana?
66
concedeu ex officio a antecipação da tutela específica, na sentença e contra a Fazenda
Pública, determinado, ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Rio
Grande do Norte – IPE, a inscrição da parte autora como beneficiária da parte segurada
falecida, vejamos:
“Desse modo, estando a decisão fundamentada (CR/1988, art. 93, IX e CPC, art. 131),
pode o juiz sopesar o que diz a lei e escolher topicamente, dentro de uma pauta objetiva
de valores, qual, naquele momento, deve ser resguardado, não havendo aí nenhum tipo
de ilegalidade, pois o que se procura preservar é exatamente o ideal do justo, tão
perdido que está hoje em dia em meio a um emaranhado de textos normativos das mais
diversas matizes. (...)
Entendo que a tutela antecipada pode, casuisticamente, ser concedida de ofício, isto é,
sem a presença de requerimento expresso da parte (...)”
Não se pode perder de vista que o juiz ao interpretar as normas processuais deve estar
ciente de que a sua função é comprometida com o conteúdo do direito do seu momento
histórico. Não cabe a ele, assim, aplicar friamente a lei, quando esta possa conduzir a
resultados desvirtuados, seja porque não foi adequadamente elaborada, seja porque não
mais corresponde às necessidades sociais. O juiz que apreende o conteúdo do direito do
momento em que vive sabe reconhecer o texto de lei que não corresponde às
expectativas sociais e extrair da Constituição os elementos que lhe permitem decidir de
modo a fazer valer o conteúdo do direito do seu tempo.29
Se o próprio Código de Processo Civil, nos termos do artigo 461 do CPC, admite a
antecipação de ofício da tutela específica, para o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, não há que se criticar a concessão de ofício da tutela antecipada.
Nestes casos, a imparcialidade do juiz não resta abalada, como pensam alguns
processualistas mais tradicionais. Na verdade, o magistrado não estará tomando partido
em relação a esta ou aquela parte, ou mesmo indo de encontro ao princípio do impulso
oficial, mas, tão somente, atuando dentro dos limites do pedido de mérito da pretensão,
67
para concretizar um direito fundamental, que é o Direito a uma prestação Jurisdicional
efetiva. 30
3- Conclusão
68
É indispensável que se busque, cada vez mais, formas para se garantir e efetivar o
direito das pessoas. Nesse ponto, a demanda concretamente proposta e a tutela
jurisdicional prestada devem guardar real correspondência, a fim de que possam ser
obtidos resultados úteis a partir de modelos processuais que satisfaçam as garantias
constitucionais do processo e que propiciem a efetiva tutela dos direitos afirmados em
juízo.35
Para tanto, o jurista deve abstrair o positivismo das leis, escapando da frieza dos textos
legais, buscando uma correlação teleológica da Lei com seus concretos, pois com a
Constituição de 1988, não se pode mais conceber um sistema jurídico sem efetividade.
Para tanto, o jurista deve abstrair buscar interpretações, escapando da frieza dos textos
legais, buscando uma correlação teleológica da Lei com as situações concretas, pois
com a Constituição de 1988, não se pode mais conceber um sistema jurídico sem
efetividade.
69
2 Soares, op. cit., p. 18.
5 In Derecho y Proceso. Trad. Esp. De Santiago Sentis Melendo, p. 412 apud Câmara,
Alexandre. Lições de direito Processual Civil, Vol I, p. 2.
9 Freire, Eugênia. Limites Legais à Concessão de Tutela antecipada contra réu pessoa
jurídica de Direito Público. In Revista da Procuradoria do Estado de Sergipe. Vol II. p.
62. Dez/2002.
70
21 SOARES. op. cit., p. 29.
22 Vide sentença proferida pelo Juiz Federal Walter Nunes da Silva Junior - 2a Vara da
Seção Judiciária do RN. Processo nº 2000.84.00.005658-5 /RN.
26 Didier Jr. (Coord). Procedimentos Especiais Cíveis. São Paulo: Saraiva, 2003. p.
607.
33 Ibid., p. 30.
36 MARCATO, p. 830.
71