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Monografia apresentada à
coordenação do Curso de
Bacharelado em Produção Cultural,
como cumprimento parcial das
exigências para conclusão do
curso.
Gostaria de agradecer aos meus pais, Antonio Cesar e Mônica, pelo apoio
incondicional e por todo o esforço e dedicação que tiveram para que eu
pudesse ter a melhor educação possível.
Agradeço às minhas irmãs, Raquel, Luiza e Luma, por me inspirarem todos
os dias e me motivarem a dar sempre o melhor de mim. Em especial à minha
irmã Raquel, por ser companheira e que, por acreditar em mim, sempre me
motiva a me esforçar cada vez mais.
Agradeço aos meus familiares por me acompanharem durante toda esta
trajetória e por todo o incentivo que me deram.
Obrigada também às amigas que fiz durante a faculdade: à Ana Clara, por
toda a confiança que me proporcionou e por me ensinar a sempre a enxergar
as questões de forma crítica; à Lethícia, por todo o apoio neste trabalho e na
faculdade, e por ser uma pessoa maravilhosa com quem eu sei que sempre
posso contar; à Maria Clara, pela paciência e incentivo nas horas difíceis; à
Taísa, pelas risadas e por ser uma amiga extremamente companheira, não
apenas na faculdade, mas também na vida em geral; e à Thainá, pelos
momentos de descontração e por tornar a faculdade uma experiência muito
mais divertida.
Obrigada às minhas amigas: Gabrielle, por nossa amizade de muitos anos,
por ser como uma irmã para mim e por sempre tentar me orientar durante toda
a minha trajetória; à Caroline, por me ajudar com seu carinho e otimismo, e por
continuar a me acompanhar mesmo após o colégio; e à Monique, pela
sabedoria, paciência e por ser um exemplo em que posso me espelhar.
Agradeço ao meu orientador, Tiago Monteiro, pelo apoio durante toda a
faculdade e, principalmente, na construção deste trabalho e por abraçar este
tema.
Por fim, obrigada a todos os meus professores do Curso de Bacharelado
em Produção Cultural do IFRJ pelo aprendizado, troca de experiências e por
me guiarem na minha vida, não apenas acadêmica como também profissional
e pessoal.
RESUMO
The present work aims to discuss superhero comic books considering the role
they play in reaffirming identities, and in the representation of minoritized
groups, specially women and the LGBTQ community. The purpose of this
research is also to comprehend in which ways these stories can act like means
of identity engagement – which is established when a person identifies with a
certain character or situation – and also as a social force. The methodology
used was based on the textual analysis of certain comic book stories; on a
bibliographical review, with emphasis in Douglas Kellner’s “Media Culture” and
in texts that study the comics in light of a sociological point of view; and, finally,
on the discussion of news reports about social movements directly linked to
superhero comic books. Thus, understanding that comic books address the
contexts in which they are created, it was possible to conclude that certain
superhero comics are adopted by minoritized groups in order to reassert their
identity and grant them greater visibility, also acting as support for several social
movements. Ultimately, we seek to emphasize the significance of comic books
as a field of study, being able to be perceived in light of different academic
approaches.
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
1. A SOCIOLOGIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ............................... 12
2. SUPER-HERÓIS DENTRO E FORA DOS QUADRINHOS .......................... 25
2.1 O papel do (super) herói ......................................................................... 25
2.2 Identidade e representatividade .............................................................. 30
3. PERSPECTIVA HISTÓRICO-SOCIAL SOBRE AS HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS ................................................................................................. 46
3.1 A história das histórias em quadrinhos de super-heróis.......................... 46
3.2 As histórias em quadrinhos de super-heróis como força social .............. 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 69
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 72
7
INTRODUÇÃO
8
https://www.tumblr.com
9
À semelhança do que a antropóloga Mirian Goldenberg orienta para questionários enviados pelo
correio (2004, p. 87).
9
Figura 1 – Capa de Superman, Vol 1 #12, 1941 Figura 2 – Capa de Superman, Vol 1 #17, 1942
11 12
Fonte: http://www.coverbrowser.com Fonte: http://www.coverbrowser.com
Além disso, não só o Super-Homem serviu como uma resposta dos EUA ao
avanço nazista e à ameaça de guerra, como também outros super-heróis dos
quadrinhos, como, por exemplo, o Capitão América (VIANA, 2005).
Isso é evidenciado em várias capas da HQ; “[...] entre 1942 e 1945
aproximadamente cinquenta por cento das capas dos títulos do Super-Homem
apresentavam a Segunda Guerra Mundial em destaque [...].” (MUNSON, 2012, p. 6,
tradução minha). A título de exemplo, temos uma edição de 1942 (SIEGEL et al.,
1942), onde o Super-Homem aparece carregando pelo pescoço Hitler e o Primeiro-
Ministro do Japão na época, Hideki Tojo (Figura 2), como se estivesse pronto para
golpeá-los e jogá-los dali de cima. Os dois líderes são mostrados com caras
amedrontadas, temendo a força do super-herói, que ali funciona como uma metáfora
para os próprios Estados Unidos.
De modo análogo, hoje em dia nós temos a personagem America Chavez,
uma super-heroína latina e lésbica, que começou como parte da equipe de super-
heróis adolescentes Teen Brigade (em 2011), para depois se tornar um membro da
11
Disponível em: <http://www.coverbrowser.com/image/superman/12-1.jpg>. Acesso em: 11 abr.
2017
12
Disponível em: <http://www.coverbrowser.com/image/superman/17-1.jpg>. Acesso em: 11 abr.
2017
17
13
Fonte: http://www.avclub.com
dos criadores. Uma vez que estas histórias lidam quase sempre com elementos
inexistentes no mundo real, temos então na superaventura uma atuação muito forte
e direta da imaginação e criatividade, as quais estão ligadas (não exclusivamente)
ao nosso inconsciente. E o que o inconsciente manifesta é muito difícil de controlar
e, muitas vezes, nos parece imperceptível.
Segundo Freud (1975), conforme citado por Viana (2005), o inconsciente é o
âmbito onde se encontram nossos desejos reprimidos, fruto da repressão da
sociedade. Isto se dá tanto em uma esfera individual quanto coletiva – o
inconsciente individual e o coletivo –, e ambos se manifestam em nossas produções
culturais. Assim, temos que “[...] o inconsciente coletivo é expressão de um desejo
reprimido socialmente que atinge o conjunto da sociedade ou então grupos sociais
no seu interior.” (VIANA, 2005, p. 59)
Em uma sociedade na qual é comum e esperado o enclausuramento dos
indivíduos em escritórios, rodeados por burocracia e sofrendo a repressão da
sociedade e do próprio sistema capitalista, não é surpreendente que o desejo
reprimido por liberdade seja comum em todo o coletivo. Tais desejos reprimidos se
manifestam nas histórias de super-heróis, em grande parte devido aos elementos
fantásticos presentes em sua narrativa, elementos esses que atraem uma grande
quantidade de leitores, principalmente os jovens. Através das histórias, o leitor entra
em contato com esses desejos reprimidos, que costumam encontrar-se somente em
seu inconsciente individual e coletivo, e conseguem satisfazê-los pelo menos um
pouco. A partir do exposto, podemos então afirmar que:
O processo de criação da superaventura é um processo consciente no qual
o criador envia uma mensagem na maioria das vezes axiológica. Porém,
nenhuma produção cultural é somente consciente e junto com o processo
consciente caminha o processo inconsciente. No caso da ficção isto é ainda
mais forte. Na superaventura a imaginação ganha autonomia na narrativa e
isto permite uma manifestação mais forte do inconsciente. Porém, além do
inconsciente individual derivado da repressão individual que se manifesta
em cada obra individual, também se manifesta o inconsciente coletivo,
derivado da repressão coletiva. (VIANA, 2005, p. 61)
14
Fonte: http://readcomiconline.to
Nas Figuras 5 e 6, encontramos imagens que, à primeira vista podem parecer
ter o mesmo significado e transmitir a mesma mensagem, mas as duas foram
elaboradas em épocas diferentes e devem ser analisadas à luz dos contextos em
que surgiram. A primeira imagem consiste na capa do primeiro quadrinho do Capitão
América (KIRBY; SIMON, 1941a), e constitui uma das cenas mais famosas da
personagem, na qual ele aparece dando um soco na cara de Hitler, apresentando-se
como uma metáfora para a superioridade dos Estados Unidos em relação à
Alemanha.
14
Disponível em: < http://readcomiconline.to/Comic/Captain-America-Comics/Issue-2?id=37362#18>.
Acesso em 12 abr. 2017
22
15
Fonte: https://comicvine.gamespot.com
16
Fonte: http://fusion.net
15
Disponível em: <https://comicvine.gamespot.com/captain-america-comics-1-meet-captain-
america/4000-107870/>. Acesso em 11 abr. 2017
16
Disponível em : <http://fusion.net/america-chavez-marvels-first-queer-latina-superhero-i-
1793858930>. Acesso em 11 abr. 2017
23
17
É importante comentar aqui que o quadrinho do Capitão América em questão não pode ser
reduzido apenas à representação da supremacia dos EUA na Segunda Guerra Mundial, mas também
como uma forma dos autores – imigrantes judeus – de se posicionarem em relação à situação que os
afetava diretamente. Sendo assim, essa edição se constitui como uma propaganda ideológica por
conta do uso que lhe é empregado, porém o quadrinho e a própria personagem do Capitão América
também podem ser interpretados a partir de um viés social.
24
vão, então, lidar com grandes problemas humanos, comuns a quase todos,
principalmente no que se refere a questões morais que surgem ao longo de nossas
vidas. Sendo assim, os mitos possuem uma função intrinsecamente pedagógica
(CAMPBELL, 1990, p. 45).
As mitologias tratam de questões atemporais relativas ao ser humano, mas
cada uma delas é produzida de acordo com suas épocas e contextos específicos.
Os mitos, apesar de tratarem de temas que podem ser aplicados às nossas vidas
hoje em dia, são histórias em que é possível observarmos a influência de uma
cultura e época específicas. O mesmo ocorre com os quadrinhos de super-heróis
hoje em dia, nos quais os super-heróis configuram uma mitologia moderna,
relacionada às épocas e contextos em que são criados, utilizando-se de seres
extraordinários e de uma abordagem moderna para tratar de questões atuais, e por
vezes, até atemporais.
A figura do herói é aquela que representa justiça, bondade, coragem,
esperança, perseverança. Heróis são aqueles capazes de grandes feitos, em quem
nos espelhamos e a quem aspiramos ser, por carregarem valores e características
que estimamos. Por conta disso, a personagem do herói exerce grande poder e
influência sobre seus leitores, principalmente os mais jovens. Nós reconhecemos e
admiramos tais qualidades nessas figuras e nos identificamos com essas
personagens, na medida em que representam o poder de lutar a favor de seus
ideais e contra as forças opressoras, sejam elas quais forem. A identificação com o
super-herói, então, também surge devido a essa condição, na qual o leitor que se
sente oprimido pela sociedade se vê como impotente para mudar a condição de sua
própria opressão e enxerga, na figura do super-herói, uma força libertadora, capaz
de lutar contra a opressão e em sua defesa, alguém que fará “justiça em seu nome”.
Marny (1970, apud CHAGAS, 2008, p. 159) afirma que “[o]s homens têm uma
necessidade interior de heróis” e, apesar dessa constatação ser correta em
determinado aspecto, tal necessidade não é inerente ao indivíduo, mas sim, uma
necessidade socialmente construída, produzida a partir do momento em que o
indivíduo é introduzido na sociedade, resultado da opressão de um grupo dominante
sobre outro, oprimido.
Na época da Segunda Guerra Mundial, o Capitão América representava –
além da superioridade dos Estados Unidos, na visão da editora – a luta contra a
opressão do nazismo e o que este defendia. O super-herói foi criado como uma
27
personificação da liberdade que a luta contra esse mal traria e, por isso, era visto
como inspiração e ideal para muitos jovens na época (e até mesmo hoje em dia),
mas principalmente para aqueles que iam lutar na guerra. Para eles, o fato de existir
um super-herói tão admirado e que também lutava na guerra como eles, pelos
mesmos ideais que eles, além de gerar uma identificação importante, também lhes
dava a confiança e motivação para continuar lutando.
De acordo com os dados retirados do curso online Superhero Entertainments
(GORDON, 2016), entre os anos de 1941 e 1944, as vendas de quadrinhos
dobraram de 10 milhões para 20 milhões de cópias por mês, mesmo com a
escassez de papel. Além disso, nos campos de treinamento militar, 44% dos
homens liam histórias em quadrinhos regularmente, e 13% liam ocasionalmente.
Sendo assim, os soldados estadunidenses compunham boa parcela do público leitor
desse produto e, para muitos que estavam servindo, a experiência de guerra incluía
constantemente essas histórias em quadrinhos.
Exatamente por conta da influência dos super-heróis, como já mencionado,
frequentemente essas histórias são utilizadas para tratar de questões que
enfrentamos ao longo da vida (da mesma forma que os mitos), muitas vezes
relacionadas à moral, ao bem versus o mal, e outras que seguem a mesma linha.
Por exemplo, as histórias do Homem-Aranha lidam com questões como o poder e
responsabilidade, enquanto as da America Chavez tratam de questões como ser
mulher, latina e lésbica na sociedade de hoje.
Mas por que utilizamos metáforas como essas mitologias (modernas e
antigas), com elementos e seres fantásticos, como os super-heróis, para nos ensinar
e tratar de questões consideradas comuns? Isso se dá por ser mais fácil os leitores
se conectarem com as histórias que estão sendo contadas através da inserção
desses elementos extraordinários. Assim, com esses elementos, essa conexão se
dá muitas vezes sem o conhecimento total do leitor, o que torna a identificação com
a personagem e o engajamento com a história muito mais enraizados, além de fazer
com que a narrativa fique mais atrativa para o seu público. Pode não parecer, mas é
mais fácil e agradável para o público assimilar esse tipo de história do que aquelas
que tratam diretamente dos problemas e questões que enfrentamos na sociedade,
sem nenhum tipo de elemento atenuante. E isso não é relativo apenas ao público
infantil:
28
branco, rico, bonito e inteligente, que tinha a solução para tudo e quase sempre
conseguia o que queria. Para os dias de hoje, esse tipo de história pode não
impressionar tanto assim, mas para a época, a discussão de um tema como esse
nos quadrinhos, e de uma forma tão mais incisiva do que os leitores estavam
acostumados, foi uma inovação e representou uma mudança na forma como os
super-heróis eram retratados.
18
Fonte: http://www.coverbrowser.com
18
Disponível em : <http://www.coverbrowser.com/image/iron-man/128-1.jpg>. Acesso em 9 mai. 2017
30
todas as pessoas são heterossexuais “por natureza”. Isto é, quando uma nova
personagem é introduzida, mesmo que não haja nenhuma indicação de sua
orientação sexual, normalmente supõe-se que ela seja heterossexual, o que, além
de nem sempre ser verdade, também contribui para o apagamento da comunidade
LGBTQ na mídia e fora dela.
O momento em que David revela ser bissexual é muito significativo pela forma
como isso se dá e como é explicado. Em um dos quadrinhos, David beija Teddy, que
fica muito confuso com a situação, pois não imaginava que David não fosse
heterossexual. Na página da HQ apresentada abaixo (Figura 8), Teddy o está
questionando quanto a isso, ao perguntar desde quando que ele é gay, e David
responde: “Eu sou bi. Nunca disse isso em voz alta.” (GILLEN; MCKELVIE, 2013a,
p. 8, tradução minha).
25
Fonte: http://readcomiconline.to
25
Disponível em: <http://readcomiconline.to/Comic/Young-Avengers-2013/Issue-9?id=2624#8>.
Acesso em 13 jul. 2017
26
De acordo com o relatório anual sobre inclusão LGBTQ elaborado pelo GLAAD (Gay & Lesbian
Alliance Against Defamation) (2017), dos 278 personagens LGBTQ regulares e recorrentes nas séries
atuais dos canais de TV abertos, pagos e de serviços de streaming nos EUA, apenas 30% são
bissexuais (83 personagens), em comparação à quantidade de personagens gays, 41% (115
personagens).
37
27
De acordo com o relatório anual sobre inclusão LGBTQ elaborado pelo GLAAD (Gay & Lesbian
Alliance Against Defamation) (2017), dos 83 personagens bissexuais regulares e recorrentes nas
séries atuais dos canais de TV abertos, pagos e de serviços de streaming nos EUA, 77% são
mulheres (64 personagens), em comparação com apenas 19 personagens homens, cerca de 23%.
28
Segundo a autora e militante da causa bissexual, Robyn Ochs (GLAAD, 2015, tradução minha), “[o]
apagamento bissexual ou invisibilidade bissexual é um problema frequente no qual a existência ou
legitimidade da bissexualidade (tanto em geral quanto em relação ao indivíduo) é questionada ou
completamente negada.”.
29
A bissexualidade é frequentemente considerada uma fase de transição para uma orientação gay ou
lésbica estável, e não uma orientação válida por si só. (SAN FRANCISCO HUMAN RIGHTS
COMMISSION, 2011)
30
"De acordo com diversos estudos, pessoas que se identificam como bissexuais compõem a maior
parte da população LGBT nos EUA. Os bissexuais vivenciam altas taxas de discriminação,
demonização, são ignorados ou tratados como invisíveis tanto pelo mundo heterossexual quanto as
comunidades lésbicas e gays. Por vezes, sua orientação sexual é considerada como inválida, imoral
ou irrelevante." (GOODE, 2011, tradução minha)
38
31
"A bissexualidade descreve qualquer um cuja atração não se limita a apenas um sexo. O termo
vem da ciência e descreve uma pessoa com atração tanto homossexual (pelo mesmo sexo) e
heterossexual (pelo sexo oposto). É uma palavra abrangente e inclusiva que descreve um grupo
diverso de pessoas com uma grande variedade de experiências com atrações pelo mesmo sexo e
pelo sexo oposto. Como termo científico, o bissexual não é só uma classificação identitária, também é
uma orientação sexual que pode descrever uma série de comportamentos. " (BISEXUAL.ORG, 2013,
tradução minha) As pessoas que se identificam como pansexuais buscam deixar claro que sentem
atração por todos os gêneros, independente de noções tradicionais de masculino e feminino,
incluindo transexuais, genderqueers e outras identidades. Como a bissexualidade é a atração por
mais de um gênero, a pansexualidade também é considerada uma identidade bissexual.
39
vocês. Existem atos sexuais, e é isso.” (GILLEN; MCKELVIE, 2014, p. 12, tradução
minha), (Figura 9).
Ao dizer isso, Loki está indo contra a tendência da nossa sociedade de
enclausurar qualquer tipo de identidade (seja ela sexual, de gênero, ou outra) em
padrões preconcebidos. No entendimento moderno da sexualidade, isso daria
abertura para a leitura de que ele é bissexual/pansexual, o que vai ser confirmado
pelo autor Al Ewing na revista solo de Loki, Agente de Asgard (2014-2015). Isso foi
confirmado pelo autor antes mesmo do quadrinho ser lançado, em resposta à
pergunta de uma fã na rede social Tumblr: “Sim, o Loki é bi e eu vou focar nesse
assunto. Ele também vai mudar ocasionalmente de gênero.” (EWING apud ASHER-
PERRIN, 2014, tradução minha)
32
Fonte: http://readcomiconline.to
32
Disponível em: < http://readcomiconline.to/Comic/Young-Avengers-2013/Issue-15?id=2614#11>.
Acesso em 13 jul. 2017
40
33
Fonte: http://view-comic.com/
Em outro ponto de Pecado Original, Odin, ao se referir aos seus filhos – Thor,
Loki e Angela –, diz: “Meus filhos. Meu filho e minha filha e minha criança que é
ambos.” (EWING et al., 2014b, p. 18, tradução minha) (Figura 11). A forma como
eles se referem a Loki, tanto seu pai quanto seu irmão, é muito importante, pois o
modo de se referir a uma pessoa demonstra o seu reconhecimento ou não da
identidade dela, a aceitação de quem ela é.
33
Disponível em: < http://view-comic.com/original-sin-thor-loki-004-2014/>. Acesso em 17 jul. 2017
42
34
Fonte: http://view-comic.com/
34
Disponível em: < http://view-comic.com/original-sin-thor-loki-005-2014/>. Acesso em 17 jul. 2017
43
35
Fonte: http://readcomiconline.to/
Isso quer dizer que Loki considera ambas as formas (masculina e feminina)
como parte de sua identidade e mudar sua aparência para um corpo feminino não
demanda muito do seu poder, pois não está se transformando em algo que seja
“fora de sua realidade”, visto que essa é uma das formas como se enxerga e se
identifica.
Por último, em Loki: Agente de Asgard, o autor-narrador sempre faz uma
recapitulação no início de cada nova edição do quadrinho. Na recapitulação da
edição 16, ele se refere à Loki como “Deusa das Histórias” (EWING; GARBETT,
2015a, p. 2, tradução minha), pois no final da anterior ela apresentava a aparência
de uma mulher. Já na recapitulação da edição 17, o autor-narrador refere-se a Loki
no masculino, como “Deus das Histórias” (EWING; GARBETT, 2015b, p. 2, tradução
35
Disponível em: < http://readcomiconline.to/Comic/Loki-Agent-of-Asgard/Issue-5?id=11901#11>.
Acesso em 19 jul. 2017
44
Figura 13 – Figura 14 –
Página de Loki: Agent of Asgard, Vol. 1 #16, 2015 Página de Loki: Agent of Asgard, Vol. 1 #17, 2015
36 37
Fonte: http://readcomiconline.to/ Fonte: http://readcomiconline.to/
36
Disponível em: < http://readcomiconline.to/Comic/Loki-Agent-of-Asgard/Issue-16?id=11892#2>.
Acesso em 19 jul. 2017
37
Disponível em: < http://readcomiconline.to/Comic/Loki-Agent-of-Asgard/Issue-17?id=11894#2>.
Acesso em 19 jul. 2017
38
Cabe destacar que o uso do termo “grupos minoritários” neste trecho é apenas para respeitar a
construção original do autor, visto que ao longo deste trabalho optou-se pelo uso do termo “grupos
minorizados”.
45
reconhecer, se identificar com e humanizar um grupo com o qual ele pode não
interagir no seu dia a dia.” (CRUZ, 2014, tradução minha).
Hoje em dia, é possível termos histórias em quadrinhos como as dos Jovens
Vingadores, Loki e muitas outras, pois elas estão inseridas em um contexto em que
determinadas discussões estão em pauta, e o entendimento de questões como
identidade, gênero, sexualidade, etc., é muito mais amplo. Mas, em outras épocas,
os quadrinhos também foram veículos de outras discussões pertinentes
relacionadas aos contextos nos quais foram criados, o que será abordado no
próximo capítulo.
46
39
Segundo o pesquisador Ken Quattro (2004), o primeiro uso de que se tem conhecimento do termo
“Era de Ouro” foi pelo autor Richard A. Lupoff, em seu artigo “Re-Birth”, de 1960.
48
40
Fonte: https://www.mycomicshop.com/
40
Disponível em: < https://www.mycomicshop.com/search?maxyr=1949&TID=200461>. Acesso em
15 nov. 2017
49
41
Fonte: https://www.mycomicshop.com/
41
Disponível em: < https://www.mycomicshop.com/search?maxyr=1949&TID=200461>. Acesso em
15 nov. 2017
50
42
Fonte: https://www.mycomicshop.com
42
Disponível em: < https://www.mycomicshop.com/search?maxyr=1959&tid=200461&pgi=51>.
Acesso em 15 nov. 2017
51
43
Segundo o historiador de quadrinhos Michael Uslan (2015), o início do uso do termo Era de Prata
pode ser definido a partir de uma carta de fã publicada na revista Justice League of America #42,
onde ele relaciona o relançamento de diversos heróis da época com seus correspondentes da Era
anterior.
53
Figura 23 –
Página da HQ Uncanny X-Men,Vol. 1 #8, de Novembro de 1964
44
Fonte: http://readcomiconline.to
44
Disponível em: < http://readcomiconline.to/Comic/Uncanny-X-Men-1963/Issue-8?id=23297#6>.
Acesso em 20 nov. 2017
55
herói. “Eram sempre esteticamente belas, doces, sensuais, porém com uma aura de
pureza, o alívio em meio à feiura e o caos." (FRANCO, 2017). Ainda nessa Era,
surge a imagem da figura feminina enquanto personagem sensual e perigosa, que
se utiliza da sua aparência para conseguir o que quer, as chamadas femme fatales
(FRANCO, 2017).
Dentro desse contexto, é necessário conceder uma atenção especial à
personagem da Mulher-Maravilha, a qual rompia com diversos dos estereótipos
femininos predominantes na época. Tal construção é devida, em grande parte, à
visão de seu criador sobre a figura feminina. Para ele, a Mulher-Maravilha se
apresentava como um símbolo positivo de força e capacidade feminina necessária
às jovens daquele período. Por esses motivos, em 1972, a personagem foi escolhida
para ser capa da primeira edição da revista Ms. (Figura 24), uma publicação
feminista que continha diversas ideias progressistas para época. Porém, com a
morte do criador da Mulher-Maravilha e o final da Segunda Guerra Mundial, esse
viés feminista perde um pouco de sua força dentro das narrativas das suas HQ’s;
suas histórias passam a apresentar tramas mais românticas, destoando do tom de
aventura utilizado anteriormente.
Figura 24 – Figura 25 –
Capa da revista Ms., onde se lê “Mulher-Maravilha Capa comemorativa da edição de 40 anos
para Presidente”, de 1972 da revista Ms.,de 2012.
45
Fonte: http://msmagazine.com
45
Disponível em: < http://msmagazine.com/blog/2012/10/01/ms-turns-40-and-wonder-womans-back-
on-our-cover/>. Acesso em 13 dez. 2017
61
Figura 26 –
Capa da HQ New Teen Titans, Vol 1 #23, 1982
46
Fonte: https://www.mycomicshop.com
46
Disponível em: < https://www.mycomicshop.com/search?SeriesID=5541>. Acesso em 13 dez. 2017
63
um símbolo e extrai a sua força do fato de que tal símbolo deve obedecer
estritamente ao que se quer representado. (NOGUEIRA, 2010, p. 13)
47
http://thehawkeyeinitiative.com/
64
48
Fonte: http://thehawkeyeinitiative.com
49
Fonte: http://thehawkeyeinitiative.com
48
Disponível em: < http://thehawkeyeinitiative.com/origins>. Acesso em 13 dez. 2017
49
Disponível em: < http://thehawkeyeinitiative.com/post/138854685748/haru-mi-fix-the-pose>. Acesso
em 13 dez. 2017
65
Figura 29 –
Capa alternativa da HQ Invincible Iron Man, Vol 3 #1, 2016
50
Fonte: https://www.dailydot.com
50
Disponível em: < https://www.dailydot.com/parsec/riri-williams-variant-cover-iron-man-campbell-
controversy/ >. Acesso em 13 dez. 2017
66
seu trabalho, defendendo que sua ilustração não apresentava uma visão
hipersexualizada da personagem. Porém, em uma nova capa alternativa, feita para a
segunda edição da HQ, o artista retrata a personagem de forma diferente, com uma
aparência mais compatível com sua idade (Figura 30). Logo, essa organização do
público ao reivindicar uma representação menos sexualizada e mais realista da
personagem surtiu efeito, visto que:
[...] o fluxo de influências que existe entre consumidores e mercado é
recíproco, ainda que em instâncias e abrangências diferenciadas. O que
torna a mídia popular, não só um produto com objetivo de vender, mas algo
que traga uma significação e uma identificação para quem compra. Os
super-heróis só têm a fama que têm, porque estão o tempo todo sendo
reinventados de forma a corresponder às expectativas de quem os lê.
(CHAGAS, 2008, p. 151)
Figura 30 –
Capa alternativa da HQ Invincible Iron Man, Vol 3 #2, 2016
51
Fonte: https://comicvine.gamespot.com
51
Disponível em: < https://comicvine.gamespot.com/invincible-iron-man-2/4000-569333/ >. Acesso
em 13 dez. 2017
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Figura 31 –
Capa da HQ Mockingbird, Vol 1 #8, 2016
52
Fonte: https://comicvine.gamespot.com
52
Disponível em: < https://comicvine.gamespot.com/mockingbird-8/4000-553962/ >. Acesso em 13
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