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Análise I 3
1. Apresentação 4
2. Introdução 5
2.1 O que é uma demonstração matemática? 5
2.2 Diferenças entre axioma, definição e teorema? 8
2.3 Por que axiomatizar 10
2.4 Por que construir? 10
3. O que é Análise? 12
3.1 A Análise na formação de professores 12
3.2 Um pouco de história 13
3.3 Organizando as ideias 16
3.4 Verdadeiro ou Falso? 18
3.5 Teoremas e Demonstrações 20
3.6 Métodos de Demonstração 21
4. Conjuntos e Funções 25
4.1 Noções de conjuntos 25
4.2 Inclusão de conjuntos. 29
4.3 Igualdade entre conjuntos. 29
4.4 Vazio, partes, união e intersecção 30
4.5 Produto cartesiano 32
4.6 Funções 33
5. Os Números Naturais 38
6. Números Inteiros 48
6.1 O conjunto dos números inteiros 49
6.2 Construção dos números inteiros 50
7. Números Racionais 54
7.1 Construção dos números racionais 55
8. Grandezas incomensuráveis 64
8.1 Números irracionais 64
8.2 Representação geométrica dos números irracionais 65
√
8.3 Provando que 2 é um número racional 68
9. Cardinalidade 74
9.1 Introdução 74
9.2 Conjuntos finitos e infinitos enumeráveis 74
9.3 Conjuntos não enumeráveis 79
10. Algumas propriedades dos números reais 82
10.1 Supremo e Ínfimo 84
ANÁLISE I
Fernando Kennedy da Silva
Análise I
3
Apresentação
Caros Discentes,
4
Introdução
O que são os números reais? O que significa uma função ser contınua?
O que é limite de uma função ou de uma sequência?
Muitas perguntas como essas não são respondidas adequadamente
nos cursos de Matemática do Ensino Básico, e até mesmo no inıcio do
Ensino Superior. Mas as perguntas acima são particularmente negligen-
ciadas. Não necessariamente por falha dos professores e autores de livros
didáticos, mas porque de fato a complexidade das respostas vão muito
além do que parece. Enquanto os conceitos dos números naturais, intei-
ros e racionais são bem intuitivos e não muito difıceis de compreender, a
passagem dos números naturais para os números reais é bastante sutil.
Quando os livros falam da existência de números que não são racionais,
já pressupõem a existência de um conjunto maior, e jamais explicam
claramente que conjunto é esse. Na Universidade, quando em um curso
de Cálculo começa a se falar de limite, continuidade, derivada e integral,
os problemas de imprecisão de linguagem aumentam ainda mais. As
definições e argumentos se baseiam em uma noção vaga e não definida
de “proximidade”.
A disciplina de Análise é considerada um divisor de águas em qual-
quer curso de Matemática – seja Licenciatura, Bacharelado ou Matemá-
tica Aplicada – pois é justamente o momento em que nos desprendemos
desses conceitos vagos e imprecisos e começamos a aprender a enxergar
a Matemática e escrevê-la na maneira como os fazem os matemáticos
profissionais. Em um Curso de Bacharelado, é imprescindıvel para que
os alunos aprendam a escrever dissertações, teses e artigos acadêmicos.
Em um Curso de Licenciatura, é imprescindıvel para que os futuros pro-
fessores aprendam a usar a linguagem matemática da maneira correta.
5
para determinar quando uma sequência de símbolos é uma fórmula (o
equivalente a frase, na linguagem natural) e quando uma sequência de
fórmulas é uma demonstração correta. Essas regras são totalmente livres
de ambiguidades ou de interpretações intuitivas, de modo que é possıvel
criar um programa de computador que identifica se uma demonstração
está correta ou não.
No entanto, uma demonstração matemática completa no sentido da
lógica costuma ser tão longa que se torna inviável para demonstrar qual-
quer resultado um pouco mais complexo. Dessa forma, o conceito lógico
de demonstração matemática tem importância teórica e serve como refe-
rência para os matemáticos saberem que argumento é aceitável ou não.
Mas as demonstrações matemáticas que encontramos em livros e artigos
não são feitas baseadas estritamente em um sistema formal. Tem-se, sim,
como princípio, que uma demonstração matemática correta é aquela que
pode ser formalizada em um sistema lógico, desde que você tenha tempo
suficiente para fazê-lo, mas isso é ainda uma ideia intuitiva.
Então, o conceito de demonstração matemática, usada na prática,
é subjetivo e varia de disciplina a disciplina, o que tentarei responder
aqui é a seguinte pergunta: o que é uma demonstração matemática cor-
reta em um Curso de Análise?. Em outras palavras, tentarei aqui, à
medida do possível, responder à pergunta mais comum que ocorre na
disciplina de Análise e em outras em que se exige demonstrações razo-
avelmente rigorosas: quais argumentos são permitidos em uma demons-
tração?. Começamos, então, com uma lista do que podemos assumir em
uma demonstração no Curso de Análise.
6
• Teoria ingênua dos conjuntos. Não sendo este um Curso de
Teoria dos Conjuntos, não precisamos definir e provar fatos bási-
cos sobre teoria dos conjuntos. Por exemplo: podemos assumir
a existência de pares ordenados, produto cartesiano e de outros
conjuntos, sem provar. Todavia, o uso da notação conjuntística
deve ser feito com cautela. O Capítulo 4 descreve o que podemos
assumir de teoria dos conjuntos e estabelece uma notação padrão.
Prestem atenção nesse capítulo.
• Princípio da indução finita e Princípio da boa ordem. Es-
ses dois princípios, que são propriedades inerentes dos números
naturais provadas em Cursos de Álgebra e Teoria dos Conjuntos,
podem ser usadas sem provar. Faremos um pequena abordagem
sobre este tema no Capítulo 5.
• Argumentos já utilizados com frequência. À medida que os
resultados vão avançando e ficando mais complexos, fica inviável
escrever todos os detalhes de uma prova. Então, em provas e listas
de exercícios, sempre surge a seguinte pergunta: o que podemos as-
sumir do que já foi provado em aula ou em listas de exercícios?. É
difícil responder a essa pergunta de maneira precisa, pois deve pre-
valecer o bom senso. É razoável assumirmos tudo que foi provado
anteriormente ao que está sendo provado no momento. Também
é razoável que argumentos muito parecidos com outros utilizados
exaustivamente não precisam ser repetidos. Aí entra expressões do
tipo “é óbvio que”, “claramente vale”, etc. Essas expressões não
podem ser usadas quando uma afirmação que fazemos parece ver-
dadeira mas não conseguimos prová-la com detalhes. Essas expres-
sões devem ser usadas quando fazemos o mesmo argumento várias
vezes e assumimos que o leitor já esteja familiarizado com ele. Por-
tanto, em provas e listas de exercícios, a menos que seja explicitado
se pode ou não usar algum resultado, pode utilizar tudo que foi
provado em sala e em exercícios anteriores (mesmo que esse não
tenha sido resolvido). No caso do exercício pedir explicitamente
algo já provado nas aulas ou na apostila, o(a) aluno(a) poderá usar
os resultados anteriores a esse (novamente, salvo instrução contrá-
ria, permitindo ou proibindo o uso de algum resultado). Detalhes
poderão ser omitidos, contanto que sejam visivelmente mais fáceis
do que os que estão sendo apresentados, e que argumentos seme-
lhantes já tenham sido utilizados em listas ou provas anteriores.
7
definimos a partir desses (módulo, elemento oposto, elemento inverso,
as constantes 0 e 1, limite, etc.). Ou seja, para efeito de demonstra-
ção, as operações de + e · são vistas apenas como funções de R2 em
R, e a relação < como uma relação em R2 , sem quaisquer significados
intuitivos ou geométricos. Da mesma forma para os outros conceitos de-
finidos a partir desses. Uma demonstração deve se apoiar estritamente
nos axiomas e nas definições, e jamais depender de alguma interpretação
intuitiva desses símbolos e termos. Isso não significa que a intuição e
a visão geométrica sejam inúteis em um Curso de Análise. Muito pelo
contrário, a intuição é uma ferramenta indispensável para encontrarmos
a demonstração, e argumentos intuitivos podem ser apresentados (espe-
cialmente em um livro didático ou numa aula) para ilustrar a ideia da
demonstração. Apenas não pode ser utilizada como parte indispensável
da demonstração. Ou seja, a prova do resultado não pode depender de
afirmações que fizemos baseadas somente em argumentos intuitivos. Fa-
zendo uma analogia, é como um detetive que investiga um crime: pela
intuição ele pode descobrir que um suspeito está mentindo ou escon-
dendo alguma coisa, e isso pode guiá-lo às pistas certas na investigação.
Mas perante o juiz precisa apresentar provas, e não opiniões baseadas
em intuição, para conseguir a condenação do réu.
8
Como acontece com os axiomas, as definições não precisam ser pro-
vadas. Porém, a supressão de um axioma geralmente afeta toda a teoria,
enquanto uma definição, como já foi dito, apenas simplifica a linguagem
e a notação.
Os teoremas, por outro lado, são as proposições matemáticas que
provamos a partir dos axiomas (e das definições). Tecnicamente, tudo
que provamos em uma teoria é chamado de teorema, mas costumamos
usar algumas palavras para diferenciar os teoremas devido ao seu grau
de importância e papel no desenvolvimento de uma teoria. Assim, re-
servamos a palavra teorema apenas para os resultados mais importan-
tes. Costuma-se chamar de lemas aqueles resultados que provamos como
passo intermediário para provar um teorema. Temos ainda os corolários,
que são teoremas que seguem imediata ou facilmente de outro teorema.
A diferença entre axioma, definição e teorema depende do contexto,
porque uma mesma teoria pode ser formalizada de diferentes maneiras,
trocando esses conceitos. Por exemplo, o símbolo de desigualdade <
pode ser introduzido como um símbolo primitivo, e assim estabelece-
mos axiomas sobre essa relação. A partir daí definimos o que significa
um número ser positivo. Outros livros fazem o contrário: axiomatizam
o que significa um número real ser positivo e a partir daí definem a
desigualdade.
Teoremas e definições também frequentemente permutam de acordo
com a formalização que o autor escolhe. Um exemplo clássico em que
isso ocorre é na geometria vetorial no espaço. Alguns livros definem que
uma tripla de vetores no espaço é linearmente independente se não estão
contidos em um mesmo plano, e provam como teorema que uma tripla
é linearmente independente se, e somente se, a única combinação linear
entre eles que resulta no vetor nulo é tomando todos os coeficientes iguais
a zero. Outros livros fazem o contrário: definem uma tripla de vetores
como linearmente independente se a única combinação linear que resulta
no vetor nulo é a trivial, e provam que isso é equivalente aos vetores não
serem coplanares.
Também podemos introduzir uma teoria axiomática através de uma
definição, como fazemos quando definimos corpo ordenado completo a
partir de axiomas. Isso ocorre porque, na verdade, não estamos axioma-
tizando diretamente os números reais, mas o fazemos dentro do universo
da Teoria dos Conjuntos (explicar isso em mais detalhes apenas dá para
fazer em um Curso de Lógica ou Teoria dos Conjuntos).
O importante, no entanto, é identificar, pelo contexto que o curso
segue, o que precisa ser provado e o que está sendo assumido como
verdadeiro (seja por ser um axioma ou uma definição, ou por ser um
teorema já provado anteriormente).
Análise I
9
Por que axiomatizar
10
A construção dos números racionais é feita a partir dos números inteiros,
e a dos números inteiros a partir dos números naturais (o qual faremos
um breve estudo no Capítulo 5.
Análise I
11
O que é Análise?
12
Diante disso, a Análise objetiva o desenvolvimento do raciocínio al-
gébrico abstrato e a habilidade de compreender simbologias, nomencla-
turas, definições e teoremas; ou seja, fornece ao professor as ferramentas
necessárias para que este possa pesquisar, compreender e questionar o
que é dito nos livros.
O estudo da Análise está direcionado aos formalismos utilizados em
Matemática e às demonstrações dos resultados estudados nas disciplinas
de Cálculo. Elon Lages Lima, um importante matemático brasileiro,
autor de alguns dos principais livros desta área adotados em Cursos de
Matemática, diz que um livro de Matemática não deve ser lido como se
lê uma novela; no primeiro caso deve-se se ter lápis e papel na
mão para reescrever com suas próprias palavras cada definição
ou enunciado de teoremas.
Uma vez que o professor de Matemática tem conhecimento sobre os
teoremas e demonstrações, ele se sente mais seguro ao ensinar os conteú-
dos, pois assim ele tem certeza da veracidade do que será transmitido ao
aluno. Faltando tal conhecimento ao professor, o mesmo poderá se sentir
inseguro sobre o conteúdo e assim poderá omitir certas informações que
poderiam facilitar a explicação para a melhor compreensão por parte do
aluno, prejudicando o desenvolvimento intelectual do mesmo.
Um pouco de história
13
zero foi ignorada, durante milênios, por civilizações matematicamente
importantes como a dos gregos e dos egípcios.
A invenção do zero foi um passo decisivo para a consolidação do sis-
tema de numeração indo-arábico, devido à sua eficiência e funcionalidade
em relação aos demais sistemas de numeração. Sem o zero, tornaria se
impossível efetuar 385 × 908 usando os algarismos romanos.
Um marco importante na história dos números e da matemática se
deu no século VI a.C., na Escola Pitagórica. Em seus estudos, os pitagó-
ricos envolviam-se de um certo misticismo, pois acreditavam que existia
uma harmonia interna no mundo governada pelos números naturais.
Desde Pitágoras pensava-se que, dados dois segmentos de reta quais-
quer, AB e CD, seria sempre possível encontrar um terceiro segmento
EF , contido um número inteiro de vezes em AB e um número inteiro
de vezes em CD. Expressamos essa situação dizendo que EF é um
submúltiplo comum de AB e CD ou que AB e CD são comensuráveis.
Essa ideia nos permite comparar dois segmentos de reta da seguinte
AB
maneira: dados dois segmentos, AB e CD, dizer que a razão é
CD
m
o número racional , significa que existe um terceiro segmento EF ,
n
submúltiplo comum desses dois, satisfazendo: AB é m vezes EF e CD
é n vezes EF .
Era natural imaginar que, para dois segmentos AB e CD dados,
era sempre possível tomar EF suficientemente pequeno para caber um
número inteiro de vezes simultaneamente em AB e em CD. Para os
pitagóricos, dois segmentos de reta eram sempre comensuráveis, sendo,
portanto, os números naturais suficientes para expressar a razão entre
eles e, de modo mais geral, a relação entre grandezas da mesma natureza.
O reinado dos números naturais, na concepção pitagórica, foi profun-
damente abalado por uma descoberta originada no seio da própria comu-
nidade pitagórica e que se deu, em particular, numa figura geométrica
comum e de propriedades aparentemente simples, o quadrado. Trata-se
da incomensurabilidade entre a diagonal e o lado de um quadrado.
Essa situação só foi contornada através do matemático e astrônomo
ligado à Escola de Platão, Eudoxo de Cnidos (408 a.C – 355 a.C.), que
criou a Teoria das Proporções para tratar as grandezas incomensuráveis
através da Geometria, que apesar do progresso, contribuiu para a de-
saceleração do desenvolvimento da Aritmética e da Álgebra por muitos
séculos.
O coroamento da fundamentação matemática do conceito de nú-
mero ocorreu somente no final do século XIX, principalmente através
dos trabalhos propostos por Richard Dedekind (1831–1916), Georg Can-
tor (1845–1918) e Giuseppe Peano (1858–1932). Esses estudos foram
Análise I
14
conhecimento matemático adquirido a partir do Cálculo de Isaac Newton
(1643–1727) e Gottfried Leibniz (1646–1716), no século XVII.
É interessante estudar como o processo histórico da conceituação de
número assemelha-se à nossa própria formação desse conceito. Antes
de iniciarmos nossa vida escolar, admitimos os números naturais como
fruto do processo de contagem, da mesma forma que a humanidade os
admitiu até o século XIX. Entre os gregos da época de Euclides, números
eram os que hoje escrevemos como 2, 3, 4, 5 etc., ou seja, os números
naturais maiores do que 1. O próprio 1 era concebido como a unidade
básica a partir da qual os números, as quantidades, eram formadas. O
zero, como vimos, foi uma concepção já dos primeiros séculos da era
cristã, criada pelos hindus, para a numeração escrita. Para uma criança
aprendendo a contar, este ato só faz sentido a partir da quantidade
2, senão contar o quê? Ela só admite o zero depois de ter passado
alguns anos experimentando os números “de verdade”, isto é, contando
e adquirindo experiência, o que se dá no início de sua aprendizagem da
numeração escrita.
As frações eram admitidas pelos gregos não como números, mas como
razão entre números (2, 3, 4, etc.). Da mesma forma, os números nega-
tivos, inicialmente utilizados para expressar dívidas, débitos e grandezas
que são passiveis de serem medidas em sentidos opostos, só receberam
o status de números séculos após serem utilizados na matemática e em
suas aplicações. Aqui nota-se a semelhança com a nossa experiência
pessoal em Matemática.
A existência de grandezas incomensuráveis e a ausência de um tra-
tamento eficiente para expressá-las, isto é, o desconhecimento de uma
fundamentação teórica para o conceito de número real, não impediu o
progresso de ramos da matemática do século XVI ao século XIX. No
entanto, a complexidade dessa matemática conduziu a problemas para
cuja compreensão e solução o entendimento intuitivo não era suficiente.
É mais ou menos deste modo que formamos o nosso conceito de número
real: apesar de ouvirmos falar de números reais desde o Ensino Fun-
damental, concretamente só trabalhamos com números racionais. Isso
ocorre até mesmo no Ensino Superior.
Os números complexos apareceram no estudo de equações, no sé-
culo XVI, com o matemático italiano Girolamo Cardano (1501–1576),
mas também só adquiriram o status de número a partir de suas repre-
sentações geométricas, dadas no século XVIII pelos matemáticos Carl
Friedrich Gauss (1777–1855) e Jean Robert Argand (1768–1822) e da
sua álgebra, apresentada por W. R. Hamilton em 1833, na qual eles
eram definidos como pares ordenados de números reais. Estes, por sua
vez, foram construídos rigorosamente a partir dos racionais, décadas de-
Análise I
15
plicado concebermos os complexos. No entanto, o conceito rigoroso de
número real só se aborda no Curso de Análise. Isso, porém, é feito de
forma axiomática, isto é, o conjunto dos números reais é admitido por
axioma como um corpo ordenado completo, e não construído a partir
dos racionais, como deve ser feito.
Por fim, os números racionais podem ser construídos rigorosamente a
partir dos números inteiros e esses a partir dos naturais. Mas, e os núme-
ros naturais, os primeiros que são admitidos pela nossa intuição? Assim
se perguntaram alguns matemáticos do século XIX, na busca de com-
pletar o conceito matematicamente rigoroso de número. Eles podem ser
construídos a partir da Teoria dos Conjuntos ou podem ser apresentados
através de axiomas, como fez George Peano, em 1889.
Por fim, este curso pretende apresentar os conjuntos numéricos numa
ordem logicamente coerente – naturais, inteiros, racionais e reais – pas-
sando a limpo a conflituosa ordem histórica apresentada.
Organizando as ideias
16
1 1
falsa basta tomar a = e checar quer ( )2 = 1/4 não é maior do que
2 2
1
como a sentença afirrma. Em ambos os casos temos verificado que
2
as proposições (b) e (e) são falsas apresentando casos particulares onde
as mesmas deixam de valer. Estes casos particulares são chamados de
contraexemplos e são muito úteis para verificar a falsidade de algumas
proposições.
Notemos que as proposições (d) e (e) são do tipo:
Se P , então Q,
Se P , então Q, ou P implica Q,
17
Tabela 3.1: Recíproca de uma proposição.
Verdadeiro ou Falso?
Uma das coisas que distingue a Matemática das demais ciências na-
turais é o fato de que um tema de Matemática é discutido utilizando-se
Análise I
18
vez comprovada sua veracidade, é aceita como verdade irrefutável e per-
manecerá assim através dos séculos. Por exemplo, até hoje usamos o
Teorema de Tales do mesmo modo que foi usado antes de Cristo e este
fato continuará valendo eternamente. Uma proposição matemática ou é
verdadeira ou é falsa e permanecerá assim para sempre.
Mas como saber se uma proposição é verdadeira ou falsa? A primeira
coisa que devemos fazer é tomar muito cuidado. As aparências enganam
ou, como diziam nossos avós, nem tudo que reluz é ouro.
Vamos analisar agora um fato aparentemente óbvio.
Pergunta: Num campeonato de futebol onde cada time joga a
mesma quantidade de jogos, cada vitória vale três pontos, o empate vale
um ponto e a derrota nenhum ponto. Em caso de empate, o critério
de desempate entre as equipes era o seguinte:
d1 + e1 + v 1 = d2 + e2 + v 2 (3.1)
Por outro lado, note que o número de pontos obtidos pela equipe A
é e1 + 3v1 . Do mesmo modo, o número de pontos obtidos pela equipe B
é igual a e2 + 3v2 . Como as duas empataram, temos que:
Análise I
e1 + 3v1 = e2 + 3v2 .
19
Ou ainda,
3(v1 − v2 ) = e2 − e1
ou
e2 − e1
v2 − v1 = − .
3
Como v1 − v2 > 0, temos que e2 − e1 > 0. Reescrevendo a equação
3.1, temos que:
e2 − e1 2
d1 − d2 = e2 − e1 + (v2 − v1 ) = e2 − e1 − = (e2 − e1 ).
3 3
Logo, temos que d1 −d2 > 0, pois e2 −e1 > 0. Isso significa que A teve
mais derrotas que B; logo, qualquer um dos dois critérios de desempate
usado nos leva à equipe vencedora.
Assim, como este exemplo mostra, ao depararmos com um problema
em Matemática, devemos ter cuidado ao tirar conclusões apressadas para
evitar que cometamos algum engano. Pode acontecer que uma situação
que é claramente falsa para um observador menos atento, se mostre
verdadeira quando fazemos uma análise mais criteriosa.
Teoremas e Demonstrações
20
Figura 3.1: Figura auxiliar para a demonstração do Teorema de Pitágoras
Métodos de Demonstração
• Demonstração direta.
• Demonstração por contraposição.
• Demonstração por redução ao absurdo.
Demonstração Direta
21
Q, o qual é um quadrado visto que cada um dos seus lados coincide com a
hipotenusa c dos triângulos retângulos de catetos a e b e, além disso, cada
um dos seus ângulos internos mede γ = 1800 −(α−β) = 1800 −900 = 900
(veja a Figura 3.1).
Portanto,
ab
(a + b)2 = 4 · + c2 ,
2
de onde
a2 + 2ab + b2 = 2ab + c2 ,
e consequentemente
a2 + b2 = c2 ,
como queríamos.
• Hipótese: N 2 é par.
• Tese: N é par.
N2 4 16 36 64 100 144
N 2 4 6 8 10 12
22
Proposição 3.5. Se N não é par, então N 2 não é par.
Neste caso, temos:
N2 = (2p + 1)(2p + 1)
= 4p2 + 2p + 2p + 1
= 4p2 + 4p + 1
= 2(2p2 + 2p) + 1
= 2q + 1
x
Destaquemos primeiramente a nossa hipótese e a nossa tese.
23
• Hipótese: x é um número positivo.
1
• Tese: x + ≥ 2.
x
Demonstração: Seja x um número positivo e suponhamos que a tese
1
é falsa, isto é, x + < 2. Usando que x > 0 e multiplicando por este
x
a desigualdade anterior, obtemos que
x2 + 1 < 2x.
Daí segue-se que x2 − 2x + 1 < 0 é equivalente a (x − 1)2 < 0, já que
1
x2 − 2x + 1 = (x − 1)2 , o que é impossível. Portanto, x + ≥ 2, como
x
desejávamos.
24
Conjuntos e Funções
Noções de conjuntos
25
Usamos ∈ / como símbolo para “não pertence”.
Há basicamente três tipos de notações matemáticas para representar
conjuntos, todas elas usando os símbolos { e } (chaves).
{x : P (x)}
ou
{x | P (x)}
onde P (x) é uma fórmula referente à variável x. Exemplo:
26
portanto, X ∈/ X. Se X ∈ / X, então por definição de X temos que
X é um elemento de si próprio, isto é X ∈ X. Chegamos numa
inevitável contradição. Esse argumento, criado pelo matemático
inglês Bertrand Russell, é conhecido como paradoxo de Russell.
Uma das maneiras de corrigir esse paradoxo é pré-fixando um con-
junto do qual separamos aqueles elementos com a propriedade de-
sejada. Escrevemos genericamente da seguinte forma:
{x ∈ y : P (x)}
ou
{x ∈ y | P (x)}.
Leia-se “o conjunto dos x pertencentes a y tais que P (x) é verda-
deira”. No exemplo dos números pares, podemos escrever
{n ∈ N : ∃m ((m ∈ N) ∧ (n = 2m))}
{n ∈ N : ∃m ∈ N | (n = 2m))}
Leia-se: “o conjunto dos n pertencentes a N tais que existe m
pertencente a N tal que n = 2m”.
Na axiomática de Zermelo e Frankel para a Teoria dos Conjuntos,
chama-se axioma da separação aquele que para cada conjunto y e
cada fórmula P (x) garante a existência do conjunto {x ∈ y : P (x)}.
Esse axioma evita que o paradoxo de Russell leve o sistema a uma
contradição, mas, em vez disso, de tal paradoxo apenas segue que
“não existe conjunto de todos os conjuntos”.
Na teoria axiomática precisamos justificar, através dos axiomas, a
existência de cada conjunto que apresentamos. Como já dissemos
não ser esse o propósito da disciplina de Análise, trabalharemos
com a chamada Teoria Ingênua (ou Intuitiva) dos Conjuntos, e não
faremos a construção (isto é, justificativa da existência a partir dos
axiomas) de cada conjunto que definirmos.
Análise I
27
• Notação 3: escrever os elementos em função de uma ou mais
variáveis. Essa forma de escrita é semelhante à anterior e também
muito utilizada, mas convém chamar a atenção às suas diferenças.
Lembremo-nos da diferença entre oração e sujeito (e objeto), na
língua portuguesa, e de seus correspondentes na matemática. Uma
oração precisa possuir um verbo, o sujeito e o objeto. Uma oração
é uma afirmação, passıvel a ser julgada como verdadeira ou falsa,
enquanto o sujeito e o objeto correspondem a seres do universo.
Na Matemática, o correspondente às orações são as fórmulas, e o
correspondente aos sujeitos e objetos são os termos.
Aprendemos um “verbo” novo na matemática: ∈. A expressão
x ∈ y é uma fórmula, passível a ser julgada como verdadeira ou
falsa, uma vez que conhecemos quem é x e quem é y. Já a expressão
x2 + y 2 é um termo. Se atribuirmos valores a x e a y obtemos um
número, não uma fórmula que podemos julgar como verdadeira ou
falsa.
Assim, se T (x) é um termo dependente da variável x e se P (x) é
uma fórmula dependendo da variável x podemos definir o conjunto
{y : ∃x (y = T (x) e P (x))},
que escreveremos como
{T (x) : P (x)}
{T (x1 , · · · , xn ) : P (x1 , · · · , xn )}
28
Assim como no axioma da separação, aqui também é necessário
que as variáveis estejam limitadas a um conjunto. Por exemplo:
{x + y : (x ∈ R) ∧ (y ∈ R) ∧ (x2 + y 2 = 1)}
Inclusão de conjuntos.
(z ∈ x) ⇒ (z ∈ y),
para todo z. Escrevemos x ⊂ y se x está contido em y.
Este é um ponto delicado. Muitos estudantes secundaristas – por
vezes, ou quase sempre, instigados pelos professores – tendem a decorar
um “macete” em vez de compreender a definição acima. O tal “macete”
equivocado é: “o símbolo ∈ só é usado entre elemento e conjunto, nunca
entre dois conjuntos; o símbolo ⊂ só é usado entre dois conjuntos.”
Ora, já vimos exemplos de que podemos usar ∈ entre dois conjuntos.
A segunda parte do “macete” é verdadeira: só se usa ⊂ entre dois con-
juntos. Mas, na realidade, também só se usa ∈ entre dois conjuntos, já
que, na Teoria dos Conjuntos, tudo é conjunto.
Considere, como exemplo, x o conjunto {0} e y o conjunto {{0}}.
Já vimos que x ∈ y (e são ambos conjuntos!). Mas será que podemos
afirmar que x ⊂ y? Vejamos. Temos que verificar se todo elemento
de x também é elemento de y. O conjunto x só tem um elemento: 0.
Ele pertence a y? Vimos que não. O número 0 é um elemento de um
elemento de {{0}}, mas não é ele próprio um elemento desse. Logo,
não é verdade que x ⊂ y. Mas pode um conjunto ao mesmo tempo
pertencer e estar contido em algum outro? Sim. Veja, por exemplo, que
{0} ∈ {0, {0}} e também {0} ⊂ {0, {0}}. Quando x está contido em y,
também dizemos que x é um subconjunto de y.
29
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, eles possuem os mesmos
elementos.
Usando o símbolo da inclusão, podemos escrever a frase acima na
linguagem matemática como
(x = y) ⇔ (x ⊂ y ∧ y ⊂ x)
℘(x) = {y : y ⊂ x}
30
Exemplos: {1, 2, 3} ∪ {2, 3, 4} = {1, 2, 3, 4}, e {1, 2, 3} ∩ {2, 3, 4} =
{2, 3}.
As propriedades relacionadas com as operações de união e interseção
constituem teoremas cujas demonstrações, em geral, não são difíceis. A
comutatividade e associatividade decorrem diretamente das definições,
e a distributividade é de verificação um pouco menos imediata.
A ∪ B = B ∪ A, A ∩ B = B ∩ A.
(A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C), (A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C).
A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C), A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C).
n
\
Ak := {x : x ∈ Ak , para todo k ∈ {1, · · · , n}}
k=1
\
{1, 2, 3, 4} e X = {1}.
31
Não existe intersecção do conjunto vazio, pois, pelo argumento de
vacuidade, isso daria o conjunto de todos os conjuntos, o que já vimos,
pelo paradoxo de Russell, que não existe. Não há qualquer outra restrição
para união ou intersecção
[ de uma família de conjuntos.
Observe que ∅ = ∅.
Assim como a união de dois conjuntos está relacionada a “ou” e a
intersecção de dois conjuntos a “e”, a união de família corresponde ao
quantificador existencial ∃ (existe), e a intersecção de família corresponde
ao quantificador universal ∀ (para todo).
A noção de complementar de um conjunto só faz pleno sentido quando
se fixa um conjunto U , chamado o universo do discurso, ou conjunto-
universo. O universo U pode ser visto como o assunto da discussão
ou o tema em pauta. Uma vez fixado U , todos os elementos a serem
considerados pertencerão a U e todos os conjuntos serão subconjuntos
de U , ou derivados destes.
Dado um conjunto A (isto é, um subconjunto de U ), chama-se com-
plementar de A, denotado por AC , formado pelos objetos de U que não
pertencem a A.
Lembremos que, uma vez fixado o conjunto A, para cada elemento x
em U , vale uma, e somente uma, das alternativas: x ∈ A, ou x ∈ / A. O
fato de que, para todo x ∈ U , não existe uma outra opção além de x ∈ A
ou x ∈/ A é conhecido em lógica como o Princípio do Terceiro Excluído;
e o fato de que as alternativas x ∈ A e x ∈ / A não podem ser ambas
verdadeiras ao mesmo tempo chama-se o Princípio da Não Contradição.
Por último, introduzimos a notação de subtração de conjuntos. De-
notamos por A \ B o conjunto de todos os elementos de A que não
pertencem a B. Isto é,
A \ B = {x ∈ A : x ∈
/ B}.
Produto cartesiano
32
Podemos analogamente definir uma tripla ordenada (a, b, c). De modo
geral, uma n-upla ordenada – onde n é um número natural maior do que
1 – é uma sequência (a1 , · · · , an ), e esta só será igual a uma outra n-upla
ordenada (b1 , · · · , bn ) se tivermos a1 = b1 , a2 = b2 , e assim por diante.
Sejam A e B dois conjuntos. Definimos o produto cartesiano de A e
B o conjunto de todos os pares ordenados (a, b) tais que a é um elemento
de A e b um elemento de B. Na notação matemática:
A × B = {(a, b) : a ∈ A e b ∈ B}
Funções
Uma função é uma relação f tal que, se (x, y) e (x, z) são ambos
elementos de f , então y = z.
Definimos o domínio de uma função f como o conjunto
{x : ∃y | (x, y) ∈ f }
e a imagem de f é o conjunto
{y : ∃x | (x, y) ∈ f }
33
Notação: se escrevemos f : A → B, estamos dizendo, implicita-
mente, que f é uma função de A em B.
Uma operação binária em um conjunto A é uma função de A2 em
A. No lugar de f ((x, y)) escrevemos simplesmente f (x, y)
Função injetora. Dizemos que uma função f é injetora quando,
para todos x, y pertencentes ao domínio de f , se x 6= y então f (x) 6= f (y).
Por exemplo, a função f (x) = x2 , com domínio R, não é injetora, pois
se tomarmos x = 2 e y = 2, temos x 6= y mas x2 = y 2 , pois ambos
são iguais a 4.
Função sobrejetora. Dizemos que uma função f é sobrejetora em
relação a um conjunto B se a imagem de f é B. Ou seja, se para todo
y ∈ B existe algum x pertencente ao domínio da f tal que f (x) = y.
Quando está claro no contexto quem estamos considerando como con-
tradomínio, podemos omitir a menção ao conjunto B. Por exemplo, se
escrevemos que uma determinada função de A em B é sobrejetora, sig-
nifica sobrejetora em relação a B. Do mesmo modo, se dizemos que uma
função f : A → B é sobrejetora, significa ser sobrejetora em relação a B.
Função bijetora. Dizemos que uma função f é bijetora em relação
a um conjunto B se f é injetora e é sobrejetora em relação a B. Valem
as mesmas observações anteriores para omitirmos, quando possível, a
menção ao contradomínio B.
Note que toda função é sobrejetora em relação à sua imagem, assim
como toda função injetora é bijetora em relação à sua imagem.
Uma função bijetora também é chamada de bijeção.
Inversa de função. Se R é uma relação binária, definimos a inversa
de R – que denotaremos por R−1 – o conjunto {(y, x) : (x, y) ∈ R}.
Dizemos que uma função f é inversível se sua inversa (como relação)
é uma função. Dizemos que f é inversível em relação a B se ela é
inversível e se o domínio da inversa é B. Quando especificamos um
contradomínio, ser inversível passa a significar ser inversível em relação
a esse contradomínio.
Por exemplo, se dizemos que uma função f de A em B (ou uma função
f : A → B) é inversível, queremos dizer inversível em relação a B.
Análise I
34
Exercícios Propostos
35
6. Sejam f e g duas funções, e suponha que a imagem de g
está contida no domínio da f . Mostre que o conjunto
é uma função.
A função definida no exercício acima é chamada de composi-
ção de f e g, e é denotada por f ◦g. Verifique que, para todo
x pertencente ao domínio da g, temos f ◦ g(x) = f (g(x)).
Pela condição do exercício, observe que se g é uma função
de A em B, e f é uma função de B em C, então f ◦ g existe
e é uma função de A em C.
7. Sejam g : A → B e f : B → C funções. Prove que:
(a) Se f e g são injetoras, então f ◦ g é injetora.
(b) Se f e g são sobrejetoras, então f ◦ g é sobrejetora.
(c) Se f e g são bijetoras então f ◦ g é bijetora.
(d) No caso do item (c), prove que (f ◦g)−1 = g −1 ◦f −1 .
8. Valem as recıprocas nos itens (a) e (b) do exercıcio ante-
rior? Por que? Qual “parte” da recıproca é verdadeira?
Por exemplo, se f ◦ g é injetora, podemos concluir que al-
guma das funções f ou g é injetora? Qual? Justifique suas
respostas, sempre provando ou dando contra-exemplos.
9. A função identidade no conjunto A é a função {(x, x) : x ∈
A}. Ou seja, é a função f (x) = x. Denotamos a identidade
no conjunto A por IA .
Prove que uma função f : A → B é inversível em B se, e
somente se, existe uma função g : B → A tal que
f ◦ g = IB e g ◦ f = IA .
Análise I
36
10. Seja f uma função de A em B e seja X um subconjunto de
A. Definimos a restrição de f a X – e denotamos por f | X
(ou f |X ) – o conjunto {(x, y) ∈ f : x ∈ X}. Nas condições
acima, prove que:
(a) f |X é uma função de X em B.
(b) Se f é injetora, então f |X é injetora.
(c) Se f |X é sobrejetora em relação a B, então f é
sobrejetora em relação a B.
Análise I
37
Os Números Naturais
38
As provas matemáticas em que se aplica o Teorema 5.1 são chamadas
provas por indução. No item (2) no enunciado do Teorema 5.1, a hipótese
de que P [k] é válida é chamada hipótese de indução. Como primeiro
exemplo de prova por indução, vamos demonstrar que, para todo k ∈ N,
vale s(k) 6= k. Neste caso, a propriedade P [k] é s(k) 6= k. Com efeito,
1 6= s(1), pois 1 não é sucessor de nenhum número natural; em particular,
1 não é sucessor de si próprio. Logo vale P [1]. Além disso, se, para
um certo k ∈ N, vale s(k) 6= k, então, pela injetividade da função s,
s(s(k)) 6= s(k), isto é, s(k + 1) 6= k + 1, e, portanto, vale P [k + 1], o que
conclui a prova por indução de que s(k) 6= k, para todo k ∈ N.
O terceiro axioma de Peano implica, em particular, que todos os
números naturais podem ser obtidos a partir de 1 tomando-se reiterada-
mente sem cessar (começando-se pelo próprio 1) a aplicação sucessor s
que também denotamos por · + 1, obtendo sucessivamente 1 + 1, 1 + 1 +
1, 1+1+1+1 etc. Os nomes e as notações para a seqüência de sucessores
de 1 no sistema decimal usual são bastante familiares a todos nós:
2 := 1 + 1,
3 := 1 + 1 + 1,
4 := 1 + 1 + 1 + 1,
5 := 1 + 1 + 1 + 1 + 1,
6 := 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1,
7 := 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1,
8 := 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1,
9 := 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1,
10 := 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1,
··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ··· ···
j + k = j +1 + 1 + · · · + 1 . (5.1)
| {z }
k vezes
39
procedimento mais correto é definir essa operação passo a passo fazendo
uso do Princípio da Indução. Assim, primeiro definimos
j + 1 := s(j), (5.2)
o que está de acordo com a notação j+1 que adotamos para o sucessor
de j, s(j). Uma vez que já temos a definicão de j + k para k = 1,
podemos definir recursivamente
j + (k + 1) = (j + k) + 1 (5.3)
Isto significa que se já tivermos definido, para um certo k ∈ N, quem
é j + k, resultará também imediatamente definido, através de 5.3, quem
é j + (k + 1). Chama-se esse procedimento de definição por indução
(indutiva) ou definição por recorrência (recursiva).
Usando o Princípio da Indução podemos provar que a operação de
adição de números naturais definida acima tem as propriedades de asso-
ciatividade, comutatividade e a lei do corte. Mais especificamente, para
todos j, k, l ∈ N, valem:
1. (j + k) + l = j + (k + l);
2. j + k = k + j;
3. Se j + l = k + l então j = k
Observação 5.2. A propriedade da associatividade nos permite escrever
simplesmente j + k + l em lugar de (j + k) + l ou j + (k + l).
40
A relação < tem as propriedades:
m·1 = m
m · (n + 1) = m·n+m
Análise I
41
As duas linhas acima constituem o modo rigoroso de expressar a
definição informal bastante conhecida:
m · n = m + m + m + ··· + m.
| {z }
n vezes
1. (mn)p = m(np);
2. mn = nm;
3. Se mn = mp então n = p;
4. Se m < n então mp < np;
5. m(n + p) = mn + mp.
mk = |m · m
{z· · · m} .
k vezes
n! = n(n − 1)(n − 2) · · · 2 · 1.
idêntico ao que foi feito para provar a unicidade do mínimo. Nem sempre
42
um subconjunto não-vazio de N possui elemento máximo. O próprio N
não o possui, já que para todo m ∈ N, m + 1 ∈ N e m < m + 1.
No entanto, em relação ao mínimo, vale o seguinte princípio funda-
mental:
43
1
(k + 1)(k + 2). Assim, somando (k + 1) à equação P [k] obtemos
2
1
1 + 2 + · · · + (k + 1) = (k + 1)(k + 2),
2
que nada mais é que P [k + 1]. Assim, pelo Princípio da Indução Mate-
mática (Teorema 5.1), segue que P [n], isto é, a equação 5.4, é verdadeira
para todo n ∈ N.
Exemplo 5.8. Para cada n ∈ N, a soma dos quadrados dos n primeiros
números naturais é dada por
1
12 + 22 + · · · + n2 = n(n + 1)(2n + 1). (5.5)
6
1
De novo, chamando P [n] esta fórmula, vemos que P [1] é 1 = 1·2·3
6
e, portanto, é verdadeira. Suponhamos que valha P [k]:
1
12 + 2 2 + · · · + k 2 = k(k + 1)(2k + 1).
6
Somando (k + 1)2 a ambos os membros da equação P [k] obtemos
1
12 + 22 + · · · + k 2 + (k + 1)2 = k(k + 1)(2k + 1) + (k + 1)2
6
1
= (k + 1)(k(2k + 1) + 6(k + 1))
6
1
= (k + 1)(2k 2 + 7k + 6)
6
1
= (k + 1)(k + 2)(2k + 3).
6
O membro esquerdo da primeira equação desta cadeia de equações e o
membro direito da última equação coincidem com os membros esquerdo
e direito de P [k + 1]. Portanto, temos que P [k] implica P [k + 1]. Logo,
pelo Princípio da Indução Matemática, concluımos que 5.5 vale para
todo n ∈ N.
Exemplo 5.9. Dados dois números a, b ∈ N, a > b, provaremos que
a − b é um fator de an − bn , para todo n ∈ N. Com efeito, para n = 1 a
afirmação é óbvia. Suponhamos então que valha P [k] : a − b é um fator
de ak − bk . Então, temos
Pela hipótese de indução (vale P [k]), concluímos então que vale P [k+
1]. De novo, pelo Princípio da Indução, vemos que a afirmação vale para
44
todo n ∈ N. Como aplicação, deduzimos, por exemplo, que 13n − 8n é
divisível por 5, 17n − 13n é divisível por 4, etc., qualquer que seja n ∈ N.
Exemplo 5.10. A desigualdade 2n > 2n + 1 é verdadeira para n ≥ 3
(observe que ela não vale para n = 1, 2). De fato, chamando de P [n]
a desigualdade, vemos que vale P [3] já que 23 = 8 > 7 = 2 · 3 + 1.
Suponhamos que valha P [k] : 2k > 2k + 1. Levando em conta que
2k + 2 > 3 para todo k ∈ N, após multiplicar P [k] por 2, temos
o que nos dá que vale P [k + 1]. Portanto, o Teorema 5.1 implica que a
desigualdade vale para todo n ∈ N .
A seguinte versão do Princípio da Indução Matemática é, às vezes,
bastante útil. Alguns autores a chamam “Princípio da Indução Forte”.
Usamos a notação habitual {1, 2, ·, k} para denotar o conjunto Jk =
{j ∈ N : 1 ≤ j ≤ k}.
Então S = N.
Demonstração: Consideremos o conjunto X = N\S. Provaremos por
contradição que X = ∅. Suponhamos então que X 6= ∅. Então, pelo
Princípio da Boa Ordenação, X possui um elemento mínimo m0 . Como,
por (1), 1 ∈ S, temos m0 > 1. Por outro lado, como m0 é o menor
elemento de X = N\S, temos que {1, · · · , m0 − 1} ⊂ S. Decorre então
de (2) que m0 ∈ S, o que nos dá uma contradição e conclui a prova.
Análise I
45
Exercícios Propostos
1 1 1 n
1. Prove que + + ··· + = para todo
1·2 2·3 n(n + 1) n+1
n ∈ N.
1
2. Prove que 13 + 23 + · · · + n3 = [ n(n + 1)]2 para todo n ∈ N.
2
3. Prove que 3 + 11 + · · · + (8n − 5) = 4n2 − n para todo n ∈ N.
1
4. Prove que 12 + 32 + · · · + (2n − 1)2 = (4n3 − n) para todo
3
n ∈ N.
(−1)n+1
5. Prove que 12 − 22 + 32 + · · · + (−1)n+1 n2 = n(n + 1)
2
para todo n ∈ N.
6. Prove que n3 + 5n é divisível por 6 para todo n ∈ N.
7. Prove que 52n − 1 é divisível por 8 para todo n ∈ N.
(1 + x)n ≥ 1 + nx.
46
14. Sejam os números xn definidos do seguinte modo: x1 := 1,
1
x2 := 2 e xn+2 := (xn+1 + xn ) para todo n ∈ N. Use
2
o Princípio da Indução Forte (Teorema 5.12) para mostrar
que 1 ≤ xn ≤ 2 para todo n ∈ N.
Análise I
47
Números Inteiros
48
3. Se A ⊂ N é tal que 1 ∈ A e s(A) ⊂ A, isto é, k ∈ A implica
k + 1 ∈ A, então A = N.
49
Coube também aos hindus a introdução na matemática dos núme-
ros negativos. O objetivo era indicar débitos. O primeiro registro do
uso de números negativos de que se notícia foi feito pelo matemático
e astrônomo hindu Brahmagupta (598–?), que já conhecia inclusive as
regras para as quatro operações com números negativos. Bhaskara (séc.
XII), outro matemático e astrônomo hindu, assinalou que todo número
positivo tem duas raízes quadradas, uma negativa e outra positiva, e
salientou também a impossibilidade de se extrair a raiz quadrada de um
número negativo.
Ao introduzirem os números negativos, os hindus não tinham ne-
nhuma preocupação de ordem teórica. Na verdade, os progressos mate-
máticos verificados na Índia, por essa época, ocorreram quase que por
acaso e em boa parte devido ao descompromisso com o rigor e a for-
malidade.
Mas a aceitação e o entendimento pleno dos números negativos foi
um processo longo. Basta ver algumas designações que receberam: Stigel
(1486–1567) os chamava de números absurdos; Cardano (1501 – 1576),
de números fictícios. Descartes (1596–1650) chamavam de falsas as raízes
negativas de uma equação. Outros, como François Viète (1540–1603),
importante matemático francês, simplesmente rejeitavam os números ne-
gativos.
(a, b) ∼ (c, d) ⇔ a + d = b + c
50
Para a relação ∼ valem as propriedades:
51
• (Propriedade distributiva à esquerda da multiplicação em relação
à adição) Para todos a, b e c em Z tem-se: a · (b + c) = a · b + a · c.
• (Propriedade distributiva à direita da multiplicação em relação à
adição) Para todos a, b e c em Z tem-se: (a + b) · c = a · c + b · c.
√ √
q q
3 3
Exemplo 6.2. Mostre que 7 + 5 2+ 7 − 5 2 é um número inteiro.
Demonstração: Seja
√ √
q q
3 3
7 + 5 2 + 7 − 5 2 = x.
Desenvolvendo, obtemos:
√ √
r
14 + 3 3 7+5 2 7−5 2 ·x = x3
√
14 + 3x · 3 49 − 25 · 2 = x3
√
14 + 3x · 3 −1 = x3
14 − 3x = x3
x3 + 3x − 14 = 0
52
Exercícios Propostos
10 √ 10 √
r r
3 3
1. Mostre que o número 2+ 3+ 2− 3 é um nú-
9 9
mero inteiro.
2. Classifique as proposições abaixo em verdadeiro (V ) ou falso
(F ).
(a) 0 ∈ N.
(b) 0 ∈
/ Z.
(c) −10 ∈
/ Z.
(d) N ⊂ Z.
(e) (2 − 3) ∈ Z.
3. Classifique as proposições abaixo em verdadeiro (V ) ou falso
(F ), sendo m, n e p números naturais distintos e não nulos.
(a) [(m + n) · p] ∈ N.
(b) [m · (n − p)] ∈ Z.
(c) (m + n) · (p + n) > 0.
(d) (m · p − m) ∈ N.
Análise I
53
Números Racionais
Sempre que a divisão de um inteiro por outro não era exata, os egíp-
cios antigos, já por volta do ano 2000 a.C., usavam frações para exprimir
o resultado. E usavam também frações para operar com seu sistema de
pesos e medidas.
Contudo, por razões difíceis de explicar, com exceção das frações 2/3
e 3/4, às vezes, os egípcios usavam apenas frações unitárias, ou seja,
frações cujo numerador é 1. Por exemplo, no problema 24 do papiro
Rhind (cerca de 1700 a.C.) no qual o escriba pede que se efetue a divisão
de 19 por 8, a resposta é dada, usando a nossa notação, por:
1 1
2+ +
4 8
Embora os egípcios não adotassem sempre o mesmo procedimento,
pode-se mostrar que toda fração entre 0 e 1 é a soma de frações unitárias,
o que representa uma garantia teórica para essa opção.
Aliás, o uso das frações unitárias, além de não ficar confinado ao
Egito antigo, se estendeu por vários séculos. Basta dizer que Fibonacci,
no seu já citado Líber abaci, escrito no século XIII d.C., não só as usava
como fornecia tabelas de conversão das frações comuns para unitárias.
É que, embora uma das finalidades dessa obra fosse divulgar os nume-
rais indo-arábicos e a notação decimal posicional, Fibonacci não chegou
a perceber a grande vantagem deste sistema: sua aplicabilidade para
exprimir frações. Por exemplo:
1
= 0, 25.
4
Mas convém registrar que os babilônios, 2 000 anos antes de Cristo,
apesar de algumas ambiguidades, decorrentes de não contarem com um
símbolo para o zero e outro para separatriz, conseguiram estender o
princípio posicional às frações no seu sistema de base 60.
Na verdade, o uso da forma decimal para representar frações, tal como
em 1/4 = 0, 25, somente começaria a vingar após a publicação, em 1585
de um pequeno texto de Simon Stevin (1548–1620) intitulado De thiende
(O décimo). Embora a essa altura a forma decimal já não constituísse
uma novidade para os especialistas, esse trabalho de Stevin alcançou
grande popularidade e conseguiu seu intento, que era ensinar a “como
Análise I
54
usada por Stevin acabou sendo melhorada com o emprego da vírgula ou
do ponto como separatriz decimal, conforme sugestão de John Napier
(1550–1617), feita em 1617.
(a, b) ∼ (c, d) ⇔ a · d = b · c
• Reflexiva, pois, como para todo (a, b) ∈ Z×Z∗ , se verifica a·b = b·a,
então (a, b) ∼ (b, a);
Temos então:
• (1, 2) ∼ (2, 4) ∼ (−31, −62)
• (5, 1) ∼ (−10, −2)
55
• (Propriedade do elemento oposto da adição) Para todo elemento
a ∈ Q, existe um elemento, denotado por −a, tal que: a + (−a) =
−a + a = 0.
• (Propriedade comutativa da adição) Para todos a, b ∈ Q tem-se:
a + b = b + a.
• (Propriedade do fechamento da multiplicação) Para todos a e b em
Q tem-se: a · b pertence a Q.
• (Propriedade associativa da multiplicação) Para todos a, b e c em
Q tem-se: a · (b · c) = (a · b) · c.
• (Propriedade do elemento neutro da multiplicação) Existe um ele-
mento 1 ∈ Q tal que para todo a ∈ Q tem-se a · 1 = 1 · a = a.
• (Propriedade comutativa da multiplicação) Para todos a, b ∈ Q
tem-se: a · b = b · a.
56
Quando temos uma parte inteira diferente de zero, devemos ver este
número como a soma da parte inteira com a parte fracionária.
Exemplo 7.3. Observe:
• 4, 315315315 · · · = 4 + 0, 315315315 · · · ;
• 1, 710979797 · · · = 1 + 0, 710979797 · · · .
• Simples
x = 0, 4444 · · ·
x = 0, 444 · · ·
10x = 0, 444 · · · × 10
10x = 4, 444 · · ·
obtemos:
4
9x = 4 ⇒ x = .
9
4
Assim, a geratriz da dízima 0, 444 · · · é a fração .
9
• Composta
x = 0, 2333 · · ·
57
Visto que a parte não periódica é formado apenas por um algarismo,
multiplicaremos toda a expressão por 10, para separar a parte periódica
da não periódica.
x = 0, 2333 · · ·
10x = 0, 2333 · · · × 10
10x = 2, 333 · · ·
obtemos:
21
90x = 21 ⇒
90
Assim, a geratriz da dízima 0, 2333 · · · é a fração 21/90.
Dos dois exemplos visto anteriormente, generalizando, foram criadas
as seguintes regras:
Regra 1 : A fração geratriz de uma dízima periódica simples tem
como numerador o número formado pela parte periódica. O denomi-
nador, tantos noves quantos forem os algarismos que formam a parte
periódica.
Exemplo 7.4. Observe:
7
a) 0, 7777 · · · =
9
67
b) 0, 676767 · · · =
99
1
c) 0, 001001001 · · · =
999
Regra 2 : A fração geratriz de uma dízima periódica composta tem
como numerador o número formado pela junção das partes não periódica
e periódica menos o número formado pela parte não periódica. O de-
nominador tantos noves quantos forem os algarismos da parte periódica
acrescidos de tantos zeros quantos forem os não periódicos.
Exemplo 7.5. Observe:
135 − 13 122
a) 0, 13555 · · · = =
Análise I
900 900
4113 − 4 4109
b) 0, 4113113113 · · · = =
9990 9990
58
Dízimas periódicas e cíclicas
1, 78260869565217391304347826086956521739130434 · · ·
59
Exercícios Propostos
60
8. Escreve dois números racionais que estão entre:
3
(a) 0 e .
5
9
(b) 1 e .
4
3 1
(c) − e .
4 5
9. Calcule:
(a) 2, 33333 · · · · 1, 75.
(b) 1, 25555 · · · · 4, 44444 · · · .
(c) 0, 757575 · · · ÷ 0, 66666 · · · .
(d) 0, 6666 · · · − 0, 6.
(e) 0, 23 ÷ 0, 23333 · · · .
(f) −0, 17777 · · · + 0, 1.
10. Estabeleça a seguinte regra: toda diźima periódica simples é
igual a uma fração ordinária, cujo numerador é igual a um
período e cujo denominador é constituído de tantos 9 quan-
tos são os algarismos do período. Fique entendido também
que a dízima não tem parte inteira.
11. Estabeleça a regra para a dízima periódica composta.
Análise I
61
12. Determine as frações geratrizes das dízimas periódicas
usando a regra prática.
(a) 0, 151515 · · · .
(b) 0, 416416 · · · .
(c) 2, 1111 · · · .
(d) 20, 202020 · · · .
(e) 8, 121212 · · · .
(f) 0, 15555 · · · .
(g) 1, 15555 · · · .
(h) −2, 0171717 · · · .
(i) 2, 0077777 · · · .
(j) 100, 07777 · · · .
(k) 4, 0757575 · · · .
√
13. Se a = 0, 4̄ e b = 0, 3̄, então b a é igual a:
1
(a) .
9
2
(b) .
9
5
(c) .
9
7
(d) .
9
14. Qual é o 1999o algarismo após a vírgula na representação
decimal do número 4/37:
(a) 0.
(b) 1.
(c) 2.
(d) 7.
Análise I
(e) 8.
62
15. Mário estava fazendo esta divisão:
Cansado, não quis mais continuar. Marisa olhou e disse:
“Na verdade, você não precisa continuar! Assim já dá para
perceber qual é o resultado.” Marisa tem razão. Explique
por que e depois apresente o quociente da divisão.
Análise I
63
Grandezas incomensuráveis
Números irracionais
0, 50500500050000 · · ·
64
Número π
3,141592653589793238462643383279502884197169399375105820974
94459230781640628620899862803482534211706798214808651328230664
70938446095505822317253594081284811174502841027019385211055596
44622948954930381964428810975665933446128475648233786783165271
201909145648566923460348610454326648213393607260249141273 · · ·
Número φ
1,618033988749894848204586834365638117720309179805762862135
44862270526046281890244970720720418939113748475408807538689175
21266338622235369317931800607667263544333890865959395829056383
22661319928290267880675208766892501711696207032221043216269548
626296313614438149758701220340805887954454749246185695364 · · ·
Número e
2,7182818284590452353602874713526624977572470936999595749669
676277240766303535475945713821785251664274274663919320030599218
174135966290435729003342952605956307381323286279434907632338298
807531952510190115738341879307021540891499348841675092447614606
68082264800168477411853742345442437107539077744992069 · · ·
65
Impossível de se verificar algebricamente, é verdade, mas de fácil vi-
sualização geométrica. Com os números reais em mãos, situaremos cada
um deles sobre uma reta, de modo que cada ponto da reta represen-
tará um número real. Esse ponto será chamado imagem do número.
Reciprocamente o número será chamado de abscissa do ponto.
Para construí-la procedemos da seguinte forma:
Passo 1: Marcamos, no eixo real, dois pontos para serem imagem de
0 e 1 respectivamente. Note que AB = 1.
66
√ O tamanho da hipotenusa (segmento AC) fornece o valor exato de
2. (Nesse caso não consideramos imprecisões nos aparelhos de medida
que dispomos). Devemos considerar réguas ideais, embora não existam
de fato.
Esse processo é válido para qualquer número irracional. Com esse
raciocínio fica provado que, ao contrário do que parece, os irracionais têm
valor exato. Embora números desse tipo possuam infinitas casas decimais
com algarismos que nunca repetem (indício de não possuir valor exato),
podemos visualizar geometricamente√(através de uma figura) que há um
“tamanho”
0
bem determinado para 2, é igual a medida do segmento
AC . Esse um valor exato. Como todos os irracionais têm segmentos
cujo tamanho é igual ao seu valor, fica provado que qualquer número
irracional tem valor exato, embora a primeira vista pareça o contrário.
√ Veja,
√ por
√ exemplo, como representamos os números irracionais
2, 3 e − 2 na reta:
A construção que se
√ segue
√ √ é bastante
√ sugestiva
√ para a representação
precisa dos números: 2, 3, 4, 5, · · · , n, · · · sobre a reta:
Análise I
67
√
Provando que 2 é um número racional
√
Antes de provar a irracionalidade de 2, devemos provar antes o
seguinte:
Lema 8.2. Se um número é par, então o quadrado também é par.
Demonstração: Pela hipótese, temos que o número é par. Façamos
então, m = 2x, com x ∈ Z. Elevando ao quadrado, temos:
m2 = (2x)2 = 4x2 = 2 · 2x2
Como x é inteiro, 2x2 também é. Qualquer número multiplicado por 2
é par. Portanto, o quadrado de qualquer número par é par.
Lema 8.3. Se o quadrado de um número é par, então esse número é
par.
Demonstração: Por hipótese, temos que o quadrado do número é par.
Vamos supor então que esse número seja ímpar. Façamos então, m =
2x + 1, com x ∈ Z. Elevando ao quadrado, temos:
m2 = (2x + 1)2 = 4x2 + 4x + 1 = 2(2x2 + 2x) + 1
Como x é inteiro, 2x2 +2x também é. Mas qualquer número multiplicado
por 2 e somado com 1 é sempre ímpar, o que contradiz a hipótese de que
o quadrado do número é par. Logo, temos um absurdo. Portanto, se o
quadrado do número é par, então esse número é par. √
Agora, podemos provar a irracionalidade
√ do número 2. √ Primeiro
vamos supor, por absurdo, que 2 seja racional, isto é, que 2 possa
ser escrito na forma a/b, com a ∈ Z e b ∈ Z∗ , de modo que a/b seja
irredutível (a e b são primos entre si). Temos, então,
Análise I
√ a
2= .
b
68
Segundo, elevando os dois membros ao quadrado, obtemos 2 = a2 /b2 ,
ou a2 = 2b2 . Isso significa que a 2 é par, logo, a é par.
Por outro lado, como a fração a/b é irredutível e a é par, então b
tem que ser ímpar. Daí, se a é par, existe um número inteiro m tal que
a = 2m. Substituindo em a2 = 2b2 , temos:
Reagrupando, temos
√
x2 − 5 = 2 6
x4 − 10x2 + 25 = 24
Reagrupando, temos:
x2 − 10x2 + 1 = 0
2 2
22 23
< a2 <
3 3
69
Logo, 484/9 < a2 < 529/9. Podemos atribuir a a2 qualquer fração que
esteja entre 484/9 e 529/9. Por exemplo a2 = 495/9. Logo
484 495 529 484 529
< < ⇒ < 55 < .
9 9 9 9 9
Extraindo a raiz de todos os membros dessa desigualdade, temos:
484 √ 22 √
r r
529 23
< 55 < ⇒ < 55 < .
9 9 3 3
√
Assim, 55 está entre as duas frações dadas.
Análise I
70
Exercícios Propostos
qualquer.
71
8. Decida se cada uma das frases dadas é verdadeira (V ) ou
falsa (F ). Não é preciso provar, basta justificar a escolha
feita.
(a) Um número real com infinitas casas decimais não
nulas é irracional.
(b) Uma dízima periódica composta é um número irra-
cional.
(c) 0, 9999 · · · = 1.
(d) Entre os números 1, 23456 e 1, 23457 não existe ne-
nhum número irracional.
(e) Entre os números 1, 23456 e 1, 23457 não existe ne-
nhum número racional.
(f) A soma de dois números racionais pode ser um nú-
mero irracional.
(g) A soma de dois números irracionais pode ser um
número racional.
(h) A soma de dois números irracionais é um número
irracional.
(i) O produto de dois números irracionais é um número
irracional.
(j) Um número irracional elevado a um número racional
pode dar um número racional.
√
3
9. Prove que 2 é um número irracional.
19 √ √ √
, 2, 3, 1, 5 e 1, 2̄.
20
72
12. Classifique as afirmações abaixo em verdadeiras ou falsas:
(a) Se x ∈ N, então x ∈ Z.
(b) Se x ∈ Q, então x ∈ R.
(c) Se x ∈ Z, então x ∈ N.
(d) Se x ∈ N, então x ∈ Q.
s r
√
q
13. Mostre que o número x = 2+ 2+ 2+ 2 + · · · é ra-
cional. (Sugestão: eleve ao quadrado os dois membros.)
Análise I
73
Cardinalidade
Introdução
1, 2, 3, · · · , n, · · · .
74
In = {1, 2, · · · , n} = conjunto dos naturais de 1 a n.
Com base nestes dois conjuntos temos a noção de conjunto finito e
infinito enumerável.
A idéia intuitiva que temos de um conjunto finito é de que podemos
contar seus elementos. Isso é o mesmo que colocar seus elementos em
correspondência um a um com os elementos de In , para algum n.
E quando um conjunto não é finito?
Na história da humanidade, houve muita dificuldade para compreen-
der e aceitar grandezas infinitas. As primeiras referências vieram com a
religião, em expressões do tipo “Deus é infinitamente bom”.
No campo da Matemática, um grande pesquisador, chamado Cantor,
desenvolveu um belo trabalho sobre conjuntos infinitos, introduzindo
o conceito de cardinalidade. Ele mostrou que há diferentes tipos de
conjuntos infinitos, não sendo possível, em alguns deles, colocar seus
elementos em sucessão (na forma de lista). Surgiram assim, os conceitos
de conjunto enumerável e de conjunto não-enumerável.
Intuitivamente, um conjunto é enumerável se seus elementos podem
ser colocados numa lista de modo que qualquer elemento do conjunto
pode ser alcançado se avançarmos o suficiente na lista.
Temos as seguintes definições.
Definição 9.1. Um conjunto X é dito finito se é vazio ou se, para algum
n, existe uma bijeção f : In → X. No último caso, dizemos que X tem
cardinalidade n, isto é, X tem n elementos.
X = {x ∈ R tais que | 5x − 3 |= 7} .
Qual a cardinalidade de X?
Temos que os elementos de X são as soluções da equação | 5x−3 |= 7,
ou seja,
−4
X= ,2 .
5
Logo X tem 2 elementos. A função
f : I2 → X
−4
Análise I
75
Exemplo 9.5. O conjunto I dos números inteiros positivos ímpares é
enumerável.
De fato, f : N →; f (n) = 2n − 1 é uma bijeção, como você pode
visualizar no quadro que segue:
1 2 3 4 5 6 ···
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ···
1 3 5 7 9 11 ···
h : X → h(X) ⊂ N
76
é uma bijeção.
Como h(X) ⊂ N, ele é finito ou enumerável. Logo, X é finito ou
enumerável.
Proposição 9.8. Seja X enumerável. Se f : X → Y é sobrejetiva, então
Y é finito ou enumerável.
Demonstração: De maneira similar a proposição anterior note que
como X é enumerável existe uma bijeção g : N → X e portanto a função
composta f ◦ g : N → Y é sobrejetiva. Agora, para todo y ∈ Y defina
h(y) como o menor elemento em (f ◦ g)−1 (y).
Note que h : Y → N esta bem definida, pois todo subconjunto dos
naturais possui um menor elemento. Ainda, h é injetiva. Logo, pela
proposição anterior, temos que Y é enumerável.
Vamos relembrar a seguir um Teorema da Álgebra que é utilizado
para provar que o produto cartesiano de N por N é enumerável. Como
ele é um resultado preliminar necessário para essa prova o introduzimos
como um lema.
Lema 9.9. (Teorema da Álgebra). Todo número natural se decompõe
de maneira única como produto de fatores primos.
Proposição 9.10. N × N é enumerável.
Demonstração: Definimos
f :N×N → N
(n, m) 7→ 2n 3m
h:N×N → X ×Y
(x, y) 7→ h(x, y) = (f (x), g(y))
77
Demonstração: Seja Z∗ o conjunto dos números inteiros não nulos,
isto é, Z∗ = Z − 0. Então Z∗ é enumerável. Pela Proposição 9.11, Z × Z∗
é enumerável.
Definimos
f : Z × Z∗ → Q
m
(n, m) 7→
n
Temos que f é sobrejetiva (pela própria definição de Q). Como Z × Z∗
é enumerável, pela Proposição 9.8, concluímos que Q é enumerável.
Resgatando a idéia intuitiva de conjunto enumerável, você pode se
perguntar: Como listar os elementos de Q?
Vamos exemplificar com os racionais positivos, Q+ . No quadro que
segue, ilustramos o procedimento. A lista é formada como indicado
pelas setas.
é enumerável.
78
Demonstração: Como Xm é enumerável, podemos considerar os ele-
mentos de Xm como termos de uma sucessão xm1 , xm2 , xm3 , · · · .
Formamos o quadro
x11 , x21 , x12 , x31 , x22 , x13 , x41 , x32 , x23 , x14 , · · ·
[
Mais formalmente, note que a função f : N × N → Xn , dada por
[
f ((n, m)) = xnm , é uma bijeção, e portanto Xn é enumerável.
79
Em 1874 Cantor surpreendeu os matemáticos de sua época com uma
descoberta muito importante. Ele mostrou que o conjunto dos números
reais tem cardinalidade diferente da do conjunto dos números naturais.
Definição 9.15. Todo conjunto infinito que não é enumerável, é dito
não-enumerável.
Proposição 9.16. O conjunto dos números reais é não enumerável.
Demonstração: Vamos mostrar que o conjunto dos números reais entre
0 e 1 é não enumerável.
Para isso usaremos a representação decimal infinita, que é única para
todo número real. Se você não lembrar leia o Capítulo 2 do livro Análise
Matemática para Licenciatura, de Geraldo Ávila.
Vamos supor que é possível estabelecer uma correspondência biuní-
voca dos números reais do intervalo (0, 1) com os números naturais.
Podemos, então, escrever esses números em sucessão, x1 , x2 , x3 , · · · ,
conforme o quadro a seguir:
Veja que o resultado acima nos remete a uma reflexão sobre os nú-
meros irracionais, que voltarão a ser discutidos na próxima unidade.
80
Exercícios Propostos
N = {1, 3, 5, 7, · · · } ∪ {2, 4, 6, 8, · · · }
81
Algumas propriedades dos números reais
82
1. | x + y |≤| x | + | y | (Desigualdade Triangular).
2. | x · y |=| x | · | y |.
3. | x | − | y |≤|| x | − | y ||≤| x − y |.
4. | x − z |≤| x − y | + | y − z |.
Demonstração:
1. Temos as seguintes desigualdades:
− | x |≤ x ≤| x |
− | y |≤ y ≤| y |
Adicionando as desigualdades, obtemos:
−(| x | + | y |) ≤ x + y ≤ (| x | + | y |).
Portanto,
| x + y |≤| x | + | y |
2. Temos
| x · y |2 = (x · y)2 = x2 · y 2
Portanto
p √ p
| x · y |= x2 · y 2 = x2 · y 2 =| x | · | y | .
83
Supremo e Ínfimo
• Podemos escrever
1 1 1 1
X= 1, , , , · · · , , · · ·
2 3 4 n
84
• Temos
X = {−3, −6, −9, −12, · · · , −3n, · · · }
Podemos ver que −3 é uma cota superior de X. Portanto, X é
limitado superiormente.
O conjunto X não tem cota inferior. Ele não é limitado inferior-
mente. Concluímos que o conjunto X não é limitado.
85
Observação 10.11. Uma outra caracterização muito útil do supremo
é dada a seguir.
Considere qualquer número positivo muito pequeno. Temos,
S.1 − ∀x ∈ X, x ≤ b
b = supX ⇔
S.2 − ∀ > 0, ∃x ∈ X, tal que b − < x ≤ b.
I.1 − ∀y ∈ Y, a ≤ y
a = inf Y ⇔
I.2 − ∀ > 0, ∃y ∈ Y, tal que a ≤ y < a + .
Geometricamente,
Análise I
86
O supremo e o ínfimo de um conjunto X são sempre elementos de X?
A resposta é negativa. O supremo e o ínfimo de X podem ou não
pertencer a X.
Exemplo 10.13. Vejamos:
supX = 9 e inf X = 2.
1
I1 - ∀n ∈ N, ≥ 0 (0 é cota inferior de X).
n
1
I2 - ∀ > 0, ∃n0 ∈ N tal que 0 < < . (Proposição 10.8, (iii))
n0
87
n−1
3. Seja X = ,n ∈ N .
n
Podemos escrever,
1 2 3 n−1
X = 0, , , , · · · , ,··· .
2 3 4 n
Temos,
inf X = 0;
supX = 1.
1
4. Seja X = − ,n ∈ N
n
Temos que inf X = −1 e supX = 0.
1
5. Seja X = ,n ∈ N .
2n
1
Temos que inf X = 0 e supX = .
2
6. Seja X = {2, 4, 6, 8, · · · }.
Temos:
inf X = 2.
Como X não é limitado superiormente, X não possui supremo.
88
Demonstração:
Vamos fazer esta demonstração em etapas.
1. O conjunto X não possui elemento máximo.
Seja x um elemento qualquer de X. Vamos mostrar que existe
em X um outro elemento maior que x. Consideremos o número
racional:
2 − x2
2x + 1
Como x ∈ X, 2 − x2 > 0 e x > 0. Portanto 2x + 1 > 0 e, dessa
forma,
2 − x2
> 0.
2x + 1
2 − x2
Tomamos um número r ∈ Q tal que r < 1 e 0 < r < .
2x + 1
A existência desse número racional r é garantida pela Proposição
10.8
Provemos que x + r ∈ X.
Temos, (x + r) > 0. Além disso,
2 − x2
0<r< ⇒ r(2x + 1) < 2 − x2 (10.2)
2x + 1
Usando as relações 10.1 e 10.2, temos
89
4. supX ∈/ Q. Vamos usar os resultados obtidos nas 3 etapas anteri-
ores.
Suponhamos que existe b = supX em Q. Então:
i) b > 0.
ii) b não satisfaz b2 < 2. De fato, como X não tem elemento
máximo (provamos na etapa 1), b ∈
/ X.
iii) b não satisfaz b2 > 2.
De fato, vamos supor que b2 > 2. Temos então que b ∈ Y .
Usando a etapa 2, segue que ∃a ∈ Y tal que a < b (Y não
tem elemento mínimo).
Utilizando o resultado obtido na Etapa 3, concluímos que
∀x ∈ X, x < a < b.
Portanto, b não é a menor cota superior de X, ou seja, b não
é o supremo de X, o que é uma contradição.
90
Você saberia listar 10 números irracionais que são maiores que 500?
É fácil, pois se x é um número racional e y um número irracional
então o produto de x por y é irracional.
Assim, podemos listar facilmente
√ √os 10 números
√ pedidos. Por exem-
plo, poderíamos tomar: 500 2, 501 2, · · · , 509 2.
Vamos finalizar o Capítulo enunciando um teorema muito impor-
tante, onde usamos fortemente os conceitos de supremo e ínfimo vistos
acima.
Proposição 10.19. (Princípio dos Intervalos Encaixados) Seja I1 ⊃
I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ · · · uma sequência decrescente de intervalos fechados e
limitados, In = [an , bn ]. Então,
∞
\
In 6= ∅,
n=1
isto é, existe pelo menos um número real x tal que x ∈ In , ∀n. Mais
precisamos, temos:
∞
\
In = [a, b],
n=1
onde
a= sup {a1 , a2 , · · · , an , · · · }
b= inf {b1 , b2 , · · · , bn , · · · }
a1 ≤ a2 ≤ · · · ≤ an ≤ an+1 ≤ · · ·
e
b1 ≥ b2 ≥ · · · ≥ bn ≥ bn+1 ≥ · · · .
Além disso, am ≤ bn , ∀m, n.
Logo, cada bn é uma cota superior do conjunto A = {a1 , a2 , · · · , an , · · · }
e cada am é uma cota inferior do conjunto B = {b1 , b2 , · · · , bn , · · · }.
Existem, então, a = supA e b = inf B em R.
Como a = supA, segue que am ≤ a, ∀m.
Como todo bn é uma cota superior de A,
a ≤ bn , ∀n.
Temos, então,
an ≤ a ≤ bn , ∀n.
Análise I
91
ou seja,
∞
\
a∈ [an , bn ].
n=1
I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ · · ·
92
Exercícios Propostos
93