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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
No entanto, embora esse modelo de estado esteja relacionado à “era dourada”, em que
países capitalistas e socialistas alcançaram altas taxas de crescimento, 4 fatores
socioeconômicos são apresentados por Abrucio (1997) para entendermos a crise do estado
contemporâneo e a sua relação com a ascensão da reforma administrativa no mundo, conforme
a quadro 1 abaixo.
Crise econômica As crises do petróleo, inicialmente em 1973 e posteriormente em 1979 culminaram no período
mundial de recessão enfrentado por diversos países nos anos 1980.
Depois desses episódios, a economia mundial não conseguiu retomar as taxas de crescimento
alcançadas na década de 50 e 60.
Crise Fiscal As crises econômicas vivenciadas por vários países do globo na década de 80, levaram muitos
Estados à crise fiscal. Após terem experimentado o crescimento por décadas, os governos não
dispunham mais de fontes para financiar seus déficits a partir de então.
Esse quadro de desajuste fiscal tornou-se mais tenso quando, principalmente nos EUA e Grã-
Bretanha, os contribuintes começaram a questionar a cobrança de tributos, pois não
enxergavam retorno na melhoria dos serviços públicos.
Globalização e Por fim, as mudanças no setor produtivo desencadeadas pela transformações tecnológicas
transformações também afetaram o modelo de estado vigente até então. Houve, nesse contexto, o
tecnológicas enfraquecimento do poder dos Estados nacionais para controlar fluxos financeiros e comerciais.
Paralelamente, houve ainda o aumento do poder das multinacionais, levando assim à
dificuldade por parte dos governos em realizar políticas macroeconômicas.
Paes de Paula (2009) sintetiza esse entendimento, ao declarar que “Nas últimas décadas,
transformações econômicas e sociais trouxeram a reforma do Estado e de sua administração
para o centro da agenda política de diversos países”. (PAES DE PAULA, 2009, p. 1) Sendo
assim, este ensaio é estruturado a partir dessa visão da reforma administrativa, como
consequência das transformações socioeconômicas da sociedade.
2.1 IDEOLOGIA
Para tanto, é necessário definir o que é ideologia. Alves (1996) definiu ideologia como
“um conjunto de significados relacionados a um interesse concreto de poder que expressam a
prática de um determinado grupo social em uma instituição”. (Alves, 1996, p. 43). Nesse
sentido, Motta (1992) complementa que por trás do conceito de ideologia “está o conflito de
classes, o regime político, a tradição nacional e a herança de uma cultura. Isto quer dizer que
para entender a ideologia é preciso fazê-la historicamente e a partir de seu núcleo, que é a
divisão social do trabalho” (Motta, 1992, p.42).
Logo, entende-se neste ensaio a ideologia desta maneira, ou seja, como a forma pela qual
uma classe dominante operacionaliza o processo de dominação das classes dominadas através da
criação e compartilhamento de significações e representações individuais e sociais.
Nesse processo, a terminologia “neo” liberal surge após a renovação do liberalismo clássico,
revigorado com novo corpo teórico e novas proposições, adaptadas ao novo cenário, no qual seu
embate travava-se não mais com o mundo do absolutismo feudal, mas com as formas de intervenção
do Estado na economia, o Estado de Bem-Estar social e o socialismo (Fonseca, 2014).
Pressuposto Políticas
Desestatização da economia Privatização de todas as empresas sob controle do Estado.
Preponderância da esfera privada sobre Liberdades individuais mais importante do que a esfera pública.
a esfera pública
Desestruturação do Estado de Bem- Visto como ineficaz, ineficiente, perdulário, injusto e autoritário e indutor de
Estar Social comportamentos que não valorizariam o mérito e o esforço pessoais.
Fim da proteção aos capitais nacionais Livre competição e concorrência com congêneres estrangeiros
Desregulação e desregulamentação Desregulação e desregulamentação da produção, da circulação dos bens e
serviços, do mercado financeiro e das relações de trabalho
Quebra do pacto corporativo entre Foco na liberdade de escolha individual e da soberania do consumidor
capital e trabalho
Liberdade de mercado Ausência de empecilhos à relação capital/trabalho e à livre realização dos fatores
produtivos
Valorização das “virtudes” do livre Tanto como instrumento para aumentar a riqueza - gerando natural distribuição
mercado de renda devido ao aumento da produtividade - quanto como única forma de
refletir os preços reais dos produtos e serviços.
Concepção instrumental de democracia Visão da democracia tão somente como possibilitadora do livre mercado e das
liberdades individuais
Relação sociedade indivíduo
2.2 DISSEMINAÇÃO
Do período compreendido entre o pós crise de 1929 até o início da década de 1970, as
ideias de Keynes conquistaram progressivo espaço político e ideológico, tornando-se então
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hegemônicas. Por conseguinte, aos ideais neoliberais restaram os espaços marginais nesse
período (Paes de Paula, 2009).
Nesse contexto, a ocupação desses espaços traduziu-se em verdadeira resistência dos
neoliberais em diversos países, culminando na organização de think tanks, definido por Fonseca
como “pessoas e ideias aglutinadas em instituições estratégicas, com forte capacidade de
espraiar seus pressupostos, que informam diagnósticos e proposições (gerais e tópicas), com
vistas a conquistar espaços crescentes para o campo neoliberal (no caso)” (Fonseca, 20014,
p.37)
Nesse mesmo sentido, Paes de Paula (2009) define os think tanks, seu público e sua
maneira de atuação como:
[...] centros de pensamento em geral dedicados ao estudo do Estado, das políticas
governamentais e do desenvolvimento econômico. Os think tanks tinham um objetivo
claro: aproximar as elites intelectuais e governamentais britânicas das visões de livre-
mercado. Realizando publicações e eventos dirigidos para este público, os think tanks
ajudaram a popularizar o neoliberalismo, inserindo suas ideias na mídia e na agenda
dos políticos convidados para lançamentos de livros, almoços, seminários e
conferências realizados. (Paes de Paula, 2009, p. 37).
Observa-se que, de acordo com os autores citados, a atuação dos think tanks foi
determinante para difundir os ideais neoliberais. Ainda sob essa visão, Coutinho (1979)
descreve o conceito de “guerra de posição”, criado por Antônio Gramsci (1891-1937) e a sua
consequente importância para a obtenção da hegemonia ideológica:
Nesse sentido, o próprio Gramsci (1988) entende que a luta pela hegemonia perpassa
pela conquista e manutenção de posições ou “trincheiras”, colocando o próprio Estado como
uma das muitas posições a serem ocupadas na busca da hegemonia ideológica, ao que declara:
“[...] O Estado era apenas uma trincheira avançada, por trás da qual se situava uma robusta
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Hayek também reforça essa teoria, pois para o autor “os interesses em conflitos
contemporâneos decididos pelo voto das massas, geralmente, têm sido decididos muito antes,
em uma batalha de ideias confinada a círculos estreitos” (Cockett,1995, pp. 104 e 5)
3. GERENCIALISMO
Nesse mesmo sentido, a administração gerencial teria emergido como uma resposta à
crise do estado a partir da década de 1970 e também como uma forma de adaptação ao zeitgest,
onde não bastaria apenas ao modelo ser efetivo em evitar o nepotismo e a corrupção, mas
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Surge então a chamada Nova Gestão Pública (NGP), que traduz a expressão inglesa New
Public Management. Na literatura internacional, esses termos referem-se justamente aos temas
abordados, ou seja, às reformas do estado a partir da década de 1970 e são baseadas no
pensamento gerencialista (Junquilho, 2010).
Apesar do objetivo deste ensaio não estar relacionado à discussão e revisão da literatura
sobre management, sintetizam-se aqui os principais traços da cultura do management com
objetivo de contextualizar a NGP.
De acordo com Paes de Paula (2009), esses traços são 1. A crença numa sociedade de
mercado livre, 2. A visão do indivíduo como auto-empreendedor, 3. O culto da excelência como
forma de aperfeiçoamento individual e coletivo, 4. O culto de símbolos e figuras emblemáticas,
como por exemplo palavras de efeito como inovação, sucesso e excelência e 5. A crença em
tecnologias gerenciais que permitem racionalizar as atividades organizadas grupais.
Autores como Bresser Pereira (1998a) e Abruccio (1997) afirmam que o gerencialismo
não converge num ideário homogêneo. Contudo, segundo Junquilho (2010), podem-se destacar
os principais enfoques da NGP nos 6 itens a seguir:
Nesse sentido, alguns autores acreditavam não haver diferenciação conceitual entre a
administração de uma empresa privada e a administração pública (Murray, 1975). Porém,
outros autores como Osborne e Gaebler (propositores do movimento “reinventando o governo”)
reconheciam diferenças entre as duas atividades (Osborne e Gaebler, 1994). Entende-se, neste
ensaio que diversos elementos diferenciam e caracterizam as duas formas de administração.
Stewart e Ranson (1989) destacam as diferenças no quadro comparativo a seguir:
Não obstante, Paes de Paula (2009) corrobora o entendimento deste ensaio, pois a partir
do momento em que se relaciona o Estado e a esfera pública às orientações de mercado com
foco em resultados, a dimensão sociopolítica fica relegada ao segundo plano.
Por fim, cabe aqui uma breve reflexão sobre os limites do gerencialismo, pois como foi
visto anteriormente, a reverberação das reformas e a crença de que o modelo de gestão privada
– e consequentemente o gerencialismo – detinha as soluções para as disfunções burocráticas e
respostas mostrou-se ilusória.
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Alguns anos após liderar a reforma administrativa no Brasil, o próprio Bresser Pereira
(2001) encarrega-se de deixar claro que:
Logo, resta claro que a panaceia difundida sobre as maravilhas que o modelo gerencial
poderia oferecer entrou em choque com a realidade, e consequentemente apresentou seus
limites. Paes (2009), após realizar exame da literatura sintetiza aponta alguns limites da
administração pública, como por exemplo a centralização do poder nas instâncias executivas e
a incompatibilidade entre a lógica gerencialista e o interesse público.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Autores como Abrucio (1997) e Bresser Pereira (1995) enxergam o gerencialismo como
um modelo pós burocrático, ou seja, entendem que com o advento do gerencialismo, o modelo
burocrático foi superado.
dentre diversas outras características – essas novas roupagens organizacionais não configuram
o rompimento com o modelo burocrático de organização (Paes de Paula, 2009).
Contudo, tal controle não representa emancipação e os controles burocráticos vão adaptando-
se aos novos tempos. Se no famoso filme “Tempos modernos” de Charles Chaplin, o
funcionário tinha um rígido controle sobre suas atividades, com a evolução burocrática esse
controle passa a ser introjetado, num processo também descrito por outros autores como Michel
Foucault, que nesse sentido retrata a mesma realidade, apesar de não ter seu foco somente na
análise da burocracia.
REFERÊNCIAS