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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


2ª Câmara de Direito Privado

Registro: 2011.0000300786

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 9174743-


94.2004.8.26.0000, da Comarca de São Luiz do Paraitinga, em que são apelantes
BENEDITO LOPES FERNANDES e CECILIA DA SILVA PIAO sendo apelado
PAULO EUGENIO RAMOS.

ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ


JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente sem voto), LUÍS FRANCISCO AGUILAR
CORTEZ E ALVARO PASSOS.

São Paulo, 29 de novembro de 2011.

Fabio Tabosa
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
2ª Câmara de Direito Privado

Apelantes – Benedito Lopes Fernandes e Cecília da Silva Pião


Apelado Paulo Eugenio Ramos
Apelação nº 9174743-94.2004.8.26.0000 1ª Vara Cível de São Luiz do Paraitinga
Voto nº 2.169

Sucessão. Comoriência. Acidente de veículos. Prova dos


autos indicativa da morte dos filhos posteriormente à da
genitora. Inaplicabilidade da presunção de simultaneidade
do art. 11 do CC/1916. Sucessão do patrimônio da genitora
consumado quanto a seus filhos, previamente ao
falecimento desses. Condição de herdeiro do genitor das
crianças, ex-marido da falecida, reconhecida, em
detrimento dos ascendentes dessa. Sentença de procedência
da ação declaratória em tal sentido confirmada. Apelação
dos réus desprovida.

VISTOS.

A r. sentença de fls. 250/256 julgou procedente ação


declaratória de inexistência de comoriência (sic) movida por genitor de menores
falecidos em acidente automobolístico contra os avós das crianças, genitores da mãe
dessas, morta na mesma oportunidade; reconheceu, nesse sentido, que o falecimento da
mãe foi instantâneo e anterior ao dos filhos, ainda socorridos por populares com vida,
afastando desse modo a hipótese de comoriência e declarando assim “plena condição
jurídica de herdeiro do autor em relação à sua prole” (sic).
Apelam os réus (fls. 258/269), atacando a conclusão do julgado
e qualificando de contraditório e incerto o conjunto probatório, não permitindo
conclusão segura quer sobre a morte imediata da filha deles, Maria do Carmo
Fernandes, quer sobre a sobrevivência a ela de seus filhos, netos dos apelantes. Em tais
condições, insistem na hipótese de comoriência e na condição de herdeiros deles, réus,
quanto ao patrimônio deixado por Maria do Carmo.
O recurso, que é tempestivo, foi recebido nos efeitos devolutivo

Apelação nº 9174743-94.2004.8.26.0000 - São Luiz do Paraitinga Voto nº 2169 2


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e suspensivo (fl. 270) e regularmente processado, com apresentação de resposta pelo


apelado no prazo legal (fls.273/283).

É o relatório.

Inicialmente, comportam ressalva dois aspectos referentes aos


termos como formulada a pretensão inicial.
Por um lado, sem embargo do uso comumente aceito para a
expressão, não há que se falar na espécie, propriamente, em “inexistência de
comoriência”, no sentido dado pelo autor, ou seja, quanto ao fato de não ter havido
simultaneidade nas mortes de mãe e filhos. Comoriência, para efeitos legais, é a morte
de dois ou mais indivíduos na mesma ocasião não necessariamente no mesmo instante
temporal -, podendo assim haver ou não simultaneidade de óbitos; se não houver
condições de se precisar qual dos comorientes faleceu primeiro, então será presumida a
simultaneidade, a teor do art. 11 do Código Civil de 1916, vigente na data da abertura
das sucessões (e correspondente ao art. 8º do Código Civil de 2002).
Comoriência portanto, entre a genitora e os filhos mortos no
acidente descrito na petição inicial, houve em sentido técnico. O que se quer ver
declarado, nesse sentido, é coisa diversa, vale dizer, que não houve simultaneidade entre
os óbitos dos comorientes, intuito de todo modo passível de ser extraído do pedido
inicial e que deve ser para os devidos fins considerado, relevando-se o aspecto
terminológico.
De se reforçar neste passo, conquanto não tenha havido nos
autos questionamento a respeito, o interesse de agir para a propositura de ação
declaratória em tal sentido. Em princípio, não se justifica provimento puramente
declaratório para o reconhecimento de simples fatos, com a exceção clássica e
ressalvada em lei da autenticidade ou falsidade de documento; entretanto, no tocante ao
instituto da comoriência, apesar de o confronto entre os momentos dos óbitos ser
essencialmente ato ligado ao plano dos fatos, adquire relevância jurídica na medida em

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que possa interferir na determinação da condição hereditária dos familiares dos


falecidos.
Sob esse prisma, enfim, como qualificação de fatos com
repercussão sucessória, o confronto entre os momentos dos óbitos pode ser objeto de
provimento meramente declaratório, associado ao reconhecimento da condição de
herdeiro (que é status jurídico, representativo pois de situação jurídica, e por si só
justifica pedido declaratório, em aplicação extensiva da regra do art. 4º do CPC, alusiva
ao conceito mais limitado de relação jurídica).
A propósito da condição hereditária comporta de resto outra
ressalva a petição inicial, que fala na declaração da condição jurídica de herdeiro do
autor, aqui apelado, em relação à sua prole. Ora, não suscita maiores dificuldades, nem
consta possa ter sido em algum momento questionada pelos réus-apelantes, a situação
de hereditária do autor em relação a seus próprios filhos falecidos.
O problema é de outra ordem, e diz respeito à genitora desses e
ex-cônjuge do autor, Maria do Carmo, de quem havia o demandante se separado dez
dias antes do acidente: estabelecida a simultaneidade, não haveria transmissão
hereditária de Maria do Carmo para os únicos filhos, apresentando-se então seus pais,
aqui apelantes, como seus sucessores imediatos; em contrapartida, reconhecendo-se a
precedência do falecimento da genitora em relação aos filhos, receberiam esses a
totalidade dos bens de Maria do Carmo nesse caso com exclusão dos avós maternos -,
transmitindo-os no momento subseqüente, com seu falecimento, ao ora apelado.
A disputa se põe portanto entre os pais de Maria do Carmo e os
falecidos filhos dessa, Leonardo e Leônidas, sendo nesse sentido inócua a consideração
do vínculo hereditário entre as crianças falecidas e seu próprio genitor. O interesse do
autor deriva, em suma, de sua condição de sucessor natural dos filhos, mas o cerne da
discussão está na vocação hereditária quanto ao patrimônio da referida Maria do Carmo,
e não dos primeiros.
Novamente, contudo, a expressão literal da petição inicial não
exclui que se aprecie o pedido de tutela sob o enfoque realmente pretendido e facilmente

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divisável no âmbito do conflito estabelecido.


Feitas essas ressalvas, o caso é de confirmação da r. sentença.
Todas as pessoas que se aproximaram dos veículos acidentados
para prestar socorro atestam que ao chegar ao local dos fatos as duas mulheres (Maria
do Carmo e sua irmã) aparentavam estar mortas e as crianças vivas (tanto que uma delas
chegou a ser levada por uma das testemunhas, Valcir, para o hospital).
As testemunhas dos réus, por sua vez, declararam não terem
participado do socorro; embora Terezinha Lopes Soares (fls. 229/230) tenha afirmado
que “o garoto que foi retirado do carro não dava sinais de vida”, afirmou expressamente,
por outro lado, que “não prestou socorro às vítimas, apenas ficou ao lado vendo as
pessoas prestarem socorro”. Ou seja, não tocou o garoto e não tinha plenas condições de
perceber se estava ou não vivo. Ademais, nada disse a respeito do outro garoto que ficou
dentro do carro e cuja sobrevida, isoladamente, já seria suficiente para a procedência da
demanda.
O mesmo se pode dizer de Mário da Silva Reimberg (fls.
231/232), que embora tenha afirmado que o caçula não dava sinais de vida, “não ajudou
a retirar as crianças do carro” e “não viu se a menina se mexia ou falava alguma coisa,
assim como o menino”, sendo que “não chegou próximo ao corpo do menino que estava
deitado no asfalto”.
As pequenas discrepâncias entre os depoimentos prestados pela
testemunha José Valcir Rodrigues da Silva no inquérito policial e em juízo (fls. 60/61 e
fls. 225/226) não são de molde a comprometer as informações prestadas em juízo, sob o
crivo do contraditório e de maneira firme.
Tanto ele quanto a testemunha Clodoaldo Galvão (fls. 223/24) e
a própria esposa de Valcir, Maria de Lourdes Ivo Rodriques (fls. 227/228), a primeira
também ouvida no inquérito policial, asseveraram os sinais vitais emitidos pelas
crianças, o que também havia sido feito perante a autoridade policial por outra
testemunha, Benedito Antonio da Silva, que não chegou a ser inquirida judicialmente.
Reforça ainda essa convicção a impressão de sinceridade

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transmitida à digna Magistrada que presidiu os depoimentos, sendo digno de nota que
em momento algum se questionou a presença das testemunhas no local e seu auxílio no
socorro às vítimas, ou mesmo se cogitou de qualquer intenção ou interesse dessas
testemunhas em falsear a verdade.
Por outro lado, a sugestão meramente especulativa da apelação
quanto a não haver como atestar, em termos médicos, se Maria do Carmo realmente
morreu no interior do veículo, não se presta a criar incerteza em torno desse aspecto,
que, nas circunstâncias, e à míngua de condições para exames técnicos mais precisos,
pode ser aceito tal qual descrita pelas testemunhas.
Aceita-se, em tais condições, que os filhos morreram
posteriormente, sendo a prova suficiente a afastar a presunção legal de simultaneidade.
Os filhos chegaram a suceder, ainda que por questão de minutos, sua genitora, mediante
aplicação da regra da saisine, e nessas condições fica excluída a condição de herdeiros
dos réus, aqui apelantes, quanto ao patrimônio de Maria do Carmo.
Assim, correto o reconhecimento da condição de herdeiro do
autor-apelado quanto aos bens correspondentes, por subseqüente sucessão dos filhos
comuns.
Fica pois, com as ressalva antes feitas, confirmada r. sentença.
Ante o exposto, nega-se provimento à apelação.

FABIO TABOSA
Relator

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