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MONTAGNER VIVE EM NOSSO OLHAR: A ARTE DE BENEDITO RUY BARBOSA E LUIZ

FERNANDO CARVALHO
A TV Globo é golpista, elitista, emburrecedora, etc. etc.
Mas mesmo um veículo conservador - como sempre foi essa emissora - porta lá suas contradições simbólicas.
Uma delas é Velho Chico.
O texto de Benedito, aliado à câmera criativa de Carvalho, estão propiciando um espetáculo raro na TV aberta:
trilha, imagem e conteúdo filmados sem a obviedade dos planos novelescos e a partir de um material incomum
em telenovelas: o drama social rivalizando em pé de igualdade com a estrutura do melodrama. Às margens de
um rio São Francisco mítico, assistimos o transbordar de uma violência subjetiva e material derivada da
estrutura coronelista de mando e obediência, essa estrutura que nos formou como nação e que nos definiu como
povo. É essa violência arcaica que faz com que as personagens, vivendo neste século XXI, tenham as cores, as
falas e até o figurino como que advindos de um passado distante. Vemos uma violência que se desdobra na
encenação cordelista do bem contra o mal, do vaqueiro contra o coronel, do amor proibido entre filhos da corte
e da plebe sertaneja, arranjados no chão material da oposição entre agricultura familiar (cooperativa) e
latifúndio (empresa). Contudo – não sejamos ingênuos – a conciliação de classes segue nos anestesiando diante
da realidade: a filha do fazendeiro se casará com o vaqueiro, assim como o herdeiro da fazenda desposará a
moça pobre do vilarejo, etc.
Mesmo assim, algo mais forte acontece aí: com a morte trágica de Domingos Montagner, Benedito e Carvalho
abriram uma solução poética extremamente impactante para os capítulos finais da novela: a câmera subjetiva a
partir da personagem Santo. A morte do ator que comoveu o país agora se transforma em uma possibilidade
única para que o telespectador alinhe seu olhar com a visão do vaqueiro. Por meio dessa câmera íntima, vemos
o que Santo vê, tentamos sentir o que ele sente na esfera familiar e nos conflitos sociais que estão ao seu redor.
Há um incômodo para o telespectador tradicional, pouco acostumado a esse efeito cinematográfico. Contudo, é
um incômodo que desacomoda: passamos a ter e a ser a visão daquele que se foi, daquele que representaria a
esperança do povo, do herói que haveria de vencer a injustiça e que, por mais que queiramos que ele vença ao
final, restabelecendo a ordem simbólica ao mundo, sabemos que ele é um fantasma, algo que não está mais lá,
algo que lateja como uma ferida irreparável dentro do nosso olhar.
Em tempos sombrios como esses que vivemos, a TV aberta dá aos milhões de lares brasileiros a imagem
fantasmática de uma visão sem corpo, como os tantos corpos de sertanejos, sem-terras, índios e pobres que
desapareceram no torvelinho da história brasileira. Embora não possamos dizer que seja algo revolucionário, ao
menos temos um alento progressista que surge da capacidade artística de um autor e um diretor com
sensibilidade capaz de driblar as formas esvaziadas do espetáculo midiático.

de um Brasil que se perde no tempo, como se o rio trouxesse sempre os remansos do passado explodem em
cores vibrantes às margens do Rio São Francisco deste nosso século XXI, como se as águas

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