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ISSN 2237-714X

Revista SÍNTESE
Direito Previdenciário
Ano XIV – Nº 66 – Maio-Jun 2015

Repositório autorizado
Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013
Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087
Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26
Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS
Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

Diretor Executivo
Elton José Donato

Gerente Editorial e de Consultoria


Eliane Beltramini

Coordenador Editorial
Cristiano Basaglia

Editora
Valdinéia de C. Tessaro de Souza

Conselho Editorial
Danilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia,
Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante,
José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia,
Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos,
Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo,
Wladimir Novaes Martinez

Comitê Técnico
Hermes Arrais Alencar,
Luciano Marinho Filho,
Marco Aurélio Serau Junior
Tatiana Sada Jordão

Colaboradores desta Edição


Bruno Sá Freire Martins, Cássia Bertassone da Silva, Fernanda de Paula Campolina, Francis Kessler,
Ivani Contini Bramante, Juliano Sarmento Barra, Marco Aurélio Serau Junior,
Sérgio Henrique Salvador, Theodoro Vicente Agostinho, Wladimir Novaes Martinez
2011 © SÍNTESE
Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.
Publicação mensal de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos trabalhistas e previdenciários.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.
Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-
tivos tribunais.
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Distribuída em todo o território nacional.
Tiragem: 5.000 exemplares
Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração
Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço rst@sage.com.br.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista SÍNTESE Direito Previdenciário. – Ano 14, n. 66 (maio/jun. 2015)- . – São Paulo: IOB, 2011- .
v. ; 23 cm.
Trimestral: 2001-2011. Bimestral: 2011- .
Continuação de: Revista de Direito Social. Ano 1, n. 1 (jan./mar. 2001)-ano 10, n. 42 (abr./jun. 2011).
Publicação: Sapucaia do Sul: Notadez, 2001-2010; São Paulo: SÍNTESE, 2011.
Descrição baseada em: Ano 10, n. 45 (jul./ago. 2011).

ISSN 2237-714X

1. Ciências sociais aplicadas - Periódico. 2. Legislação social - Periódico. 3. Direito previdenciário - Periódico.

CDU: 34:368.4
CDD: 341.67

Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues – CRB 10/1569

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IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. Demais localidades 0800.7247900
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05036‑060 – São Paulo – SP SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900
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E-mail: sacsintese@sage.com
Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900
Demais localidades 0800.7283888
Carta do Editor
Nesta edição da Revista SÍNTESE Direito Previdenciário escolhe-
mos com o Assunto especial o tema “O Novo CPC e o Direito Previ-
denciário” com a publicação de dois artigos de autoria dos Drs. Marco
Aurélio Serau Junior, Theodoro Vicente Agostinho e Sérgio Henrique
Salvador.
Os autores analisam se com a nova lei em vigor a partir de 2016
haverá impacto nas ações previdenciárias, uma vez que há prerrogativas
legais para a Fazenda Pública, as Autarquias e fundações.
Os Drs. Theodoro e Sérgio Henrique salientam:
Ora, nesta caminhada, o novo processo civil elencou as relações priva-
das como preponderantes para percebimento de uma tutela jurisdicional
mais ágil e coesa, não tendo a comissão de juristas aferido o abrigo pro-
cessual jurisdicional por conta das sociais relações previdenciárias.

Já na Parte Geral desta edição, levamos a você o que há de mais


atual e relevante no Direito Previdenciário com a publicação de diver-
sos Acórdãos na Íntegra, Seções Especiais, Doutrinas, Clipping Jurídico,
Tabelas e Bibliografia Complementar.
Na Seção de doutrinas, contamos com a participação dos Drs.
Bruno Sá Freire Martins, Juliano Sarmento Barra e Francis Kessler, Cássia
Bertassone da Silva e Ivani Contini Bramante.
Além disso, publicamos as Seções especiais intituladas “Com a Pala-
vra, o Procurador”, com um artigo da Dra. Fernanda de Paula Campolina
abordando “A Ação Regressiva Acidentária e a Reabilitação Profissional:
Obrigação de Fazer ou Ressarcimento?”; e, “Em Poucas Palavras”, com
um texto do Dr. Wladimir Novaes Martinez tecendo considerações acerca
da “Utilização de EPI Quando do Ruído”.
Desejamos a você uma excelente leitura!

Eliane Beltramini
Gerente Editorial e de Consultoria
Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos.....................................................................7

Assunto Especial
O Novo CPC e o Direito Previdenciário

Doutrinas
1. Impacto do Novo CPC sobre as Ações Previdenciárias
Marco Aurélio Serau Junior........................................................................9
2. O Novo CPC e o Direito Previdenciário
Theodoro Vicente Agostinho e Sérgio Henrique Salvador........................30

Parte Geral
Doutrinas
1. Limite para o Acúmulo de Pensões por Morte na Previdência
do Servidor
Bruno Sá Freire Martins............................................................................35
2. Noções Preliminares sobre o Acordo Internacional de Previdência
Social entre o Brasil e a França
Juliano Sarmento Barra e Francis Kessler..................................................43
3. Limbo Jurídico Trabalhista Previdenciário
Cássia Bertassone da Silva........................................................................59
4. Da Licença e Salário-Maternidade à Licença-Natalidade-Infância
e Salário-Maternidade Parental – Releitura dos Direitos
Previdenciários à Luz do Novo Conceito de Família
Ivani Contini Bramante............................................................................74

Jurisprudência Previdenciária
Acórdãos na Íntegra
1. Supremo Tribunal Federal........................................................................93
2. Superior Tribunal de Justiça...................................................................102
3. Superior Tribunal de Justiça...................................................................109
4. Tribunal Regional Federal da 1ª Região..................................................119
5. Tribunal Regional Federal da 2ª Região..................................................129
6. Tribunal Regional Federal da 3ª Região..................................................140
7. Tribunal Regional Federal da 4ª Região..................................................150
8. Tribunal Regional Federal da 5ª Região..................................................160
Ementário Previdenciário
1. Ementário de Jurisprudência Previdenciária...........................................170

Seção Especial
Com a Palavra, o Procurador
1. A Ação Regressiva Acidentária e a Reabilitação Profissional:
Obrigação de Fazer ou Ressarcimento?
Fernanda de Paula Campolina...............................................................210

Em Poucas Palavras
1. Utilização de EPI Quando do Ruído
Wladimir Novaes Martinez....................................................................217

Clipping Jurídico...............................................................................................223
Resenha Legislativa...........................................................................................226
Tabelas Práticas...............................................................................................227
Bibliografia Complementar..................................................................................228
Índice Alfabético e Remissivo..............................................................................229
Normas Editoriais para Envio de Artigos
1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-
cados em sua área temática.
2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do
Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi­
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8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-
TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os
pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.
9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou
expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa
ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-
das por ponto.
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Assunto Especial – Doutrina
O Novo CPC e o Direito Previdenciário

Impacto do Novo CPC sobre as Ações Previdenciárias


Marco Aurélio Serau Junior
Mestre e Doutor em Direitos Humanos (Universidade de São Paulo), onde pesquisa o acesso
à justiça na área previdenciária e os meios alternativos à solução do conflito previdenciário.
Especialista em Direito Constitucional (Escola Superior de Direito Constitucional), Especialista
em Direitos Humanos (Universidade de São Paulo), Professor Universitário e de Cursos de
Pós-Graduação. Autor de diversos artigos jurídicos e diversas obras.

RESUMO: O artigo discute as inovações que chegam com o novo Código de Processo Civil e o
seu impacto sobre o processo judicial previdenciário, considerado como o segmento judicial que
tem por objeto a concessão ou revisão de benefícios previdenciários. Apresenta as primeiras
observações sobre o novo texto legal, priorizando alguns aspectos que devem ter profundo
efeito nas ações previdenciárias, tudo a depender, por certo, do uso das inovações legais que
advier da práxis judicial.

PALAVRAS-CHAVE: Direito previdenciário; processual; inovações.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Observações gerais sobre o processo judicial previdenciário; 2 Regras


gerais do novo CPC e os seus reflexos nas ações previdenciárias; 3 O formato da conciliação
no novo CPC; 4 Necessidade de fundamentação das decisões judiciais; 5 Regime probatório no
novo CPC e as ações previdenciárias; 6 Aspectos recursais; Conclusões; Referências.

Introdução
O artigo discute as inovações que chegam com o novo Código
de Processo Civil e o seu impacto no processo judicial previdenciário,
considerado, em sentido amplo, como o segmento judicial que tem por
objeto a concessão ou revisão de benefícios previdenciários (Serau Jr.,
2014; Savaris, 2008; Tavares, 2009).
Procurou-se dar ênfase àquilo que constitui novidade em relação
ao regime processual anterior, visto que muitas regras gerais e particula-
res são preservadas.
Deve ser registrado que não temos a pretensão de esgotar o tema,
pois outros reflexos do novo estatuto processual podem ser igualmente
10 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

relevantes na seara das ações previdenciárias, sobretudo pela jurispru-


dência que dele advier.

1 Observações gerais sobre o Processo Judicial Previdenciário

Antes de analisarmos os impactos do novo Código de Processo


Civil nas ações previdenciárias, cumpre dar uma definição mínima do
que compreendemos por processo judicial previdenciário.
Em sentido amplo, cuida-se do segmento judicial que tem por ob-
jeto a concessão ou revisão de benefícios previdenciários e de assistên-
cia social (Serau Jr., 2014; Savaris, 2008; Tavares, 2009), a exemplo da
pensão por morte, da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença,
entre outros benefícios.
A doutrina anota a existência de complexidades fáticas típicas do
processo judicial previdenciário: informalidade e precariedade das re-
lações de trabalho; escamoteamento da verdade trabalhista por conta
da relação de dependência econômica do empregado; informalidade e
precariedade das relações de trabalho no campo; condição de trabalho
da mulher, geralmente informal e subremunerada; dificuldade de ma-
nutenção de provas/documentos de situações transcorridas há décadas,
diante do baixo grau de instrução de parcela considerável da população
(Serau Jr., 2014).
A relação processual específica que ocorre na ação previdenciária
é bastante assimétrica: de um lado, o INSS, responsável pelos benefícios
previdenciários, uma autarquia federal dotada de inúmeras prerrogativas
processuais (prazo em dobro, intimação pessoal, pagamento por meio de
precatórios, etc.), defendida por Procuradoria Federal altamente gabari-
tada e especializada; de outro, o segurado ou dependente da Previdên-
cia Social, cidadão comum, normalmente carente em termos financeiros
e de recursos educacionais e informacionais, muitas vezes despido de
representação judicial de qualidade (CJF, 2012: 102-103; Savaris, 2014:
56). Enfim, tudo a indicar uma situação típica de grande vulnerabilidade
processual (Tartuce, 2012).
A arguição central desse breve trabalho é se as regras gerais e es-
pecíficas que virão com o novo CPC são adequadas ao tratamento das
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 11
demandas previdenciárias, caracterizadas por estas particularidades des-
critas supra.

2 Regras gerais do novo CPC e OS seus reflexos nas ações previdenciárias


O novo CPC promove algo que se pode denominar releitura cons-
titucional do processo civil. O novo estatuto processual civil é inserido
no contexto do pós-positivismo, onde prevalecem princípios e valores
constitucionais, sobretudo o princípio da dignidade humana, e a ideia
de justo não se reduz às regras legais (Fux, 2011: 13-14).
As ações previdenciárias permitem bom exemplo de aplicação
prática desse intuito constitucional do novo CPC. O processo judicial
previdenciário é justamente um mecanismo de solução de conflito es-
pecífico, onde contende o segurado contra a autarquia previdenciária,
tendo por objeto a concessão de um benefício previdenciário e, assim, a
concretização desse direito fundamental (Serau Jr., 2009).
Essa característica fica muito clara nos preceitos iniciais do novo
CPC, que podem ser lidos como mecanismo de concretização dos direi-
tos fundamentais. Chama a atenção, inicialmente, o art. 1º: “O processo
civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as
normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Fede-
rativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” 1.
Louvamos esta inserção a respeito da necessidade de observação
dos princípios e valores fundamentais estabelecidos no Texto Constitu-
cional. A utilização dos princípios e valores constitucionais é um cami-
nho que tem sido utilizado com frequência para a reinterpretação da
legislação previdenciária, opondo-se o segurado à interpretação literal
efetuada pelo INSS (Correia, 2004; Serau Jr., 2009).
No mesmo sentido deve-se festejar a introdução de uma regra
como a que aparece no futuro art. 8º (“Ao aplicar o ordenamento jurídi-
co, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, res-
guardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando
a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a

1 Daqui em diante, caso não haja referência em sentido diverso, todos os artigos mencionados e citados se
referem ao novo Código de Processo Civil. Conforme conveniente à exposição das ideias, os dispositivos legais
poderão ser transcritos em nota de rodapé ou no próprio corpo do texto.
12 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
eficiência”), especialmente pelo fato de determinar ao juiz a observância
de princípios como da dignidade da pessoa humana, da razoabilidade e
proporcionalidade e da eficiência.
Essa inovação principiológica do novo estatuto processual redun-
da, em termos práticos, em preceitos como o futuro art. 4892, que deter-
mina ao juiz, na sentença, explicar analiticamente os conceitos juridi-
camente indeterminados nos quais tenha fundamentado a sua decisão,
bem como a demonstração dos critérios pelos quais realizou pondera-
ção e sopesamento no caso de eventual colisão de normas jurídicas.
Essa norma pode ter impacto extremamente positivo no processo
judicial previdenciário, onde defendemos uma posição mais ativa do
juiz, preferencialmente (re)interpretando os conceitos previdenciários à
luz da Constituição Federal (com fundamento em seus princípios e valo-
res) – e aí a necessidade de indicar precisamente a compreensão dada a
certos conceitos juridicamente indeterminados, como a boa-fé (no caso
de uma eventual discussão sobre restituição de benefício previdenciário)
ou a dignidade da pessoa humana (no caso de ações buscando benefício
assistencial para o deficiente, p. ex.).
Também é de importância salutar a disposição do art. 6º, segundo
a qual “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que
se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.
No processo judicial previdenciário, essa norma pode ter impli-
cações práticas bastante relevantes, explicitando a premência da cola-
boração processual da autarquia previdenciária, em especial no forne-
cimento de documentos e informações que estejam a seu cargo3, como

2 “Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


[...]
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que:
[...]
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
§ 2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que
fundamentam a conclusão.”
3 Ideia reforçada pelas disposições contidas nos arts. 370 e 438:
“Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao
julgamento do mérito.”
“Art. 438. O juiz requisitará às repartições públicas, em qualquer tempo ou grau de jurisdição:
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 13
o fornecimento de informações constantes do CNIS ou do próprio pro-
cesso administrativo de concessão de benefício previdenciário – regra
muitas vezes descumprida na prática.
Merece menção a regra do art. 7º4, segundo a qual as partes terão
direito a um contraditório efetivo, para o que concorrerá a atuação do
juiz, a fim de compensar desigualdades fáticas e técnicas.
O escopo desse dispositivo legal não é o de conferir poderes ins-
trutórios ao juiz, a fim de “poupar à parte indiligente, mas para assistir
à parte fragilizada e viabilizar a obtenção de elementos demonstrativos
da verdade real” (Menezes, 2011: 209). Trata-se de elemento novo e
bastante importante nas ações previdenciárias, em particular no campo
da produção de provas, pois muitas vezes os segurados são assistidos
por profissionais despreparados, seja por motivos econômicos seja por
motivos informacionais-culturais, e não conseguem exercer à perfeição
a defesa de seus direitos, mormente considerada a instabilidade e com-
plexidade da legislação previdenciária (CJF, 2012: 102-103).
Outro impacto que pode advir com o novo CPC é a introdução
do princípio da adequação procedimental, que confere maiores poderes
para a atuação judicial.
Conforme Menezes (2011: 200),
a noção de adequação das formas pelo juiz, [...] não passa por sua com-
pleta abolição, mas sim por seu ajuste e aplicação das formas legais de
modo razoável, com respeito às garantias constitucionais e processuais,
voltadas a promover a justiça no caso concreto, pela correta aplicação
do Direito adjetivo.

Outrossim, e segundo o mesmo jurista, a adequação de formas


processuais tem lugar para atender às especificações do conflito, e a
forma a ser implementada em relação à forma legal deve ser a mais
apta a garantir, concretamente, a efetividade da tutela do bem jurídico
disputado:

I – as certidões necessárias à prova das alegações das partes;


II – os procedimentos administrativos nas causas em que forem interessados a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios ou entidades da administração indireta.”
4 “Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo
ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.”
14 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
A experiência comprova que ante a multiplicidade de fatores existen-
tes na realidade e a dinamicidade da própria sociedade, nem sempre
as formas de antemão estipuladas na lei são as melhores para atender
ao caso concreto, quer por ser o conflito dotado de características não
previstas – ou até inexistentes – ao tempo da formulação legislativa do
procedimento, quer por serem capazes as partes ou o magistrado de ela-
borar uma forma viável de proteger com mais sucesso o bem jurídico.
(Menezes, 2011: 201)

Essa possibilidade de adequar a forma dos atos processuais quan-


do inadequados às peculiaridades da causa5 é particularmente importan-
te no processo judicial previdenciário, face às características das ações
previdenciárias já apontadas supra.
Cremos que em muitos casos, em virtude dos particularismos re-
gionais e culturais (benefícios previdenciários e assistenciais às popula-
ções rurais; desnível educacional e instrucional a refletir na conserva-
ção de documentos e do próprio conhecimento dos direitos, etc.), e seu
inevitável choque com a aplicação de uma legislação previdenciária de
abrangência nacional, será necessário e importante a adequação proce-
dimental.

3 O formato da conciliação no novo CPC


O novo CPC, em diversos de seus dispositivos, como o art. 139,
inciso V, e mais precisamente o art. 3346, priorizam a conciliação como

5 “Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente
capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre
os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste
artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de
adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.”
6 Veja-se a literalidade do art. 334 do novo Código de Processo Civil:
“Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar
do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta)
dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§ 1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de conciliação ou de
mediação, observando o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária.
§ 2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não podendo exceder a 2 (dois)
meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessárias à composição das partes.
§ 3º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.
§ 4º A audiência não será realizada:
I – se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 15
forma de resolução de conflitos. A autocomposição, aliás, é tida como
um dos pilares da estrutura do novo estatuto processual civil e dos novos
rumos do sistema de justiça brasileiro.
Não somos radicalmente contra a adoção de métodos alternativos
de solução de conflitos (alternativos à solução judicial, registre-se). Po-
rém, a utilização da conciliação em matéria previdenciária deve obser-
var certas ressalvas, certas cautelas7.
Já se observou que o INSS aceita acordos, nas tentativas de conci-
liação, somente quando a pretensão do autor se revela inequívoca. Os
estritos parâmetros nos quais o Procurador da autarquia previdenciária
pode realizar conciliação judicial residem nas duas hipóteses seguintes:
a) inexistir controvérsia quanto ao fato e ao direito a ser aplicado, o
que se verifica a partir e tão somente das súmulas administrativas edita-
das pelo Advogado-Geral da União; b) erro administrativo, reconheci-
do pela autoridade competente, derivado o erro de simples análise de
provas e documentos que instruam a ação. Fora desses parâmetros, o
entendimento comum é que a realização de conciliação implicaria em
ofensa ao interesse público. Nessas hipóteses, entretanto, deveria ha-
ver revisão de ofício pela própria Administração, no exercício do dever
de autotutela administrativa, sem necessidade de recurso à via judicial
(Batista, 2014: 122-124).

II – quando não se admitir a autocomposição.


§ 5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por
petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.
§ 6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os
litisconsortes.
§ 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico, nos termos da lei.
§ 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato
atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica
pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
§ 9º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos.
§ 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes para negociar
e transigir.
§ 11. A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.
§ 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de modo a respeitar o intervalo
mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o início da seguinte.”
7 Para maior aprofundamento sobre esse tema, veja-se minha tese de Doutorado, “Resolução do conflito
previdenciário e os direitos fundamentais” (Serau Jr., 2015), bem como, no campo especificamente
processual, a dissertação de Mestrado de Bruno Takahashi, “O papel do terceiro facilitador na conciliação de
conflitos previdenciários” (Takahashi, 2015).
16 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
Nessas hipóteses, porém, não há sentido em impor às partes auto-
ras dos processos judiciais previdenciários a renúncia à parcela de seus
direitos. As soluções processuais já existentes (medidas cautelares ou
antecipatórias de tutela jurisdicional, por exemplo) são suficientes e de
melhor qualidade (Vaz, 2012: 39).
O efetivo consenso enseja um tipo de acordo que seja mais do que
um simples “termo de adesão”, proposto vertical e unilateralmente pelo
Poder Público (Palma, 2014: 167), no caso o INSS.
Inexistindo avanço nesse parâmetro, a redução dos valores devi-
dos aos segurados e pensionistas, quando da realização de conciliação
judicial, seria uma espécie de “calote” chancelado pelo Poder Judiciá-
rio (Vaz, 2012: 39), o que de modo algum é aceitável, pois os segura-
dos aceitam os acordos premidos pela necessidade financeira urgente
(Batista, 2014: 126-127).
As conciliações se caracterizam, no campo teórico consolidado
das ADRs, como recíprocas concessões das partes, de modo que, cada
uma cedendo em relação a uma parcela do seu direito, chegue-se ao
fim do conflito. Porém, nas conciliações realizadas nas ações previden-
ciárias o risco marginal (prejuízos) recai unilateralmente sobre um dos
lados do conflito, tornando-se financeiramente mais vantajosa a solução
adjudicada.
Também consideramos problemática a prática, comum por parte
da AGU, de embutir, nas propostas de acordo em matéria de concilia-
ção previdenciária, cláusulas obstativas do direito de o segurado voltar
a procurar o Poder Judiciário a respeito do mesmo benefício (Ladenthin,
2014: 73), pois não é possível renunciar a direitos fundamentais futuros.
Todas estas críticas teóricas se aplicam ao modelo proposto pelo
novo CPC às conciliações e mediações, que merece apontamentos tam-
bém em relação às inovações que traz nesse campo, a começar pela
compulsoriedade do modelo, o que fica especialmente claro do art. 334,
caput, do texto aprovado:
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for
o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência
de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 17
dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de ante-
cedência.

Outro ponto de preocupação reside no fato de eventual ausência à


audiência conciliatória representar ato atentatório à dignidade da justiça
(art. 334, § 8º). Os autores de ações previdenciárias carecem de recursos
financeiros em nível de, muitas vezes, terem dificuldade de locomoção e
acesso físico aos fóruns (além dos fatores de idade avançada e de doen-
ças que os acometam), de modo que a aplicação dessa penalidade deve
ser muito bem analisada.
Um último tópico processual a ser objeto de crítica, quanto à con-
ciliação, é o estabelecimento de um tempo exíguo para a sua realização
(vinte minutos), certamente insuficiente ao esclarecimento dos fatos da
causa e das complexas normas jurídicas previdenciárias.

4 Necessidade de fundamentação das decisões judiciais

A jurisprudência previdenciária coleciona decisões verdadeira-


mente incompreensíveis, das quais não se pode identificar, em absoluto,
quais as questões jurídicas discutidas no processo, às vezes o próprio
segmento do Direito debatido em cada caso. Conforme Caetano Costa
(2010: 19),
o problema desse tipo de decisão, por sua generalidade extrema, é que
vale para todos e para ninguém, ao mesmo tempo. O que vale dizer
que se aplica a todos os casos concretos, pois resolve, estatisticamente,
as demandas repressadas mas deixa inatingível o principal objetivo de
qualquer sistema de justiça, que é a própria noção de justiça que deve
permear qualquer sistema.
Alia-se a esse generalismo um discurso em que o próprio julgador narra
que não está obrigado a analisar todos os aspectos levantados pelas par-
tes quando sequer analisa uma nota característica do caso concreto sub
judice.

O novo CPC traz regra a respeito dos elementos estruturantes da


sentença e indica, com vigor, a necessidade de fundamentação adequa-
da para as decisões judiciais, vedando a fundamentação genérica ou
alienada do caso concreto. Veja-se o seguinte excerto do futuro art. 489:
18 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
[...]
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo,
sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes
de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem iden-
tificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso
em julgamento ou a superação do entendimento.

Essa nova disposição normativa promete avanço importante no


processo judicial previdenciário.

5 Regime probatório no novo CPC e as ações previdenciárias

Os fatores peculiares do processo judicial previdenciário tornam


a produção de provas, nas ações previdenciárias, um momento-chave
desse tipo de ação judicial, e daí a importância das novas regras proces-
suais que passam a vigorar, eventualmente capazes de romper com o
tradicional formalismo do processo civil.
O princípio da atipicidade das provas, previsto no Código de Pro-
cesso Civil de 1973 (no famoso art. 332) e encampado também no novo
CPC, é um dos elementos por meio do qual se pode fazer evoluir esse nó
górdio, pois representa a autorização conferida para que outros modos
de produção de prova sejam empregados, além daqueles previstos em
lei – seja por ausência de regramento, seja por regulamentação incom-
pleta (défice regulatório) –, configurando um mecanismo de completude
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 19
do sistema probatório e não forma de violação de lei, possibilitando
superar os modos impossíveis ou excessivamente onerosos de produção
de provas (Ferreira, 2014: 59, 63-67).
O novo CPC mantém, em linhas gerais, as normas anteriores ati-
nentes à instrução probatória, introduzindo, porém, algumas disposições
gerais que podem ser muito interessantes para o avanço do processo
judicial previdenciário.
É nesse sentido que interpretamos a regra geral contida no art. 257
(“As partes têm direito de empregar todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar fatos em que se funda a ação ou a defesa e influir eficazmente
na livre convicção do juiz”), principalmente por admitir amplos meios
de prova e possibilitar a influência eficaz na convicção do magistrado.
Essa perspectiva principiológica de eficaz influência na convic-
ção do magistrado faz-se muito interessante na ação previdenciária, co-
nhecida pela característica da deficiência documental e probatória das
partes que figuram no polo ativo (segurados e dependentes) quanto à
comprovação dos requisitos que lhe são exigidos para a obtenção dos
benefícios previdenciários.
Mantém-se o sistema de livre convencimento motivado do juiz, o
que fica bastante explícito na redação dos arts. 369 e 371:
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Códi-
go, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa
e influir eficazmente na convicção do juiz.
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independente-
mente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões
da formação de seu convencimento.

Também valerá a prova emprestada de outro processo, embora


deva ser observado o contraditório8. Esse preceito novo possui um cla-
ro mérito, ao permitir a utilização de provas produzidas em processos
diversos. Porém, paradoxalmente propicia prorrogar os problemas que

8 “Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que
considerar adequado, observado o contraditório.”
20 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
atualmente existem em relação à validade das provas (principalmente
em relação ao tempo de trabalho e às condições de trabalho do segu-
rado) produzidas na Justiça do Trabalho, as quais são, diuturnamente,
impugnadas pelo INSS, principalmente sob a alegação de inexistência
de contraditório em sua constatação.
Na realidade, embora o preceito novo seja digno de elogios, a
preocupação em relação ao processo previdenciário diz respeito à já
existente resistência da autarquia previdenciária (e da própria Justiça Fe-
deral) em rejeitar situações laborais reconhecidas por meio de decisões
(sentenças ou acórdãos) da Justiça do Trabalho, negando-lhes validade
sob a alegação de ofensa ao contraditório.
No campo das ações, visando aos benefícios à população rural,
especialmente a aposentadoria por idade, revela-se interessante o dispo-
sitivo contido no art. 415, a permitir que registros domésticos, como car-
tas, sirvam de prova a certas situações ali tratadas9. Tal regra é relevante
à medida que flexibiliza a instrução probatória nas demandas ajuizadas
por esse segmento da população, onde impera a informalidade e ausên-
cia de registros formais das relações sociais e de emprego.
Uma regra constante do novo CPC, tomada de empréstimo do pro-
cesso trabalhista, vem a ser a possibilidade de o juiz distribuir de modo
diverso o ônus probatório10, eventualmente equilibrando as partes em
situação de desigualdade processual.
Vale sublinhar que o texto do novo CPC em nenhum momento
veda expressamente a inversão do ônus da prova nos processos envol-

9 “Art. 415. As cartas e os registros domésticos provam contra quem os escreveu quando:
I – enunciam o recebimento de um crédito;
II – contêm anotação que visa a suprir a falta de título em favor de quem é apontado como credor;
III – expressam conhecimento de fatos para os quais não se exija determinada prova.”
10 “Art. 373. O ônus da prova incumbe:
[...]
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à
excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova
do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo
pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.”
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 21
vendo a Fazenda Pública – como as ações previdenciárias ajuizadas
contra o INSS.
Tal como no regime processual de 1973, preconiza-se que o ma-
gistrado não se encontra preso às conclusões do laudo pericial quando
profere as suas decisões:
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no
art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar
ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o
método utilizado pelo perito.

No processo judicial previdenciário essa regra é de extrema re-


levância e faz parte de grande parte das discussões judiciais, espe-
cialmente no campo dos benefícios por incapacidade (auxílio-doença
e aposentadoria por invalidez). Mesmo que o laudo pericial, em uma
demanda desse tipo, indique capacidade laboral parcial (p. ex., incapa-
cidade laboral para trabalhos que envolvam desempenho físico, como
a atividade rural, mas capacidade laboral para atividades intelectuais),
a jurisprudência apresenta muitos casos de deferimento dos benefícios
por incapacidade, tendo em vista a condição socioeconômica da pessoa
(como idade avançada, baixo grau de instrução, estrutura econômica do
local onde reside e trabalha e mercado de trabalho restritivo).
Diante deste quadro típico do processo judicial previdenciário, a
possibilidade de os magistrados “desconstruírem” a metodologia utiliza-
da pelos laudos periciais é bastante relevante.
Nessa seara, reprovamos o modelo de instrução probatória que
vem com o art. 443, inciso II, o qual permite o indeferimento da prova
testemunhal quando o fato puder se provado apenas por documentos
ou perícia11. Como indicamos nos parágrafos imediatamente anteriores,
muitas vezes, nas ações previdenciárias, o juízo não se vê preso ao lau-
do pericial, decidindo também à luz das condições socioeconômicas e
culturais que caracterizem o ambiente do segurado promotor da deman-
da previdenciária.

11 “Art. 443. O juiz indeferirá a inquirição de testemunhas sobre fatos:


[...]
II – que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados.”
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Contudo, pode-se afirmar com segurança que o novo CPC não im-
pede o modelo de perícia biopsicossocial, tão importante no campo das
perícias previdenciárias (Caetano Costa, 2013), pois, inclusive, admite a
chamada perícia complexa12.
Em relação à verdade real, princípio específico e importante do
processo judicial previdenciário, vale mencionar que no regime vindou-
ro será lícito provar, por meio da prova testemunhal, certos vícios nos
contratos escritos13, esclarecendo situações em relação aos contratos de
trabalho, como, por exemplo, matéria importante para demonstração da
qualidade de segurado e do valor das contribuições.
No geral, verifica-se que o impacto direto do novo CPC no campo
da instrução probatória nas ações previdenciárias é extenso e positivo,
tudo a depender, conforme já alertamos, do uso que dessas novas regras
fizer a jurisprudência.

6 Aspectos recursais
A sistemática recursal do novo CPC preserva, em boa parte, o regi-
me anterior (salvo pequenas alterações, como a extinção do recurso de
embargos de divergência), mas, de modo geral, diminui as possibilida-
des de recorribilidade, pois objetiva combater a morosidade processual.
Uma regra geral no novo sistema será a irrecorribilidade em se-
parado, ou imediata, das decisões interlocutórias, com a preclusão das
decisões proferidas em primeiro grau, diferindo para o recurso de ape-
lação o exame da irresignação do prejudicado, salvo algumas decisões
específicas, impugnáveis por meio de agravo de instrumento, as quais
serão expressamente previstas em lei14 (Sokal, 2011: 412).

12 É o que define o art. 475:


“Art. 475. Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, o
juiz poderá nomear mais de um perito, e a parte, indicar mais de um assistente técnico.”
13 Veja-se a redação do art. 446:
“Art. 446. É lícito à parte provar com testemunhas:
I – nos contratos simulados, a divergência entre a vontade real e a vontade declarada;
II – nos contratos em geral, os vícios de consentimento.”
14 “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;
III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 23
No processo judicial previdenciário, importantes definições a res-
peito do andamento processual são tomadas por meio de decisões inter-
locutórias, sobretudo no campo da produção de provas. A diminuição
da possibilidade de recurso imediato contra as decisões que interfiram
no curso do processo e, em particular, restrinjam a produção de pro-
vas (com o estreitamento da via do agravo de instrumento adotada pelo
novo CPC) torna-se preocupante.

A discussão fática e a respeito das provas, nas ações previden-


ciárias, é intensa e capital para o deslinde da maior parte das disputas
previdenciárias: requisição de documentos junto ao INSS ou empresas
por onde tenha trabalhado o segurado; discussão pericial sobre a ca-
pacidade laboral do interessado; análise da existência de dependência
econômica e do próprio vínculo conjugal para fins de pensão por morte;
a complexa análise da hipossuficiência econômica no caso do benefício
assistencial, etc.

Imagine-se decisões interlocutórias que rejeitem a oitiva de certas


testemunhas, as quais serviriam a demonstrar a existência de união está-
vel da autora, viúva, com o de cujus, segurado, para fins de pensão por
morte. Ou decisão que indefere certos quesitos que devam ser conside-
rados pela perícia judicial para fins de aferição de incapacidade laboral,
requisito necessário à concessão dos benefícios por incapacidade.

Vedar, sem exceções, a recorribilidade em torno das decisões que


determinam o andamento processual, no caso das ações previdenciá-
rias, é potencialmente danoso, pois – breve análise jurisprudencial pode

IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica;


V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
VI – exibição ou posse de documento ou coisa;
VII – exclusão de litisconsorte;
VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII – conversão da ação individual em ação coletiva;
XIII – outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase
de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.”
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indicar isso – muitos serão os casos de sentenças anuladas, a fim de que
se produza esta ou aquela modalidade de prova15.
A esse cenário acrescente-se que o novo CPC adota o princípio da
flexibilidade procedimental – já mencionado antes –, que, embora po-
sitivo, acarreta uma preocupação adicional: inexistente a possibilidade
de recurso contra as decisões interlocutórias que tenham alterado ou fle-
xibilizado os procedimentos legais de produção de provas16, permite-se
amplo espaço para o arbítrio na condução dos processos em primeiro
grau – com grande risco do retorno da utilização do mandado de se-
gurança como meio substitutivo de impugnação de decisões judiciais
(Sokal, 2011: 413-417).
Nesse mesmo sentido deve ser sublinhada a proposta do novo
CPC em buscar a concentração de atos processuais. Sem a possibilidade
do recurso de agravo de instrumento para a maior parte das decisões
interlocutórias, corre-se o risco de ocorrer uma certa “JEFelização” do
procedimento ordinário nas ações previdenciárias, isto é, os problemas
que a doutrina e a prática vêm indicando em relação aos processos que
tramitam nos Juizados Especiais Federais (concentração de atos proces-
suais e impossibilidade de impugnação das decisões interlocutórias) se-
riam transportados para o processo comum nas Varas Federais ou na
jurisdição delegada.
Merece menção o tratamento dispensado à remessa necessária
(também considerado por muitos como recurso ex officio ou reexame
oficial).
Embora o novo CPC, que objetiva a celeridade da resolução dos
conflitos, tenha contraditoriamente a esse princípio mantido esse arcaico
instituto17, ao menos opta por flexibilizá-lo ou desacentuá-lo, ampliando
para mil salários-mínimos o volume abaixo do qual será dispensada a

15 As matérias que não sejam objeto de agravo de instrumento serão tratadas como preliminares no recurso de
apelação, a teor da redação do futuro art. 1.009, § 1º, do novo CPC.
16 Salvo a previsão constante do art. 1.105, XI, supratranscrito, que permite o agravo de instrumento para
impugnar decisão que redistribui o ônus da prova, nos termos do art. 373, § 1º.
17 Disciplina a remessa necessária o futuro art. 496:
“Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal, a sentença:
I – proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e
fundações de direito público;
II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 25
chancela dos Tribunais em relação às sentenças procedentes proferidas
contra a Fazenda Pública Federal, inclusive as suas autarquias, como é
o caso do INSS.
A maior parte das demandas previdenciárias, devido ao baixo va-
lor da maior parte dos benefícios previdenciários, muitos deles corres-
pondentes ao piso de um salário-mínimo, certamente estarão dispen-
sadas do reexame necessário, o que é avanço em termos de celeridade
processual e concretização dos direitos fundamentais.
Além disso, a remessa necessária também é dispensada em outros
casos, como quando a sentença se baseia em julgamentos de recursos
repetitivos, súmula vinculante ou na sistemática da repercussão geral.
Interessante inovação é a dispensa da remessa necessária quando o jul-
gamento é coerente com orientação administrativa, o que talvez não
será tão frequente em relação aos posicionamentos do INSS (muitas ve-
zes estribados em uma visão míope da legalidade), mas que permite
projetar avanços quando consideramos os posicionamentos mais ade-
quados às normas constitucionais que são oriundos do CRPS – Conselho
de Recursos da Previdência Social.
A sistemática do recurso de apelação é mantida em termos muito
semelhantes pelo novo Código. É interessante mencionar a possibilidade
de proposição de questões fáticas não suscitadas em primeiro grau, se a
parte provar que deixou de fazê-lo por motivos de força maior (redação
do futuro art. 1.014). Nas ações previdenciárias, é muito comum que os

§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos
autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1º, o tribunal julgará a remessa necessária.
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for
de valor certo e líquido inferior a:
I – 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público;
II – 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e
fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados;
III – 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de
direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
I – súmula de Tribunal Superior;
II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos;
III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV – entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente
público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.”
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segurados não possuam pleno acesso a toda a documentação ou mes-
mo contato com todas as testemunhas relativas à sua situação previden-
ciária, seja pelo decurso do tempo, seja por desconhecimento de seus
direitos e seu baixo grau de instrução, entre outros fatores. A mudança,
então, é bem positiva.
Outro ponto de preocupação, no âmbito do funcionamento dos
Tribunais e do tratamento dado aos recursos, é a introdução do inciden-
te de resolução de demandas repetitivas, tratado no art. 976 do futuro
Código de Processo Civil18.
Introduz-se no âmbito dos Tribunais de segundo grau sistemáti-
ca semelhante à do julgamento dos recursos extraordinários com reper-
cussão geral ou recursos especiais repetitivos: os Tribunais julgarão um
processo piloto, determinando-se a suspensão dos demais processos que
tratem da mesma matéria; fixada a tese jurídica no processo principal,
esta é aplicada vinculativamente nos demais casos.
Esta modalidade de julgamento (coletiva) certamente causará im-
pacto no processo judicial previdenciário, onde as demandas são natu-
ralmente repetitivas e as ações previdenciárias se contam aos milhares
na esfera federal e mesma na jurisdição delegada à Justiça Estadual. Afi-
nal de contas, discute-se em juízo a aplicação de uma legislação (pre-
videnciária) de abrangência nacional, dirigida a milhões de segurados,
aplicada por meio de uma questionável atuação administrativa por parte
do INSS, o que suscita grande índice de litigiosidade.

18 O incidente de resolução de demandas repetitivas é regido pelo art. 976, a seguir transcrito:
“Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver,
simultaneamente:
I – efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito;
II – risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
§ 1º A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente.
§ 2º Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente e deverá assumir sua
titularidade em caso de desistência ou de abandono.
§ 3º A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de qualquer de seus
pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o requisito, seja o incidente novamente
suscitado.
§ 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superiores, no
âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito
material ou processual repetitiva.
§ 5º Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas.”
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Duas preocupações iniciais quanto a essa inovação: a possibili-
dade de engessamento das teses judiciais e a vedação à inovação juris-
prudencial do Direito Previdenciário (lado negativo da salutar obtenção
da uniformização dos julgamentos judiciais); o risco de paralisação por
tempo inadequado das ações previdenciárias (as quais são pautadas por
ínsita celeridade, diante do objeto em litígio, de natureza alimentar).

Conclusões

O novo CPC possibilita inegável e positivo impacto no processo


judicial previdenciário, seja pela sua parte introdutória e principiológi-
ca, tornando o processo civil obrigatoriamente entrelaçado com os valo-
res e princípios constitucionais, seja pelas regras processuais relativas ao
desenvolvimento processual propriamente dito.
Neste breve trabalho, se procurou apresentar à comunidade jurí-
dica as primeiras observações sobre os futuros impactos do novo código
de rito nas ações previdenciárias, indicando o que, à primeira leitura,
pode fazer avançar ou retroceder o processo judicial previdenciário, em
seus vários desdobramentos.
Entretanto, todo avanço (ou retrocesso) dependerá do que a juris-
prudência atribuir como significado às novas normas processuais.
Ressaltando que há muito mais que investigar, esperamos e cre-
mos que a nova hermenêutica processual aplicada às ações previdenciá­
rias venha a ser no sentido da utilização do processo como instrumento
hábil à plena concretização dos direitos fundamentais previdenciários.

REFERÊNCIAS
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INSS nos Juizados Especiais Federais: eficiência administrativa e acesso à justi-
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Assunto Especial – Doutrina
O Novo CPC e o Direito Previdenciário

O Novo CPC e o Direito Previdenciário


Theodoro Vicente Agostinho
Mestre em Direito Previdenciário pela PUC/SP, Especialista em Direito Previdenciário pela
EPD/SP, Coordenador e Professor em Cursos de Pós-Graduação em Direito Previdenciário e do
Curso Damásio de Jesus, Palestrante, Escritor.

Sérgio Henrique Salvador


Advogado em Minas Gerais, Pós-Graduado em Direito Previdenciário pela EPD/SP, Pós-Gra­
duado em Processo Civil pela PUC/SP, Associado do Instituto Brasileiro de Direito Previden-
ciário (IBDP), Professor do Instituto Brasileiro de Estudos Previdenciários (IBEP), Sócio em
Escritório. Coautor de obras jurídicas do ramo.

As relações previdenciárias, oriundas do aperfeiçoamento jurídi-


co de concretudes constitucionais no campo fenomênico, apresentam-
-se como relacionamentos protetivos direcionados, abrangentes de uma
expressiva parcela populacional, que nada mais são senão os próprios
destinatários finais de todo o abrigo constitucional.
O direito previdenciário, enquanto ramificação da ciência jurídi-
ca, amolda-se nesta seara, especificamente no concatenado estudo téc-
nico e axiológico de suas premissas, advindas de um arcabouço consti-
tucional alocado de forma sistemática.
Importante também destacar que a Previdência Social, enquanto
direito constitucional e, portanto, fundamental, se viu inserida na lei fun-
damental como parte integrante de uma engenharia sistêmica, intitulada
Sistema de Seguridade Social, consolidado em seu art. 194, caput, do
Código Excelso, cujo instituto constitucional visou a dar estruturação
para a eficácia plena dos regulados direitos fundamentais.
Neste sentido, valiosa a lição descrita pelo Jurista Wagner Balera,
Mestre e Doutor pela PUC/SP:
Arrumadas em sistema, as três partes que compõem o arcabouço – saúde,
previdência social e assistência social – devem proporcionar, a todos,
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 31
seguridade social. A integração das áreas que, dentro e fora do aparelho
governamental, recebem a incumbência de satisfazer certos direitos so-
ciais implica na racionalização da atividade administrativa, permitindo,
destarte, melhor aproveitamento das particulares formas de proteção pe-
los usuários.1

Assim, as relações previdenciárias ganham notável destaque den-


tro da ordem jurídica, pois sua essência traz um pacote eminentemente
imprescindível para a concretização de valores republicanos.
Aqui a importante junção com a ferramenta processual.
É que a instrumentalidade do processo ganha notável importân-
cia ao possibilitar ao jurisdicionado o acesso a um postulado supremo,
elencado pelo constituinte originário como fundamental, encontrando
na sua esperada eficiência um norte importante de convalidação de sua
essência.
Por isto, a análise do sistema processual dentro da ótica previ-
denciária almeja adequar, com esperada eficiência, a consecução de
valores sociais.
Neste ideário, oportuna a lição do Professor Cássio Scarpinella
Bueno, da PUC/SP: “O processo civil representa verdadeiro microcos-
mos do Estado Democrático de Direito”2.
Com efeito, necessita a ordem jurídica, bem como a própria ciên-
cia jurídica de mecanismos específicos, para promover a edificação de
todo um sistema político de organização social.
Visando ao aperfeiçoamento deste notável e importante intento,
existiu no Congresso Nacional uma proposta legislativa3 de alteração
substancial do atual Código de Processo Civil, datado de 1973, o conhe-
cido “Código Buzaid”, cuja proposta, em março último, restou definiti-
vamente aprovada e sancionada pela Presidente da República.
Uma renomada comissão de juristas elaborou um texto de lei, que,
tendo sofrido adaptações, encontrava-se desde o fim do ano de 2010, de

1 BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 11.
2 BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
p. 45.
3 Projeto de Lei nº 166/2010.
32 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
posse do Poder Constituinte Derivado, para pronunciamento a respeito,
cuja discussão contou com a realização de várias audiências públicas,
até que, em 16.03.2015, restou definitivamente aprovado.
A título ilustrativo, segue a linha de pensamento externada por
essa preclara comissão neste especial mister que recentemente chegou
ao fim:
Em suma, para a elaboração do novo CPC, identificaram-se os avanços
incorporados ao sistema processual preexistente, que deveriam ser con-
servados. Estes foram organizados, e se deram alguns passos à frente,
para deixar expressa a adequação das novas regras à Constituição Fede-
ral da República, com um sistema mais coeso, mais ágil e capaz de gerar
um processo civil mais célere e mais justo.4

Assim, existiu abalizada discussão acerca do sistema processual


hodierno, visando a suas adequações frente a todo o avanço social, so-
bretudo para que as premissas da chamada Reforma do Judiciário, oriun-
da com a Emenda Constitucional nº 45/2004, como a duração razoável
do processo, tenha observância.
Aferida a importância da instrumentalidade processual, como fer-
ramenta de convalidação da essência previdenciária, oportuna se torna
a análise da proposta da reforma que restou aprovada à luz do direito
previdenciário.
Em linhas gerais, a renomada comissão de juristas inseriu no co-
mando processual destacadas inovações, bem como adequação de ou-
tras técnicas, visando, aprioristicamente, à eficiência e à tão comentada
celeridade processual.
Destacam-se, no texto aprovado, as seguintes proposições, entre
outras, que visam a acoimar o processo civil brasileiro de simplicidade,
segurança e efetividade, como, por exemplo: a unificação dos proce-
dimentos, que se tornam uno, com a extinção do procedimento sumá-
rio; a obrigatoriedade da sessão de conciliação, como ato processual
preliminar; a previsibilidade da audiência gravada; por teleconferência;
citação eletrônica; fim dos incidentes processuais; extinção da recon-
venção; relativização da coisa julgada; unificação dos prazos recursais;

4 Exposição de Motivos do Projeto de Reforma do CPC.


RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA........................................................................................................... 33
extinção dos embargos infringentes; fim dos procedimentos cautelares,
como livro autônomo, etc.
Infelizmente, sob a ótica das relações previdenciárias, não andou
com acerto o referido projeto de alteração.
É que, de maneira singela, as grandes inovações do projeto, dentro
de uma visão macro do processo civil, não atingiram as relações proces-
suais previdenciárias com relevo.
Ora, o texto aprovado não modificou as prerrogativas legais da
Fazenda Pública, as Autarquias e fundações, permanecendo as várias e
injustificáveis regalias processuais.
Na exaustiva caminhada processual do trato previdenciário, o sis-
tema processual que virá e tentará dar vida a postulados constitucionais,
com preocupação minorada, não previu os impactos das mudanças den-
tro do direito previdenciário.
Por certo que a previsibilidade do prazo em quádruplo para con-
testar; dobrado para recorrer; intimação pessoal, entre outras regalias
processuais, continuarão a engessar não o Judiciário, mas, em caráter
totalmente prejudicial, a lide previdenciária, que continuará tormentosa,
lenta e desigual.
Ora, nesta caminhada, o novo processo civil elencou as relações
privadas, como preponderantes para percebimento de uma tutela juris-
dicional mais ágil e coesa, não tendo a comissão de juristas aferido o
abrigo processual jurisdicional por conta das sociais relações previden-
ciárias.
Importante também a ótica do equilíbrio processual que deve con-
duzir o julgador no exercício de suas atribuições. Neste ponto, a en-
genharia autárquica, a falta de senso conciliador, o abismo legislativo
e normativo interno, além do ímpeto fiscalizador, colocam os gestores
previdenciários em primazia da causa, abortando o jurisdicionado de
um acesso a uma ordem jurídica justa.
Por este aspecto, agiu na contramão o projeto, que não conferiu
o destaque necessário para o trato previdenciário, não arregimentou em
pé de igualdade com a Fazenda Pública o cidadão comum, destinatário-
34 R������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
-mor de um plano de proteção, que tem na própria Administração Públi-
ca um devedor desta corolária obrigação constitucional.
Oportuna e valiosa a anotação que faz o Desembargador Mineiro
Ernane Fidélis dos Santos a respeito: “Procura-se, por outro lado, im-
primir efeito de máxima celeridade ao processo. Na prática dos atos
processuais, deve se afastar, rigorosamente, tudo que tenha sentido
procrastinatório”5.
Como narrado, a reforma processual se mostrou sim necessária,
visando, precipuamente, a uma coesa acessibilidade do jurisdicionado
ao direito material previdenciário perseguido.
A este intento, s.m.j, o “novo CPC” foi tímido, em que se poderia
ter previsto específica celeridade da causa previdenciária, que, em seu
bojo, nas sempre lúcidas palavras do Mestre e Doutor Miguel Horvath
Júnior6, “consistem em cláusulas pétreas implícitas na categoria de nor-
mas intangíveis relativas aos direitos fundamentais”.

5 SANTOS, Ernane Fidélis. Novíssimos perfis do processo civil brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, v. 1, p. 146.
6 Revista de Direito Previdenciário da Escola Paulista de Direito, São Paulo, a. II, n. 02, p. 247, 2006.
Parte Geral – Doutrina
Limite para o Acúmulo de Pensões por Morte na Previdência do
Servidor
Bruno Sá Freire Martins
Servidor Público Efetivo do Estado de Mato Grosso, Advogado, Pós-Graduado em Direito Pú-
blico e em Direito Previdenciário, Professor da LacConcursos e da Pós-Graduação na Univer-
sidade Federal de Mato Grosso, no ICAP – Instituto de Capacitação e Pós-Graduação (Mato
Grosso) no Instituto Infoc – Instituto Nacional de Formação Continuada (São Paulo), no
Complexo Educacional Damásio de Jesus – Curso de Regime Próprio de Previdência Social
(São Paulo), Fundador de site jurídico, Membro do Comitê Técnico da Revista SÍNTESE Admi-
nistração de Pessoal e Previdência do Agente Público. Autor de livros jurídicos.

SUMÁRIO: Introdução; 1 A pensão por morte; 2 Delegação constitucional; 3 Cumulações re-


muneratórias e/ou de proventos autorizadas pela Constituição; 4 A cumulação das pensões;
Conclusão.

Introdução

A pensão por morte, na condição de benefício previdenciário, tem


o condão de substituir a renda familiar decorrente das remunerações
recebidas pelo servidor falecido, constituindo-se em instituto de suma
importância tanto para o regime próprio, já que pode ser considerado
em números como o segundo benefício mais concedido, quanto para
os dependentes do segurado falecido, já que se caracteriza como fonte
parcial ou total de seu sustento.
Em razão de sua finalidade e de sua importância, tornou-se, ao
longo do tempo, objeto de uma série de discussões e controvérsias cons-
titucionais e legais.
Uma delas reside no limite do número de benefícios que pode ser
recebido cumulativamente, ante a ausência de regulamentação no Texto
Maior, situação que permite sua regulação pelas legislações infracons-
titucionais.
Nesse particular, os regimes próprios, quando tratam do tema, têm
optado por fixar 2 (duas) pensões por morte como o limite máximo de
benefícios a serem recebidos pelos dependentes do segurado falecido.
36 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
Tal previsão reveste-se de inconstitucionalidade e não pode ser
aplicada em sua literalidade, conforme será demonstrada ao longo do
presente ensaio.

1 A Pensão por Morte


Constitui-se em benefício pago aos economicamente dependentes
do segurado falecido, com o objetivo de assegurar a manutenção da
contribuição ou mesmo a integralidade do sustento do grupo familiar do
qual foi excluído pela morte.
A definição daqueles que integrarão o rol de beneficiários consi-
dera dois aspectos, o primeiro consistente na necessidade de previsão
legal quanto à possibilidade de o familiar ser tido como dependente do
servidor falecido, ou seja, somente poderão fazer jus à pensão por morte
aqueles que constarem na lei como dependentes do servidor.
O segundo reside na necessidade ou não de comprovação da exis-
tência de dependência econômica entre o falecido e aqueles que plei-
teiam o benefício.
A dependência econômica, em que pese a existência de entendi-
mentos em sentido contrário, é sempre presumida, sendo que em algu-
mas situações essa presunção é relativa e em outras, absoluta.
A lei também se constitui em instrumento da definição das hipó-
teses e situações em que o dependente será compelido a demonstrar ou
não que o de cujus contribuía para o sustento daquela pessoa.
Nas situações em que se faz necessária a sua comprovação, há
presunção relativa, enquanto que naquelas hipóteses em que não haja
essa necessidade a presunção é absoluta.
O fato é que a pensão por morte, em que pese não possuir os con-
tornos jurídicos de alimentos, possui natureza alimentar, já que, confor-
me já dito, tem o condão de garantir o sustento da família.
Muitas vezes é a única fonte de receita daquele grupo que se en-
contra abalado emocionalmente pela perda de um ente querido.
Nessa condição, a interpretação das normas que a regulam deve
observar os contornos afetos aos direitos sociais e ao intento maior da
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 37
Previdência Social de socorrer os dependentes dos segurados nas situa-
ções de contingência social.

2 Delegação Constitucional

No âmbito da Previdência do Servidor Público, a Constituição Fe-


deral, desde sua redação original até a hoje vigente, optou por delegar
para a legislação ordinária a regulamentação de diversos aspectos rela-
cionados ao benefício.

Tanto que hoje o Texto Maior restringe-se apenas a definir a me-


todologia de cálculo dos proventos, conforme se depreende da redação
do § 7º do art. 40, senão vejamos:
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte,
que será igual:
I – ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite
máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência
social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela
excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou
II – ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo
em que se deu o falecimento, até o limite máximo estabelecido para os
benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201,
acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso
em atividade na data do óbito.

Constate-se que a Constituição remete à lei de cada pessoa jurídi-


ca política da Federação a disciplina da concessão de pensão por morte.
É a interpretação que melhor se coaduna com o princípio federativo e
com a autonomia dos entes estatais. O poder reformador, porém, enten-
deu de já fixar critérios rijos para definição do valor das pensões, como
visto, tanto decorrentes da morte de aposentado quanto de servidor na
atividade, bem em correspondência com o ideal centralizado da União
que vem permeando toda a reforma previdenciária. Ao definir as balizas
postas nos incisos I e II, deixou-se aos Estados e Municípios apenas a
competência para dispor sobre os aspectos operacionais relacionados ao
instituto, tais como o rol de dependentes, a perda do direito à pensão, o
38 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
rateio de cotas, o procedimento para obtenção do benefício e assuntos
correlatos1.
Entretanto, o fato de a redação constitucional atribuir à lei os re-
gramentos e contornos atinentes à concessão do benefício, bem como
as regras relativas aos proventos, salvo sua metodologia de cálculo, não
se constitui em permissivo para a inobservância de outras normas e prin-
cípios que integram a Carta Magna, uma vez que o ordenamento jurí-
dico brasileiro adota o princípio da hierarquia das leis, submetendo-as
sempre à verificação de sua conformidade perante o Texto Maior, pois,
na percepção jurídica, a Constituição se apresenta enquanto norma su-
perior, de obediência obrigatória e que fundamenta e dá validade a todo
o restante do ordenamento jurídico2.
Assim, a legislação reguladora do benefício em questão deve estar
atenta para os ditames constitucionais e observá-los em sua integralida-
de, sob pena de ter sua vigência extirpada do mundo jurídico.

3 Cumulações Remuneratórias e/ou de Proventos Autorizadas pela Constituição


A Constituição Federal, ao regular a possibilidade de cumulação
de remunerações e/ou proventos, isolada ou conjuntamente, estabele-
ceu que:
Art. 37. [...]
[...]
XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto,
quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer
caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas;

1 TEIXEIRA, Flávio Germano de Sena. O controle das aposentadorias pelos Tribunais de Contas. Fórum, p. 92
e 93.
2 MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. 2. ed. JusPodivm, p. 27.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 39
XVII – a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abran-
ge autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia
mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamen-
te, pelo poder público;
[...]
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria
decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma
desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declara-
dos em lei de livre nomeação e exoneração.
Art. 40. [...]
[...]
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis
na forma desta Constituição, é vedada a percepção de mais de uma apo-
sentadoria à conta do regime de previdência previsto neste artigo.

Outras situações de permissividade referem-se à possibilidade de


juiz e de membro do Ministério Público acumularem seus cargos com
outro de magistério (art. 95, parágrafo único, e art. 128, § 5º, II, d, da
CF). O que se deve ter como certo é que, tratando-se de hipóteses que
refletem exceções ao sistema geral de vedação à acumulabilidade, de-
vem elas ser interpretadas restritivamente, sendo incabível estendê-las a
outras situações que não se enquadrem naquelas expressamente permi-
tidas3.
Evidencia-se, assim, que a Carta Maior autorizou a cumulação de
remunerações e proventos nos casos de cargos cumuláveis, ou ainda
quando o aposentado receba também remuneração decorrente do exer-
cício de cargo efetivo cumulável, eletivo ou comissionado.
A possibilidade de recebimento de remunerações cumuladas na
ativa é que autoriza sua continuidade na aposentadoria, conforme se
depreende do disposto no § 6º do art. 40 da Constituição Federal, ante-
riormente mencionado.

3 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 26. ed. Atlas, p. 665.
40 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
4 A Cumulação das Pensões

Entretanto, as legislações editadas pelos entes federados, com o


objetivo de regular os regimes próprios, têm introduzido em seu texto
dispositivos que limitam o alcance das normas constitucionais auto-
rizativas da cumulação remuneratória ou de proventos de aposenta­
doria.

Isso porque permitem a cumulação máxima de 2 (dois) benefí-


cios de pensão por morte, ainda que os mesmos tenham se originado
do falecimento de dois segurados que cumulavam remunerações e/ou
proventos.

A título de exemplo, basta imaginar um filho menor de um pro-


fessor e de uma professora que possuam, cada um, dois vínculos com o
ente federado. Nesse caso, a família é sustentada pela renda obtida em
decorrência do exercício de 4 (quatro) cargos públicos.

Ainda assim, a pensão por força da previsão legal será restringida


a somente 2 (dois) benefícios em razão da previsão contida na lei local,
como acontece, por exemplo, com os dependentes dos servidores fede-
rais, em razão da previsão contida na Lei nº 8.112/1990, que assim esta-
belece: “Art. 225. Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção
cumulativa de mais de duas pensões”.

Ressalte-se que, com o advento da Medida Provisória nº 664/2014,


a redação do dispositivo passou a ser: “Art. 225. Ressalvado o direito de
opção, é vedada a percepção cumulativa de pensão deixada por mais de
um cônjuge, companheiro ou companheira, e de mais de duas pensões”.

O fato de a pensão por morte constituir-se em benefício diverso


da aposentadoria ou mesmo da remuneração recebida em atividade não
tem o condão de afastar a sua natureza alimentar, até porque sua exis-
tência pressupõe o recebimento prévio de um salário ou de proventos
por parte do segurado falecido.

Daí afirmar-se que a pensão por morte é o benefício previden­


ciário pago aos dependentes do segurado em razão de seu falecimen-
to. Trata-se de um benefício derivado, pois depende da existência de
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 41
proventos de aposentadoria ao inativo ou remuneração/subsídio ao
servidor ativo4.
Na condição de benefício derivado, pressupõe-se que a legislação
infraconstitucional, ao definir as possibilidades e limites de sua cumu-
lação, observe os regramentos constitucionais relativos à cumulação de
cargos para definir o número de benefícios que poderá ser recebido pelo
dependente.
Até porque a delegação constitucional contida no § 7º do
art. 40 deve ser interpretada dentro do conjunto normativo contido na
Lei Maior, ou seja, não se pode desconsiderar o permissivo para a cumu-
lação de remunerações e pensões.
Isso porque as normas constitucionais não podem ser restringidas
pela lei, devendo sempre possuir o maior alcance interpretativo possível,
de forma a ter garantida sua eficácia plena e, principalmente, a unidade
do seu Texto.
A unidade da Constituição postula que não se considere uma
norma da Constituição fora do sistema em que se integra; dessa forma,
evitam-se contradições entre as normas constitucionais. As soluções dos
problemas constitucionais devem estar em consonância com as deli-
berações elementares do constituinte. Vale, aqui, o magistério de Eros
Grau, que insiste em que “não se interpreta o direito em tiras, aos peda-
ços”, acrescentando que “a interpretação do direito se realiza não como
mero exercício de leitura de textos normativos, para o que bastaria ao
intérprete ser alfabetizado”. Esse princípio concita o intérprete a encon-
trar soluções que harmonizem tensões existentes entre as várias normas
constitucionais, considerando a Constituição como um todo unitário5,
motivo pelo qual a pensão por morte como benefício destinado a garan-
tir o sustento dos integrantes da família que permaneceram vivos deve
observar e atender aos preceitos constitucionais, considerando que o
sustento do grupo familiar, antes do óbito, baseava-se nos valores rece-
bidos pelos supérstites e pelo segurado quando em vida.

4 CAMPOS, Marcelo Barrosso Lima Brito de. Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos.
4. ed. Juruá, p. 302.
5 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 10. ed. Saraiva,
p. 95.
42 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
Não se discute aqui a sua redução parcial, principalmente porque
prevista no Texto Maior, mas permitir que a legislação ordinária funcio-
ne como fator de restrição, em especial quando essa decorre da negativa
de direito outorgado pela Carta Magna, como é o caso das cumulações,
implica em flagrante afronta aos seus ditames6.
A única forma de não se reconhecer a inconstitucionalidade dessa
vedação é afirmar-se que a intelecção do artigo de lei citado deve ser fei-
ta em conjunto com a possibilidade constitucional de acumulação lícita
de cargos. Assim, se o instituidor do benefício pensional acumulava dois
cargos licitamente, seus beneficiários terão direito à pensão de ambos os
cargos, mesmo que estes já recebam outra pensão. Ocorre que, de acor-
do com esse entendimento, a vedação ao acúmulo de pensões dar-se-ia
por instituidor, não em relação ao conjunto das pensões recebidas7.

Conclusão
Assim, há de prevalecer o entendimento de que a limitação a duas
pensões encontra-se eivada de inconstitucionalidade quando servidores
falecidos responsáveis pela geração dos benefícios recebiam remune-
rações ou proventos cumulativamente na forma autorizada constitucio-
nalmente, ressalvada aplicação do entendimento de que a limitação de
pensões deve ser aplicada a um único instituidor.

6 MARTINS, Bruno Sá Freire; AGOSTINHO, Theodor Vicente. Regime próprio – Impactos da MP 664/2014
Aspectos Teóricos e Práticos. LTr, p. 90 e 91.
7 MAGALHÃES FILHO, Inácio. Lições de direito previdenciário e administrativo no serviço público. 2. ed.
Fórum, p. 214.
Parte Geral – Doutrina
Noções Preliminares sobre o Acordo Internacional de Previdência
Social entre o Brasil e a França
JULIANO SARMENTO BARRA
Advogado, Especialista e Mestre em Direito pela PUC/SP, Doutorando em Droit Social pela Uni-
versité Paris 1 Panthéon – Sorbonne, Membro do Departamento de Direito Social do Institut de
Recherche Juridique de la Sorbonne – IRJS e do Réseau Académique Européen sur la Charte
Sociale et les Droits Sociaux – RACSE.

FRANCIS KESSLER
Professor Associado da Escola de Direito da Sorbonne (Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne)
e SciencesPo (Paris), Advogado, Membro Sênior do Comitê Científico do Escritório Gide
Loyrette Nouel em Paris.

SUMÁRIO: Primeira parte: Do estabelecimento de um vínculo internacional em matéria de pro-


teção social entre a França e o Brasil; I – Do acordo de Previdência Social como fonte de direito
social entre os países. A) Do nascimento de um regime de coordenação entre a França e o Brasil
em matéria de proteção social; B) Da preponderância de regimes previdenciários fundamenta-
dos sobre o sistema de repartição; II – Acordo bilateral como forma de proteção dos direitos
sociais básicos previstos nos sistemas de Seguridade Social; A) Estabelecimento de um viés
de justiça social para os trabalhadores; B) Forma de incentivo evitando bitributação de contri-
buições para as empresas e trabalhadores; Segunda parte: Da mobilidade dos trabalhadores
e o reconhecimento de seus direitos previdenciários como essência do acordo bilateral. Da
dimensão material e pessoal de aplicação; I – Da dinâmica do acordo bilateral em matéria de be-
nefícios previdenciários; A) Das pessoas concernentes ao presente acordo; B) Das prestações
em espécie. Um acordo de seguridade social pautado sobre uma estrutura clássica em matéria
de benefícios; II – Da articulação entre os regimes sociais aplicáveis; A) Do princípio geral da
filiação no local do desenvolvimento da atividade profissional e da cláusula de deslocamento
temporário do empregado; B) Da exportação das prestações. Da manutenção dos direitos so-
ciais adquiridos e acumulados; Conclusão.

SUMMAIRE: Première partie: De la mise en œuvre d’un rapport international en matière de pro-
tection sociale entre la France et le Brésil; I – L’accord de sécurité sociale, source de droit social
entre les pays; A) La gestion par répartition comme caractéristique commune des régimes de
prévoyance sociale français et brésilien; B) La naissance d’un système de coordination entre la
France et le Brésil dans le domaine de la protection sociale; II – L’accord bilatéral comme support
de protection des droits sociaux fondamentaux prévus dans les systèmes de sécurité sociale;
A) Le renforcement de la protection sociale des travailleurs par le biais de l’accord international;
B) Un encouragement à la libre circulation des travailleurs. La fin de la double imposition des
cotisations; Deuxième partie: De la mobilité des travailleurs et la reconnaissance de leurs droits
44 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
sociaux comme fondement de l’accord bilatéral. Le champ matériel et personnel d’application;
I – De la dynamique de l’accord bilatéral dans le domaine des prestations de sécurité sociale;
A) Des personnes concernées par l’accord; B) Un accord au champ d’application restreint aux
prestations les plus classiques; II – La coordination entre les régimes sociaux applicables; A) Du
principe général de l’affiliation au régime social du lieu de la prestation du service et de la clause
de mobilité temporaire; B) De l’exportation des prestations. Conservation des droits sociaux
acquis et en cours d’acquisition; Conclusion.

PRIMEIRA PARTE: DO ESTABELECIMENTO DE UM VÍNCULO INTERNACIONAL EM MATÉRIA DE


PROTEÇÃO SOCIAL ENTRE A FRANÇA E O BRASIL

Está em vigência desde 1º de setembro de 2014 o acordo bilate-


ral firmado entre o Brasil e a França em matéria de Previdência Social.
Brasileiros e franceses constituem uma grande parcela nas imigrações
para outros países na busca de novas oportunidades, devendo desta-
car que muitos executivos em sua vida profissional trabalham tanto no
Brasil como na França, e nestes locais constituem suas próprias famílias.
Referido instrumento passa a ser fonte de direito social entre ambas as
nações (I), tendo como objeto preponderante a coordenação sobre a
validação de tempos de seguro, o pagamento de prestações previden­
ciárias e o deslocamento temporário de trabalhadores, caracterizando-se
como uma forma de proteção dos direitos sociais básicos previstos em
ambos os sistemas de Seguridade Social (II). O presente artigo, de caráter
informativo, visa a formular os contornos gerais e as nossas primeiras
impressões sobre o texto em questão.

I – Do acordo de Previdência Social como fonte de direito social entre os países


A partir da vigência do referido Acordo Internacional, este passou
a integrar o ordenamento jurídico interno dos referidos países, emanan-
do os seus efeitos e vinculando a administração e os particulares na-
quilo que lhes for aplicável1. Desta forma, os brasileiros que vivem na
França – e a comunidade francesa residente no Brasil – podem desde
então solicitar a totalização do tempo de seguro (carência, tempo de

1 Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/a-previdencia/assuntos-internacionais/assuntos-internacionais-


acordos-internacionais-portugues/>.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 45
contribuição)2 que possuem tanto na França quanto no Brasil e requerer
benefícios como aposentadorias ou pensões. Importante destacar, tam-
bém, que referido acordo não diz respeito à nacionalidade para a sua
aplicação. Logo, independente do país de origem do trabalhador, este
poderá requerer igualmente a sua aplicação.
Antes do citado acordo havia a ausência de um regime de coorde-
nação entre a França e o Brasil em matéria de proteção social (A), sendo
que tal fato vem sanar esta lacuna quando observada a preponderância
de regimes previdenciários fundamentados sobre o sistema de repartição
em ambos os países. Notemos que tais espécies de acordos internacio-
nais são firmados com a finalidade de minimizar os riscos de uma possí-
vel ruptura da cobertura previdenciária, bem como evitar a bitributação
das empresas, de modo a ampliar a garantia de proteção previdenciá-
ria dos trabalhadores no futuro. O art. 85-A da Lei nº 8.213/1991 aduz
que os “tratados, convenções e outros acordos internacionais de que
Estado estrangeiro ou organismo internacional e o Brasil sejam partes,
e que versem sobre matéria previdenciária, serão interpretados como
lei especial”. Some-se a isso o fato que o Supremo Tribunal Federal –
STF, quando do julgamento do Recurso Extraordinário nº 349.703-1,
entendeu que os tratados internacionais sobre direitos humanos são de
natureza supralegal, ou seja, estão acima da legislação ordinária, mas
hierarquicamente inferiores aos dispositivos constitucionais. O direito
da Seguridade Social é, por definição, uma garantia fundamental previs-
ta na própria Declaração Universal de Direitos Humanos3, o que faz, a
nosso ver, que referido tratado internacional de Previdência Social seja
uma norma de natureza supralegal. No ordenamento jurídico francês
é a própria Constituição da República que confere um status superior

2 “Artigo 1º Definições.
1. Para fins do presente Acordo, os termos e expressões abaixo:
[...]
g) ‘Período de Seguro’ significa qualquer período de contribuição ou de seguro reconhecido como tal pela
legislação de uma ou de outra Parte e em função das quais o referido período houver sido computado, bem
como qualquer período assimilado a um período de contribuição ou de seguro, em cumprimento à respectiva
legislação.”
3 “Artigo XXV. 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e
bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis,
e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos
meios de subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas
dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.”
46 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
aos tratados e acordos internacionais, nos termos de seu art. 55, em
que “traités ou accords régulièrement ratifiés ou approuvés ont, dès leur
publication, une autorité supérieure à celle des lois, sous réserve, pour
chaque accord ou traité, de son application par l’autre partie”4.

A) Do nascimento de um regime de coordenação entre a França e o Brasil em


matéria de proteção social
Em matéria de direito internacional da Seguridade Social o Brasil
possui acordos bilaterais com uma dezena de países, além de contar
com os acordos multilaterais do Mercosul e o Ibero-americano. Trata-
-se de um universo ainda muito aquém das expectativas para um país
que é hoje certamente um player importante no cenário internacional
e que presencia uma mobilidade de trabalhadores cada vez maior. No
que diz respeito à França, o acordo em questão representou seu 41º
tratado em matéria de Seguridade Social, quando de sua assinatura em
2011. Registre-se que a integração dos países europeus para a criação da
União Europeia demandou um esforço das referidas nações em termos
de coordenação de regimes previdenciários, sendo que atualmente vige
o Regulamento nº 883/2004 (ex-1408/71), o qual recai sobre sistemas
ditos do primeiro pilar, regimes de previdência social públicos e geridos
por sistema de repartição5.
Neste aspecto, portanto, a ausência de um sistema de coordena-
ção franco-brasileiro em matéria de previdência social penalizava sobre-
maneira os trabalhadores e as empresas que se viam tolhidos no gozo de
seus direitos e na otimização de seus custos, respectivamente, diante da
lacuna regulatória. Notemos que referido acordo não interfere na quali-
ficação jurídica do direito interno de cada país, assim como não visa a
criar novos benefícios ou prestações, mas coordenar referidos sistemas a
partir da validação em ambos os países dos períodos de seguro, da con-
cessão e do pagamento de prestações e da racionalização na incidência
de contribuições previdenciárias em caso de deslocamento temporário
de trabalhadores. Logo, períodos de trabalho em ambos os territórios

4 Sobre as fontes internacionais da Seguridade Social no direito francês, consulte: LABORDE, Jean-Pierre. Droit
de la Sécurité Sociale. Paris: PUF, 2005. p. 208/17.
5 Quanto aos princípios de coordenação, três são essenciais: (i) a determinação da lei aplicável; (ii) isonomia
sob a ótica de sua aplicação entre as diferentes nacionalidades de trabalhadores; e (iii) critérios para a
totalização dos períodos de seguro. CORNELISSEN, Rob. Les axes de réforme et les principes généraux du
règlement nº 883/2004. RDSS 2010, p. 5; KESSLER, Francis. Sécurité sociale Encyclopédie Dalloz de droit
communautaire. Paris: Dalloz, 2002.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 47
poderão ser levados em conta para fins de tempo de contribuição e ca-
rência na concessão de aposentadoria (por exemplo, assim como o em-
pregador poderá recolher as suas contribuições previdenciárias somente
sobre uma base salarial e territorial, em caso de deslocamento temporá-
rio de empregados).

B) Da preponderância de regimes previdenciários fundamentados sobre o sistema de


repartição
Tanto o sistema previdenciário de base brasileiro quanto o francês
tem como lastro o chamado sistema bismarckiano6, fundamentados no
seguro social e financiados por contribuições. Os regimes possuem algu-
mas características aproximativas, como a solidariedade entre gerações,
a natureza contributiva e a filiação prévia, e protegem precipuamente
o trabalhador e a família. Estas características comuns auxiliam sobre-
maneira quando da elaboração de acordos de coordenação de sistemas
previdenciários.
Aspecto interessante previsto no Código de Seguridade Social fran-
cês refere-se à previsão do artigo L 161-17-A, onde resta consignado que
“la Nation réaffirme solennellement le choix de la retraite par répartition
au cœur du pacte social qui unit les générations”, donde podemos extrair
outros predicados importantes deste sistema previdenciário, tais como:
(a) Aposentadoria lastreada em um sistema de repartição: a nação fran-
cesa consigna expressamente a sua opção por um sistema de repartição
em nome do pacto social entre gerações, de forma a excluir elementos
de capitalização para previdência pública; (b) Sistema Bismarkiano, em
que existe uma sinalagmaticidade entre as contribuições realizadas e o
benefício recebido; (c) Aplicação do princípio da igualdade em maté-
ria de aposentadoria, independente do sexo ou atividades profissionais
desempenhadas; (d) O sistema tem como objetivo a manutenção de um
nível de vida adequado dos aposentados, devendo ser claro e transpa-
rente; (e) Respeito à igualdade entre as gerações (igualdade vertical, jo-
vens/velhos) e solidariedade na mesma geração (caráter horizontal, ri-
cos/pobres); (f) Perenidade na administração das finanças; (g) Progressão

6 KESSLER, Francis. Le revenu à la retraite: développements récents et propositions. Strasbourg: Conseil de


l’Europe, 2005 (coll. Tendances de la cohésion sociale nº 13).
48 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
na taxa de emprego de pessoas com mais de cinquenta e cinco anos; e
(h) Redução das diferenças de aposentadorias entre homens e mulheres7.
A essência do regime brasileiro por repartição, outrossim, advém
dos arts. 201 da CF/1988, parágrafo único do art. 3º da Lei nº 8.212/1991
e art. 2º da Lei nº 8213/1991.
Com efeito, ainda que constem características similares, a dife-
rença entre os sistemas é considerável principalmente em matéria de
organização, estrutura, elegibilidade para benefícios e na forma de cál-
culo das prestações. No sistema brasileiro, por exemplo, não há uma
cogestão com os sindicatos (partenaires sociaux) na administração das
caixas de aposentadoria, assim como existe uma diferença na forma de
contabilização de tempo de seguro, onde na França é contabilizada por
trimestres, e não mensalmente como no Brasil. De toda forma, para fins
de coordenação entre os sistemas, as características essenciais supracita-
das permitiram que fosse entabulado o acordo em questão8.

II – Acordo bilateral como forma de proteção dos direitos sociais básicos previstos nos
sistemas de Seguridade Social

O acordo internacional de Previdência Social entre o Brasil e a


França vem cobrir uma lacuna na proteção dos direitos sociais básicos

7 Sobre os aspectos gerais do sistema previdenciário francês, consultar BARRA, Juliano Sarmento. Réforme des
Retraites: l’avenir do sistema de aposentadorias por repartição na França e o Direito Social. Revista Brasileira
de Previdência, Unifesp, 2013. Disponível em: <http://www.revbprev.unifesp.br/index.php/component/
content/article/20-dois/33-reforme-des-retraites-l-avenir-do-sistema-de-aposentadorias-por-reparticao-na-
franca-e-o-direito-social>; KESSLER, Francis. Droit de la Protection Sociale. 5. ed. Paris: Dalloz, 2014.
8 Alguns aspectos gerais sobre o benefício de aposentadoria do régime geral francês: (a) Idade mínima: é
necessário ter no mínimo 62 anos. Existem algumas exceções no caso de pessoas que começaram a trabalhar
muito jovens (60 anos) ou que possuem mais de 8 trimestres do que o mínimo requerido pela lei (podem
partir com 58 anos); (b) Salário anual médio (SAM): seria próximo do conceito brasileiro de período básico
de cálculo (PBC). Desde a lei de 1º de janeiro de 2008 o SAM se baseia nos 25 melhores anos de toda a
vida contributiva; (c) Duração das contribuições: desde 1º de janeiro de 2003 foi estabelecido que a duração
das contribuições deve evoluir progressivamente à média da esperança de vida da população. Todos os anos
um decreto estabelece o número mínimo de trimestres exigidos conforme o ano de nascimento do segurado.
Assim, pessoas nascidas em 1952 precisariam de 164 trimestres (41 anos), para as gerações nascidas em
1953 ou 1954, 165 trimestres (41,25 anos) e nascidas em 1955 ou 1956, 166 trimestres (41,5 anos);
(d) Coeficiente do valor da pensão: o coeficiente de substituição de renda é de 50%. Para obtê-lo deve-se
dividir o número de trimestres obtidos pelo número de trimestres exigidos pela lei. Deste valor, multiplica-se
pelo salário anual médio (SAM) e o coeficiente. Existe no atual régime francês (também existiu no passado,
mas com outras características e nome) uma espécie de aposentadoria chamada allocation de solidarité aux
personnes âgées (ASPA) que é de natureza não contributiva. Ela leva em consideração a renda do segurado
e sua idade (a partir de 62 anos). Algo na prática próximo do benefício assistencial brasileiro de prestação
continuada (BPD).
Para uma melhor compreensão sobre os regimes de aposentadoria e seu regime jurídico no ordenamento
francês, consultar MORVAN, Patrick. Droit de la Protection Sociale. 6. ed. Paris: Lexis Nexis, 2013.
p. 281/328.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 49
previstos nos respectivos sistemas previdenciários, materializando uma
forma de justiça social aos trabalhadores ao reconhecer reciprocamente
tempos de seguro em ambos os territórios (A), assim como enseja um
cenário de incentivo para empresas brasileiras e francesas ao evitar uma
bitributação de contribuições previdenciárias no caso de trabalhadores
transferidos temporariamente (B).

A) Estabelecimento de um viés de justiça social para os trabalhadores


O Acordo Internacional de Previdência Social entre o Brasil e a
França, ao cobrir a lacuna existente, trouxe em sua essência uma forma
de justiça social para milhares de trabalhadores, independentemente da
nacionalidade, do nível do cargo ou da função, em matéria de reconhe-
cimento de direitos previdenciários. O reconhecimento dos períodos de
atividade laboral realizados em cada território para fins de contagem
de tempo de seguro (carência, tempo de contribuição) na concessão
de benéficos é, a nosso ver, a maior expressão desta afirmativa. Não
entraremos no mérito sobre como se dará esta contagem com relação
aos valores reconhecidos, o que ensejaria uma análise mais detalhada,
mas o fato de haver um reconhecimento recíproco nos tempos de tra-
balho evitará injustiças, como, por exemplo, no caso de um trabalhador
francês que prestasse serviços no Brasil como empregado por dez anos
e, ao retornar para a França, três meses após, sofresse um acidente de
carro. Neste caso, ele não poderia requerer as prestações em espécie do
“auxílio-doença”, uma vez que o período de carência na legislação fran-
cesa é de seis meses. No caso dos benefícios previstos pela legislação
brasileira contemplados no acordo, que requerem períodos de carência,
a contagem do tempo de trabalho em território francês também passa a
ser observada.
Neste aspecto, o art. 1º, (g), do Acordo considera como período
de seguro
qualquer período de contribuição ou de seguro reconhecido como tal
pela legislação de uma ou de outra Parte e em função das quais o referido
período houver sido computado, bem como qualquer período assimilado
a um período de contribuição ou de seguro, em cumprimento à respec-
tiva legislação.

Assim, por exemplo, nos termos do art. 23, para


50 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
a concessão e a determinação do direito a prestações em espécie por
doença e maternidade, bem como a prestações em espécie por paterni-
dade previstas pela legislação de cada uma das partes contratantes, serão
levados em conta, se necessário, os períodos de seguro cumpridos sob a
legislação da outra parte contratante, sob a condição de que o interessa-
do esteja enquadrado em um regime de previdência social no âmbito de
uma atividade profissional.

O acordo também reconhece a contabilização de períodos de se-


guro para os Regimes Próprios de Previdência Social no Brasil.
Outra questão importante diz respeito aos efeitos do acordo so-
bre tempos de seguro pretéritos. Esta é a previsão do item 2 do art. 36,
quando aduz que “os períodos de seguro cumpridos sob a legislação de
uma das partes contratantes, bem como eventos ocorridos antes da data
de entrada em vigor do presente Acordo, serão levados em consideração
na determinação dos direitos a prestação, em conformidade com as dis-
posições do presente Acordo”. Logo, ainda que o tratado tenha entrado
em vigor em 1º de setembro de 2014, os tempos de seguro realizados
antes desta data também serão computados para fins de apuração das
prestações.

B) Forma de incentivo evitando bitributação de contribuições para as empresas e


trabalhadores
Um conjunto de medidas que diminua as burocracias estatais e os
procedimentos administrativos interessa a ambos os países, no intuito de
fomentar o desenvolvimento econômico das respectivas nações. Ainda
que cada qual vivencie as suas dificuldades locais, seja com os números
de desemprego, seja pelo baixo crescimento ou controle da inflação,
acordos desta espécie refletem aquele intuito e, quando somados a ou-
tras medidas econômicas ou comerciais, criam um ambiente favorável
ao desenvolvimento comercial bilateral.
Vejamos que existe no Brasil algo em torno de quinhentas em-
presas francesas empregando no total mais de quinhentas mil pessoas,
inclusive milhares de franceses. A grande maioria das empresas listadas
no CAC 40 (bolsa de valores da França) está instalada no Brasil. Do lado
brasileiro, outrossim, há um número que ainda deve se desenvolver,
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 51
uma vez que em território francês existiriam em torno de quarenta em-
presas brasileiras empregando, em média, duas mil e trezentas pessoas.
Neste aspecto, portanto, o Acordo possibilita que, em caso de des-
locamento temporário de trabalhadores, as contribuições previdenciá-
rias sejam recolhidas em um só país, evitando, destarte, que haja uma
bitributação e dando maior segurança jurídica para casos de trabalhado-
res expatriados, por exemplo9.

SEGUNDA PARTE: DA MOBILIDADE DOS TRABALHADORES E O RECONHECIMENTO DE SEUS


DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS COMO ESSÊNCIA DO ACORDO BILATERAL. DA DIMENSÃO MATERIAL E
PESSOAL DE APLICAÇÃO
Os Estados, quando da celebração de acordos internacionais de
Seguridade Social, visam a conferir aos segurados respectivos uma maior
e melhor extensão de seus direitos sociais. Disso resulta a necessida-
de de uma articulação entre os regimes sociais aplicáveis (II), a qual
influencia na dinâmica de acordos bilaterais em matéria de benefícios
previdenciários (I).

I – Da dinâmica do acordo bilateral em matéria de benefícios previdenciários


Nesta parte final resta verificarmos quem são os sujeitos elegíveis
para aplicabilidade do presente acordo (A) e quais foram as espécies de
prestações contempladas pelos países (B).

A) Das pessoas concernentes ao presente acordo


Dentro do aspecto ratione personae, o acordo contempla todas as
pessoas, independente de sua nacionalidade, que prestam ou tenham
prestado serviços nos respectivos países e estão ou estiveram submetidas
às respectivas legislações previdenciárias. Os dependentes dos segura-

9 No caso de expatriação de um empregado, independente da nacionalidade, do território francês para o Brasil


é importante notar que a empresa deverá manter na França as contribuições do empregado para fins do
regime de Seguro-desemprego conforme circular UNEDIC de 23 de dezembro de 2014. A Cour de Cassation,
instância judicial máxima na França, a partir do julgamento de 1º de abril de 2003, entende que a afiliação
ao regime de Seguro-Desemprego francês é obrigatória para os empregados expatriados mesmo que ele seja
acolhido em um país que ofereça garantias similares ao sistema francês. Importante também observar que o
regime de Seguro-Desemprego na França não constou no Plan Laroque para implementação da Seguridade
Social oficialmente em 1945. São os sindicatos (UNEDIC) que administram este regime financiado por
contribuições dos empregos e dos empregadores (6,40% onde 4% a cargo do empregador e 2,40 % a cargo
do empregado).
52 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
dos também figuram como sujeitos de direito. No caso francês, não se
aplica o presente acordo para as Caisse des français à l’étranger, sob o
argumento de que tal regime tem natureza facultativa, diferente do regi-
me geral, obrigatório10.
O acordo em questão também será aplicado quando a legislação
local estender os regimes existentes a novas categorias de beneficiários,
a menos que, a este propósito, o país que tenha alterado a sua legislação
manifeste, dentro do prazo de seis meses a contar da data da publicação
oficial da referida alteração legislativa, as suas objeções quanto à inclu-
são destas novas categorias de beneficiários. Contudo, caso tenha sido
criada uma nova cobertura pela previdência social local a um novo risco
social, a esta não será estendida automaticamente o acordo.

B) Das prestações em espécie. Um acordo de seguridade social pautado sobre uma


estrutura clássica em matéria de benefícios
O acordo entabulado entre os dois países parte de uma estrutu-
ra clássica em matéria de prestações, contemplando benefícios pro-
gramados e de risco. Prestações em espécie seriam, portanto, aquelas
relacionadas ao pagamento em decorrência de doença, maternidade,
paternidade (no caso francês), idade, acidente do trabalho ou doença
profissional, em substituição à renda relacionada a uma interrupção de
trabalho decorrente dos referidos riscos sociais.
O campo material de aplicação do acordo contempla, destarte,
as seguintes prestações para o caso brasileiro: (i) aposentadoria por ida-
de; (ii) aposentadoria por invalidez; (iii) pensão por morte; (iv) auxílio-
-doença previdenciário e acidentário (incapacidade laboral temporá-
ria); e (v) salário-maternidade. No caso francês, o acordo preferiu não
estabelecer a espécie de prestação propriamente dita, mas sim o ris-
co social coberto. Assim, no que tange aos regimes gerais e especiais,
obrigatórios e voluntários, inclusive os regimes dos profissionais inde-
pendentes, as prestações que cobrem os seguintes riscos são cobertas
pelo presente acordo, a saber: (i) doença; (ii) maternidade e paternidade;
(iii) invalidez; (iv) morte; (v) idade; (vi) dependentes (no caso de pen-
sões); (vii) acidentes de trabalho e doenças profissionais; e (viii) família

10 Disponível em: <http://www.cfe.fr>.


RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 53
(allocations familiales, prime de naissance ou l’adoption de la prestation
d’accueil du jeune enfant-PAJE).
Registre-se que, caso o trabalhador ou os seus dependentes não
preencham as condições de elegibilidade às prestações de aposentado-
ria por invalidez, por idade ou de pensão por morte levando em conta
os períodos cumpridos sob as legislações de cada um dos países, os
períodos de seguro cumpridos em um terceiro país serão igualmente
considerados para a elegibilidade e o cálculo da prestação, desde que o
Brasil e a França estejam vinculados a este terceiro país por um acordo
de previdência social que preveja a totalização para estas espécies de
prestações e que os períodos não se sobreponham11.
No aspecto processual, o acordo prevê que eventuais contesta-
ções, recursos ou mesmo ações que, em virtude da legislação de uma
parte contratante, tiverem de ser apresentados, dentro de um prazo pres-
crito à autoridade de outro país, estes serão considerados tempestivos se
apresentados dentro do mesmo prazo às entidades equivalentes da outra
parte. Estabelece o art. 27 que,
neste caso, deverão ser transmitidos imediatamente à autoridade, institui-
ção ou instância judiciária competentes da primeira parte contratante. A
data em que tais contestações, ações ou recursos houverem sido apresen-
tados a uma autoridade, instituição ou instância judiciária competentes
da segunda parte contratante será considerada a data de apresentação à
entidade equivalente da outra parte.

II – Da articulação entre os regimes sociais aplicáveis


O acordo em questão tem como sujeitos ativos de cobertura dife-
rentes espécies de segurados. Para que isso possa ser implementado, é
necessário que se crie uma articulação legal entre os sistemas de forma
a colmatar institutos, regras e conceitos, por vezes diferentes em cada
legislação, efetivando-os em direitos juridicamente reconhecidos por
ambos os sistemas previdenciários. A experiência da União Europeia em
matéria de articulação e coordenação de regimes previdenciários é, sem
dúvidas, um marco jurídico dos mais relevantes em matéria de reconhe-
cimento de direitos sociais dentro de sua operacionalização multilateral.

11 Este seria o caso de quando a prestação ocorrer nos seguintes países: Argentina, Alemanha, Canadá, Cabo
Verde, Chile, Espanha, Grécia, Japão, Portugal e Uruguai.
54 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
Não sem motivo que alguns dos conceitos previstos no Regulamento
(CE) nº 883/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de abril
de 2004, relativo à coordenação dos sistemas de Seguridade Social, fo-
ram utilizados no acordo bilateral Brasil-França, a exemplo do art. 76 do
referido Regulamento, em que é previsto que
as autoridades competentes dos Estados-membros comunicam entre si
todas as informações relativas: a) Às medidas tomadas tendo em vista
a aplicação do presente regulamento; b) Às alterações das respectivas
legislações susceptíveis de afetar a aplicação do presente regulamento.
2. Para efeitos do presente regulamento, as autoridades e as instituições
dos Estados-membros prestam assistência mútua, como se se tratasse da
aplicação da própria legislação. A assistência administrativa prestada pe-
las referidas autoridades e instituições é, em princípio, gratuita. Contudo,
a Comissão Administrativa estabelece a natureza das despesas reembol-
sáveis e os limiares acima dos quais é devido um reembolso.

Tais aspectos podem ser notados no art. 26 do acordo bilateral12.


O acordo em estudo também previu, em seu art. 25, a celebração
de um “Acordo de Aplicação Geral”, o qual foi assinado em dezembro
de 2011, e neste foram eleitos os Organismos de Ligação de cada país.
Na França, foi designado o Centre des Liaisons Européennes et Interna-
tionales de Sécurité Sociale – CLEISS e, no Brasil, a unidade indicada
pelo INSS, que, no caso, foi a Agência do INSS Centro do Rio de Janeiro,
nos termos da Resolução INSS/PRES nº 422, de 1º de julho de 2014. Para
a devida efetivação dos direitos, portanto, é necessária uma coordena-
ção legislativa, mas também uma coordenação administrativa deveras
eficiente. Desta articulação se verifica a necessidade de filiação no local
do desenvolvimento da atividade profissional, com a possibilidade de
deslocamento temporário do empregado (A) e também o respeito aos
direitos adquiridos e em acumulação (B).

A) Do princípio geral da filiação no local do desenvolvimento da atividade


profissional e da cláusula de deslocamento temporário do empregado
O art. 7º do presente acordo introduz princípio geral no qual “uma
pessoa que exerça uma atividade profissional no território de uma Parte

12 FILLON, Jean-Claude. La machinerie des nouveaux règlements: pilotage et gestion administrative et financière.
RDSS, Paris, 2010, p. 64.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 55
contratante ficará, no que diz respeito a essa atividade, submetida uni-
camente à legislação desta Parte contratante”. Ou seja, em regra preva-
lece a filiação ao regime onde é exercida a atividade profissional, ainda
que o empregado tenha sido contratado em país onde não se presta o
serviço, como, por exemplo, um empregado contratado na França, mas
prestando serviços no Brasil. Pela regra, deverá se submeter à legisla-
ção previdenciária brasileira. A partir desta regra, previram-se algumas
exceções. A mais importante, a nosso ver, refere-se à possibilidade de
deslocamento temporário.
Neste sentido, o art. 8.1 aduz que
uma pessoa que exerça habitualmente atividade assalariada em uma par-
te contratante, a serviço de um empregador que explora normalmente
suas atividades nessa parte contratante, e que seja deslocada por este
empregador para a outra parte contratante para ali exercer uma atividade
ou função por conta deste mesmo empregador, fica submetida à legisla-
ção da primeira parte contratante desde que o prazo previsto para essa
atividade ou função não exceda 24 (vinte e quatro) meses, nela incluída
a duração de licenças.

Referida previsão complementa o art. 7º, que disciplina a qual


legislação se vincula o trabalhador quando do exercício de atividade
remunerada, afastando, assim, eventuais normas internas que prevejam
forma diversa de vinculação à legislação previdenciária. A sua finali-
dade é evitar que o segurado fique, ao mesmo tempo, vinculado à pre-
vidência social dos dois países, impedindo, por consequência, que o
trabalhador e/ou empregador paguem contribuições previdenciárias em
duplicidade.
A previsão do art. 8.1 supra estipula regra, portanto, que permite ao
trabalhador brasileiro, e.g., mesmo desempenhando as suas atividades no
território francês, a continuidade de sua filiação ao Regime Geral de Previ-
dência Social – RGPS brasileiro, recolhendo, destarte, suas contribuições
e da empresa para o próprio RGPS. Esta possibilidade é efetivada a partir
da emissão pelo órgão responsável de cada país (INSS no Brasil; CPMA,
ENIN, MSA ou Caisse d’assurance maladie, na França) do Certificado de
Cobertura, o qual deve ser solicitado pelo empregador e pode ser válido
por até 24 meses. Neste certificado de cobertura constará o prazo em que
será mantida a aplicação da legislação de um país e, consequentemente,
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a isenção de sujeição à legislação do outro em cujo território é exercida
a atividade laboral. Constará também a identidade dos dependentes do
trabalhador que o acompanharem quando do deslocamento.
Fazendo uma rápida comparação com o Acordo de Previdência
Social firmado entre Brasil e Alemanha, este em seu ajuste administrati-
vo previu que, para a concessão do certificado de deslocamento tempo-
rário, é necessária manutenção do vínculo empregatício exclusivamente
com o empregador de origem. No caso do acordo com a França, não
há nenhuma cláusula que condicione a entrega do certificado a esta
manutenção exclusiva com o empregador originário. Tal observação
resta importante pelo fato de que muitas empresas, para expatriar os
seus funcionários, suspendem o contrato de trabalho no local de origem
e firmam novo contrato com a filial no local da prestação de serviços,
ou mesmo mantêm dois contratos. Este contexto, logo, para o Acordo
Brasil/Alemanha, deve ser levado em consideração, diferentemente do
acordo franco-brasileiro.
Ademais, se por circunstâncias imprevisíveis, devidamente justifi-
cadas pelo empregador, a duração do trabalho superar a duração previs-
ta inicialmente, um novo Certificado de Cobertura poderá ser deferido
para um novo período, não superior a 24 meses, desde que os organis-
mos responsáveis dos dois países estejam de comum acordo. Após este
prazo, um novo deslocamento somente poderá ser autorizado para o
mesmo trabalhador a serviço do mesmo empregador em caso de reali-
zação de atividade ou função diferente daquela que originalmente moti-
vou o deslocamento. O pedido de prorrogação também deve ser formu-
lado antes da expiração do período inicial do deslocamento. Importante
igualmente que as empresas atentem para o fato que somente em casos
especiais a serem autorizados de comum acordo pelos organismos com-
petentes será admitido deslocamento de um trabalhador para substitui-
ção de outro trabalhador cujo período de deslocamento haja terminado.
A entrega do citado certificado também resta condicionada à comprova-
ção de que o trabalhador e os seus dependentes estejam amparados por
cobertura de saúde, a título de seguro público ou privado, devendo esta
cobertura garantir durante toda a sua permanência no país cobertura
completa, para si e para os dependentes que o acompanharem, inclusive
em caso de hospitalização, de atendimento em caso de doença, mater-
nidade, acidente profissional ou não profissional ou doença profissional.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 57

Fator que deve ser ponderado para aqueles trabalhadores transferi-


dos provisoriamente e que se subsumam aos termos do art. 8º do Acordo
é a possibilidade de requererem atualmente as suas desfiliações do regi-
me de previdência no atual local da prestação de serviços e se vinculem
diretamente ao regime de origem. O art. 36 aduz que, para
a aplicação das disposições do art. 8º do presente Acordo relativas ao
deslocamento, as pessoas enviadas a uma Parte contratante antes da data
de entrada em vigor do presente Acordo serão consideradas como tendo
começado nessa data os períodos de atividade mencionados pelo referi-
do artigo.

Tal dispositivo é complementado pelo art. 19 do Acordo de Apli-


cação.
Por fim, complementam o rol de exceções ao princípio da filia-
ção ao regime previdenciário da prestação de serviços: (a) Pessoal circu-
lante ou tripulação de cabine de empresa de transportes internacionais;
(b) Pessoal de navegação marítima; (c) Funcionários e membros de mis-
sões diplomáticas e consulares, salvo pessoas contratadas no território
da outra parte contratante as quais serão submetidas à legislação des-
ta última; e (d) Dependentes do trabalhador que o acompanharem no
deslocamento. Registre-se, ainda, que, mediante pedido devidamente
fundamentado, do trabalhador ou do empregador, as autoridades com-
petentes ou os organismos de ligação poderão, de comum acordo entre
os órgãos dos dois países, autorizar outras exceções ou modificar as que
estão previstas no referido acordo, na expressão contida em seu art. 12.

B) Da exportação das prestações. Da manutenção dos direitos sociais adquiridos e


acumulados
A coordenação das normas de previdência social no âmbito fran-
co-brasileiro favorecerá, a partir do reconhecimento recíproco de direi-
tos sociais, uma maior mobilidade social entre trabalhadores, evitando,
assim, possíveis períodos de interrupção em seus tempos de contribui-
ção ou mesmo dupla filiação em caso de transferências temporárias.
Com efeito, a legalização de um sistema de coordenação previ-
denciária enseja, em princípio, o reconhecimento de direitos adquiridos
e de direitos em acumulação, podendo ser gozados nas condições es-
tabelecidas pelo acordo entabulado. Isto é possível também graças ao
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reconhecimento de uma só legislação aplicável e no reconhecimento
isonômico no tratamento dos cidadãos dos dois países.
Em matéria de exportação das prestações, resta defesa a suspen-
são, a redução ou a modificação das prestações adquiridas em cumpri-
mento da legislação do país ou do presente acordo unicamente porque
o beneficiário se encontre de passagem ou resida no território da outra
parte contratante ou de um terceiro país. Logo, ainda que um cidadão
francês resida no Brasil, e.g., este poderá continuar a receber normal-
mente o seu benefício pago pelo organismo responsável na França.

CONCLUSÃO
O Acordo Internacional de Previdência Social firmado entre o
Brasil e a França cumpre importante função ao sanar uma omissão em
matéria de coordenação de regimes previdenciários, estabelecendo um
viés de justiça social no reconhecimento de alguns direitos sociais bá-
sicos dos trabalhadores entre os dois países, fomentando a sua mobili-
dade e racionalizando os aspectos sobre legislação aplicável, filiação
e contribuições sociais. Espera-se agora que os organismos de ligação
responsáveis implementem e respeitem os direitos previstos no acordo
de forma a materializar, na prática, um verdadeiro Direito Internacional
da Seguridade Social.
Parte Geral – Doutrina
Limbo Jurídico Trabalhista Previdenciário
CÁSSIA BERTASSONE DA SILVA1
Especialista em Direito e Processo do .Trabalho e Direito Previdenciário pela Universidade
Anhanguera – UNIDERP, Advogada associada ao Escritório Ramos – Araújo Advogados, Pro-
fessora do Centro Universitário São Camilo/ES no Curso de Direto, Aluna especial do Curso de
Mestrado em Direito e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitória.

RESUMO: O presente trabalho visa a demonstrar situação social atualmente vivenciada pelos
inúmeros trabalhadores e que até agora não possui um correspondente legislativo para lhe dar
guarida. Trata-se de uma lacuna legislativa que tem sido suprida por meio da tutela judicial,
utilizando, para tanto, interpretação sistemática de vários princípios constitucionais, tais como a
intangibilidade da dignidade da pessoa humana, o caráter social do trabalho, o risco econômico
pela atividade desenvolvida pelo empregador, entre outros. A situação sob análise, por não
possuir uma tutela legislativa específica, passou a ser denominada pela doutrina como “limbo
jurídico trabalhista previdenciário”, formado por meio da divergência entre o laudo do perito
médico do INSS e do médico do trabalho da empresa que coloca o empregado em situação sui
generis, capaz de caracterizar, inclusive, reparação por danos morais.
PALAVRAS-CHAVE: Contrato de trabalho; suspensão; auxílio-doença; alta; incapacidade; limbo
jurídico.
ABSTRACT: The present work aims to demonstrate social current situation experienced by
workers in general and that does not have a legislative correspondent who give him shelter. This
is a legislative gap that has been filled by the legal protection using for this purpose, systematic
interpretation of various constitutional principles such as the inviolability of human dignity, the
social character of labor, economic activity developed by risk by the employer, among others.
The situation under review, has no effective legislative protection, was named by the doctrine
as “legal limbo labor welfare” formed by the discrepancy between the report of the INSS doctor
and the medical work of the company that puts the employee in sui generis situation, capable
of characterizing including compensation for moral damages.
KEYWORDS: Employment contract; suspension; care assintance; highinability; legal limbo.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Do limbo jurídico trabalhista previdenciário; 2 Da pesquisa; Considera-
ções finais; Referências.

INTRODUÇÃO
A situação suscitada nesta pesquisa trata, particularmente, dos
empregados que, incapacitados para o trabalho, buscaram amparo so-

1 Colaboração: Bruna Marcelino Brunoro, graduanda do curso de Direito do Centro Universitário São Camilo/ES.
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cial perante a Autarquia Previdenciária (INSS), contudo tiveram o seu
benefício negado ou, sendo concedido, posteriormente receberam alta
programada pela perícia médica do INSS. As hipóteses referem-se aos
casos em que o perito do INSS considera estes trabalhadores aptos para
exercerem as suas funções.
Entretanto, ao retornarem ao seu antigo posto de trabalho, são
impedidos de regressar pelo laudo do médico do trabalho da empre-
sa devido à constatação da permanência do estado de inaptidão para
o exercício das funções laborativas. Temos, portanto, configurada uma
divergência entre o laudo do perito do INSS e o laudo do médico do
trabalho da empresa.
Neste cenário, o trabalhador se encontra em uma espécie de “lim-
bo jurídico”, não auferindo salários por parte do empregador, que o con-
sidera inapto para o labor, o mantendo afastado e o remetendo ao INSS;
nem percebendo o benefício previdenciário junto ao INSS, pois o perito
o considera apto ao trabalho, o devolvendo ao seu empregador.
A persistência neste cenário por um longo período pode lhe acar-
retar sérias e graves consequências, pois, sem condições de arcar com o
seu sustento, não terá condições de custear tratamentos ou medicamen-
tos para recuperação de sua saúde.
O objetivo da presente pesquisa é demonstrar como esta situação
sui generis tem recebido da tutela jurisdicional uma resposta efetiva e
eficaz que corresponde aos ideais trabalhistas, valorando o empregado
e a função social da empresa muito acima de questões meramente bu-
rocráticas de divergências administrativas, sobre a qual o trabalhador
não pode sofrer consequências funestas, sob pena de violação de seus
princípios e suas garantias fundamentais.

1 DO LIMBO JURÍDICO TRABALHISTA PREVIDENCIÁRIO

A princípio, cumpre esclarecer que, ao mencionar benefícios por


incapacidade, pretende-se abranger tanto os benefícios de auxílios-
-doença quanto os benefícios de aposentadorias por invalidez, visto que
ambos possuem a mesma característica de suspender o contrato de tra-
balho e não ser de natureza definitiva.
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Conforme elucida Fábio Zambitte Ibrahim, “o auxílio-doença é
benefício não programado, decorrente da incapacidade temporária do
segurado para o seu trabalho habitual. Porém somente será devido se
a incapacidade for superior a 15 (quinze) dias consecutivos” (Ibrahim,
2010, p. 633)2.
E ainda, acerca da reversibilidade da aposentadoria por invalidez
decorrente da manutenção dos exames periódicos, preleciona Ibrahim:
A princípio, é de estranhar a previsão de recuperação (total ou parcial)
de capacidade laborativa do aposentado por invalidez. Entretanto, como
a medicina evolui a cada dia, com novos medicamentos e tratamentos
mais eficazes, é possível que o segurado, hoje inválido, venha a recupe-
rar alguma capacidade laborativa em futuro próximo. Daí a reversibilida-
de deste benefício, o que justifica a manutenção das perícias periódicas
e tratamento obrigatório mesmo após a aposentação. (Ibrahim, 2010,
p. 616)

Assim, a situação que iremos submeter ao estudo será exatamente


a de um indivíduo que, preenchendo as condições legais, recebeu por
algum período os benefícios por incapacidade, mas outrora foram cessa-
dos em decorrência dos exames periódicos e da constatação da recupe-
ração da capacidade laborativa.
Uma segunda hipótese também possível de análise é o indivíduo
que, incapacitado para o trabalho por mais de 30 dias, foi encaminhado
ao Instituto Nacional da Previdência Social e por qualquer motivo teve
o seu benefício negado.
Ambas as hipóteses tem a mesma consequência jurídica, qual seja,
cessado o benefício previdenciário ou não concedido, o contrato de tra-
balho estará em pleno vigor, bem como as obrigações dele decorrentes.
Para fins do nosso estudo, esclarece-se o conceito de empregado
como todo o trabalhador, pessoa física, que presta serviço de natureza
não eventual a um empregador, sob a sua dependência e mediante salá-
rio, nos termos do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho.
Para fins também de nosso estudo, devemos recordar que a previ-
dência social é um dos direitos sociais garantidos a todos os cidadãos,

2 Destaca-se que referido prazo foi alterado para 30 dias após a publicação da MP 664/2014.
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conforme dispõe o art. 6º da Constituição Federal. E ainda que a cober-
tura pelos eventos de doença ou invalidez são regulados nos termos da
lei, ao teor do art. 201, I, da Constituição Federal.
O artigo constitucional supramencionado alude à Lei
nº 8.213/1999, que regula os Planos de Benefícios da Previdência So-
cial, onde, em seus arts. 42 e seguintes, estabelece os critérios para
concessão de aposentadoria por invalidez; e, posteriormente, em seus
arts. 59 e seguintes, estabelece os critérios para concessão de auxílio-
-doença.
O empregado, como segurado obrigatório da Previdência Social
(art. 11, I, da Lei nº 8.213/1999), possui o direito de receber os referi-
dos benefícios previdenciários por incapacidade caso, após submetido
a perícia com o médico do INSS, reste comprovada a sua incapacidade
parcial ou total para o trabalho.
Ao lhe ser deferido o benefício previdenciário de auxílio-doença
por disposição legal, o perito médico do INSS já estabelecerá uma data
provável para a recuperação do empregado, o que restou conhecida
como “alta programada” (art. 78, § 1º, do Decreto nº 3.048/1999).
Além disso, lembremos que as situações por incapacidade do em-
pregado somente são encaminhadas ao INSS no 31º dia de afastamento
do serviço, pois nos primeiros 30 dias a responsabilidade salarial perma-
nece a cargo do empregador, ao teor do art. 43, § 2º, e art. 60, § 3º, am-
bos da Lei nº 8.213/1999, alterados pela Medida Provisória nº 664/2014.
[...] quando a moléstia se prolonga além de quinze dias, a responsabili-
dade integral do benefício é transferida para a instituição de previdência.
Interrompe-se o pagamento da remuneração, exatamente porque não é
justo que existindo instituto organizado e que recolhe aos seus cofres as
contribuições dos empregados e dos empregadores, se onere a empresa
com o encargo de pagar os benefícios por doença durante longo tempo.
No décimo sexto dia de afastamento do trabalhador, a interrupção inicial
se transforma, automaticamente, em suspensão do contrato: mais nenhu-
ma cláusula contratual será exigível. (Russomano, 1984, p. 209)

Somente após este período inicial de afastamento é que o empre-


gado poderá ser encaminhado à Previdência Social.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 63
Sendo-lhe deferido o benefício previdenciário por incapacidade, o
seu contrato de trabalho estará suspenso, o que significa que as obriga-
ções decorrentes deste contrato de trabalho também se encontram sus-
pensas.
Em princípio, praticamente todas as cláusulas contratuais não se aplicam
durante a suspensão: não se presta serviço, não se paga salário, não se
computa tempo de serviço, não se produzem recolhimentos vinculados
ao contrato, etc. No período suspensivo, o empregado e empregador
têm, desse modo, a ampla maioria de suas respectivas prestações contra-
tuais sem eficácia. (Delgado, 2008, p. 1058)

As disposições legais contidas nos arts. 63 da Lei nº 8.213/1999


e nos arts. 475 e 476 do Decreto-Lei nº 5.452/1943 (Consolidação das
Leis do Trabalho) são claras ao dispor que a condição de suspensão do
contrato de trabalho será sempre o deferimento pela Autarquia Previden-
ciária de um dos benefícios por incapacidade.
Tal disposição resulta, logicamente, em concluir que, se o bene-
fício por incapacidade for negado ou cessado, a suspensão do contrato
de trabalho também resta negada ou cessada, retornando-se, assim, ao
empregador todas as obrigações decorrentes deste vínculo, inclusive o
pagamento dos salários.
Devemos ressaltar que nem toda doença causa incapacidade total
ou parcial ao trabalhador pelo prazo superior a 30 dias capaz de ensejar
um benefício previdenciário. Somente o médico perito do INSS possui
competência e fé pública para atestar a incapacidade do trabalhador,
exame este que se sobrepõe à conclusão do médico do trabalho da em-
presa (art. 42, § 1º, da Lei nº 8.213/1999).
Necessário se faz, então, conhecer quais devem ser os procedi-
mentos a serem adotados pelas empresas em caso de constatação de
incapacidade para o trabalho de seu empregado.
A empresa, como responsável por seu trabalhador, possui deveres
que vão muito além de meramente manter pagamentos salariais pela
contraprestação do serviço.
Assim, estão previstas na NR7 do Ministério do Trabalho e Em-
prego, no art. 7.3, as responsabilidades que competem ao empregador,
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recaindo sobre este o dever de garantir a elaboração e efetiva implemen-
tação do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacio-
nal), bem como zelar pela sua eficácia, além de custear sem ônus para o
empregado todos os procedimentos relacionados ao PCMSO.
Além de garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável,
compete ao empregador encaminhar o seu empregado à Previdência
Social sempre que constatar incapacidade laborativa superior a 30 dias.
De igual forma, quando liberado pelo INSS, compete ao empre-
gador receber o seu empregado, proceder aos exames de rotina, e, em
caso de constatação de permanência de incapacidade para a função an-
teriormente desempenhada, readaptar o seu empregado em outra função
compatível com as suas limitações ou colocá-lo à disposição.
Lembrando que o empregador possui todo o direito de ingressar
com ação judicial como terceiro interessado para rever a cessação do
benefício por incapacidade ou a sua negativa.
Pois bem, conforme visto, a causa de suspensão do contrato de
trabalho e, consequentemente, de suas obrigações é o recebimento (de-
ferimento) do benefício previdenciário por incapacidade.
Conforme dito, após ser liberado pelo médico perito da Previdên-
cia Social, o trabalhador deverá retornar à empresa, onde será enca-
minhado ao médico do trabalho para constatar a sua aptidão para o
exercício de suas funções, isso por conta da obrigatoriedade prevista na
NR7 do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE e no art. 168 da Con-
solidação das Leis do Trabalho.
Conforme preleciona Cristiane Miziara Mussi, “uma vez suspen-
sa a aposentadoria por invalidez (ainda que pela ausência do segurado
aos exames periódicos), o empregado deverá retornar à sua atividade
laborativa. O empregador, por sua vez, deverá recebê-lo” (Mussi, 2008,
p. 168).
Estando apto, este empregado retornará as suas funções normais e
será remunerado. Entretanto, a realidade vivida atualmente é bem dife-
rente do ideal pretendido pelo direito e que foi supradescrito.
A celeuma se forma no momento em que o médico do trabalho
discordar do médico perito do INSS, entendendo que o trabalhador está
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 65
inapto para exercer as suas funções. Neste caso, qual deverá ser a con-
duta adotada pela empresa?
“Verificando o empregador que o empregado continua incapacitado ao
exercício da atividade laborativa, não deverá recebê-lo, mas encaminhá-
-lo à perícia médica do INSS” (Mussi, 2008, p. 168).

Ocorre que o conflito entre o laudo do médico perito do INSS e


do médico do trabalho da empresa coloca o empregado na situação sui
generis, vez que a Previdência lhe concede alta ou lhe nega o benefício,
afirmando que ele possui condições de saúde necessárias para exercer
as suas funções, daí porque não recebe o benefício previdenciário. De
outro lado, apoiado no laudo de seu médico do trabalho, a empresa não
reintegra este trabalhador, pois o considera inapto, no que tange a sua
saúde, para retornar as suas funções, certa de sua incapacidade e por
ausência de prestação de serviço, também não lhe paga os salários.
Forma-se, desta maneira, o “limbo jurídico trabalhista previden-
ciário”, inserindo o empregado em uma situação calamitosa, onde, no
momento em que mais necessita, não o aufere, nem por parte da Pre-
vidência Social, nem por parte de seu empregador, renda passível de
garantir o seu sustento e o de sua saúde. A míngua, o trabalhador vaga
sem rumo por este período, sendo tratado como mero objeto por ambas
as partes.
O questionamento posto em debate resume-se em demonstrar a
quem compete a responsabilidade por este empregado durante o perío­
do de “limbo jurídico trabalhista previdenciário”: Ao Estado ou à em-
presa?
Podemos afirmar logo de início que à míngua de qualquer auxílio
ou custeio de seu sustento este trabalhador não pode ficar, com fulcro
no art. 1º, III, da Constituição Federal, sendo princípio fundamental da
República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana.
Pois bem, devemos recordar que uma empresa prudente fornece
exames complementares para comprovar a real situação do trabalhador,
coopera diretamente nos recursos administrativos perante o INSS e até
mesmo possui interesse em ingressar com uma ação na Justiça Federal
como terceira interessada, objetivando garantir a continuidade do bene-
fício previdenciário.
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Contudo, tal zelo por parte da empresa não a exime da sua obriga-
ção social para com os seus empregados, notadamente se o contrato de
trabalho está vigente e eficaz, pois a suspensão do contrato encerrou-se
com a cessação do benefício previdenciário.
Neste sentido, a jurisprudência trabalhista tem compreendido que
é do empregador a responsabilidade para com o empregado, com pa-
gamento de salários, no período considerado como “limbo jurídico tra-
balhista previdenciário”, diante da eficácia do contrato de trabalho e
em respeito aos valores sociais do trabalho e da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III e IV, da Constituição Federal), bem como por ser do
empregador o risco pela atividade econômica, nos termos do art. 2º da
Consolidação das Leis do Trabalho. A propósito, Délio Maranhão lecio-
na dizendo:
O empregador tem, ainda, a obrigação de dar trabalho e de possibilitar
a execução normal de sua prestação, proporcionando-lhe os meios ade-
quados para isso. E, acima de tudo, tem o empregador a obrigação de
respeitar a personalidade moral do empregado na sua dignidade absoluta
de pessoa humana. São obrigações que decorrem do princípio geral da
execução de boa-fé do contrato, que, como dissemos, está na base da
disciplina jurídica contratual. (Maranhão, 1993, p. 264)

Portanto, ao trazer uma resposta concreta para os casos, os Tribu-


nais Regionais do Trabalho têm decidido de forma semelhante ao en-
tendimento adotado pelo Desembargador Carlos Henrique Bezerra Leite
no julgamento do Recurso Ordinário nº 0137100-72.2012.5.17.0003, a
seguir transcrito:
E acrescento: não pode o reclamante, parte mais fraca da relação empre-
gatícia, ficar ao bel prazer do cumprimento ou não pelo seu empregador
das normas legais, assumindo o prejuízo daí advindo, principalmente no
momento em que se encontra fragilizado pela doença e o empregador
ficar na cômoda situação de recusa em dar trabalho e carrear aos om-
bros do trabalhador uma situação de limbo-jurídico trabalhista-previden­
ciário.
[omissis]
Ademais, por força dos princípios da função social da empresa e do
contrato, da solidariedade e da justiça social, é da empresa a respon-
sabilidade pelo pagamento dos salários a partir do momento em que o
empregado é considerado apto pelo INSS, pois é seu o risco da atividade
econômica.
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[omissis]
Não se pode deixar de mencionar que é do trabalho que os homens tiram
seu sustento e, ainda, o valor social do trabalho, reconhecido consti-
tucionalmente. O poder constituinte originário elegeu como princípios
fundamentais do Estado Democrático de Direito, a dignidade humana e o
valor social do trabalho (art. 1º, incisos III e IV, da CF). Desrespeitado este
valor constitucionalmente garantido ao trabalhador, deve o seu emprega-
dor responder pelo prejuízo que causou. (Brasil, TRT 17ª Região, 2014)

A cessação de benefício previdenciário, em virtude de recupera-


ção da capacidade laboral constatada pelo perito do INSS, afasta a sus-
pensão do contrato de trabalho, impondo o imediato retorno do traba-
lhador ao emprego.
Portanto, constatada a aptidão para o trabalho, compete ao empre-
gador, enquanto responsável pelo risco da atividade empresarial (CLT,
art. 2º), receber o trabalhador, ofertando-lhe o exercício das funções an-
tes executadas ou, ainda, de atividades compatíveis com as limitações
adquiridas.
Do contrário, estar-se-ia dissipando o valor social do trabalho e a
dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III e IV), pois o empregado, já
sem a percepção de benefício previdenciário, ficaria, agora, ante a ten-
tativa da empresa de obstar o seu retorno ao serviço, sem a possibilidade
de auferir salários, o que, na verdade, revela o descaso do empregador,
bem como a sua intenção de evitar a assunção das irrefutáveis obriga-
ções decorrentes do curso regular do contrato.
Vê-se, a toda evidência, que a inércia empresarial, além de pro-
vocar sérias consequências para a saúde física e mental do trabalhador,
atinge, sobremaneira, a sua capacidade financeira.
Além disso, quando o caso é colocado à mercê da justiça, cabe
aos operadores de Direito recorrerem ao melhor recurso para auxiliar o
trabalhador que se encontrou desamparado por determinado período.
Em virtude do estado de penumbra a que esteve o empregado durante o
período de “limbo jurídico trabalhista previdenciário”, deve-se reparar
inclusive o dano moral, que ocorre quando a lesão atinge os direitos da
personalidade da pessoa humana.
Nesse sentido, já tivemos a oportunidade de presenciar o pro-
nunciamento do nosso Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região
68 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
no julgamento do Recurso Ordinário nº 0057700-82.2012.5.17.0011,
cujo Relator foi o Desembargador Jailson Pereira da Silva, indenizando
um trabalhador pelos danos morais sofridos durante o período de limbo
jurídico, conforme a seguir exposto:
Por outro lado, conforme narrado no tópico anterior, a partir da alta do
benefício previdenciário pelo INSS, competia à reclamada encaminhar a
reclamante para função adequada à sua capacidade e pagar a remunera-
ção correspondente.
Com efeito, restou caracterizada a conduta omissiva da empresa em
transmudar para o trabalhador a incumbência de requerer perante a Au-
tarquia Previdenciária o recebimento do respectivo benefício, tendo a
reclamada optado em deixar a empregada à sua própria sorte, violando
com isso os direitos da personalidade do trabalhador.
No Direito do Trabalho, o dano moral decorre justamente da violação
dos direitos da personalidade do empregado, tais como a imagem, a in-
timidade, a honra objetiva e subjetiva e, principalmente, o direito à vida
digna da pessoa do trabalhador. No caso sub judice, não parece haver
dúvida de que a conduta da reclamada comprometeu a subsistência dig-
na da empregada, violando um dos fundamentos da República Federati-
va do Brasil (a dignidade da pessoa humana).
Por todas essas razões, imperioso é fixar uma indenização compensatória
que, cotejando a situação econômica das partes, tenha caráter pedagógi-
co e preventivo, de modo a desestimular a prática de atos lesivos à per-
sonalidade do trabalhador. Assim, considerando que a reclamante ficou
sem remuneração no período aproximado de três anos até a presente
data, arbitro a indenização por danos morais em R$ 7.000,00. (Brasil,
TRT 17ª Região, 2013)

Não é aceito o fato de o empregador não pagar os salários de um


empregado, visto que a responsabilidade lhe foi novamente devolvida
com a cessação do beneficio previdenciário, acarretando, assim, um to-
tal desamparo financeiro a este trabalhador hipossuficiente.
Em razão disso, conforme exemplificado pela decisão supra, di-
versas condenações judiciais ao pagamento de salário no período de
“limbo jurídico trabalhista previdenciário” têm sido acompanhadas de
indenizações por danos morais devido à situação humilhante, degra-
dante e calamitosa a qual esteve submetido o trabalhador em momento
crítico de sua vida, vendo-se completamente desamparado.
Caberá à justiça reparar esse “abandono” por meio da indenização
embasada no pleito decorrente do descumprimento das obrigações pres-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 69
critas no contrato de trabalho, pois prevê a legislação trabalhista essa
reparação específica e de cunho patrimonial que restitutio in integro.

2 DA PESQUISA
Por meio de pesquisa quantitativa desenvolvida para apresentação
na Expociência do Centro Universitário São Camilo – ES/2014, com a
ajuda essencial da aluna, na época, do 1º período do Curso de Direito,
Bruna Marcelino Brunoro, foi possível desenvolver uma consulta juris-
prudencial nos sítios eletrônicos dos Tribunais Regionais do Trabalho
para obter alguns dados concretos acerca do processamento de deman-
das com essa temática, bem como do percentual de condenações das
empresas ao pagamento de salários no período de “limbo jurídico tra-
balhista previdenciário”, inclusive com condenações por danos morais.
Destaca-se que a pesquisa tomou por base os últimos anos (2012
a 2014), quando a problemática se mostrou mais evidente perante os
Tribunais Trabalhistas.
Além disso, tomamos por base quatro importantes Tribunais Regio-
nais do Trabalho: 3ª Região, que representa o Estado de Minas Gerais; 4ª
Região, que representa o Estado do Rio Grande do Sul; 12ª Região, que
representa o Estado de Santa Catarina; e 17ª Região, que representa o
Estado do Espírito Santo.
A pesquisa observou mais de 50 (cinquenta) acórdãos do referido
período, obtendo o seguinte resultado, representado pelo gráfico a seguir:

Fonte: Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, Tribunal Regional do Trabalho


4ª Região, Tribunal Regional do Trabalho 12ª Região e Tribunal Regional do Tra-
balho 17ª Região (Desenvolvido pela aluna Bruna Marcelino Brunoro do Centro
Universitário São Camilo/ES).
70 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
Conforme se pode observar, houve um aumento significativo no
reconhecimento judicial deste período de “limbo jurídico trabalhista
previdenciário”, com condenações das empresas ao pagamento dos sa-
lários dos respectivos períodos a seus empregados que se encontram
nesta situação.
Verificou-se, também, que gradativamente as condenações em pa-
gamento de salários cumuladas com a indenização por danos morais
aumentaram significativamente, de forma que, até julho de 2014 (data
final da pesquisa), já foram possíveis computar praticamente o mesmo
número de condenações alcançadas no ano inteiro de 2013 acerca desta
cumulação de pedidos.
Importante destacar que, das mais de 50 sentenças pesquisadas,
nenhuma foi favorável à empresa, negando a sua responsabilidade so-
bre o empregado neste período de “limbo jurídico trabalhista previden­
ciário”.
Portanto, verifica-se que a jurisprudência trabalhista está evoluin-
do, no sentido de consagrar a responsabilidade do empregador sobre o
seu empregado no período em que o contrato de trabalho não esteja sus-
penso, mesmo que não haja prestação de serviços, sob pena, inclusive,
de indenização por danos morais pelo abandono e descaso para com o
trabalhador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As divergências entre médico do trabalho e o perito médico do


INSS apresentam interpretações próprias quando analisadas em cada es-
fera. Por ocasião, todo cidadão possui a obrigatoriedade de obedecer ao
que se é exigido em lei, respeitando o princípio da legalidade.
Pode-se concluir que o médico do trabalho da empresa, entrando
em divergência com a decisão do laudo médico do INSS, não comete,
a princípio, uma infração ética, vez que, na maioria das vezes, possui
conhecimentos mais específicos sobre a área da medicina questionada.
Entretanto, em uma esfera administrativa, os laudos dos médicos
do trabalho se subordinam aos laudos do perito médico do INSS, vez
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 71
que este tem fé pública e, em matéria previdenciária, detém a compe-
tência necessária para avaliar a questão.
Quando o empregado possui um laudo com aptidão para traba-
lhar, este passa a ser responsabilidade da empresa, e esta possui deveres
para com o seu empregado, deveres que vão além do pagamento de seu
salário.
Após encaminhar o seu obreiro para o médico do trabalho, se sur-
gir um laudo contrastante com o que foi proferido pelo perito do INSS,
cabe à empresa não permitir que o mesmo fique à míngua, e, sim, abrir
um processo como terceiro interessado para conceder ao seu emprega-
do o benefício previdenciário e, somente assim, ter o contrato de traba-
lho suspenso.
Mas destaca-se que, durante este percurso, o empregado estará in-
tegralmente dependente de seu empregador, razão pela qual os salários
ainda lhe são devidos, até que sobrevenha o benefício previdenciário a
substituí-lo.
Para que essa situação não venha a se tornar persistente, deve-se
incitar a criação de liames entre médico do trabalho e médico do INSS,
o que se tornaria uma conciliação recompensadora e que reduziria a
ocorrência dos casos em que se constitui o “limbo jurídico trabalhista
previdenciário”, em decorrência das divergências médicas. Garantir-se-
-ia, assim, ao trabalhador a resolução do conflito de maneira mais eficaz
e com presteza, estabelecendo, consequentemente, a saúde do obreiro e
a dignidade da pessoa humana.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 4 jul. 2014.
______. Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da
Previdência Social, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm>. Acesso em: 1º jul. 2014.
______. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação
das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 1º jul. 2014.
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______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 1º jul.
2014.
______. NR7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, de 30 de
dezembro de 1994. Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Disponí-
vel em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/05/mtb/7.htm>. Acesso
em: 4 jul. 2014.
______. Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região, Recurso Ordinário
nº 0137100-72.2012.5.17.0003, Ementa: Interregno entre a alta do INSS até a
dispensa sem justa causa. Pagamento de salários. Responsabilidade. Aplicação
dos princípios da função social da empresa e do contrato, da solidariedade e
da justiça social. Por força dos princípios da função social da empresa e do
contrato, da solidariedade e da justiça social, é da empresa a responsabilida-
de pelo pagamento dos salários a partir do momento em que o empregado é
considerado apto pelo INSS, pois é seu o risco da atividade econômica.
3ª Turma, Relator Desembargador Carlos Henrique Bezerra Leite, Julgado em
05.05.2014, DJES 06.05.2014. Disponível em: <http://www.trtes.jus.br/portal/
PaginaInicial.aspx>. Acesso em: 27 jun. 2014.
______. Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região, Recurso Ordinário
nº 0057700-82.2012.5.17.0011, Ementa: Percepção de auxílio-doença. Alta
previdenciária. Pagamento dos salários vencidos. Após a concessão, pelo
INSS, de alta médica ao obreiro, a reclamada não poderia afastá-lo do traba-
lho, sob a alegação de que estava inapto, sendo o correto procedimento a ser
adotado pela empresa a readaptação do autor em outra função. Isso porque,
enquanto o reclamante aguarda a decisão do INSS quanto ao pedido de re-
consideração para manutenção do auxílio doença, não faz jus à percepção do
benefício previdenciário, ficando o reclamante desamparado, já que não rece-
beu salários, pois foi afastado de suas atividades pela reclamada, tampouco re-
cebeu o benefício previdenciário, pois já havia recebido alta do INSS. Assim,
deve a reclamada ser condenada ao pagamento dos salários vencidos referente
ao período em que manteve o obreiro afastado de suas atividades. 3ª Turma,
Relator Desembargador Jailson Pereira da Silva, Julgado em 09.09.2013, DJES
24.09.2013. Disponível em: <http://www.trtes.jus.br/portal/PaginaInicial.
aspx>. Acesso em: 4 jul. 2014.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo:
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ESPÍRITO SANTO. Tribunal Regional do Trabalho. Disponível em:
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IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 15. ed.
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leiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
SANTA CATARINA. Tribunal Regional do Trabalho. Disponível em:
<http://www.trt12.jus.br/portal/>. Acesso em: 17 jun. 2012.
Parte Geral – Doutrina
Da Licença e Salário-Maternidade à Licença-Natalidade-Infância
e Salário-Maternidade Parental – Releitura dos Direitos
Previdenciários à Luz do Novo Conceito de Família
Ivani Contini Bramante
Desembargadora Federal do Trabalho Tribunal Regional do Trabalho, São Paulo, Doutora pela
Pontifícia Universidade Católica, Professora de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito de
São Bernardo do Campo.

SUMÁRIO: 1 Histórico evolutivo do conceito e da proteção à família; 2 Espécies de famílias – Fa-


mílias monoparentais e homoafetivas; 3 Da proteção à mulher e à maternidade; 4 Finalidade do
salário-maternidade; 5 Da proteção constitucional da criança; 6 Da licença-natalidade-infância e
do salário-maternidade parental; Conclusões; Referências.

1 Histórico evolutivo do conceito e da proteção à família


A família constitui objeto de proteção do Estado desde priscas
eras. O Código de Hamurabi, do século XVII a.C., destinava o Capí-
tulo X à proteção do “matrimônio e família, delitos contra a ordem da
família, contribuições e doações nupciais”. Da mesma forma, a Lei das
XII Tábuas destinava o de número IV ao pátrio poder; e o livro terceiro
do Código de Manu traçava as regras sobre o matrimônio e os deveres
do chefe da família
Desse modo, a sociedade sempre demonstrou importância à famí-
lia, tanto que, hodiernamente, mereceu tutela do Direito internacional,
tendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu preâmbu-
lo, estatuído que:
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; [...].

Não é por outro motivo que a Constituição Federal dedicou o Ca-


pítulo VII do Título VIII à família, criança, adolescente, jovem e idoso e
prevê, em seu art. 226, que “a família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado”.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 75
Diante destas premissas relativas à evolução da proteção destina-
da à família surgem a licença-maternidade e o respectivo salário-mater-
nidade.
A família constitui a base do Estado, ou seja, é a celula mater so-
cial e, segundo Carlos Roberto Gonçalves, é:
[...] o núcleo fundamental em que repousa toda a organização social. Em
qualquer aspecto em que é considerada, aparece a família como uma
instituição necessária e sagrada, que vai merecer a mais ampla proteção
do Estado. A Constituição Federal e o Código Civil a ela se reportam e
estabelecem a sua estrutura, sem no entanto defini-la, uma vez que não
há identidade de conceitos tanto no direito como na sociologia.1 [...] Lato
sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo
de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum,
bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. Compreende os côn-
juges e companheiros, os parentes e os afins.2

Muito se questiona a natureza jurídica da família. Antigamente,


acreditava-se ser a família uma pessoa jurídica, conceito não aceito na
cultura ocidental, eis que dá à entidade familiar caráter patrimonial,
como titular de direitos e obrigações, que, de fato, não possui, uma vez
que sua essência decorre dos direitos de seus membros enquanto pes­
soas naturais.
Maurice Hauriou entendia ser a família uma instituição, assim
entendida como uma coletividade que se subordina à autoridade e às
condutas sociais. A família é, portanto, uma associação de pessoas para
regular os vínculos entre as que se unem para sua formação.
Como instituição de grande importância para meio social e forma-
ção do próprio Estado, o Direito sempre se viu obrigado a tutelar a famí-
lia e a respeitar a ampliação de seu conceito em virtude das mudanças
sociais.

2 Espécies de famílias – Famílias monoparentais e homoafetivas


Embora na passado brasileiro a família se constituísse primordial-
mente pelo casamento, entendido como a união indissolúvel entre ho-

1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito de família. 11. ed. São Paulo: Saraiva, v. 6,
2014. p. 23.
2 Idem, p. 23/24.
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mem e mulher, passou a aceitar sua dissolução em alguns casos, bem
como a proteger a união estável, como se observa no art. 226, § 3º, da
CF/1988.
Em decisão de profunda relevância e senso de justiça, o col. STF,
em 4 de maio de 2011, o Plenário do STF iniciou o julgamento da ADIn
4.277, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República, e da ADPF 132,
proposta pelo Rio de Janeiro, acerca do reconhecimento jurídico, como
entidade familiar, da união entre pessoas do mesmo sexo.
No julgamento, a Suprema Corte, em votação unânime, reconhe-
ceu as relações homoafetivas como formadoras de entidade familiar e
lhe estendeu os direitos destinados a toda e qualquer família.
Merece destaque trecho do voto do MM. Ministro Relator Carlos
Ayres de Brito, ao afirmar que:
[...] dar conta, ora do enlace por amor, por afeto, por intenso carinho
entre pessoas do mesmo sexo, ora da união erótica ou por atração física
entre esses mesmos pares de seres humanos. Aclare-se união com perdu-
rabilidade o bastante para a constituição de um novo núcleo doméstico
tão socialmente ostensivo na sua existência quanto vocacionado para a
expansão de suas fronteiras temporais.
Logo, vínculo de caráter privado, mas sem o viés do propósito empresa-
rial, econômico, ou por qualquer forma, patrimonial, pois não se trata de
uma mera sociedade de fato ou interesseira parceria mercantil. Trata-se,
isto sim, de uma união essencialmente afetiva ou amorosa, a implicar
um voluntário navegar emparceirado por um rio sem margens fixas e
sem outra embocadura que não seja a conflitante entrega de um coração
aberto a outro.
[...] a terminologia entidade familiar não significa algo diferente de fa-
mília, pois não há hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as
duas formas de constituição de um novo núcleo domestico. Estou a dizer:
a expressão entidade familiar não foi usada para designar um tipo inferior
de unidade doméstica, porque apenas a meio caminho da família que se
forma casamento civil. Não foi e não é isso, pois inexiste essa figura da
subfamília, família de segunda classe ou família mais ou menos.

De tais premissas podemos concluir que a família passou a ser não


apenas a união entre homem e mulher, independendo sua constituição
do sexo das pessoas envolvidas.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 77
Segundo célebre lição de Georges Ripert, “quando o Direito igno-
ra a realidade, a realidade se vinga, ignorando o Direito”.
O Direito, por ser o meio regulador coercitivo das relações sociais,
deve evoluir na mesma velocidade que a sociedade na qual é aplicada,
sob pena de ser ignorado e tornar-se letra morta, não garantindo sua fun-
ção de controle do meio social para o qual foi instituído.
O direito de família foi, sem dúvidas, um dos ramos do Direito
que não sofreu mudanças em razão da grande evolução social sofrida.
Muitas relações familiares são mantidas à margem da sociedade, por
preconceitos ou outros motivos que impediam sua aceitação social, seja
em decorrência da mudança das relações entre os membros da família,
que se tornou mais aberta e livre.
Em vista disto, considera-se entidade familiar simplesmente sua
constituição por meio de um homem ou uma mulher e seus filhos, deno-
minada de família monoparental, à qual é devida todos os direitos inatos
à celula mater da sociedade.
Assim, pode-se concluir que família é a união de pessoas por laços
afetivos e indispensável à sociedade. Isto porque é no seio da família que
iniciam os primeiros passos da educação e socialização da pessoa. Por
isso, a família merece toda a proteção e preservação da ordem jurídica
para que alcance seus fins.
Quanto à família monoparental, a própria Constituição Federal
prevê, em seu art. 226, § 4º, ser considerada entidade familiar, ao deter-
minar que “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.
Em relação à união homoafetiva, devem ser citadas interessantes
decisões do col. TJRS:
APELAÇÃO CÍVEL – UNIÃO HOMOAFETIVA – RECONHECIMENTO –
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IGUALDADE
– É de ser reconhecida judicialmente a união homoafetiva mantida entre
duas mulheres de forma pública e ininterrupta pelo período de 16 anos.
A homossexualidade é um fato social que se perpetua através dos sécu-
los, não mais podendo o Judiciário se olvidar de emprestar a tutela juris-
dicional a uniões que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família.
A união pelo amor é que caracteriza a entidade familiar e não apenas
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a diversidade de sexos. É o afeto a mais pura exteriorização do ser e do
viver, de forma que a marginalização das relações homoafetivas constitui
afronta aos direitos humanos por ser forma de privação do direito à vida,
violando os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade.
Negado provimento ao apelo. (TJRS, AC 70012836755, Rel. Des. Luiz
Felipe Brasil Santos, 2005)
APELAÇÃO CÍVEL – UNIÃO HOMOAFETIVA – RECONHECIMENTO –
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IGUALDADE
– É de ser reconhecida judicialmente a união homoafetiva mantida entre
dois homens de forma pública e ininterrupta pelo período de nove anos.
A homossexualidade é um fato social que se perpetuou através dos sécu-
los, não podendo o Judiciário se olvidar de prestar a tutela jurisdicional
a uniões que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família. A união
pelo amor é que caracteriza a entidade familiar e não apenas a diver-
sidade de gêneros. E, antes disso, é o afeto a mais pura exteriorização
do ser e do viver, de forma que a marginalização das relações mantidas
entre pessoas do mesmo sexo constitui forma de privação do direito à
vida, bem como viola os princípios da dignidade da pessoa humana e
da igualdade. (TJRS, AC 70009550070, Relª Desª Maria Berenice Dias,
7ª C.Cív., DJ 17.11.2004)

Em suma, por família entende-se não apenas a união de casal hete-


rossexual, mas a união de pessoas pelo laço da afinidade, ou seja, entre
pessoas do mesmo sexo, de sexos diversos ou mesmo entre pai ou mãe
e seus filhos.
Igualmente, não se aceita mais a velha concepção de atribuições
separadas e estanques dos membros da família, fato desmentido pela so-
ciedade atual em que mulheres o homens dividem-se tanto no trabalho
para o sustento da entidade familiar como nos cuidados destinados à sua
manutenção.
O Código Civil, à vista disso, alterou a denominação do vetusto
pátrio poder para poder familiar, eis que é a entidade familiar a deten-
tora do poder sobre os filhos, ou seja, os pais possuem o mesmo poder
sobre o destino da família, sem que se possa dizer em sobrepujamento
de um sobre o outro.
Em conclusão, podemos classificar as espécies de família como
sendo:
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 79
a) oriunda do casamento: trata-se da família clássica, com gêne-
se pela clássica e formal união entre homem e mulher;
b) originária da união estável: prevista e reconhecida expressa-
mente pelo art. 266, § 3º, da CF, na qual se reconhecem os
efeitos jurídicos oriundos da vida em comum entre pessoas;
c) família monoparental: prevista pelo art. 226, § 4º, da CF/1988
e que consiste na família formada pelo pai ou pela mãe e seu
descendente;
d) família recomposta: consiste na família monoparental que
integra outra entidade familiar para conviverem conjunta­
mente; e
e) família homoafetiva: trata-se da união de pessoas do mesmo
sexo e que, de acordo com a jurisprudência, consubstanciada
em decisão do col. STF, foi reconhecida como entidade fami-
liar para todos os efeitos.

3 Da proteção à mulher e à maternidade

O sistema jurídico, preocupado com a situação da mulher na so-


ciedade e nas relações jurídica, concedeu-lhe alguns direitos como meio
de proteção da maternidade, entre os quais se destacam:
a) proteção do mercado de trabalho: conforme art. 7º, XX,
CF/1988, a proteção do mercado de trabalho da mulher, me-
diante incentivos específicos, nos termos da lei;
b) licença-maternidade de 120 dias sem prejuízo dos salários:
prevista no art. 7º, XVIII, da Constituição Federal: “São direi-
tos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: [...] XVIII – licença
à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a du-
ração de cento e vinte dias”.
O período padrão para licença-maternidade é de 120 dias. En-
tretanto, é facultativo à empresa conceder um período de 180 dias. O
art. 7º, XVIII, da Constituição Federal de 1988, bem como o art. 392
da CLT, contemplam o direito à licença-maternidade de 120 dias, sem
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prejuízo do emprego e do salário. A Lei nº 11.770/2008 instituiu o Pro-
grama Empresa Cidadã, destinado a prorrogar por 60 dias a duração da
licença-maternidade, período em que a mãe não poderá exercer qual-
quer atividade remunerada e no qual a criança não poderá ser mantida
em creche. A empresa que aderir ao programa poderá deduzir o total
da remuneração paga à empregada nesses 60 dias, do imposto devido
sobre seu lucro real. Essa mesma lei também autorizou a Administração
Pública a instituir programa que garanta a prorrogação da licença-mater-
nidade às suas servidoras.
c) licença-maternidade à adotante: à empregada que adotar ou
obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança, de
acordo com o art. 392-A da CLT;
d) repouso pré e pós-parto ou licença-amamentação: ainda, de
acordo com o art. 392, § 2º, da CLT, os períodos de repouso,
antes e depois do parto, poderão ser aumentados de 2 (duas)
semanas cada um, mediante atestado médico.
Questão interessante é a de saber se, além da licença-maternida-
de, existe um benefício de licença-amamentação. Na CLT, está previsto
que a trabalhadora pode estender por 15 dias sua licença-maternidade
mediante atestado médico. Não existe um benefício de licença-ama-
mentação, mas é comum as pessoas acreditarem que a prorrogação da
licença-maternidade seria uma licença-amamentação.
Na realidade, o que existe é a hipótese da licença-maternidade ser
aumentada por um período de 2 semanas, tanto antes quanto depois do
parto, mediante atestado médico, podendo alcançar mais quase um mês
de extensão. Isso está previsto no art. 392, § 2º, da CLT.
Porém, para que ocorra esse aumento, o art. 343, § 8º, da Instru-
ção Normativa nº 77/2015, do INSS, exige que haja risco para a vida do
feto ou da criança ou da mãe, a ser certificado pelo médico que atestar
a necessidade da prorrogação da licença-maternidade. Quando o pa-
gamento do salário-maternidade for feito diretamente pela Previdência
Social e não pelo empregador, esse aumento da licença-maternidade
dependerá, ainda, da confirmação do risco pela perícia médica do INSS.
Outras questões podem ser focadas: a) após a licença-maternida-
de, durante a jornada de trabalho, a mulher tem direito a dois descansos
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 81
especiais, de meia hora cada um? b) Eles podem se transformar em um
único período de 1 hora para entrar mais tarde ou sair mais cedo do tra-
balho?; c) Por quanto tempo?
O art. 396 da CLT concede à mulher o direito a dois descansos
especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, para
amamentar o filho até que complete seis meses de idade. Algumas nor-
mas coletivas, que são celebradas entre sindicatos de trabalhadores e
sindicatos de empresas, estabelecem a possibilidade de a mãe escolher
entrar no trabalho uma hora mais tarde ou sair uma hora mais cedo, sem
que sofra qualquer prejuízo salarial.
O período de seis meses para a amamentação também poderá ser
ampliado, quando o exigir a saúde da criança e a critério da autoridade
competente, que é o médico que assiste a mulher. Para que as mães
possam usufruir desses intervalos, os estabelecimentos onde trabalham
ao menos 30 mulheres deverão ter um local destinado ao período de
amamentação, conforme previsão do art. 389, § 1º, da CLT.
Essa exigência pode ser suprida por meio de creches mantidas di-
retamente pela empresa ou por convênios que esta venha a firmar com
entidades públicas ou privadas, nos termos do § 2º da mesma norma.
e) estabilidade da gestante: prevista no art. 10 do Ato das Dis-
posições Constitucionais Transitórias, à empregada urbana
ou rural, da confirmação da gravidez até cinco meses após o
parto;
f) alteração contratual de proteção à saúde: permissão para que
seja alterado o local de trabalho ou a função, por determina-
ção médica, para que se evitem problemas na gestação;
g) direito de licença para exames pré-natal: liberação do traba-
lho para que a mulher possa ir a consultas médicas e realizar
exames, no mínimo de seis vezes durante o período de gravi-
dez, de acordo com o art. 392, § 4º, da CLT;
h) extinção contratual protetiva: autorização legal para extinção
da relação empregatícia quando prejudicial à saúde gestação,
sem que seja devido qualquer desconto ou indenização, de
acordo com o art. 394 da CLT;
82 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
i) proibição à discriminação: quanto à questão referente à fer-
tilidade e gravidez, o que constitui conduta discriminatória
do empregador, punida nos âmbitos criminal e trabalhista,
consoante Lei nº 9.029/1995;
j) direito a creches e pré-escola: conforme art. 7º, inciso XXV,
é assegurada a assistência gratuita aos filhos e dependentes
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches
e pré-escolas (Inciso alterado pela Emenda Constitucional
nº 53, de 19.12.2006).
No que se refere aos direitos do pai, temos:
a) licença-paternidade de 5 dias: prevista no art. 7º, inciso XIX –
“licença-paternidade, nos termos fixados em lei”. Assim, en-
quanto a lei não vier, o direito é assegurado 5 dias de licença,
nos termos do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias; e
b) licença-maternidade ao pai: o direito ao esposo ou compa-
nheiro, ainda que de família recomposta, em caso de morte
da genitora, ao gozo de licença, por todo o período da licen-
ça-maternidade; ou pelo tempo restante a que teria direito a
mãe, exceto no caso de falecimento do filho ou de seu aban-
dono, nos termos do art. 392-B da CLT, com redação dada
pela Lei nº 12.873/2013.
Observa-se, portanto, que a legislação dedica maior proteção à
mulher em cotejo com o homem, o que o faz com razão, eis que as mu-
lheres são os maiores alvos de discriminação no trabalho.

4 Finalidade do salário-maternidade

O art. 201 da CF/1988 determina que:


Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime ge-
ral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos
da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
[...]
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 83
II – proteção à maternidade, especialmente à gestante;
[...].

Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari, no Manual


de direito previdenciário, citam interessante lição de Chantal Paòli, que
afirma, sobre a proteção da mulher, que:
Trata-se de preservar sua função fisiológica no processo da criação, faci-
litar o cuidado dos filhos e a atenção à família, garantindo seus interesses
profissionais e sua renda no mercado de trabalho, sem diminuir nem
deteriorar sua condição feminina.3

A Lei nº 8.213/1991, nos arts. 71 a 73, tutela o salário-maternida-


de, sendo que, no início, determinava ser devido apenas às seguradas
empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica, sem a exigên-
cia de carência.
A Lei nº 8.861/1994 estendeu o direito à segurada especial, no
valor de um salário-mínimo, quando comprovado o exercício de ativi-
dade rural nos últimos 12 meses, ainda que de modo descontínuo. A Lei
nº 9.876/1999 ampliou o rol das beneficiárias do salário-maternidade
para o conceder à contribuinte individual e facultativa.
Finalmente, com a Lei nº 10.421/2002, foi estendido o direito à
mulheres quando adotarem filho ou obtiverem guarda judicial para fins
de adoção.
A Lei nº 12.873/2013 institui nova evolução do benefício, ao pre-
ver no art. 71-A da Lei nº 8.213/1991 que:
Art. 71-A. Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar ou
obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança é devido salário-
-maternidade pelo período de 120 (cento e vinte) dias.
[...]
§ 2º Ressalvado o pagamento do salário-maternidade à mãe biológica e o
disposto no art. 71-B, não poderá ser concedido o benefício a mais de um
segurado, decorrente do mesmo processo de adoção ou guarda, ainda

3 RUPRECHT, Alfredo J. Direito da seguridade social. São Paulo: LTr, 1996, p. 259 apud CASTRO, Carlos
Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 16. ed. São Paulo: Forense,
2014. p. 1753.
84 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
que os cônjuges ou companheiros estejam submetidos a Regime Próprio
de Previdência Social.

Previu que, em caso de falecimento da segurada ou segurado que


receba salário-maternidade, o benefício deve ser pago pelo período res-
tante a que teria direito, ao cônjuge ou companheiro sobrevivente que
tenha a qualidade de segurado, salvo se falecido o filho ou abandonado.

Incluiu, ainda, o art. 392-A à CLT, pelo qual, em caso de adoção


ou guarda judicial de criança, faz jus a empregada à licença-materni-
dade, mas limitada a apenas um dos adotantes, e, caso venha a falecer
o titular do beneficio, estender-se-á pelo período restante da licença ao
cônjuge ou companheiro empregado, salvo no caso de falecimento do
filho ou de seu abandono.

Resta evidente que a ampliação das beneficiárias se deu, primor-


dialmente, pela necessidade de tutela da família, constitucionalmente
protegida. Assim, embora tais direitos se destinem aparentemente à mu-
lher, visam a tutelar não sua pessoa, mas sim a criança, bem como a
entidade familiar que se constitui.

Ressalte-se que ampliação do benefício atende aos princípios do


art. 4º do ECA, ao tutelar o interesse do menor e o convívio com seus
pais, biológicos ou adotivos, para a sua criação e formação.

5 Da proteção constitucional da criança

A licença-gestante e o salário-maternidade têm por finalidade a


proteção não só da gestante, mas especialmente da criança. O mesmo
raciocínio deve ser adotado na manutenção de tais benefícios para a
hipótese de falecimento da gestante e sobrevivência da criança. Isso por-
que, se a criança precisa de cuidados, não há razão de ordem jurídica
para excluir tal direito do cônjuge, companheiro, ainda que oriundo de
família recomposta ou membro da família que ficar com o encargo, no
poder familiar, de cuidar da criança. O que está em jogo é o bem-estar
do recém-nascido e o seu desenvolvimento físico e intelectual. Ade-
mais, a Carta da República elegeu a criança como prioridade máxima
(art. 227). Destarte, cabe à toda a sociedade velar pelo respeito à garan-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 85
tia da criança, direito em permanente construção que atrai os princípios
da solidariedade e do esforço coletivo.

6 Da licença-natalidade-infância e do salário-maternidade parental


Celso Antonio ensina que o princípio da isonomia implementar-
-se-á quando reconhecidos e harmonizados os seguintes elementos:
a) fator adotado como critério discriminatório; b) correlação lógica entre
o fator discriminatório e o tratamento jurídico atribuído em razão da
desigualdade; 3) afinidade entre o fator discriminatório e o tratamento
jurídico e os valores protegidos pela Constituição Federal.
Não trata o inciso I do art. 5º de mera igualdade formal, perante
a lei, mas de igualdade de direitos e obrigações. Assim, será inconstitu-
cional tratar, sem fundamento, de forma diferenciada homem e mulher.
Aceita-se, pois, a diferença de tratamento, sempre que se pretenda ate-
nuar as diferenças, o que pode ser feito pela legislação infraconstitucio-
nal ou pela jurisprudência.
A igualdade entre homem e mulher deve ser observada, ainda,
perante a família, nos termos do art. 226, § 5º, da CF/1988, tendo os
cônjuges ou companheiros os mesmo direitos e obrigações perante a
entidade familiar.
Apenas admite-se a discriminação entre homem e mulher caso
seja prevista na própria Constituição Federal, pelo constituinte originá-
rio, ou caso haja real fundamento para o tratamento diverso.
As mulheres tiveram sua igualdade plenamente reconhecida na
Constituição, não apenas pelo disposto no caput do art. 5º, mas também
pela expressa previsão dos arts. 5º, I, 3º, IV, 7º, XXX, 40, III, e 202.
Em relação aos homossexuais, diante do disposto no art. 5º da
CF/1988, não se permite discriminação de qualquer natureza, pelo que
inadmissível tratar de modo diferente pessoas em razão de sua orienta-
ção sexual.
O STF, no julgamento da ADPF 132, entendeu que o art. 226 da
Constituição Federal confere à família proteção especial e que a “famí-
lia”, “em seu coloquial ou proverbial significado de núcleo doméstico,
pouco importando se formal ou informalmente constituída, ou se inte-
86 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
grada por casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos”, bem como
deu interpretação conforme o art. 1.723 do Código Civil, para reconhe-
cer a união homoafetiva como entidade familiar.
EMENTA: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUN-
DAMENTAL (ADPF) – PERDA PARCIAL DE OBJETO – RECEBIMENTO,
NA PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU-
CIONALIDADE – UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO
COMO INSTITUTO JURÍDICO – CONVERGÊNCIA DE OBJETOS EN-
TRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA – JULGAMENTO CONJUNTO
– Encampação dos fundamentos da ADPF 132/RJ pela ADIn 4.277/DF,
com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição” ao
art. 1.723 do Código Civil. Atendimento das condições da ação. 2. PROI-
BIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO,
SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA
NO PLANO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL DELES – A
PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO CONSTITU-
CIONALISMO FRATERNAL – HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO
VALOR SOCIOPOLÍTICO-CULTURAL – LIBERDADE PARA DISPOR DA
PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONO-
MIA DE VONTADE – DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA –
CLÁUSULA PÉTREA – O sexo das pessoas, salvo disposição constitucio-
nal expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como fator
de desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV
do art. 3º da Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objeti-
vo constitucional de “promover o bem de todos”. Silêncio normativo da
Carta Magna a respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como sa-
que da kelseniana “norma geral negativa”, segundo a qual “o que não es-
tiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido”.
Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta emanação
do princípio da “dignidade da pessoa humana”: direito à autoestima no
mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da feli-
cidade. Salto normativo da proibição do preconceito para a proclamação
do direito à liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da
autonomia da vontade das pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade
nos planos da intimidade e da privacidade constitucionalmente tutela-
das. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea. 3. TRATAMENTO CONSTI-
TUCIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA – RECONHECIMENTO DE
QUE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO
“FAMÍLIA” NENHUM SIGNIFICADO ORTODOXO OU DA PRÓPRIA
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 87
TÉCNICA JURÍDICA – A FAMÍLIA COMO CATEGORIA SOCIOCUL-
TURAL E PRINCÍPIO ESPIRITUAL – DIREITO SUBJETIVO DE CONSTI-
TUIR FAMÍLIA – INTERPRETAÇÃO NÃO REDUCIONISTA – O caput do
art. 226 confere à família, base da sociedade, especial proteção do Esta-
do. Ênfase constitucional à instituição da família. Família em seu colo-
quial ou proverbial significado de núcleo doméstico, pouco importando
se formal ou informalmente constituída, ou se integrada por casais hete-
roafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao utili-
zar-se da expressão “família”, não limita sua formação a casais heteroafe-
tivos nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa.
Família como instituição privada que, voluntariamente constituída entre
pessoas adultas, mantém com o Estado e a sociedade civil uma necessá-
ria relação tricotômica. Núcleo familiar que é o principal lócus institucio-
nal de concreção dos direitos fundamentais que a própria Constituição
designa por “intimidade e vida privada” (inciso X do art. 5º). Isonomia
entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos que somente ganha ple-
nitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de
uma autonomizada família. Família como figura central ou continente,
de que tudo o mais é conteúdo. Imperiosidade da interpretação não re-
ducionista do conceito de família como instituição que também se forma
por vias distintas do casamento civil. Avanço da Constituição Federal
de 1988 no plano dos costumes. Caminhada na direção do pluralismo
como categoria sociopolítico-cultural. Competência do Supremo Tribu-
nal Federal para manter, interpretativamente, o Texto Magno na posse do
seu fundamental atributo da coerência, o que passa pela eliminação de
preconceito quanto à orientação sexual das pessoas. 4. UNIÃO ESTÁVEL
– NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER,
MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTEÇÃO DESTA ÚLTIMA – FOCADO
PROPÓSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAÇÕES JURÍ-
DICAS HORIZONTAIS OU SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPO-
LOGIAS DO GÊNERO HUMANO – IDENTIDADE CONSTITUCIONAL
DOS CONCEITOS DE “ENTIDADE FAMILIAR” E “FAMÍLIA” – A refe-
rência constitucional à dualidade básica homem/mulher, no § 3º do seu
art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder a menor oportuni-
dade para favorecer relações jurídicas horizontais ou sem hierarquia no
âmbito das sociedades domésticas. Reforço normativo a um mais eficien-
te combate à renitência patriarcal dos costumes brasileiros. Impossibili-
dade de uso da letra da Constituição para ressuscitar o art. 175 da Carta
de 1967/1969. Não há como fazer rolar a cabeça do art. 226 no patíbulo
do seu § 3º. Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “entidade fami-
liar”, não pretendeu diferenciá-la da “família”. Inexistência de hierarquia
88 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição
de um novo e autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado
“entidade familiar” como sinônimo perfeito de família. A Constituição
não interdita a formação de família por pessoas do mesmo sexo. Con-
sagração do juízo de que não se proíbe nada a ninguém senão em face
de um direito ou de proteção de um legítimo interesse de outrem, ou de
toda a sociedade, o que não se dá na hipótese sub judice. Inexistência do
direito dos indivíduos heteroafetivos à sua não equiparação jurídica com
os indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do § 2º do art. 5º da Consti-
tuição Federal, a evidenciar que outros direitos e garantias, não expres-
samente listados na Constituição, emergem “do regime e dos princípios
por ela adotados”, verbis: “Os direitos e garantias expressos nesta Consti-
tuição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa
do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS LATERAIS QUANTO À FUNDA-
MENTAÇÃO DO ACÓRDÃO – Anotação de que os Ministros Ricardo
Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso convergiram no particular
entendimento da impossibilidade de ortodoxo enquadramento da união
homoafetiva nas espécies de família constitucionalmente estabelecidas.
Sem embargo, reconheceram a união entre parceiros do mesmo sexo
como uma nova forma de entidade familiar. Matéria aberta à conforma-
ção legislativa, sem prejuízo do reconhecimento da imediata autoaplica-
bilidade da Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓ-
DIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
(TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”) – RECONHECIMENTO
DA UNIÃO HOMOAFETIVA COMO FAMÍLIA – PROCEDÊNCIA DAS
AÇÕES – Ante a possibilidade de interpretação em sentido preconcei-
tuoso ou discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à
luz dele próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de “interpreta-
ção conforme à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa
qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua,
pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família. Re-
conhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as
mesmas consequências da união estável heteroafetiva. (STF, ADPF 132,
Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, Julgado em 05.05.2011, DJe-198
Divulg. 13.10.2011, Public. 14.10.2011; Ement., v. 02607-01, p. 00001)

Maria Berenice Dias cita decisão do TSE que “reconhece à união


homoafetiva a inelegibilidade consagrada no art. 14, § 7º, da Constitui-
ção Federal. Aí se proíbe aos cônjuges de Presidente da República, Go-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 89
vernadores e Prefeitos concorrerem nas eleições ao mesmo cargo. Ne-
cessário o afastamento do titular até seis meses antes do pleito”4, como
um voto a favor do reconhecimento da homoafetividade.
Ainda, não há que ser feita qualquer distinção entre o cônjuge ou
companheiro em relação à família recomposta ou demais membros da
família que detenham poder familiar, para fins de reversão do salário-
-maternidade, para propiciar os cuidados à criança.

Conclusões
Tendo em vista o quanto analisado anteriormente, podem ser ex-
traídas algumas conclusões.
Com efeito, o sistema jurídico se funda na igualdade, sendo cer-
to que a isonomia não pode ser vista apenas em relação ao homem e
mulher e suas relações sociais, profissionais ou familiares, mas também
quanto às entidades fundantes de todo o Direito.
Assim, efetivamente, as famílias devem ser tratadas de forma igual,
sejam oriundas de um casal heterossexual, homossexual, monoparental
ou de família recomposta.
No entanto, a isonomia não se resume à identidade de direitos en-
tre tais entidades familiares, nem entre seus membros e suas relações na
família moderna em que homens e mulheres não possuem mais funções
estanques e absolutamente distintas, mas sim devem se integrar para o
desenvolvimento da celula mater da sociedade.
Portanto, a análise dos institutos deve ser realizada de acordo com
os conceitos atuais de família e da importância e atribuições de seus
membros, fundadas na isonomia do conceito de família e na igualdade
de seus membros dentro da relação jurídica.
Se a ordem jurídica assegura o direito ao cônjuge ou companhei-
ro, ainda que originário de família recomposta, em caso de morte da ge-
nitora, ao gozo de licença, por todo o período da licença-maternidade;
ou pelo tempo restante a que teria direito a mãe, exceto no caso de
falecimento do filho ou de seu abandono, nos termos do art. 392-B da

4 Artigo retirado do site Saraivajur, acesso em 19.05.2015.


90 R��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
CLT, com redação dada pela Lei nº 12.873/13, tal beneficio pode e deve
ser assegurado em reversão a outros membros da família que, no poder
familiar, tenham a incumbência de cuidar da criança (ex.: avó, tia, etc.).
Não há fundamento para a concessão de licença-maternidade
apenas para a genitora ou adotante, o qual deve ser estendido para o
cônjuge, companheiro ou adotante, que deve cooperar em regime de
igualdade para o desenvolvimento familiar seja de modo financeiro
como afetivo. E, em caso de morte da parturiente, a proteção deve se
estender ao cônjuge ou companheiro, ou membro da família que fica
com o encargo de cuidar da criança.
Destarte, é possível, pela isonomia interna e externa das famílias
e entre elas, ser estendido o benefício da licença-maternidade ao outro
membro da família, sendo que de lege ferenda será a melhor opção para
adequar e satisfazer a ratio da Constituição Federal.
Assim, entendemos que se trata de efetiva licença-natalidade-
-infância que pode se dividir em licença-natalidade e licença-adoção,
devidas não apenas à genitora ou adotante, mas também ao genitor ou
adotante, seja em família heteroafetiva, homoafetiva, monoparental ou
família recomposta ou outro membro da família que cuidar da criança,
em hipótese de falecimento da gestante durante ou pós-parto.
Tendo em conta a prioridade da proteção da criança, tal direito
deveria ser estendido aos demais membros da família ou família recom-
posta em caso de abandono da criança pela mãe.
Da mesma forma, o salário-maternidade não deve se restringir à
mulher, sendo devida a ambos os titulares do poder familiar, sob a de-
nominação de salário-maternidade-parental.
De lege ferenda: o salário-maternidade será pago para as segura-
das empregada, trabalhadora avulsa, empregada doméstica, contribuinte
individual, facultativa, especial e as seguradas em prazo de manutenção
da qualidade de segurada, por ocasião do parto, inclusive o natimorto,
aborto não criminoso, adoção ou guarda judicial para fins de adoção,
observadas as situações e condições previstas na legislação no que con-
cerne à proteção à maternidade; e ainda ao cônjuge ou companheiro,
ainda que oriundo de família recomposta ou membro da família que no
exercício do poder familiar tenha a incumbência de cuidar da criança.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 91
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PINTO, José Augusto Rodrigues. Direito sindical brasileiro. São Paulo: LTr,
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PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de
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RIVERO, Jean. Les Libértes Publiques: I – Les Droits del’Homme. Paris: PUF,
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VENOSA, Sílvio Salvo de. Direito civil: direito de família. 13. ed. Atlas, 2013.
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1625

Supremo Tribunal Federal


14.04.2015 Primeira Turma
AgRg no Recurso Extraordinário nº 868.111 Minas Gerais
Relatora: Min. Rosa Weber
Agte.(s): Estado de Minas Gerais
Agte.(s): Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
Proc.(a/s)(es): Advogado-Geral do Estado de Minas Gerais
Agdo.(a/s): Henrique Mendes Monteiro Ferreira
Adv.(a/s): Roberto de Carvalho Santos e outro(a/s)

EMENTA
DIREITO ADMINISTRATIVO E PREVIDENCIÁRIO – SERVIDOR PÚBLICO – CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS – LICENÇA SEM REMUNERAÇÃO – ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º,
II, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – LEGALIDADE – CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA – DEVIDO PROCESSO LEGAL – DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL –
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO
DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO – NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DE LEGISLAÇÃO
LOCAL – APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 280/STF – NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL –
ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – NULIDADE – INOCORRÊNCIA – RAZÕES DE
DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL – ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO
EM 14.03.2014
1. Inexiste violação do art. 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispo-
sitivo constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional,
das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalha-
do de cada argumento suscitado pelas partes.
2. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, LIV e LV, da Consti-
tuição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida
a matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de pré-
via análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o
que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no
art. 102 da Magna Carta.
3. As razões do agravo regimental não são aptas a infirmar os fun-
damentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se
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refere ao óbice da Súmula nº 280 do STF, a inviabilizar o trânsito
do recurso extraordinário.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros
do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência da
Senhora Ministra Rosa Weber, na conformidade da ata de julgamento e
das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em negar provimento
ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora.
Brasília, 14 de abril de 2015.

Ministra Rosa Weber


Relatora

RELATÓRIO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Contra a decisão por
mim proferida, pela qual negado seguimento ao recurso, maneja agravo
regimental o Estado de Minas Gerais.
Insurge-se contra a decisão agravada, ao argumento de que a vio-
lação dos preceitos da Constituição Federal se dá de forma direta.
Insiste na tese da afronta aos princípios da legalidade, inafastabili-
dade da jurisdição, devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Reitera a afronta aos arts. 5º, II, LIV, LV, 37, caput, 40, 93, IX, da Cons-
tituição Federal.
O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais julgou a contro-
vérsia em decisão cuja ementa reproduzo:
“AÇÃO ORIGINÁRIA DE MANDADO DE SEGURANÇA – ILEGITIMIDA-
DE PASSIVA INOCORRENTE – LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES
PARTICULARES – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO SERVIDOR –
RECOLHIMENTO DEVIDO – CONTRIBUIÇÃO PATRONAL – RESPON-
SABILIDADE DO ENTE PÚBLICO – RECOLHIMENTO PELO SERVIDOR
INDEVIDO – SEGURANÇA PARCIALMENTE CONCEDIDA
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA.................................................................. 95
1. A legitimidade passiva, no mandado de segurança, decorre de a au-
toridade apontada como impetrada ter competência para determinar a
prática de ato apontado como sendo omissivo ou desfazer o comissivo.
2. É devido o recolhimento de contribuição previdenciária do servidor
durante o período de licença sem remuneração para tratar de interesses
particulares, uma vez que mantém o vínculo com a Administração Pú-
blica e o período de afastamento é contado para fins de aposentadoria.
3. A disposição contida no art. 31 da Lei Complementar nº 64, de 2002,
do Estado de Minas Gerais, que obriga o servidor afastado sem remunera-
ção a recolher a contribuição previdenciária patronal é inconstitucional,
porque transfere responsabilidade do ente público e fere o princípio da
solidariedade.
4. Segurança concedida em parte, rejeitada uma preliminar.”

Acórdão recorrido publicado em 14.03.2014.


É o relatório.

VOTO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os pressu-
postos genéricos, conheço do agravo regimental e passo ao exame do
mérito.
Nada colhe o agravo.
Transcrevo o teor da decisão que desafiou o agravo:
“Vistos etc.
Contra o acórdão prolatado pelo Tribunal de origem, maneja recurso
extraordinário, com base no art. 102, III, da Lei Maior, o Estado de Minas
Gerais. Aparelhado o recurso na afronta aos arts. 5º, II, LIV, LV, 37, caput,
40, 93, IX, da Constituição Federal.
É o relatório.
Decido.
Preenchidos os pressupostos extrínsecos.
Da detida análise dos fundamentos adotados pelo Tribunal de origem,
por ocasião do julgamento do apelo veiculado na instância ordinária, em
96 R�������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
confronto com as razões veiculadas no extraordinário, concluo que nada
colhe o recurso.
Está no acórdão recorrido:
‘AÇÃO ORIGINÁRIA DE MANDADO DE SEGURANÇA – ILEGITIMI-
DADE PASSIVA INOCORRENTE – LICENÇA PARA TRATAR DE IN-
TERESSES PARTICULARES – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO
SERVIDOR – RECOLHIMENTO DEVIDO – CONTRIBUIÇÃO PATRO-
NAL – RESPONSABILIDADE DO ENTE PÚBLICO – RECOLHIMEN-
TO PELO SERVIDOR INDEVIDO – SEGURANÇA PARCIALMENTE
CONCEDIDA
A legitimidade passiva, no mandado de segurança, decorre de a au-
toridade apontada como impetrada ter competência para determinar
a prática de ato apontado como sendo omissivo ou desfazer o comis-
sivo.
2. É devido o recolhimento de contribuição previdenciária do ser-
vidor durante o período de licença sem remuneração para tratar de
interesses particulares, uma vez que mantém o vínculo com a Admi-
nistração Pública e o período de afastamento é contado para fins de
aposentadoria.
A disposição contida no art. 31 da Lei Complementar nº 64, de 2002,
do Estado de Minas Gerais, que obriga o servidor afastado sem remu-
neração a recolher a contribuição previdenciária patronal é inconsti-
tucional, porque transfere responsabilidade do ente público e fere o
princípio da solidariedade.
Segurança concedida em parte, rejeitada a preliminar.’
Da leitura dos fundamentos do acórdão prolatado na origem, constato
explicitados os motivos de decidir, a afastar o vício da nulidade por nega-
tiva de prestação jurisdicional arguido. Destaco que, no âmbito técnico-
-processual, o grau de correção do juízo de valor emitido na origem não
se confunde com vício ao primado da fundamentação, notadamente con-
sabido que a disparidade entre o resultado do julgamento e a expectativa
da parte não sugestiona lesão à norma do texto republicano. Precedentes
desta Suprema Corte na matéria:
‘Fundamentação do acórdão recorrido. Existência. Não há falar em
ofensa ao art. 93, IX, da CF, quando o acórdão impugnado tenha
dado razões suficientes, embora contrárias à tese da recorrente.’
(AI 426.981-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 05.11.04; no mesmo
sentido: AI 611.406-AgR, Rel. Min. Carlos Britto, DJe 20.02.2009)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA.................................................................. 97
‘Omissão. Inexistência. O magistrado não está obrigado a res-
ponder todos os fundamentos alegados pelo recorrente. PIS. Lei
nº 9.715/1998. Constitucionalidade. A controvérsia foi decidida com
respaldo em fundamentos adequados, inexistindo omissão a ser su-
prida. Este Tribunal fixou entendimento no sentido de que o magistra-
do não está vinculado pelo dever de responder todos os fundamen-
tos alegados pela parte recorrente. Precedentes. Esta Corte afastou a
suposta inconstitucionalidade das alterações introduzidas pela Lei
nº 9.715/1998, admitindo a majoração da contribuição para o PIS me-
diante a edição de medida provisória. Precedentes.’ (RE 511.581-AgR,
Rel. Min. Eros Grau, DJe 15.08.2008)

‘O que a Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão judicial


seja fundamentada; não que a fundamentação seja correta, na solu-
ção das questões de fato ou de direito da lide: declinadas no julgado
as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes com
o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência constitucional.’
(AI 402.819-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 05.09.2003)

O exame de eventual ofensa aos preceitos constitucionais indicados nas


razões recursais, consagradores dos princípios da legalidade, da proteção
ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, bem como
ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º da Lei
Maior), demanda, em primeiro plano, a interpretação das normas infra-
constitucionais aplicáveis à espécie, de tal modo que, se afronta ocorres-
se, seria indireta, o que não atende à exigência do art. 102, III, a, da Lei
Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo
Tribunal Federal, verbis:

‘RECURSO – Extraordinário. Inadmissibilidade. Alegação de ofensa


ao art. 5º, XXII, XXIII, XXIV, LIV e LV, da Constituição Federal. Vio-
lações dependentes de reexame prévio de normas inferiores. Ofensa
constitucional indireta. Matéria fática. Súmula nº 279. Agravo regi-
mental não provido. É pacífica a jurisprudência desta Corte, no senti-
do de não tolerar, em recurso extraordinário, alegação de ofensa que,
irradiando-se de má interpretação, aplicação, ou, até, inobservância
de normas infraconstitucionais, seria apenas indireta à Constituição
da República, e, muito menos, de reexame de provas. (STF, AI-AgR
495.880/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 1ª T., DJ 05.08.2005)
‘Recurso extraordinário: descabimento: acórdão recorrido, do Tribu-
nal Superior do Trabalho, que decidiu a questão à luz de legislação
98 R�������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
infraconstitucional: alegada violação ao texto constitucional que, se
ocorresse, seria reflexa ou indireta; ausência de negativa de prestação
jurisdicional ou de defesa aos princípios compreendidos nos arts. 5º,
II, XXXV, LIV e LV e 93, IX, da Constituição Federal.’(STF, AI-AgR
436.911/SE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª T., DJ 17.06.2005)
‘CONSTITUCIONAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – ALEGAÇÃO
DE OFENSA À CF, ART. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV E LV – I – Ao Judi­
ciário cabe, no conflito de interesses, fazer valer a vontade concreta
da lei, interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente
ou desarrazoadamente a lei, a questão fica no campo da legalidade,
inocorrendo o contencioso constitucional. II – Decisão contrária ao
interesse da parte não configura negativa de prestação jurisdicional
(CF, art. 5º, XXXV). III – A verificação, no caso concreto, da existência,
ou não, do direito adquirido, situa-se no campo infraconstitucional.
IV – Alegação de ofensa ao devido processo legal: CF, art. 5º, LIV e
LV: se ofensa tivesse havido, seria ela indireta, reflexa, dado que a
ofensa direta seria a normas processuais. E a ofensa a preceito consti-
tucional que autoriza a admissão do recurso extraordinário é a ofensa
direta, frontal. V – Agravo não provido.’ (STF, RE-AgR 154.158/SP,
Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª T., DJ 20.09.2002)
‘TRABALHISTA – ACÓRDÃO QUE NÃO ADMITIU RECURSO DE RE-
VISTA, INTERPOSTO PARA AFASTAR PENHORA SOBRE BENS ALIE-
NADOS FIDUCIARIAMENTE EM GARANTIA DE FINANCIAMENTO
POR MEIO DE CÉDULA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO – DECRE-
TO-LEI Nº 413/1969 E LEI Nº 4.728/1965 – ALEGADA AFRONTA
AO ART. 5º, II, XXII, XXXV E XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
– Questão insuscetível de ser apreciada senão por via da legislação
infraconstitucional que fundamentou o acórdão, procedimento invi-
ável em sede de recurso extraordinário, onde não cabe a aferição
de ofensa reflexa e indireta à Carta Magna. Recurso não conhecido.’
(STF, RE-153.781/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª T., DJ 02.02.2001)
Dessarte, desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos
termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Fe-
deral. Aplicação da Súmula nº 280/STF: ‘Por ofensa a direito local não
cabe recurso extraordinário’. Nesse sentido: ARE 650.574-AgR/SP, Relª
Min. Cármen Lúcia, 1ª T., DJe 28.09.2011; e ARE 647.735-AgR/SP, Rel.
Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 27.06.2012, cuja ementa transcrevo:
‘EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO – TEMPESTIVIDADE DO AGRAVO
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA.................................................................. 99
REGIMENTAL – INCIDÊNCIA DO ADICIONAL DE SEXTA PARTE
SOBRE A INTEGRALIDADE DOS VENCIMENTOS DE SERVIDOR ES-
TADUAL – MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL – IN-
CIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 280 DESTA CORTE – REPERCUSSÃO
GERAL REJEITADA – AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO – 1. A
ofensa a direito local não viabiliza o apelo extremo (Súmula nº 280
do STF). 2. Na hipótese em apreço, o cálculo do adicional de sexta-
-parte foi solucionado à luz do art. 129 da Constituição do Estado
de São Paulo, não desafiando o acórdão, recurso extraordinário. […]
5. Embargos de declaração acolhidos para reconhecer a tempestivida-
de o agravo regimental e negar-lhe provimento.’
Nesse sentir, não merece seguimento o recurso extraordinário, consoante
também se denota dos fundamentos da decisão que desafiou o recurso,
aos quais me reporto e cuja detida análise conduz à conclusão pela au-
sência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
Nego seguimento ao recurso extraordinário (CPC, art. 557, caput).”

Irrepreensível a decisão agravada.


As razões do agravo regimental não são aptas a infirmar os funda-
mentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere
ao óbice da Súmula nº 280/STF, a inviabilizar o trânsito do recurso ex-
traordinário.
A suposta ofensa aos postulados constitucionais invocados no
apelo extremo somente poderia ser constatada a partir da análise da le-
gislação infraconstitucional local, o que torna oblíqua e reflexa eventual
ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso
extraordinário.
Nesse sentir, o exame de eventual ofensa aos preceitos constitu-
cionais indicados nas razões recursais, consagradores dos princípios da
legalidade, da proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e
à coisa julgada, bem como ao devido processo legal, ao contraditório
e à ampla defesa (art. 5º da Lei Maior), demanda, em primeiro plano, a
interpretação das normas infraconstitucionais aplicáveis à espécie, de tal
modo que, se afronta ocorresse, seria indireta, o que não atende à exi-
gência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurispru-
dência deste egrégio Supremo Tribunal Federal (STF, AI-AgR 495.880/SP,
Rel. Min. Cezar Peluso, 1ª T., DJ 05.8.2005; STF, AI-AgR 436.911/SE,
100 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª T., DJ 17.06.2005; STF, RE-AgR


154.158/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª T., DJ 20.09.2002 e STF, RE
153.781/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª T., DJ 02.02.2001).
Tal como consignado na decisão agravada, inexiste violação do
art. 93, IX, da Constituição Federal de 1988. Na compreensão desta
Suprema Corte, o Texto Constitucional exige que o órgão jurisdicional
explicite as razões de seu convencimento, sem necessidade, contudo,
do exame detalhado de cada argumento esgrimido pelas partes. Cito
precedentes:
“Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão em recurso ex-
traordinário (CPC, art. 544, §§ 3º e 4º). Alegação de ofensa aos incisos
XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal.
Inocorrência. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão
ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem deter-
minar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou
provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão.
Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão geral, rea-
firmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento ao recurso e au-
torizar a adoção dos procedimentos relacionados à repercussão geral”
(AI 791.292-QO-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, por
maioria, DJe 13.08.2010).

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL – O recur-


so extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais. RE LEGAL
– CURSO EXTRAORDINÁRIO – PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – DEVI-
DO PROCESSO – Se, de um lado, é possível ter-se situação concreta
em que transgredido o devido processo legal a ponto de se enquadrar o
recurso extraordinário no permissivo que lhe é próprio, de outro, descabe
confundir a ausência de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional com
a entrega de forma contrária aos interesses do recorrente. AGRAVO –
ART. 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – MULTA – Se o
agravo é manifestamente infundado, impõe-se a aplicação da multa pre-
vista no § 2º do art. 557 do Código de Processo Civil, arcando a parte
com o ônus decorrente da litigância de má-fé” (ARE 721.783-AgR/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., DJe 12.03.2013).

As razões do agravo regimental não são aptas a infirmar os funda-


mentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 101
à ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da Repú-
blica.
Agravo regimental conhecido e não provido.
É como voto.

PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA
AgRg no Recurso Extraordinário nº 868.111
Proced.: Minas Gerais
Relatora: Min. Rosa Weber
Agte.(s): Estado de Minas Gerais
Agte.(s): Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado de Minas
Gerais
Proc.(a/s)(es): Advogado-Geral do Estado de Minas Gerais
Agdo.(a/s): Henrique Mendes Monteiro Ferreira
Adv.(a/s): Roberto de Carvalho Santos e outro(a/s)

Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental, nos


termos do voto da Relatora. Unânime. Presidência da Senhora Ministra
Rosa Weber. 1ª Turma, 14.04.2015.
Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. Presentes à Sessão
os Senhores Ministros Marco Aurélio, Luiz Fux e Roberto Barroso.
Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio
Marques.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1626

Superior Tribunal de Justiça


AgRg no Recurso Especial nº 1.370.292 – PR (2013/0069209-2)
Relator: Ministro Humberto Martins
Agravante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF
Agravado: Ralf Vitorio Maas
Advogados: C lovis Felipe Fernandes e outro(s)
Frederico Azambuja Patino Cruzatti

EMENTA
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – APOSENTADORIA – CONTRIBUINTE INDIVIDUAL –
CLASSES – INTERSTÍCIO – APOSENTADORIA OCORRIDA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 10.666/2003
– CÁLCULO DA RMI – APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DO MOMENTO DA AQUISIÇÃO DO DIREITO
À APOSENTADORIA
1. O Tribunal de origem deixou claro que a aposentadoria por ida-
de foi concedida em 04.05.2004, quando já estava em vigor a Lei
nº 10.666/2003, que, em seu art. 9º, extinguiu a escala de salários-
-base prevista no art. 4º da Lei nº 9.876/1999.
2. Esta Corte já proferiu entendimento no sentido de que a renda
mensal inicial dos proventos da aposentadoria deve ser calculada
em conformidade com a legislação vigente ao tempo em que pre-
enchidos todos os requisitos para a aposentadoria. Assim, afasta-se
o argumento de que deve ser considerada a legislação em vigor à
época do desempenho da atividade e do recolhimento das contri-
buições. Precedentes.
Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal
de Justiça: “A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo re-
gimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 103
Ministros Herman Benjamin, Og Fernandes, Mauro Campbell Marques
(Presidente) e Assusete Magalhães votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 28 de abril de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Humberto Martins


Relator

RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator):
Cuida-se de agravo regimental interposto pelo Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS contra decisão monocrática de minha relatoria
que não conheceu do recurso especial, nos termos da seguinte ementa
(fl. 350, e-STJ):
“PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – APOSENTADORIA – CON-
TRIBUINTE INDIVIDUAL – CLASSES – INTERSTÍCIO – APOSENTADO-
RIA OCORRIDA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 10.666/2003 – FUNDAMEN-
TO NÃO INFIRMADO – SÚMULA Nº 283/STF – RECURSO ESPECIAL
NÃO CONHECIDO.”

Extrai-se dos autos que o recurso especial foi interposto, com fun-
damento no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, contra
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região que deu
parcial provimento ao recurso de apelação do recorrido.
A ementa do julgado guarda os seguintes termos (fl. 297, e-STJ):
“PREVIDENCIÁRIO – REVISÃO – APOSENTADORIA POR IDADE UR-
BANA – ESCALA DE SALÁRIO-BASE – EXTINÇÃO – SALÁRIO-DE-CON-
TRIBUIÇÃO
A partir de novembro de 1999, a escala de salários-base deve ser apli-
cada nos termos do art. 4º da Lei nº 9.876/1999; a partir da competên-
cia abril de 2003, não há mais a observância da tabela, devendo ser
considerados os salários-de-contribuição efetivamente recolhidos, desde
que respeitado o teto máximo, haja vista o disposto nos arts. 9º e 14 da
MP 83 de 12.12.2002, posteriormente convertida na Lei nº 10.666, da
08.05.2003 (arts. 9º e 15).”
104 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Alega o agravante que “o fundamento de que a aposentadoria foi conce-
dida na vigência da nova legislação foi impugnado com o argumento de
que para o cálculo da RMI deve ser considerada a legislação em vigor à
época do desempenho da atividade e do recolhimento das contribuições
e não o da concessão do benefício” (fl. 360, e-STJ). Requer seja afastada a
incidência da Súmula nº 283 do STF, a fim de que seja julgado o recurso
especial e considerada a obediência à escala de salário-base prevista no
art. 29 da Lei nº 8.212/1991.

Pugna, por fim, caso não seja reconsiderada a decisão agravada,


pela submissão do presente agravo à apreciação da Turma.
Dispensada a oitiva do agravado.
É, no essencial, o relatório.

EMENTA
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – APOSENTADORIA – CONTRIBUINTE INDIVIDUAL –
CLASSES – INTERSTÍCIO – APOSENTADORIA OCORRIDA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 10.666/2003
– CÁLCULO DA RMI – APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DO MOMENTO DA AQUISIÇÃO DO DIREITO
À APOSENTADORIA
1. O Tribunal de origem deixou claro que a aposentadoria por
idade foi concedida em 04.05.2004, quando já estava em vigor
a Lei nº 10.666/2003, que, em seu art. 9º, extinguiu a escala de
salários-base prevista no art. 4º da Lei nº 9.876/1999.
2. Esta Corte já proferiu entendimento no sentido de que a renda
mensal inicial dos proventos da aposentadoria deve ser calculada
em conformidade com a legislação vigente ao tempo em que pre-
enchidos todos os requisitos para a aposentadoria. Assim, afasta-se
o argumento de que deve ser considerada a legislação em vigor à
época do desempenho da atividade e do recolhimento das contri-
buições. Precedentes.
Agravo regimental improvido.

VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator):
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 105
Não obstante o esforço contido nas razões de agravo regimental,
não prospera a pretensão recursal de reforma da decisão prolatada.
Conforme consignado na análise monocrática, é firme nesta Corte
o entendimento no sentido da estrita observância dos interstícios legais
para progressão de classes, com exceção, para estes fins, dos recolhi-
mentos extemporâneos, nos termos da Lei nº 9.876/1999.
Contudo, o Tribunal de origem deixou claro que a aposentadoria
por idade foi concedida em 04.05.2004, quando já estava em vigor a Lei
nº 10.666/2003, que, em seu art. 9º, extinguiu a escala de salários-base
prevista no art. 4º da Lei nº 9.876/1999. Assim, concluiu que, “a partir
da competência abril de 2003, não há mais a observância da tabela,
devendo ser considerados os salários-de-contribuição efetivamente re-
colhidos, desde que respeitado o teto máximo”.
Alega o INSS que, “para o cálculo da RMI deve ser considerada
a legislação em vigor à época do desempenho da atividade e do reco-
lhimento das contribuições e não o da concessão do benefício” (fl. 360,
e-STJ).
Não assiste razão ao agravante.
Esta Corte já proferiu entendimento no sentido de que a renda
mensal inicial dos proventos da aposentadoria deve ser calculada em
conformidade com a legislação vigente ao tempo em que preenchidos
todos os requisitos para a aposentadoria. Assim, afasta-se o argumento
de que deve ser considerada a legislação em vigor à época do desempe-
nho da atividade e do recolhimento das contribuições.
A propósito, os seguintes precedentes:
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO – EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO – ERRO DE FATO – RECONHECIMENTO – APRECIA-
ÇÃO DO RECURSO ESPECIAL – CÁLCULO DA RMI – APLICAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO DO MOMENTO DA AQUISIÇÃO DO DIREITO À APO-
SENTADORIA – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS – RE-
CURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Nos termos do art. 535 do CPC, são cabíveis os embargos de declara-
ção para a modificação do julgado que se apresentar omisso, contradi-
tório ou obscuro, bem como para sanar possível erro material existente
na decisão.
106 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
2. No caso, há evidente erro material quanto à questão tratada nos autos.
3. Tanto no Pretório Excelso quanto nesta Corte Superior de Justiça, en-
contra-se pacificado o entendimento segundo o qual, em homenagem ao
princípio tempus regit actum, o cálculo do valor da aposentadoria deve
ser realizado com base na legislação vigente à época em que restaram
cumpridas as exigências legais para a concessão do benefício. Situação
que não se confunde com a retroação da data de início do benefício.
4. Embargos de declaração acolhidos para apreciar e dar parcial provi-
mento ao recurso especial.”
(EDcl-EDcl-EDcl-EDcl-REsp 1.240.190/PR, Rel. Min. Moura Ribeiro,
5ª T., Julgado em 18.06.2014, DJe 27.06.2014)

“PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA – REVISÃO – DECADÊNCIA –


ART. 103 DA LEI Nº 8.213/1991 – INAPLICABILIDADE – LEI VIGENTE
QUANDO DA IMPLEMENTAÇÃO DOS REQUISITOS – AGRAVO REGI-
MENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO
1. Esta Corte não está adstrita ao julgamento do Excelso Pretório, por
força do art. 543-B da lei processual civil, não possuindo os julgados
daquela Corte efeito vinculante para com os desta.
2. De acordo com inúmeros precedentes desta Corte, o prazo decaden-
cial previsto no art. 103 da Lei nº 8.213/1991, a partir da MP 1.523/1997,
que resultou na Lei nº 9.528/1997, não atinge as relações jurídicas cons-
tituídas anteriormente.
3. É cediço nesta Corte o entendimento no sentido de que a renda mensal
inicial dos proventos da aposentadoria deve ser calculada em conformi-
dade com a legislação vigente ao tempo em que preenchidos todos os
requisitos para a aposentação.
4. Agravo regimental ao qual se nega provimento.”
(AgRg-REsp 1.278.347/SC, Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura,
6ª T., Julgado em 20.09.2012, DJe 01.10.2012)

Ante o exposto, não tendo o agravante trazido argumento capaz


de infirmar a decisão agravada, nego provimento ao agravo regimental.
É como penso. É como voto.

Ministro Humberto Martins


Relator
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 107

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
Número Registro: 2013/0069209-2
AgRg-REsp 1.370.292/PR
Números Origem: 110246981 110307370 110663967 200570050024024
201300692092
Pauta: 28.04.2015
Julgado: 28.04.2015
Relator: Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins
Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques
Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Darcy Santana
Vitobello
Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

AUTUAÇÃO
Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF
Recorrido: Ralf Vitorio Maas
Advogados: Frederico Azambuja Patino Cruzatti
Clovis Felipe Fernandes e outro(s)
Assunto: Direito previdenciário – Benefícios em espécie – Aposentadoria
por idade (art. 48/51)

AGRAVO REGIMENTAL
Agravante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF
Agravado: Ralf Vitorio Maas
Advogados: Frederico Azambuja Patino Cruzatti
Clovis Felipe Fernandes e outro(s)
108 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em
epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Og Fernandes, Mauro


Campbell Marques (Presidente) e Assusete Magalhães votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1627

Superior Tribunal de Justiça


AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 417.099 – BA (2013/0356024-7)
Relator: Ministro Sérgio Kukina
Agravante: Nordeste Segurança e Transporte de Valores Bahia Ltda. e outros
Advogados: D óris de Souza Castelo Branco e outro(s)
João Humberto de Farias Martorelli
Agravado: Fazenda Nacional
Advogado: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional

EMENTA
DIREITO TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL –
CONTRIBUIÇÃO DESTINADA AO CUSTEIO DO SEGURO ACIDENTE DO TRABALHO (SAT) –
APLICAÇÃO DO FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO (FAP) – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
– ACÓRDÃO RECORRIDO COM FUNDAMENTO EXCLUSIVAMENTE CONSTITUCIONAL – ART. 97
DO CTN – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – MATÉRIA INSUSCETÍVEL DE EXAME EM RECURSO
ESPECIAL – AGRAVO DESPROVIDO
1. Não se conhece do recurso especial quando o Tribunal de ori-
gem analisa a questão posta nos autos sob a ótica do princípio da
Legalidade Tributária, bem como de outros dispositivos constitu-
cionais, decidindo a questão com fundamentos de índole eminen-
temente constitucional.
2. É inviável o conhecimento, em sede de recurso especial, da ale-
gação de violação ao art. 97 do Código Tributário Nacional, uma
vez que o preceito infraconstitucional invocado trata-se de mera
reprodução de dispositivo da Constituição Federal. Precedentes:
AgRg-REsp 12.90.963/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
2ª T., DJe 25.09.2012; REsp 1277853/SC, Rel. Min. Humberto
Martins, 2ª T., DJe 11.11.2011; e AgRg-Ag 1362310/RS, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, 1ª T., DJe 06.09.2011.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Os Srs. Ministros Regina Helena Costa, Marga Tessler (Juíza Fe-
deral convocada do TRF 4ª Região), Napoleão Nunes Maia Filho (Presi-
dente) e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 10 de março de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Sérgio Kukina


Relator

RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina (Relator): Trata-se de agravo
regimental contra decisão que negou provimento a agravo em recurso
especial, sob os fundamentos de que (I) não ocorreu ofensa ao art. 535,
II, do CPC, eis que o Tribunal de origem dirimiu, fundamentadamen-
te, as questões que lhe foram submetidas, apreciando integralmente a
controvérsia posta nos presentes autos; (II) quanto à apontada ofensa ao
art. 97 do CTN, esta Corte já se manifestou no sentido de que a matéria
não pode ser invocada em recurso especial, porquanto o preceito infra-
constitucional é mera reprodução de dispositivo da Constituição Fede-
ral; e (III) o Tribunal a quo, ao analisar a demanda, dirimiu a matéria sob
enfoque eminentemente constitucional, o que a torna insuscetível de ser
examinada em sede de recurso especial.

A agravante, em suas razões, sustenta, em síntese, que “De fato,


de acordo com a decisão agravada, a questão posta foi decidida sob o
prisma constitucional; quanto a isto não se insurgem as ora Agravantes.
Ocorre que esta apreciação não exime este e. Superior Tribunal de Justi-
ça de analisar a matéria sob a ótica infraconstitucional, tal qual requeri-
da desde a exordial” (fl. 433).

É o relatório.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 111

VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina (Relator): A irresignação não
merece acolhimento, tendo em conta que a parte agravante não logrou
desenvolver argumentação apta a desconstituir os fundamentos adota-
dos pela decisão recorrida, que ora submeto ao Colegiado para serem
confirmados:
Verifica-se, inicialmente, não ter ocorrido ofensa ao art. 535, II, do CPC,
na medida em que o Tribunal de origem dirimiu, fundamentadamente, as
questões que lhe foram submetidas, apreciando integralmente a contro-
vérsia posta nos presentes autos. Ressalte-se que não se pode confundir
julgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ou ausência
de prestação jurisdicional.
Ademais, relativamente à apontada ofensa ao art. 97 do CTN, esta Corte
já se manifestou no sentido de que a matéria não pode ser invocada em
recurso especial, porquanto o preceito infraconstitucional é mera repro-
dução de dispositivo da Constituição Federal.
Além disso, com efeito, verifica-se que o Tribunal de origem decidiu a
controvérsia à luz de fundamento eminentemente constitucional, maté-
ria insuscetível de ser examinada em sede de recurso especial, a saber:
princípio da legalidade.
Destaca-se da fundamentação do acórdão recorrido os seguintes trechos
(fls. 255/261):
A controvérsia diz respeito à legitimidade da exigência da contribuição
para o SAT, utilizando-se a metodologia lembrada no corpo do relatório.
Assim estabelece o Verbete Sumular nº 351/STJ:
[...]
Nessa linha de raciocínio:
a) O art. 22, II, da Lei nº 8.212/1991 estabeleceu alíquotas variáveis (1%,
2%, ou 3%, conforme o caso) das contribuições destinadas aos bene-
fícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade
laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho (RAT/SAT):
[...]
b) A Lei nº 10.666, de 08.05.2003, previu que, em razão do grau de in-
cidência de incapacidade laborativa, decorrente dos riscos ambientais
do trabalho, as alíquotas citadas podem ser reduzidas em até 50% ou
112 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
aumentadas em até 100% (o que redunda na flutuação da alíquota
de 0,5% até 6%), em razão do desempenho da empresa em relação à
atividade econômica exercida, conforme dispuser regulamento com
cálculo segundo metodologia do Conselho Nacional de Previdência
Social (CNPS):
[...]
Em consequência, foram expedidos os Decretos nº 6.042/2007,
art. 202-A e 6.957/2009, bem como as Resoluções MPS/CNPS nº 1.308,
de 27.05.2009, e nº 1.309, de 27.05.2009, que estabeleceram a metodo-
logia para o cálculo do FAP.
Ressalte-se, inicialmente, que o STF entendeu constitucional a regula-
mentação do SAT por regulamento do Poder Executivo (RE 343.446/SC).
A jurisprudência nacional firmou, então, a seguinte diretriz:
[...]
Registre-se, com efeito, que a discussão nos autos cinge-se às alterações
promovidas pelo Decreto nº 6.957/2009. Contudo, como visto, nos ter-
mos da jurisprudência do eg. Supremo Tribunal Federal, o fato de a lei
deixar para o regulamento (in casu, o referido Decreto) a complementa-
ção dos conceitos de “atividade preponderante” e “grau de risco leve,
médio e grave” não implica ofensa ao princípio da legalidade, seja no
seu sentido material ou formal.
Nesse sentido, confira-se:
[...]
Além do mais, recentemente, ao examinar a Lei nº 12.382/2011, que tra-
tou do salário mínimo, o Supremo Tribunal Federal, na ADI 4568, da rela-
toria da Ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha, sessão de 03.11.12011,
reafirmou, em hipótese como a dos autos, a validade do poder regula-
mentar.
Querer a parte autora um tratamento diferenciado somente para si, afas-
tando-se do grupo/atividade das empresas do mesmo ramo e dos percen-
tuais estabelecidos na legislação e regulamento pertinentes, não encontra
suporte no ordenamento jurídico pátrio. Tal postulação ensejaria, na ver-
dade, uma verdadeira balbúrdia administrativa, com pronunciamentos
técnicos diversos para casos idênticos ou análogos.
Com efeito, “havendo norma do Poder Executivo que classifique deter-
minada atividade empresarial como de risco, não compete ao Poder Ju-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 113
diciário, [...] alterar a classificação da atividade para fins de se alterar a
alíquota da contribuição devida ao SAT/RAT, interferindo na atividade re-
gulatória do Poder Executivo” (Ag 0018930-18.2011.4.01.0000/DF, Rel.
Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral, 7ª T., e-DJFI p. 334 de 17.06.2011).
Na verdade, a própria norma referente ao FAP/SAT/RAT reconhece o di-
reito ao devido processo legal, com possibilidade, inclusive, de interpo-
sição de recurso administrativo.
Logo, não há sequer que se falar em ofensa ao devido processo legal.
Nesse sentido, confiram-se:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL – MANDADO DE SEGURANÇA – CONTRI-
BUIÇÃO DESTINADA AO CUSTEIO DO SEGURO ACIDENTE DO
TRABALHO (SAT) – APLICAÇÃO DO FATOR ACIDENTÁRIO DE
PREVENÇÃO (FAP) – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (ART. 150, I, DA
CF) – FUNDAMENTO EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL – RE-
VISÃO DO ACÓRDÃO NA VIA ELEITA – DESCABIMENTO
1. Na hipótese em foco, tendo a Corte Regional decidido que a co-
brança da contribuição previdenciária destinada ao Seguro de Aci-
dente do Trabalho, mediante aplicação do Fator Acidentário de Pre-
venção – FAP, instituído pelo art. 10, da Lei nº 10.666/2003, não
afronta o princípio da legalidade tributária insculpido no art. 150, I,
da Constituição Federal, mostra-se descabida a revisão do acórdão na
via especial.
2. A propósito: AgRg-REsp 1.290.417/SC, Rel. Min. Francisco
Falcão, DJ de 25.05.2012, AgRg-REsp 1.290.932/SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, DJ de 14.04.2012, AgRg-REsp 1.290.631/RS, Rel. Min.
Humberto Martins, DJ de 05.03.2012, AgRg-REsp 1.290.982/PR, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJ de 29.06.2012.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg-REsp 1.344.046/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., Julga-
do em 18.10.2012, DJe 23.10.2012)

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ES-


PECIAL – TRIBUTÁRIO – SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO
– FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO – CONFRONTO ENTRE
A LEGISLAÇÃO QUE AUTORIZA A COBRANÇA E O PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE TRIBUTÁRIA – ENFOQUE CONSTITUCIONAL DA
MATÉRIA
114 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
1. O Tribunal de origem entendeu, essencialmente, que “a regulamen-
tação da metodologia do FAP através dos Decretos nºs 6.042/2007 e
6.957/2009 não implica em afronta ao princípio da legalidade ins-
culpido no art. 150, I, da Lei Maior, porquanto as disposições essen-
ciais à cobrança da contribuição se encontram delineadas nas Leis
nºs 8.212/1991 e 10.666/2003”. Assim, eventual ofensa, caso exis-
tente, ocorre no plano constitucional, motivo pelo qual é inviável a
rediscussão do tema pela via especial. Ressalte-se que não compete
ao Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, analisar
eventual contrariedade a preceito contido na CF/1988, nem tampou-
co uniformizar a interpretação de matéria constitucional.
2. Ademais, é entendimento de ambas as Turmas que compõem a Pri-
meira Seção o de que a alegada violação ao art. 97 do Código Tribu-
tário Nacional não pode ser analisada por esta Corte Superior, tendo
em vista que tal dispositivo de lei federal tem caráter eminentemente
constitucional.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg-REsp 12.90.963/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T.,
DJe 25.09.2012)
Ante o exposto, nego provimento ao agravo.

Com efeito, o Tribunal de origem, ao enfrentar a questão da co-


brança da contribuição previdenciária destinada ao Seguro de Acidente
do Trabalho, mediante a aplicação do Fator Acidentário de Prevenção
– FAP, analisou sua constitucionalidade sob a ótica do princípio da Le-
galidade Tributária, bem como de outros dispositivos constitucionais,
decidindo a questão com fundamentos de índole eminentemente cons-
titucional, razão pela qual torna-se inviável o conhecimento do recurso
especial.
Esclareça-se, por fim, ser inviável o conhecimento, em sede de re-
curso especial, da alegação de violação ao art. 97 do Código Tributário
Nacional, uma vez que o preceito infraconstitucional invocado trata-se
de mera reprodução de dispositivo da Constituição Federal, conforme
entendimento firmado por ambas as Turmas que compõem a Primeira
Seção desta Corte, senão, vejamos:
PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
– TRIBUTÁRIO – SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO – FATOR ACI-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 115
DENTÁRIO DE PREVENÇÃO – CONFRONTO ENTRE A LEGISLAÇÃO
QUE AUTORIZA A COBRANÇA E O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRI-
BUTÁRIA – ENFOQUE CONSTITUCIONAL DA MATÉRIA
1. O Tribunal de origem entendeu, essencialmente, que “a regulamen-
tação da metodologia do FAP através dos Decretos nºs 6.042/2007 e
6.957/2009 não implica em afronta ao princípio da legalidade insculpido
no art. 150, I, da Lei Maior, porquanto as disposições essenciais à co-
brança da contribuição se encontram delineadas nas Leis nºs 8.212/1991
e 10.666/2003”. Assim, eventual ofensa,caso existente, ocorre no plano
constitucional, motivo pelo qual é inviável a rediscussão do tema pela
via especial. Ressalte-se que não compete ao Superior Tribunal de Justi-
ça, em sede de recurso especial, analisar eventual contrariedade a pre-
ceito contido na CF/1988, nem tampouco uniformizar a interpretação de
matéria constitucional.
2. Ademais, é entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primei-
ra Seção o de que a alegada violação ao art. 97 do Código Tributário Na-
cional não pode ser analisada por esta Corte Superior, tendo em vista que
tal dispositivo de lei federal tem caráter eminentemente constitucional.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg-REsp 12.90.963/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T.,
DJe 25.09.2012)

PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – FATOR ACIDENTÁRIO DE


PREVENÇÃO (FAP) – CARÁTER SANCIONADOR – VIOLAÇÃO DO
ART. 3º DO CTN – ILEGALIDADE DO CRITÉRIO DE DESEMPATE – APRE-
CIAÇÃO ADMINISTRATIVA DAS DIVERGÊNCIAS – TESES NÃO ANA-
LISADAS – FALTA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA Nº 211/STJ
– DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE – IMPOSSIBILIDADE
– COMPETÊNCIA DO STF – DIVULGAÇÃO DE DADOS – SÚMULA
Nº 7/STJ
1. Descumprido o necessário e indispensável exame das teses invocadas
pelo acórdão recorrido, apto a viabilizar a pretensão recursal da recor-
rente, a despeito da oposição dos embargos de declaração. Incidência da
Súmula nº 211/STJ.
2. Imprescindível a alegação de violação do art. 535 do Código de Pro-
cesso Civil, quando da interposição do recurso especial com fundamento
na alínea a do inciso III do art. 105 da Constituição Federal, se o recor-
116 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

rente entende persistir algum vício no acórdão impugnado, sob pena de


incidir no intransponível óbice da ausência de prequestionamento.
3. O recurso especial não comporta conhecimento, pois é inviável o co-
nhecimento de recurso especial que visa, em essência, a declaração de
inconstitucionalidade do art. 10 da Lei nº 10.666/2003, sem que haja
violação autônoma de legislação infraconstitucional pelo acórdão recor-
rido.
4. A alegada violação do art. 97 do CTN reforça a pretensão do recorrente
em reconhecer a inconstitucionalidade do art. 10 da Lei nº 10.666/2003,
pois o referido artigo do Codex Tributário apontado como violado tem
caráter eminentemente constitucional, o que afasta a competência do STJ
para análise da demanda. Precedentes.
5. Inviável a modificação de entendimento firmado no acórdão recorrido
quando a tese do recorrente demanda o reexame do acervo fático-proba-
tório dos autos, sob pena de violação da Súmula nº 7 do STJ.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 1277853/SC, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 11.11.2011)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO – ARTS. 97 E 110 DO CTN – REPETIÇÃO
DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL – APRECIAÇÃO VEDADA EM RE-
CURSO ESPECIAL – INDUSTRIALIZAÇÃO POR ENCOMENDA – ISS –
INCIDÊNCIA – ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE – SÚMULA Nº 83/STJ
1. Caso em que a agravante insurge-se contra a decisão a quo que reco-
nheceu cabível a incidência do ISS nas operações de industrialização por
encomenda.
2. A análise da violação dos arts. 97 e 110 do Código Tributário Nacio-
nal, por reproduzirem princípios encartados em normas da Constituição
da República, não é admitida na via especial, sob pena de usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal.
Precedentes: REsp 828.935/PR, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T.,
DJ 29.08.2006; e AgRg-EDcl-REsp 1.098.218/SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, 2ª T., DJe 09.11.2009.
3. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que “a ‘industrializa-
ção por encomenda’, elencada na Lista de Serviços da Lei Complementar
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 117
nº 116/2003, caracteriza prestação de serviço (obrigação de fazer), fato
jurídico tributável pelo ISS”.
Precedentes: REsp 1.097.249/ES, Relª Min. Denise Arruda, 1ª T.,
DJe 26.11.2009; AgRg-Ag 1.279.303/RS, Rel. Min. Herman Benjamin,
2ª T., DJe 21.06.2010 e REsp 888.852/ES, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T.,
DJe 01.12.2008.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg-Ag 1362310/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T.,
DJe 06.09.2011)

Ante o exposto, nego provimento ao agravo.


É o voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA
Número Registro: 2013/0356024-7 AgRg-AREsp 417.099/BA
Números Origem: 00020229620104013304 201033040009093
20229620104013304
Em Mesa Julgado: 10.03.2015
Relator: Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina
Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho
Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Denise Vinci Tulio
Secretária: Belª Bárbara Amorim Sousa Camuña

AUTUAÇÃO
Agravante: Nordeste Segurança e Transporte de Valores Bahia Ltda. e
outros
Advogados: Paulo Alberto Leite Cerqueira e outro(s)
João Humberto de Farias Martorelli
Agravado: Fazenda Nacional
Advogado: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
118 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Assunto: Direito tributário – Contribuições – Contribuições sociais – Se-
guro acidentes do trabalho

AGRAVO REGIMENTAL
Agravante: Nordeste Segurança e Transporte de Valores Bahia Ltda. e
outros
Advogados: João Humberto de Farias Martorelli
Dóris de Souza Castelo Branco e outro(s)
Agravado: Fazenda Nacional
Advogado: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia Primeira Turma, ao apreciar o processo em
epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Regina Helena Costa, Marga Tessler (Juíza Fede-


ral convocada do TRF 4ª Região), Napoleão Nunes Maia Filho (Presiden-
te) e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator.
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1628

Tribunal Regional Federal da 1ª Região


Poder Judiciário
Numeração Única: 21201720064013500
Apelação Criminal nº 2006.35.00.002126-6/GO
Processo na Origem: 200635000021266
Relator(a): Desembargadora Federal Monica Sifuentes
Apelante: João Batista Silva de Lima
Defensor: Defensoria Pública da União – DPU
Apelado: Justiça Pública
Procurador: Divino Donizette da Silva

EMENTA
PENAL – PROCESSO PENAL – ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO – ART. 171, § 3º, DO CP
– MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS – DOLO CONFIGURADO – PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA – INAPLICABILIDADE – DOSIMETRIA DA PENA MANTIDA

1. Configurado o crime de estelionato previdenciário, consideran-


do que o acusado recebeu indevidamente o benefício de aposen-
tadoria, por mais de 03 (três) anos, utilizando o documento de
identidade adulterado de seu pai.

2. Materialidade, autoria e elemento subjetivo do tipo (dolo) de-


monstrados pelos documentos acostados aos autos e depoimentos
prestados nas esferas policial e judicial.

3. Inaplicável o princípio da insignificância nos crimes de estelio-


nato previdenciário, uma vez que o bem jurídico tutelado é a pró-
pria sociedade e o patrimônio da coletividade dos trabalhadores.
Ademais, o réu recebeu indevidamente o benefício por mais de
03 (três) anos, não se podendo admitir ser insignificante o valor do
prejuízo causado à Previdência Social.

4. Apelação não provida.


120 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
ACÓRDÃO
Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira
Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do
voto da Relatora.
Brasília/DF, 14 de abril de 2015 (data do Julgamento).

Desembargadora Federal Mônica Sifuentes


Relatora

RELATÓRIO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Mônica Sifuentes (Relato-
ra): Trata-se de apelação interposta por João Batista Silva de Lima contra
sentença prolatada pelo Juiz Federal Leão Aparecido Alves, da 11ª Vara
da Seção Judiciária de Goiás, que o condenou a 02 (dois) anos e 08 (oito)
meses de reclusão, e 32 (trinta e dois) dias-multa, à razão de 1/10 (um
décimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, pela prática do
delito previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal.
De acordo com a inicial acusatória, oferecida em 16.12.2005 e
recebida em 08.02.2006 (fl. 99), após o falecimento de seu genitor em
27.04.1999 (fl. 12) o acusado adulterou o documento de identidade do
mesmo, trocando a fotografia original pela sua, com a finalidade de re-
ceber o benefício de aposentadoria percebida por seu pai. O recebi-
mento indevido da aposentadoria ocorreu de maio de 1999 a março de
2003, com o cancelamento do benefício.
A defesa alega que não ficou comprovado o envolvimento de João
Batista no crime, haja vista a ausência de dolo em sua conduta. Sustenta
a aplicação do princípio da insignificância, uma vez que o prejuízo cau-
sado ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foi de R$ 9.500,00
(nove mil e quinhentos reais), quantia considerada irrelevante para a
configuração do delito de estelionato. Aduz que o agente recebeu os
valores de boa-fé, pois pensava se tratar de seguro deixado por seu pai.
Requer a absolvição de João Batista pela aplicação dos princípios da
insignificância e do in dubio pro reo (fls. 223/234).
Contrarrazões às fls. 236/241.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 121
O Ministério Público Federal, em parecer do Procurador Regio-
nal da República Juliano Baiocchi Villa-Verde de Carvalho, manifesta-se
pelo não provimento da apelação (fls. 245/247).
É o relatório.
Ao eminente Revisor.

VOTO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Mônica Sifuentes (Relato-
ra): Consoante se verifica no relatório, João Batista Lima Silva insurge-se
contra sentença que o condenou à pena de 02 (dois) anos e 08 (oito)
meses de reclusão e 32 (trinta e dois) dias-multa, à razão de 1/10 (um
décimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, pela prática do
delito previsto no art. 171, § 3º, do CP.
A materialidade está demonstrada pela carteira de identidade de
fl. 09, termo de declarações de Divina Eterna Silva de Lima, irmã do
acusado (fls. 10/11), declaração de óbito de José Pereira da Silva (fl. 12),
bem como pelo ofício e documentos de fls. 17/20.
A autoria é comprovada pelas imagens fornecidas pela Caixa Eco-
nômica Federal (fls. 32/37) e pelo interrogatório do réu em sede policial
(fls. 86/87), no qual confessou o recebimento indevido do benefício de
aposentadoria e confirmou ser ele nas imagens.
Em que pese o acusado ter negado em Juízo que soubesse estar
praticando um ato ilícito, pois pensava estar recebendo um seguro do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o certo é que de fato houve o
recebimento de vantagem ilícita, razão pela qual não há como acolher a
tese de boa-fé do ora apelante. Isso porque o réu fraudou o documento
de identidade de seu pai, trocando a foto original pela sua, e recebeu
indevidamente o benefício por mais de 03 (três) anos.
Ademais, sendo pessoa com bom nível de escolaridade, que che-
gou a frequentar a faculdade (fl. 111), não é crível que realmente acredi-
tasse estar recebendo um seguro do INSS.
Presentes, portanto, a materialidade, a autoria e o elemento sub-
jetivo do tipo (dolo específico de fraudar a Previdência Social), motivo
122 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
pelo qual não se pode falar em ausência ou insubsistência de provas
para sustentar um decreto condenatório.

Princípio da insignificância

A jurisprudência dos tribunais é no sentido de não ser possível a


aplicação do princípio da insignificância nos crimes de estelionato contra
a Previdência Social, tendo em vista que o bem jurídico protegido é a so-
ciedade como um todo e o patrimônio da coletividade dos trabalhadores.
Ainda, ao contrário do alegado pelo recorrente, não se pode con-
siderar como insignificante a conduta de receber um benefício previden-
ciário durante quase 04 (quatro) anos, ao qual não fazia jus, causando
prejuízo aos cofres da Previdência Social no montante de R$ 9.500,00
(nove mil e quinhentos reais).
Nesse sentido tem decidido esta Turma:
PENAL – PROCESSUAL PENAL – ART. 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL –
ESTELIONATO CONTRA O INSS – MATERIALIDADE E AUTORIA COM-
PROVADAS – IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA – DOSIMETRIA DA PENA
1. Materialidade e autoria do delito de estelionato demonstradas pelos
depoimentos prestados em esfera policial e judicial, bem como pelos
documentos acostados aos autos. Mantida a condenação dos réus pela
prática do delito de estelionato (art. 171, § 3º, do CP), pois induziram o
Instituto Nacional do Seguro Social em erro, inserindo dados falsos no
sistema relativo a trabalho rural para recebimento de salário-maternidade
por terceiro, auferindo vantagem ilícita.
2. Não se aplica o princípio da insignificância no crime de estelionato
contra a Previdência Social. O bem jurídico tutelado não se resume ao
valor do benefício, pois deve ser levado em conta o sistema previden­
ciário como um todo.
3. Dosimetria da pena revisada para se adequar aos parâmetros previstos
no art. 59 do Código Penal.
4. Apelações parcialmente providas para reduzir as penas dos réus,
aplicando a substituição por penas restritivas de direito. (ACr 0014727-
66.2009.4.01.3400/DF, Rel. Des. Fed. Ney Bello, 3ª T., e-DJF1 p. 277 de
18.12.2014)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 123
Dosimetria da pena

O juiz singular, ao fundamentar a dosimetria aplicada ao réu, con-


siderou negativamente a culpabilidade, os motivos, as circunstâncias e
consequências do delito. Fixou a pena-base do réu em 02 (dois) anos
de reclusão e 24 (vinte e quatro) dias-multa. Inexistindo circunstâncias
atenuantes ou agravantes, bem como causas de diminuição da pena,
aplicou a causa de aumento do § 3º do art. 171 do CP, fixando definiti-
vamente a pena em 02 (dois) anos, 08 (oito) meses de reclusão, em regi-
me aberto, e pagamento de 32 (trinta e dois) dias-multa, à razão diária de
1/10 (um décimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos.
Substituiu a pena restritiva de liberdade por 02 (duas) restritivas
de direitos, consubstanciadas em prestação pecuniária de 04 (quatro)
salários mínimos e prestação de serviços à comunidade.
Discordo no que se refere às circunstâncias do delito, uma vez que
a utilização de documento falsificado (fraude) é própria do conceito de
crime, não podendo ser considerada na aplicação da pena.
Por outro lado, entendo ser elevada a culpabilidade, consideran-
do o longo período em que recebeu o benefício fraudulento, além das
consequências do crime, visto o alto valor do prejuízo causado à Previ-
dência Social.
Assim, a pena-base foi devidamente fixada em 02 (dois) anos de
reclusão e 24 (vinte e quatro) dias-multa. Diante da causa de aumento
do art. 171, § 3º, do CP, foi fixada definitivamente em 02 (dois) anos e
08 (oito) meses de reclusão, em regime aberto, e 32 (trinta e dois) dias-
-multa, à razão de 1/10 (um décimo) do valor do salário mínimo vigente
à época dos fatos.
Presentes os requisitos estabelecidos no art. 44 do CPB, correta a
substituição da pena privativa de liberdade por 02 (duas) restritivas de
direitos, sendo 01 (uma) de prestação de serviços à entidade assistencial
e outra, de prestação pecuniária, no valor de 04 (quatro) salários mí­
nimos.
Dessa forma, não vejo razão no inconformismo da apelante, pois a
sentença foi prolatada de forma fundamentada, sedimentada em provas
colhidas tanto na fase pré-processual quanto em Juízo.
124 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Ante o exposto, nego provimento à apelação.
É como voto.

VOTO-REVISOR
O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra João
Batista Silva de Lima, pela prática do crime previsto no art. 171, § 3º, do
Código Penal.
A denúncia foi recebida em 08.02.2006 (fl. 99).
Por ocasião do sentenciamento do feito (fls. 189/196), o MM.
Juiz singular julgou procedente a denúncia, para condenar João Batista
Silva de Lima à pena de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 32
(trinta e dois) dias-multa, pela prática do crime capitulado no art. 171,
§ 3º, do CP.
Inconformado, João Batista Silva de Lima interpôs Recurso de Ape-
lação (fls. 223/234), sustentando, em síntese, que se aplica ao caso o
princípio da insignificância, em razão do valor recebido não superar o
valor mínimo exigido para ajuizamento de ações fiscais pela Fazenda
Pública; que apenas prosseguiu recebendo o benefício previdenciário
deixado por seu genitor, sem ter ciência da ilicitude do fato, não ha-
vendo dolo para a prática do delito; que deve ser excluída a valoração
negativa das circunstâncias judiciais, vez que não se mostraram graves a
ponto de justificar a exasperação da pena-base.
Com contrarrazões (fls. 236/241), subiram os autos a esta Corte,
onde receberam parecer ministerial pelo não provimento do recurso
(fls. 245/247).
Vejamos.
Sustenta o apelante que se aplica ao caso o princípio da insigni-
ficância, em razão do valor recebido não superar o valor mínimo exigi-
do para ajuizamento de ações fiscais pela Fazenda Pública; que apenas
prosseguiu recebendo o benefício previdenciário deixado por seu geni-
tor, sem ter ciência da ilicitude do fato, não havendo dolo para a prática
do delito; que deve ser excluída a valoração negativa das circunstâncias
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 125

judiciais, vez que não se mostraram graves a ponto de justificar a exas-


peração da pena-base.
A materialidade está demonstrada pelo documento de iden-
tidade (fl. 09), depoimento testemunhal perante a autoridade policial
(fls. 10/11), certidão de óbito (fl. 12), e ofício e documentos de fls. 17/20.
Quanto a autoria, não merece acolhida a alegação no sentido de
que o réu não conhecia a ilicitude do ato de prosseguir percebendo o
benefício previdenciário de titularidade de seu genitor, após o faleci-
mento do segurado, por isso que não encontra receptividade nas provas
dos autos.
Com efeito, restou comprovado nos autos que a foto inserida frau-
dulentamente na carteira de identidade de José Pereira da Silva (fl. 09)
era do réu, bem como as filmagens do circuito interno de segurança da
Caixa Econômica comprovaram que o réu era o responsável pela reali-
zação dos saques indevidos do benefício previdenciário de José Pereira
da Silva, após o seu falecimento, fatos confirmados pelo réu em seu de-
poimento em juízo (fls. 111/113).
Ora, afigura-se desconexa a versão do réu de que não tinha ciên-
cia da ilicitude de sua conduta, por acreditar que tinha direito ao rece-
bimento do benefício previdenciário deixado por seu genitor, por isso
que não necessitaria utilizar-se de carteira de identidade adulterada para
receber benefício a que tivesse direito. Ao se valer de documento adul-
terado, tinha plena consciência de que não fazia jus ao recebimento do
benefício, bem como tinha plena ciência da falsidade do documento de
identidade utilizado, que continha foto sua em documento pessoal de
seu genitor.
Diante desses relatos, resta evidenciado que o réu tinha plena
consciência do procedimento delituoso empreendido contra o INSS, não
deixando dúvidas acerca do dolo consistente em obter vantagem indevi-
da da Previdência Social.
Em relação à alegação da necessidade de aplicação do princípio
da insignificância, em razão do valor percebido indevidamente pelo réu
não superar o valor mínimo para proposição de ação de execução fiscal,
não merece acolhimento, porquanto o delito previsto no art. 171, § 3º,
126 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
ofende o patrimônio público, a moral administrativa e a fé pública, re-
presentando conduta altamente reprovável, conforme jurisprudência do
egrégio Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL – RECURSO ESPECIAL – AGRAVO EM RECUR-
SO ESPECIAL – DIREITO PENAL – ART.171, § 3º, C/C O ART. 29 DO CP
– APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA – PRINCÍPIO DA INSIG-
NIFICÂNCIA – SAQUES FRAUDULENTOS DE FGTS – ATIPICIDADE DA
CONDUTA – VALOR INFERIOR A DEZ MIL REAIS – APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULAS
NºS 7 E 24/STJ – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – STF
[...]
2. No delito previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal, não se aplica o
princípio da insignificância para o trancamento da ação penal, uma vez
que a conduta ofende o patrimônio público, a moral administrativa e a fé
pública, bem como é altamente reprovável.
[...]
(AgRg-REsp 1363750/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., Julgado
em 05.08.2014, DJe 19.08.2014)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RE-


CURSO ESPECIAL – ART. 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL – ESTELIONA-
TO CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA – IMPOSSIBILIDADE
[...]
4. Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, o referido princí-
pio não se aplica ao delito previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal,
uma vez que o prejuízo não se resume ao valor recebido indevidamente,
mas se estende a todo o sistema previdenciário, notadamente ao FAT –
Fundo de Amparo ao Trabalhador.
5. Com efeito, a ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma gera efeitos
negativos de ordem social, não se podendo falar, em consequência, na
irrelevância penal da conduta imputada ao ora agravante.
[...]
(EDcl-AgRg-REsp 970.438/SP, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª T., Julgado em
11.09.2012, DJe 26.09.2012)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 127
Com estas razões, nego provimento à apelação, para manter a
condenação do réu pela prática do crime previsto no art. 171, § 3º, do
Código Penal.
Quanto à dosimetria da pena, o MM. Juiz sentenciante considerou
desfavoráveis ao réu a culpabilidade “uma vez que conhecia o caráter
ilícito da percepção do benefício e era capaz de proceder conforme ao
direito, pois se trata de pessoa de grau de instrução superior ao da maio-
ria dos brasileiros”; os motivos do crime “considerando que o acusado
goza de boa saúde, não tendo necessidade de receber indevidamen-
te benefício previdenciário que pertencia a seu pai”; as circunstâncias
do crime “uma vez que o acusado utilizou documento falsificado”; e
as conseqüências do crime pelo “pagamento indevido de 9 mil e 500
reais”, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de reclusão e 24 (vin-
te e quatro) dias-multa; aplicou a causa de aumento prevista no § 3º,
art. 171, CP, elevando a pena em 1/3 (um terço), resultando a pena defi-
nitiva em 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 32 (trinta e dois)
dias-multa, à razão de 1/10 (um décimo) do salário mínimo, substituin-
do-a por duas penas restritivas de direitos.
Pois bem, as circunstâncias do crime, relativamente a utilização
de documento falso, afiguram-se ínsitas ao tipo penal, em se tratando da
prática de estelionato mediante fraude.
Igualmente, os motivos do crime são inerentes ao delito em
questão.
Apesar disso, a culpabilidade do réu se mostrou elevada, diante
do longo período de tempo em que percebeu indevidamente benefício
previdenciário, acarretando conseqüências graves, consubstanciada no
recebimento indevido de R$ 9.500,00, o que é suficiente para justificar o
quantum da pena-base imposta em 02 (dois) anos de reclusão e 24 (vinte
e quatro) dias-multa, não merecendo reparos a sentença nesse ponto.
Mantenho a incidência da causa de aumento de pena em 1/3 (um
terço), prevista no art. 171, §3º, CP, mantendo a pena definitiva em 02
(dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 32 (trinta e dois) dias-multa, à
razão de 1/10 (um décimo) do salário mínimo.
A pena deverá ser cumprida em regime inicial aberto (art. 33, § 2º,
alínea c, do CP).
128 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Tendo em vista que o réu preenche os requisitos do art. 44 e inci-
sos, do CP, mantenho a substituição da pena privativa de liberdade por
restritivas de direito, nos termos em que fixadas na sentença.
Assim sendo, em conclusão, nego provimento à Apelação, de con-
formidade com a fundamentação retro explicitada.
É como voto.

Desembargador Federal Mário César Ribeiro


Revisor
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1629

Tribunal Regional Federal da 2ª Região


IV – Apelação/Reexame Necessário nº 2010.51.01.805209-8
Nº CNJ: 0805209-93.2010.4.02.5101
Relator: Desembargador Federal Reis Friede
Apelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
Procurador: Paula Montenegro Dias
Apelado: Alice dos Santos da Silva Rep. p/ Angela Maria Victor de Souza
Advogado: Selma Ximenes Alves
Apelado: Caixa Econômica Federal – CEF
Advogado: Adriana Maria de Almeida M. Fagundes e outros
Remetente: Juízo Federal da 25ª Vara-RJ
Origem: Vigésima Quinta Vara Federal do Rio de Janeiro (201051018052098)

EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL – CONTRATO DE EMPRÉSTIMO – BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO – DESCONTO
INDEVIDO – INSS – AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE
I – O art. 6º da Lei nº 10.820/2003, com a redação dada pela
Lei nº 10.953/2004, dispõe sobre a autorização para desconto de
prestações em folha de pagamento, estatuindo que a Autarquia
Previdenciária ostenta a condição de mero agente de retenção e
repasse dos valores ao credor, nos empréstimos consignados de
aposentados/pensionistas.
II – O INSS, implementando a consignação em pagamento, editou
a IN 121/2005, conforme previsão do art. 6º, caput, in fine, da Lei
nº 10.820/2003, que dispõe acerca dos parâmetros técnicos exigi-
dos das instituições financeiras que pretendam se habilitar perante
a autarquia previdenciária, sempre mediante convênio, estabele-
cendo que as instituições financeiras não poderiam obter a auto-
rização do segurado apenas por telefone, bem como traçando os
procedimentos para a comunicação ao INSS, em casos de fraude.
Das referidas normas, se pode observar que o INSS exige que a
instituição financeira seja idônea, isto é, esteja regular junto ao
Banco Central do Brasil, e possua meios para transmitir os dados
eletronicamente para o INSS.
130 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
III – Prevê o art. 1º, § 4º, da citada Instrução Normativa, que: “A
instituição financeira ou sociedade de arrendamento mercantil
concedente do empréstimo deverá conservar em seu poder, pelo
prazo de cinco anos, a contar da data do término do empréstimo,
a autorização firmada pelo titular do benefício, por escrito ou por
meio eletrônico, para o empréstimo, financiamento ou operação
de arrendamento mercantil ou constituição de Reserva de Margem
Consignável – RMC.”
IV – A responsabilidade pela conferência dos documentos e ob-
tenção da autorização é da instituição financeira, e não do INSS.
V – Nesse contexto, consentâneo, inclusive, com a própria facili-
dade e agilidade que os empréstimos por consignação visam a as-
segurar, descabe a mencionada fiscalização do INSS. Bem assim,
também não cabe à autarquia previdenciária restituir valores que
apenas descontou e repassou, por determinação legal, à institui-
ção financeira.
VI – Em suma, não participando da relação de mútuo, não tem o
INSS responsabilidade solidária em relação às operações de em-
préstimos, e nessa condição não pode ser condenado, ainda que
subsidiariamente, a suportar eventual ônus financeiro imposto.
VII – A existência de ilegalidade na contratação do emprésti-
mo é de responsabilidade do banco, que então será responsável
pelo eventual cancelamento e devolução das parcelas indevidas,
bem como pelo eventual pagamento de indenização por danos
morais.
VIII – Não restou demonstrada qualquer irregularidade na conduta
do INSS ao permitir o desconto consignado no benefício da Parte
Autora (por outro lado, como se trata de alegada omissão, a res-
ponsabilidade é subjetiva), eis que pautada em conformidade com
o disposto nas Leis nºs 10.820/2003 e 10.953/2004, consistindo
em operacionalização da consignação, efetuando retenção e re-
passe à instituição bancária.
IX – Agravo interno improvido.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 131
ACÓRDÃO
Visto e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas.

Decide a Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Fede-


ral da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator constante dos autos, que fica fazendo parte
integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, de de .

Reis Friede
Relator

RELATÓRIO
Trata-se de Embargos de Declaração opostos pela Caixa Econô-
mica Federal – CEF em face de Decisão Monocrática proferida por esta
Relatoria (fls. 16/22), que, na forma do art. 557 do CPC, deu provimento
ao Reexame Necessário e à Apelação do INSS para afastar a responsabi-
lidade da autarquia previdenciária pelos danos causados à parte autora,
bem como no que tange à devolução de qualquer valor indevidamente
descontado do seu benefício.

Em suas razões recursais (fls. 23/25), a Embargante alega haver


omissão no julgamento do recurso, por não ter sido explicitado que a
ausência de responsabilidade do INSS resulta na exclusão das partes do
dispositivo sentencial relativas à condenação da autarquia previdenciá-
ria, com a improcedência do dano moral no valor de R$ 5.000,00, que
correspondia à quota parte atribuída ao INSS, bem como improcedência
do pedido de pagamento do benefício referente à competência de janei-
ro de 2010.

Requer o provimento dos embargos declaratórios, sanando-se o


vício apontado.

Contrarrazões do INSS às fls. 27/28.

É o relatório.
132 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Reis Friede
Relator

VOTO
O Senhor Desembargador Federal Reis Friede (Relator):
Consoante jurisprudência do STF e do STJ, são inadmissíveis os
embargos de declaração opostos em face de decisão monocrática do
relator, devendo referido recurso ser recebido como agravo interno, com
fundamento no princípio da fungibilidade.
Veja-se:
“[...] Decisão Monocrática do Relator: cabimento de Agravo e não de
Embargos Declaratórios. Embargos recebidos como Agravo. Art. 557,
§ 1º, do CPC. [...]” (STF, AI 299956-ED/SC, 1ª T., Rel. Min. Sydney
Sanches, DJ 24.08.2001)

“[…] A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por entender inca-


bíveis Embargos de Declaração contra Decisões Singulares proferidas por
Juiz desta Corte, deles tem conhecido, quando opostos a tais atos decisó-
rios, como recurso de Agravo. Precedentes. [...]” (STF, RE 297535-ED/SC,
2ª T., Rel. Min. Celso de Mello, DJ 09.10.2001)

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA


– RECEBIMENTO COMO AGRAVO INTERNO – SUPERVENIÊNCIA DE
EXTINÇÃO DO MS OBJETO DA PRESENTE AÇÃO – PERDA DE OB-
JETO – 1. Consoante jurisprudência do STF e do STJ, são inadmissíveis
os embargos de declaração opostos em face de decisão monocrática do
relator, devendo ser recebidos como agravo interno. [...] 4. Embargos
de declaração recebidos como agravo interno. Recurso desprovido.”
(TRF 2ª R., MS 201102010114573, Des. Fed. Jose Antonio Lisboa Neiva,
3ª S.Esp., e-DJF2R, Data: 06.07.2012, p. 22/23)

Consequentemente, preenchidos os pressupostos para a aplicação


do princípio da fungibilidade recursal, conheço dos aclaratórios para
recebê-los como Agravo Interno, posto que presentes os respectivos re-
quisitos de admissibilidade.
Não merece reforma a Decisão Monocrática ora combatida, que
deve persistir por seus próprios fundamentos.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 133
Com efeito, a Agravante não apresentou qualquer argumento ca-
paz de viabilizar a alteração da Decisão hostilizada, que foi fundamen-
tada em consonância com a jurisprudência desta E. Corte Regional Fede-
ral e do E. Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pelo que merece ser
transcrita e mantida em sua integralidade, verbis:
“Trata-se de Remessa Necessária e Apelação Cível interposta pelo Ins-
tituto Nacional do Seguro Social – INSS contra sentença proferida pelo
MM. Juízo da 25ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro
(fls. 295/298), que julgou o pedido parcialmente procedente para conde-
nar a Caixa Econômica Federal – CEF a cancelar o contrato de emprésti-
mo e a devolver os valores descontados indevidamente do benefício pre-
videnciário da autora, bem como ao pagamento, juntamente com o INSS,
do valor de R$ 10.000,00, pro rata, a título de danos morais. Condenou,
ainda, o INSS, a pagar o benefício referente à competência de 01/2010.
Em suas razões recursais (fls. 303/325), o INSS alega, preliminarmente, a
sua ilegitimidade passiva ad causam e, no mérito, em síntese, a inexistên-
cia de ato lesivo por ele praticado apto a ensejar a sua condenação ao pa-
gamento de indenização por danos morais, tendo em vista a ausência de
responsabilidade de sua parte no que tange ao empréstimo contratado.
Contrarrazões às fls. 332/335.
Parecer do Ministério Público Federal opinando pela manutenção da
sentença, com o não provimento do recurso de apelação.
É o relatório. Decido.
Preliminarmente, não há que se falar em ilegitimidade do INSS para figu-
rar no polo passivo da presente ação.
Isto porque a operação de débito em folha de pagamento de benefício
previdenciário depende da atuação conjunta da autarquia previdenciária
e da instituição financeira.
Ademais, de acordo com a teoria da asserção, as condições da ação de-
vem ser analisadas abstratamente, razão pela qual, levando em conta
o quanto alegado pela autora em sua exordial, entende-se pela legiti-
midade passiva ad causam do INSS, cuja responsabilidade pelos danos
causados à ora apelada deve ser analisada de acordo com a legislação
pertinente.
Assim é que, no mérito, a sentença merece reforma.
134 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
O art. 6º da Lei nº 10.820/2003, com a redação dada pela Lei
nº 10.953/2004, dispõe sobre a autorização para desconto de prestações
em folha de pagamento, estatuindo que a Autarquia Previdenciária os-
tenta a condição de mero agente de retenção e repasse dos valores ao
credor, nos empréstimos consignados de aposentados/pensionistas.
Veja-se:
Art. 6º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do Regi-
me Geral de Previdência Social poderão autorizar o Instituto Nacio-
nal do Seguro Social – INSS a proceder aos descontos referidos no
art. 1º desta Lei, bem como autorizar, de forma irrevogável e irretra-
tável, que a instituição financeira na qual recebam seus benefícios
retenha, para fins de amortização, valores referentes ao pagamento
mensal de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamen-
to mercantil por ela concedidos, quando previstos em contrato, nas
condições estabelecidas em regulamento, observadas as normas edi-
tadas pelo INSS.
[...]
§ 2º Em qualquer circunstância, a responsabilidade do INSS em rela-
ção às operações referidas no caput deste artigo restringe-se à:
I – retenção dos valores autorizados pelo beneficiário e repasse à
instituição consignatária nas operações de desconto, não cabendo à
autarquia responsabilidade solidária pelos débitos contratados pelo
segurado; e
II – manutenção dos pagamentos do titular do benefício na mesma
instituição financeira enquanto houver saldo devedor nas operações
em que for autorizada a retenção, não cabendo à autarquia responsa-
bilidade solidária pelos débitos contratados pelo segurado.
O INSS, por sua vez, implementando a consignação em pagamento, edi-
tou a IN 121/2005, conforme previsão do art. 6º, caput, in fine, da Lei
nº 10.820/2003, que dispõe acerca dos parâmetros técnicos exigidos das
instituições financeiras que pretendam se habilitar perante a autarquia
previdenciária, sempre mediante convênio.
Na referida instrução, ficou estabelecido que as instituições financeiras
não poderiam obter a autorização do segurado apenas por telefone, bem
como foram traçados os procedimentos para a comunicação ao INSS,
em casos de fraude. Das referidas normas, se pode observar que o INSS
exige que a instituição financeira seja idônea, isto é, esteja regular junto
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 135
ao Banco Central do Brasil, e possua meios para transmitir os dados ele-
tronicamente para o INSS.
Ademais, prevê o art. 1º, § 4º, da citada Instrução Normativa, que: ‘A ins-
tituição financeira ou sociedade de arrendamento mercantil conceden-
te do empréstimo deverá conservar em seu poder, pelo prazo de cinco
anos, a contar da data do término do empréstimo, a autorização firma-
da pelo titular do benefício, por escrito ou por meio eletrônico, para o
empréstimo, financiamento ou operação de arrendamento mercantil ou
constituição de Reserva de Margem Consignável – RMC.’
Logo, a responsabilidade pela conferência dos documentos e obtenção
da autorização é da instituição financeira, e não do INSS.
Nesse contexto, consentâneo, inclusive, com a própria facilidade e agi-
lidade que os empréstimos por consignação visam a assegurar, descabe
a mencionada fiscalização do INSS. Bem assim, também não cabe à au-
tarquia previdenciária restituir valores que apenas descontou e repassou,
por determinação legal, à instituição financeira.
Em suma, não participando da relação de mútuo, não tem o INSS respon-
sabilidade solidária em relação às operações de empréstimos, e nessa
condição não pode ser condenado, ainda que subsidiariamente, a supor-
tar eventual ônus financeiro imposto.
A existência de ilegalidade na contratação do empréstimo é de respon-
sabilidade do banco, que então será responsável pelo eventual cance-
lamento e devolução das parcelas indevidas, bem como pelo eventual
pagamento de indenização por danos morais.
Isto porque não restou demonstrada qualquer irregularidade na conduta
do INSS ao permitir o desconto consignado no benefício da Parte Autora
(por outro lado, como se trata de alegada omissão, a responsabilidade
é subjetiva), eis que pautada em conformidade com o disposto nas Leis
nºs 10.820/2003 e 10.953/2004, consistindo em operacionalização da
consignação, efetuando retenção e repasse à instituição bancária.
Neste sentido, confira-se os arrestos abaixo colacionados:
“CIVIL – PREVIDENCIÁRIO – EMPRÉSTIMO BANCÁRIO – CONSIG-
NAÇÃO EM FOLHA – RELAÇÃO DE CONSUMO – APLICAÇÃO DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – CONTRATAÇÃO FRAU-
DULENTA – RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA
– LEIS NºS 10.820/2003 E 10.953/2004 – AUSÊNCIA DE RESPON-
SABILIDADE DA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA – INDENIZAÇÃO
136 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
POR DANOS MORAIS – VALOR FIXADO EM PATAMAR RAZOÁVEL
– RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES DESCONTADOS IN-
DEVIDAMENTE – CABIMENTO – ART. 42 DO CDC – APELAÇÃO
DO INSS PROVIDA – APELAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
IMPROVIDA – 1. Hipótese em que se discute a responsabilidade dos
recorrentes, em face dos ilícitos perpetrados contra os aposentados
e pensionistas ora recorridos, consistente na contratação fraudulenta
de empréstimos consignados e no lançamento de descontos indevi-
dos nos respectivos benefícios previdenciários pagos aos recorridos.
2. Aplicam-se ao caso dos autos as disposições legais que regulam
as relações de consumo, inclusive a inversão do ônus da prova e
a responsabilidade objetiva do fornecedor perante o consumidor,
prescindindo da discussão quanto à existência de culpa. Há de se
levar em conta ainda que os consumidores são pessoas idosas e hi-
possuficientes, que foram vítimas de fraude em operação bancária,
o que impõe a observância das normas consumeristas. 3. A análise
do conjunto probatório dos autos demonstra que os fatos inquinados
decorreram da ação de uma quadrilha de estelionatários, que reali-
zou diversos empréstimos consignados, cujas parcelas de pagamento
foram descontadas diretamente dos benefícios previdenciários perce-
bidos pelos apelados. Neste caso, resta comprovada a irregularidade
na contratação dos empréstimos consignados objeto da discussão e,
por conseguinte, a ilicitude dos descontos efetuados nos benefícios
dos autores. 4. O art. 6º da Lei nº 10.820/2003, com a redação dada
pela Lei nº 10.953/2004, dispõe sobre a autorização para desconto de
prestações em folha de pagamento, estatuindo que a Autarquia Pre-
videnciária ostenta a condição de mero agente de retenção e repasse
dos valores ao credor, nos empréstimos consignados de aposentados/
pensionistas. Sendo assim, não participa da relação de mútuo, não
tem responsabilidade solidária em relação às operações de emprésti-
mos (§ 2º do mesmo dispositivo legal), e nessa condição não pode ser
condenada, ainda que subsidiariamente, a suportar o ônus imposto
na sentença recorrida. 5. Comprovado que a conduta negligente do
Banco recorrente foi potencialmente capaz de acarretar prejuízos à
honra dos apelados, é de se reconhecer o dever de reparação do dano
moral, na proporção dos constrangimentos sofridos pela parte lesada,
levando em conta que os descontos indevidos foram realizados em
aposentadoria/pensão, privando os apelados de dispor da totalida-
de do benefício para o seu sustento. 6. No valor da indenização há
de se considerar a extensão do dano suportado pela vítima, dentro
dos critérios da razoabilidade, ante a extensão do dano decorrente
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 137
da conduta da instituição apelante, a sua capacidade de pagamento,
bem como o sofrimento suportado pelos apelados. O quantum inde-
nizatório por danos morais fixado na sentença recorrida, qual seja,
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), encontra-se em patamar bem razoável
e proporcional ao dano causado, sobretudo se for levado em conta
que os apelados em sua maioria recebem salário mínimo. 7. Nos ter-
mos do art. 42, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor,
em caso de cobrança indevida, o consumidor tem direito de exigir a
devolução em dobro dos valores que tenha pago, devidamente corri-
gidos e acrescidos de juros. Só está isenta dessa penalidade a empresa
que provar ‘engano justificável’, o que não se verificou no caso dos
autos. 8. Apelação da Autarquia Previdenciária provida, para afastar a
sua responsabilidade em relação à condenação imposta na sentença
a quo. Apelação da instituição financeira improvida” (TRF 5ª R., 2ª T.,
AC 200983000119997, Rel. Des. Fed. Francisco Barros Dias, DJe de
22.09.2011, p. 325)
“RESPONSABILIDADE CIVIL – EMPRÉSTIMO BANCÁRIO REALIZA-
DO EM NOME DE PENSIONISTA DO INSS – CONCEDIDO POR
MEIO DE FRAUDE – RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO BAN-
CÁRIA – LEIS NºS 10.820/2003 E 10.953/2004 – APLICAÇÃO DO
ART. 515, § 3º, DO CPC – 1. O juízo a quo extinguiu o processo,
com fulcro no art. 267, V, do CPC, sob o fundamento de que o INSS
e os Bancos BMG e IBI S/A seriam solidários na obrigação de re-
parar os danos e, como foram demandados separadamente, a pro-
cedência total ou parcial do pedido poderia ensejar a dupla repara-
ção pelo mesmo fato. 2. Ocorre que, conforme o § 2º do art. 6º da
Lei nº 10.820/2003, que dispõe sobre a autorização para desconto
de prestação em folha de pagamento, com a redação dada pela Lei
nº 10.953/2004, o INSS não tem responsabilidade solidária em re-
lação às operações de empréstimo. Acrescente-se que na presente
demanda há pedido para que o INSS suspenda os descontos reali-
zados em folha de pagamento do benefício de pensão da autora, o
que afastaria as hipóteses de litispendência e coisa julgada em re-
lação às demandas intentadas em face das instituições financeiras
consignatárias. 3. De qualquer modo, nos termos do art. 6º da Lei nº
10.820/2003 (redação dada pela Lei nº 10.953), o INSS é mero agente
de retenção e repasse dos valores ao credor, nos empréstimos consig-
nados de aposentados e/ou pensionistas, não participando da relação
de mútuo. A existência de ilegalidade na contratação do empréstimo
deve ser discutida em ação proposta contra a instituição financeira,
138 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

que então será responsável pelo cancelamento e devolução das par-


celas eventualmente indevidas que tenham sido cobradas, bem como
pelo pagamento de indenização por danos morais, mesmo porque
não restou demonstrada qualquer irregularidade na conduta do INSS
(TRF 5ª R., AC 2006.83.00.006770-4, Rel. Des. Fed. Francisco Barros
Dias, 2ª T., DJ 06.05.2010, p. 477). 4. Apelação parcialmente provida
e, nos termos do art. 515, § 3º, do CPC, improcedência do pedido
autoral” (TRF 2ª R., 5ª T.Esp., AC 200851018033036, Rel. Des. Fed.
Luiz Paulo S. Araujo Filho, e-DJF2R de 11.10.2010, p. 259/260).
“CIVIL – PREVIDENCIÁRIO – BENEFÍCIO – DESCONTOS INDEVI-
DOS – EMPRÉSTIMO CONSIGNADO – PEDIDO DE ANULAÇÃO
DO CONTRATO E DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS RECOLHIDAS –
DANOS MORAIS E MATERIAIS – ILEGITIMIDADE DO INSS – RES-
PONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA – PRECEDENTE –
1. Ilegitimidade passiva ad causam do INSS para figurar em ação onde
se discute a nulidade de contrato de empréstimo consignado e a de-
volução das parcelas recolhidas indevidamente, eis que a referida
Autarquia Previdenciária não participa da relação de mútuo entre a
parte autora e o banco contratado, sendo mero agente de retenção e
repasse dos valores ao credor (art. 6º, da Lei nº 10.820/2003, com a
redação dada pela Lei nº 10.953/2004). 2. A existência de ilegalidade
na contratação do empréstimo deve ser discutida em ação proposta
contra o Banco PINE S/A, que então será responsabilizado pelo can-
celamento e devolução das parcelas indevidamente cobradas do se-
gurado, bem como por eventuais danos morais e matérias existentes,
uma vez que não restou demonstrado nos autos a inobservância, por
parte do INSS, das disposições contidas nas Lei nºs 10.820/2003 e
10.953/2004. Precedente deste Tribunal na AC 480312/PE (Des. Fed.
Francisco Barros Dias, 2ª T., DJ 06.05.2010). 3. Apelação improvida”
(TRF 5ª R., 2ª T., AC 200883020010174, Rel. Des. Fed. Francisco
Wildo, DJe de 02.03.2011, p. 124).
Por todo o exposto, e considerando o determinado na Lei nº 9.756, de
17.12.1998, que dispõe sobre o processamento de recursos no âmbito
dos tribunais, e levando-se, ainda, em conta a nova redação por ela dada
ao art. 557 do Código de Processo Civil, dou provimento à Remessa Ne-
cessária e à Apelação do INSS, para afastar a sua responsabilidade pelos
danos causados à Parte Autora, bem como no que tange à devolução de
qualquer valor indevidamente descontado do seu benefício.
Oportunamente, e com as cautelas devidas, dê-se baixa na distribuição e
remetam-se os autos ao Juízo de origem.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 139
Publique-se. Intimem-se.”

DA SÍNTESE CONCLUSIVA
Ante o exposto, recebo os Embargos de Declaração opostos como
Agravo Interno, negando-lhe provimento.
É como voto.

Reis Friede
Relator
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1630

Tribunal Regional Federal da 3ª Região


Apelação/Reexame Necessário nº 0009001-56.2010.4.03.6105/SP
2010.61.05.009001-5/SP
Relator: Desembargador Federal José Lunardelli
Apelante: União Federal (Fazenda Nacional)
Advogado: SP000001 Marly Miloca da Camara Gouveia e Afonso Grisi Neto
Apelado(a): Instituto Educacional Luiz Rosa Ltda.
Advogado: SP034306 Ivonete Guimarães Gazzi Mendes e outro
Remetente: Juízo Federal da 2ª Vara de Campinas Sec. Jud./SP
Nº Orig.: 00090015620104036105 2ª Vr. Campinas/SP

EMENTA
PROCESSUAL CIVIL – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – BOLSAS DE ESTUDOS PARA
FUNCIONÁRIOS – NÃO INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – BOLSA DE
ESTUDOS CONCEDIDA AOS FILHOS E DEPENDENTES DOS EMPREGADOS – NATUREZA SALARIAL
– INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
1. No que toca às bolsas de estudos para funcionários, a juris-
prudência também já se definiu pela não inclusão no salário-de-
-contribuição, até em razão do art. 458, § 2º, II, da CLT (STJ, REsp
729901).
2. As bolsas de estudos para filhos de funcionários constituem um
acréscimo no salário do empregado concedido de maneira indire-
ta, que se classifica doutrinariamente como salário-utilidade, pois
esse tipo de estímulo educacional não tem qualquer ligação com
a finalidade da empresa.
3. Sucumbência recíproca.
4. Apelação da União e Remessa Oficial parcialmente providas.

ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-
das, decide a Egrégia Décima Primeira Turma do Tribunal Regional Fe-
deral da 3ª Região, por maioria, em dar parcial provimento ao apelo da
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 141
União e à Remessa Oficial, nos termos do voto relator, com quem votou
o Des. Fed. Nino Toldo, vencida a Desª Fed. Cecília Mello que lhes ne-
gava provimento, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
São Paulo, 28 de abril de 2015.

José Lunardelli
Desembargador Federal

RELATÓRIO
Trata-se de Remessa Oficial e de apelação interposta em face
de sentença proferida em ação ordinária ajuizada por Instituto Educa-
cional Luiz Rosa Ltda. em face da União Federal, com a finalidade de
obter provimento jurisdicional que declare a nulidade dos autos de in-
fração nºs 37.173.740-0, 37.173.741-9, 37.173.742-7, 37.173.743-5,
37.173.744-3 e 37.173.745-1, bem como a insubsistência das decisões
lançadas nos processos administrativos nºs 19311.000296/2008-49,
19311.000297/2008-93, 19311.000298/2008-38, 19311.000299/2008-
82, 19311.00300/2008-79 e 19311.000301/2008-13, e, consequente-
mente, decrete o cancelamento das multas lançadas.
Alega, em suma, que as seis autuações decorreram da incidência
da contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de bolsa
de estudos a empregados e seus filhos, dada a natureza de remuneração
indireta, com fundamento no art. 28 da Lei nº 8.212/1991, o que ense-
jou a cobrança de valores devidos, respectivamente, pela empresa mais
o RAT, as contribuição dos segurados e a de terceiros, bem como as
multas em razão da omissão de informações à previdência social (GFIP),
de não inclusão em suas folhas de pagamentos e ausência de registro
em sua contabilidade relativos às verbas de bolsas de estudos. Sustenta
a inexistência de fato gerador, considerando que a bolsa de estudo não
é base de cálculo da contribuição, sob o argumento de que se trata de
benefício de caráter não salarial, eventual, temporário, condicional, não
se destinando a retribuir o trabalho uma vez pago como incentivo à edu-
cação. Destaca que se trata de utilidade que não integra o salário como
previsto no art. 458 da CLT, e a ampliação desse rol incentiva a em-
presa a conceder vantagens de modo a permitir melhoria da condição
142 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
social do trabalhador, em conformidade com o art. 205 da Constituição
Federal.

Aduz que não merece acolhimento a alegação da Receita Federal


de que a bolsa de estudo constitui fato gerador da contribuição por se
tratar de remuneração indireta na forma prevista na Instrução Normativa
nº 3/2005.

A r. sentença julgou o pedido inicial procedente e, em decorrên-


cia disso, decretou a nulidade dos autos de infração nºs 37.173.740-0,
37.173.741-9, 37.173.742-7, 37.173.743-5, 37.173.744-3 e
37.173.745-1, lavrados, respectivamente, nos processos administrativos
nºs 19311.000296/2008-49, 19311.000297/2008-93, 19311.000298/
2008-38, 19311.000299/2008-82, 19311.00300/2008-79 e 19311.
000301/2008-13.

Honorários advocatícios pela ré em R$ 2.000,00 (dois mil reais).

A União apelou, sustentando a exigibilidade das contribuições e a


legalidade das autuações.

É o relatório.

José Lunardelli
Desembargador Federal

VOTO
É preciso esclarecer que há três possibilidades em relação ao tema
e é comum a confusão em torno das mesmas, que são:
1. Auxílio-creche e auxílio-babá

2. Auxílio-educação e bolsas de estudos para funcionários

3. Bolsas de estudos para filhos de funcionários

Na primeira hipótese (auxílio-creche e auxílio-babá), há a Súmula


nº 310 do Superior Tribunal de Justiça:
“O auxílio-creche não integra o salário-de-contribuição.”
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 143
Também, recentemente, foi apreciado o recurso repetitivo no regi-
me do art. 543-C do CPC (STJ, REsp 1146772, 1ª S., Rel. Min. Benedito
Gonçalves, DJe Data: 04.03.2010, DECTRAB, v. 00189, p. 00017)

Quanto ao auxílio-educação e bolsas de estudos para funcioná-


rios, a jurisprudência também já se definiu pela não inclusão no salário
de contribuição, até em razão do art. 458, § 2º, II, da CLT (STJ, 2ª T., Re-
curso Especial nº 729901, J. 05.09.2006, Rel. João Otávio de Noronha,
DJ Data: 17.10.2006, p. 00274).

Já as bolsas de estudos para filhos de funcionários constituem um


acréscimo no salário do empregado concedido de maneira indireta, que
se classifica doutrinariamente como salário-utilidade, pois esse tipo de
estímulo educacional não tem qualquer ligação com a finalidade da em-
presa.

É uma situação completamente distinta das duas anteriormente ci-


tadas, a primeira em razão de previsão constitucional e a segunda ligada
a um benefício para empresa, quanto à qualificação da mão de obra que
lhe presta serviços.

Essa Corte analisou a questão:


“TRIBUTÁRIO – AGRAVO DE INSTRUMENTO EM FACE DE DECI-
SÃO QUE DEFERIU LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA PARA
AFASTAR A EXIGIBILIDADE DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
SOBRE OS VALORES RELATIVOS ÀS BOLSAS DE ESTUDO CONCE-
DIDAS PELA EMPRESA IMPETRANTE AOS FILHOS DE SEUS FUNCIO-
NÁRIOS – NÃO APLICABILIDADE AO CASO DAS EXCLUDENTES DE
SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO PREVISTAS NO § 9º DO ART. 28 DA LEI
Nº 8.212/1991 – AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO NA PARTE
CONHECIDA
1. As questões acerca da legitimidade dos sócios da impetrante, bem
como da decadência do crédito tributário, não foram abordadas na deci-
são agravada, pelo que o presente instrumento não deve ser conhecido
nessa parte.
2. A Constituição não faz referência apenas à folha de salários, mas tam-
bém aos demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qual-
quer título, à pessoa física (art. 195, I, a).
144 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
3. A previsão legal – art. 22, inciso I, da Lei nº 8.212/1991 – é de que a
contribuição social a cargo da empresa incide ‘sobre o total das remune-
rações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título’, aqui abrangidas
outras remunerações que não salário.
4. A concessão de bolsas de estudos aos funcionários, professores e de-
pendentes deste por parte da agravada é, de fato, um meio de retribuição
financeira aos seus empregados, uma vez que o recebimento do auxílio
faz com que o funcionário evite um gasto a mais em seu orçamento.
5. Havendo concessão, pelo empregador, de utilidades ao seu emprega-
do e desde que isso ocorra com habitualidade, sobre o valor em pecú-
nia do objeto dessa concessão deve incidir contribuição patronal, já que
aquelas utilidades (no caso, ‘bolsas de estudo’ concedidas não apenas
a funcionários e professores, mas também a dependentes deles) e seus
respectivos valores representam auxílio-financeiro decorrente de relação
de emprego.
6. Deve incidir o pagamento de contribuição sobre valores de ‘bolsas de
estudo’ – inequívoca ajuda financeira decorrente de relação empregatí-
cia – ainda mais quando decorre de acordo coletivo de trabalho.
7. Os documentos juntados no instrumento, extraídos do Mandado de
Segurança originário, mostram que o Instituto Nacional do Seguro Social
cobra contribuição patronal sobre valores de ‘bolsas de estudo’ concedi-
das aos filhos dos empregados da agravada e segurados da Previdência
(fls. 186 e seguintes).
8. Não se trata de ‘plano educacional’ que visa à educação básica nem
tampouco de curso de capacitação e qualificação profissional do próprio
empregado, cogitados no art. 28, § 9º, do PCPS como capítulos que não
integram o salário-de-contribuição.
9. Não se trata de auxílio escolar ao próprio empregado e sim da con-
cessão de serviços de escolaridade aos filhos dos empregados, ônus as-
sumido em acordo coletivo de trabalho; por isso que a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça mencionada pela agravante não a favorece.
10. O ‘auxílio-educação’ pago pela empresa que não pode ser tributado
pela contribuição patronal é somente aquele pago pelo empregador di-
retamente a quem presta o ensino ao empregado, ou sob a forma de re-
embolso, e somente quando reverte no aperfeiçoamento do trabalhador
(REsp 676.627/PR, 1ª T.; REsp 695.514/PR, 1ª T.; REsp 624.178/PR, etc.).
O que o Superior Tribunal de Justiça prestigia para fins de tributação é o
investimento feito pela empresa na qualificação dos seus empregados, e
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 145
não, ao contrário do que supõe a peticionária, a formação educacional
dos dependentes dos empregados.
11. Agravo de instrumento provido na parte conhecida. Agravo regimen-
tal prejudicado.”

(TRF 3ª R., Ag 2005.03.00.089169-8/SP, 1ª T., Rel. Des. Fed. Johonsom


di Salvo, DJU Data: 12.09.2006, p. 190)

“EMBARGOS À EXECUÇÃO – CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS –


BOLSA DE ESTUDOS PAGA A FILHOS DE EMPREGADOS DA EMBAR-
GANTE – INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO – RECURSO IMPROVIDO

1. O pagamento de bolsa de estudos, ao permitir que o empregado não


tenha despesas com a educação dos filhos, representa um ganho para o
empregado.

2. Considerando o caráter remuneratório dos valores pagos a título de


bolsa de estudo a filhos de empregados, sobre eles deve incidir a contri-
buição previdenciária.

3. Recurso improvido. Sentença mantida.”

(TRF 3ª R., Ag 2002.03.99.045427-2/SP, 5ª T., Relª Des. Fed. Ramza


Tartuce, DJU Data: 02.02.2005, p. 33)

“PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO LEGAL – ART. 557, § 1º, CPC – CON-


TRIBUIÇÃO SOBRE FOLHA DE SALÁRIO – BOLSA DE ESTUDOS CON-
CEDIDA AOS FILHOS E DEPENDENTES DOS EMPREGADOS – NATU-
REZA SALARIAL – INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

1. Não se podem comparar as bolsas de estudo concedidas aos funcio-


nários e aquelas dadas aos seus filhos para efeito de considerar ambas
excluídas do salário-de-contribuição.

2. Segundo o entendimento consolidado no STJ, o estudo implica um


aperfeiçoamento dos servidores, de sorte que as bolsas que lhes forem
concedidas presumivelmente hão de resultar em melhor prestação labo-
ral, devendo ser consideradas como treinamento, ainda que não estejam
diretamente ligadas às atribuições dos trabalhadores.

3. As bolsas concedidas aos filhos dos empregados não implicam ne-


nhum aperfeiçoamento dos empregados ou qualquer vantagem para o
empregador, mas apenas para os seus empregados, constituindo, portan-
to, salário-utilidade.
146 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
4. Negado provimento ao agravo legal.”
(TRF 3ª R., Agravo Legal em Apelação Cível nº 0023547-
02.2009.4.03.0399/SP, 2ª T., Rel. Des. Fed. Henrique Herkenhoff,
21.05.2010)

Em decorrência, devem ser mantidas as autuações e NFLDs em


tudo o que se refere aos valores relativos às bolsas de estudos para filhos
e dependentes de funcionários.

Sucumbência recíproca.

Com tais considerações, dou parcial provimento ao apelo da


União e à Remessa Oficial.

É o voto.

José Lunardelli
Desembargador Federal

DECLARAÇÃO DE VOTO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Cecilia Mello: A par do res-
peito e admiração que nutro pelo Ilustre Relator, dele ouso divergir, em
parte.

Os benefícios concedidos pela autora aos seus empregados a título


de auxílio-educação não possuem natureza salarial, de sorte que sobre
eles não deve incidir contribuição previdenciária.

O auxílio-educação não é pago em função do trabalho desenvol-


vido pelo empregado, consistindo num investimento na educação do
empregado ou de seus filhos.

Vale registrar que, diante da natureza não remuneratória de tais


verbas e por ter percebido que o Estado sozinho não tem condições
de concretizar o direito constitucional fundamental à educação, essen-
cial para o desenvolvimento da sociedade, o legislador, através da Lei
nº 10.243/2001, alterou o art. 458, § 2º da CLT, esclarecendo que o
auxílio-educação não possui natureza salarial:
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 147

“Art. 458. Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário,


para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras
prestações in natura que a empresa, por fôrça do contrato ou do costume,
fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o
pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas. (Redação dada
pelo Decreto-Lei nº 229, de 28.02.1967)
[...]
§ 2º Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como
salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: (Redação
dada pela Lei nº 10.243, de 19.06.2001)
I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos emprega-
dos e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; (Reda-
ção dada pela Lei nº 10.243, de 19.06.2001)
II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros,
compreendendo os valores relativos à matrícula, mensalidade, anuida-
de, livros e material didático.” (Redação dada pela Lei nº 10.243, de
19.06.2001)

Neste passo, convém observar que a decisão recorrida não se har-


moniza com a jurisprudência do C. STJ:
“PREVIDENCIÁRIO – AUXÍLIO-EDUCAÇÃO – BOLSA DE ESTUDO –
VERBA DE CARÁTER INDENIZATÓRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDEN-
CIÁRIA – INCIDÊNCIA SOBRE BASE DE CÁLCULO DO SALÁRIO-DE-
-CONTRIBUIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE
1. O STJ tem pacífica jurisprudência no sentido de que o auxílio-educa-
ção, embora contenha valor econômico, constitui investimento na qua-
lificação de empregados, não podendo ser considerado como salário in
natura, porquanto não retribui o trabalho efetivo, não integrando, desse
modo, a remuneração do empregado. É verba utilizada para o trabalho,
e não pelo trabalho.
2. In casu, a bolsa de estudos é paga pela empresa para fins de cursos de
idiomas e pós-graduação.
3. Agravo Regimental não provido.”
(AgRg-AREsp 182495/RJ, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin,
DJe 07.03.2013)
148 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
“PREVIDENCIÁRIO – RECURSO ESPECIAL – AUXÍLIO-EDUCAÇÃO –
BOLSA DE ESTUDO – VERBA DE CARÁTER INDENIZATÓRIO – CON-
TRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – INCIDÊNCIA SOBRE A BASE DE CÁL-
CULO DO SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE
1. ‘O auxílio-educação, embora contenha valor econômico, constitui in-
vestimento na qualificação de empregados, não podendo ser considera-
do como salário in natura, porquanto não retribui o trabalho efetivo, não
integrando, desse modo, a remuneração do empregado. É verba empre-
gada para o trabalho, e não pelo trabalho.’ (REsp 324.178/PR, Relª Min.
Denise Arruda, DJ de 17.12.2004)
2. In casu, a bolsa de estudos, é paga pela empresa e destina-se a auxi-
liar o pagamento a título de mensalidades de nível superior e pós-gra-
duação dos próprios empregados ou dependentes, de modo que a falta
de comprovação do pagamento às instituições de ensino ou a repetição
do ano letivo implica na exigência de devolução do auxílio. Preceden-
tes: REsp 784887/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 05.12.2005;
REsp 324178/PR, Relª Min. Denise Arruda, DJ 17.02.2004; AgRg-REsp
328602/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 02.12.2002; REsp 365398/RS,
Rel. Min. José Delgado, DJ 18.03.2002.
3. Agravo regimental desprovido.”
(AgRg-Ag 1330484/RS, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, DJe 01.12.2010)

No mesmo sentido, confira-se o seguinte julgado desta Egrégia


Corte Regional:
“A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o
auxílio-educação ou salário-educação não integra a base de cálculo do
salário-de-contribuição. Com supedâneo nesse entendimento, considera-
-se que as bolsas de estudos concedidas aos empregados e aos filhos
destes não se sujeitam à incidência da contribuição. Com efeito, o inciso
II do art. 458 da Consolidação das Leis do Trabalho, acrescentado pela
Lei nº 10.243/2001, estabelece que a educação, em estabelecimento de
ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos à
matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático, não é con-
siderada salário. Desprovida de natureza salarial, a utilidade não sofre a
incidência da exação. 9. O Superior Tribunal de Justiça tem interpretado
ampliativamente a alínea t do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/1991 – se-
gundo o qual o valor relativo a plano educacional que vise à educação
básica, desde que não seja utilizado em substituição de parcela salarial e
que todos os empregados e dirigentes tenha acesso a ele –, considerando
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 149
não incidir a contribuição sobre valores despendidos com a educação do
empregado.”
(AMS 0001947-34.2013.4.03.6105/SP, 5ª T., Rel. Des. Fed. André
Nekatschalow, e-DJF3 Judicial 1 05.03.2015)

Pelo exposto, conclui-se que a melhor exegese da legislação de


regência – arts. 22, I, da Lei nº 8.212/1991; 458, § 2º da CLT e arts. 150,
I, 195, I e 201, da Constituição Federal – revela que os benefícios con-
cedidos pela autora aos seus empregados a título de auxílio-educação/
bolsa de estudo não possuem natureza salarial. Portanto sobre eles não
deve incidir contribuição previdenciária.
Quanto ao mais, acompanho o voto do Ilustre Relator.
Diante do exposto, divergindo do voto do Ilustre Relator, apenas
no tocante à não incidência da contribuição sobre bolsa de estudos paga
aos filhos dos empregados, nego provimento ao apelo da União e à re-
messa oficial, mantendo a sentença recorrida, em seu inteiro teor.
É como voto.

Cecilia Mello
Desembargadora Federal
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1631

Tribunal Regional Federal da 4ª Região


Apelação Cível nº 0023126-52.2013.404.9999/PR
Relator: Juiz Federal Marcelo Malucelli
Apelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
Advogado: Procuradoria Regional da PFE-INSS
Apelado: Maria de Fátima Militão
Advogado: Marcos de Queiroz Ramalho e outro

EMENTA
PREVIDENCIÁRIO – ATIVIDADE ESPECIAL – AVERBAÇÃO – AGENTES BIOLÓGICOS – CATEGORIA
PROFISSIONAL – ENFERMAGEM – HABITUALIDADE E PERMANÊNCIA – EQUIPAMENTOS DE
PROTEÇÃO INDIVIDUAL
1. O reconhecimento da especialidade e o enquadramento da ati-
vidade exercida sob condições nocivas são disciplinados pela lei
em vigor à época em que efetivamente exercidos, passando a inte-
grar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador.
2. Considerando que o § 5º do art. 57 da Lei nº 8.213/1991 não
foi revogado pela Lei nº 9.711/1998, e que, por disposição consti-
tucional (art. 15 da Emenda Constitucional nº 20, de 15.12.1998),
permanecem em vigor os arts. 57 e 58 da Lei de Benefícios até que
a lei complementar a que se refere o art. 201, § 1º, da Constituição
Federal, seja publicada, é possível a conversão de tempo de ser-
viço especial em comum inclusive após 28.05.1998. Precedentes
do STJ.
3. Até 28.04.1995 é admissível o reconhecimento da especialida-
de por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos,
aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ruído e calor);
a partir de 29.04.1995 não mais é possível o enquadramento por
categoria profissional, devendo existir comprovação da sujeição a
agentes nocivos por qualquer meio de prova até 05.03.1997 e, a
partir de então, por meio de formulário embasado em laudo técni-
co, ou por meio de perícia técnica.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 151
4. A exposição a agentes biológicos enseja o reconhecimento do
tempo de serviço como especial.
5. As atividades de técnico/atendente de enfermagem, exercidas
até 28.04.1995, devem ser reconhecidas como especial em decor-
rência do enquadramento por categoria profissional, por equipa-
ração à categoria profissional de enfermagem.
6. Para a caracterização da especialidade, não se reclama exposi-
ção às condições insalubres durante todos os momentos da prática
laboral, sendo suficiente que o trabalhador, em cada dia de labor,
esteja exposto a agentes nocivos em período razoável da jornada,
salvo exceções (periculosidade, por exemplo).
7. A habitualidade e permanência hábeis aos fins visados pela
norma – que é protetiva – devem ser analisadas à luz do serviço
cometido ao trabalhador, cujo desempenho, não descontínuo ou
eventual, exponha sua saúde à prejudicialidade das condições fí-
sicas, químicas, biológicas ou associadas que degradam o meio
ambiente do trabalho.
8. Os equipamentos de proteção individual não são suficientes,
por si só, para descaracterizar a especialidade da atividade desem-
penhada pelo segurado, devendo cada caso ser apreciado em suas
particularidades.
9. Comprovado o exercício de atividades em condições espe-
ciais nos intervalos de 01.02.1985 a 21.10.1986, 01.03.1989
a 04.06.1990, 02.07.1990 a 29.10.1990, tem a autora direito à
averbação, para fins de futura concessão de benefício previdenciá­
rio, do acréscimo resultante da conversão, para tempo comum,
dos períodos de atividade especial reconhecidos.

ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indi-
cadas, decide a Egrégia 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação do INSS
e à remessa oficial e determinar o cumprimento imediato do acórdão
no tocante à averbação das atividades especiais ora reconhecidas, nos
152 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 29 de abril de 2015.

Juiz Federal Marcelo Malucelli


Relator

RELATÓRIO
Cuida-se de apelação contra sentença em que a magistrada a quo
julgou parcialmente procedente o pedido para reconhecer a especialida-
de dos períodos de 01.02.1985 a 21.10.1986, 01.03.1989 a 04.06.1990,
02.07.1990 a 29.10.1990 e de 01.01.2004 a 27.11.2007, com a sua
respectiva conversão para tempo comum, deixando de conceder a apo-
sentadoria por falta de tempo de serviço/contribuição.
Em suas razões de apelação, a Autarquia Previdenciária sustentou,
em síntese, a inexistência de comprovação hábil do exercício de ativida-
des especiais pela demandante, bem como que o uso de equipamentos
de proteção neutraliza a nocividade dos agentes.
Sem contrarrazões, vieram os autos a esta Corte para julgamento
por força, tão somente, do recurso voluntário.
É o relatório.
À revisão.

VOTO
Em relação à remessa oficial, o Colendo Superior Tribunal de Jus-
tiça, por sua Corte Especial (EREsp 934.642/PR, Rel. Min. Ari Pargen-
dler, Julgado em 30.06.2009; EREsp 701.306/RS, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, Julgado em 07.04.2010; EREsp 600.596/RS, Rel. Min. Teori
Zavascki, Julgado em 04.11.2009), prestigiou a corrente jurisprudencial
que sustenta ser inaplicável a exceção contida no § 2º, primeira parte,
do art. 475 do CPC aos recursos dirigidos contra sentenças (a) ilíquidas,
(b) relativas a relações litigiosas sem natureza econômica, (c) declara-
tórias e (d) constitutivas/desconstitutivas insuscetíveis de produzir con-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 153
denação certa ou de definir objeto litigioso de valor certo (v.g., REsp
651.929/RS).
Assim, em matéria previdenciária, as sentenças proferidas contra
o Instituto Nacional do Seguro Social só não estarão sujeitas ao duplo
grau obrigatório se a condenação for de valor certo (líquido) inferior a
sessenta salários mínimos.
Não sendo esse o caso dos autos, dou por interposta a remessa
oficial.
A controvérsia restringe-se ao reconhecimento do tempo de ser-
viço prestado sob condições especiais, nos intervalos de 01.02.1985 a
21.10.1986, 01.03.1989 a 04.06.1990, 02.07.1990 a 29.10.1990 e de
01.01.2004 a 27.11.2007, com a sua consequente averbação para fins
de futura concessão de benefício previdenciário.

DA ATIVIDADE ESPECIAL

O reconhecimento da especialidade da atividade exercida é disci-


plinado pela lei em vigor à época em que efetivamente exercido, passan-
do a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalha-
dor. Desse modo, uma vez prestado o serviço sob a égide de legislação
que o ampara, o segurado adquire o direito à contagem como tal, bem
como à comprovação das condições de trabalho na forma então exigida,
não se aplicando retroativamente uma lei nova que venha a estabelecer
restrições à admissão do tempo de serviço especial.
Nesse sentido, aliás, é a orientação adotada pela Terceira Seção
do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (AR 3320/PR, Relª Min. Maria
Thereza de Assis Moura, DJe de 24.09.2008; EREsp 345554/PB, Rel.
Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 08.03.2004; Ag-REsp 493.458/RS,
5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de 23.06.2003; e REsp 491.338/RS,
6ª T., Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 23.06.2003) e por esta
Corte: (EINF 2005.71.00.031824-5/RS, 3ª S., Luís Alberto D’Azevedo
Aurvalle, DE de 18.11.2009; Ap-Reex 0000867-68.2010.404.9999/RS,
6ª T., Rel. Des. Fed. Celso Kipper, DE de 30.03.2010; Ap-Reex 0001126-
86.2008.404.7201/SC, 6ª T., Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira,
DE de 17.03.2010; Ap-Reex 2007.71.00.033522-7/RS; 5ª T., Rel. Des.
Fed. Fernando Quadros da Silva, DE de 25.01.2010).
154 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Feita essa consideração e tendo em vista a diversidade de diplo-
mas legais que se sucederam na disciplina da matéria, necessário inicial-
mente definir qual a legislação aplicável ao caso concreto, ou seja, qual
a legislação vigente quando da prestação da atividade pela parte autora.
Tem-se, então, a seguinte evolução legislativa quanto ao tema sub
judice:
a) 
no período de trabalho até 28.04.1995, quando vigente a Lei
nº 3.807/1960 (Lei Orgânica da Previdência Social) e suas alterações
e, posteriormente, a Lei nº 8.213/1991 (Lei de Benefícios), em sua
redação original (arts. 57 e 58), possível o reconhecimento da espe-
cialidade do trabalho quando houver a comprovação do exercício de
atividade enquadrável como especial nos decretos regulamentadores
e/ou na legislação especial ou quando demonstrada a sujeição do se-
gurado a agentes nocivos por qualquer meio de prova, exceto para os
agentes nocivos ruído e calor (STJ, AgRg-REsp 941885/SP, 5ª T., Rel.
Min. Jorge Mussi, DJe de 04.08.2008; e STJ, REsp 639066/RJ, 5ª T., Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 07.11.2005), em que necessária a
mensuração de seus níveis por meio de perícia técnica, carreada aos
autos ou noticiada em formulário emitido pela empresa, a fim de se
verificar a nocividade ou não desses agentes;
b) a partir de 29.04.1995, inclusive, foi definitivamente extinto o enqua-
dramento por categoria profissional – à exceção daquelas a que se
refere a Lei nº 5.527/1968, cujo enquadramento por categoria deve ser
feito até 13.10.1996, dia anterior à publicação da Medida Provisória
nº 1.523, de 14.10.1996, que revogou expressamente a Lei em ques-
tão – de modo que, no interregno compreendido entre 29.04.1995 (ou
14.10.1996) e 05.03.1997, em que vigentes as alterações introduzidas
pela Lei nº 9.032/1995 no art. 57 da Lei de Benefícios, necessária a
demonstração efetiva de exposição, de forma permanente, não ocasio-
nal nem intermitente, a agentes prejudiciais à saúde ou à integridade
física, por qualquer meio de prova, considerando-se suficiente, para
tanto, a apresentação de formulário-padrão preenchido pela empresa,
sem a exigência de embasamento em laudo técnico, ressalvados os
agentes nocivos ruído e calor, em relação aos quais é imprescindível a
realização de perícia técnica, conforme visto acima;
c) 
a partir de 06.03.1997, data da entrada em vigor do Decreto
nº 2.172/1997, que regulamentou as disposições introduzidas no
art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisória nº 1.523/1996
(convertida na Lei nº 9.528/1997), passou-se a exigir, para fins de re-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 155
conhecimento de tempo de serviço especial, a comprovação da efetiva
sujeição do segurado a agentes agressivos por meio da apresentação
de formulário-padrão, embasado em laudo técnico, ou por meio de
perícia técnica.

Observo, ainda, quanto ao enquadramento das categorias pro-


fissionais, que devem ser considerados os Decretos nº 53.831/1964
(Quadro Anexo – 2ª parte), nº 72.771/1973 (Quadro II do Anexo) e
nº 83.080/1979 (Anexo II) até 28.04.1995, data da extinção do reconhe-
cimento da atividade especial por presunção legal, ressalvadas as exce-
ções acima mencionadas. Já para o enquadramento dos agentes nocivos,
devem ser considerados os Decretos nº 53.831/1964 (Quadro Anexo –
1ª parte), nº 72.771/1973 (Quadro I do Anexo) e nº 83.080/1979 (Anexo I)
até 05.03.1997, e os Decretos nº 2.172/1997 (Anexo IV) e nº 3.048/1999
a partir de 06.03.1997, ressalvado o agente nocivo ruído, ao qual se
aplica também o Decreto nº 4.882/2003. Além dessas hipóteses de en-
quadramento, sempre possível também a verificação da especialidade
da atividade no caso concreto, por meio de perícia técnica, nos termos
da Súmula nº 198 do extinto Tribunal Federal de Recursos (STJ, Ag-REsp
228832/SC, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6ª T., DJU de 30.06.2003).
Na hipótese vertente, os períodos controversos de atividade labo-
ral exercidos em condições especiais estão assim detalhados:
Períodos: 01.02.1985 a 21.10.1986, 01.03.1989 a 04.06.1990,
02.07.1990 a 29.10.1990
Empresas: Sociedade Médico Hospitalar de Assai Ltda./Hospital e Mater-
nidade Santa Rita de Assai/Prefeitura Municipal de Assai.
Função/Atividades: Atendente/auxiliar de enfermagem.
Agentes nocivos: Agentes biológicos.
Categoria profissional: Até 28.04.1995 a atividade de enfermagem era
considerada pelo Decreto nº 53.831/1964 e Decreto nº 83.080/1979
como especial, dando direito à aposentadoria com 25 anos de serviço.
Os atendentes/auxiliares/técnicos de enfermagem, por exercerem ativi-
dades ligadas à enfermagem, a ela equiparam-se, gozando igualmente
deste tratamento privilegiado.
Enquadramento legal: Códigos 1.3.2 do Quadro Anexo do Decreto
nº 53.831/1964 (germes infecciosos ou parasitários humanos-animais),
156 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
1.3.4 do Anexo I do Decreto nº 83.080/1979 (doentes e materiais infecto-
-contagiantes), além do enquadramento por categoria profissional (enfer-
magem) nos códigos 2.1.3 do Quadro Anexo do Decreto nº 53.831/1964,
2.1.3 do Quadro II do Anexo do Decreto nº 72.771/73 e 2.1.3 do Anexo
II do Decreto nº 83.080/1979.
Provas: Formulários DSS-8030 (fls. 67-68) e perfis profissiográficos previ-
denciários (fls. 69-73).
Conclusão: Restou devidamente comprovado nos autos o exercício de
atividade especial pela parte autora nos períodos antes indicados, con-
forme a legislação aplicável à espécie, em virtude de sua exposição, de
forma habitual e permanente, ao agente nocivo acima citado, bem como
em face do enquadramento por categoria profissional.

Oportuno referir que, para a caracterização da especialidade, não


se reclama exposição às condições insalubres durante todos os momen-
tos da prática laboral, sendo suficiente que o trabalhador, em cada dia
de labor, esteja exposto a agentes nocivos em período razoável da jor-
nada, salvo exceções (periculosidade, por exemplo). Caso se admitisse
o contrário, chegar-se-ia ao extremo de entender que nenhum ofício
faria jus àquela adjetivação, e, como é curial, o intérprete deve afastar
a interpretação que o leve ao absurdo. Habitualidade e permanência
hábeis para os fins visados pela norma – que é protetiva – devem ser
analisadas à luz do serviço cometido ao trabalhador, cujo desempenho,
não descontínuo ou eventual, exponha sua saúde à prejudicialidade das
condições físicas, químicas, biológicas ou associadas que degradam o
meio ambiente do trabalho.
Neste sentido, a Terceira Seção deste Tribunal já harmonizou seu
entendimento:
PREVIDENCIÁRIO – EMBARGOS INFRINGENTES – ATIVIDADE ESPE-
CIAL – INSALUBRIDADE – COMPROVAÇÃO – EXPOSIÇÃO HABITUAL
E PERMANENTE – PERÍODO ANTERIOR A ABRIL DE 1995 – INSTALA-
DOR HIDRÁULICO JUNTO A HOSPITAL
1) Para caracterizar a especialidade, não há necessidade de haver exposi-
ção às condições insalubres durante todos os momentos da prática labo-
ral. Habitualidade e permanência hábeis para os fins visados pela norma
– que é protetiva – devem ser analisadas à luz do serviço cometido ao
trabalhador, cujo desempenho, não descontínuo ou eventual, exponha
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 157
sua saúde à prejudicialidade das condições físicas, químicas, biológicas
ou associadas que degradam o meio ambiente do trabalho, como no caso
de hospital.
2) É pacífico nesta Corte que, no período de trabalho até 28.04.1995,
quando vigente a Lei nº 3.807/1960 (Lei Orgânica da Previdência Social)
e suas alterações e, posteriormente, a Lei nº 8.213/1991 (Lei de Benefí-
cios), em sua redação original (arts. 57 e 58), possível o reconhecimento
da especialidade do trabalho quando houver a comprovação do exercí-
cio de atividade enquadrável como especial nos decretos regulamenta-
dores e/ou na legislação especial ou quando demonstrada a sujeição do
segurado a agentes nocivos por qualquer meio de prova, exceto para
ruído, em que necessária sempre a aferição do nível de decibéis por meio
de perícia técnica, carreada aos autos ou noticiada em formulário emiti-
do pela empresa, a fim de se verificar a nocividade ou não desse agente.
3) Embargos infringentes improvidos.
(EINF 2004.71.00.028482-6/RS, Rel. Des. Fed. Luís Alberto D’Azevedo
Aurvalle, DE de 08.01.2010)
EMBARGOS INFRINGENTES – ATIVIDADE ESPECIAL – INSALUBRIDA-
DE – COMPROVAÇÃO – EXPOSIÇÃO HABITUAL E PERMANENTE RU-
ÍDOS ACIMA DE 80 DB
Prevaleceu o entendimento de que a exposição habitual e permanente
a ruídos superiores a 80 dB caracteriza atividade especial, segundo o
Decreto nº 53.831/1964, deve ser aplicado o limite mais favorável ao
segurado. Não há falar em eventualidade e intermitência, se a exposição
ao agente nocivo é não eventual, diurna e contínua; mesmo que durante
parte de sua jornada de trabalho não haja contato ou presença de agentes
insalutíferos, o trabalhador tem direito ao cômputo do tempo de serviço
especial.
(EIAC 2000.04.01.088061-6/RS, Rel. Juiz Federal Fernando Quadros da
Silva, DJU 03.03.2004)

Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça


(REsp 1.108.945/RS, 5ª T., Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 23.06.2009; REsp
72082/MG, 5ª T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 10.04.2006),
os equipamentos de proteção individual não são suficientes, por si só,
para descaracterizar a especialidade da atividade desempenhada pelo
segurado, devendo cada caso ser apreciado em suas particularidades.
158 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
No caso concreto, não restou comprovado nos autos o efetivo for-
necimento, pelas empresas, dos referidos dispositivos.
Período: 01.01.2004 a 27.11.2007
Empresas: Cooperativa Agropecuária de Produção Integrada do
Paraná Ltda.
Função/Atividades: Auxiliar de enfermagem.
Agentes nocivos:
Enquadramento legal:
Conclusão: Não restou devidamente comprovado nos autos o
exercício de atividade especial pela parte autora no período antes indi-
cado, conforme a legislação aplicável à espécie, em face da inexistência
de apontamento no PPP de sujeição a qualquer agente nocivo previsto
nos decretos regulamentadores da matéria.
Assim, reconhecida a especialidade do labor nos períodos de
01.02.1985 a 21.10.1986, 01.03.1989 a 04.06.1990, 02.07.1990 a
29.10.1990, devem ser convertidos para comum pelo fator 1,2.
É devida, pois, a averbação do acréscimo resultante da conversão,
para tempo comum, dos períodos de atividade especial ora reconhe­
cidos.
Devem ser mantidos os ônus sucumbenciais nos termos fixados
pela sentença.
Considerando a eficácia mandamental dos provimentos fundados
no art. 461 do CPC, e tendo em vista que a presente decisão não está su-
jeita, em princípio, a recurso com efeito suspensivo (TRF 4ª R., 3ª Seção,
Questão de Ordem na AC 2002.71.00.050349-7/RS, Rel. p/ o Ac. Des.
Federal Celso Kipper, Julgado em 09.08.2007), determino o cumprimen-
to imediato do acórdão no tocante à averbação das atividades especiais
ora reconhecidas (CPF XXXX), a ser efetivada em 45 dias.
Ante o exposto, voto por dar parcial provimento à apelação do
INSS e à remessa oficial e determinar o cumprimento imediato do acór-
dão no tocante à averbação das atividades especiais ora reconhecidas.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 159
Juiz Federal Marcelo Malucelli
Relator

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 29.04.2015


Apelação Cível nº 0023126-52.2013.404.9999/PR
Origem: PR 00004673120118160047
Relator: Juiz Federal Marcelo Malucelli
Presidente: Desembargador Federal João Batista Pinto Silveira
Procurador: Procurador Regional da República Marcus Vinicius de
Aguiar Macedo
Apelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS
Advogado: Procuradoria Regional da PFE-INSS
Apelado: Maria de Fátima Militão
Advogado: Marcos de Queiroz Ramalho e outro

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia


29.04.2015, na sequência 82, disponibilizada no DE de 15.04.2015, da
qual foi intimado(a) Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, o Minis-
tério Público Federal e as demais Procuradorias Federais.
Certifico que o(a) 6ª Turma, ao apreciar os autos do processo em
epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A turma, por unanimidade, decidiu dar parcial provimento à apelação do
INSS e à remessa oficial e determinar o cumprimento imediato do acór-
dão no tocante à averbação das atividades especiais ora reconhecidas.

Relator Acórdão: Juiz Federal Marcelo Malucelli


Votante(s): Juiz Federal Marcelo Malucelli
Desª Federal Vânia Hack de Almeida
Des. Federal João Batista Pinto Silveira

Gilberto Flores do Nascimento


Diretor de Secretaria
Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra
1632

Tribunal Regional Federal da 5ª Região


Gabinete do Desembargador Federal Edilson Pereira Nobre Júnior
AGTR 141086/CE (0000090-07.2015.4.05.0000)
Agrte.: Fazenda Nacional
Agrdo.: Farah Manutenções Ltda. – ME
Adv./Proc.: Maikon Antonio Bahia da Silva e outros
Origem: 33ª Vara Federal de Fortaleza/CE
Relator: Des. Federal Edilson Pereira Nobre Júnior

EMENTA
AGRAVO DE INSTRUMENTO – TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO
DA EMPRESA – HORAS EXTRAS – NATUREZA REMUNERATÓRIA – INCIDÊNCIA – TERÇO
CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS – NATUREZA INDENIZATÓRIA – NÃO INCIDÊNCIA – ENTENDIMENTO
DO STJ EM SEDE DE RECURSOS REPETITIVOS (RESP 1358281/SP E RESP 1230957/RS)
– PARCIAL PROVIMENTO
1. A alegação da agravante referente à natureza remuneratória do
terço constitucional de férias para fins de incidência de contri-
buição previdenciária não se reveste de relevância jurídica, uma
vez que a pretensão recursal encontra-se em colisão com o en-
tendimento pacificado no STJ de que não incide a contribuição
previdenciária sobre tal importância, visto que a mesma possui
natureza compensatória/indenizatória. REsp 1230957/RS, julgado
sob o rito do art. 543-C do CPC.
2. Por outro lado, merece ser reformada a decisão agravada no
que diz respeito à exclusão das horas extras da base de cálculo da
contribuição previdenciária, uma vez que o STJ tem entendimento
de que tal verba possui natureza remuneratória, razão pela qual se
sujeita à incidência de tal encargo. REsp 1358281/SP, julgado sob
o rito do art. 543-C do CPC.
3. Agravo a que se dá parcial provimento.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 161
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o
número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam
os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unani-
midade, dar parcial provimento ao agravo de instrumento, nos termos
do voto do Relator.

Recife (PE), 28 de abril de 2015 (data do Julgamento).

Desembargador Federal Edilson Pereira Nobre Júnior


Relator

RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Edilson Pereira Nobre Júnior
(Relator):

Trata-se de agravo de instrumento interposto pela União Federal


(Fazenda Nacional), com pedido de efeito suspensivo, contra decisão
proferida pelo juízo da 33ª Vara da Seção Judiciária do Ceará/CE que
não reconheceu a incidência da contribuição previdenciária sobre o ter-
ço de férias e sobre as horas extras, considerando que tais verbas não se
incorporam ao salário.

Em síntese, a agravante defende a reforma da decisão agravada,


afirmando que tais verbas têm natureza remuneratória, impondo-se a
incidência de contribuição previdenciária, a teor do art. 22, I, da Lei
nº 8.212/1991.

É o relatório.

VOTO
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Edilson Pereira Nobre Júnior
(Relator):
162 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Ao desatar a controvérsia, assim se manifestou o ilustre Desembar-
gador Federal convocado Ivan Lira de Carvalho (fls. 677/681):
“1. A Fazenda Nacional interpõe o presente agravo de instrumento con-
tra decisão que, em sede de execução fiscal, deferiu, em parte, a exceção
de pré-executividade, apenas para reconhecer que não incide contribui-
ção previdenciária sobre o terço de férias e sobre as horas extras, consi-
derando que tais verbas não se incorporam ao salário.
2. A agravante defende a reforma da decisão, afirmando que tais verbas
têm natureza remuneratória, impondo-se a incidência da contribuição
previdenciária, a teor do art. 22, I, da Lei nº 8.212/1991.
3. Para a admissão do agravo em sua forma de instrumento, o CPC exige
que se cuide de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de di-
fícil reparação, ou que se trate dos casos de inadmissão da apelação ou
dos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida. Nessas situações,
o relator, dentre outras providências, poderá atribuir efeito suspensivo
ao recurso, ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente,
a pretensão recursal, caso também se mostre presente o requisito da rele-
vância da fundamentação. Do contrário, a regra é a apreciação do agravo
em sua forma retida.
4. No caso, em se tratando de execução fiscal, a conversão do recurso
em agravo retido não se mostra adequada, considerando-se a inexistên-
cia de momento posterior para manifestação sobre a questão.
5. A alegação da Fazenda Nacional referente à natureza remuneratória
da contribuição previdenciária incidente sobre o terço constitucional de
férias não se reveste de relevância jurídica, considerando-se que, quanto
à questão, a pretensão recursal encontra-se em colisão com o entendi-
mento da egrégia Quarta Turma deste Tribunal sobre a questão, segundo
se depreende do seguinte aresto:
TRIBUTÁRIO – PROCESSUAL CIVIL – LEGITIMIDADE ATIVA DA AS-
SOCIAÇÃO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE VALORES
PAGOS A TÍTULO DE AUXÍLIO-DOENÇA/ACIDENTE AO EMPRE-
GADO NOS PRIMEIROS 15 (QUINZE) DIAS DE AFASTAMENTO
DO TRABALHO – ADICIONAL DE 1/3 DE FÉRIAS – AVISO-PRÉVIO
INDENIZADO – NÃO INCIDÊNCIA – INCIDÊNCIA SOBRE HORAS
EXTRAS – CUSTAS PROCESSUAIS – FAZENDA PÚBLICA – ISENÇÃO
I – O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou no sentido de que
não há necessidade de autorização expressa ou relação nominal dos
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 163
associados para que a associação ou sindicato atue em seus nomes,
seja para propor ações ordinárias ou coletivas, porquanto está-se
diante da chamada substituição processual. Precedente: STJ, EDcl-
-AgRg-Ag 1191457/GO, Relª Min. Laurita Vaz, DJe 24.05.2010.
II – Não é devida a contribuição previdenciária sobre os valores pa-
gos a título de auxílio-doença/acidente ao empregado, durante os pri-
meiros dias de afastamento. (STJ, REsp 1126369/DF, Relª Min. Eliana
Calmon, 2ª T., DJe 10.03.2010)
III – O Supremo Tribunal Federal já pacificou a matéria no sentido de
que não incide contribuição social sobre o terço de férias por não se
tratar de verba incorporável ao salário. Precedente: STF, Eros Grau;
DJ: 27.02.2009 e AgR-RE 545317/DF; Rel. Min. Gilmar Mendes;
DJ 14.03.2008; STJ, 1ª T., AGA 201001858379, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, DJe 11.02.2011.
IV – O aviso-prévio indenizado não têm natureza remuneratória, pos-
to que não incorpora para fins de aposentadoria, tendo caráter emi-
nentemente indenizatório, visto que é pago para amenizar o impacto
das consequências inovadoras da situação imposta ao empregado
que foi dispensado pelo empregador, não devendo o mesmo, portan-
to, integrar a base de cálculo da contribuição previdenciária.
V – As horas extras têm natureza remuneratória, sendo uma contra-
prestação pelo serviço prestado, não constando, ainda, no rol das
verbas a serem excluídas do salário de contribuição do empregado,
conforme art. 28, § 9º, alínea d, da Lei nº 8.212/1990.
VI – O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral (CPC,
art. 543-C, § 3º) decidiu pela inconstitucionalidade da segunda parte
do art. 4º da LC 118/2005, prevalecendo o voto da Min. Ellen Gracie,
que considerou, contudo, aplicável o novo prazo de cinco anos as
ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a
partir de 09.06.2005, conforme se verifica no Informativo nº 634/STF.
VII – No caso, tendo a ação sido ajuizada junho/2012, encontram-
-se prescritas as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu ao
ajuizamento do feito, recolhidas indevidamente pela parte autora, a
título de terço de férias, aviso-prévio indenizado e respectiva parcela
de 13º proporcional, sobre os valores pagos aos seus empregados, nos
quinze primeiros dias de afastamento por doença ou acidente e sobre
o auxílio-alimentação, quando pago in natura.
164 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
VIII – A compensação requerida nos presentes autos deve ser feita nos
termos do art. 26 da Lei nº 11.457/2007.
IX – A Medida Provisória nº 449, de 2008, convertida na Lei
nº 11.941, de 27 de maio de 2009, que entrou em vigor na data de
sua publicação, revogou o art. 89, § 3º, da Lei nº 8.212/1991, não se
aplicando mais a limitação de 30% na compensação da contribuição
previdenciária.
X – No âmbito da própria Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
foi editado o Parecer PGFN/CAT nº 1.929/2009, o qual consagra que
‘a nova redação do art. 1º-F da Lei nº 9.494, de 1997, promovida pelo
art. 5º da Lei nº 11.960, de 2009, não modificou a aplicação da Taxa
Selic para as repetições de indébito tributário’.
XI – O art. 4º da Lei nº 9289/1996 isenta a União, os Estados, os Mu-
nicípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e suas autarquias e
fundações do pagamento das custas processuais, de modo que deve
ser afastada a condenação em tal verba fixada na sentença.
XII – Apelação e remessa oficial parcialmente providas, para reco-
nhecer a existência de relação jurídico-tributária que fundamente a
incidência da contribuição previdenciária sobre as horas extras, bem
como para afastar a condenação em custas processuais. (TRF 5ª R.,
4ª T., Ap-Reex 25366/RN, Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho,
J. 11.12.2012)
6. No que diz respeito à exclusão das horas extras da base de cálculo da
contribuição previdenciária, a Quarta Turma desta Corte tem entendi-
mento no sentido de que essas têm natureza remuneratória, sendo uma
contraprestação pelo serviço prestado, além de que as mesmas não cons-
tam do rol das verbas a serem excluídas do salário de contribuição do
empregado, conforme art. 28, § 9º, alínea d, da Lei nº 8.212/1990.
TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – NÃO INCI-
DÊNCIA SOBRE VALORES PAGOS A TÍTULO DE FÉRIAS INDENI-
ZADAS, ADICIONAL DE UM TERÇO DE FÉRIAS E AVISO-PRÉVIO
INDENIZADO – INCIDÊNCIA SOBRE HORAS EXTRAS
I – Remessa oficial e apelação de sentença que, confirmando liminar
deferida, concedeu parcialmente a segurança, para determinar à ex-
clusão definitiva das verbas pagas a seus empregados e prestadores de
serviços da contribuição previdenciária incidente sobre o terço cons-
titucional de férias, as férias indenizadas e o aviso-prévio indenizado.
Mantida a incidência sobre o adicional de hora extra.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 165
II – É pacífica a jurisprudência dos Tribunais acerca da não incidência
de contribuição previdenciária sobre verbas de caráter indenizatório
ou que não se incorporem à remuneração do Trabalhador.
III – O STJ decidiu, nos autos do REsp 1.230.957/RS, em sede de re-
curso repetitivo, nos termos do art. 543-C do CPC, que: ‘No o que se
refere ao adicional de férias relativo às férias indenizadas, a não inci-
dência de contribuição previdenciária decorre de expressa previsão
legal (art. 28, § 9º, d, da Lei nº 8.212/1991 – redação dada pela Lei
nº 9.528/1997). Em relação ao adicional de férias concernente às fé-
rias gozadas, tal importância possui natureza indenizatória/compen-
satória, e não constitui ganho habitual do empregado, razão pela qual
sobre ela não é possível a incidência de contribuição previdenciária
(a cargo da empresa)’.
IV – O Supremo Tribunal Federal já pacificou a matéria no sentido
de que não incide contribuição social sobre o terço de férias por
não se tratar de verba incorporável ao salário. Precedentes: STF, Eros
Grau, DJ 27.02.2009 e AgR-RE 545317/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
DJ 14.03.2008. No mesmo sentido: STJ, 1ª T., AGA 201001858379,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 11.02.2011.
V – As férias não têm natureza de interrupção do contrato de trabalho,
assim seu pagamento tem evidente natureza salarial, sendo, portanto,
cabível a incidência de contribuição previdenciária, computado, para to-
dos os efeitos legais, para fins de aposentadoria. Entretanto, as férias não
gozadas e pagas em dobro não estão sujeitas à incidência de contribui-
ção previdenciárias, posto que se constituem em verdadeira indenização
pela falta do empregador quanto ao prazo de concessão das férias.
VI – Afastada a natureza remuneratória do aviso prévio indenizado,
para efeito de incidência da contribuição previdenciária.
Precedente desta Quarta Turma: Ap-Reex/PB, Processo
nº 08001777020124058200, Data do Julgamento: 29.04.2014, Rel.
Des. Fed. Rogério Fialho Moreira.
VII – As horas extras possuem natureza remuneratória, sendo uma
contraprestação pelo serviço prestado, não constando, ainda, no rol
das verbas a serem excluídas do salário de contribuição do emprega-
do, conforme art. 28, § 9º, alínea d, da Lei nº 8.212/1990 (grifo nosso).
VIII – O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral
(CPC, art. 543-C, § 3º) decidiu pela inconstitucionalidade da segunda
parte do art. 4º da LC 118/2005, prevalecendo o voto da Min. Ellen
166 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Gracie, que considerou, contudo, aplicável o novo prazo de cinco
anos às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias,
ou seja, a partir de 09.06.2005, conforme se verifica no Informativo
nº 634/STF.
IX – No que concerne ao direito de compensação dos valores inde-
vidamente recolhidos, o art. 170 do Código Tributário Nacional e o
art. 66 da Lei nº 8.383/1991 não deixam dúvidas quanto à possibili-
dade de sua efetivação.
X – A Lei Complementar nº 104 introduziu no CTN o art. 170-A, que
veda ‘a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto
de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em jul-
gado da respectiva decisão judicial’.
XI – A Medida Provisória nº 449, de 2008, convertida na Lei
nº 11.941, de 27 de maio de 2009, que entrou em vigor na data de
sua publicação, revogou o art. 89, § 3º, da Lei nº 8.212/1991, não se
aplicando mais a limitação de 30% na compensação da contribuição
previdenciária.
XII – Remessa oficial e apelação improvidas. (TRF 5ª R., 4ª T.,
Ap-Reex 0801526312014405830, Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de
Carvalho, J. 09.09.2014)
7. Posto isso, defiro, em parte, a liminar, para suspender os efeitos da de-
cisão agravada, apenas no que se refere a não incidência da contribuição
previdenciária sobre as horas extras.
8. Dessa decisão, dê-se ciência ao Juízo de 1º grau.
7. Intime-se a parte agravada para contrarrazões.”

Não verifico o que possa ser acrescido à decisão hostilizada, cujas


razões adoto na íntegra como fundamento para decidir.
Vale ressaltar que o STJ já possui jurisprudência consolidada acer-
ca da matéria no REsp 1358281/SP e no REsp 1230957/RS, julgados sob
o regime do art. 543-C do CPC, cujas ementas transcrevo a seguir:
TRIBUTÁRIO – RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA –
ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ Nº 8/2008 – CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA – REGIME GERAL DE PREVI-
DÊNCIA SOCIAL – BASE DE CÁLCULO – ADICIONAIS NOTURNO, DE
PERICULOSIDADE E HORAS EXTRAS – NATUREZA REMUNERATÓRIA
– INCIDÊNCIA – PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMAS DA PRIMEIRA
SEÇÃO DO STJ – SÍNTESE DA CONTROVÉRSIA
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 167
1. Cuida-se de Recurso Especial submetido ao regime do art. 543-C do
CPC para definição do seguinte tema: “Incidência de contribuição previ-
denciária sobre as seguintes verbas trabalhistas: a) horas extras; b) adicio-
nal noturno; c) adicional de periculosidade.”

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA E BASE DE


CÁLCULO – NATUREZA REMUNERATÓRIA
2. Com base no quadro normativo que rege o tributo em questão, o STJ
consolidou firme jurisprudência no sentido de que não devem sofrer a in-
cidência de contribuição previdenciária “as importâncias pagas a título
de indenização, que não correspondam a serviços prestados nem a tem-
po à disposição do empregador” (REsp 1.230.957/RS, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, 1ª S., DJe 18.03.2014, submetido ao art. 543-C do CPC).
3. Por outro lado, se a verba possuir natureza remuneratória, destinando-
-se a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, ela deve integrar
a base de cálculo da contribuição.

ADICIONAIS NOTURNO, DE PERICULOSIDADE, HORAS EXTRAS –


INCIDÊNCIA
4. Os adicionais noturno e de periculosidade, as horas extras e seu res-
pectivo adicional constituem verbas de natureza remuneratória, razão
pela qual se sujeitam à incidência de contribuição previdenciária (AgRg-
-REsp 1.222.246/SC, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 17.12.2012;
AgRg-AREsp 69.958/DF, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., DJe 20.06.2012;
REsp 1.149.071/SC, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 22.09.2010;
Rel. Min. Ari Pargendler, 1ª T., DJe 09.04.2013; REsp 1.098.102/SC, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., DJe 17.06.2009; AgRg-Ag 1.330.045/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 25.11.2010; AgRg-REsp 1.290.401/RS;
REsp 486.697/PR, Relª Min. Denise Arruda, 1ª T., DJ 17.12.2004, p. 420;
AgRg-EDcl-REsp 1.098.218/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T.,
DJe 09.11.2009).
[...]
CONCLUSÃO
9. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ
nº 8/2008.
(REsp 1358281/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., Julgado em
23.04.2014, DJe 05.12.2014)
168 S����������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
PROCESSUAL CIVIL – RECURSOS ESPECIAIS – TRIBUTÁRIO – CONTRI-
BUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA – REGIME GERAL
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – DISCUSSÃO A RESPEITO DA INCIDÊNCIA
OU NÃO SOBRE AS SEGUINTES VERBAS – TERÇO CONSTITUCIONAL
DE FÉRIAS – SALÁRIO-MATERNIDADE – SALÁRIO-PATERNIDADE –
AVISO-PRÉVIO INDENIZADO – IMPORTÂNCIA PAGA NOS QUINZE
DIAS QUE ANTECEDEM O AUXÍLIO-DOENÇA – 1. Recurso especial de
Hidro Jet Equipamentos Hidráulicos Ltda.
1.1 Prescrição
O Supremo Tribunal Federal ao apreciar o RE 566.621/RS, Tribunal Ple-
no, Relª Min. Ellen Gracie, DJe de 11.10.2011), no regime dos arts. 543-A
e 543-B do CPC (repercussão geral), pacificou entendimento no sentido
de que, “reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da
LC 118/2005, considerando-se válida a aplicação do novo prazo de 5
anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis
de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005”. No âmbito des-
ta Corte, a questão em comento foi apreciada no REsp 1.269.570/MG
(1ª S., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 04.06.2012), subme-
tido ao regime do art. 543-C do CPC, ficando consignado que, “para as
ações ajuizadas a partir de 09.06.2005, aplica-se o art. 3º, da Lei Com-
plementar nº 118/2005, contando-se o prazo prescricional dos tributos
sujeitos a lançamento por homologação em cinco anos a partir do paga-
mento antecipado de que trata o art. 150, § 1º, do CTN”.
1.2 Terço constitucional de férias
No que se refere ao adicional de férias relativo às férias indenizadas, a
não incidência de contribuição previdenciária decorre de expressa pre-
visão legal (art. 28, § 9º, d, da Lei nº 8.212/1991 – redação dada pela Lei
nº 9.528/1997).
Em relação ao adicional de férias concernente às férias gozadas, tal im-
portância possui natureza indenizatória/compensatória, e não constitui
ganho habitual do empregado, razão pela qual sobre ela não é possível a
incidência de contribuição previdenciária (a cargo da empresa).
A Primeira Seção/STJ, no julgamento do AgRg-EREsp 957.719/SC (Rel.
Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 16.11.2010), ratificando entendimento
das Turmas de Direito Público deste Tribunal, adotou a seguinte orien-
tação: “Jurisprudência das Turmas que compõem a Primeira Seção desta
Corte consolidada no sentido de afastar a contribuição previdenciária do
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................... 169
terço de férias também de empregados celetistas contratados por empre-
sas privadas”.
[...]
3 Conclusão
Recurso especial de Hidro Jet Equipamentos Hidráulicos Ltda. parcial-
mente provido, apenas para afastar a incidência de contribuição previ-
denciária sobre o adicional de férias (terço constitucional) concernente
às férias gozadas.
Recurso especial da Fazenda Nacional não provido.
Acórdão sujeito ao regime previsto no art. 543-C do CPC, c/c a Resolu-
ção nº 8/2008 – Presidência/STJ.
(REsp 1230957/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 1ª S.,
J. 26.02.2014, DJe 18.03.2014)

Diante do exposto, dou parcial provimento ao agravo de instru-


mento, ratificando a liminar concedida na decisão de fls. 677/681, ape-
nas para reconhecer a incidência de contribuição previdenciária sobre o
adicional de horas extras.
É como voto.
Parte Geral – Ementário de Jurisprudência
1633 – Ação regressiva – pagamento de benefício decorrente de acidente de trabalho – nor-
mas de segurança – negligência do empregador – ressarcimento devido
“Civil e previdenciário. Ação regressiva. Pagamento de benefício decorrente de acidente de
trabalho. Normas de segurança. Negligência do empregador. Ressarcimento devido. 1. A teor
do art. 120 da Lei nº 8.213/1991, ‘nos casos de negligência quanto às normas padrão de se-
gurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, a Previdência
Social proporá ação regressiva contra os responsáveis’. 2. Hipótese em que os Laudos Téc-
nicos, os Autos de Infração e o Relatório de Análise de Acidente de Trabalho, elaborado por
Auditores Fiscais do Trabalho/PE, cuja presunção de veracidade e legitimidade não foi elidida
pelas empresas rés, demonstraram as circunstâncias fáticas do acidente que levou a óbito
o empregado, confirmando a negligência das demandadas quanto às normas de segurança
do trabalhador. 3. Apelações desprovidas.” (TRF 5ª R. – AC 0008398-03.2011.4.05.8300 –
(577200/PE) – 3ª T. – Relª Desª Fed. Conv. Joana Carolina Lins Pereira – DJe 13.04.2015 –
p. 24)
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 61, ementa 1338 do STJ e RSP nº 45, nov.-dez./2011, assunto especial
intitulado “Ação Regressiva”.

1634 – Aposentadoria – servidor municipal – tempo de contribuição – registro – legalidade


“Prev São José. Autarquia de previdência social dos servidores públicos do Município de São
José dos Pinhais. Aposentadoria por tempo de contribuição, com fulcro no art. 40, § 1º, III,
a da Constituição Federal. Legalidade e registro do ato concessório, com recomendação.”
(TCEPR – Proc. 132621/14 – (900/15) – Rel. Cons. Artagão de Mattos Leão – DJe 24.03.2015
– p. 11)
Transcrição Editorial SÍNTESE
Constituição Federal:
“Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime
de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo
ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão
aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos
§§ 3º e 17:
III – voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exer-
cício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria,
observadas as seguintes condições:
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e
cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher;”

1635 – Aposentadoria por idade – trabalhador rural – documentos novos – admissibilidade


“Ação rescisória. CPC, art. 485, inciso VII. Previdenciário. Aposentadoria por idade. Traba-
lhador rural. Documentos novos. Admissibilidade. Desconstituição do julgado. Comprovação
do exercício da atividade. Procedência do pedido formulado na demanda originária. Ter-
mo inicial. Valor do benefício. Correção monetária. Juros de mora. Honorários advocatícios.
I – Em razão das condições desiguais vivenciadas no campo, ao rurícola permite-se o manu-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 171
seio, como novos, de documentos preexistentes à propositura da demanda originária. Adoção
de solução pro misero. II – A utilização de certidões que poderiam ser obtidas à época dos
fatos e juntadas durante a instrução do processo em que proferido o julgado rescindendo,
encaixa-se nesse contexto de excepcionalidade próprio aos trabalhadores rurais a que se vem
reportando a jurisprudência. III – Certidões de nascimento e declaração eleitoral indicando a
profissão do autor como sendo a de lavrador prestam-se, na condição de documentos novos,
ao reconhecimento de sua condição de rurícola, sendo aptos, pois, à desconstituição do jul-
gado, servindo, também, como início razoável de prova material. IV – As testemunhas ouvidas
em Juízo foram unânimes em afirmar que o autor trabalhou na lavoura, pelo menos, nos úl-
timos 25 (vinte e cinco) contados da data da audiência (12.07.2011). A primeira testemunha
asseverou que o autor ‘[...] Sempre trabalhou na lavoura para Benedito e para André...’, sendo
que, nos últimos 06 anos, trabalhou apenas com verduras, na propriedade do depoente. Por
seu turno, a segunda testemunha assinalou que o autor plantava batata, feijão e milho, tendo
se mantido nesse cultivo até a data da audiência, nas terras de Antônio Nogueira. V – Da
análise dos depoimentos acima mencionados, verifica-se que não há contradições entre eles,
havendo, ainda, a indicação do tipo de cultivo desenvolvido, bem como dos nomes dos em-
pregadores, notadamente no período mais recente. Cabe ponderar, ainda, que o fato de as
testemunhas não mencionarem o trabalho urbano empreendido pelo autor não enfraquece o
teor dos depoimentos, uma vez que os vínculos empregatícios urbanos não foram extensos
(01.02.1989 a 21.08.1989; 21.03.1990 a 20.01.1992; 01.02.1994 a 17.01.1995; 01.04.1998
a 14.10.1998), de modo a prevalecer na memória das pessoas a atividade rural exercida. Ade-
mais, o último labor urbano durou apenas 06 meses, com cessação em 1998, ou seja, quase
13 anos da data da audiência, dificultando, assim, a lembrança dos fatos pelas testemunhas.
VI – A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias relativa à ativi-
dade rural exercida pela parte autora, na condição de empregado, cabia aos seus emprega-
dores, conforme sólida jurisprudência. VII – Havendo início de prova material corroborada
por prova testemunhal, impõe-se reconhecer que a parte autora comprovou o exercício de
atividade rurícola no período legalmente exigido, nos termos dos arts. 142 e 143, ambos da
Lei nº 8.213/1991, ou seja, por mais de 174 meses, considerado o ano em que implementou
o requisito etário (2010). VIII – O termo inicial do benefício deve ser fixado a partir da data
da citação na presente ação (03.02.2014), pois foi a partir deste momento que o réu tomou
ciência dos documentos novos carreados pela parte autora. IX – O valor do benefício deve
ser fixado em um salário mínimo. X – A correção monetária incide sobre as prestações em
atraso, desde as respectivas competências, na forma da legislação de regência, observando-
-se que a partir de 11.08.2006 deve ser considerado o INPC como índice de atualização dos
débitos previdenciários, nos termos do art. 31 da Lei nº 10.741/2003, c/c o art. 41-A da Lei
nº 8.213/1991, com a redação que lhe foi dada pela Medida Provisória nº 316, de 11 de agos-
to de 2006, posteriormente convertida na Lei nº 11.430, de 26.12.2006, não se aplicando no
que tange à correção monetária as disposições da Lei nº 11.960/09 (AgRg-REsp 1285274/CE;
REsp 1270439/PR). XI – Os juros de mora são aplicados na forma prevista no manual de
Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal. XII – A base de cálculo
dos honorários advocatícios corresponde às prestações vencidas até a data do presente julga-
mento, de acordo com o entendimento desta 3ª Seção, fixando-se o percentual em 15%, nos
termos do art. 20, § 4º, do CPC.” (TRF 3ª R. – AR 0030799-50.2013.4.03.0000/SP – 3ª S. – Rel.
p/o Ac. Des. Fed. Sergio Nascimento – DJe 09.04.2015 – p. 80)
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 63, nov.-dez./2014, ementa nº 1473 do TRF 2ª R. e RSP nº 54, maio-
-jun./2013, ementa nº 838 do TRF 4ª R.
172 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
1636 – Aposentadoria por idade rural – não comprovação dos requisitos – ausência de iní-
cio razoável de prova material – pagamento indevido
“Previdenciário. Pedido de concessão de aposentadoria por idade rural. Não comprovação
dos requisitos. Ausência de início razoável de prova material contemporânea. Provimento
da apelação e da remessa necessária. 1. A hipótese é de remessa necessária e de apelação
em face de sentença pela qual se julgou procedente o pedido de concessão de aposenta-
doria por idade rural. 2. A aposentadoria por idade, no que tange ao exercício de atividade
rural, encontra-se disciplinada nos arts. 11, 48, §§ 2º e 3º, 55, § 3º, 106, 142 e 143 da Lei
nº 8.213/1991 e, ainda, no art. 201, § 7º, II da CF/1988, tendo como pressupostos a exigência
de que o labor rural tenha sido exercido em período imediatamente anterior ao requerimento
do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência
do benefício, além da idade de 60 anos para o homem e 55 para a mulher, mediante início de
prova material contemporânea aos fatos. 3. Embora a relação dos documentos mencionados
no art. 106 da Lei nº 8.213/1991 não seja exaustiva, admitindo-se documentos similares para
tal desiderato, inclusive a certidão de casamento que é reconhecida pela jurisprudência como
início razoável de prova documental, é imprescindível que a prova acostada aos autos seja ca-
paz de produzir a presunção do exercício de atividade rural e que a mesma seja corroborada
e não conflite com os demais documentos, inclusive os depoimentos prestados em juízo, sob
pena de não ficar demonstrado o fato constitutivo do alegado direito. 4. No caso, observa-se
que a autora não anexou à petição inicial qualquer documento de cunho material quanto à
atividade que alega ter exercido, visto que as declarações acostadas não se prestam a tal com-
provação, e nem mesmo documento de identificação que permita verificar, com segurança,
as assinaturas constantes nos contratos de parceria e, ainda, se a mesma preenche ou não o
requisito etário, visto que o resumo de cálculo de tempo de contribuição de fl. 24 que infor-
ma a data do nascimento em 13.03.1958 e do requerimento administrativo em 05.04.2013,
deveria encontrar algum suporte nos autos, em pelo menos um documento de identificação
da mesma, o que não ocorre. 5. Por outro lado, ainda que se admita o exercício da atividade
rural em períodos descontínuos, desde que comprovado tempo igual ou maior ao número de
contribuições que seriam necessárias à satisfação da carência, no período imediatamente an-
terior ao requerimento administrativo, bem como a prestação de serviço urbano em períodos
esporádicos para complementação da renda familiar, o que se extrai do CNIS acostado aos
autos é que a autora teve vários vínculos empregatícios como doméstica, além de trabalhado
na Usina Paineiras Sociedade Anônima, informações que estão claramente em confronto com
os depoimentos das testemunhas que afirmam que a autora sempre trabalhou na roça. 6. Hi-
pótese em que a autora não logrou se desincumbir do ônus processual previsto no art. 333, I,
do CPC, devendo, portanto, ser reformada a sentença, e julgado improcedente o pedido, com
inversão do ônus de sucumbência, observado o art. 12 da Lei nº 1.060/1950. 7. Apelação e
remessa oficial conhecidas e providas.” (TRF 2ª R. – AC 2014.02.01.008913-0 – (627672) –
1ª T.Esp. – Rel. Juiz Fed. Conv. Flavio Oliveira Lucas – DJe 05.02.2015 – p. 129)
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 63, nov.-dez./2014, ementa nº 1473 do TRF 2ª R. e RSP nº 54, maio-
-jun./2013, ementa nº 838 do TRF 4ª R.

1637 – Aposentadoria por invalidez – adicional de 25% – impossibilidade


“Previdenciário. Concessão do adicional de 25% previsto no art. 45 da Lei nº 8.213/1991 so-
bre o benefício de aposentadoria por idade. Impossibilidade. 1. O art. 45 da Lei nº 8.213/1991
é específico àqueles casos de aposentadoria por invalidez e desde que o segurado comprove
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 173
a necessidade de assistência permanente de outra pessoa. 2. A extensão do benefício a casos
outros que não a aposentadoria por invalidez viola os princípios da legalidade (art. 5º, II e
37, caput, da Constituição da República) e da contrapartida (art. 195, § 5º, da Constituição
Federal). Somente com a alteração da norma ou com a criação de igual norma legal poder-
-se-á estender o acréscimo para outros portadores de igual necessidade. Precedente da Ter-
ceira Seção do TRF da 4ª Região (EIAC 0017373-51.2012.404.9999/RS, J. 24.07.2014, DE
22.08.2014).” (TRF 4ª R. – AC 0020548-82.2014.404.9999/RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Celso
Kipper – DJe 10.02.2015 – p. 39)
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 55, jul.-ago./2013, ementa nº 932 do TRF 4ª R.

Comentário Editorial SÍNTESE


Cuida o acórdão em estudo da concessão da aposentadoria por invalidez e o pagamento
do adicional de 25% para assistência permanente de outra pessoa.
O art. 42 da Lei nº 8.213/1991:
“Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carên-
cia exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for
considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe
garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.
§ 1º A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição
de incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, poden-
do o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.
§ 2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de
Previdência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando
a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou
lesão.
Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da cessa-
ção do auxílio-doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo.
§ 1º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e definitiva
para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida:
a) segurado empregado, a partir do trigésimo primeiro dia do afastamento da atividade
ou a partir da data de entrada do requerimento, se entre o afastamento e a data de entra-
da do requerimento decorrerem mais de quarenta e cinco dias; (Redação dada à alínea
pela Medida Provisória nº 664, de 30.12.2014, DOU – Ed. Extra de 30.12.2014, com
efeitos a partir do primeiro dia do terceiro mês subsequente ao de sua publicação)
b) segurado empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual, especial
e facultativo, a contar da data do início da incapacidade ou da data da entrada do re-
querimento, se entre essas datas decorrerem mais de trinta dias. (NR) (Redação dada à
alínea pela Lei nº 9.876, de 26.11.1999, DOU 29.11.1999)
§ 2º Durante os primeiros trinta dias de afastamento da atividade por motivo de invali-
dez, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. (Redação
dada ao parágrafo pela Medida Provisória nº 664, de 30.12.2014, DOU – Ed. Extra de
30.12.2014, com efeitos a partir do primeiro dia do terceiro mês subsequente ao de
sua publicação)
[...]
Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistên-
cia permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).
Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal;
174 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da pensão.
Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.
A aposentadoria por invalidez é um benefício de prestação continuada que pode ser
comum ou acidentária, devida aos segurados que fazem parte do rol dos segurados
obrigatórios, bem como ao facultativo, que contribui voluntariamente, e ao trabalhador
rural, que não verteu contribuição aos cofres públicos.
[...]
O art. 42 da Lei nº 8.213/1991 expõe o conceito legal de invalidez como aquele que
for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação profissional para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência. Esse benefício só será devido se e enquanto o
beneficiário permanecer na condição de inválido.
A lei considera incapaz aquele que, por causa da doença, do defeito físico ou mental, se
encontra na absoluta e permanente impossibilidade de desenvolver qualquer trabalho.
Porém, a incapacidade deve ser permanente e substancial, vez que insusceptível de
reabilitação para qualquer trabalho que garanta a sobrevivência.
Nota-se que a incapacidade está ligada ao trabalho que garanta a sobrevivência do
beneficiário; portanto, não é para qualquer trabalho apenas, porque, se o incapaz conse-
gue com esforço trabalhar, mas se mantém em estado de necessidade social, perpetua-
-se a contingência que desencadeou a percepção ao benefício.
Desse modo, a aferição da incapacidade deve ser para exercer uma atividade que lhe
garanta a sobrevivência digna, buscando analisar se seria factível o reingresso do benefi-
ciário ao mercado de trabalho, tendo-se em mira sua aptidão física e mental, atentando-
-se para o princípio da dignidade da pessoa humana.
A incapacidade total pressupõe a impossibilidade de retornar ao trabalho. Sendo a in-
capacidade parcial, há dispositivo expresso na lei que o indivíduo deverá ser reabilitado
para exercer outra função, sendo-lhe devido, nesse caso, outro benefício, i.e., o auxílio-
-acidente.
Em sendo viável a reabilitação, deverá ser iniciado um tratamento médico, exceto cirur-
gias ou transfusão sanguínea. Em não atentando, o beneficiário, para essa determina-
ção, o benefício será suspenso.
É a idéia de impossibilidade de trabalho e de necessidade que gera o direito à percepção
ao benefício; portanto, se o segurado pode ser reabilitado, havendo a possibilidade de
retorno ao mercado de trabalho, deve ele se sujeitar a tratamento, sob pena de perder
o benefício. Isso é consentâneo com o espírito da Previdência Social, pois as contingên-
cias devem ser minoradas para que a sociedade não arque com o pagamento de um
benefício desnecessário.
Assim, também, aquele que tem mais de uma atividade e se incapacita para apenas
uma delas não terá direito à aposentadoria por invalidez, perpetuando-se o auxílio-
-doença até que a enfermidade o atinja por completo ou que recupere a capacidade.
Há um diferenciador entre a aposentadoria por invalidez decorrente de acidente ou
doença do trabalho daquela decorrente de doença comum. Nesse último caso, é exigida
carência de doze contribuições para o sistema.” (A aposentadoria por invalidez e o tra-
tamento diferenciado da Lei nº 10.666/2003. Disponível em: http://online.sintese.com.
Acesso em: 6 mar. 2015)

1638 – Aposentadoria por invalidez – perda da qualidade de segurado – benefício indevido


“Previdenciário. Recurso especial. Aposentadoria por invalidez. Perda da qualidade de segu-
rado. Beneficio indevido. Recurso desprovido. 1. Dispõe a Lei nº 8.213/1991 que, ‘havendo
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 175
perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa data só serão computadas
para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência
Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de contribuições exigidas para o cum-
primento da carência definida para o benefício a ser requerido’ (art. 24, parágrafo único).
Salvo ‘quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa
doença ou lesão’ (art. 42, § 2º), a regra não se aplica à aposentadoria por invalidez se a do-
ença ou lesão incapacitante for anterior à data da filiação do segurado à Previdência Social.
Comprovado que a incapacidade do demandante é ‘muito posterior ao fim de seu vínculo
previdenciário, o reconhecimento da perda da qualidade de segurado e, consequentemente,
o indeferimento do pedido de acidentário é medida que se impõe’ (AgRg-REsp 1.245.217/SP,
Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T., julgado em 12.06.2012; REsp 826.555/SP, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, 5ª T., J. 19.03.2009). Ademais, resolvido o litígio à luz da premissa de que o
autor não faz jus à aposentadoria por invalidez porque não demonstrada a manutenção da
sua qualidade de segurado, não pode ser conhecido o recurso especial, pois a pretensão
demanda exclusivamente o reexame de provas (AgRg-REsp 1.480.768/SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, 1ª T., Julgado em 21.10.2014; AgRg-AREsp 555.416/SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
2ª T., Julgado em 11.11.2014; AgRg-AREsp 440.749/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
2ª T., Julgado em 20.03.2014). E como é cediço, ‘os Tribunais Superiores resolvem questões
de direito e não questões de fato e prova’ (STF, RHC 113.314/SP, Relª Min. Rosa Weber,
Julgado em 11.09.2012; Súmula nº 7/STJ; Súmula nº 279/STF). 2. Recurso especial despro-
vido.” (STJ – REsp 1.276.990 – (2011/0171706-4) – 5ª T. – Rel. Min. Newton Trisotto –
DJe 20.04.2015 – p. 1091)

1639 – Aposentadoria por invalidez – requisitos – qualidade de segurado – carência –


efeitos
“Previdenciário. Auxílio-doença. Aposentadoria por invalidez. Requisitos. Qualidade de se-
gurado. Carência. Incapacidade. Laudo pericial. Consectários. Honorários advocatícios. Ho-
norários. Custas. Implantação do benefício. 1. São três os requisitos para a concessão dos
benefícios por incapacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do período de ca-
rência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter permanente
(aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio-doença). 2. A concessão dos benefícios
de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez pressupõe a averiguação da incapacidade
para o exercício de atividade que garanta a subsistência do segurado, e terá vigência enquanto
permanecer ele nessa condição. 3. A incapacidade é verificada mediante exame médico-peri-
cial a cargo da Previdência Social ou realizado por perito nomeado pelo juízo; o julgador, via
de regra, firma sua convicção com base no laudo do expert, embora não esteja jungido à sua
literalidade, sendo-lhe facultada ampla e livre avaliação da prova. 4. No caso dos autos, da
análise do laudo pericial conclui-se que a parte autora possuiu incapacidade total e temporá-
ria para o trabalho, sendo devida a concessão do benefício de auxílio-doença. 5. Declarada
pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com
a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os consectários legais comportam a incidência de
juros moratórios equivalentes aos índices oficiais de juros aplicáveis à caderneta de poupança
(STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª S., Rel. Min. Castro Meira, 26.06.2013) e correção monetária pelo
INPC e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência. 6. Honorários advocatícios
devidos pelo INSS em 10% sobre o valor total das parcelas vencidas até a data da sentença.
7. Havendo o feito tramitado perante a Justiça Estadual de Santa Catarina, deve a autarquia
responder por metade das custas devidas, consoante a Lei Complementar nº 156/1997 desse
Estado, na redação dada pela Lei Complementar nº 161/1997. 8. O cumprimento imediato
176 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
da tutela específica, diversamente do que ocorre no tocante à antecipação de tutela prevista
no art. 273 do CPC, independe de requerimento expresso por parte do segurado ou benefi­
ciário e o seu deferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no
art. 461 do CPC.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0023986-19.2014.404.9999/SC – 5ª T. – Rel. Des. Fed.
Luiz Carlos de Castro Lugon – DJe 14.04.2015 – p. 26)

1640 – Aposentadoria por invalidez – requisitos legais – observação


“Apelação cível. Direito previdenciário. Aposentadoria por invalidez. Presentes os requisitos
legais. Redução da verba de sucumbência. Recurso e remessa parcialmente providos. O segura-
do faz jus à concessão do benefício de aposentadoria por invalidez, bem como o recebimento
dos valores atrasados referentes ao benefício de auxílio-doença, suspenso desde 30.11.2009,
acrescidos de juros de mora e correção monetária, desde quando devida cada parcela. Fixação
da verba de sucumbência em 5% na forma do Enunciado nº 33 da Súmula desta Corte Regio-
nal. Recurso e remessa parcialmente providos.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2014.02.01.008550-1 –
2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Messod Azulay Neto – DJe 05.03.2015 – p. 117)

1641 – Aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença – laudo pericial – desnecessidade


“Previdenciário. Agravo legal. Art. 557 do CPC. Aposentadoria por invalidez ou auxílio-do-
ença. Arts. 42 a 47 e 59 a 62 da Lei nº 8.213, de 24.07.1991. Cerceamento de defesa não
configurado. Desnecessidade da realização de audiência de instrução e julgamento. Desne-
cessidade de novo laudo pericial. Ausência de incapacidade laborativa. Agravo desprovido.
Nos casos em que está configurada uma incapacidade laboral de índole total e permanente,
o segurado faz jus à percepção da aposentadoria por invalidez. Trata-se de benefício previsto
nos arts. 42 a 47, todos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Além da incapacidade plena
e definitiva, os dispositivos em questão exigem o cumprimento de outros requisitos, quais
sejam: a) cumprimento da carência mínima de doze meses para obtenção do benefício, à
exceção das hipóteses previstas no art. 151 da lei em epígrafe; b) qualidade de segurado da
Previdência Social à época do início da incapacidade ou, então, a demonstração de que dei-
xou de contribuir ao RGPS em decorrência dos problemas de saúde que o incapacitaram. Não
se afigura indispensável, na espécie, a realização da audiência de instrução e julgamento,
diante da elaboração de nova perícia médica judicial. Aliás, nos termos do art. 42, § 1º, da Lei
nº 8.213/1991, a verificação da condição de incapacidade ao trabalho, para efeito de obten-
ção de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença, deve ocorrer, necessariamente, por
meio de perícia médica, sendo, portanto, desnecessária a realização de prova testemunhal.
Não há que se falar em realização de mais um exame pericial. Nesse ponto, cumpre esclare-
cer que o art. 437 do Código de Processo Civil apenas menciona a possibilidade de realização
de nova perícia nas hipóteses em que a matéria não estiver suficientemente esclarecida no pri-
meiro laudo. Em tais oportunidades, por certo o próprio perito judicial. Médico de confiança
do Juízo suscitaria tal circunstância, sugerindo Parecer de profissional especializado. O laudo
pericial afirma que o autor apresenta hipertensão arterial, a qual, por si só, não causa incapaci-
dade para o trabalho, sendo que esta incapacidade pode advir de eventuais complicações da
patologia referida, como o AVC, ausentes no presente caso. Afirma, ainda, que não há doença
psiquiátrica incapacitante, visto que o apelante está com tratamento estabilizado, com inicia-
tiva e pragmatismo preservados. Por fim, relata que apresenta próstata aumentada nos seus
exames, mas está em acompanhamento médico, sem sinais de incapacidade por este motivo.
Assim, após exame físico criterioso das patologias mencionadas e análise da documentação
juntada aos autos, conclui que seu quadro clínico não lhe provoca incapacidade laborativa.
Agravo legal a que se nega provimento.” (TRF 3ª R. – Ag-AC 0014187-76.2014.4.03.9999/SP
– 7ª T. – Rel. Des. Fed. Fausto de Sanctis – DJe 20.02.2015 – p. 1711)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 177
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 60, maio-jun./2014, ementa nº 1292 do TNU.

1642 – Aposentadoria por tempo de contribuição – benefício posteriormente concedido no


curso da ação – perda parcial do objeto – perda parcial do objeto – recurso provido
em parte no que se refere ao pagamento das parcelas pretéritas desde a data do
requerimento administrativo
“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Benefício posteriormente con-
cedido no curso da ação. Perda parcial do objeto. Recurso provido em parte no que se re-
fere ao pagamento das parcelas pretéritas desde a data do requerimento administrativo. 1. A
parte autora, durante o curso da presente ação, formulou novo requerimento administrativo
e obteve a concessão de aposentadoria por idade rural, ainda em 22.07.2011(fl. 280). 2. O
interesse de agir do demandante, se materializa, não somente na utilidade, mas, sobretudo, na
necessidade do processo para a obtenção da proteção do interesse judicial. Tal necessidade
não mais existe, quanto à implantação do benefício, já que a pretensão deduzida restou al-
cançada extrajudicialmente. 3. Porém, não é exato dizer que houve integral reconhecimento
jurídico do pedido, já que o que, quanto às parcelas atrasadas, compreendidas entre a data
do primeiro requerimento administrativo em 25.05.2007 (fl. 280) e a data da concessão ad-
ministrativa em 22.07.2011 (fl. 280), o INSS não admitiu o seu pagamento. Assim, remanesce
interesse de agir quanto a esse ponto. 4. É certo que cabe ao juiz tomar em consideração fatos
supervenientes, que tenham influência sobre o deslinde da causa (CPC, art. 462), mas para
que haja reconhecimento jurídico do pedido, suscetível de sentença homologatória, é pre-
ciso que a manifestação do réu seja inequívoca de aceitação da pretensão inicial, conforme
deduzida, não bastando o mero reconhecimento de parcela dessa pretensão. Em tais casos,
a perda de parte do objeto da pretensão deve ser levada em conta na prolação da sentença,
mas não caracteriza situação que permita a simples homologação, pois resta interesse de agir
quanto à parte do pedido não reconhecida. 5. No caso dos autos, conforme bem expressou
o despacho de fl. 260, há comprovação de tempo especial quanto ao período 10.11.1979 a
05.03.1997 (fls. 16/64), totalizando 24 anos e 3 meses de tempo de serviço/contribuição (já
considerado o acréscimo de 40% do tempo especial). Acresça-se o tempo comum discrimi-
nado à fl. 272 e então se chega a um tempo total de 34 anos, 5 meses e 20 dias de serviço/
contribuição, até 25.05.2007, o que enseja a concessão de aposentadoria por tempo de con-
tribuição proporcional, com coeficiente de 90% do salário-de-benefício. 6. Ante o exposto,
dou provimento parcial ao recurso, para o fim de condenar o INSS a conceder o benefício
de aposentadoria por tempo de contribuição proporcional, com coeficiente de 90% do SB,
a partir de 25.05.2007 (DIB), tudo nos termos dos cálculos da Contadoria Judicial (fl. 272),
abatidos, a partir de 22.07.2011, os valores pagos por força do deferimento administrativo de
aposentadoria (NB 1564175267) o qual deverá ser cessado tão logo implantado o benefício
ora deferido e atualizados os valores conforme Manual de Cálculos da Justiça Federal. 7. Sem
honorários advocatícios.” (TRF 1ª R. – Proc. 2008.40.00.7000014-4 – Rel. Juiz Fed. Nazareno
César Moreira Rêis – DJe 30.01.2015 – p. 1085)

1643 – Aposentadoria por tempo de serviço especial – eletricidade – configuração – termo


inicial
“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço. Atividade especial. Eletricidade. Expo-
sição a agente nocivo demonstrada parcialmente. Requisitos preenchidos para a concessão
do benefício. Termo inicial. Correção monetária. Juros de mora. Custas. Verba honorária.
178 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
Pedido de cômputo do tempo de serviço laborado em atividade especial de 01.12.1982 a
31.12.1993 para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Quanto ao pe-
ríodo de 01.12.1982 a 31.12.1993, em que o autor laborou como instalador e reparador
de linhas e aparelhos, o formulário informa a exposição a tensão elétrica superior a 250
volts. A legislação vigente à época em que o trabalho foi prestado, em especial, o Decreto
nº 53.831/1964 no item 1.1.8, contemplava as operações em locais com eletricidade em con-
dições de perigo de vida e em instalações elétricas ou equipamentos com riscos de acidentes.
A Lei nº 7.369/1985, regulamentada pelo Decreto nº 93.412/1986, apontou a periculosidade
das atividades de construção, operação e manutenção de redes e linhas aéreas de alta e baixa
tensões integrantes de sistemas elétricos de potência, energizadas, mas com possibilidade de
energização, acidental ou por falha operacional. Preenchidos os requisitos para a aposen-
tação, tendo em vista que perfez até 18.04.2005, data do requerimento administrativo, 35
anos, 08 meses e 01 dia de serviço, sendo que, pelas regras permanentes estatuídas no artigo
201, § 7º, da CF/1988, deveria cumprir, pelo menos, 35 (trinta e cinco) anos de contribuição.
Termo inicial do benefício fixado na data do requerimento administrativo em 18.04.2005.
Correção monetária e os juros moratórios incidirão nos termos do Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal em vigor. Juros moratórios serão devidos
a contar da citação e até a data da conta de liquidação que deu origem ao precatório ou à
Requisição de Pequeno Valor – RPV. Autarquias Federais são isentas de custas, cabendo so-
mente quando em reembolso. Remessa oficial e apelação parcialmente providas.” (TRF 3ª R.
– Ap-RN 0001025-94.2006.4.03.6183/SP – 8ª T. – Relª p/o Ac. Desª Fed. Tânia Marangoni –
DJe 13.03.2015 – p. 2237)

1644 – Aposentadoria por tempo de serviço especial – requisitos preenchidos – comprova-


ção – pagamento devido
“Direito previdenciário. Agravo legal. Art. 557, CPC. Aposentadoria por tempo de serviço/
contribuição. Requisitos preenchidos. Atividade especial comprovada. Juros de mora. Hono-
rários advocatícios. Agravos improvidos. 1. A decisão agravada está em consonância com o
disposto no art. 557 do CPC, visto que supedaneada em jurisprudência consolidada do C. STJ
e desta E. Corte. 2. O uso de equipamento de proteção individual não descaracteriza a nature-
za especial da atividade a ser considerada, uma vez que tal tipo de equipamento não elimina
os agentes nocivos à saúde que atingem o segurado em seu ambiente de trabalho, mas somen-
te reduz seus efeitos. Nesse sentido, precedentes desta E. Corte (AC 2000.03.99.031362-0/SP,
1ª T., Rel. Des. Fed. André Nekatschalow, v.u., J. 19.08.2002, DJU 18.11.2002) e do Colendo
Superior Tribunal de Justiça: REsp 584.859/ES, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª T., Julgado
em 18.08.2005, DJ 05.09.2005, p. 458). 3. No tocante aos juros e à correção monetária,
note-se que suas incidências são de trato sucessivo e, observados os termos do art. 293 e do
art. 462 do CPC, devem ser considerados no julgamento do feito. Assim, corrigem-se as parce-
las vencidas na forma do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal e ainda de acordo com a Súmula nº 148 do E. STJ e nº 08 desta Corte. 4. Quanto aos
juros moratórios, incidem à taxa de 1% (um por cento) ao mês, nos termos do art. 406 do Có-
digo Civil, e art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional; e, a partir de 30.06.2009, incidirão
de uma única vez e pelo mesmo percentual aplicado à caderneta de poupança (0,5%), conso-
ante o preconizado na Lei nº 11.960/2009, art. 5º. Adite-se que a fluência respectiva dar-se-á
de forma decrescente, a partir da citação, termo inicial da mora autárquica (art. 219 do CPC),
até a data de elaboração da conta de liquidação. 5. A verba honorária de sucumbência deve
ser mantida em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, conforme entendimento
desta Turma (art. 20, § 3º, do CPC), aplicada a Súmula nº 111 do C. Superior Tribunal de
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 179
Justiça, segundo a qual os honorários advocatícios, nas ações de cunho previdenciário, não
incidem sobre o valor das prestações vencidas após a data da prolação da sentença. 6. As
razões recursais não contrapõem tais fundamentos a ponto de demonstrar o desacerto do
decisum, limitando-se a reproduzir argumento visando à rediscussão da matéria nele contida.
7. Agravos legais improvidos.” (TRF 3ª R. – Ag-Ap-RN 0000564-30.2003.4.03.6183/SP – 7ª T.
– Rel. Des. Fed. Toru Yamamoto – DJe 31.03.2015 – p. 1690)

1645 – Atleta profissional – lesão no joelho esquerdo – déficit funcional parcial e liame
ocupacional – auxílio-acidente – pagamento devido
“Acidentária. Atleta profissional. Lesão no joelho esquerdo. Déficit funcional parcial e liame
ocupacional reconhecidos tecnicamente. Auxílio-acidente devido. ‘Incontroversos o nexo
causal laboral e a lesão no joelho esquerdo, bem como reconhecido pela perícia médica o
prejuízo funcional decorrente das sequelas dela advindas, de rigor a concessão do auxílio-
-acidente com início a partir da juntada do laudo pericial, observadas a Lei da época e a
prescrição quinquenal. Os valores em atraso serão apurados na forma da Lei nº 8.213/1991
com atua­ lização pelo IGP-DI e acrescidos de juros de mora (estes à base mensal Lei
nº 11.960/2009), adequando-se, no que couber, a modulação que advier do Supremo Tri-
bunal Federal por força do julgamento da ADI 4.357. A renda mensal a ser implantada será
reajustada pelos índices de manutenção’.” (TJSP – Ap 0054260-48.2012.8.26.0053 – São
Paulo – 16ª CDPúb. – Rel. Luiz de Lorenzi – DJe 23.03.2015 – p. 1834)

1646 – Auxílio-acidente não decorrente do trabalho – requisitos preenchidos – termo


inicial

“Previdenciário. Auxílio-acidente não decorrente de relação de trabalho. Art. 86 da Lei


nº 8.213/1991. Requisitos preenchidos. Termo inicial do benefício. Honorários advocatícios.
1. A questão que se apresenta para deslinde diz respeito ao direito da parte autora à percepção
de auxílio-acidente, com efeitos retroativos à data do requerimento administrativo. 2. O auxí-
lio-acidente, concedido a título de indenização no importe de 50% do salário-de-benefício,
será devido ao segurado que, antes de consolidadas as lesões provenientes de acidente de
qualquer natureza, tiver reduzida a sua capacidade para desempenhar as atividades que habi-
tualmente exercia, sendo possível a sua reabilitação em outra profissão. Inteligência do art. 86
da Lei nº 8.213/1991. 2. O trabalhador rural, na qualidade de segurado especial, pode receber
o benefício de auxílio-acidente previsto no art. 86 da Lei nº 8.213/1991, independentemente
de carência, nos termos do § 1º do art. 18 c/c art. 26, I, deste diploma legal, estando, portanto,
dispensado do recolhimento das contribuições. 3. Incontestada a condição do rurícola da
parte demandante. 4. Presentes os requisitos exigidos para a concessão do auxílio-acidente.
Conforme se extrai da perícia médica judicial, restou demonstrada a ocorrência de acidente
de qualquer natureza, pois a parte demandante apresenta sequelas funcionais e estéticas de-
correntes de queimaduras de terceiro grau sem relação com o trabalho, as quais a incapacitam
parcialmente para o labor agrícola, sendo atestada a possibilidade de sua reabilitação em
outra atividade profissional. 6. Em sendo consignado na sentença ser a data da juntada do
laudo pericial o termo inicial do benefício, carece o INSS de interesse de recorrer neste ponto.
7. Direito reconhecido à concessão do auxílio-acidente, desde a data de juntada da perícia
judicial, com a incidência de juros de mora e correção monetária. 8. Conforme diversos pre-
cedentes deste Tribunal, a verba honorária resta fixada em 10% (dez por cento) sobre o valor
da condenação, conforme o § 4º do art. 20 do CPC, devendo ser observado o teor da Súmula
180 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
nº 111 do Superior Tribunal de Justiça, afastando as parcelas posteriores à prolação da sen-
tença. Apelação desprovida.” (TRF 5ª R. – AC 0002967-27.2014.4.05.9999 – (572923/PB) –
1ª T. – Rel. Des. Fed. José Maria de Oliveira Lucena – DJe 20.02.2015 – p. 43)

1647 – Auxílio-doença – demora na concessão – prescrição – inocorrência – dano moral –


não configuração
“Direito processual civil. Administrativo. INSS. Demora. Implantação de auxílio-doença.
Prescrição inexistente. Dano moral. Recurso desprovido. 1. Consolidada a jurisprudência
no sentido de que o prazo de prescrição, em casos como o presente, rege-se pelo Decreto
nº 20.910/1932 e não pela legislação civil, fixando-se o termo inicial na data em que do fato
ou ato que originou a lesão cuja reparação é postulada. 2. Caso em que consta que o autor
formulou pedido inicial de concessão do benefício previdenciário em 03.02.2006, que foi
indeferido e resultou em pedido de reconsideração, em 20.04.2006, tendo sido negado em
21.08.2006, porém houve recurso à Junta de Recursos da Previdência Social em 06.07.2006,
julgado procedente em 19.11.2009, com início dos pagamentos em 08.12.2009. 3. A demora
ocorreu em data posterior ao protocolo do pedido, sendo que consta dos autos que o autor
teve conhecimento do indeferimento administrativo e pediu reconsideração em 20.04.2006,
não se consumando, portanto, a prescrição, vez que ajuizada a ação em 31.03.2011, dentro
do prazo prescricional de cinco anos do Decreto nº 20.910/1932. 4. No mérito, a ação de
indenização por danos morais foi fundada na alegação de demora do INSS em conceder o be-
nefício de auxílio-doença, já que o pedido foi protocolado em 03.02.2006 e o primeiro paga-
mento apenas foi liberado em 08.12.2009, verificando-se que houve tramitação do pedido de
forma a descaracterizar o funcionamento normal da atividade administrativa, com oneração
excessiva do administrado pelo tempo decorrido para mera análise de benefício previdenciá-
rio, cuja natureza denota urgência e necessidade, porquanto portava o autor, segundo docu-
mentado, doença incapacitante que, não obstante já documentada desde 01.07.2004, somen-
te gerou o acolhimento do requerimento administrativo mais de 3 anos depois do protocolo
inicial, com implantação e pagamento posterior. 5. A jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça reconhece configurado o dever de indenizar, porquanto imposto ao segurado não pra-
zo razoável, mas excessivo para concessão de benefício previdenciário, sendo dele exigido
subsistência com sacrifício à saúde e com privações pela supressão indevida da verba alimen-
tar. 6. Caso em que o autor, ao tempo do pleito administrativo, em 03.02.2006, já contava
com quase 58 anos de idade, exercendo a atividade de pedreiro, potencializando os efeitos
da expressiva e injustificada demora administrativa, de mais de 3 anos, no exame do pedido
de concessão de auxílio-doença, causando dano indenizável à luz da jurisprudência firmada.
7. Quanto ao valor fixado, a título de dano moral e consectários, não se verifica qualquer ile-
galidade ou exorbitância, pois arbitrada a indenização em R$ 5.000,00, em consonância com
precedentes da Turma, com juros de mora a partir do evento danoso (15.08.2006), e correção
monetária desde o arbitramento (Súmulas nºs 54 e 362/STJ), além de verba honorária de 10%
sobre o valor da condenação. 8. Os índices de juros de mora e de correção monetária devem
ser aplicados de acordo com o decidido pela Suprema Corte, nas ADIs 4.357 e 4.425, consi-
derada a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, conforme questão de
ordem decidida em 25.03.2015, a impedir, portanto, a pretensão de aplicação, no caso, do
art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, como pretendido pelo INSS, na apelação interposta. 9. Agravo
inominado desprovido.” (TRF 3ª R. – Ag-AC 0002884-70.2011.4.03.6119/SP – 3ª T. – Rel.
Des. Fed. Carlos Muta – DJe 14.04.2015 – p. 517)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 181
1648 – Auxílio-doença – laudo pericial do juízo que não atesta a incapacidade laborativa
temporária – suspensão
“Previdenciário. Auxílio-doença. Art. 59 da Lei nº 8.213/1991. Benefício suspenso. Laudo
pericial do juízo não atesta a incapacidade laborativa temporária. Sem impugnação da parte
autora. Benefício não restabelecido. Nos termos do art. 59 da Lei nº 8.213/1991, o auxílio-
-doença é devido ao segurado que, tendo cumprido, quando for o caso, período de carência,
ficar incapacitado para o trabalho ou para atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias
consecutivos, devendo ser concedido por motivo de incapacidade provisória. No caso con-
creto, a perícia realizada pela autarquia em agosto de 2011, bem como a realizada por perito
judicial em setembro de 2013, constataram que o autor encontra-se apto para o exercício de
atividade laborativa. As conclusões técnicas demonstram que o autor não preenche o prin-
cipal requisito para a concessão do benefício de auxílio-doença, qual seja, a incapacidade
provisória para o desempenho da atividade habitualmente exercida pelo segurado. Não tendo
havido impugnação ao laudo judicial, produzido sob o contraditório e de acordo com as re-
gras processuais, deve seu resultado ser prestigiado pelo Poder Judiciário. Negado provimento
à apelação.” (TRF 2ª R. – AC 2014.02.01.008899-0 – (627645) – 2ª T.Esp. – Relª Simone
Schreiber – DJe 03.03.2015 – p. 140)

1649 – Auxílio-doença – requerimento administrativo – data do requerimento ou da cessão


do benefício – observação
“Previdenciário. Art. 543-C, § 7º, II do CPC. REsp 1.369.165/SP. Representativo de contro-
vérsia. Auxílio-doença. Termo inicial. Data da citação. Requerimento administrativo. Data
da cessação ou indeferimento do benefício. Reconsideração do v. acórdão para negar segui-
mento a apelação do INSS. 1. Na hipótese em que a aposentadoria por invalidez é requerida
apenas na via judicial, sem o prévio pedido administrativo, é no momento da citação válida
que o réu tem ciência do pleito do autor, sendo constituída a mora, consoante disposto no
caput do art. 219 do CPC, devendo, portanto, em regra, ser tomado como o termo a quo
da implantação do benefício. 2. Não obstante, havendo requerimento administrativo, o ter-
mo inicial do benefício será fixado na data do requerimento ou da cessação do benefício.
3. Afasta-se, assim, a possibilidade de fixação do início do gozo do benefício na data em que
realizado o laudo pericial judicial que constata a incapacidade, eis que tal ato constitui ape-
nas prova produzida em juízo com o objetivo de constatar uma situação fática preexistente,
não tendo, a princípio, o condão de estabelecer o termo a quo da benesse. 4. Entendimento
desta Sétima Turma no sentido de que verificada, no correr da instrução processual, que a
incapacidade adveio em um momento posterior à citação, não há óbice que o julgador fixe a
data inicial do benefício em momento diverso, já que a existência desta é requisito indispen-
sável para a concessão dos benefícios de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez.
5. O caso em apreço cuida de pedido de restabelecimento do auxílio-doença, cessado na es-
fera administrativa em 16.01.2007, cujo pedido de prorrogação foi indeferido em 28.03.2007
(fls. 58/59). 6. O v. Acórdão de fls. 233/235 manteve a decisão monocrática de fls. 211/213
que reformou a r. sentença de primeiro grau para fixar o termo inicial do benefício em
09.06.2009, data do laudo pericial que constatou a existência da incapacidade (fls. 165/166).
7. Ação foi ajuizada em 27.06.2008, tendo sido proferido despacho para citação do Instituto
Nacional do Seguro Social – INSS na data de 01.07.2008 (fl. 78), ocorrida efetivamente em
17.07.2008 (fl. 98). 8. O laudo pericial atestou a incapacidade parcial e definitiva da autora
para o trabalho, constatando que é acometida de patologia ortopédica denominada Síndrome
do Túnel do Carpo com eclosão no ano 2000. 9. Diante dessa consideração, reputo verossímil
182 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
que já estivesse incapacitada para o trabalho no momento da cessação do auxílio-doença
anteriormente deferido (16.01.2007), devendo, portanto, ser esse o termo inicial para a im-
plantação do benefício. 10. Juízo de retratação positivo para reconsiderar o v. Acórdão para
dar provimento ao agravo legal da autora para dar parcial provimento à apelação do Instituto
Nacional do Seguro Social – INSS e à remessa oficial apenas no tocante aos honorários de
advogado.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0022551-76.2010.4.03.9999/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo
Domingues – DJe 31.03.2015 – p. 1781)

1650 – Auxílio-doença – requisitos não preenchidos – laudo pericial constatando a capaci-


dade laborativa – não concessão

“Direito previdenciário e processual civil. Auxílio-doença. Requisitos não preenchidos. Laudo


pericial constatando a capacidade laborativa. Não concessão. I – Nos termos do art. 62 da Lei
nº 8.213/1991, a cessação do auxílio-doença dar-se-á em duas hipóteses: (i) na constatação
da incapacidade definitiva para qualquer atividade, o que resultará na sua conversão em
aposentadoria por invalidez; ou (ii) no momento em que o segurado estiver capacitado pro-
fissionalmente para o exercício de outro trabalho que lhe garanta o sustento. II – Os exames
médico-periciais realizados pelo experto do juízo atestam que a enfermidade do autor não
impede o seu exercício profissional. III – Se não há incapacidade laborativa, está descaracteri-
zada a ilegalidade do cancelamento do auxílio-doença. IV – Apelação desprovida.” (TRF 2ª R.
– AC 2014.02.01.005392-5 – 2ª T.Esp. – Rel. André Fontes – DJe 09.03.2015 – p. 15)

1651 – Auxílio-doença – requisitos preenchidos – benefício devido


“Previdenciário. Apelação cível. Remessa necessária. Auxílio-doença. Comprovado o direito
da autora. Benefício devido. Custas e taxa judiciária. Isenção autarquia previdenciária. Redu-
ção dos honorários sucumbenciais. Juros moratórios e correção monetária. Aplicação da Lei
nº 11.960/2009. Apelação e remessa parcialmente providas. 1. O suporte probatório trazido
aos autos, consistente nos laudos periciais produzidos, é claro no sentido de que a autora
se encontra temporariamente incapacitada para exercer suas atividades laborais, cabendo,
então, a concessão do benefício pleiteado a partir da data do seu requerimento junto à Autar-
quia. 2. No tocante aos feitos que tramitam pela Justiça Estadual do Estado do Rio de Janeiro,
deve ser reconhecida a isenção do INSS quanto ao pagamento das despesas judiciais, visto
que a Lei Estadual nº 3.350, de 29 de dezembro de 1999, que traz em seu art. 10 a definição
do que sejam as custas, nela prevê a inclusão da verba relativa à taxa judiciária. A mesma
Lei, em seu art. 17, assinala o rol das entidades isentas do seu recolhimento, entre as quais se
inclui a União e suas Autarquias. 3. Vencida a Fazenda Pública, os honorários advocatícios
são fixados de acordo com o critério de equidade (art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil),
não estando o Magistrado adstrito aos limites estabelecidos ao § 3º do mesmo artigo. Desse
modo, a fixação dos horários em 5% do valor da condenação, encontra-se razoável para
retribuir o trabalho do patrono da parte, diante da pouca complexidade do feito. 4. A partir
de 29.06.2009, verifica-se a aplicação, quanto ao percentual de juros, da redação do art. 1º-F
da Lei nº 9.494/1997, com a alteração dada pela Lei nº 11.960/2009, aos feitos em andamen-
to, conforme entendimento recentemente adotado pelo STJ no julgamento dos Embargos de
Divergência em REsp 1.207.197/RS (2011/0028141-3), relatado pelo Min. Castro Meira, no
qual a Corte Especial, por unanimidade, deu provimento aos recurso manejado pelo INSS.
5. Os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês até a
data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, quando deverá ser aplicado o índice da ca-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 183
derneta de poupança. Quanto à correção monetária, deve prevalecer, desde a vigência da Lei
nº 11.960/2009, o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), índice que melhor reflete
a inflação acumulada do período.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2014.02.01.009040-5 – (628054) –
1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Paulo Espirito Santo – DJe 05.02.2015 – p. 157)

1652 – Auxílio-doença – suspensão do benefício – restabelecimento – danos morais – não


cabimento
“Previdenciário. Auxílio-doença. Art. 59 da Lei nº 8.213/1991. Suspensão do benefício. Res-
tabelecimento. Danos morais. Não cabimento. Juros e correção monetária. I – Trata-se de be-
nefício (pensão por morte) cujo pagamento foi cessado pela autarquia, em razão da conclusão
da perícia médica do INSS ter constatado não mais persistir a incapacidade que deu causa ao
benefício. II – Ocorre que o requisito de incapacidade laboral restou efetivamente demonstra-
do, sendo certo que, a prova pericial produzida nos autos, pela expert do juízo concluiu que a
autora apresenta incapacidade para o trabalho. III – Entretanto, o Juízo de primeiro grau julgou
improcedente o pedido por considerar serem consistentes os indícios de irregularidades que
envolvem o benefício titularizado pela autora. IV – Verifica-se serem verídicas as afirmações
da autora quanto à alegação de que não trabalhou na empresa Tropical Line Confecções Ltda.
Observa-se pelos documentos de fls. 299/300 a existência de pessoa com nome semelhante
ao seu, cadastrada na mesma empresa, sendo que possui número de CTPS diferente. Demais
disso, o documento do Ministério do Trabalho de fl. 295 não identifica vínculo com a men-
cionada empresa. Deduz-se, assim, tratar-se de equívoco constante no cadastro do INSS.
V – A sentença, os depoimentos de testemunhas em audiência junto à Justiça do Trabalho
(Reclamação Trabalhista nº 02191-2005-221-01-00-9), e o acórdão confirmam as informa-
ções trazidas pela apelante quanto ao fato de ser empregada do grupo econômico réu naquela
ação desde 1988, até o início de seus problemas de saúde, mantendo a condição de segurada
até a data da concessão do benefício que busca restabelecer. VI – O perito judicial, concluiu
que a autora apresenta incapacidade que a impede de realizar sua atividade laboral. O lau-
do apresentado considerou que a autora poderia ser enquadrada nos seguintes diagnósticos:
I. 10- Hipertensão arterial; I. 11.9- Doença cardíaca hipertensiva sem insuficiência cardíaca;
E. 10- Diabetes mellius insulino-dependente; e I. 25.5 – Miocardia isquêmica. VII – Conside-
rando o conjunto probatório dos autos e que a segurada, sofre de fato doença que a incapacita
para o desempenho de seu trabalho habitual, deve ser reconhecido seu direito de restabele-
cimento do auxílio-doença ao qual faz jus, desde a data em foi cessado pelo INSS. VIII – Não
há que se falar em indenização por dano moral, eis que não foi demonstrado, in concreto,
qualquer vexame, constrangimento ou intenso sofrimento provocados por conduta lesiva do
INSS, capazes de ensejar o dano moral alegado. IX – Honorários advocatícios fixados em 10%
sobre o valor das parcelas até a data do acórdão, na esteira do Enunciado nº 111 da Súmula
do STJ. X – Os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês
até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, quando deverá ser aplicado o índice da
caderneta de poupança. Quanto à correção monetária, deve prevalecer, desde a vigência da
Lei nº 11.960/2009, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que melhor re-
flete a inflação acumulada do período. Aplicação do Enunciado nº 56 da Súmula deste Tribu-
nal, que dispõe: ‘É inconstitucional a expressão “haverá incidência uma única vez”, constante
do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dado pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009’.
XI – Dado parcial provimento à apelação.” (TRF 2ª R. – AC 2009.51.01.022341-2 – 2ª T.Esp.
– Relª Simone Schreiber – DJe 14.04.2015 – p. 227)
184 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
1653 – Auxílio-doença – termo inicial – data da citação – requerimento administrativo –
data da cessação ou indeferimento do benefício – observação
“Previdenciário. Art. 543-C, § 7º, II do CPC. REsp 1.369.165/SP. Representativo de contro-
vérsia. Auxílio-doença. Termo inicial. Data da citação. Requerimento administrativo. Data
da cessação ou indeferimento do benefício. Reconsideração do v. acórdão para negar segui-
mento à apelação do INSS. 1. Na hipótese em que a aposentadoria por invalidez é requerida
apenas na via judicial, sem o prévio pedido administrativo, é no momento da citação válida
que o réu tem ciência do pleito do autor, sendo constituída a mora, consoante disposto no
caput do art. 219 do CPC, devendo, portanto, em regra, ser tomado como o termo a quo
da implantação do benefício. 2. Não obstante, havendo requerimento administrativo, o ter-
mo inicial do benefício será fixado na data do requerimento ou da cessação do benefício.
3. Afasta-se, assim, a possibilidade de fixação do inicio do gozo do benefício na data em que
realizado o laudo pericial judicial que constata a incapacidade, eis que tal ato constitui apenas
prova produzida em juízo com o objetivo de constatar uma situação fática preexistente, não
tendo, a princípio, o condão de estabelecer o termo a quo da benesse. 4. Entendimento desta
Sétima Turma no sentido de que verificada, no correr da instrução processual, que a incapa-
cidade adveio em um momento posterior à citação, não há óbice que o julgador fixe a data
inicial do benefício em momento diverso, já que a existência desta é requisito indispensável
para a concessão dos benefícios de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez. 5. O
caso em apreço cuida de pedido de prorrogação de auxílio-doença, cessado em 18.09.2003,
cujo pedido formulado na esfera administrativa foi indeferido. 6. O v. Acórdão de fls. 287/289
manteve a decisão monocrática de fls. 257/259 que reformou a r. sentença de primeiro grau
para fixar o termo inicial do benefício em 20.09.2006, data da juntada do laudo pericial que
constatou a existência da incapacidade (fl. 118). 7. A ação foi ajuizada em 05.04.2005, tendo
sido proferido despacho para citação do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS na data de
14.04.2005 (fl. 79), ocorrida efetivamente em 25.05.2005 (fl. 84v). 8. O laudo pericial atestou
a incapacidade total e temporária da autora para o trabalho, constatando que é acometida de
lipomatose recidivada no braço esquerdo e ombro congelado pós-operatório, afirmando que
a doença está instalada há 5 (cinco) anos. 9. Verossimilhança na alegação de que a autora já
estivesse incapacitada para o trabalho no momento da cessação do benefício anteriormente
gozado (18.09.2003), devendo, portanto, ser esse o termo inicial para a implantação do be-
nefício. 10. Juízo de retratação positivo para reconsiderar o v. Acórdão para dar parcial provi-
mento ao agravo legal da autora para dar parcial provimento à apelação do Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS.” (TRF 3ª R. – AC 0042773-31.2011.4.03.9999/SP – 7ª T. – Rel. Des.
Fed. Paulo Domingues – DJe 06.04.2015 – p. 492)
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 55, jul.-ago./2013, assunto especial intitulado “Prévio requerimento ad-
ministrativo”.

1654 – Benefício previdenciário – cálculo – condições especiais de trabalho – conversão


para regime comum – fator previdenciário – incidência
“Embargos de declaração no recurso extraordinário com agravo. Embargos recebidos como
agravo regimental. Previdenciário. Cálculo do benefício. Condições especiais de trabalho.
Conversão para regime comum. Fator previdenciário. Incidência. Repercussão geral rejeitada
pelo plenário virtual no ARE 748.444-RG. Controvérsia de índole infraconstitucional. 1. Os
embargos de declaração opostos objetivando a reforma da decisão do relator, com caráter
infringente, devem ser convertidos em agravo regimental, que é o recurso cabível, por força
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 185
do princípio da fungibilidade (Precedentes: Pet 4.837-ED, Relª Min. Cármen Lúcia, Tribu-
nal Pleno, DJ de 14.3.2011; Rcl 11.022-ED, Relª Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJ de
07.04.2011; AI 547.827-ED, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª T., DJ de 09.03.2011; RE 546.525-ED,
Relª Min. Ellen Gracie, 2ª T., DJ de 05.04.2011). 2. A incidência do fator previdenciário no
período em que o segurado laborou em regime especial convertido em tempo de atividade
comum, para fins de cálculo do benefício previdenciário, não revela repercussão geral apta
a tornar o apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário virtual do STF, na
análise do ARE 748.444, Rel. Min. Ricardo Lewandowski. 3. In casu, o acórdão recorrido
manteve a sentença, por seus próprios fundamentos, a qual assentou: ‘Entendo que impro-
cede a pretensão da parte autora, uma vez que a aplicação do fator previdenciário quando
da apuração da renda mensal inicial da aposentadoria por tempo de contribuição, ainda que
parte da atividade desempenhada pelo segurado no decorrer da sua vida laboral tenha sido
considerada especial, não ofende a Constituição Federal’. 4. Agravo regimental desprovido.”
(STF – EDcl-RE-Ag 748.462 – Rio Grande do Sul – 1ª T. – Rel. Min. Luiz Fux – J. 03.03.2015)

1655 – Benefício previdenciário – revisão – alteração do teto de contribuição – aplicação


retroativa – possibilidade
“Previdenciário. Constitucional. Revisão de benefício. Alteração do teto de contribuição. Apli-
cação retroativa aos benefícios concedidos antes das Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e
41/2003. Possibilidade. Repercussão geral. Correção monetária. Juros de mora. 1. A pretensão
em obter reajuste do benefício concedido, antes da edição das EC 20/1998 e 41/2003, de
acordo com os novos tetos nelas estabelecidos, encontra em perfeita sintonia com a juris-
prudência dos Tribunais e do colendo Supremo Tribunal Federal. 2. O Pleno do Supremo
Tribunal Federal, quando do julgamento do RE 564.354, reconheceu que ‘não ofende o ato
jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional nº 20/1998 e do
art. 5º da Emenda Constitucional nº 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados a teto
do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que
passem a observar o novo teto constitucional’ (RE 564354, Relª Min. Cármen Lúcia, Tribunal
Pleno, Julgado em 08.09.2010, Repercussão Geral, Mérito DJe-030, Divulg. 14.02.2011, Pu-
blic. 15.02.2011, Ement. v. 02464-03, p. 00487). 3. Correção monetária e juros de mora nos
termos do MCCJF (Resolução nº 267/2013), conforme fixado pelo Magistrado a quo. 4. Ape-
lação desprovida.” (TRF 1ª R. – AC 0038664-30.2013.4.01.3800/MG – Rel. Juiz Fed. Conv.
Cleberson José Rocha – DJe 23.04.2015 – p. 4143)

1656 – Competência – restabelecimento de benefício decorrente de acidente do trabalho/


doença profissional – não reconhecimento
“Previdenciário. Processual civil. Competência. Ação de concessão/restabelecimento de be-
nefício decorrente de acidente do trabalho/doença profissional. 1. A Justiça Federal não é
competente para apreciar ação visando à concessão/restabelecimento de benefício aciden-
tário. 2. Aplicação da Súmula nº 15 do Colendo Superior Tribunal de Justiça.” (TRF 4ª R. –
QO-AC 0009752-32.2014.404.9999/RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira –
DJe 13.03.2015 – p. 22)

1657 – Conflito negativo de competência – concessão de benefício previdenciário decor-


rente de acidente de trabalho – justiça federal – incompetência
“Processual civil. Previdenciário. Conflito negativo de competência. Juízo estadual e juízo
federal. Concessão de benefício previdenciário decorrente de acidente de trabalho. Incompe-
186 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
tência da justiça federal reconhecida. Competência do juízo estadual. Não ocorrência de exer-
cício de competência federal delegada. Conflito de competência entre juízos vinculados a tri-
bunais distintos (TRF 1ª R. e TJMG). Competência. Superior Tribunal de Justiça. 1. Trata-se de
conflito negativo de competência suscitado pelo Juízo de Direito da Comarca de Perdões/MG,
em face do Juízo Federal da Subseção Judiciária de Lavras/MG (JEF), nos autos de ação de rito
ordinário, cujo objeto é a concessão de benefício de auxílio-doença ou aposentadoria por
invalidez. 2. Não há dúvida quanto à natureza acidentária da ação, conforme se vê do relato
prestado durante a perícia médica de fls. 34/37, que informa que o sinistro ocorreu quando o
autor havia saído do local de trabalho para almoçar, o que se equipara a acidente de trabalho,
nos termos do art. 21, IV,§ 1º, da Lei nº 8.213/1991, 3. Compete à Justiça comum dos Esta-
dos apreciar e julgar as ações acidentárias, que são aquelas propostas pelo segurado contra
o Instituto Nacional do Seguro Social, visando ao benefício, aos serviços previdenciários e
respectivas revisões correspondentes ao acidente do trabalho. Incidência da Súmula nº 501
do STF e da Súmula nº 15 do STJ (AgRg-CC 122.703/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
1ª S., Julgado em 22.05.2013, DJe 05.06.2013). 4. Em sendo competente a Justiça Estadual
para processamento e julgamento da própria ação ordinária, não há que se falar em exercício
de competência federal delegada, apta a atrair a competência desta Corte para processar e
julgar o presente Conflito de Competência. 5. Determinada a remessa dos autos ao Superior
Tribunal de Justiça, competente para processar e julgar conflito de competência entre juízos
vinculados a tribunais distintos, no caso, este Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Juízo
Suscitado) e o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (Juízo Suscitante, que não está
no exercício de competência federal delegada).” (TRF 1ª R. – Proc. 00613685420144010000
– Relª Desª Fed. Gilda Sigmaringa Seixas – J. 24.02.2015)

1658 – Contribuição previdenciária – salário-maternidade – férias gozadas – incidência –


precedentes
“Tributário. Contribuição previdenciária. Art. 22, inciso I, da Lei nº 8.212/1991. Salário-
-maternidade. Matéria julgada sob o rito dos recursos repetitivos. Férias gozadas. Incidência.
Precedentes. 1. A 1ª Seção, no julgamento do REsp 1.230.957/RS, submetido à sistemática do
art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 8/2008, firmou a orientação de que incide contri-
buição previdenciária sobre o salário-maternidade. 2. O pagamento de férias gozadas possui
natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e integra a base de cálculo
da contribuição previdenciária. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimen-
to.” (STJ – AgRg-REsp 1.456.440 – (2014/0125382-0) – 2ª T. – Rel. Min. Og Fernandes –
DJe 10.09.2014 – p. 176)
Comentário Editorial SÍNTESE
Passamos a comentar acórdão que julgou um agravo regimental interposto contra deci-
são que negou seguimento recurso especial.
Em suas razões, o agravante alegou que há ainda indefinição da matéria no âmbito da 1ª
Seção e requer que seja reconhecida a não incidência das contribuições previdenciárias
incidentes sobre as férias usufruídas e o salário-maternidade.
Ao analisar o referido recurso, o Nobre Ministro Relator Og Fernandes verificou que a
agravante não trouxe tese jurídica capaz de modificar o posicionamento anteriormente
firmado.
Desta forma manteve a decisão ora agravada, na qual reproduziu o acórdão proferido
pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim ementado:
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“TRIBUTÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA – NULIDADE DA SENTENÇA EXTRA
PETITA – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – FÉRIAS GOZADAS – SALÁRIO-MATER-
NIDADE
1. Anula-se a sentença por extra petita dado que apreciou matéria estranha à alegada
pelo autor.
2. Sobre os valores das férias gozadas devem incidir as contribuições previdenciárias por
se tratar de verba de natureza remuneratória.
3. As verbas alcançadas às trabalhadoras a título de salário-maternidade, a despeito de
constituírem ônus do INSS, integram a base de cálculo das contribuições previdenciárias
patronais, consoante se extrai do disposto nos arts. 7º, XVIII, da CF, e 28, § 2º, da Lei
nº 8.212/91, bem como da própria natureza salarial ínsita à prestação.”
Frisou ainda que os embargos de declaração opostos foram rejeitados.
Destacou também que o recorrente alegou afronta aos arts. 535 do CPC, ao art. 22, I,
II e III, e 28, I, § 9º, d e e, da Lei nº 8.212/1991.
Outro ponto que o recorrente alegou e o d. Ministro destacou foi sobre a omissão, ale-
gando que a análise da natureza das parcelas pagas relativas às férias usufruídas e ao
salário-maternidade, independentemente do título que lhes é conferido legalmente, à luz
do conceito de “remunerações” não permite ao intérprete incluir tais parcelas na base de
cálculo da contribuição devida pela empresa.
Por outro lado, entendeu o Ministro que a controvérsia delineada no presente recurso
especial diz respeito à incidência da contribuição previdenciária prevista no art. 22, I, da
Lei nº 8.212/1991 quando do pagamento de verbas aos empregados a título de salário-
-maternidade e férias gozadas.
Senão vejamos:
“Lei nº 8.212/1991:
[...]
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do
disposto no art. 23, é de:
I – vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a
qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que
lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos
decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo
tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).”
Para sustentar de forma mais sólida seu entendimento, o Ministro destacou uma deci-
são na 1ª Seção deste Tribunal Superior, na sessão de 24.02.2014, ao julgar o REsp
1.230.957/RS, representativo da controvérsia, que assim decidiu:
“1.3 Salário-maternidade.
O salário-maternidade tem natureza salarial e a transferência do encargo à Previdência
Social (pela Lei nº 6.136/1974) não tem o condão de mudar sua natureza. Nos termos
do art. 3º da Lei nº 8.212/1991, ‘a Previdência Social tem por fim assegurar aos seus
beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade
avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão
ou morte daqueles de quem dependiam economicamente’. O fato de não haver presta-
ção de trabalho durante o período de afastamento da segurada empregada, associado
à circunstância de a maternidade ser amparada por um benefício previdenciário, não
autoriza conclusão no sentido de que o valor recebido tenha natureza indenizatória ou
compensatória, ou seja, em razão de uma contingência (maternidade), paga-se à se-
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gurada empregada benefício previdenciário correspondente ao seu salário, possuindo a
verba evidente natureza salarial. Não é por outra razão que, atualmente, o art. 28, § 2º,
da Lei nº 8.212/1991 dispõe expressamente que o salário-maternidade é considerado
salário de contribuição. Nesse contexto, a incidência de contribuição previdenciária so-
bre o salário-maternidade, no Regime Geral da Previdência Social, decorre de expressa
previsão legal.
Sem embargo das posições em sentido contrário, não há indício de incompatibilidade
entre a incidência da contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade e a Cons-
tituição Federal. A Constituição Federal, em seus termos, assegura a igualdade entre
homens e mulheres em direitos e obrigações (art. 5º, I). O art. 7º, XX, da CF/1988
assegura proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos,
nos termos da lei. No que se refere ao salário-maternidade, por opção do legislador in-
fraconstitucional, a transferência do ônus referente ao pagamento dos salários, durante
o período de afastamento, constitui incentivo suficiente para assegurar a proteção ao
mercado de trabalho da mulher. Não é dado ao Poder Judiciário, a título de interpreta-
ção, atuar como legislador positivo, a fim estabelecer política protetiva mais ampla e,
desse modo, desincumbir o empregador do ônus referente à contribuição previdenciária
incidente sobre o salário-maternidade, quando não foi esta a política legislativa.
A incidência de contribuição previdenciária sobre salário-maternidade encontra sólido
amparo na jurisprudência deste Tribunal, sendo oportuna a citação dos seguintes pre-
cedentes:
REsp 572.626/BA, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 20.09.2004; REsp
641.227/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 29.11.2004; REsp 803.708/CE,
2ª Turma, Relª Min. Eliana Calmon, DJ de 02.10.2007; REsp 886.954/RS, 1ª Tur-
ma, Relª Min. Denise Arruda, DJ de 29.06.2007; AgRg-REsp 901.398/SC, 2ª Turma,
Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 19.12.2008; REsp 891.602/PR, 1ª Turma, Rel.
Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 21.08.2008; AgRg-REsp 1.115.172/RS, 2ª Turma,
Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 25.09.2009; AgRg-Ag 1.424.039/DF, 2ª Turma,
Rel. Min. Castro Meira, DJe de 21.10.2011; AgRg-EDcl-REsp 1.040.653/SC, 1ª Tur-
ma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 15.09.2011; AgRg-REsp 1.107.898/PR,
1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 17.03.2010.”
Resultou ainda o Ilustre Magistrado que, em relação ao pagamento por férias gozadas,
tem-se que essa verba possui natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148
da CLT, e integra o salário de contribuição, e reforçou sua afirmação destacando prece-
dentes desta Corte Superior:
“TRIBUTÁRIO – PROCESSUAL CIVIL – AGRAVOS REGIMENTAIS NO RECURSO ESPE-
CIAL – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ADICIONAL DE 1/3 DE FÉRIAS E QUINZE
PRIMEIROS DIAS DO AUXÍLIO-DOENÇA – NÃO INCIDÊNCIA – FÉRIAS USUFRUÍDAS
E SALÁRIO-MATERNIDADE – INCIDÊNCIA – RESP 1.230.957/RS SUBMETIDO AO
RITO DO ART. 543-C DO CPC – COMPENSAÇÃO DO INDÉBITO – JUROS DE MORA
– CUMULAÇÃO COM A TAXA SELIC – IMPOSSIBILIDADE – ART. 170-A – AGRAVOS
REGIMENTAIS NÃO PROVIDOS
1. A 1ª Seção desta Corte ao apreciar o REsp 1.230.957/RS, processado e julgado sob
o rito do art. 543-C do CPC, confirmou a não incidência da contribuição previdenciária
sobre os primeiros 15 dias do pagamento de auxílio-doença e sobre o adicional de férias,
por configurarem verbas indenizatórias. Restou assentado, entretanto, que incide a refe-
rida contribuição sobre o salário-maternidade, por configurar verba de natureza salarial.
2. ‘O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos ter-
mos do art. 148 da CLT, e integra o salário-de-contribuição. Saliente-se que não se
discute, no apelo, a incidência da contribuição sobre o terço constitucional’ (AgRg-Ag
1.426.580/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª Turma, DJe 12.04.2012).
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 189
3. Na compensação tributária deve-se observar a lei de vigência no momento da propo-
situra da ação, ressalvando-se o direito do contribuinte de compensar o crédito tributário
pelas normas posteriores na via administrativa (REsp 1.137.738/SP, Rel. Min. Luiz
Fux, DJe 01.02.2010, submetido ao procedimento dos recursos repetitivos previsto no
art. 543-C do CPC).
4. Os valores recolhidos indevidamente devem sofrer a incidência de juros de mora de
1% ao mês, devidos desde o trânsito em julgado da decisão até 01.01.1996. A partir
desta data incide somente a Taxa Selic, vedada sua cumulação com quaisquer outros
índices, seja de correção monetária, seja de juros. Não tendo havido o trânsito em jul-
gado, deve incidir apenas a Taxa Selic.
5. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a restrição contida no
art. 170-A do CTN é plenamente aplicável às demandas ajuizadas após 10.01.2001,
caso dos autos.
6. Agravos regimentais não providos. (AgRg-REsp 1251355/PR, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, 1ª Turma, Julgado em 24.04.2014, DJe 08.05.2014)”
“TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA – SALÁRIO-MATERNIDADE – FÉRIAS – NATUREZA SALARIAL – IN-
CIDÊNCIA – AGRAVO NÃO PROVIDO
1. ‘É pacífico no STJ o entendimento de que o salário-maternidade não tem natureza in-
denizatória, mas sim remuneratória, razão pela qual integra a base de cálculo da contri-
buição previdenciária. 2. O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória
e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e integra o salário-de-contribuição. Saliente-se
que não se discute, no apelo, a incidência da contribuição sobre o terço constitucional’
(AgRg-Ag 1.426.580/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª Turma, DJe 12.04.2012).
2. Agravo regimental não provido. (AgRg-REsp 1355135/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, 1ª Turma, Julgado em 21.02.2013, DJe 27.02.2013)”
“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – SALÁRIO-
-MATERNIDADE – REMUNERAÇÃO DE FÉRIAS GOZADAS – NATUREZA SALARIAL
– INCIDÊNCIA – AVISO PRÉVIO INDENIZADO – NATUREZA INDENIZATÓRIA – NÃO
INCIDÊNCIA – PRECEDENTES
1. É pacífico no STJ o entendimento de que o salário-maternidade não tem natureza
indenizatória, mas sim remuneratória, razão pela qual integra a base de cálculo da
contribuição previdenciária.
2. O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos
do art. 148 da CLT, e integra o salário de contribuição. Saliente-se que não se discute,
no apelo, a incidência da contribuição sobre o terço constitucional.
3. O valor pago ao trabalhador a título de aviso prévio indenizado, por não se destinar
a retribuir o trabalho e possuir cunho indenizatório, não está sujeito à incidência da
contribuição previdenciária sobre a folha de salários. Precedentes do STJ.
4. Agravos Regimentais não providos. (AgRg-EDcl-AREsp 135.682/MG, Rel. Min.
Herman Benjamin, 2ª Turma, Julgado em 29.05.2012, DJe 14.06.2012)”
Por fim, o Nobre Ministro Og Fernandes destacou que, por considerar que incide contri-
buição previdenciária sobre a remuneração decorrente do pagamento de salário-mater-
nidade e férias usufruídas, a pretensão da sociedade empresária recorrente não merece
prosperar.
Assim, com base em todo o explanado, e fundamentado pelo art. 557, caput, do CPC,
o Superior Tribunal de Justiça, representado neste julgado pelo Nobre Ministro Relator
Og Fernandes, negou provimento ao agravo regimental.
190 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
1659 – Contribuição previdenciária – salário-maternidade – incidência
“Tributário e processual civil. Contribuição previdenciária. Salário-maternidade. Incidência.
1. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o REsp 1.230.957/RS, sub-
metido ao regime dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC), assentou a tese de que, ‘O
salário-maternidade tem natureza salarial e a transferência do encargo à Previdência Social
(pela Lei nº 6.136/1974) não tem o condão de mudar sua natureza’, de modo que a incidên-
cia da contribuição previdenciária sobre a referida verba decorre de expressa previsão legal
(art. 28, § 2º, da Lei nº 8.212/1991). 2. Hipótese em que há de ser mantida a incidência da
contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de salário-maternidade. 3. Matéria
reexaminada em juízo de retratação, por força do disposto no art. 543-C, § 7º, II, do Código
de Processo Civil, na esteira da jurisprudência firmada nos aludidos precedentes. 4. Agravo
de instrumento parcialmente provido, mantendo-se inalterados os demais termos do julgado.”
(TRF 5ª R. – AGTR 2009.05.00.056722-4 – (98703/SE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Paulo
Machado Cordeiro – DJe 16.04.2015 – p. 350)

1660 – Contribuição previdenciária – SAT/RAT e FAP – enquadramento


“Processo civil. Contribuição previdenciária. Seguro Acidente de Trabalho – SAT. Riscos
Acidentais do Trabalho – RAT. Fator Acidentário de Prevenção – FAP. Enquadramento. Lei
nº 10.666/2003. Decreto nº 6.957/2009. Aumento ou redução do valor da alíquota.
RE 343.446-2/SC. Consecução do princípio da igualdade. Súmula nº 351/STJ. Inexistência
de caráter sancionatório. Princípio da equidade. Princípios da publicidade, anterioridade,
contraditório e ampla defesa observados. 1. O art. 10, da Lei nº 10.666, de 08.05.2003, esta-
belece que a contribuição destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão
do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente de riscos ambientais do trabalho
e da aposentadoria especial, de que trata o art. 22, inciso II, da Lei nº 8.212/1991, poderá ter
sua alíquota de 1, 2 e 3%, reduzida até 50%, ou aumentada em até 100%, consoante dispuser
o regulamento, em função do desempenho da empresa em relação à respectiva atividade
econômica, em conformidade com os resultados apurados segundo metodologia aprovada
pelo Conselho Nacional de Previdência Social, que analisará os índices de frequência, gra-
vidade e custo do exercício da atividade preponderante. 2. Já o Decreto nº 6.957/2009, que
deu nova redação ao Decreto nº 3.048/1999, regulamentou o dispositivo legal acima men-
cionado, estabelecendo os critérios de cálculo do FAP. 3. Quanto à constitucionalidade da
legislação ordinária que, ao fixar alíquotas diferenciadas de incidência da contribuição devida
a título de seguro de acidente do trabalho, atribuiu ao poder regulamentar a complementação
dos conceitos de atividade preponderante e grau de risco, o Supremo Tribunal Federal já
assentou sua jurisprudência no sentido da inexistência de malferimento ao princípio da lega-
lidade, consoante o disposto nos arts. 5º, II e 150, I, ambos da CF/1988 (RE 343.446-2/SC).
4. O mesmo raciocínio é de ser empregado com relação à aplicação do FAP. Não há que se
falar em inconstitucionalidade ou ilegalidade em razão da majoração da alíquota se dar por
critérios definidos em decreto. Todos os elementos essenciais à cobrança da contribuição em
tela encontram-se previstos em lei, não tendo o Decreto nº 6.957/2009, extrapolado os limi-
tes delineados no art. 22, inciso II, da Lei nº 8.212/1991 e no art. 10 da Lei nº 10.666/2003.
5. Não há plausibilidade jurídica na tese de que o FAP tem caráter sancionatório e, portanto,
viola a definição de tributo constante do art. 3º do CTN. Ao contrário, a aplicação, tanto das
alíquotas diferenciadas em função do risco, como de sua redução ou majoração em função
do desempenho da empresa, implicam em fazer com que aquelas empresas que mais one-
ram a Previdência Social com custos decorrentes de acidentes do trabalho contribuam mais
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 191
do que as demais; ao passo que aquelas empresas que provocam menos custos ao sistema
de previdência contribuam menos do que as demais. 6. É o empresário que se beneficia do
resultado econômico da atividade do trabalhador sujeito a risco de acidente e, desta forma,
é razoável que as empresas cujas atividades estão sujeitas a mais riscos e provoquem mais
acidentes contribuam mais. 7. A sistemática adotada não tem nada de inconstitucional ou
ilegal; ao contrário, é a implementação do princípio da equidade na forma de participa-
ção do custeio da Seguridade Social, conforme estabelece o inciso V do parágrafo único do
art. 194 da Constituição Federal, bem como a consolidação dos princípios da razoabilidade,
do equilíbrio atuarial e da solidariedade. 8. Inexiste também afronta aos princípios da igual-
dade tributária e da capacidade contributiva, uma vez que a contribuição previdenciária inci-
dente sobre os Riscos Ambientais do Trabalho (RAT) é calculada pelo grau de risco da ativida-
de desenvolvida em cada empresa, nos termos da Súmula nº 351, do STJ, prestigiando, assim,
a individualização do cálculo por contribuinte. 9. De igual modo, não se verifica ofensa ao
princípio constitucional da irretroatividade tributária, pois tanto a instituição da contribuição
previdenciária incidente sobre os Riscos Ambientais do Trabalho (Lei nº 8.212/1991) como a
possibilidade de majoração de suas alíquotas (Lei nº 10.666/2003) foram estabelecidas ante-
riormente à ocorrência dos fatos geradores noticiados. 10. Quanto à publicidade dos dados
estatísticos constantes do Anexo V, do Decreto nº 3.048/1999, com as alterações do Decreto
nº 6.042/2007, e posteriormente do Decreto nº 6.958/2009, observa-se que a metodologia
de cálculo do FAP foi aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), ór-
gão paritário, através das Resoluções nºs 1.308/2009 e 1.309/2009, sendo os ‘percentis’ de
cada um dos elementos gravidade, frequência e custo, por subclasse, divulgado pela Portaria
Interministerial nº 254/2009. 11. Não há que se falar ainda na necessidade de divulgação
dos dados em questão para todas as empresas, uma vez que tal exigência encontra óbice
no art. 198 do CTN que veda a divulgação de informações sobre a situação econômica ou
financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios
ou atividades. 12. A suposta incorreção do cálculo do FAP atribuído pelos agentes tributá-
rios não ofende os princípios do contraditório e da ampla defesa, pois a nova disposição do
art. 202-B do Decreto nº 3.048/1999, com a redação dada pelo Decreto nº 6.957/2009, possi-
bilita ao contribuinte inconformado com seu enquadramento insurgir-se através do pertinente
recurso administrativo, dotado de efeito suspensivo. 13. A discussão sobre a correção dos
critérios utilizados para a apuração do FAP ou sobre o enquadramento da atividade da em-
presa demandam ampla e aprofundada análise, inclusive com produção probatória, incompa-
tível com as chamadas tutelas de urgência. 14. Para a utilização do agravo previsto no CPC,
art. 557, § 1º, é necessário o enfrentamento da fundamentação da decisão agravada. As razões
recursais não contrapõem tal fundamento a ponto de demonstrar o desacerto da decisão re-
corrida, limitando-se a reproduzir argumento visando à rediscussão da matéria nela contida.
15. Inexistindo fundamentos hábeis a alterar a decisão monocrática, nega-se provimento ao
agravo interno.” (TRF 3ª R. – Ag-AC 0001365-27.2010.4.03.6109/SP – 1ª T. – Rel. Des. Fed.
Hélio Nogueira – DJe 24.04.2015 – p. 534)

1661 – Contribuição previdenciária a cargo da empresa – Regime Geral da Previdência


Social – incidência sobre o descanso semanal remunerado e férias gozadas – prece-
dentes

“Processual civil. Agravo regimental no recurso especial. Tributário. Contribuição previdenciária


a cargo da empresa. Regime Geral da Previdência Social. Incidência sobre o descanso semanal
remunerado e férias gozadas. Precedentes. 1. O pagamento de férias gozadas possui natureza remu-
neratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e integra o salário-de-contribuição (AgRg-EAREsp
192 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
138.628/AC, 1ª S., Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 18.08.2014; AgRg-EREsp 1.355.594/PB, 1ª S.,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 17.09.2014). 2. A Segunda Turma/STJ, ao apreciar o
REsp 1.444.203/SC (Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 24.06.2014), firmou entendimento no sen-
tido de que incide contribuição previdenciária sobre o descanso semanal remunerado, porquanto
se trata de verba de caráter remuneratório. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp
1.475.078 – (2014/0206482-8) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 28.10.2014 –
p. 533)

Comentário Editorial SÍNTESE


Cuida-se de um agravo regimental que insurgiu contra decisão monocrática sintetizada
na seguinte ementa:
“PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – SUPOSTA OFENSA AO ART. 535 DO
CPC – INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO – TRIBUTÁRIO – LC
118/2005 – APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO EM RELAÇÃO ÀS AÇÕES AJUIZA-
DAS A PARTIR DE 9 DE JUNHO DE 2005 – ENTENDIMENTO DO STF FIRMADO EM
SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL – TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
A CARGO DA EMPRESA – REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – INCIDÊNCIA
SOBRE AS SEGUINTES VERBAS: HORAS EXTRAS, FÉRIAS GOZADAS, DESCANSO
SEMANAL REMUNERADO, SALÁRIO-MATERNIDADE, ADICIONAIS NOTURNO, DE
INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE – RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.”
Os agravantes, eu suas considerações, sustentaram em suma, que
a) não há entendimento consolidado acerca da incidência de contribuição previdenciária
sobre o descanso semanal remunerado;
b) a Primeira Seção/STJ pronunciou-se no sentido de que não incide contribuição previ-
denciária sobre as férias gozadas.
Diante de tais alegações, o agravante requereu a reconsideração da decisão agravada ou
a apreciação colegiada da controvérsia.
A divergência foi analisada pelo Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator),
que iniciou sua análise afirmando que o recurso não merece prosperar.
Diante das considerações apresentadas, o Nobre julgador asseverou referente à discus-
são relativa à incidência de contribuição previdenciária sobre as férias gozadas, impor-
tante se faz destacar que o acórdão proferido nos autos do REsp.322.945/DF (1ª S.,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 08.03.2013) foi objeto de embargos de
declaração.
A ementa concernente ao respectivo acórdão foi publicada com o seguinte resultado de
julgamento:
“[...] Embargos Declaratórios da Fazenda Nacional acolhidos, emprestando-lhes efeitos
modificativos, para adequar, no que couber, o julgamento ao quanto decidido em recurso
representativo de controvérsia.”
Entendeu o Ministro, que o efeito prático do acolhimento dos embargos de declaração
ensejou, naquele caso específico, o afastamento da contribuição previdenciária (RGPS)
em relação às férias gozadas. Ressalta-se que em consulta ao sistema eletrônico de in-
formações processuais deste Tribunal, verificou-se que, em tal feito, há novos embargos
de declaração pendentes de julgamento perante a Primeira Seção/STJ.
A despeito desse precedente (com as peculiaridades supramencionadas), em recentes
julgados – que ratificam o entendimento clássico desta Corte –, o Nobre Ministro res-
saltou que ambas as Turmas da Primeira Seção/STJ têm entendido que o pagamento de
férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT,
e integra o salário-de-contribuição, senão vejamos transcrição de trechos de julgados
adiante:
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 193
“TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – SALÁRIO-MATERNIDADE – FÉ-
RIAS – INCIDÊNCIA – MATÉRIA JULGADA SOB O RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS
1. A Primeira Seção, por ocasião do julgamento do REsp 1.230.957-RS, da relatoria
do Sr. Ministro Mauro Campbell Marques, sob o regime do art. 543-C do CPC, DJe
18.03.2014, reiterou o entendimento de que incide contribuição previdenciária sobre
o salário-maternidade.
2. ‘A respeito dos valores pagos a título de férias, esta Corte vem decidindo que estão su-
jeitos à incidência da contribuição previdenciária. Precedentes: AgRg-Ag 1424039/DF,
Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., DJe 21.10.2011; AgRg-EDcl-REsp 1040653/SC, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª T., DJe 15.09.2011.’ (AgRg-AREsp 90.530/DF, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., J. em 27.03.2014, DJe 04.04.2014) Agravo regimen-
tal improvido. (AgRg-AREsp 138.628/AC, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe de
29.04.2014)”
“TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ART. 22, INCISO I, DA LEI
Nº 8.212/1991 – SALÁRIO-MATERNIDADE E FÉRIAS GOZADAS – INCIDÊNCIA – PRE-
CEDENTES DO STJ – COMPENSAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE ANTES DO TRÂNSITO EM
JULGADO – APLICAÇÃO DO ART. 170-A DO CTN
1. A Primeira Seção, no julgamento do REsp 1.230.957/RS, submetido à sistemática
do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 8/2008, firmou a orientação no sentido de
que incide contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade.
2. O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos
do art. 148 da CLT, e integra o salário-de-contribuição. Precedentes desta Corte Supe-
rior: AgRg-REsp 1.355.135/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 27.02.2013;
e AgRg-EDcl-AREsp 135.682/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 14.06.2012.3.
Consoante entendimento pacificado na jurisprudência, o disposto no art. 170-A do CTN,
que exige o trânsito em julgado para fins de compensação de crédito tributário, somente
se aplica às demandas ajuizadas após a vigência da Lei Complementar nº 104/2001,
ou seja, a partir de 11.01.2001, o que se verifica na espécie.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg-REsp 1.240.038/PR, 2ª T., Rel.
Min. Og Fernandes, DJe de 02.05.2014)”
“TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA – FÉRIAS – NATUREZA SALARIAL – INCIDÊNCIA – PRECEDENTES
– AGRAVO NÃO PROVIDO
1. O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos
do art. 148 da CLT, e integra o salário-de-contribuição. Precedentes do STJ: AgRg-
-AREsp 138.628/AC, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe 29.04.2014; AgRg-
-REsp 1.355.135/RS, 1ª T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 27.02.2013; AgRg-
-Ag 1.426.580/DF, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 12.04.2012; AgRg-Ag
1.424.039/DF, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., DJe 21.10.2011.
2. Agravo regimental não provido. (AgRg-REsp 1.437.562/PR, 2ª T., Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, DJe de 11.06.2014)”
“TRIBUTÁRIO – PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL – RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL – PRINCÍPIO DA FUNGI-
BILIDADE RECURSAL – APLICAÇÃO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – FÉRIAS
USUFRUÍDAS E SALÁRIO-MATERNIDADE – INCIDÊNCIA – RESP 1.230.957/RS SUB-
METIDO AO RITO DO ART. 543-C DO CPC – AGRAVO NÃO PROVIDO
1. ‘Admite-se receber embargos declaratórios, opostos à decisão monocrática do rela-
tor, como agravo regimental, em atenção aos princípios da economia processual e da
fungibilidade recursal’ (EDcl-EREsp 1.175.699/RS, Corte Especial, Rel. Min. Humberto
Martins, DJe 06.02.2012).
194 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
2. A Primeira Seção desta Corte ao apreciar o REsp 1.230.957/RS, processado e julga-
do sob o rito do art. 543-C do CPC, confirmou a incidência de contribuição previdenciá-
ria sobre o salário-maternidade, por configurar verba de natureza salarial.
3. ‘O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos
do art. 148 da CLT, e integra o salário-de-contribuição’ (AgRg-Ag 1.426.580/DF, Rel.
Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 12.04.2012).
4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega pro-
vimento. (EDcl-REsp 1.238.789/CE, 1ª T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de
11.06.2014)”
“TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – 1. TERÇO CONSTITUCIONAL
DE FÉRIAS – NÃO INCIDÊNCIA – A contribuição previdenciária não é exigível sobre
a parcela paga a título de terço de férias. 2. Férias e salário maternidade. Incidência.
Incide contribuição previdenciária sobre as férias e o salário-maternidade. Agravos re-
gimentais desprovidos. (AgRg-REsp 1.284.771/CE, 1ª T., Rel. Min. Ari Pargendler, DJe
de 13.05.2014)”
Reforçou ainda que, em recentes julgados, a mesma orientação foi adotada pela Primei-
ra Seção/STJ, como adiante se demonstra:
“TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – FÉRIAS GOZADAS – INCIDÊNCIA
– PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMAS DA PRIMEIRA SEÇÃO
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o pagamento de férias gozadas possui
natureza remuneratória, nos termos do art. 148 da CLT, razão pela qual incide a contri-
buição previdenciária.
2. Precedentes: EDcl-REsp 1.238.789/CE, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª T.,
DJe 11.06.2014; AgRg-REsp 1.437.562/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
2ª T., DJe 11.06.2014; AgRg-REsp 1.240.038/PR, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., DJe
02.05.2014. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg-EAREsp 138.628/AC,
1ª S., Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 18.08.2014)”
“PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA –
TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA – REGIME
GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – INCIDÊNCIA SOBRE A VERBA PAGA A TÍTULO DE
SALÁRIO-MATERNIDADE – ESPECIAL EFICÁCIA VINCULATIVA DO ACÓRDÃO PROFE-
RIDO NO RESP 1.230.957/RS – FÉRIAS GOZADAS – INCIDÊNCIA – PRECEDENTES
1. Não obstante o aresto paradigma (REsp 1.322.945/DF, 1ª S., Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, DJe de 08.03.2013), a Primeira Seção/STJ, ao apreciar o REsp
1.230.957/RS (Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 18.03.2014), aplicando a
sistemática prevista no art. 543-C do CPC, pacificou orientação no sentido de que incide
contribuição previdenciária (RGPS) sobre a verba paga a título de salário-maternidade.
2. Além disso, em recentes julgados – que ratificam o entendimento clássico desta Corte
–, ambas as Turmas da Primeira Seção/STJ têm entendido que o pagamento de férias
gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e
integra o salário de contribuição. Nesse sentido: AgRg-AREsp 138.628/AC, 2ª T., Rel.
Min. Humberto Martins, DJe de 29.04.2014; AgRg-REsp 1.240.038/PR, 2ª T., Rel.
Min. Og Fernandes, DJe de 02.05.2014; AgRg-Resp 1.437.562/PR, 2ª T., Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, DJe de 11.06.2014; EDcl-REsp 1.238.789/CE, 1ª T., Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 11.06.2014; AgRg-REsp 1.284.771/CE, 1ª T., Rel.
Min. Ari Pargendler, DJe de 13.05.2014. Em recente julgado, no âmbito da Primeira
Seção/STJ, destaca-se: AgRg-EAREsp 138.628/AC, 1ª S., Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe
de 18.08.2014.
3. ‘Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do tribunal se firmou
no mesmo sentido do acórdão embargado’ (Súmula nº 168/STJ).
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 195
4. Agravo regimental não provido. (AgRg-EREsp 1.355.594/PB, 1ª S., Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, DJe de 17.09.2014)”
Já no que se refere ao descanso semanal remunerado, o R. Julgador frisou que a Segun-
da Turma/STJ, ao apreciar o REsp 1.444.203/SC (Rel. Min. Humberto Martins, DJe de
24.06.2014), firmou entendimento no sentido de que tal verba sujeita-se à incidência
de contribuição previdenciária. O referido precedente foi assim ementado:
“PROCESSUAL CIVIL – OMISSÃO INEXISTENTE – DEVIDO ENFRENTAMENTO DAS
QUESTÕES RECURSAIS – REPOUSO SEMANAL REMUNERADO – CARÁTER REMU-
NERATÓRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – INCIDÊNCIA
1. Inexiste violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na
medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas
no recurso.
2. A contribuição previdenciária tem como regra de não incidência a configuração de
caráter indenizatório da verba paga, decorrente da reparação de ato ilícito ou ressarci-
mento de algum prejuízo sofrido pelo empregado.
3. Insuscetível classificar como indenizatório o descanso semanal remunerado, pois
sua natureza estrutural remete ao inafastável caráter remuneratório, integrando parcela
salarial, sendo irrelevante que inexiste a efetiva prestação laboral no período, porquanto
mantido o vínculo de trabalho, o que atrai a incidência tributária sobre a indigitada
verba. Recurso especial improvido. (REsp 1.444.203/SC, 2ª T., Rel. Min. Humberto
Martins, DJe de 24.06.2014)”
Assim, diante de todos os julgados aqui apresentados, que demonstram uma linha de
entendimento da qual partilha o Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques, foi nega-
do provimento ao agravo regimental.

1662 – Contribuição previdenciária a cargo da empresa – RGPS – adicional de férias – não


incidência
“Processual civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Tributário. Contribuição
previdenciária a cargo da empresa. Regime geral da previdência social. Não incidência sobre
o adicional de férias. Especial eficácia vinculativa do acórdão proferido no REsp 1.230.957/RS.
1. A Primeira Seção/STJ, ao apreciar o REsp 1.230.957/RS (Rel. Min. Mauro Campbell Mar-
ques, DJe de 18.03.2014), aplicando a sistemática prevista no art. 543-C do CPC, pacificou
orientação no sentido de que, ‘em relação ao adicional de férias concernente às férias go-
zadas, tal importância possui natureza indenizatória/compensatória, e não constitui ganho
habitual do empregado, razão pela qual sobre ela não é possível a incidência de contribuição
previdenciária (a cargo da empresa)’. 2. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp
647.840 – (2014/0346142-0) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 14.04.2015
– p. 473)

1663 – Desaposentação – hipótese de cabimento


“Direito processual civil e previdenciário. Demanda que versa sobre o direito à renúncia do
ato de concessão de aposentadoria (desaposentação), com o fim de obter nova jubilação que
considere o tempo de serviço e as contribuições referentes ao período de inativação. I – Deve
ser afastada a ocorrência da decadência prevista no art. 103 da Lei nº 8.213/1991, tendo
em vista que a lide versa sobre a desaposentação, que não se confunde com a revisão, na
medida em que nessas ações buscam os beneficiários a concessão de nova aposentadoria e
não a revisão do benefício previdenciário que vem recebendo. II – Inexiste previsão legal que
autorize expressamente a renúncia manifestada pelo autor, autorização essa imprescindível
196 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
em razão da natureza vinculada no ato de concessão de aposentadoria e diante da incidência
do Princípio da Legalidade Estrita (caput do art. 37 da CRFB) no âmbito da Administração
Pública. III – O ato de concessão de aposentadoria é irrenunciável dada a evidente natureza
alimentar dos proventos, a afastar a alegada disponibilidade desse direito, que decorre da lei
e não de mero ato volitivo do beneficiário. IV – O custeio do sistema previdenciário é nortea­
do pelos princípios da universalidade, da solidariedade, do equilíbrio financeiro e atuarial
(arts. 194, 195 e 201 da Carta da República), razão porque o recolhimento de contribuições
posteriores à inativação, por ter retornado o aposentado ao mercado de trabalho, não gera,
necessariamente, qualquer direito à prestação pecuniária por parte da Previdência Social ao
segurado jubilado, ressalvadas a hipóteses legais, como previsto na parte final do § 2º do
art. 18 da Lei nº 8.213/1991. V – O pronunciamento do Colendo Superior Tribunal de Jus-
tiça, em sede de recurso repetitivo (art. 543-C do Código de Processo Civil), no sentido da
possibilidade da renúncia do ato de concessão de aposentadoria, não representa óbice a
que este órgão fracionário da Corte Regional aprecie a questão e, segundo a sua convicção
jurídica, pronuncie entendimento diverso do firmado por aquele Sodalício, tendo em vista
que a eventual retratação deste órgão julgador quanto à questão apenas terá lugar na hipó-
tese de futura interposição do recurso especial do acórdão prolatado nestes autos (§ 7º do
art. 543-C do Código de Processo Civil em interpretação conjunta com o § 8º do mesmo artigo).
VI – Apelação desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 0147378-34.2013.4.02.5101 – 2ª T.Esp. – Rel.
André Fontes – DJe 20.04.2015 – p. 86)

Remissão Editorial SÍNTESE


Vide RSP nº 57, nov.-dez./2013, assunto especial intitulado “A legitimidade da desapo-
sentação e a polêmica restituição dos valores do benefício”.

1664 – Desaposentação – utilização do tempo de contribuição em outro benefício – possi-


bilidade
“Administrativo. Previdenciário. Mandado de segurança. Aposentadoria. Renúncia. Direito
individual disponível. Inadequação da via eleita. Decadência. Inocorrência. Desaposentação.
Utilização do tempo de contribuição em outro benefício. Possibilidade. Segurança concedi-
da. Sentença reformada. 1. Cuidando os autos de pedido de renúncia e cancelamento de be-
nefício concedido pela Previdência Social, com o objetivo de concessão de novo benefício e
não de pedido de revisão do valor do benefício previdenciário, não há decadência do direito.
Precedentes. 2. A aposentadoria é direito patrimonial e disponível, sendo, portanto, passível
de renúncia, podendo o titular contar o tempo de contribuição efetuada à Previdência após
a primeira aposentadoria para fins de obtenção de novo benefício da mesma espécie, sem
que tenha que devolver o que auferiu a esse título. Precedentes desta Corte e do colendo STJ.
3. Deve ser concedida à parte impetrante a nova aposentadoria requerida, com data de início
do novo benefício coincidente com o requerimento administrativo, ou, ausente este, a partir
do ajuizamento da ação. Em qualquer caso, os efeitos financeiros do writ se dão a partir da
impetração, devendo ser deduzidos da nova aposentadoria concedida, os valores pagos a títu-
lo da aposentadoria anterior, nos meses em que coincidentes. 4. Rejeitada a pretensão de que
seja declarado o direito do segurado de formular novos pedidos de desaposentação perante o
INSS, sempre que constatada a existência de contribuições previdenciárias após a concessão
de uma aposentadoria, ante a vedação a sentença condicional contida no parágrafo único do
art. 460 do CPC. Ademais, acolher a pretensão seria admitir sentença com determinação futu-
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 197
ra e incerta em ação mandamental. Precedentes. 5. Apelação provida. Segurança concedida.”
(TRF 1ª R. – AC 0055209-15.2012.4.01.3800 – Rel. Des. Fed. Jamil Rosa de Jesus Oliveira
– DJe 24.04.2015 – p. 225)
Remissão Editorial SÍNTESE
Vide RSP nº 57, nov.-dez./2013, assunto especial intitulado “A legitimidade da desapo-
sentação e a polêmica restituição dos valores do benefício”.

1665 – Funrural – contribuição social – empregador rural pessoa física – art. 1º da Lei
nº 8.540/1992 – inconstitucional (STF) – exigibilidade suspensa – repristinação
“Processual civil. Tributário. Mandado de segurança. Contribuição Social (Funrural). Empregador
rural pessoa física. Art. 1º da Lei nº 8.540/1992. Inconstitucional (STF). Lei nº 10.256/2001 (c/c EC
20/1998). Não ‘constitucionalização’. Exigibilidade suspensa. Repristinação. Não ocorrência. Ação
ajuizada após a vigência da LC 118/2005 (09.06.2005). Prescrição quinquenal (STF, RE 566621/RS).
Compensação. 1. Tendo sido ajuizada a ação após a vigência da LC 118/2005 (09.06.2005), o pra-
zo prescricional do direito de pleitear repetição de indébito dos tributos lançados por homologação
aplicável é de cinco anos (STJ, RE 566.621/RS). 2. O adquirente, o consignatário e a cooperati-
va (responsáveis tributários, por substituição, pelo recolhimento da contribuição para o Funrural)
detêm legitimidade apenas para discutir a legalidade ou constitucionalidade da exigência, mas
não para pleitear em nome próprio a restituição ou compensação do tributo, a não ser que aten-
didos os ditames do art. 166 do CTN, quais sejam: comprovar que assumiu o encargo financeiro
do tributo ou que, transferindo-o a terceiro, possua autorização expressa para tanto (Neste senti-
do: EDcl-AgRg-REsp 1.418.303/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T. do STJ, DJe de 18.06.2014;
AgRg-AgRg-REsp 537.623/RS, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T. do STJ, DJe de 02.06.2008; REsp
489.156/SC, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T. do STJ, DJ de 29.09.2003, p. 155). 3. O produtor rural, in-
dependentemente da condição que ostente (produtor rural pessoa física, empregador rural pessoa
física ou segurado especial), detém legitimidade também para reclamar a repetição da contribui-
ção ao Funrural (AC 0005609-87.2010.4.01.3802/MG, Rel. Juiz Federal Alexandre Buck Medrado
Sampaio (Conv.), 8ª T. do TRF 1ª R., e-DJF1 de 30.05.2014, p. 845). 4. Quanto à comprovação do
recolhimento do tributo, é assente na jurisprudência desta Corte que ‘para mera discussão judicial
sobre possível repetição de tributos dispensa-se prova dos recolhimentos, que se fará, se o caso,
quando das eventuais compensação (na esfera administrativa, sob o crivo da Administração) ou res-
tituição (na liquidação da sentença)’ (AC 2002.34.00.000166-5/DF, Rel. Juiz Federal Rafael Paulo
Soares Pinto (Conv.), 7ª T. do TRF 1ª R., e-DJF1 de 11.04.2008, p. 291). 5. O importante é que haja
comprovação de estar o contribuinte na situação jurídica que lhe garanta o direito (AC 0036191-
35.2012.4.01.3500/GO, Rel. Juiz Federal Alexandre Buck Medrado Sampaio (Conv.), 8ª T. do TRF
1ª R., e-DJF1 de 23.05.2014, p. 836) como no caso. 6. O Supremo Tribunal Federal declarou
inconstitucional, sem modulação temporal dos efeitos, o art. 1º da Lei nº 8.540/1992, em sede de
recurso repetitivo, nos moldes do art. 543-B do CPC (RE 596.177, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Pleno do STF, DJe de 29.08.2011). 7. A autorização para instituição, por lei ordinária, da contribui-
ção social sobre a comercialização da produção rural do produtor rural pessoa física somente surgiu
com a Emenda Constitucional nº 20/1998, que ampliou as fontes de financiamento da seguridade
social, prevendo, como tal, a receita ou o faturamento (art. 195, I, b, CF/1988). 8. A Sétima Turma
do TRF1 entende que a Lei nº 10.256/2001 (c/c EC 20/1998) não ‘constitucionalizou’ a contribuição
anteriormente prevista em lei. 9. Tendo sido reconhecida a inconstitucionalidade da contribuição
prevista nos arts. 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº 8.212/1991, com as
redações decorrentes das Leis nº 8.540/1992 e 9.528/1997, não há que se falar em inaplicabilidade
da decisão proferida RE 363.852, porquanto, ainda que em controle difuso, é legítima a suspensão
198 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
da sua exigência (AGA 0002044-41.2011.4.01.0000-MA, Rel. Des. Fed. Souza Prudente, 8ª T. do
TRF 1ª R., e-DJF1 de 15.07.2011, p. 354). 10. A inconstitucionalidade da contribuição social ao
Funrural, prevista nos arts. 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº 8.212/1991,
com as redações decorrentes das Leis nºs 8.540/1992 e 9.528/1997, declarada pelo Supremo Tri-
bunal Federal (RE 363.852) não está fundamentada somente na necessidade de lei complementar
para a criação de nova exação, o que seria um vício formal, mas também na ofensa aos princípios
da isonomia e da vedação à bitributação, o que demonstra a ocorrência, além disso, de vício ma-
terial na Lei nº 10.256/2001. 11. Não há que se falar em repristinação da exigibilidade da contri-
buição previdenciária ao Funrural dos empregadores rurais pessoas físicas, em relação ao período
em que a contribuição foi considerada Inconstitucional, porquanto a determinação que previa a
incidência da contribuição previdenciária sobre a ‘folha de salários’, com base na receita bruta da
comercialização (redação original da Lei nº 8.212/1991), restou nulificada. 12. A compensação será
realizada de acordo com a lei vigente na época de sua efetivação (limites percentuais, os tributos
compensáveis, etc.), vedada antes do trânsito em julgado (art. 170-A do CTN). Nesse sentido: REsp
1.164.452/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª S. do STJ, DJe de 02.09.2010). 13. Inexiste qual-
quer limitação à compensação (art. 89 da Lei nº 8.212/1991), conforme entendimento consolidado
nesta Corte (AR 0025945-09.2009.4.01.0000/MG, Rel. Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral, 4ª S.,
e-DJF1 de 10.05.2010, p. 24). 14. Apelação da União Federal/Fazenda Nacional e remessa oficial
parcialmente providas para que seja observada a prescrição quinquenal na eventual compensação
dos valores indevidamente recolhidos.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2010.36.00.001942-7/MT – Rel. Juiz
Fed. Conv. Evaldo de Oliveira Fernandes Filho – DJe 24.10.2014)

Transcrição Editorial SÍNTESE


• Lei nº 8.540/1992:
“Art. 1° A Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar com alterações nos
seguintes dispositivos:
‘Art. 12. [...]
V – [...]
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou pesqueira,
em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e
com auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não con-
tínua;
b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral garim-
po, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos
e com auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não
contínua;
c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada e de
congregação ou de ordem religiosa, este quando por ela mantido, salvo se filiado obri-
gatoriamente à Previdência Social em razão de outra atividade, ou a outro sistema pre-
videnciário, militar ou civil, ainda que na condição de inativo;
d) o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funcionamento no
Brasil, salvo quando coberto por sistema próprio de previdência social;
e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual
o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto
por sistema de previdência social do país do domicílio;
Art. 22. [...]
[...]
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 199
5º O disposto neste artigo não se aplica à pessoa física de que trata a alínea a do inciso
V do art. 12 desta lei.
[...]
Art. 25. A contribuição da pessoa física e do segurado especial referidos, respectivamen-
te, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta lei, destinada à Seguridade
Social, é de:
I – dois por cento da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção;
II – um décimo por cento da receita bruta proveniente da comercialização da sua pro-
dução para financiamento de complementação das prestações por acidente de trabalho.
§ 1º O segurado especial de que trata este artigo, além da contribuição obrigatória refe-
rida no caput poderá contribuir, facultativamente, na forma do art. 21 desta lei.
§ 2º A pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 contribui, também,
obrigatoriamente, na forma do art. 21 desta lei.
§ 3º Integram a produção, para os efeitos deste artigo, os produtos de origem animal
ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou indus-
trialização rudimentar, assim compreendidos, entre outros, os processos de lavagem,
limpeza, descaroçamento, pilagem, descascamento, lenhamento, pasteurização, res-
friamento, secagem, fermentação, embalagem, cristalização, fundição, carvoejamento,
cozimento, destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduos
obtidos através desses processos.
§ 4º Não integra a base de cálculo dessa contribuição a produção rural destinada ao
plantio ou ao reflorestamento, nem sobre o produto animal destinado à reprodução ou
criação pecuária ou granjeira e a utilização como cobaias para fins de pesquisas cien-
tíficas, quando vendido pelo próprio produtor e quem a utilize diretamente com essas
finalidades, e no caso de produto vegetal, por pessoa ou entidade que, registrada no Mi-
nistério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, se dedique ao comércio
de sementes e mudas no País.
§ 5º (Vetado).
[...]
Art. 30. [...]
[...]
IV – o adquirente, o consignatário ou a cooperativa ficam sub-rogados nas obrigações da
pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 e do segurado especial pelo
cumprimento das obrigações do art. 25 desta lei, exceto no caso do inciso X deste artigo,
na forma estabelecida em regulamento;
[...]
X – a pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 e o segurado especial
são obrigados a recolher a contribuição de que trata o art. 25 desta lei no prazo esta-
belecido no inciso III deste artigo, caso comercializem a sua produção no exterior ou,
diretamente, no varejo, ao consumidor.
[...]’”

1666 – IR – complementação de aposentadoria – prescrição – Lei Complementar


nº 118/2005 – reexame do mérito da controvérsia
“Tributário e processual civil. Imposto de Renda. Complementação de aposentadoria. Pres-
crição. Lei Complementar nº 118/2005. Reexame do mérito da controvérsia. Art. 543-B,
§ 3º, do Código de Processo Civil. Modificação do julgado. Apelação da união provida. Re-
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messa oficial provida em parte. 1. Reexame do mérito da controvérsia e modificação do jul-
gado anterior, nos termos do art. 543-B, § 3º, do Código de Processo Civil, para adequá-lo à
orientação vinculativa do Supremo Tribunal Federal, adotada pela Turma e pela 4ª Seção da
Corte. 2. Válida a aplicação do prazo prescricional de cinco (05) anos da Lei Complementar
nº 118/2005 às ações ajuizadas a partir de 09.06.2005 (RE 566.621/RS, STF, Relª Min. Ellen
Gracie, Tribunal Pleno, Repercussão Geral, DJe 11.10.2011). 3. Apelação da União (FN) pro-
vida. Remessa oficial parcialmente provida.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2007.34.00.003525-9/DF
– Rel. Des. Fed. Marcos Augusto de Sousa – DJe 10.10.2014)

1667 – Pensão por morte – incapaz – habilitação posterior – pagamento das parcelas em
atraso – possibilidade
“Processual civil e previdenciário. Agravo regimental no recurso especial. Pensão por morte.
Incapaz. Habilitação posterior. Pagamento das parcelas em atraso, desde a data do óbito.
Possibilidade. 1. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que não corre a prescrição
contra incapazes, o que resulta na conclusão de que são devidas as parcelas no período com-
preendido entre o óbito do segurado e a data do pedido administrativo. 2. Agravo Regimental
não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.357.778 – (2012/0260479-7) – 2ª T. – Rel. Min. Herman
Benjamin – DJe 31.03.2015 – p. 2027)

1668 – Pensão por morte – menor sob guarda – ECA – aplicação


“Previdenciário. Pensão por morte. Menor sob guarda. Medida Provisória nº 1.523/1996 (Lei
nº 9.528/1997). Exclusão do menor sob guarda do rol dos dependentes da Previdência Social.
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prevalência da norma previdenciária. Recurso espe-
cial provido. 1. O art. 557 do CPC autoriza ao relator decidir o recurso, com fundamento
na jurisprudência dominante, de forma monocrática, não ofendendo, assim, o princípio da
colegialidade. 2. O tema controvertido diz respeito à possibilidade de concessão, ao menor
sob guarda, de pensão por morte. O entendimento desta Corte encontra-se uniformizado no
sentido de que a Lei nº 9.528/1997, norma previdenciária específica, prevalece em relação
ao art. 33, § 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo aplicável às hipóteses em
que o óbito ocorreu a partir de sua vigência. 3. Precedentes: AgRg-REsp 1.141.788/RS, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª T., J. 06.11.2014, DJe 24.11.2014. EREsp 859.277/PE, Relª Min.
Alderita Ramos de Oliveira – Desembargadora Convocada do TJ/PE, 3ª S., DJe de 27.02.2013;
REsp 1.328.300/RS, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe de 25.04.2013. Agravo regimental
improvido.” (STJ – AgRg-REsp 1.482.391 – (2014/0238628-3) – 2ª T. – Rel. Min. Humberto
Martins – DJe 20.04.2015 – p. 856)
Comentário Editorial SÍNTESE
A ementa em estudo cuida do pagamento de pensão por morte ao menor sob guarda
judicial.
A questão já foi pacificada na publicação da Lei nº 9.528/1997, quando o menor sob
guarda judicial foi equiparado a filho.
O Procurador Federal Dr._____ assim leciona:
“A família natural é aquela unidade comum formada pelos pais ou qualquer um deles
e seus descendentes (art. 25 do ECA). Já a família substituta – a própria denominação
já revela – é medida excepcional (art. 19 do ECA), e tem o caráter de fazer frente à
falta daquela, nos termos do ECA, e será efetivada mediante guarda, tutela ou adoção
(art. 28 do ECA).
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 201
Esses instrumentos – guarda, tutela e adoção – são taxativos, sendo o primeiro conside-
rado a modalidade mais simples, pois sequer retira o poder familiar dos pais sanguíneos,
ao passo que a tutela pressupõe sua suspensão ou mesmo a destituição; e a adoção, a
mais drástica de todas, tem como consequência o rompimento dos vínculos de paren-
tesco com a família natural.
Para o interesse do presente estudo, as atenções são voltadas para o instituto da guarda
e suas espécies em uma relação comparativa com a tutela.
A guarda, que obriga o seu detentor à prestação de assistência material, moral e educa-
cional à criança ou ao adolescente (art. 33, caput, do ECA), em regra, ‘[...] destina-se
a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
procedimentos de tutela e adoção [...]’ (art. 33, § 1º, do ECA). Não há muita dificulda-
de em enxergar a provisoriedade dessa espécie, pois ela não passa de fase anterior ao
procedimento de tutela e adoção.
Já o § 2º do art. 33 do ECA dispõe sobre as hipóteses excepcionais, fora dos casos de
tutela e adoção, em que se deferirá a guarda para atender a situações peculiares ou
suprir a falta eventual dos pais ou responsável.
A título de exemplo, os programas de acolhimento familiar ou institucional configuram
situação peculiar; contudo, sua precariedade é nota intrínseca. Dois dos seus princípios
esculpidos no art. 92 do ECA evidenciam essa conclusão: preservação dos vínculos fa-
miliares e promoção da reintegração familiar e integração em família substituta, quando
esgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa.
A eventual falta dos pais também permite ao guardião representar o guardado em deter-
minada situação (por exemplo, menor, cujos pais estejam em outra localidade impedidos
de se deslocarem, que necessita ser representado para retirada de FGTS).
Em suma, a guarda é (a) preparatória para a tutela ou adoção, (b) estágio para a rein-
tegração familiar ou integração em família substituta, ou (c) proteção aos interesses do
menor diante de situação passageira. Diante do exposto, ela é meio e não fim; é estado
não buscado a título de definitividade, mas como etapa prévia ou temporária àquela
visada pelos próprios princípios de proteção à criação e ao adolescente. Aliás, sua na-
tureza precária e provisória decorre de expressa previsão no ECA: ‘Art. 35. A guarda
poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o
Ministério Público.’
Adiante, em rápidos esclarecimentos, restarão evidentes os traços distintivos entre a
guarda e a tutela.
Enquanto o deferimento da guarda não é definitivo, tampouco faz cessar o poder fami-
liar, o que permite aos pais futuramente reverter essa situação, são postos em tutela os
filhos menores cujos pais faleceram, são considerados judicialmente ausentes ou deca-
íram do poder familiar (art. 1.728, I e II, do CC). Em consonância, o art. 36, parágrafo
único, do ECA prevê como pressuposto ao deferimento da tutela a prévia decretação da
suspensão (art. 1.637 do CC) ou perda (art. 1.638 do CC) do poder familiar.
Ao passo que a guarda é instituto revestido de provisoriedade, a tutela tem cores de esta-
bilidade, apesar de não revestir-se de definitividade. Basta ler os arts. 1.740 e seguintes
do Código Civil para ver que ao tutor incumbem todos os deveres que normalmente
caberiam aos pais, isto é, a tutela substitui o poder familiar. Outros suportes normativos
da estabilidade da tutela são: (a) o art. 38 do ECA, que equipara os casos de cessação
da tutela às hipóteses de destituição do poder familiar – ou seja, a tutela, diferentemente
da guarda, não é simplesmente destituída em razão de a criança e o adolescente atingir
estágio melhor de proteção (adoção, por exemplo); e (b) o caráter de firmeza do estado
de tutor ante as hipóteses de destituição prevista do art. 1.764 do CC.
202 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
Ademais, interpretando os incisos do art. 1.763 do CC, cessa a condição de tutelado
se for atingida a maioridade/emancipação ou estiver/retornar, em qualquer hipótese, ao
manto do poder familiar: reconhecimento, adoção, descoberta ou reaparecimento dos
genitores e reaquisição judicial do poder familiar. Mais uma vez, essas razões sinalizam
o grau de estabilidade do instituto.
Demonstrada a abissal diferença entre os institutos da guarda e da tutela, quem viola o
princípio constitucional da isonomia é, na verdade, a equiparação do menor sob guarda
ao tutelado pela simples razão de eles viverem situações desassemelhadas.” (Do menor
sob guarda e o sistema da Previdência Social. Revista SÍNTESE Trabalhista e Previden-
ciária, n. 292, out./2013, p. 216)

1669 – Responsabilidade civil do Estado – bloqueio de pagamento de seguro-desemprego


– registro de aposentadoria por invalidez vinculada ao nome da requerente – equí-
voco do INSS – danos morais – alcance
“Responsabilidade civil do Estado. Ação de reparação de danos morais. Ilegitimidade passiva
e prescrição. Inocorrência. Bloqueio de pagamento de seguro-desemprego. Registro de apo-
sentadoria por invalidez vinculada ao nome da requerente. Equívoco decorrente de conduta
imputável ao INSS. Danos morais configurados. 1. Cuida-se de apelos interpostos pela parte
autora, Áurea Maria Ribeiro de Freitas, e pelo réu, Instituto Nacional do Seguro Social, contra
sentença de procedência proferida no bojo da ação ordinária ajuizada com vistas à reparação
por danos morais ocasionados em virtude de o INSS tê-la cadastrado em seu banco de dados,
de forma indevida, na condição de aposentada por invalidez, o que lhe trouxe dificuldades
para o recebimento do seguro-desemprego. 2. Afasta-se a preliminar de ilegitimidade passiva
do INSS, pois esta autarquia, ao proceder à implantação da pensão alimentícia no benefício
de aposentadoria por invalidez do ex-marido da autora, cadastrou esta, na qualidade de re-
presentante da filhado casal, como beneficiária de pensão alimentícia, lançando no cadastro
o mesmo código do benefício de aposentadoria por invalidez. 3. O bloqueio do seguro-
-desemprego decorreu da constatação pelo Ministério do Trabalho e Emprego de benefício
previdenciário de aposentadoria por invalidez cadastrado em nome da autora, quando, na
verdade, esta deveria figurar, apenas, na condição de beneficiária da pensão alimentícia per-
cebida por sua filha menor. 4. Segundo dispõe o art. 3º, inciso III, da Lei nº 7.998/1990, a per-
cepção de benefício previdenciário é fato impeditivo ao recebimento do seguro-desemprego.
Ocorre que, no caso, a conduta indicada como lesiva não consiste no bloqueio do seguro-
-desemprego por parte do Ministério do Trabalho e Emprego, mas no cadastramento indevido
efetivado pelo INSS quando da implantação da pensão alimentícia em nome daquela sob o
código da aposentadoria por invalidez, fato este determinante para o bloqueio do seguro, o
que deixa fora de dúvidas à legitimidade do instituto para figurar no polo passivo da demanda.
5. No que se refere à prescrição, a matéria foi pacificada no âmbito do Superior Tribunal de
Justiça no sentido da aplicação às ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública
do lapso quinquenal, previsto no Decreto nº 20.910/1932, em detrimento do trienal contido
no Código Civil de 2002, sob o fundamento da especificidade do Decreto nº 20.910/1932.
6. O tratamento a ser dispensado à hipótese do presente feito é o da responsabilidade objetiva
do Estado, que está consagrado no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, cujo reconheci-
mento requer, apenas, a comprovação do nexo causal entre a conduta lesiva imputável a um
agente público no exercício de suas funções e o dano indenizável, sem perquirição quanto
a eventual culpa. 7. O bloqueio e consequente suspensão do pagamento das parcelas do
seguro-desemprego, verba de natureza alimentar e necessária à subsistência temporária do
trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa, é acontecimento apto a
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 203
gerar perturbações psicológicas no indivíduo que excedem ao mero aborrecimento, dissabor
ou inconveniente, caracterizando-se, de fato, como dano moral indenizável. 8. O valor da
indenização deve ser suficiente para desencorajar a reiteração de condutas ilícitas lesivas por
parte do réu e, ao mesmo tempo, amenizar, na medida do possível, o sofrimento carreado à
parte lesada. Além disso, não pode se mostrar excessivo diante da ofensa para que não seja
fonte de enriquecimento ilícito. 9. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Jus-
tiça possuem entendimento alinhado no sentido de que a norma relativa aos juros de mora
tem caráter processual, devendo, assim, incidir de imediato nos processos em andamento.
10. Sobre o valor fixado deve incidir atualização desde a data da sentença (Súmula nº 362/STJ:
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitra-
mento), atualizados nos moldes da Resolução nº 267/2013 do Conselho da Justiça Federal,
que aprovou o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal,
já considerados os ajustamentos decorrentes do quanto decidido nas ADIs 4357 e 4425, item
5 das ementas publicadas em 26.09.2014 e 19.12.2013, respectivamente, em especial a in-
constitucionalidade por arrastamento da Lei nº 9.494/1997 retornando ao panorama anteacto,
qual seja, a correção monetária estabelecida na Lei nº 10.192, de 14.02.2001, na MP 1973-67,
de 26.10.2000, convertida na Lei nº 10.522, de 19.07.2002, que determina a aplicação do
IPCA-E/IBGE. 11. No tocante aos juros de mora, abordados no item 6 das ementas das ADIs
acima referidas e incidentes a partir da data do evento danoso (Súmula nº 54/STJ), cabe re-
gistrar que a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em sede de representativo de
controvérsia, Recurso Especial Repetitivo nº 1.270.439/PR, alinhado ao acórdão proferido
pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 4.357/DF, que declarou a inconstitucionalidade par-
cial, por arrastamento, do art. 5º da Lei nº 11.960/2009, assentou entendimento de que a
inconstitucionalidade se refere apenas aos critérios de correção monetária ali estabelecidos,
permanecendo esta eficaz em relação aos juros de mora, exceto para as dívidas de natureza
tributária. Assim, no caso, tratando-se de danos morais, os juros de mora a serem aplicados
serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica aplicáveis à caderneta de pou-
pança. 12. Os honorários advocatícios devem ser mantidos no patamar de 10% sobre o valor
da condenação, critério este que atende aos ditames instituídos nos §§ 3º e 4º do art. 20 do
Código de Processo Civil.” (TRF 3ª R. – AC 0010575-64.2008.4.03.6112/SP – 3ª T. – Rel. Des.
Fed. Carlos Muta – DJe 03.03.2015 – p. 297)

1670 – Responsabilidade civil objetiva – INSS – indeferimento de benefício assistencial –


retardo mental e epilepsia dano moral – configuração
“Previdenciário. Amparo social. Retardo mental e epilepsia. Nulidade do ato de indeferimento
de benefício. Enfermidade preexistente à época do requerimento administrativo. Responsa-
bilidade civil objetiva do INSS. Dano moral configurado. 1. Apelação interposta em face
de sentença que julgou procedentes pedidos de concessão do benefício de amparo social
c/c indenização por danos morais, fixada em R$ 2.000,00. 2. A responsabilidade do Estado
concretiza-se sempre que ocorra um dano juridicamente reparável, além de reclamar ofensa a
algo que o ordenamento jurídico reconheça em favor de um sujeito de direito. Dano juridica-
mente reparável pressupõe variações no plano patrimonial econômico e moral do indivíduo.
3. Os documentos colacionados autos, dão conta de que o Autor se encontrava, à época do
requerimento administrativo, acometido de doença que perdura até hoje, conforme laudo
pericial. Condição de enfermo que foi ignorada pelo INSS, ao negar-lhe o seu pedido nas
instancias administrava. 4. Dano moral configurado. Sofrimento, angústia, e privações finan-
ceiras decorrentes do não recebimento dos valores referentes ao respectivo benefício, dada
a ilicitude do ato administrativo de indeferimento do benefício (causador de sérias privações
204 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
e constrangimentos). Indenização no valor fixado na sentença (R$ 2.000,00 – dois mil reais).
Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 0004315-80.2014.4.05.9999 – (577544/SE) – 3ª T. –
Rel. Des. Fed. Geraldo Apoliano – DJe 04.03.2015 – p. 91)

1671 – Servidor público – diferenças remuneratórias – horas extras não comprovadas – fé-
rias – cálculo de acordo com a CLT – inaplicabilidade
“Apelações cíveis. Ação de cobrança. Servidor público. Diferenças remuneratórias. Horas
extras. Não comprovadas. Férias. Cálculo de acordo com a CLT. Inaplicabilidade. Devido o
recolhimento de contribuições previdenciárias. Honorários de sucumbência. Devido. Sen-
tença mantida. Recursos aos quais se nega provimento. O servidor público que intentar a co-
brança de diferença remuneratória decorrente de horas extras efetuadas e não pagas não está
desincumbido do dever de provar suas alegações (art. 333, II, CPC). O cálculo das férias do
agente público não observa as regras da CLT, pois a relação jurídica existente é administrativa,
portanto, regida por estatuto próprio. As contribuições previdenciárias são direitos de todo e
qualquer trabalhador, inclusive o estatutário, e devem ser recolhidas pelo empregador, ainda
que em atraso. Havendo sucumbência, lícita é a condenação em honorários advocatícios ao
advogado da parte adversa.” (TJMS – Ap 0004391-88.2010.8.12.0017 – C.Cív. – Rel. Des.
Luiz Tadeu Barbosa Silva – DJe 04.03.2015)
Destaque Editorial SÍNTESE
Selecionamos os julgados abaixo no mesmo sentido:
APELAÇÃO – REEXAME NECESSÁRIO – DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIDORES
PÚBLICOS – PROFESSORES MUNICIPAIS – ESTATUTO PRÓPRIO NÃO REVOGADO
PELO ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS EM GERAL DO MUNICÍPIO – APLICA-
ÇÃO SUBSIDIÁRIA DA CLT – OFENSA AO REGIME JURÍDICO ÚNICO – IMPOSSIBILI-
DADE DE PAGAMENTO DAS FÉRIAS NÃO GOZADAS EM DOBRO – TERÇO CONSTI-
TUCIONAL – INCIDE SOBRE TODOS OS PERÍODOS DE FÉRIAS – JURISPRUDÊNCIA
DO STF – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO – 1. O Município de Fortaleza elegeu
o estatutário como regime a reger suas relações com seus servidores, mediante a Lei
municipal denominada Estatuto dos Servidores Públicos, e especialmente quanto aos
profissionais da educação, o Estatuto do Magistério, Lei nº 5.895/1984. O Estatuto do
Magistério é norma especial não revogável por norma geral (Estatuto dos Servidores do
Município). 2. A aplicação subsidiária das normas trabalhistas afronta a necessidade
de o ente político optar por apenas um regime jurídico a reger as suas relações com
seus servidores, podendo denotar inclusive um regime jurídico híbrido. Considerando a
ausência de previsão expressa, na Lei reguladora do regime dos professores, do direito à
percepção em dobro das férias não gozadas, reconheço tão somente a obrigação do Mu-
nicípio ao pagamento das férias simples, por ser direito do servidor público amparado no
art. 7º, XVII c/c art. 39, § 3º da CF/1988 e no princípio geral que veda o enriquecimento
sem causa. 3. O Supremo Tribunal Federal, ao analisar o dispositivo da Lei Orgânica da
Magistratura Nacional que prevê férias de sessenta dias para os juízes e a incidência do
terço constitucional, assentou entendimento no sentido de que o art. 7º, XVII garante o
direito do abono em todos os períodos de férias previstos em lei, ou seja, os 60 dias. Há
igual jurisprudência na Suprema Corte para os membros do Ministério Público e mem-
bros dos Tribunais de Contas. Aplica-se o mesmo entendimento aos professores da rede
municipal de ensino cuja legislação prevê dois períodos de férias anuais. 4. Apelação
conhecida e parcialmente provida.” (TJCE – Ap-RN 0037220-12.2008.8.06.0001 –
Rel. Francisco Gladyson Pontes – DJe 11.12.2014) (Disponível em online.sintese.com,
sob o nº 141000102016. Acesso em: 05.03.2015)
APELAÇÃO – ADMINISTRATIVO – CONSTITUCIONAL – SERVIDOR PÚBLICO ESTA-
DUAL – CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA – SUCESSIVAS PRORROGAÇÕES – VÍNCULO
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 205
JURÍDICO-ADMINISTRATIVO – CARACTERIZAÇÃO – VERBAS RESCISÓRIAS – APLI-
CAÇÃO DA CLT – IMPOSSIBILIDADE – FICHAS FINANCEIRAS – Férias, décimo tercei-
ro, insalubridade, vantagem abrangente e reflexos. Demonstração de pagamento. Fato
extintivo. Gratificação por trabalho extrajornada e noturno. Descabimento. Ausência de
provas. 1. É pacífico o entendimento, tanto no Supremo Tribunal Federal quanto no Su-
perior Tribunal de Justiça, de que a relação jurídica estabelecida entre o poder público e
seus servidores contratados por prazo determinado em face de necessidade temporária
de excepcional interesse público possui natureza jurídico-administrativa, o que não se
modifica com a ocorrência de sucessivas prorrogações do prazo de vigência do contrato
temporário originalmente estabelecido entre as partes. 2. Não há falar, em razão desse
vínculo firmado entre as partes, em pagamento de verbas trabalhistas previstas na Con-
solidação das Leis do Trabalho. 3. É assegurado o direito de recebimento de horas extras
aos servidores públicos quando trabalharem em regime de plantão e escalas, desde que
não haja a compensação de horas pela retribuição pecuniária ou folga compensatória.
4. Para o reconhecimento do direito ao recebimento de horas extras é imperioso que o
autor demonstre a efetiva prestação do serviço extrajornada, pois, caso contrário, não
será devido o pagamento. 5. Havendo demonstração, por meio de fichas financeiras,
de pagamento das verbas rescisórias que o servidor faz jus em razão da extinção do
contrato temporário (férias, décimo terceiro e reflexos), bem como daquelas que pleiteia
na inicial (gratificação de insalubridade e vantagem abrangente), tem-se fato extintivo
do direito do autor. 6. Recurso desprovido.” (TJRO – Ap 0009011-76.2010.8.22.0014
– 2ª C.Esp. – Rel. Des. Gilberto Barbosa – DJe 28.08.2013) (Disponível em online.
sintese.com, sob o nº 156000067695. Acesso em: 05.03.2015)

1672 – Servidor público – ex-celetista – tempo de serviço especial – insalubridade –


conversão
“Agravo regimental. Previdenciário. Administrativo. Processual civil. Servidor público. Ex-ce-
letista. Tempo de serviço especial. Insalubridade. Conversão. Legitimidade. INSS. Inovação
recursal. Impossibilidade. Acórdão do tribunal de origem. Consonância com a jurisprudência
do STJ. Súmula nº 83/STJ. 1. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que somente ‘o
INSS é a parte legítima para figurar no polo passivo da demanda ajuizada por servidor público
ex-celetista visando o cômputo, como especial, de tempo de contribuição ao Regime Geral
de Previdência para fins de obtenção de aposentadoria no regime próprio de previdência, me-
diante contagem recíproca’. Precedentes. 2. O argumento de que a comprovação da atividade
especial pode dar-se por outros meios de prova, e não somente por certidões expedidas pelo
INSS, não merece conhecimento, porquanto tal alegação, além de estar dissociada das razões
de decidir, constitui-se em inovação recursal, o que é defeso em recurso especial, conforme a
jurisprudência pacífica desta Corte. 3. ‘Não se conhece do recurso especial pela divergência,
quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida’. Inteligên-
cia da Súmula nº 83/STJ, que se aplica também aos recursos especiais interpostos pela alínea
a do permissivo constitucional. Precedentes. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-Ag-
-REsp 665.465 – (2014/0281782-7) – 2ª T. – Rel. Min. Humberto Martins – DJe 22.04.2015
– p. 143)
Comentário Editorial SÍNTESE
Cuida a ementa em destaque da concessão de aposentadoria especial ao servidor pú-
blico.
A não concessão do benefício encontrava óbice no, § 4º, inciso III do art. 40 da CF/1988,
cuja redação é a seguinte:
“Art. 40. [...]
206 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
[...]
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de apo-
sentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos
definidos em leis complementares, os casos de servidores:
III – cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde
ou a integridade física.(NR) (Redação dada ao parágrafo pela Emenda Constitucional
nº 47, de 05.07.2005, DOU 06.07.2005, com efeitos retroativos à data de vigência da
Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003, DOU 31.12.2003)
[...].”
Entretanto, com a publicação da Instrução Normativa SPS nº 1/2010, foram estabele-
cidas instruções para o reconhecimento do tempo de serviço público exercido sob con-
dições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física pelos regimes próprios
de previdência social para fins de concessão de aposentadoria especial aos servidores
públicos amparados por mandado de injunção.
O Mestre Oscar Valente Cardoso explica:
“Destacam-se dois pontos acerca do direito à aposentadoria especial dos servidores
públicos, de acordo com os parâmetros delimitados nos mandados de injunção julgados
pelo Supremo Tribunal Federal.
Em primeiro lugar, o STF reconheceu aos servidores públicos o direito à aposentadoria
especial, mas, como não há lei regulamentadora específica, aplicam-se as normas do Re-
gime Geral da Previdência Social, especialmente os arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/1991
e os arts. 64 e 70 do Decreto nº 3.048/1999 (Mandado de Injunção nº 721).
Em segundo, como não foi editada a lei prevista no § 4º, III, do art. 40 da Constituição,
incidem exclusivamente as normas do RGPS, ou seja, não se pode criar um sistema
misto na prática, formado por normas da Constituição e das Leis nºs 8.112/1990 e
8.213/1991, que tratam de benefícios de sistemas diferenciados. Como a primeira lei
citada não trata da aposentadoria especial, aplica-se apenas a segunda, afastando-se
as regras da Constituição e da Lei nº 8.112/1990 sobre a aposentadoria voluntária dos
servidores públicos, inclusive quanto à idade mínima (Mandado de Injunção nº 758).
Entretanto, em relação a outras normas genéricas de todas as aposentadorias, tais como
a forma de cálculo e os termos inicial e final, incidem as normas específicas para os
servidores públicos previstas na Constituição.
Como visto, a aposentadoria especial dos servidores públicos possui dois requisitos:
(a) o cumprimento dos períodos de carência, de no mínimo 10 anos de efetivo exercício
no serviço público e 5 anos de exercício no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria
(art. 40, § 4º, III, da Constituição); (b) e o tempo de contribuição mínimo trabalhado em
condições especiais, prejudiciais à saúde ou à integridade física. Não há idade mínima,
inclusive para os servidores públicos (STF, Mandado de Injunção nº 758).
O tempo mínimo trabalhado em condições especiais varia de acordo com a atividade
exercida, existindo três prazos: 15 anos (situações consideradas de maior prejudicialida-
de à saúde), 20 anos (grau médio) e 25 anos (menor grau de prejudicialidade). O Anexo
IV do Decreto nº 3.048/1999 prevê na primeira hipótese apenas o trabalho no subsolo
de minerações subterrâneas em frente de produção, no segundo contexto a atividade de
mineração que não seja exercida em frente de produção e o trabalho em contato com
asbesto, e todas as demais atividades se enquadram nos 25 anos.
A aposentadoria especial pode ser requerida somente pelo servidor, quando tiver preen-
chido os seus requisitos (como se ressaltou, existe uma modalidade de aposentadoria
compulsória, aos 70 anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contri-
buição).
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 207
O termo inicial da aposentadoria especial é a data da publicação do ato administrativo
de concessão, enquanto o termo final ocorre com o falecimento do beneficiário ou com
o seu retorno (em qualquer regime previdenciário) ao desempenho de atividade que o
exponha a agentes nocivos.
O cálculo segue as regras da Constituição (art. 40, §§ 2º e 3º) para a aposentadoria
voluntária, que, na atualidade, leva em conta todas as remunerações do servidor (atuali-
zadas) e o valor inicial do benefício não pode ultrapassar a remuneração do cargo efetivo
em que se deu a jubilação.” (Aposentadoria especial do servidor público e aplicação
analógica das normas do Regime Geral de Previdência Social. Revista SÍNTESE Direito
Previdenciário, n. 49, jul.-ago./2012, p. 26)

1673 – Servidor público – exposição habitual a elementos radioativos – jornada de trabalho


– redução – possibilidade
“Administrativo. Servidor público. Exposição habitual a elementos radioativos. Redução da
jornada de 40 horas para 24 horas semanais. Possibilidade. Lei nº 1.234/1950. Remessa e ape-
lação desprovidas. 1. A Lei nº 1.234/1950, que disciplina as atividades de caráter não even-
tual exercidas por servidores públicos junto a substâncias radioativas, em seu art. 1º, regula a
jornada de trabalho dos referidos servidores, com expressa disposição estipulando a jornada
de trabalho em, no máximo, 24 (vinte e quatro) horas semanais. 2. A CRFB/1988, ao emprestar
contornos gerais às atribuições e carga horária dos servidores públicos federais, não afastou
a incidência de legislação especial como, por exemplo, eventuais diplomas que cuidem da
carga de trabalho em minas, em hospitais, em locais de difícil acesso, dentre outros. Não há
como utilizar regra geral aplicada a todos os servidores públicos à categoria que realize suas
atribuições em locais perigosos ou insalubres, como no caso em apreço, em que os servidores
prestam seus serviços junto a substâncias radioativas. 3. Em interpretação sistemática da Cons-
tituição, não há como se concluir que a Carta Magna, defensora e garantidora dos chamados
‘direitos sociais’, dentre os quais se inclui o direito ao trabalho realizado em condições ade-
quadas, tenha afastado dos seus ideais e do seu âmbito de resguardo os servidores públicos
que trabalhem diretamente com substâncias radioativas. 4. Com relação à Lei nº 8.112/1990,
por mais que tenha sido editada posteriormente à Lei nº 1.234/1950, em razão do critério da
especialidade não há que se falar em revogação desta última. A própria Lei nº 8.112/1990,
em seu art. 19, § 2º, ao mencionar a carga horária dos servidores públicos, não afasta a in-
cidência da legislação especial. 5. Inócuo o argumento de que a exceção legal prevista no
art. 19, § 2º da Lei nº 8.112/1990 alcançaria apenas jornadas de trabalho de profissões regu-
lamentadas, uma vez que a legislação nada dispôs a respeito, abrangendo, ao contrário, todos
os servidores da União que atuam diretamente com Raio X ou substancias radioativas, nos
termos do art. 1º da Lei nº 1.234/1950. Nessa esteira, art. 7º do Decreto nº 81.384/1978, com
a nova redação dada pelo Decreto nº 84.106/1979, enumerou e estendeu a mais cargos o di-
reito de operar diretamente com Raios X e Radiação. 6. A própria ré reconheceu trabalharem
os servidores com exposição a substâncias radioativas, tanto é que, em cumprimento à Lei
nº 1.234/1950, observa as disposições relativas à concessão de férias de 20 (vinte) dias por
semestre de atividade profissional e de gratificação adicional (adicional de Radiação Ionizante
ou a Gratificação de Trabalho com Raio X), conforme se verifica dos contracheques acostados
aos autos. 7. Remessa necessária e recurso de apelação desprovidos.” (TRF 2ª R. – AC-RN 142
– 5ª T.Esp. – Rel. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes – DJe 02.03.2015)
Transcrição Editorial SÍNTESE
Lei nº 8.112/1990:
208 S�������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA
“Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições
pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal
de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas
diárias, respectivamente.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica a duração de trabalho estabelecida em leis
especiais.”

1674 – Servidor público – regime estatutário – adicional de insalubridade – norma adminis-


trativa local – inexistência – CLT – aplicação – impossibilidade
“Servidor público. Município de Bilac. Regime estatutário. Adicional de insalubridade. Ine-
xistência de norma administrativa local que defina os critérios de pagamento da vantagem.
Impossibilidade de aplicação da CLT por analogia. Vedação à aplicação do Princípio da Iso-
nomia conforme a Súmula Vinculante de nº 37. Ação julgada improcedente. Recurso impro-
vido.” (TJSP – Ap 0002360-59.2009.8.26.0076 – 4ª CDPúb. – Rel. Luis Fernando Camargo de
Barros Vidal – DJe 18.02.2015)
Comentário Editorial SÍNTESE
Discutiu-se na apelação em tela se é possível a aplicação por analogia da CLT para servi-
dor estatuário que pede a concessão de adicional de insalubridade, diante da inexistên-
cia de norma administrativa local que defina critérios para o pagamento desta vantagem.
O recurso foi interposto por servidor público municipal contra sentença que julgou im-
procedente ação onde almejava a concessão de adicional de insalubridade mediante
aplicação por analogia dos percentuais e base de cálculo definidos na CLT.
Na decisão de 1º grau, o juiz entendeu que inexiste legislação municipal administrativa
que autorize o pagamento da vantagem, bem como concluiu pela impossibilidade de
aplicação por analogia da CLT.
A 4ª Câmara de Direito Público do TJSP afirmou que a sentença está em conformidade
com o entendimento da Corte, pois a hipótese é regida pelo regime estatutário e diante
das especificidades da composição dos vencimentos, não é admissível a aplicação por
analogia da CLT.
Afirmou, ainda, que não é cabível a invocação do princípio da isonomia para justifi-
car o acolhimento do pedido, tendo em vista a vedação contida na Súmula Vinculante
nº 37, in verbis:
“Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos
de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.”
Em seu voto, o Relator citou os seguintes precedentes:
“APELAÇÃO – SERVIDOR PÚBLICO – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO MEDIATO – SER-
VIDOR PÚBLICO MUNICIPAL – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – Grau de insalubri-
dade que a atividade do autor envolve. Laudo pericial conclusivo no sentido de que as
atividades do Apelado se enquadram como insalubres no grau médio. Ausência de lei
prevendo o pagamento do adicional. Inaplicabilidade da CLT, uma vez que se trata de
regime estatutário. Omissão legislativa. Necessidade de regulamentação pelo Município.
Não é dado ao Poder Judiciário corrigir a omissão legislativa. Qualquer interferência do
órgão jurisdicional representaria usurpação das atribuições do Executivo e do Legislati-
vo. Recurso não provido.” (Apelação nº 0000011-69.2010.8.26.0619, Rel. Des. José
Maria Câmara Junior)
“SERVIDOR PÚBLICO – Município de Cândido Rodrigues. Pretensão à percepção de
adicional de insalubridade. Vantagem que, após a Emenda Constitucional nº 19/1998,
deixou de ser assegurada aos servidores públicos. Direito que, mesmo na redação an-
terior à Emenda, dependia de previsão legal no âmbito municipal. Previsão contida na
Lei Complementar Municipal nº 1.007/2001. Norma legal cuja aplicação depende de
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA.............................................................................. 209
regulamentação dos percentuais e base de cálculo. Pedido improcedente. Recurso des-
provido.” (Apelação nº 0001292-60.2010.8.26.0619, Rel. Des. Antonio Carlos Villen)

1675 – Tempo de serviço – rurícola – sócio de empresa – contribuinte individual – aposen-


tadoria por tempo de contribuição – concessão
“Previdenciário. Tempo de serviço rural. Regime de economia familiar. Contribuinte indi-
vidual. Sócio de empresa. Aposentadoria por tempo de serviço/contribuição. Concessão.
1. Comprovado o labor rural em regime de economia familiar, mediante a produção de início
de prova material, corroborada por prova testemunhal idônea, o segurado faz jus ao cômputo
do respectivo tempo de serviço. 2. Na vigência da Lei nº 8.212/1991, o sócio que trabalhe
na administração da empresa é o responsável pelo recolhimento de suas contribuições à
previdência social, na condição de contribuinte individual. 3. Tem direito à aposentadoria
por tempo de serviço/contribuição o segurado que, mediante a soma do tempo judicialmente
reconhecido com o tempo computado na via administrativa, possuir tempo suficiente e im-
plementar os demais requisitos para a concessão do benefício.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0019486-
07.2014.404.9999/RS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Rogerio Favreto – DJe 24.04.2015 – p. 129)

1676 – Tempo de serviço especial – tensão superior a 250 volts – reconhecimento


“Previdenciário. Agravo legal. Reconhecimento de tempo de serviço especial. Tensão supe-
rior a 250 volts. Precedentes desta c. Corte. Agravo legal a que se nega provimento. Sobre a
alegada necessidade de prévia fonte de custeio, em se tratando de empregado, sua filiação ao
Sistema Previdenciário é obrigatória, bem como o recolhimento das contribuições respecti-
vas, cabendo ao empregador a obrigação dos recolhimentos, nos termos do art. 30, I, da Lei
nº 8.212/1991. O trabalhador não pode ser penalizado se tais recolhimentos não forem efetua
dos corretamente, porquanto a autarquia previdenciária possui meios próprios para receber
seus créditos. A exposição à tensão superior a 250 volts caracteriza a especialidade do exer-
cício da atividade e encontra enquadramento no disposto na Lei nº 7.369/1985 e no Decreto
nº 93.412/1986. Precedentes desta Corte. Os argumentos trazidos pelo Agravante não são capa-
zes de desconstituir a Decisão agravada.” (TRF 3ª R. – Ag-AC 0012308-41.2011.4.03.6183/SP
– 7ª T. – Rel. Des. Fed. Fausto de Sanctis – DJe 20.02.2015 – p. 1800)
Seção Especial – Com a Palavra, o Procurador
A Ação Regressiva Acidentária e a Reabilitação Profissional:
Obrigação de Fazer ou Ressarcimento?
Fernanda de Paula Campolina
Procuradora Federal, Pós-Graduanda em Advocacia Pública pelo IDDE – Instituto para o De-
senvolvimento Democrático.

RESUMO: Este artigo analisa a possibilidade de se requerer, no âmbito da ação regressiva aci-
dentária, a obrigação de fazer relativa à reabilitação profissional e/ou o regresso dos valores
expendidos com esse serviço previdenciário. O tema é tratado sob a ótica da teoria objetiva do
Estado.

PALAVRAS-CHAVES: Ação regressiva acidentária; reabilitação profissional; obrigação de fazer;


ressarcimento; teoria objetiva.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Conceito; 2 Tratamento legal; 3 A reabilitação profissional. Obrigatorie-


dade de prestação pelo INSS e direito ao regresso; 4 Direito de regresso. Delimitação do pedido;
Conclusão; Referências.

Introdução

O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS está ao lado de outras


instituições, como Ministério do Trabalho, Ministério Público do Traba-
lho, Polícia Civil, Judiciário Federal, na luta em busca de ambientes de
trabalho mais saudáveis e seguros.
Essa luta, no âmbito da autarquia previdenciária, vem se materiali-
zando por meio do ajuizamento em massa de ações regressivas que ob-
jetivam responsabilizar o empregador negligente com o custo das pres-
tações acidentárias, quando comprovada sua culpa no evento danoso.
Pretende-se, portanto, que o empregador se conscientize de que é mais
rentável investir em segurança do trabalho do que arcar com os custos
decorrentes de um acidente laboral.
Conforme já repetido alhures em diversas manifestações da Pro-
curadoria-Geral Federal, órgão que representa judicialmente o INSS, tais
ações possuem caráter pedagógico e financeiro na medida em que tais
ressarcimentos colaboram para o equilíbrio das contas da previdência.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – COM A PALAVRA, O PROCURADOR ........................................................................ 211
Até o momento, as ações regressivas vêm perseguindo o reembol-
so dos valores expendidos a título de benefício acidentário, omitindo-se
quanto aos gastos efetuados pela Previdência nos processos de reabilita-
ção profissional. E é esse o ponto que ora se enfrenta.

1 Conceito
A reabilitação profissional constitui serviço da Previdência Social
cujo objetivo é oferecer aos segurados incapacitados para o trabalho os
meios de reeducação ou readaptação profissional para o seu retorno ao
mercado de trabalho.
O atendimento é feito por equipe de médicos, assistentes sociais,
psicólogos, sociólogos, fisioterapeutas e outros profissionais.
Concluído o processo de reabilitação profissional, a Previdência
Social emitirá certificado indicando a atividade para a qual o trabalha-
dor foi capacitado profissionalmente.
Viana, ao discorrer sobre o tema, ensina:
Esses serviços são devidos em caráter obrigatório aos segurados, inclusive
aposentados e, na medida das possibilidades do INSS, que é o órgão da
previdência social responsável por sua prestação, aos seus dependentes.
O processo de habilitação e de reabilitação profissional do beneficiário
será desenvolvido por meio das funções básicas de:
I – avaliação do pontencial laborativo;
II – orientação e acompanhamento da programação profissional;
III – articulação com a comunidade, inclusive mediante a celebração de
convênio para reabilitação física restrita a segurados que cumpriram os
pressupostos de elegibilidade ao programa de reabilitação profissional,
com vistas ao reingresso no mercado de trabalho; e
IV – acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado de trabalho.
A execução dessas funções dar-se-á, preferencialmente, mediante o
trabalho de equipe multifuncional especializada em medicina, serviço
social, psicologia, sociologia, fisioterapia, terapia ocupacional e outras
afins ao processo, sempre que possível na localidade do domicílio do be-
neficiário, ressalvadas as situações excepcionais em que este terá direito
à reabilitação profissional fora dela.
212 S������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – COM A PALAVRA, O PROCURADOR
A programação profissional será desenvolvida mediante cursos e/ou trei-
namentos, na comunidade, por meio de contratos, acordos e convênios
com instituições e empresas públicas ou privadas. O treinamento do rea-
bilitado, quando realizado em empresa, não estabelece qualquer vínculo
empregatício ou funcional entre o reabilitando e a empresa, bem como
entre estes e o INSS. Concluído o processo, não cabe ao INSS manter
o segurado no mesmo emprego ou sua colocação em outro, mas ape-
nas realizar articulação com a comunidade, com vistas ao levantamento
da oferta do mercado de trabalho, ao direcionamento da programação
profissional e à possibilidade de reingresso do reabilitando no mercado
formal.
Quando indispensáveis ao desenvolvimento do processo de reabilitação
profissional, o INSS fornecerá aos segurados, inclusive aposentados, em
caráter obrigatório, prótese e órtese, seu reparo ou substituição, instru-
mentos de auxílio para locomoção, bem como equipamentos necessários
à habilitação e à reabilitação profissional, transporte urbano e alimenta-
ção e, na medida das possibilidades do Instituto, aos seus dependentes.
Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e profissional,
será emitido certificado individual, indicando as atividades que poderão
ser exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que este exerça outra
atividade para o qual se capacitar. (Viana, Curso de direito previdenciá-
rio. 3. ed., 2010, p. 558/559)

2 Tratamento legal

Em termos positivos, a questão é tratada pela Lei nº 8.213/1991,


arts. 89 a 92; Decreto nº 3.048/1999, arts. 136 a 141; e Instrução Nor-
mativa INSS/PRES nº 45/2010, arts. 386 a 391.
Os conteúdos desses dispositivos são essencialmente iguais, e seus
elementos principais já se encontram citados no item que tratou do con-
ceito do instituto, dispensando transcrição.

3 A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL. OBRIGATORIEDADE DE PRESTAÇÃO PELO INSS E DIREITO AO


REGRESSO

O INSS, como ente administrativo responsável pela execução da


política pública de concessão de benefícios, é o responsável pela con-
cessão de benefícios e prestações acidentárias.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – COM A PALAVRA, O PROCURADOR ........................................................................ 213
A cobertura securitária realizada pelo INSS está fundada na teoria
objetiva, visto que o pagamento dos benefícios previdenciários ao traba-
lhador não está condicionado à caracterização da culpa.

Basta o trabalhador contribuir para o sistema do Seguro Social que


o Estado arcará com o pagamento dos benefícios.

A cobertura acidentária pelo INSS deslocou a natureza contratual


do seguro de acidente do trabalho para um sistema de seguro social, de
solidariedade mais ampla, cujos benefícios são concedidos ao acidenta-
do independentemente da prova de culpa, já que qualquer trabalho, de
certa forma, implica riscos.

Temos, portanto, que, pelo princípio constitucional da universali-


dade da cobertura e do atendimento, o Estado, representado pelo INSS,
alcançará todos os eventos do infortúnio laboral, a fim de manter a sub-
sistência do trabalhador.

Diante dessa afirmativa, a responsabilidade civil do Estado frente


ao acidente de trabalho é objetiva.

Esse princípio está estampado no art. 194 da Constituição Federal:

Art. 194. [...]

Parágrafo único. [...]

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações


urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – equidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante


gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos emprega-
dores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.
214 S������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – COM A PALAVRA, O PROCURADOR
A Seguridade Social deve dar proteção de cobertura e de atendi-
mento, devendo ela, conforme determinação do Constituinte de 1988,
cobrir todos os eventos que causem estado de necessidade, como, por
exemplo, a idade avançada, morte, invalidez, deficiência física, mater-
nidade, etc.
A universalidade de atendimento refere-se aos sujeitos protegidos
(universalidade subjetiva), ou seja, todas as pessoas em estado de neces-
sidade devem ser atendidas pela Seguridade Social. Já a universalidade
de cobertura diz respeito às contingências cobertas (universalidade ob-
jetiva), ela significa cobrir todos os eventos que causem estado de neces-
sidade e é objetiva porque diz respeito a fatos que deverão ser cobertos
pela Seguridade Social.
Dessa forma, resta claro que não pode o INSS terceirizar as pres-
tações previdenciárias, sejam elas benefício ou serviço, tal qual a rea-
bilitação profissional, restando-lhe unicamente o caminho do regresso.
O INSS é obrigado a suportar ônus resultantes de situações que
foram causadas, total ou parcialmente, por terceiros, mas a lei lhe dá o
direito de, regressivamente, receber do verdadeiro culpado aquilo que
despendeu.

4 Direito de Regresso. Delimitação do pedido

É pressuposto da ação regressiva a comprovação do dano que o


INSS sofreu em face daquele acidente, dano este que deve ser compro-
vado e individualizado.
A concessão de uma prestação social acidentária é condição para
a propositura da ação regressiva, pois somente com o efetivo pagamen-
to do benefício previdenciário ocorrerão o dano e, consequentemente, a
pretensão de ressarcimento do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.
A Lei nº 8.213/1991, quanto ao segurado vítima de acidente do
trabalho, prevê a concessão de aposentadoria por invalidez e auxílio-
-doença nos casos de invalidez total e permanente ou de incapacidade
temporária para o trabalho, respectivamente. Quanto aos dependentes,
prevê a concessão de pensão por morte no caso do acidente resultar em
vítima fatal do segurado.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – COM A PALAVRA, O PROCURADOR ........................................................................ 215

A referida lei também prevê a concessão do benefício de auxílio-


-acidente quando as lesões decorrentes de acidentes de qualquer natu-
reza estiverem consolidadas e resultarem na redução da capacidade la-
borativa do segurado. No caso do auxílio-acidente, entretanto, somente
haverá pretensão regressiva se a lesão for decorrente de um acidente do
trabalho.

Consideram-se, ainda, prestações sociais acidentárias os serviços


de reabilitação profissional que visam a proporcionar ao segurado in-
capaz os meios de se adaptar social e profissionalmente. Esses serviços
compreendem o fornecimento de aparelhos de prótese e órtese, instru-
mentos de auxílio para locomoção, o transporte do acidentado do traba-
lho, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário,
cursos profissionalizantes, entre outros.

No caso da reabilitação profissional, apenas o dano/gasto compro-


vado e individuado como decorrente diretamente do acidente objeto da
ação poderá ser incluído no pedido.

Impossível constar da inicial o pedido de regresso de valores indi-


retamente gastos com o processo de reabilitação, devendo o pedido se
limitar àqueles itens objetivamente vinculados ao segurado, tais como o
fornecimento de aparelhos de prótese e órtese, instrumentos de auxílio
para locomoção, o transporte do acidentado do trabalho, auxílio para
tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, cursos profissio-
nalizantes, entre outros.

Conclusão

As iniciais de ações regressivas devem contemplar, desde que per-


tinente, pedido de regresso dos valores despendidos a título de reabili-
tação profissional.

Tais valores devem ser objetivamente apontados e comprovados,


não sendo juridicamente possível formular pedido no sentido de imputar
obrigação de fazer relativa à reabilitação profissional, pois tal pedido im-
plicaria transferir a terceiros prestação social em afronta aos princípios
constitucionais que informam a Seguridade Social.
216 S������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – COM A PALAVRA, O PROCURADOR

Referências
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. Rio de Janeiro:
Impetus, 2003.
JORGE, Társis Nametala Sarlo. Teoria geral do direito previdenciário e ques-
tões controvertidas do regime geral (INSS), do regime dos servidores públicos e
dos crimes previdenciários. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
VIANA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. São Paulo:
Atlas, 2010.
Seção Especial – Em Poucas Palavras
Utilização de EPI Quando do Ruído
Wladimir Novaes Martinez
Advogado Especialista em Direito Previdenciário.

Com a decisão do STF no ARE 664.335, algumas dúvidas infla-


mam o procedimento da área de recursos humanos das empresas, e isso
justifica observações práticas.

Conceito mínimo

EPI é um instrumento de proteção da saúde e da integridade física


do trabalhador, obrigatoriamente fornecido pelo empregador quando da
presença deletéria de agentes nocivos físicos, biológicos, químicos, er-
gométricos ou psicológicos.
Com vistas à aposentadoria especial, o EPI se presta para amenizar
(baixando para aquém dos limites de tolerância) ou eliminar a presença
dos efeitos corrosivos daqueles agentes no ambiente de trabalho.

Decisão do STF

O STF diferenciou dois grupos de agentes: a) no caso do ruído,


mesmo com a utilização do EPI, o tempo de serviço será especial [sic];
e b) se for qualquer outro agente, em cada caso, o EPI poderá cumprir o
seu papel de inibidor da ação danosa à saúde do segurado.

Essa decisão força as empresas a se acautelarem ainda mais quan-


to ao eventual dever da contribuição de 6% da remuneração do segu-
rado. Se for a hipótese então configurada, cumpri-la no tocante a essa
exigência fiscal.
O INSS (aperfeiçoador do fato gerador fiscal quando defere a pres-
tação) terá de adotar essa política para conceder o benefício indepen-
dentemente do contido no PPP, contrário ao deferimento, deverá regula-
mentar as concessões, alterando a recente IN INSS 77/2015.
218 S������������������������������������������������������������������������������������ RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS
Se as empresas tomarem conhecimento da concessão, consumar-
-se-á o aludido fato gerador (lembrando-se da decadência de cinco anos
em relação ao ônus fiscal).
Transitando em julgado da decisão suprema, cabe o debate do
mérito, mediante os instrumentos constitucionais e processuais previstos
no Regimento Interno do STF, por contribuintes legitimamente ativos
para isso.
Querendo discutir o mérito material em cada caso, rejeitando a
validade do direito à aposentadoria especial, terá de ingressar com ação
na condição de terceiro interessado na lide contra o INSS e o segurado e
como sujeito passivo da ação fiscal.
A empresa deverá recolher os últimos cinco anos, mas subsistirão
argumentos no sentido de que a contribuição será devida a partir da con-
sumação do deferimento da prestação previdenciária, caso entenda que
tal ato administrativo faça parte da hipótese de incidência.
O efeito é ex tunc, valendo para o passado, aplicando-se o tempus
regit actum interpretativo. Julga-se que, em cada caso em que configura-
das as hipóteses legais, as empresas deveriam contabilizar provisão dos
valores. E, se for o caso, discutir o mérito.

Consequências patronais
Mesmo fornecendo o EPI em consonância com todos os ditames
da NR 15 da Lei nº 6.514/1977, deferida a aposentadoria especial ho-
mologadora do fato gerador, requerida e deferida para um segurado,
dentro de um lustro decadencial, a empresa se sujeitará à contribuição
de 6% do salário-de-contribuição do trabalhador no período de trabalho
da exposição constante do PPP ou do LTCAT, por determinação da Lei
nº 9.732/1998.
A política de emissão do PPP não deve ser modificada sempre
que refletir a realidade laboral. Os que foram emitidos não carecem ser
substituídos.
Não subsiste disposição legal que descaracterize o tempo especial
diante do uso do EPI, embora o tema tenha sido tratado na Súmula TNU
nº 09, que pontuou: “O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI)
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS.......................................................................................... 219
ainda que elimine a insalubridade, no caso da exposição a ruído não
descaracteriza o tempo de serviço especial prestado”.

Essa afirmação não é absoluta e comporta prova em contrário.

Certificado de Avaliação

Para o órgão ministerial, significa que o EPI considerado está apto


para tentar diminuir a ação deletéria do agente nocivo, quando utiliza-
do conforme as normas regulamentadoras do trabalho (Portaria MTPS
nº 3.214/1978).

Mas o seu efeito não passa disso.

Dever do INSS

Requerido o benefício nessas circunstâncias, em cada caso, o INSS


está obrigado a cumprir a decisão do STF, para isso bastando o segurado
requerente invocar a referida conclusão judiciária e, então, onerando
financeiramente a sua empresa.

Concedido o benefício, o INSS oficiará a Receita Federal do Brasil,


que, se não recolhida antes, iniciará administrativamente a cobrança da
contribuição da Lei nº 9.732/1998, caso o período de trabalho especial
tenha sido posterior a 01.04.1999.

Ônus de emissão do PPP

Contando com a estreita e necessária ajuda burocrática da empre-


sa, é ônus do segurado fazer a prova do ambiente laboral insalubre com
a exibição do PPP ou do LTCAT, que relatará esse ambiente.

O evento determinante da aposentadoria especial é o trabalhador


ter corrido o risco de perder sua saúde ou integridade física durante 25
anos em caráter habitual e permanente, naquela ou em outras empresas
(arts. 57/58 da Lei nº 8.213/1991).

Risco é a simples possibilidade de que ocorra um sinistro (fato


que, se consumado antes dos 25 anos, capacitará a aposentadoria por
220 S������������������������������������������������������������������������������������ RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS
invalidez) e sinistro, a consumação do risco, isto é, a ocorrência da in-
capacidade laboral.
A apuração do risco dá-se com mapeamento de sinistros do em-
pregador e, no caso da disacusia bilateral, mediante avaliações audio-
métricas admissionais, sequenciais e demissionais, especialmente quan-
do do afastamento do trabalho motivado pelo pedido do benefício.

Contestação empresarial

Em virtude da exposição permanente ao ruído, a empresa pode


discutir o eventual direito à aposentadoria especial e contestar a exigibi-
lidade fiscal apresentando meios de provas contrários, desde que dete-
nha os instrumentos admitidos em Direito, a real contraprova do Nexo
Técnico Epidemiológico Previdenciário, esmiuçada em nosso Prova e
contraprova do NTEP (3. ed., São Paulo: LTr, 2015).
Caracterizada a perda auditiva induzida por ruído ocupacional,
apurada em audiometria, a empresa terá de tomar as providências cabí-
veis visando a diminuí-la ou eliminá-la em face do ruído ocupacional.
Evidentemente que isso diagnosticará a presença do risco e não
do sinistro e, destarte, estará se submetendo à possibilidade de que esse
período de trabalho venha a ser considerado especial para os diversos
fins da previdência social, em particular da aposentadoria especial.

Fato gerador da exação fiscal

Fundamentalmente, o direito subjetivo à aposentadoria especial


ou pretensão de que certo tempo de serviço seja considerado especial
é o preenchimento dos requisitos legais previstos nos arts. 57/58 da Lei
nº 8.213/1991, fato aperfeiçoado caso o INSS conceda aquele ou outro
benefício que envolva o tempo especial.
Diante das enormes dificuldades de decantar o direito ao benefício
a partir da Lei nº 9.032/1995, enfatizadas com a publicação de muitos
livros sobre o assunto, congressos, súmulas, seminários, pareceres dou-
trinários e sentenças conflitantes da Justiça Federal (Exação securitária
decorrente do uso de EPI, Revista Dialética de Direito Tributário, n. 235,
abr. 2015), não é fácil chegar-se ao fato gerador.
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS.......................................................................................... 221
A obrigação de apurar o fato gerador é da empresa. Para esse fim,
disporá de uma das três soluções a seguir:
a) o exame e a conclusão por parte da medicina do trabalho
interna e, após, decisão da área jurídica;
b) oitiva de especialistas e
c) consulta fiscal endereçada à Receita Federal do Brasil (Decre-
to nº 70.232/1972).
Tendo em vista o que reza a Lei nº 9.732/1998, só subsiste a obri-
gação fiscal caso haja direito à aposentadoria especial, e essa pretensão
somente se aperfeiçoa, isto é, se consolida juridicamente, com o defe-
rimento da prestação. Inexistente esse direito, não tem sentido a contri-
buição.
Nos termos da Súmula Vinculante STF nº 8/2008, o prazo para a
exigibilidade é decadencial de cinco anos.

Providências das empresas

Emitido um PPP ou LTCAT, em que declarado o cumprimento das


normas regulamentadoras do trabalho em relação ao uso do EPI, várias
providências são recomendadas às empresas.
Terão de se preparar para o cumprimento da decisão do STF por
parte do INSS e, então, se for o caso, tentar fazer a contraprova do NTEP.
Na condição de terceiro interessado na lide, acompanhará esses
feitos e aguardará o aperfeiçoamento do dever fiscal, caso a pretensão
do beneficiário esteja sendo impugnada administrativa ou judicialmente.
Se o INSS resolver suspender ou cancelar uma aposentadoria es-
pecial mantida ou desconsiderar como especial algum tempo de serviço,
será um sinal de que não subsistia essa classificação e, por conseguinte,
não subsistiu o fato gerador da obrigação fiscal, circunstância em que,
dentro do prazo também de cinco anos, caberá a restituição ou compen-
sação das contribuições.
A decisão do STF não é suficiente para impor às empresas, desde
agora, a necessidade de recolher a contribuição adicional para o agente
222 S������������������������������������������������������������������������������������ RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS

ruído, pois cabe discussão judicial possível para elas, já que este proces-
so envolve o INSS e o segurado e não o empregador.
O entendimento do STF é bastante para empresas se acautelarem
quanto ao eventual dever da contribuição. Se for a hipótese, cumpri-la
no tocante a esse aspecto.
O próprio INSS (aperfeiçoador do fato gerador fiscal quando defe-
re a prestação) também aguarda tal solução para conceder o benefício,
e, nesse sentido, o MPS deverá regulamentar as concessões.
Se as empresas tomarem conhecimento da concessão, a presun-
ção é de que ocorreu o aludido fato gerador (lembrando-se da decadên-
cia de cinco anos em relação ao ônus fiscal).
Transitada em julgado, cabe debate do mérito, mediante os instru-
mentos constitucionais e processuais previstos no Regimento Interno do
STF, por contribuintes legitimamente ativos para isso.
O efeito é ex tunc, valendo para o passado, aplicando-se o tempus
regit actum interpretativo. Julga-se que, em cada caso em que configu-
radas as hipóteses, as empresas deveriam contabilizar uma provisão dos
valores.
Clipping Jurídico
Tribunal nega pagamento de danos materiais à beneficiária do INSS por
contratação de advogado

A Décima Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) ne-


gou indenização por danos materiais relacionados à contratação de advogado
particular. A autora da ação alegava que foi obrigada a contratar advogado para
receber benefício previdenciário a que teria direito junto ao Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) e pedia que fosse indenizada pela autarquia por esse
motivo. Em primeiro grau, o pedido já havia sido julgado improcedente. Ao
analisar a questão, o Tribunal salienta que, além de honorários sucumbenciais,
que são aqueles pagos ao advogado da parte vencedora da ação, não se justifica
que o vencido também pague os honorários contratuais estabelecidos em negó-
cio jurídico combinado exclusivamente entre o vencedor e o seu advogado. Os
desembargadores federais entendem que o valor pago ao advogado da escolha
da autora não decorre de conduta do INSS, mas sim de sua própria conduta, na
medida em que se comprometeu a pagar os honorários contratuais. Eles confir-
maram os fundamentos da decisão do juiz de primeiro grau, que ressaltou que
a autora teria opção de pagar advogado de seu próprio bolso: “Na prática, no
âmbito desta Subseção Judiciária de Presidente Prudente, basta que a parte se
dirija à OAB local para que lhe seja apresentado advogado para defesa integral
de seus direitos, de qualquer natureza, previdenciários ou não. Ao término do
processo, inclusive, o advogado será remunerado ou pelos honorários sucum-
benciais ou pelo próprio convênio da CJF com a OAB, mediante requisição de
pagamento formalizada pelo juízo e pagamento a conta do orçamento do Poder
Judiciário Federal”. Os membros da Décima Primeira Turma do TRF3 concluí-
ram que não seria justo atribuir ao INSS a obrigação de ressarcir os valores dis-
pendidos a título de honorários contratuais, já que a autora procurou advogado
particular por sua conta e risco. Nº do Processo: 2012.61.12.004826-0. Fonte:
Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Recebida mais uma ação contestando alterações em benefícios trabalhistas


e previdenciários

Mais uma ação direta de inconstitucionalidade (ADIn 5295) ajuizada no Su-


premo Tribunal Federal questiona as Medidas Provisórias (MPs) nºs 664 e
665/2014, que alteraram critérios de concessão de benefícios previdenciários
e trabalhistas. Nela, oito confederações de trabalhadores afirmam que as alte-
rações nas regras do seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte e
auxílio-doença representam um “retrocesso na condição de vida de milhões de
brasileiros”. A ADIn foi ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhado-
res na Saúde (CNTS), Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias
de Alimentação e Afins (CNTA), Confederação Nacional dos Trabalhadores
224 S����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – CLIPPING JURÍDICO
na Indústria (CNTI), Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas
de Crédito (Contec), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo
e Hospitalidade (Contratuh), Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Transportes terrestres (CNTTT), Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Edifícios e Condomínios (Conatec), Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Indústria Gráfica, da Comunicação Gráfica e dos Serviços Gráficos (Conatig)
e pela Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB). As entidades
alegam que, “por força do princípio da vedação do retrocesso social, uma vez
alcançado determinado nível de concretização dos direitos sociais, é proibido
que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela
formação social em que ele vive”, por isso, seria inválida e inconstitucional
qualquer norma que revogue uma norma infraconstitucional concessiva de um
direito sem que seja acompanhada de uma política equivalente. “No caso, a
regressão em destaque foi feita sem qualquer compensação”, afirmam. Relator
desta ação e de outras que tratam do mesmo tema, o Ministro Luiz Fux deter-
minou que a ADIn 5295 seja apensada (tramite em conjunto) às demais, já que
serão julgadas conjuntamente. Processo relacionado: ADIn 5295. Fonte: Supre-
mo Tribunal Federal.

É legal acumular aposentadoria de emprego público com remuneração de


cargo temporário

Não há expressa vedação legal que impeça a acumulação de proventos de apo-


sentadoria de emprego público com remuneração de cargo público temporá-
rio. Esse entendimento foi adotado pela Segunda Turma do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) em julgamento de recurso especial da União contra candidata
aprovada que foi impedida de tomar posse em cargo temporário porque era em-
pregada pública aposentada. A candidata era aposentada da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), empresa pública federal, e foi aprovada
em processo seletivo destinado à contratação temporária de técnicos de nível
superior para o Ministério do Meio Ambiente. Impedida de assumir o cargo,
ela impetrou mandado de segurança, que foi concedido em primeira instân-
cia. A sentença foi mantida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. No
recurso especial, a União alegou que, ao admitir a cumulação de proventos de
servidor público aposentado com remuneração de cargo temporário, o Tribunal
Regional contrariou o previsto no art. 118, § 3º, da Lei nº 8.112/1990, segundo
o qual somente é admitida a cumulação quando os cargos de que decorrem as
remunerações forem acumuláveis na atividade. • Contratação temporária: De
acordo com o Ministro Humberto Martins, Relator, a vedação contida no dispo-
sitivo da Lei nº 8.112 diz respeito apenas à acumulação com remuneração de
cargo ou emprego público efetivo, “categorias nas quais não se insere a função
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS.......................................................................................... 225
pública exercida por força de contratação temporária, preenchida via processo
seletivo simplificado”. Ele mencionou que o art. 6º da Lei nº 8.745/1993 – que
regulamenta o art. 37 da Constituição Federal (CF) e restringe a contratação de
servidores da administração direta e indireta, bem como de empregados ou
servidores de suas subsidiárias e controladas – não prevê nenhuma restrição
aos servidores inativos. Ainda que assim não fosse, o relator, adotando o pare-
cer do Ministério Público Federal, verificou que a aposentadoria da empregada
pública se deu pelo Regime Geral de Previdência Social, portanto não se aplica
o § 10 do art. 37 da CF, que veda a percepção simultânea de proventos de
aposentadoria com a remuneração de cargo. Em decisão unânime, a Turma ne-
gou provimento ao recurso especial da União. REsp 1298503. Fonte: Superior
Tribunal de Justiça.

Fechamento de Edição: 27.05.2015


Resenha Legislativa
EMENDA CONSTITUCIONAL

Emenda Constitucional nº 88, de 07.05.2015 – DOU 08.05.2015


A EC altera o art. 40 da Constituição Federal de 1988, relativamen-
te ao limite de idade para a aposentadoria compulsória do servidor
público em geral, e acrescenta dispositivo ao Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.

Fechamento de Edição: 27.05.2015


Tabelas Práticas
Imposto de Renda, INSS e Fatores de Atualização de Salário-de-Contribuição
IMPOSTO DE RENDA
Base de cálculo em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$
Até 1.903.98 – –
De 1.903,99 até 2,826,65 7,5 142,80
De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 354,80
De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13
Acima de 4.664,69 27,5 869,36
Dedução por dependente 189,59

INSS – JANEIRO/2015
Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para
pagamento de remuneração a partir de 1º de janeiro de 2015.
Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)
Até 1.399,12 8,00%
De 1.399,13 até 2.331,88 9,00%
De 2.331,89 até 4.663,75 11,00%

Tabela de atualização monetária dos salários-de-contribuição para apuração do salário-de-


-benefício (Art. 33 DO Decreto Nº 3.048/1999)
Maio/2015 (Portaria nº 184, de 11.05.2015)
Mês e Fator Simplificado (Multiplicar)
jan/02................ 2,567045 maio/05............. 1,731366 set/08................ 1,489044 jan/12................ 1,249789
fev/02................ 2,562177 jun/05................ 1,719330 out/08............... 1,486813 fev/12................ 1,243447
mar/02.............. 2,557573 jul/05................. 1,721224 nov/08............... 1,479416 mar/12.............. 1,238617
abr/02............... 2,554763 ago/05.............. 1,720707 dez/08............... 1,473816 abr/12............... 1,236391
maio/02............. 2,537004 set/05................ 1,720707 jan/09................ 1,469554 maio/12............. 1,228528
jun/02................ 2,509152 out/05............... 1,718130 fev/09................ 1,460209 jun/12................ 1,221809
jul/02................. 2,466240 nov/05............... 1,708222 mar/09.............. 1,455696 jul/12................. 1,218640
ago/02.............. 2,416697 dez/05............... 1,699048 abr/09............... 1,452791 ago/12.............. 1,213422
set/02................ 2,360978 jan/06................ 1,692279 maio/09............. 1,444844 set/12................ 1,207986
out/02............... 2,300251 fev/06................ 1,685872 jun/09................ 1,436227 out/12............... 1,200424
nov/02............... 2,207323 mar/06.............. 1,682004 jul/09................. 1,430220 nov/12............... 1,191961
dez/02............... 2,085528 abr/06............... 1,677474 ago/09.............. 1,426938 dez/12............... 1,185559
jan/03................ 2,030699 maio/06............. 1,675464 set/09................ 1,425797 jan/13................ 1,176850
fev/03................ 1,987569 jun/06................ 1,673289 out/09............... 1,423519 fev/13................ 1,166122
mar/03.............. 1,956461 jul/06................. 1,674461 nov/09................1,420111 mar/13.............. 1,160089
abr/03............... 1,924515 ago/06.............. 1,672621 dez/09............... 1,414876 abr/13............... 1,153170
maio/03............. 1,916656 set/06................ 1,672955 jan/10................ 1,411489 maio/13............. 1,146406
jun/03................ 1,929584 out/06............... 1,670283 fev/10................ 1,399176 jun/13................ 1,142408
jul/03................. 1,943187 nov/06............... 1,663131 mar/10.............. 1,389450 jul/13................. 1,139218
ago/03.............. 1,947081 dez/06............... 1,656176 abr/10............... 1,379654 ago/13.............. 1,140701
set/03................ 1,935083 jan/07................ 1,645971 maio/10............. 1,369656 set/13................ 1,138879
out/03............... 1,914976 fev/07................ 1,637945 jun/10................ 1,363791 out/13............... 1,135812
nov/03............... 1,906587 mar/07.............. 1,631094 jul/10................. 1,365293 nov/13............... 1,128926
dez/03............... 1,897479 abr/07............... 1,623949 ago/10.............. 1,366250 dez/13............... 1,122862
jan/04................ 1,886162 maio/07............. 1,619737 set/10................ 1,367207 jan/14................ 1,114836
fev/04................ 1,871193 jun/07................ 1,615537 out/10............... 1,359863 fev/14................ 1,107856
mar/04.............. 1,863923 jul/07................. 1,610544 nov/10............... 1,347467 mar/14.............. 1,100811
abr/04............... 1,853359 ago/07.............. 1,605407 dez/10............... 1,333729 abr/14............... 1,091858
maio/04............. 1,845792 set/07................ 1,595991 jan/11................ 1,325775 maio/14............. 1,083407
jun/04................ 1,838438 out/07............... 1,592011 fev/11................ 1,313428 jun/14................ 1,076945
jul/04................. 1,829291 nov/07............... 1,587249 mar/11............... 1,306374 jul/14................. 1,074153
ago/04.............. 1,816034 dez/07............... 1,580453 abr/11................ 1,297808 ago/14.............. 1,072758
set/04................ 1,806999 jan/08................ 1,565270 maio/11............. 1,288531 set/14................ 1,070831
out/04............... 1,803933 fev/08................ 1,554543 jun/11................ 1,281228 out/14............... 1,065609
nov/04............... 1,800871 mar/08.............. 1,546655 jul/11................. 1,278415 nov/14............... 1,061575
dez/04............... 1,792982 abr/08............... 1,538808 ago/11............... 1,278415 dez/14............... 1,055978
jan/05................ 1,777694 maio/08............. 1,529022 set/11................ 1,273069 jan/15................ 1,049472
fev/05................ 1,767618 jun/08................ 1,514483 out/11................ 1,267365 fev/15................ 1,034166
mar/05.............. 1,759875 jul/08................. 1,500825 nov/11............... 1,263323 mar/15.............. 1,022307
abr/05............... 1,747121 ago/08.............. 1,492171 dez/11............... 1,256163 abr/15............... 1,007100
Bibliografia Complementar
Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados
nesta edição os seguintes conteúdos:

ARTIGO DOUTRINÁRIO
• O Fator Psicológico como Forma de Obtenção de Aposenta-
doria Especial
Tiago Valero Brait
Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET,
disponíveis em: online.sintese.com
Índice Alfabético e Remissivo
Índice por Assunto Especial Francis Kessler
• Noções Preliminares sobre o Acordo Interna-
cional de Previdência Social entre o Brasil e a
Doutrina França..................................................................43

Assunto Ivani Contini Bramante


• Da Licença e Salário-Maternidade à Licença-
O Novo CPC e o Direito Previdenciário -Natalidade-Infância e Salário-Maternidade Pa-
• Impacto do Novo CPC sobre as Ações Previden- rental – Releitura dos Direitos Previdenciários
ciárias (Marco Aurélio Serau Junior)........................9 à Luz do Novo Conceito de Família.....................74
• O Novo CPC e o Direito Previdenciário (Theo- Juliano Sarmento Barra
doro Vicente Agostinho e Sérgio Henrique...........30
• Noções Preliminares sobre o Acordo Interna-
Autor cional de Previdência Social entre o Brasil e a
França..................................................................43
Marco Aurélio Serau Junior
• Impacto do Novo CPC sobre as Ações Previden- Com a Palavra, o Procurador
ciárias.....................................................................9
Assunto
Sérgio Henrique Salvador
• O Novo CPC e o Direito Previdenciário...............30 Ação Regressiva
• A Ação Regressiva Acidentária e a Reabilita-
Theodoro Vicente Agostinho ção Profissional: Obrigação de Fazer ou Res-
• O Novo CPC e o Direito Previdenciário...............30 sarcimento? (Fernanda de Paula Campolina)......210

Autor
Índice Geral Fernanda de Paula Campolina
• A Ação Regressiva Acidentária e a Reabilitação
Doutrinas Profissional: Obrigação de Fazer ou Ressarci-
mento?................................................................210
Assunto
Em Poucas Palavras
Pensão
• Limite para o Acúmulo de Pensões por Morte
Assunto
na Previdência do Servidor (Bruno Sá Freire
Martins)................................................................35 EPI
Previdência Social • Utilização de EPI Quando do Ruído (Wladimir
Novaes Martinez)...............................................217
• Limbo Jurídico Trabalhista Previdenciário (Cássia
Bertassone da Silva)..............................................59
Autor
• Noções Preliminares sobre o Acordo Internacio-
nal de Previdência Social entre o Brasil e a França Wladimir Novaes Martinez
(Juliano Sarmento Barra e Francis Kessler).............43
• Utilização de EPI Quando do Ruído ..................217
Salário-maternidade
• Da Licença e Salário-Maternidade à Licença- ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA
-Natalidade-Infância e Salário-Maternidade Pa-
rental – Releitura dos Direitos Previdenciários à Assunto
Luz do Novo Conceito de Família (Ivani Contini
Bramante).............................................................74 Agravo
• Direito tributário – Agravo regimental no agra-
vo em recurso especial – Contribuição desti-
Autor
nada ao custeio do Seguro Acidente do Traba-
Bruno Sá Freire Martins lho (SAT) – Aplicação do Fator Acidentário de
Prevenção (FAP) – Princípio da legalidade –
• Limite para o Acúmulo de Pensões por Morte Acórdão recorrido com fundamento exclusiva-
na Previdência do Servidor...................................35 mente constitucional – Art. 97 do CTN – Prin-
cípio da legalidade – Matéria insuscetível de
Cássia Bertassone da Silva exame em recurso especial – Agravo desprovido
• Limbo Jurídico Trabalhista Previdenciário ...........59 (STJ)..........................................................1627, 109
230S�������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO
Aposentadoria EMENTÁRIO
• Previdenciário e processual civil – Aposentado-
ria – Contribuinte individual – Classes – Inters- Assunto
tício – Aposentadoria ocorrida na vigência da
Ação regressiva
Lei nº 10.666/2003 – Cálculo da RMI – Aplica-
ção da legislação do momento da aquisição do • Ação regressiva – pagamento de benefício de-
direito à aposentadoria (STJ).....................1626, 102 corrente de acidente de trabalho – normas de
segurança – negligência do empregador – res-
Benefício previdenciário sarcimento devido....................................1633, 170
• Apelação cível – Contrato de empréstimo – Be- Aposentadoria
nefício previdenciário – Desconto indevido –
INSS – Ausência de responsabilidade (TRF 2ª R.) • Aposentadoria – servidor municipal – tempo
.................................................................1629, 129 de contribuição – registro – legalidade.....1634, 170

Aposentadoria por idade


Contribuição previdenciária
• Aposentadoria por idade – trabalhador rural –
• Agravo de instrumento – Tributário – Contribui- documentos novos – admissibilidade.......1635, 170
ção previdenciária a cargo da empresa – Horas
extras – Natureza remuneratória – Incidência • Aposentadoria por idade rural – não compro-
– Terço constitucional de férias – Natureza in- vação dos requisitos – ausência de início razo-
denizatória – Não incidência – Entendimento ável de prova material – pagamento indevido
do STJ em sede de recursos repetitivos (REsp .................................................................1636, 172
1358281/SP e REsp 1230957/RS) – Parcial pro-
Aposentadoria por invalidez
vimento (TRF 5ª R.)...................................1632, 160
• Aposentadoria por invalidez – adicional de
• Processual civil – Contribuição previdenciária
25% – impossibilidade.............................1637, 172
– Bolsas de estudos para funcionários – Não in-
cidência de contribuição previdenciária – Bolsa • Aposentadoria por invalidez – perda da quali-
de estudos concedida aos filhos e dependentes dade de segurado – benefício indevido....1638, 174
dos empregados – Natureza salarial – Incidên- • Aposentadoria por invalidez – requisitos – qua-
cia de contribuição previdenciária (TRF 3ª R.) lidade de segurado – carência – efeitos....1639, 175
.................................................................1630, 140
• Aposentadoria por invalidez – requisitos legais
Estelionato previdenciário – observação............................................1640, 176

• Penal – Processo penal – Estelionato previden- • Aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença


ciário – Art. 171, § 3º, do CP – materialidade – laudo pericial – desnecessidade.............1641, 176
e autoria comprovadas – Dolo configurado – Aposentadoria por tempo de contribuição
Princípio da insignificância – inaplicabilidade –
Dosimetria da pena mantida (TRF 1ª R.)...1628, 119 • Aposentadoria por tempo de contribuição – be-
nefício posteriormente concedido no curso da
Servidor público ação – perda parcial do objeto – perda parcial
do objeto – recurso provido em parte no que
• Direito administrativo e previdenciário – Servi-
se refere ao pagamento das parcelas pretéri-
dor público – Contribuições previdenciárias –
tas desde a data do requerimento administra-
Licença sem remuneração – Alegação de ofen-
tivo...........................................................1642, 177
sa ao art. 5º, II, LIV e LV, da Constituição da
República – Legalidade – Contraditório e am- Aposentadoria por tempo de serviço
pla defesa – Devido processo legal – Debate
de âmbito infraconstitucional – Eventual viola- • Aposentadoria por tempo de serviço especial
ção reflexa da Constituição da República não – eletricidade – configuração – termo inicial
viabiliza o manejo de recurso extraordinário .................................................................1643, 177
– Necessidade de interpretação de legislação • Aposentadoria por tempo de serviço especial
local – Aplicação da Súmula nº 280/STF – Ne- – requisitos preenchidos – comprovação – pa-
gativa de prestação jurisdicional – Art. 93, IX, gamento devido........................................1644, 178
da Constituição da República – Nulidade – Ino-
corrência – Razões de decidir explicitadas pelo Atleta profissional
órgão jurisdicional – Acórdão recorrido publi- • Atleta profissional – lesão no joelho esquer-
cado em 14.03.2014 (STF)..........................1625, 93 do – déficit funcional parcial e liame ocupa-
cional – auxílio-acidente – pagamento devido
Tempo de serviço .................................................................1645, 179
• Previdenciário – Atividade especial – Averba-
ção – Agentes biológicos – Categoria profis- Auxílio-acidente
sional – Enfermagem – Habitualidade e perma- • Auxílio-acidente não decorrente do traba-
nência – Equipamentos de proteção individual lho – requisitos preenchidos – termo inicial
(TRF 4ª R.)................................................1631, 150 .................................................................1646, 179
RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO....................................................................................................... 231
Auxílio-doença Desaposentação
• Auxílio-doença – demora na concessão – pres- • Desaposentação – hipótese de cabimento
crição – inocorrência – dano moral – não con- .................................................................1663, 195
figuração..................................................1647, 180
• Desaposentação – utilização do tempo de con-
• Auxílio-doença – laudo pericial do juízo que tribuição em outro benefício – possibilidade
não atesta a incapacidade laborativa tempo- .................................................................1664, 196
rária – suspensão......................................1648, 181
• Auxílio-doença – requerimento administrativo Funrural
– data do requerimento ou da cessão do be- • Funrural – contribuição social – empregador ru-
nefício – observação.................................1649, 181 ral pessoa física – art. 1º da Lei nº 8.540/1992
• Auxílio-doença – requisitos não preenchidos – inconstitucional (STF) – exigibilidade suspensa
– laudo pericial constatando a capacidade la- – repristinação..........................................1665, 197
borativa – não concessão..........................1650, 182
IR
• Auxílio-doença – requisitos preenchidos – be-
nefício devido...........................................1651, 182 • IR – complementação de aposentadoria – pres-
• Auxílio-doença – suspensão do benefício – res- crição – Lei Complementar nº 118/2005 – ree-
tabelecimento – danos morais – não cabimento xame do mérito da controvérsia................1666, 199
.................................................................1652, 183
Pensão
• Auxílio-doença – termo inicial – data da cita-
ção – requerimento administrativo – data da • Pensão por morte – incapaz – habilitação poste-
cessação ou indeferimento do benefício – obser- rior – pagamento das parcelas em atraso – possi-
vação........................................................1653, 184 bilidade....................................................1667, 200
• Pensão por morte – menor sob guarda – ECA
Benefício previdenciário – aplicação...............................................1668, 200
• Benefício previdenciário – cálculo – condições
especiais de trabalho – conversão para regi- Responsabilidade civil
me comum – fator previdenciário – incidência • Responsabilidade civil do Estado – bloqueio
.................................................................1654, 184 de pagamento de seguro-desemprego – regis-
• Benefício previdenciário – revisão – alteração tro de aposentadoria por invalidez vinculada
do teto de contribuição – aplicação retroativa – ao nome da requerente – equívoco do INSS –
possibilidade............................................1655, 185 danos morais – alcance............................1669, 202
• Responsabilidade civil objetiva – INSS – inde-
Competência ferimento de benefício assistencial – retardo
• Competência – restabelecimento de benefício mental e epilepsia dano moral – configuração
decorrente de acidente do trabalho/doença pro- .................................................................1670, 203
fissional – não reconhecimento................1656, 185
Servidor público
Conflito de competência • Servidor público – diferenças remuneratórias
• Conflito negativo de competência – conces- – horas extras não comprovadas – férias – cál-
são de benefício previdenciário decorrente de culo de acordo com a CLT – inaplicabilidade
acidente de trabalho – justiça federal – incom- .................................................................1671, 204
petência....................................................1657, 185 • Servidor público – ex-celetista – tempo de
serviço especial – insalubridade – conversão
Contribuição previdenciária
.................................................................1672, 205
• Contribuição previdenciária – salário-mater- • Servidor público – exposição habitual a ele-
nidade – férias gozadas – incidência – prece- mentos radioativos – jornada de trabalho – re-
dentes.......................................................1658, 186 dução – possibilidade...............................1673, 207
• Contribuição previdenciária – salário-materni- • Servidor público – regime estatutário – adicio-
dade – incidência.....................................1659, 190 nal de insalubridade – norma administrativa
• Contribuição previdenciária – SAT/RAT e FAP – local – inexistência – CLT – aplicação – impos-
enquadramento........................................1660, 190 sibilidade..................................................1674, 208
• Contribuição previdenciária a cargo da empre-
sa – Regime Geral da Previdência Social – in- Tempo de serviço
cidência sobre o descanso semanal remune- • Tempo de serviço – rurícola – sócio de empre-
rado e férias gozadas – precedentes..........1661, 191 sa – contribuinte individual – aposentadoria por
• Contribuição previdenciária a cargo da empresa tempo de contribuição – concessão..........1675, 209
– RGPS – adicional de férias – não incidência • Tempo de serviço especial – tensão superior a
.................................................................1662, 195 250 volts – reconhecimento......................1676, 209
232S�������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 66 – Maio-Jun/2015 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO
CLIPPING JURÍDICO RESENHA LEGISLATIVA
• Tribunal nega pagamento de danos materiais Emenda Constitucional
à beneficiária do INSS por contratação de ad- • Emenda Constitucional nº 88, de 07.05.2015
vogado...............................................................223 – DOU 08.05.2015............................................226
• Recebida mais uma ação contestando alterações
em benefícios trabalhistas e previdenciários.......223 Tabelas Práticas............................................... 227

• É legal acumular aposentadoria de emprego pú- bibliografia complementar......................... 228


blico com remuneração de cargo temporário.....224 Índice alfabético e remissivo....................... 229

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