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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 64

Construindo uma história ...


É possível uma Educação Matemática para a Paz?
Ruth Portanova
PUCRS
rportanova@pucrs.br

Resumo

A pergunta motivadora do trabalho é: Será que nós, professores, em especial os de matemática, podemos ajudar
a construir um mundo de paz? O que a Educação Matemática tem a ver com pesquisa para a paz? A História
da Matemática pode ajudar a entender o momento atual, e com certeza deslumbrar os que estão por vir. A partir
desse pressuposto, e do trabalho apresentado no Seminário de História da Matemática, 7, sobre a inter-relação
educação, matemática , guerra e paz, pretende-se, neste Seminário, mostrar alguns projetos que vinculam a
História, a Educação Matemática e a Cultura de Paz, como precursores dessa relação. Como fundamento, são
utilizadas as propostas de Etnomatemática de D´Ambrosio, a Educação Dialógica de Paulo Freire e os Fundamentos
de uma Educação para a Paz de Guimarães. Para que a exposição tenha um cunho didático foi exposto, inicialmente,
alguns pressupostos teóricos que foram assumidos. A seguir, foram apresentadas algumas pesquisas que podem
servir de motivação para um trabalho com esse enfoque. Um dos grupos de projetos visavam a interdisciplinaridade
e a integração dos alunos, e foi desenvolvido em uma escola particular de Porto Alegre. São eles: o tempero da vida
e conhecendo a cultura grega. O outro grupo trata de uma pesquisa, de caráter exploratório, que mostra como a
Educação Matemática contribui para a Educação para a Paz e o desenvolvimento do pensamento crítico e de valores
humanos, tais como: respeito, amor, verdade, justiça. Os três projetos desenvolvidos foram: casas populares, a
corrente do bem e campanha de arrecadação de alimentos. Concluindo, confirma-se que o conhecimento da
História e da Matemática podem contribuir para a discussão e para a prática da paz. Ainda foi evidenciado que
houve aprendizado ( de conteúdos matemáticos) e concientização de problemas ligados a realidade dos alunos. O
conhecimento matemático ampliou-se ao ser vinculado aos diversos processos de analisar e responder problemas
(inter, multi e transdisciplinares, ... ) de diversas naturezas. Ficou claro que houve envolvimento dos alunos,
famílias e da própria comunidade escolar.

Palavras-chaves: Educação Matemática. Educação para a Paz. História da Matemática.

Será que nós, professores, em especial os de matemática, podemos ajudar a construir um


mundo de paz? O que a Educação Matemática tem a ver com pesquisa para a paz?
A História da Matemática pode ajudar a entender o momento atual, e com certeza deslumbrar os
que estão por vir. A História da Matemática nos permite uma compreensão mais crítica sobre as relações
entre Matemática e Guerra, e podemos analisar o papel de livros-texto de matemática que explicitam as
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aplicações da matemática à guerra. Nesse trabalho vamos propor uma reflexão sobre possibilidades do uso
da Matemática, no cotidiano dos alunos, visando uma Educação para a Paz
Conforme ICMI (Internacional Commission on Mathematical Instruction) em Fauvel e Maanen
(History in Mathematics Education, 2000), uma perspectiva educacional da matemática desperta para a
história da matemática e para o desenvolvimento das idéias em diferentes sociedades. Aspectos
multiculturais e interdisciplinares tornam-se parte de reflexões epistemológicas sobre educação
matemática; as relações entre bases filosóficas, multiculturais e interdisciplinares fundamentam o ideal do
ensino.
Por outro lado, a realidade da violência – cotidiana, onipresente e banalizada – em muitas partes do
mundo, levou a Assembléia Geral das Nações Unidas a proclamar a Década 2001-2010, como a Década
Internacional para uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo. Essa iniciativa da
ONU [ ... ] A urgência de substituir as múltiplas formas de violência – direta, estrutural e cultural –
alimentadas pela cultura da violência, por um paradigma novo que se começa chamar cultura de paz,
encontra na agenda da educação, em sua diversidade de formas e níveis, um espaço privilegiado para
viabilizar o projeto de aprender a pensar de uma maneira nova – paradigma da cultura de paz – a vida em
suas formas e ambientes, sobretudo a vida humana em todas as suas relações e organizações. A paz, objeto
de ciência e de estratégias específicas, precisa de cientistas e artífices. A mudança passa por assimilação
do novo paradigma em vista da transformação das estruturas, e se processa como tarefa pessoal e social,
necessitando de suporte político e de instituições da sociedade. (PORTANOVA; GERHARDT;
PIVATTO; 2008).
A partir dessas preocupações, e despertando para as realidades impostas pelo momento atual,
enfatizamos que o conhecimento Matemático pode ser facilmente relacionado com o cotidiano dos alunos,
pois o mesmo “está impregnado dos saberes e fazeres da própria cultura. A todo instante, os indivíduos
estão comparando, classificando, quantificando, medindo, explicando, generalizando, inferindo e, de
algum modo, avaliando, usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua cultura”.
(D’AMBRÓSIO, 2001, p. 22).

Fundamentando teoricamente ...


Para dar suporte, aos trabalhos aqui relatados, apesar de utilizarmos certo reducionismo, não
poderíamos deixar de destacar algumas colocações de D’Ambrosio (s,d.; 2001; 2006), Freire (1986;
2001) e Guimarães (2005; 2006).
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D´Ambrosio propõe que, ao se trabalhar segundo os princípios da etnomatemática (um
programa criado por ele) é importante uma valorização do indivíduo e de seus conhecimentos, respeitando
as diferenças; “não se pretende a homogeneização da espécie, mas sim a convivência harmoniosa dos
diferentes, através de uma ética de respeito mútuo, solidariedade e cooperação”. (2006, p.42). Esse
programa revela uma grande preocupação com a dimensão política ao estudar história, filosofia e suas
implicações pedagógicas. Nesse intuito podemos realizar investigações nessa vertente teórica para que a
Educação Matemática não se restrinja apenas a conhecimentos científicos, mas que privilegie os valores
morais, éticos e culturais que levem educadores e educandos a uma nova postura frente à educação e a sua
ação no mundo. Essas investigações de cunho qualitativo não pretendem trazer soluções prontas, mas sim
despertar nos educadores a necessidade de uma Educação para a Paz como uma tarefa urgente nesse
mundo globalizado.
Na etnomatemática encontramos elementos intelectuais para lidar com situações novas e
definir estratégias de ação. Respeita cada contexto cultural. “ Fazer da Matemática uma disciplina que
preserve a diversidade e elimine a desigualdade discriminatória é a proposta maior de uma Matemática
Humanista” .(D’AMBROSIO, s.d.).
Encontramos também, na transdisciplinaridade uma forma de integração, respeito e valorização
de cada um, e de todos:
“O essencial na transdisciplinaridade reside na postura de reconhecimento de que
não há espaço nem tempo culturais privilegiados que permitam julgar e hierarquizar
como mais corretos – ou mais certos ou mais verdadeiros – os diversos complexos
de explicações e de convivência com a realidade. A transdisciplinaridade repousa
sobre uma atitude aberta, de respeito mútuo e mesmo de humildade com relação a
mitos, religiões, sistemas de explicações e de conhecimentos, rejeitando qualquer
tipo de arrogância ou prepotência.” (D’AMBROSIO, 2001, p. 79-80).
Freire e Shor (1986) destacam a importância do diálogo, como valor essencial de respeito ao
outro e para que ocorra a aprendizagem, e a partir daí a transformação de conhecimentos antigos para
novos.
O diálogo se dá dentro de algum tipo de programa ou contexto. Esses fatores
condicionantes criam uma tensão para alcançar os objetivos da transformação, o
diálogo implica em responsabilidade, direcionamento, determinação, disciplina,
objetivos. (p. 127).
E, confirmando os nossos objetivos em contribuir para uma educação para a paz, destacamos
Guimarães (2006):
No conflito interpretativo que se estabelece na sociedade atual, a linguagem
torna-se, por excelência, o caminho para a paz, fazendo da educação para a paz
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um espaço por excelência do debate, diálogo e negociação para que a comunidade
opere um consenso em torno da paz (p. 19).
Assim, “Como construção, a paz deixa de ser um atributo apenas individual, para assumir uma
compreensão mais coletiva e comunitária” (Ibid. p. 19), desejamos, na divulgação desse trabalho
incentivar outros educadores a se envolverem nessa pesquisa. E perguntamos, será que esse poder está
apenas nas mãos da educação? É certo que a educação, sozinha, não poderá transformar a sociedade, mas
sem ela a sociedade também não poderá mudar. (FREIRE, 2001).
Nesse sentido a UNESCO confere a educação um papel principal para a construção da paz.
Educação é o coração de qualquer estratégia para a construção de paz. É através da
educação que a introdução mais ampla possível aos valores, aptidões e
conhecimento pode ser viabilizada, os quais formam a base para o respeito aos
direitos humanos e princípios democráticos, a rejeição da violência e um espírito de
tolerância, compreensão e reconhecimento mútuo entre indivíduos, grupos e nações.
(UNESCO, 1996-2001, p. 45).
Concluímos, nossa fundamentação, alertando que a construção de um mundo de paz, é tarefa
de todos – pais, escola e da sociedade em geral – e lutar para uma educação que inclua a Educação para a
Paz e para os Valores Humanos é uma tarefa nossa, educadores.

Construindo uma história ... Educação Matemática fomentando uma Cultura de Paz
Para que o nosso trabalho, na área de Educação Matemática, possa ser reconhecido como
pioneiro, com objetivos explícitos na construção de uma cultura de Paz, trouxemos alguns projetos para
serem comentados. Destacamos projetos com enfoques diferentes. O primeiro grupo teve como objetivo a
interdisciplinaridade e a integração dos alunos e o segundo, o desenvolvimento de valores humanos e do
pensamento crítico, que fundamentam, entre outros requisitos, o desenvolvimento de uma Cultura de Paz.
Nesse sentido, apresentamos:
Primeiro grupo -Projetos interdisciplinares e de integração
Os projetos, a seguir, foram realizados em uma escola particular de Porto Alegre e as
atividades foram, na maioria, interdisciplinares.
O tempero da vida – Esse trabalho teve início a partir de algumas reflexões, dos professores, sobre a
contribuição e responsabilidade na formação integral dos alunos: como formar cidadãos que realmente
possam fazer a diferença na sociedade? Como contribuir para melhorar o mundo em que vivem com tanta

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violência, incompreensão e intolerância? “ De que forma poderíamos promover uma educação voltada
para a paz?” (MAIA1, 2008)
Os professores acreditaram que uma das formas poderia ser através do estudo de algumas
civilizações e culturas, para assim compreendê-las melhor e ultrapassar os interesses individuais,
realizando um processo de aprendizagem e reflexão sobre as multiculturas. O grupo de alunos, quando
consultados, escolheu a Itália, sua história, sua arquitetura e sua culinária como foco da pesquisa. Assim,
justifica a professora:
O tema escolhido para ser trabalhado foi a alimentação, com abordagens sobre a
história dos alimentos, curiosidades sobre diferentes tipos e [...]. A escolha desse
tema justificou-se porque desde o início dos tempos o homem se socializou,
confraternizou e aprendeu a compartilhar na hora de se alimentar. ( MAIA, 2008).

O projeto teve como motivação o filme, que deu título ao projeto, e proporcionou, através de
suas atividades, uma mudança de relacionamento entre os alunos e os alunos e professores. Estiveram
diretamente envolvidos os professores das disciplinas de Biologia, de História, de Química e de
Matemática. O encerramento aconteceu com um jantar italiano, cujo prato principal foi um risoto, feito
pelos próprios alunos com supervisão do professor de Biologia.
Atualmente o projeto tornou-se uma tradição na Escola e através de outros projetos
interdisciplinares, outras culturas estão sendo pesquisadas. Assim, o fato de conhecer essas diferentes
culturas, sem dúvida, favorece uma melhor compreensão das diferenças, dos valores, das crenças que
estão presentes em cada um desses povos.
Conhecendo a cultura grega- O outro projeto foi sobre os gregos, pois os alunos expressaram suas
curiosidades em relação a esse povo e gostariam de conhecer melhor a sua história, seus filósofos, suas
crenças, seu dia-a-dia e, principalmente sua alimentação.
Alunos e professores mergulharam na cultura grega, estudaram seu povo, seu cotidiano, sua história,
artes, música, matemática, sua culinária não só da Grécia antiga, mas do povo grego de hoje.
Cada grupo aprofundou seus conhecimentos sobre o assunto escolhido e produziu um folder, com o
resumo de seu trabalho de pesquisa. Essa etapa foi de muita participação e integração de todos. Alunos e
professores formaram uma parceria onde o respeito, a tolerância e a humildade foram condições
necessárias e imprescindíveis o tempo todo. Houve conflitos, que precisaram ser trabalhados e resolvidos

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Professora de Matemática de uma escola em Porto Alegre e participante do Grupo de Pesquisa Matemática na Educação -
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com argumentos e muito diálogo. Todos estavam em um momento de aprendizagem, assim, tiveram
oportunidade de mostrar suas habilidades sem espaço para arrogância ou prepotência. Encerrado o
trabalho de pesquisa e confecção dos folders, a nova etapa seria a organização do “ Jantar Grego”.
(MAIA; GIRARDI; 2008)
O cardápio foi escolhido, e uma equipe de alunos, juntamente com a professora de matemática,
estudou a viabilidade financeira dessa escolha. Um grupo de alunos se encarregou de confeccionar os
convites que seriam vendidos; outro grupo, se motivou quanto à decoração do “restaurante” que seria
montado na Escola e outro partiu para aprender , ou contribuir com seus conhecimentos, na elaboração do
cardápio. Todos tiveram espaço para mostrar seus talentos! Esse momento foi decisivo na formação de
nossos alunos como pessoas, pois todos foram estimulados a participar e enriquecer o trabalho com suas
potencialidades, assumindo uma atitude positiva em relação ao grupo e a si próprios, melhorando assim
sua a auto estima. ( MAIA; GIRARDI; 2008) .
A partir dessa situação os professores tiveram certeza de que promoveram uma educação voltada
para a paz, pois além do grupo ter criado vínculos de amizade, respeito, solidariedade entre eles, também
as descobertas que fizeram sobre os gregos favoreceu uma compreensão melhor sobre esse povo e a sua
importância na nossa história.
Outras culturas e outros conhecimentos estão sendo motivadores das próximas realizações. Esse ano,
todos estão envolvidos na cultura indiana.

Segundo grupo - Desenvolvimento de valores humanos e do pensamento crítico.


A pesquisa intitulada Educação para a paz nas aulas de matemática, é possível?∗ teve como
objetivo investigar de que forma a Educação Matemática podia contribuir para a paz e para o
desenvolvimento de valores humanos como amor, cooperação, respeito e honestidade. Para a realização
do trabalho, foram aplicadas três propostas de atividades envolvendo alunos das 5ª e 6ª séries do Ensino
Fundamental buscando a valorização do conhecimento dos alunos, de suas famílias e de outros grupos da
comunidade. A pesquisadora concluiu que as atividades propostas tiveram repercussão direta na
aprendizagem dos alunos e, foi possível refletir a respeito de atitudes de cidadania, respeito, amizade,
entre outros valores que contribuem para a Educação para a Paz. Ela constatou que a mudança é possível,
mas não é simples. Para alcançá-la torna-se necessário buscar caminhos, o que deve ser uma tarefa diária


Dissertação defendida em 2007 no Programa de Mestrado em Educação em Ciências e Matemática da PUCRS, orientada pela
prof. Ruth Portanova.
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do professor, da escola e de todos que querem uma verdadeira transformação na e para a educação.
Vamos exemplificar as suas propostas, trazendo a idéia principal de cada um delas:
A primeira proposta estava relacionada com as casas populares que foram construídas no
município de Ivoti (RS). Os projetos dessas casas eram desenvolvidos pela engenheira da prefeitura
municipal, construídas em loteamento popular e entregues para as famílias cadastradas na Assistência
Social. Cada casa possuía um custo acessível e parcelado para essas famílias.
Em relação aos conteúdos matemáticos o projeto apresentava diversos conceitos que poderiam
ser explorados, entre eles: geometria (cálculo de área e perímetros), operações com números decimais e
escala. Além disso, o trabalho previa que os alunos pudessem refletir sobre algumas dificuldades que as
pessoas encontram em suas vidas nos dias de hoje.

Em sala de aula, a professora questionou se havia algum conhecimento, por parte dos alunos, a
respeito das casas populares e o que sabiam a respeito desse projeto do município. Ou ainda se havia
algum interesse em conhecerem um pouco mais.
Percebi que a maioria não possuía nenhum conhecimento a respeito, alguns até
sabiam o que eram casas populares, mas não que esse tipo de projeto existia no
município. Houve, no entanto, a manifestação de dois alunos, um deles dizendo que
seu tio já morava em uma casa do loteamento popular e outro, informando que sua
família havia se inscrito no programa, mas que, por enquanto, o mesmo estava
parado. (SAUTER, 2007, p. 38-39)
Os alunos se interessaram em conhecer melhor esse projeto, optando por aprender um pouco
mais sobre essas casas, como foram construídas, quem eram os beneficiados, entre outras coisas.
Após essas novas informações, a professora solicitou que os alunos medissem alguns espaços
das suas casas e fizessem “plantas baixas” desses espaços medidos, utilizando uma determinada escala,
para que fosse possível comparar com o tamanho dos cômodos das casas populares. Mas, foi somente com
a visita às casas que foi possível perceber o quanto elas eram pequenas.
Para finalizar o projeto, os alunos construíram maquetes das casas visitadas, também utilizando
escala. E, a conclusão da autora:
Ao final, alguns questionamentos foram feitos com os alunos, com a engenheira e com a
coordenação da escola. Dessa forma, pude perceber que as atividades realizadas atingiram
os objetivos, tantos os relacionados com a Educação Matemática, quanto os que envolviam
a Educação para a Paz. Isso se deve ao fato de os alunos terem aprendido os cálculos de
área e perímetro com números decimais, além de terem compreendido a realidade do
mundo em que vivem e aprendido a respeitá-la. (SAUTER, 2007, p. 44 ).

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A segunda proposta foi realizada com os alunos da 6ªsérie a partir do filme: “A Corrente
do Bem”∗. Nesse projeto, o conteúdo matemático a ser explorado foi o conceito de potência.
O primeiro passo foi levar os alunos para assistirem ao filme que trata da história de uma turma
de alunos, também de 6ª série, que recebem um professor novo de Geografia. Esse professor lança uma
proposta, já em seu primeiro dia de aula, na qual os alunos deveriam planejar e executar um projeto que
pudesse fazer uma grande mudança no mundo e na realidade em que viviam.
Um dos alunos, então, empenha-se profundamente nesse propósito e resolve criar um modo de
todas as pessoas se ajudarem. Ele se propõe a fazer algo realmente significativo para três pessoas e cada
uma delas, como uma forma de retribuição, é convidada a fazer algo de muito importante para outras três
pessoas, e assim por diante.
Após assistirem ao filme, a professora conversou com os alunos sobre a sua mensagem e
questionou sobre os elementos da matemática que eles tinham percebido. Com o auxílio direto dos alunos,
a nova operação “potenciação” foi apresentada e definida, e sua representação apresentou significado para
eles.
A partir dessa primeira corrente, foram sugeridas outras. A de base dois, partindo do desenho
da árvore genealógica de cada aluno, a de base quatro, a de base cinco e assim por diante.
Durante o processo de construção desses conceitos, além de trabalhar diretamente a
matemática, era discutida com os alunos a importância desse filme e da proposta feita pelo menino. Se ela
era viável ou não, e de que outras maneiras poderíamos fazer a diferença no mundo em que vivemos.
A partir do conceito de potência construído, foram feitas cartas enigmáticas, nas quais
precisavam ser resolvidas potências e expressões numéricas com potência, para descobrirem a mensagem
sempre relacionando-a com o filme. Cada mensagem era novamente discutida e trabalhada com os alunos.
Com a finalização da atividade, apareceu a oportunidade de mostrar esse trabalho aos pais.
Além disso, escreveram um pequeno texto falando sobre o filme e as aprendizagens na sala de aula. Foram
feitos questionamentos a respeito das aprendizagens realizadas durante todo o processo. As observações
de sala de aula e os questionamentos feitos puderam mostrar que os alunos gostaram de aprender
Matemática, partindo de um filme. Também se interessaram pelo conteúdo matemático trabalhado e
tiraram muitas conclusões, o que proporcionou uma melhor aprendizagem.
O objetivo principal da proposta Campanha de Arrecadação de Alimentos, era, como o
próprio título diz, arrecadar alimentos para que fossem entregues as famílias carentes do município. A


Filme com direção de Mimi Leder e Kevin Space, Helen Hunt e Haley Joel Osment no elenco, lançado em 2000.
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autora pretendia com essa atividade que os alunos percebessem que, mesmo sendo muito pequenos, já
podiam exercer o seu papel de cidadãos na sociedade, entendendo que podem ajudar muitas pessoas,
através de uma ação firme, bem organizada e em conjunto. Com as arrecadações feitas, a professora
pretendia trabalhar conteúdos matemáticos como equivalência de frações e construções de gráficos de
setor, utilizando conceitos de ângulos e frações e para que fosse possível que os alunos dessem significado
ao que estavam aprendendo nas aulas de Matemática. Assim, o conteúdo ficaria mais próximo da
realidade deles. Os alunos aceitaram prontamente a proposta e ficaram muito empolgados com tudo o que
estava acontecendo. A idéia inicial era de apenas arrecadar alimentos com as pessoas envolvidas com a
Comunidade Escolar. Mas, o projeto cresceu e várias empresas do município acabaram se envolvendo.
No decorrer do trabalho foi decidido que uma parte dos alimentos seria encaminhada para a
Assistência Social e outra, seria entregue diretamente a famílias carentes. A estagiária da Assistência
Social ( da prefeitura) compareceu na escola para conversar com os alunos sobre o objetivo desta entidade
e explicar quais os critérios usados para a seleção das famílias que recebem os alimentos, mensalmente.
Além de ter sido possível explicar como funciona a Assistência Social, ela conversou sobre cidadania com
os alunos. A partir disso, foi retomada, então, uma frase de Saint-Exupéry (2000, p. 72) que estava escrita
nos corredores da escola e que havia sido trabalha com os alunos no início do ano: “O essencial é invisível
aos olhos” e foi reforçada que essa atitude dos alunos era essencial para ajudar a construir uma vida digna
para todos.
Após este momento, foi realizada, pela escola, uma atividade de Integração da Família, em que
foi possível reforçar o pedido de alimentos não perecíveis para a campanha. Além disso, os alunos fizeram
desenhos, que representavam atitudes de cidadania, que também foram expostos. No palco, apresentaram
um pequeno resumo do relato feito pela Assistente Social, que sensibilizou bastante os pais.
Ao ser encerrada a campanha, foi feito o levantamento e a contagem da quantidade de
alimentos. Ao todo, foi possível arrecadar exatamente 100kg de alimentos. A partir daí, foram reiniciadas
as atividades de sala de aula. Os alunos separaram o que foi arrecado por tipo de alimento e, como o
assunto dos números decimais ainda não tinha sido trabalhado, escreveram utilizando gramas e não
quilogramas. Foi feita a representação das frações de cada tipo de alimento arrecadado, em relação ao total
e foi possível reduzi-las, encontrando frações equivalentes.
A partir desses dados, eles verificaram que cada fração poderia ser escrita na forma de
porcentagem e o trabalho ficou ainda mais interessante, pois envolveu um novo conceito de matemática. A

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construção desses conceitos matemáticos passou a ser clara, fazendo com que todos pudessem
compreender o trabalho que estava sendo realizado.
Já, no final da campanha, foi recebida mais uma doação, em dinheiro, de uma das empresas
que tinha sido contatada e foi feito um passeio até o supermercado, onde foram comprados mais alimentos
para a campanha. Neste momento, foi possível o desenvolvimento do cálculo mental aproximado, para
fazer as contas de quanto havia sido gasto.
Tanto a escola quanto a imprensa local, reconheceram o trabalho feito pelos alunos e
publicaram reportagens sobre a campanha realizada.
Concluindo a pesquisadora coloca:
No entanto, o essencial foi a realização dos próprios alunos que puderam se sentir
importantes ao organizarem a campanha, dando destaque ao momento em que
tiveram contato direto com uma das famílias que estavam ajudando.
Compreenderam, então, que existem muitas pessoas que necessitam de auxílio, não
só para alimentação, mas também para muitas outras coisas, e entenderam que, na
medida do possível, podem fazer a sua parte para ajudá-las. O conteúdo matemático
recebeu atenção especial e a aprendizagem possibilitou a vivência do que estava
sendo trabalhado em sala de aula. (SAUTER, 2007, p.56-57).

Considerações finais
As pesquisas acima relatadas com temáticas e metodologias diferenciadas possuem um elo em
comum: o aporte teórico em que se baseiam. Elas procuram mais do que apresentar soluções prontas para
as dificuldades com o ensino-aprendizagem da matemática, alternativas didáticas para por em prática
idéias inovadoras e que provoquem no professor o desejo de mudar e no aluno o de aprender. E, como
afirma D’Ambrosio, sem esquecer que atingir a PAZ TOTAL deveria ser o substrato de todo discurso
sobre Educação e em particular o fazer matemático.
Como educadoras de matemática, acreditamos firmemente que a matemática também pode
contribuir para a discussão e para a prática da paz. Principalmente o professor deve ter esse espírito e
querer trabalhar essa questão. Além de usar metodologias de educação que incentivem a paz o professor
pode usar o próprio conteúdo elaborando problemas matemáticos que tenham no seu contexto esse
assunto, pode trabalhar sobre questões éticas envolvendo a matemática financeira. O professor no seu agir
deve mostrar uma atitude de paz e respeito, pois os alunos vão perceber mais aquilo que o professor faz
em sala de aula do que o que ele diz ou o conteúdo.

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As propostas apresentadas, retiradas dos projetos que visavam a integração dos alunos e o
desenvolvimento do pensamento crítico, evidenciam que houve aprendizado ( de conteúdo matemático) e
houve conscientização de problemas ligados a realidade dos alunos, mais do que isso houve uma
sensibilização dos envolvidos, conforme os depoimentos que foram analisados. Temos clareza que houve
o envolvimento dos alunos, das famílias e da própria comunidade.
A História da Matemática e a Educação Matemática, por sua vez, nos proporcionam um
entendimento do campo educativo, uma melhor compreensão do processo democrático (ou não
democrático), reflexivo e crítico, do qual participamos.

Referências
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S N H M – 2009 11
ISBN – 978-85-7691-081-7

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