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ANAIS

XII REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO


BIOLÓGICO

PRAGAS AGROINDUSTRIAIS

PROMOÇÃO:

INSTITUTO BIOLÓGICO

APTA REGIONAL CENTRO LESTE

ASSOCIAÇÃO DE ENGENHARIA , ARQUITETURA E AGRONOMIA DE RIBEIRÃO PRETO – AEAARP

SINDICATO RURAL DE RIBEIRÃO PRETO

RIBEIRÃO P RETO - SP

20 - 21 DE SETEMBRO DE 2005

i
REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO
BIOLÓGICO, 12. Ribeirão Preto, SP, 2005. Anais da XII Reunião Itinerante
de Fitossanidade do Instituto Biológico – Pragas Agroindustriais. Coordenada
por Ana Eugênia de C. de Campos-Farinha, Leila A. G. Barci, Marcos R.
Potenza, Amaury da S. dos Santos, José Roberto Scarpellini e Ana Maria de
Faria.
Ribeirão Preto, SP.
Instituto Biológico, 2005.
93p.

ii
XII REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO
PRAGAS AGROINDUTRIAIS

A XII Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico


(RIFIB) acontece na cidade de Ribeirão Preto, SP, e tem como promotores
o Instituto Biológico, a APTA Regional Centro Leste, ambos órgãos da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a
Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto
(AEAARP) e o Sindicato Rural de Ribeirão Preto.

Nesta oportunidade estão sendo enfoca das as pragas


agroindustriais, com diversos especialistas oriundos do Instituto Biológico,
Universidade Federal de Viçosa, Prefeitura Municipal de Jundiaí, SP e
UNICAMP, abordando temas sobre os insetos pragas e sua resistência a
inseticidas na matéria -prima e em produtos armazenados, o
monitoramento, manejo e controle de cupins, baratas, pombos, formigas,
moscas e roedores do ambiente agroindustrial.

Grande parte das informações apresentadas nesta RIFIB é


proveniente das pesquisas desenvolvidas com o apoio de recursos da
FAPESP, CNPq e parcerias com empresas privadas. Esperamos que esse
conhecimento possa atender algumas demandas dessa importante e
estratégica cadeia do agronegócio para o Estado de São Paulo e que o
evento seja instrumento de aproximação entre o setor e a pesquisa
científica, favorecendo a troca de experiências.

Antonio Batista Filho

Diretor Técnico de Departamento

Instituto Biológico

iii
Comissão Organizadora

Coordenadores

Ana Eugênia de C. de Campos-Farinha – IB/APTA – São Paulo, SP


Leila A. G. Barci – IB/APTA – São Paulo, SP
Marcos R. Potenza – IB/APTA – São Paulo, SP
Amaury da Silva dos Santos – IB/APTA – Campinas, SP
José Roberto Scarpellini – DDD/APTA – Ribeirão Preto, SP
Ana Maria de Faria – DDD/APTA – Ribeirão Preto, SP

iv
AGRADECIMENTOS
A Comissão Organizadora externa seus agradecimentos a todos
aqueles que contribuíram para o êxito desta reunião. Aos palestrantes pelo
pronto atendimento aos nossos convites e a todos os participantes,
agricultores, técnicos de empresas e entidades oficiais, sem os quais este
encontro não faria sentido. Finalizando, agradecemos o apoio a todos os
colaboradores e patrocinadores do evento, sem o qual esta reunião não se
realizaria.

APOIO INSTITUCIONAL
FUNDAG
PRAGAS ON LINE
AEAARP
PRAVERP
SBVP
IRAC-BR
CREA-SP
APRAG
ADESP

PATROCINADORES

NOVARTIS
VITEX
SINDICATO RURAL DE RIBEIRÃO PRETO
SYNGENTA
GUARANY
SENAR

v
A redação e ortografia dos artigos são de inteira responsabilidade dos
respectivos autores.

vi
SUMÁRIO

As Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico ....................2

Pragas dos Grãos Armazenados....................................................................7

Resistência a Inseticidas em Pragas de Produtos Armazenados ...................20

Bioecologia e Controle de Cupins................................................................34

Aspectos Bioecológicos das Baratas Sinantrópicas ......................................50

Pombos Urbanos - Columbia Livia – O Desafio de Controle em Áreas Urbanas62

Monitoramento e Controle de Formigas ......................................................73

Monitoramento e Controle de Moscas de Importância para a Saúde Pública em


Municípios do Interior do Estado de São Paulo ............................................78

Aspectos Bioecológicos dos Ratos no Campo e na Cidade............................96

1
As Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico

Antonio Batista Filho


Pesquisador Científico – Diretor Geral do Instituto Biológico – Av. Cons. Rodrigues
Alves, 1252 - CEP 04040-970, São Paulo, SP – Brasil. e-mail:
batistaf@biologico.sp.gov.br

Concebida como um instrumento de aproximação entre a pesquisa e os


diferentes elos da cadeia produtiva, em especial agricultore s e profissionais da
extensão rural, as Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico,
conhecidas como RIFIB, tiveram como embrião o Simpósio sobre Controle de
Pragas da Região do Paranapanema, realizado em Assis no ano de 1994 e que
discutia, de forma mais específica, os problemas afetos ao controle de insetos,
ácaros e nematóides das culturas estabelecidas naquela região.

As Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico fazem parte


de um projeto cujo objetivo é fortalecer o relacionamento entre o Instituto
Biológico (IB) e seus parceiros e usuários, em especial os produtores rurais. Para
isso, a RIFIB tem caráter itinerante, ou seja, ela vai ao encontro do produtor e
discute os temas levantados por eles diretamente ou por seus representantes
através de Sindicatos Rurais e Cooperativas. Nesse processo também participam
instituições oficiais e empresas ligadas a cadeia produtiva.

Conhecer a demanda e a extensão dos problemas fitossanitários que afetam


as culturas de importância econômica para o Estado de São Paulo sempre foi a
missão do IB e que tem agora pela frente o cenário de novos desafios marcados
pela abertura do mercado internacional com a globalização e a criação de blocos
econômicos, onde as barreiras fitossanitárias serão utilizadas na proteção de
mercados.

Doenças e pragas, sejam exóticas ou nativas, são componentes


importantes quando se considera custos de produção e, muitas vezes, limitam a
produção de alimentos. Exemplo recente desta problemática foi observado, na
safra 97/98, em Miguelópolis, quando altas populações da mosca branca
atingiram as culturas de algodão e soja com severos danos econômicos. Naquela
oportunidade, o IB chegou a desenvolver alguns trabalhos na região e a participar
de discussões técnicas junto ao Sindicato Rural de Miguelópolis. Foi a partir dessa
2
época que se iniciaram os contatos para ampliar as discussões com vistas a
outros problemas fitossanitários que fossem do interesse dos produtores da
região. Nascia assim a RIFIB, tendo como primeiro parceiro o Sindicato Rural de
Miguelópolis e um programa composto por 19 temas, envolvendo as culturas da
soja, milho, feijão e algodão, abordados por 17 Pesquisadores do IB,
provenientes dos diferentes Centros de Pesquisa da Instituição. Cerca de 120
participantes prestigiaram o evento.

A II RIFIB foi realizada em Marília, no período de 08 a 11 de julho de 1999,


e contou como parceiro na organização com a Cooperativa dos Cafeicultores da
região de Marília. Um público de 400 pessoas, em sua grande maioria formada de
produtores rurais, teve oportunidade de assistir 21 palestras abordando
diferentes temas entre os quais nematóides, doenças, insetos e controle químico
das plantas daninhas nas culturas de café, melancia e amendoim. Nessa
oportunidade foram também apresentadas algumas palestras que escapavam ao
tema sanidade, mas atendia às necessidades de esclarecimentos levantados pela
Coopemar. Com a colaboração de colegas de outras instituições da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento de São Paulo, ESALQ/USP e UNESP, Campus de
Jaboticabal, foi possível atender a programação.

A III RIFIB teve lugar na cidade de Mogi das Cruzes entre 17 a 19 de


outubro de 2000 com a participação de 200 pessoas. Através da parceria com o
Sindicato Rural daquela cidade foi elaborado um programa técnico com base no
perfil regional e nas sugestões levantadas junto aos produtores da região do Alto
Tietê, importante polo na produção e abastecimento de hortaliças e frutas para a
Grande São Paulo, bem como na exportação de flores. Alé m da abordagem dos
problemas fitossanitários enfrentados pelos produtores de hortaliças, frutas,
flores e cogumelos da região um novo componente foi adicionado com a
reivindicação dos criadores de codorna para que o programa atendesse aos
problemas sanitários do setor. Ficava assim marcada a entrada da área de
sanidade animal do IB nas reuniões itinerantes.

A IV RIFIB aconteceu em junho de 2001, na cidade de Ribeirão Preto,


simultaneamente ao V Encontro sobre doenças e pragas do cafeeiro, e tendo
como organizadores, além do IB, o Sindicato Rural e a Associação Brasileira do
Agronegócio da região de Ribeirão Preto. No Encontro, cerca de 40 palestrantes
3
apresentaram os temas selecionados após a manifestação de vários segmentos
dos agronegócios e com a colaboração de instituições e empresas do setor. O
público ouvinte foi de 262 pessoas. Como em todas as reuniões itinerantes já
realizadas, o aperfeiçoamento das tecnologias de aplicação de defensivos e os
cuidados especiais com a segurança na aplicação foram enfocados, da mesma
forma que as empresas tiveram seu espaço para apresentação de novas
tecnologias, principalmente na área de controle de pragas e doenças. Os debates
enfocaram os principais problemas fitossanitários das culturas da região, além de
temas atuais, destacando-se a importância do certificado fitossanitário de origem,
pragas quarentenárias e barreiras fitossanitárias na comercialização no Mercosul.
Os problemas na área de sanidade animal também foram objetos da reunião,
tendo sido apresentado o manejo da resistência do carrapato do boi a acaricidas;
as doenças da reprodução e os aspectos do programa nacional de melhoria da
qualidade do leite entre outros.

A V RIFIB foi organizada em novembro de 2001 na cidade de Sertãozinho


numa parceria entre o Instituto Biológico e a empresa Biocontrol Sistema de
Controle Biológico, sendo nessa ocasião enfocados, especialmente, os problemas
fitossanitários da cultura da cana-de-açúcar e as tecnologias desenvolvidas na
área de sanidade vegetal voltadas para o controle de pragas nessa
importantíssima cultura para São Paulo e para o Brasil. Participaram do encontro
cerca de 180 pessoas, a maioria das quais provenientes do segmento sucro-
alcooleiro. O tema central do encontro foi o problema da cigarrinha da raiz da
cana-de-açúcar, que vem sendo objeto de estudo pela equipe do Laboratório de
Controle Biológico do Centro Experimental do Instituto Biológico, localizado em
Campinas.

A VI RIFIB foi realizada em março de 2002 e teve como sede o município de


São Bento do Sapuca í. Foi uma promoção conjunta do IB, CATI, SEBRAE e Pólo
Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba. O
evento focalizou a sanidade da cultura da banana, envolvendo palestras sobre
doenças, nematóides e insetos em uma região caracterizada como um pólo
produtor do cultivar “Prata”. Compareceram ao encontro 72 produtores, sendo
que aproximadamente 25 eram provenientes do sul de Minas Gerais.

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Entre os dias 28 e 29 de maio de 2002 foi realizada a VII RIFIB com sede
na cidade de Indaiatuba e tendo como parceiro na organização o Sindicato Rural
daquela cidade. O evento reuniu 86 pessoas e os temas tratados focalizaram a
sanidade de fruteiras produzidas na região metropolitana de Campinas com
destaque para a mosca do figo e pragas, doenças fúngicas e bacterianas da
videira e do morango entre outros.

A VIII RIFIB, realizada em Monte Alegre do Sul, nos dias 29 e 30 de


setembro de 2003, contou com 48 participantes representados por produtores e
técnicos da região. Esta RIFIB teve o objetivo de pontuar os problemas
fitossanitários do tomate e da batata, principais culturas locais, atendendo uma
demanda do Pólo Regional. O IB teve o apoio deste Pólo (PRDTA-Leste Paulista),
sede da Reunião, do Sebrae, do Sindicato Rural de Amparo e da CATI, além da
Cooperativa Agrominas e algumas empresas de agroquímicos e produtos
biológicos. O controle de pragas, de doenças e de seus vetores, e de plantas
daninhas foram temas amplamente discutidos, assim como assuntos afins como a
tecnologia de aplicação de defensivos, o manejo da irrigação e a segurança no
manuseio e uso dos produtos agrícolas. Participaram das abordagens
pesquisadores do IB, IAC, CATI e ANDEF, e também representantes das
indústrias, oferecendo tecnologia moderna e segura aos produtores destas
olerícolas.

A IX RIFIB ocorreu entre os dias 07 e 09 de outubro de 2003 e foi realizada


na cidade de Catanduva, tendo como parceiros na organização a Usina
Cerradinho e a Associação dos Produtores de Álcool, Aguardente e Açúcar da
região de Catanduva (APAC). O evento contou com 218 participantes, sendo 208
provenientes do Estado de São Paulo, 3 de Goiás, 2 de Alagoas, 2 de Minas
Gerais, 2 do Paraná e 1 da Bahia. Na oportunidade foram debatidos os principais
problemas fitossanitários da cultura da cana-de-açúcar, fundamentos da
tecnologia de aplicação de defensivos e situação da pesquisa científica na cultura,
com palestras de especialistas do Instituto Biológico, IAC e UFSCar. As empresas
do setor tiveram espaço para apresentarem as opções para o controle de pragas
e doenças envolvendo soluções de natureza biológica e/ou química.

A X Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico aconteceu na


cidade de Mococa, SP, no dia 19 de outubro de 2004, e teve como promotores o
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Instituto Biológico e o Departamento de Descentralização do Desenvolvimento
através do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios -
Nordeste Paulista, ambos órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo. Naquela oportunidade foi enfocada a cultura do café com
diversos especialistas, oriundos do Instituto Agronômico, Instituto de Economia
Agrícola, Instituto Biológico e Apta Regional, abordando temas sobre o
melhoramento genético do cafeeiro com vistas a resistência a pragas e o manejo
fitossanitário na cultura. Grande parte das informações apresentadas foi
proveniente das pesquisas desenvolvidas com o apoio de recursos do Consórcio
Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café. Um público de 103
participantes, formado em sua grande maioria por produtores, assistiu ao evento.

O município de Aguaí foi sede da XI RIFIB, realizada nos dias 20 e 21 de


julho de 2005. Naquela oportunidade simultaneamente ocorreu o I Encontro de
Fitossanidade em Plantio Direto na Palha. Os eventos foram promovidos pelo
Instituto Biológico e o Clube Amigos da Terra de Aguaí (CAT-AGUAÍ). O tema
central foi focado nas culturas de milho e soja com ênfase ao plantio direto na
palha (PDP). Especialistas do Instituto Agronômico do Paraná, Instituto de
Economia Agrícola e Empresas do agronegócio juntaram-se aos Pesquisadores do
Instituto Biológico para apresentarem, de forma objetiva, os principais aspectos
fitossanitários atinentes a essa importante cadeia de grãos. Os eventos reuniram
cerca de 104 participantes, provenientes de 19 cidades do Estado de São Paulo.

6
P RAGAS DOS GRÃOS ARMAZENADOS
Tercio Barbosa de Campos
Eng° Agr° - Pesquisador Científico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de
Sanidade Vegetal. Instituto Biológico.

Para compensar o grande investimento que se faz na condução técnica da


lavoura, procurando aumentar a produção e a produtividade, é necessário
armazenar bem as colheitas, como fase final da produção agrícola. O
armazenamento constitui um fator importante para a economia do país, podendo
contribuir substancialmente no controle da produção, circulação e disponibilidade
de alimentos à população.

Os grãos cereais e leguminosos são a base da alimentação humana e


precisam ser bem guardados de acordo com uma programação no manejo e
utilização de siste mas e medidas de proteção e preservação adequados de cada
caso, visando a conservação da qualidade e quantidade do produto armazenado,
até serem consumidos ou industrializados.

Grande parte das safras agrícolas de grãos se perde anualmente, devido a


falhas de colheita, no transporte e armazenamento, poucos se apercebem do
montante dessas perdas e elas são bastante apreciáveis, agravando-se com
ausência ou uso inadequado de medidas de controle de pragas que ocasionam as
maiores perdas.

Estima-se que no Brasil 20% da produção anual de grãos que está em torno
de 120 milhões de toneladas, se perde entre a colheita e o armazenamento e que
metade dessas perdas, é devido ao ataque de pragas durante o armazenamento
e com maior índice ao nível de fazenda, onde as instalações são mais rústicas.

Ensaios realizados no paiol do Instituto Biológico em Campinas acusaram


perdas de 12% em peso, devido ao ataque de gorgulhos e traças em milho em
espiga com palha não tratada (safra 1973/74). Ensaios com café beneficiado
ensacado em condições de temperatura e umidade elevadas, sofreram danos
superiores a 20% pelo ataque do caruncho das tulhas após 9 meses.

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Se tomarmos por base a estimativa de 10%, no Brasil há anualmente
perdas ao redor de 12 milhões de toneladas de grãos. Daí a importância do
controle de pragas no armazenamento.

Estabelecida uma política e uma infra -estrutura de armazenagem é


necessário a capacitação técnica daqueles que direta ou indiretamente serão
responsáveis pela execução dessa importante operação, principalmente com
relação ao controle de pragas e outros organismos nocivos. Os prejuízos causados
pelas principais pragas e seu controle devem ser bem estudados.

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Reconhecimento dos Prejuízos Causados pelas Pragas

Os danos provocados pelo ataque de insetos aos grãos armazenados são de


ordem quantitativa e qualitativa, assim sendo temos:

1. Perda de peso e desvalorização comercial;


2. Perda do valor nutritivo dos grãos alimentícios;
3. Perda do poder germinativo das sementes;
4. Contaminação dos alimentos pela penetração de outros organismos
(ácaros e fungos) através de aberturas deixadas pelos insetos;
5. Deterioração dos grãos pela atividade dos insetos, provocando
emboloramento pela condensação da umidade;
6. Alteração das qualidades intrínsecas das farinhas para a panificação e
culinárias de outros produtos, principalmente dos feijões.

A avaliação desses prejuízos se faz pela amostragem representativa do lote


armazenado, seguida de pesagem, determinação de grãos atacados e análise
qualitativa e quantitativa do produto.

Insetos que Atacam e Danificam os Grãos Armazenados

Pertencem a ordem Coleoptera (carunchos e gorgulhos) e ordem


Lepidóptera (mariposas e traças); são pequenos besouros ou mariposas que
possuem alta capacidade de reprodução, podendo permanecer em repouso no
estágio intermediário quando as condições forem adversas.

As larvas desses insetos consomem grande quantidade de alimento e


danificam os grãos. Os carunchos ou gorgulhos conseguem penetrar na massa de
grãos, ao passo que as mariposas, mais frágeis, não o conseguem, ficando nas
camadas superficiais.

Relativamente ao modo de se alimentarem, esses insetos são considerados:

a) Pragas primárias – Aquelas que tem maior importância econômica,


porque conseguem atacar grãos inteiros e sadios. Ex.: gorgulhos do milho,
carunchos do feijão, carunchos do café, traça dos cereais, etc.

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b) Pragas secundárias – Aquelas que não conseguindo atacar grãos inteiros,
necessitam de uma abertura deixada pelas pragas primárias ou por avarias
ocasionadas na colheita e manuseio. Ex.: Tribolium castaneum Herbst,
Laemophloeus minutus (Olivier).

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Principais Pragas que Atacam os Grãos Armazenados

Embora sejam muitas as espécies de insetos encontradas nos produtos


armazenados, apenas um pequeno número delas são causadoras de danos
apreciáveis. Ocorrem com maior ou menor freqüência em todas as partes do
mundo de acordo com as condições ambientais, sistema de armazenagem e
disponibilidade de grãos. Embora muitas espécies sejam polífagas, podemos
estudar as principais pragas, que ocorrem no Estado de São Paulo, de acordo com
a preferência alimentar.

1. Cereais (arroz, trigo, milho e sorgo)


a. Sitophilus zeamais Motschulsky, 1855 – Gorgulho do milho
b. Sitophilus oryzae (Linnaeus, 1763) – Gorgulho do arroz.
São duas espécies bastante semelhantes morfologicamente , cuja
diferenciação pode ser feita pela genitália interna. A espécie S. zeamais é mais
importante e tem preferência por grãos de milho. Os adultos são besourinhos de
cor castanho escura, com quatro manchas avermelhadas nos élitros; medem de
3 a 5mm de co mprimento, tem a cabeça prolongada em rostro recurvado. As
larvas são de coloração amarelo claro com a cabeça mais escura. A fêmea pode
colocar em média 200 ovos, diretamente nos grãos. Tanto as larvas como os
adultos danificam os grãos. É uma praga de pro fundidade, polifaga e de
infestação cruzada, daí a sua importância. Infestação cruzada significa que se dá
tanto em armazéns como no campo

c. Rhyzopertha dominica ( Fabr., 1792 ) - Besourinho dos cereais


Besourinho de coloração castanho escuro medindo de 2 a 2,5mm de
comprimento, corpo cilíndrico, com cabeça escondida pelo pronoto. As larvas são
esbranquiçadas com cabeça de cor castanha. As fêmeas colocam os ovos,
aproximadamente 300, isolados ou agrupados na superfície dos grãos.

d. Sitotroga cerealella ( Olivier, 1819)


São pequenas mariposas com 5 a 6mm de comprimento e 11 a 15mm de
envergadura. As asas são sedosas e brilhantes, sendo as anteriores estreitas,
longas e afiladas nas extremidades, de cor palha com franjas e as posteriores são

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mais claras e se estreitam acentuadamente em direção à extremidade. As fêmeas
ovipositam nos grãos ou próximos deles, podendo colocar em média 200 ovos
cada uma. Depois da eclosão, as lagartas penetram nos grãos, onde se
alimentam e completam o seu ciclo. São em geral de cor clara amarelada e
atingem 6mm de comprimento. É uma praga de superfície e como os carunchos,
tem a capacidade de infestação cruzada.

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e. Plodia interpunctella (Huebner, 1813) – Traça dos cereais e farinhas.
O adulto é uma pequena mariposa com 16 a 18mm de envergadura. As
asas anteriores são de cor acinzentadas no terço basal e marrom avermelhada na
parte posterior. As lagartas são de coloração branca e tecem um casulo de seda
branca para empupar. A fêmea coloca em média 250 ovos sobre os grãos.

f. Cadra cautella (Walker, 1864) (= Ephestia cautella) – Traça


Os adultos são mariposas de cor pardo acinzentada, com 20mm de
envergadura, asas posteriores são esbranquiçadas com a margem cinza. A
lagarta tem cor rosada a branco com pequenas manchas escuras no dorso com
aparência listrada. As fêmeas colocam os ovos de forma esférica, cor branca,
ativamente durante 4 a 6 dias de vida.

g. Tribolium castaneum Hesbt, 1797 – Besouro


h. Tribolium confusum Du Val , 1868 – Besouro
São duas espécies bastante semelhantes, medindo de 3 a 4mm de
comprimento, de cor castanha avermelhada e uniforme, tem corpo achatado,
comumente encontrados atacando grãos quebrados, farinhas, frutas secas,
macarrão, etc.

i. Oryzaephilus surinamensis ( Linnaeus, 1758) – Besouro


Este besouro como os triboliuns é uma praga secundária, atacando os
mesmos produtos. O adulto é fino e achatado, de cor marrom, medindo 3mm de
comprimento.

2. Café
a. Araecerus fasciculatus (De Geer, 1775) – Caruncho das tulhas
São pequenos besouros de corpo globoso, com aproximadamente 3mm de
comprimento, de coloração castanha variando para cinza escura, com manchas
amareladas no dorso. Esta praga é bastante disseminada em regiões tropicais em
muitos produtos armazenados, sendo seu alimento preferido o café, onde causa
sérios danos principalmente no litoral, onde as condições ecológicas de

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temperatura e umidade são favoráveis. Além do café, atacam também milho,
cacau, amêndoas, amendoim, feijão, frutas, etc.

b. Corcyra cephalonica ( Stainton, 1865) – Traça do amendoim


Estas e outras traças podem atacar o café causando enormes prejuízos,
principalmente na qualidade do produto pela presença de lagartas, casulos e
excrementos que deixam na sacaria.

3. Feijão
a. Acanthoscelides obtectus (Say, 1831 ) – Caruncho
O adulto que mede de 2 a 4mm de comprimento tem a forma oval, cor
parda escura. As fêmeas são maiores que os machos e colocam os seus ovos em
grupos de até 10 de cor branca, sobre os grãos, podendo colocar em média 60
ovos. As larvas de 3 a 4mm de comprimento são de cor branca.

b. Zabrotes subfasciatus (Bohemann, 1833 ) – Caruncho


Este caruncho é um pouco menor que a anterior, medindo de 1,8 a 2mm de
comprimento, possuem cor castanho escura. As fêmeas são maiores que os
machos e tem quatro manchas brancas no pronoto. Quando paradas, os élitros
deixam a vista o pigídio. Colocam seus ovos sobre os grãos.

Tanto A. obtectus como Z. subfasciatus, perfuram os grãos de feijão,


diminuindo o peso e depreciando qualitativamente o produto que fica com sabor
desagradável quando cozidos. Os grãos destinados ao plantio têm o embrião
destruído, perdendo o seu poder germinativo.

Medidas de Controle

Atualmente, o manejo integrado de pragas dos grãos armazenados tem


sido adotado para solucionar o problema de perdas ocasionadas no
armazenamento. Consiste na integração de diferentes métodos de controle,
dentro de uma relação custo-benefício adequada e de uma prática
ambientalmente segura. Esta técnica compreende várias operações que serão
expostas a seguir:

14
Ø capacitação técnica das pessoas que direta ou indiretamente serão
responsáveis pela execução de todo processo de armazenamento, com
conhecimento abrangente sobre a unidade armazenadora;
Ø limpeza, higiene e preparo da unidade armazenadora, procurando
eliminar possíveis focos de infestação;
Ø secagem, pré-limpeza dos grãos e uso correto da aeração;
Ø conhecimento do potencial de destruição de cada praga e de sua
resistência aos inseticidas químicos;
Ø monitoramento de pragas, etapa de fundamental importância que, tem
como objetivo acompanhar o início e a evolução da infestação de pragas que
ocorrem da massa de grãos.

O Monitoramento deve ser realizado periodicamente, baseado num sistema


de coleta de amostras, na medição da temperatura e umidade dos grãos e no uso
de armadilhas de feromônio sexual já existente para algumas pragas. Esta prática
permite recomendar de forma técnica um novo tratamento químico ou até mesmo
o remanejamento da massa de grãos.

Tratamento químico: dentre os métodos de controle de pragas dos grãos


armazenados, destaca -se o controle químico por ser o mais viável
economicamente dentro de nossas condições de armazenamento.
A alta capacidade reprodutora, aliada ao poder de infestação cruzada e a
grande capacidade de destruição dos insetos que atacam os grãos, justificam o
uso de produtos químicos que determinam a mortalidade total das pragas,
inclusive das formas jovens e o controle preventivo mesmo quando
aparentemente não haja infestações no produto armazenado.

O tratamento curativo consiste no expurgo ou fumigação que é uma medida


de controle em que se procura exterminar as pragas dos grãos e produtos
armazenados em todas suas fases, através de inseticidas voláteis, procurando
atingir 100% de eficiência, não conferindo imunidade aos grãos.

Recomenda-se para o expurgo a utilização de fosfeto de alumínio ou fosfeto


de magnésio que são inseticidas sólidos que em contato com o ar, liberam a
fosfina que é um gás inodoro, incolor e extremamente tóxico, porém seguro
15
quando observadas as recomendações dos fabricantes. A dose de utilização é de
2g de fosfina (ingrediente ativo) por m³ de câmara, sendo que o produto
comercial é apresentado em comprimidos de 0,6g ou de 3,0g, em sachê ou
tabletes que libera um terço do seu próprio peso em fosfina. O tempo de
exposição em que a câmara permanece fechada deverá ser de no mínimo 96
horas.

O tratamento complementar ou preventivo é executado após a fumigação.


No caso de grãos destinados à alimentação só podem ser empregados inseticidas
liberados por nossa legislação fitossanitária, observando-se os limites máximos de
tolerância permitidos para resíduos.

No tratamento de grãos armazenados, com base na legislação em vigor,


são permitidos, entre outros, os seguintes inseticidas:

Uso permitido Tolerânci Intervalo de


Inseticida (grãos e derivados) a segurança
residual
Deltametrina Milho e trigo a granel 1 ppm 30 dias
Milho em espiga com palha 1 ppm 7 dias
Milho, arroz, trigo e café 1 ppm 7 dias
ensacados
Fenitrotion Grãos armazenados 10 ppm 14 dias
Cacau (sementes) 0,1 ppm 28 dias
Café (grãos) 0,1 ppm 14 dias
Farelo de trigo 20 ppm 28 dias
Pirimifós - Milho e trigo 10 ppm 30 dias
metil Arroz, cevada c/ casca 10 ppm 30 dias
Farinha de trigo 5 ppm 30 dias

As recomendações de tratamentos de grãos armazenados com inseticidas


variam de acordo com o tipo e finalidade de armazenamento, contendo as
seguintes considerações:

Ø mistura direta dos inseticidas aos grãos;


Ø embora já tenha havido maior freqüência de aplicação dos defensivos sob
a forma de pó, a tendência atual de uso é a via líquida;
Ø Considerando-se os períodos de proteção de 6 a 12 meses, a
recomendação abrange os inseticidas fenitrotion 5-10ppm, pirimifós – metil 5-
10ppm, e deltametrina 0,5–1,0ppm, sendo o piretróide aplicado em mistura ao

16
butóxido de piperonila a razão de 1:10. Em relação aos produtos comerciais
aplicados por via liquida, essa recomendação seria a seguinte:
Sumigran CE ( 500g/l) – 10 a 20 m l/ ton. grão
Actellic CE ( 500g/l ) – 10 a 20 ml/ ton. grão
K – Obiol ( 25g/l) - 20 a 40 ml / ton. grão
Ø Os piretróides fenvalerato, permetrina, e cipermetrina, também
apresentam exce lentes perspectivas nessa modalidade de tratamento de grãos
armazenados.

Atualmente, no tratamento de grandes lotes de cereais em armazéns de


graneleiros e silos, vem sendo efetuado o tratamento em pulverização direta dos
inseticidas sobre os grãos. Os defensivos são aplicados em pulverização
atomizada em esteira de carregamento, através de aparelhos apropriados.

Tratamento de grãos ensacados e armazéns


Normalmente efetuado em complementação ao expurgo para prevenir
reinfestações.

Ø Pulverização (atomização)
Os inseticidas são aplicados puros ou levemente diluídos sobre a superfície
da sacaria, paredes e ou de piso no armazém. Tem sido indicado os defensivos
deltametrina, pirimifós – metil e finitrotion. Para os produtos comerciais temos a
seguinte recomendação:

ü Actellic CE ( 500 g / l ) – 0,50 ml / m²


ü Sumigran CE ( 500 g / l ) – 0,50 ml / m²
ü K – Obiol CE ( 25 g / l ) – 0,80 – 1,20 ml / m²
Esse tratamento deve ser repetido mensalmente para o caso dos
organofosforados, em relação ao piretróide o tratamento oferece um intervalo de
proteção mais alongado, podendo ser repetido a cada 2 meses.

Ø Nebulização
Através desse tratamento o defensivo pode atingir as partes menos
acessíveis do armazém. A neblina é produzida por aparelhos nebulizadores sendo
o defensivo diluído em óleo mineral ou diesel. As portas e janelas do armazém
17
devem ser mantidas fechadas durante o tratamento, recomendando-se desligar
os circuitos elétricos. São utilizados os defensivos, deltametrina ou pirimifós –
metil.

Tratamento de Paióis
Como se teve oportunidade de assinalar, é bastante viável e recomendável
a fumigação prévia do milho não beneficiado antes do armazenamento no paiol.
Anteriormente ao recolhimento do material é aconselhável a limpeza e
pulverização das paredes, forros e piso do paiol com inseticidas, tais como
deltametrina, pirimifós – metil, fenitrotion.

O cereal por ocasião do armazenamento no paiol deve receber o tratamento


em camadas, sendo os defensivos empregados à razão de 1ppm (deltametrina)
ou 10ppm (pirimifós – metil ou fenitrotion). Assim para cada tonelada de milho
em espiga com palha, empregam-se 40 ml de K-Obiol (CE a 2,5%) ou 20ml de
Actellic ou Sumigran (CE a 50%).

Mensalmente, até a retirada do cereal armazenado, é conveniente


proceder-se a um leve tratamento de superfície com um dos inseticidas citados.

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19
RESISTÊNCIA A INSETICIDAS EM P RAGAS DE P RODUTOS ARMAZENADOS
Raul Narciso C. Guedes, Camila T. Santos & Alberto S. Corrêa
Setor de Entomologia, Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, MG. CEP 36571-000

Bases gerais

O uso de inseticidas é o principal método de controle de insetos-praga de


produtos armazenados em regiões tropicais, mas a utilidade deste tem sido
limitada pela evolução de resistência a estes compostos em várias espécies de
insetos-praga no Brasil, dentre os quais destacam-se as pragas de produtos
armazenados (Guedes 1991; Guedes & Ribeiro, 2000; Ribeiro et al. 2003). Esse
fenômeno é definido, pelo Comitê de Peritos em Inseticidas da Organização
Mundial de Saúde, como o desenvolvimento da capacidade, por uma população
de insetos de dada espécie, de suportar doses de inseticidas que seriam letais
para uma população normal de organismos da mesma espécie (World Health
Organization..., 1957). O termo resistência é distinto de tolerância, pois o
segundo se refere a populações que nunca mostraram susceptibilidade aos níveis
de inseticidas empregados.

O primeiro relato de resistência a inseticidas ocorreu no estado de


Washington (Estados Unidos) já em 1908, quando A.L. Melander relatou a
ocorrência de uma população de piolhos-de-São José, Quadraspidiotus
perniciosus, resistente ao enxofre (Melander, 1914). Tais estudos somente se
intensificaram após a introdução e disseminação do uso de inseticidas
organossintéticos a partir de meados da década de 1940. Em um dos últimos
relatos que se tem respeito, ainda do início da década de 1990, foram estimados
em 504 o número de espécies de insetos e ácaros resistentes a pelo menos uma
classe de praguicida (Georghiou & Lagunes-Tegeda, 1991). Algumas pragas, a
exemplo do besouro -da-batata -do-Colorado, Leptinotarsa decemlineata, têm
mostrado resistência a, virtualmente, todos os compostos usados no seu controle,
comprometendo inclusive o uso de novos inseticidas no combate a esta espécie-
praga (Mullin & Scott, 1992).

As conseqüências primárias do surgimento de populações de insetos


resistentes a inseticidas são: 1) aumento da freqüência das aplicações de

20
inseticidas; 2) aumento da dose do produto aplicado e; 3) sua eventual
substituição por outro composto. Em termos econômicos, as perdas estimadas
em decorrência da resistência a inseticidas são assustadoras. Pimentel et al.
(1980), por exemplo, estimaram que as perdas advindas do fenômeno, ao nível
de fazenda, remontavam a US$ 118 milhões anualmente nos Estados Unidos.
Contudo, tais perdas transcendem o nível da fazenda e podem comprometer os
investimentos que variam de US$20 a 40 milhões para o isolamento, teste,
desenvolvido e comercialização de novos inseticidas organossintéticos (Knight &
Norton, 1989). Vale ressaltar que as vendas de inseticidas no Brasil movimentam
cerca de US$700.000,00 anualmente (Conceição, 2000), logo as perdas advindas
do fenômeno da resistência são também apreciáveis no nosso país, apesar de
inferiores aos patamares norte -americanos.

Resistência a inseticidas se desenvolve em insetos mediante seleção de


indivíduos raros na população que conseguem sobreviver à ação destes
compostos nas doses utilizadas. Portanto, o fenômeno da resistência é pré-
adaptativo e não de efeito mutacional (Brattsten et al., 1986; Mullin & Scott,
1992; Guedes, 1990 e 1999). A maioria dos inseticidas comerciais é desenvolvida
como fracos agentes mutagênicos por motivos de segurança e o uso deles resulta
em intensa seleção química (alta dose e alta mortalidade), que não conduz a
alterações genéticas, mas favorecem a sobrevivência de indivíduos pré-
adaptados, i.e. resistentes (Mullin & Scott, 1992). Indivíduos predispostos à
resistência a inseticidas originam-se de complexas interações entre a ocorrência
normal de “erros” genéticos, bem como a ocorrência natural ou não de
genotoxinas (por ex., mutagênicos ambientais ou existentes na dieta do
organismo) (Brasttsten et al., 1986; Mullin & Scott, 1992). Assim, a evolução da
resistência é dete rminada pela pressão de seleção exercida pelo inseticida sob a
população de pragas e esta depende principalmente de três grupos de fatores: 1)
relativos à bioecologia da praga, incluindo sua taxa reprodutiva, migração,
espectro de hospedeiros etc.; 2) relativos à genética da praga; e 3) relativos ao
inseticida e seu uso (Georghiou & Taylor, 1977 ab).

Os mecanismos por meio dos quais populações de insetos têm desenvolvido


resistência a inseticidas são comumente divididos em três grupos básicos:
mecanismos comportamentais, fisiológicos e bioquímicos (Mallet, 1993; Guedes,

21
1999). Mecanismos comportamentais se referem àqueles através dos quais os
insetos são capazes de evitar doses letais do inseticida (Lockwood et al., 1984;
Hoy et al., 1998). Mecanismos fisiológicos incluem a menor penetração do
inseticida através da cutícula dos insetos e a reclusão dele em estruturas
insensíveis ou quimicamente inertes (Brattsten et al., 1986). Mecanismos
bioquímicos são mais freqüentes e de evolução rápida, sendo normalmente mais
relevantes na prática. Os mecanismos bioquímicos são subdivididos em dois
tipos: aumento da destoxificação metabólica e alteração no sítio de ação de
inseticidas (Soderlund & Bloomquist, 1990). As principais enzimas destoxificativas
envolvidas na resistência a inseticidas são: 1) monooxigenases dependentes de
citocromo P450; 2) esterases; 3) glutationa-S-transferases (Soderlund &
Bloomquist, 1990).

Insetos se adaptam com grande facilidade a diferentes agentes de controle,


sendo importante definir como determinado inseticida deve ser utilizado para que
a resistência a ele não se torne um problema, o que normalmente é referido
como manejo de resistência a inseticidas (Croft, 1990; Denholm & Rowland,
1992). As estratégias de manejo são por moderação, por saturação, ou por
ataque múltiplo (Omoto & Guedes, 1998). O manejo por moderação baseia-se na
redução da pressão de seleção para preservação de insetos susceptíveis na área.
Já o manejo por saturação tem por objetivo reduzir a persistência dos insetos
resistentes na área e se baseia na utilização de altas doses de inseticidas aliada a
condições de grande migração de indivíduos susceptíveis para a área sob manejo.
O manejo por ataque múltiplo envolve a utilização de dois ou mais produtos em
rotação ou misturas. Os produtos em mistura podem ser de dois inseticidas ou
um inseticida ou um sinergista, sendo este último um composto que em doses
subletais eleva eficiência do inseticida. A rotação, por sua vez, é sempre entre
inseticidas e se baseia no uso alternado, de produtos os mais distintos possíveis,
contra determinada praga, minimizando a seleção de cada um deles
isoladamente.

Resistência em Insetos de Produtos Armazenados no Brasil

O problema da resistência a inseticidas é particularmente sério em insetos


de produtos armazenados devido, em grande parte, a estreita dependência do
22
uso de inseticidas para seu controle em regiões tropicais, aliada ao risco de
dispersão de insetos resistentes via comércio internacional (Guedes, 1990). A
preocupação com o fenôme no tem sido crescente em termos mundiais desde a
década de 1960, com os trabalhos pioneiros de Parkin (1965) e o levantamento
global de Champ & Dyte (1978) sob os auspícios da FAO. Contudo, são poucas as
informações disponíveis nos países da América do Sul e Sudeste Asiático, mas o
esforço recentemente feito no Brasil torna-o uma exceção e uma referência na
região, como atestam Subramanyam & Hagstrum (1996). No entanto, há ainda
muito que ser feito no país com relação à resistência a inseticidas em insetos de
produtos armazenados.

Levantamentos e situação geral

O primeiro relato de resistência a inseticidas no Brasil aconteceu ao final da


década de 1960, graças ao esforço pioneiro da Dra. Esmeralda Mello, do Instituto
Biológico (Mello, 1970). Nesse trabalho foram constatados níveis elevados de
resistência ao DDT e ao lidane, e baixo nível de resistência ao malatiom, em
população de caruncho-do-arroz (Sitophilus oryzae) coletada em Capinópolis, no
Triângulo Mineiro (Mello, 1970). Posteriormente, Champ & Dyte (1978), na
prospecção mundial da FAO sobre o fenômeno, fazem referência a algumas
populações de insetos de produtos armazenados coletados no Brasil que exibiam
resistência a alguns inseticidas.

Takematsu (1983), em investigação posterior realizada na ESALQ, observou


variação de susceptibilidade entre oito populações, também de caruncho-do-
milho (S. zeamais), coletadas no Estado de São Paulo, frente aos inseticidas
então recomendados contra esta espécie. Estudos subseqüentes foram
conduzidos no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em Campinas,
reportando resistência a fosforados e fosfina em diferentes espécies de insetos de
produtos armazenados (Pacheco et al., 1990, 1991 e 1993; Sartori et al., 1990 e
1991). Trabalhos conduzidos na Universidade Federal de Viçosa (UFV) em
colaboração com a EMBRAPA-Milho e Sorgo, revelaram resistência ao DDT e
piretróides em populações de caruncho-do-milho provenientes de diferentes
estados brasileiros (Guedes et al., 1994 e 1995). Investigações recentes

23
conduzidas co m Rhyzopertha dominica pelo grupo da UFV e pelo grupo da
EMBRAPA-Trigo, mostraram a existência de populações brasileiras desta espécie
que exibiam resistência a fosforados (Guedes et al., 1996) e piretróides (Lorini &
Galley, 1998 e 1999).

Os estudos referidos acima foram baseados em ensaios diagnósticos ou


estabelecimentos de curvas concentração-resposta. A importância deles reside no
fato de possibilitar o monitoramento da resistência a inseticidas em insetos de
produtos armazenados no Brasil. Assim, sabe-se hoje que a resistência ao
malatiom está amplamente difundida em populações brasileiras de S. oryzae, R.
dominica e Tribolium castaneum (Pacheco et al., 1991 e 1993; Sartori et al.,
1990). Resistência a fosfina está também distribuída em populações de R
dominica, Cryptoles spp., S. oryzae e T. castaneum, sendo pouco freqüente em S.
zeamais (Pacheco et al., 1990; Sartori et al., 1991). Resistência a pirimifós-
metílico e fenitrotiom foi observada em poucas instâncias somente em S. oryzae,
R. dominica e T. castaneum (Pacheco et al., 1991 e 1993). Em contraste,
resistência de R. dominica a pirimifós-metílico parece amplamente distribuída no
Estado de Minas Gerais (Guedes et al., 1996) e populações de S. zeamais de
quatro diferentes estados brasileiros, mostra ram resistência a piretróides
aparentemente associada a armazéns de sementes de milho (Guedes et al.,
1995).

Apesar da intensificação recente dos estudos sobre resistência a inseticidas


em insetos de produtos armazenados, pouco se sabe sobre as bases genéticas e
bioquímicas em populações brasileiras destes, comprometendo o
desenvolvimento de estratégias adequadas de manejo de resistência, salvo
algumas exceções. Uma delas é o trabalho conduzido por Sartori et al. (1990)
sobre resistência ao malatiom em populações paulistas de T. castaneum, onde foi
preliminarmente constatado nestas a prevalência de destoxicação por
carboxilesterases (ou esterase tipo-B) como mecanismo de resistência a este
composto. Estudos conduzidos sobre resistência a piretróides em S. zeamais e
resistência a fosforados em R. dominica serão mais detalhadamente discutidos a
seguir ara ilustrar as implicações destes estudos no estabelecimento de
programas de manejo de populações de insetos de produtos armazenados
resistentes a inseticidas.

24
Resistência de Rhyzorpertha dominica a fosforados

Resistência de R. dominica aos inseticidas organofosforados, malatiom,


pirimifós-metílico e clorpirifós-metílico foi observada em sete sítios de coleta em
Minas Gerais e um em São Paulo (Guedes et al., 1996), parecendo ser bem
difundida no país à semelhança do observado por (Pacheco et al., 1991 e 1993).
Essas populações mostraram baixos níveis de resistência ao malatiom e pirimifós-
metílico (<10x) e níveis de baixo a moderados de resistência ao clorpirifós-
metílico (<170x), inseticida nunca usado no Brasil para o controle de pragas de
produtos armazenados, o que sugere a existência de resistência cruzada a algum
outro composto (Guedes et al., 1996).

A investigação dos prováveis mecanismos bioquímicos envolvidos na


resistência a fosforados nas populações estudadas foi feita mediante uso de
sinergistas em ensaios in vivo e ensaios colorimétricos in vitro. Os resultados com
sinergistas foram inconclusivos, mas os ensaios colorimétricos indicaram a
provável ocorrência de dois mecanismos distintos de resistência (Guedes et al.,
1997 a). O aumento da atividade de fosfotriesterases (i.e., esterases tipo-A ou
paraoxonases) e alteração na acetilcolinesterase, sítio de ação foram os dois
mecanismos observados nessas populações (Guedes et al., 1997 ab).

A acetilcolinesterase foi purificada de populações susceptível e resistente de


R. dominica (Guedes et al.,1997 c e 1998). Estudos bioquímicos conduzidos com
estas enzimas purificadas por cromatografia de afinidade indicaram ser a
acetilcolinesterase da população resistente menos sensível a inibição por
derivados do malatiom e paratiom. Em contrapartida, esta enzima purificada da
população resistente mostrou-se mais sensível a inibição por carbaril, clorpirifós-
metílico e carbofuram que a acetilcolinesterase purificada da população
susceptível a inseticidas (Guedes et al., 1997 c; Guedes & Zhu, 1998). Isto
equivale a dizer que a população resistente aos fosforados sob estudo (i.e.,
malatiom, pirimifós-metílico e clorpirifós-metílico) tem sua acetilcolinesterase
mais sensível a alguns fosforados e carbamatos do que a população susceptível,
podendo estes ser usados em programas de manejo destas populações
resistentes. A resistência pré -existente ao clorpirifós-metílico, provavelmente

25
devido a maior atividade destoxificativa de fosfotriesterases, impossibilita seu uso
no manejo da resistência a fosforados em R. dominica. O uso de carbofuram em
produtos armazenados é também inconcebível face a sua elevada toxicidade para
mamíferos, mas carbaril é um inseticida utilizado em outros países para o
controle de insetos de produtos armazenados (White & Leesch, 1996) e que
poderia ser uma ferramenta muito importante no manejo das populações
resistentes estudadas (Guedes e Zhu, 1998).

Resistência de Sitophilus zeamais a inseticidas

Até o final do milênio ainda não havia sido reportada resistência a


fosforados em populações de caruncho-de-milho (S. zeamais), ao contrário do
que se tem observado com relação aos piretróides. Esta situação vem sofrendo
ligeiras alterações e níveis baixos a moderados de resistência a fosforados foram
recentemente relatados em populações brasileiras de caruncho-do-milho (Fragoso
et al., 2003; Ribeiro et al., 2003). Em investigação sobre resistência ao DDT, aos
piretróides, deltametrina, cipermetrina e permetrina, e ao fosforados pirimifós-
metílico, constatamos um preocupante padrão de resistência a DDT e a todos
piretróides estudados em populações de seis localidades provenientes de
armazéns de sementes em quatro estados (Goiás, Minas Gerais, Paraná e Rio
Grande do Sul). Além da resistência a DDT e piretróides, observamos ainda
resistência ao DDT e a deltametrina em uma população capixaba de S. zeamais e
resistência unicamente ao DDT foi observada em outras três populações, duas de
Minas Gerais (Sete Lagoas e Viçosa) e uma do Paraná (Ponta Grossa). Resistência
a pirimifós-metílico não foi observada em nenhuma das populações estudadas
(Guedes et al., 1995).

O padrão da resistência ao DDT e piretróides é curioso e preocupante,


principalmente se considerarmos que permetrina e cipermetrina ainda não eram
utilizadas em grãos armazenados àquela época, e o uso de deltametrina ainda era
ainda recente. Esse fato aliado aos resultados preliminares de estudo de
mecanismos de resistência mediante uso do sinergista butóxido de piperonila
sugerem ser este um caso de resistência cruzada (Guedes et al., 1995).
Resistência cruzada se refere a existência de um único mecanismo de resistência

26
conduzindo à resistência a dois ou mais compostos distintos (Guedes, 1990). No
caso em questão, o uso intenso de DDT em armazéns de sementes de milho,
parece ter selecionado populações de S. zeamais com o sitio alterado de ação a
este inseticida, diminuindo drasticamente a eficiência dele e dos piretró ides, pois
este grupo de inseticida apresenta o mesmo sítio de ação do DDT (i.e., ligam-se
aos canais de Na + da membrana do axônio interferindo com o fechamento deles)
(Eto, 1990). O uso de piretróides, cuja resistência parece ser controlada por um
único a lelo recessivo ligado ao sexo (Guedes et al., 1994).

Levantamentos mais recentes indicaram que a resistência de caruncho-do-


milho a piretróides ainda ocorre a campo, mas não se difundiu muito, mantendo
padrão de ocorrência localizada (Fragoso et al. 2003). Curiosamente algumas
instâncias de resistência a inseticidas organofosforados foram mais recentemente
relatadas no Brasil (Fragoso et al., 2003; Ribeiro et al., 2003), o que não se
observou em levantamentos anteriores. O acompanhamento desta situação é
importante para evitar que atinja patamares tão preocupantes quanto aos
verificados com piretróides (Guedes et al., 1994, 1995).

Apesar da supostamente alta capacidade de dispersão de S. zeamais,


favorecida ainda mais pelo comércio de grãos, a resistência a piretróides em
populações brasileiras desta espécie persiste aparentemente restrita a algumas
localidades (Fragoso et al. 2003). Uma provável razão para isto é a ocorrência de
custo fisiológico associado à resistência a inseticidas de modo a desfavorecer as
populações resistentes na ausência de pressão de seleção por estes compostos
(Coustau et al., 2000). Tal fato foi confirmado em estudos de taxa de
desenvolvimento de populações brasileiras de caruncho-do-milho resistentes a
inseticidas (Fragoso et al., 2005).

O estudo comentado acima evidenciou a existência de populações


resistentes que apresentavam desvantagem adaptativa na ausência de
piretróides, mostrando atraso na emergência dos adultos e menor emergência
deles em relação a populações susceptível. Contudo, algumas populações
resistentes não apresentavam esta desvantagem adaptativa, como o caso da
população de Jacarezinho (PR). Esta população mostrou forte competidora face a
populações suceptíveis (Fragoso et al., 2005), mesmo em experimentos de
competição direta (Oliveira et al., 2005). Isto parece ser devido a seleção
27
prolongada para resistência a piretróides possibilitando a seleção de genes
modificadores secundários que mitigam o custo fisiológico associado a resistência.
Evidências recentes indicaram que esta mitigação de custo da resistência pode
estar acontecendo devido a maior possibilidade de acúmulo de reservas
energéticas na população resistente e maior atividade respiratória desta,
possibilitando provimento de energia suficiente para a os processos fisiológicos
fundamentais para a manutenção da homeostase destes insetos e ainda para sua
defesa contra inseticidas (Guedes et al., 2005). Tal evidência mostra sérias
implicações para o manejo de populações resistentes e demanda estudos
adicionais.

Considerações Finais

O fenômeno da resistência a inseticidas é problema sério e apresenta sérias


implicações econômico-sociais. A evolução dos conhecimentos a respeito dele em
insetos-pragas de produtos armazenados tem nos possibilitado antever
problemas mais sérios e buscar táticas sólidas de manejo de populações
resistentes. Contudo, estudos suficientemente profundos que possibilitam o
estabelecimento de tais táticas de manejo são ainda bem raros em nosso país
merecendo atenção adicional, assim como estudos de herança da resistência a
inseticidas. A carência de entomologistas que trabalham com insetos de produtos
armazenados é outro problema que perdura no Brasil já por muito tempo e que
só vem a agravar ainda mais a situação elevando o risco de evolução do
fenômeno e aumento dos problemas inerentes a ele. Esperamos que a presente
discussão sirva de estímulo à pesquisa e à formação de profissionais interessados
na área.

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33
BIOECOLOGIA E CONTROLE DE CUPINS
Marcos Roberto Potenza
Eng. Agrônomo/Pesquisador Científico. Instituto Biológico/APTA
potenza@biologico.sp.gov.br

Introdução

CUPINS: MITOS E VERDADES

MITOS:
“Eles Não Comem Concreto”

Para os cupins o formato da estrutura de madeira, e sua função na


construção não importam, o que conta é que materiais celulósicos são a sua fonte
de alimento. Algumas espécies de cupins conseguiram se adaptar ao processo de
urbanização, com grande “plasticidade” na construção de seus ninhos em
qualquer tipo de espaço ou vão estrutural na construção, como a espécie
Coptotermes gestroi (C. havilandi). A arborização nas grandes cidades tem
sofrido muito com a presença dos cupins, que consomem as raízes e o cerne das
árvores prejudicando a absorção de água e nutrientes, podendo levar a morte ou
ao tombamento. Hoje em dia existe uma grande preocupação com esta questão,
principalmente no que diz respeito ao monitoramento e controle dos focos
existentes na tentativa de preservar o verde existente em nossas cidades.

“Pó de Cupim”

“Nem Tudo Que Come Madeira é Cupim”

Além dos cupins temos as brocas de madeira, pequenos besouros que


perfuram portas, peças, molduras e outras estruturas de madeira. As fêmeas
destes besouros depositam seus ovos em frestas ou escavam a madeira para
depositarem seus ovos. As larvas ao eclodirem começam a se alimentar, abrindo
uma galeria e expelindo um pó muito fino, da própria cor da madeira. Quando
cessa o aparecimento deste pó significa que a larva completou o seu
desenvolvimento, empupando para depois emergir um besouro adulto, e aí o ciclo
da infestação começa novamente, na própria peça ou em outra. Estes besouros

34
podem depositar de dezenas a centenas de ovos. Eles não causam dano muito
severo a madeira como os cupins, porém, se o controle não for realizado ao longo
dos anos a peça pode virar pó. Móveis e utensílios de bambu, vime, fibras
naturais e algodão cru podem ser infestados por estas brocas, algumas muito
pequenas, difíceis de se ver a olho nu. O pó de broca é muito confundido com
pequenos grânulos da coloração da madeira, que são as fezes do cupim de
madeira seca, expelidos das galerias realizadas.

VERDADES:
“Eles já estavam aqui muito antes de Colombo chegar”

“Enquanto perguntamos de onde o cupim vem, eles se perguntam de


onde veio o homem”

Centenas de espécies de cupins habitam há milhões de anos nossas matas,


florestas e cerrados. Algumas espécies resistiram ao desmatamento, as
atividades agrícolas, florestais e ao processo de urbanização conduzido pelo
homem. O desmatamento de parte das matas ou plantações afetará as
populações de cupins presentes no local e algumas tentarão adaptar-se ao novo
“modelo ambiental” imposto pelo homem, constituído geralmente de grama,
arbustos, estruturas de madeira e concreto.

“O Grande Dispersor de Pragas: O Homem”

Muitos já presenciaram a seguinte situação: I- “Móvel velho ou com cupim,


leva pro sítio ou para a casa de praia”. Quando transportamos móveis infestados,
estamos na verdade disseminando brocas e cupins de madeira seca para outras
regiões e aumentando a infestação. II – “Porta, cama, sofá com broca ou cupim é
melhor queimar”. Na verdade, o melhor é tratar, se não houver dano estrutural
que comprometa a peça, ela deve ser tratada, muito mais barato que adquirir
outra.

Aspectos Bioecológicos

Os cupins, também chamados de térmitas, formigas brancas, siriris ou


aleluias, são insetos de metamorfose incompleta reunidos na ordem Isoptera.
35
Existem mais de 2860 espécies de cupins no mundo, distribuídas principalmente
em regiões tropicais e subtropicais, com algumas espécies em lugares de clima
temperado e outras em regiões desérticas. A fauna de Isoptera da Região
Neotropical, com mais de 500 espécies é a segunda no mundo em número de
espécies, superada apenas pela fauna da Região Etiópica . A fauna da nossa
região ainda é pouco conhecida e levantamentos faunísticos mais recentes
registram um grande número de novos táxons.

Cupins, formigas, algumas abelhas e algumas vespas, são chamados de


eussociais ou verdadeiramente sociais por apresentarem as seguintes
caracteristicas:

1- cuidado cooperativo com a prole, ou seja, os ovos e os jovens são cuidados


pelos irmãos mais velhos;
2- casta reprodutiva (alados, rei e rainha) ao mesmo tempo em que há castas
estéreis (operários e soldados);
3- sobreposição de gerações, no caso dos cupins, pais (rei e rainha) e filhos
(operários e soldados) convivem numa mesma colônia.

A Ordem Isoptera comprrende sete famílias: Mastotermitidae,


Kalotermitidae, Hodotermitidae, Termopsidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e
Termitidae. Para a identificação até a categoria de gênero e espécie, usa-se
principalmente a casta dos soldados (com exceção dos Apicotermitinae).

Os cupins da família Kalotermitidae são conhecidos como “cupins de


madeira seca”, pois aí fazem seus ninhos, escavando câmaras e túneis. Na
natureza ocorrem tanto em árvores em pé (vivas ou mortas), como em troncos
caídos em decomposição. Em áreas urbanas ocorrem nos madeiramentos de
construções e/ou mobiliários.

Nesta família estão algumas pragas urbanas como Cryptotermes brevis,


espécie cosmopolita, a segunda praga mais importante entre os cupins na região
sudeste do Brasil, a qual trataremos com mais detalhes adiante.

Dentre os gêneros de Rhinotermitidae, que ocorrem na nossa região,


destacamos os gêneros Coptotermes e Heterotermes (conhecidos como “cupins
subterrâneos”) sendo algumas espécies pragas. Várias espécies de Heterotermes
36
ocorrem tanto em áreas urbanas como em zonas rurais e Coptotermes gestroi (C.
havilandi) é a principal praga na cidade de São Paulo.

Dentre os Nasutitermitinae há algumas espécies que atacam madeiramento


de construções em áreas urbanas e rurais no Brasil.

Organização Social

Os insetos sociais apresentam uma organização complexa e uma divisão da


colônia em diferentes grupos ou castas: um casal real (rei e rainha) que são os
reprodutores (férteis), os operários e os soldados (estéreis), com morfologia e
funções muito diferentes.

Operários: são de morfologia bastante uniforme dentro de cada grupo;


geralmente constituem a casta mais numerosa. Como o nome indica, são os
responsáveis por todo o trabalho da colônia: construção e reparo do ninho, coleta
de alimento, alimentação dos indivíduos de outras castas, além do cuidado com
ovos, os jovens e o par real. Nas espécies onde não ocorre a casta dos soldados,
eles também defendem a colônia. A longevidade desta casta varia em algumas
espécies de meses a alguns anos.

Soldados: morfologicamente bem diferentes dos operários, são os


responsáveis pela defesa da colônia e apresentam muitas adaptações para esta
função. Por exemplo, as mandíbulas (defesa mecânica) podem ser muito
desenvolvidas, de variadas formas, simétricas ou assimétricas, consistindo assim
a defesa mecânica. Podem existir glândulas especiais que produzem substâncias
usadas como defesa química. Os soldados não realizam outras tarefas na colônia
e são alimentados pelos operários. Podem ocorrer em algumas espécies, dois ou
três tipos de soldados, de tamanho e morfologia diferentes.

Reprodutores primários: são os alados (aleluias ou siriris), também


chamados imagos, bem pigmentados e esclerotizados, com olh os compostos
perfeitamente desenvolvidos. Estes indivíduos depois de voarem e perderem as
asas procuram um local para fundar uma nova colônia recebendo os nomes de
reis e rainhas. As rainhas passam por um processo chamado fisogastria, onde há
um grande e impressionante crescimento do abdome. A fêmea é então chamada

37
de fisogástrica. Uma rainha pode viver até vinte anos e alguns pesquisadores
estimam até 50 anos para algumas espécies.

Um aspecto muito importante nas colônias de algumas espécies de cupins é


a existência de outros tipos de reprodutores que poderão substituir o rei e/ou a
rainha em caso de morte deles ou ainda ocorrer junto com o par real primário,
aspecto que garante a sobrevivência da espécie.

Alimentação:

A fonte alimentar básica dos cupins são os materiais celulósicos e


lignocelulósicos sob diferentes formas: madeira viva ou morta (em diferentes
estágios de decomposição), gramíneas, raízes, sementes, fezes de herbívoros,
húmus, manufaturados, etc. Em termos gerais, a digestão da celulose é feita com
auxílio de microorganismos simbiontes intestinais: bactérias e/ ou fungos, nos
chamados “cupins superiores”, (todos da família Termitidae) e flagelados nos
cupins ditos “inferiores” (espécies das outras famílias).

Importância Ecológica

A importância dos cupins enquanto praga é reconhecida, porém a maioria


desconhece sua importância ecológica. Nos ecossistemas tropicais, desde áreas
de vegetação aberta, como o cerrado, até as florestas tropicais úmidas, os cupins
têm um papel importantíssimo e ainda pouco estudado em nossa região. Junto
com as formigas constituem enorme parte da biomassa nestes ecossistemas,
funcionando como consumidores primários e decompositores. Como
decompositores, reciclam os nutrientes alocados nas plantas mortas e seus túneis
nestes materiais, propiciam a entrada de fungos e de outros microorganismos,
acelerando o processo de decomposição. Através das atividades de construção de
ninho e /ou de galerias junto ao solo, acabam sendo responsáveis pela
distribuição de vários nutrientes. Outras propriedades dos solos também são
alteradas pela atividade dos cupins, que podem mesmo ter um papel semelhante
ao das minhocas, na aeração do solo. Como consumidores primários são fontes
de alimento para vários animais como formigas e outros artrópodes, peixes,

38
anfíbios, lagartos, aves e mamíferos. Várias tribos indígenas utilizam cupins como
parte de sua alimentação.

Cupim de Madeira Seca

Mobílias e peças de madeira infestadas freqüentemente apresentam a


superfície externa aparentemente intacta, onde a parede interna foi consumida de
tal forma a permanecer apenas uma “casca” fina e quebradiça. Nota -se volumosa
quantidade de resíduos fecais ou grânulos, variando de cor conforme a idade do
resíduo e o tipo de madeira. Nota -se ainda, muitas vezes uma grande quantidade
de grânulos sobre mesas, camas e outras peças, indicando a infestação no forro
acima. Colônias de cupins mais antigas podem se estender por toda a peça e
atingir outras próximas ou materiais nelas contidos como livros, papéis, tecidos e
outros produtos contendo material celulósico.

Em muitos casos não é necessário se desfazer de móveis, livros e outras


peças por estarem infestadas por cupim de madeira seca ou brocas. Para muitas
das situações existe uma solução, sendo na maioria das vezes menos onerosa
que a reposição das peças atacadas. Somente a retirada dos objetos infestados
do local, não elimina a possibilidade de existirem outros focos. O tratamento
corretamente realizado elimina a infestação e previne a reinfestação devido a
ação residual dos inseticidas.

Controle e Prevenção de Cupins em Áreas Urbanas

O controle de cupins ou descupinização em áreas urbanas visa solucionar


um problema complexo, cujo sucesso está intimamente relacionado com o
conhecimento e a análise criteriosa de cada caso. É necessário, portanto, antes
do início do trabalho, a identificação correta da espécie e o dimensionamento de
seu ataque. Em seguida, deve -se analisar as condições dos locais atingidos para
desenvolver a metodologia e eleger os produtos mais adequados, para serem
aplicado de maneira segura e eficaz.

39
1) Medidas Preventivas

A aplicação de medidas preventivas visa tentar evitar o ataque dos cupins


antes de seu aparecimento, envolvendo custos que nem sempre são aceitos pela
sociedade. Este ainda é o melhor meio de conservar edificações residenciais e
comerciais, bibliotecas, museus, parques e jardins, contra as infestações pelas
diversas espécies de cupins.

a) Pré-construção

A remoção de todos os restos de raízes de árvores, tocos, ou outras


madeiras dentro da área de construção antes do início das obras, é importante,
além do tratamento prévio ou remoção das tábuas das formas para concretagem.

Não enterrar madeiras e outros materiais celulósicos sob varandas,


terraços, escadas, pisos e garagem. Retirar os fragmentos de madeira
remanescentes sobre a superfície do solo, abaixo e ao redor da construção.

b) Fundações

Fundações de concreto adequadamente reforçadas previnem grandes


contrações e o aparecimento de trincas e frestas, as quais permitem a passagem
de cupins. Fendas com poucos milímetros de abertura podem permitir o trânsito
destes insetos.

c) Porões e caixões ocultos

Comumente encontramos espaços para ventilação e grandes ambientes


ocultos (caixões perdidos) entre paredes, sob pisos e porões. A presença de
restos de materiais utilizados na construção, umidade e muitas vezes o tipo de
solo, favorecem a infestação termítica e até a formação de ninhos (e/ou ninhos
secundários). Deve-se possibilitar o acesso a tais ambientes a fim de se fazer um
bom monitoramento.

d) Instalações elétricas e hidráulicas

Os conduítes da instalação elétrica ou telefônica quando localizados pelos


cupins, tornam-se um caminho livre para o trânsito destes insetos pela
edificação, a começar pelos quadros de madeira que ainda são encontrados em
40
diversas residências e edifícios, os quais são em curto espaço de tempo,
danificados. O tratamento com inseticida na formulação pó seco é indicado nesta
situação.

41
e) Tratamento químico do solo

A calda inseticida deve ser aplicada na dosagem e volume recomendado,


formando-se uma barreira química contínua ao redor da construção e sob o
contra -piso, por meio de perfurações ou trincheira.

f) Tratamentos em madeiras

As madeiras que venham a ficar em contato com as estruturas da


construção devem ser tratadas. Madeiras denominadas moles, podem ser
tratadas por pulverização, pincelamento ou imersão, com produto de ação
residual. O tratamento em madeiras deve ser realizado aplicando-se o inseticida
junto à um veículo (solvente) próprio, como querosene, álcool, isoparafina ou
mistura de hidrocarbonetos, entre outros, para uma melhor penetração no seu
interior, não devendo ser usada a água como veículo, salvo algumas exceções.

2) Medidas Curativas

a) Árvores

O tratamento deve ser realizado por técnicos especializados, com


experiência na identificação das espécies xilófagas e conhecimento da sua
biologia e comportamento. O uso dos inseticidas domissanitários deve ser
criterioso, respeitando as normas de segurança para não haver contaminação
ambiental e intoxicação de pessoas e animais, bem como a morte da árvore
devido a fitotoxicidade do produto utilizado.

Árvores e plantas ornamentais comuns em nossa cidade como sibipiruna,


guapuruvu, jacarandá-mimoso, quaresmeira, palmeiras, falsa seringueira, acácia,
ipê, paineira, álamo, figueira, abacateiro, alecrim, cássia, alfeneiro, pinheiros,
eucaliptos, tipuana e muitas outras podem ser infestadas por cupins podendo
acarretar sua morte.

Galhos secos de árvores devem ser removidos, pois podem se tornar um


criadouro de outras espécies xilófagas (brocas) e as que utilizam a madeira para
a formação de ninhos (vespas).

b) Pós construção

42
A afirmação: “cupim é uma praga de casa velha” entre outras, não é
verdadeira. É comum a constatação de infestação termítica em casa e edifícios
com apenas 1-2 anos, decorrente do abandono de madeiras ou raízes sob a
construção ou de infestações provenientes de “focos” (ninhos) localizados em
árvores.

O tratamento de uma casa ou edifício deve ser realizado após um estudo do


local da construção e do projeto arquitetônico, definindo-se os pontos
estratégicos que possam servir de vias de acesso aos cupins. Muitas vezes a
infestação é constatada durante uma reforma, situação ideal para a realização do
controle. O tratamento curativo quase sempre implicará a remoção parcial ou
total de rodapés, guarnições e armários de madeira severamente danificados
(principalmente as de sustentação de telhados, forros e coberturas), com a
subsequente reposição por peças devidamente tratadas.

c) Insuflação

Consiste na aplicação de inseticidas em pó, geralmente dentro de conduítes


elétricos, visto a impossibilidade de utilização de inseticidas líquidos nesta
situação sob risco de curto circuito nas instalações elétricas. A aplicação de
inseticida em pó deve ser feita com aparelho próprio, denominado insuflador ou
polvilhadeira. Este método complementar é utilizado no combate as espécies
subterrâneas de cupins.

d) Injeção:

O tratamento pode ser realizado utilizando-se os próprios oríficios abertos


pelos cupins ou orifícios de pequeno diâmetro realizados mecanicamente,
permitindo uma uniforme distribuição da solução inseticida e o acesso a todas as
galerias construídas pelos insetos. Tomando-se precauções, visando sempre que
possível, a preservação da estru tura e aparência da peça. O controle pode ser
alcançado através do uso de seringas, pequenos pulverizadores e outros
equipamentos manuais ou mecânicos. Peças que não possuam acabamento com
tinta, verniz, fórmica, cera e outros, devem ser tratadas extername nte através de
pulverização ou pincelamento, devendo o inseticida ser diluído em solventes
derivados de petróleo (querosene, isoparafina, etc.) ou álcool.

e) Pincelamento
43
Após a limpeza da superfície da peça a ser tratada, o pincelamento é
empregado aplicando-se duas a três demãos. É um procedimento demorado e
com algumas limitações.

f) Imersão

Este procedimento tem sua maior eficiência no tratamento preventivo em


peças avulsas sem acabamento. Consiste na limpeza e imersão da peça em um
tanque de tratamento, permanecendo submersa na solução preservativa. O
tempo necessário é determinado em função do tamanho da peça e do poder de
absorção da solução preservativa, e da penetração provável nas galerias dos
insetos. A peça tratada deve secar em local ventilado e com sombra, onde deve
permanecer para secar.

44
g) Aspersão (pulverização)

Em pontos de difícil acesso, a pulverização sob baixa pressão pode ser


empregada. Também o tratamento de grandes quantidades de chapas de
compensado pode ser realizado sendo suas superfícies tratadas com a solução
preservativa.

h) Iscas

O método mais utilizado para o controle de cupins de hábito subterrâneo


tem sido o tratamento químico do solo buscando a formação de uma barreira,
abaixo e ao redor de estruturas infestadas, em valetas feitas em áreas de solo
exposto ou através de pefurações em lajes de cimento (pisos), com o objetivo de
impedir o acesso dos cupins. No entanto, o grande desafio reside na dificuldade
da formação de uma barreira contínua e uniforme ao redor de uma estrutura. A
complexidade de algumas estruturas infestadas inviabiliza uma barreira uniforme,
ocorrendo algumas áreas sem tratamento que permitem a reinfestação por
cupins.

Outro fato importante no controle convencional de cupins reside no


desconhecimento do tamanho das colônias de cupins de hábito subterrâneo e no
caso de algumas espécies, a existência de ninhos satélites interligadas.
Presumindo-se que uma parcela da colônia de cupins não tenha sido afetada pelo
tratamento tradicional e que reinfestações possam ocorrer, torna-se necessária a
utilização de uma nova metodologia e filosofia para o efetivo controle de cupins
de hábito subterrâneos.

A utilização de iscas consiste na impregnação de um substrato palatável ao


cupim com um ingrediente ativo de ação lenta , para que possa ser distribuído a
todos os indivíduos da colônia. Técnica muito eficiente para espécies de cupins
com alta taxa de trofalaxia, processo no qual os operários após coletarem
alimento, o repassam aos demais indivíduos da colônia (troca de fluídos corporais
entre indivíduos de mesma espécie).

Quadro 1. Principais produtos domissanitários registrados para o controle de


cupins
GRUPO QUÍMICO INGREDIENTES ATIVOS
PIRETRÓIDE Deltametrina
45
Cipermetrina
Permetrina
Bifentrina
Ciflutrina
ORGANOFOSFORADO Clorpirifós
Fenitrotion
FENILPIRAZOL Fipronil
NEONICOTINÓIDE Imidacloprid
REGULADOR DE CRESCIMENTO DE INSETOS Hexaflumuron
(IGR)

46
Nos Quadros 2 e 3 estão relacionadas algumas vantagens e desvantagens dos
métodos de controle químico convencional e com isca, atualmente disponíveis
para o controle de cupins.

Quadro 2. Vantagens e desvantagens da utilização de iscas.


Vantagens Desvantagens
Eliminam a colônia. Método que exige treinamento especial dos
profissionais.
Baixo impacto ambiental. Difícil utilização pelo consumidor, apenas por
empresa especializada.
Não oferece risco para a Requer um período maior para se obter o
saúde. efeito desejado.
As pessoas não precisam se Controle passivo, depende dos cupins
ausentar durante a consumirem a isca.
instalação do sistema.
Não apresenta efeito residual (vantagem
ecológica).

Quadro 3. Vantagens e desvantagens do método de controle químico


convencional
Vantagens Desvantagem
Controle mais rápido, Os cupinicidas necessitam de cuidados
especialmente em estados específicos na aplicação.
avançados de infestação.
Menor custo em relação ao Algumas construções dificultam o tratamento
tratamento de isca. por barreira.
Efeito residual no tratamento Não elimina a colônia de cupins.
de solo.

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population and territory of the subterranean termite Coptotermes havilandi
(Isoptera: Rhinotermitidae) by the Triple Marked Recapture Method in an
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49
ASPECTOS BIOECOLÓGICOS DAS BARATAS SINANTRÓPICAS
Marcos Roberto Potenza
Eng. Agrônomo/Pesquisador Científico. Instituto Biológico/APTA
potenza@biologico.sp.gov.br

Introdução

As baratas são os insetos mais comuns ao convívio humano, no entanto,


das cerca de 4.000 espécies existentes, a sua maioria é silvestre. Apenas menos
de 1% busca o convívio com o homem, devido à disponibilidade de alimento,
abrigo e água. Estas espécies são chamadas de baratas domésticas, vivem dentro
de residências (domicílios ou outras estruturas construídas pelo homem), no
peridomicílio (ao redor de estruturas) e seus anexos, tais como caixa de gordura,
esgoto, bueiros e outros locais úmidos e escuros. A presença de baratas em
residências causa mais distúrbios para seus moradores (aflição, angústia,
"stress") do que qualquer outro inseto. Parte desse incômodo se deve ao fato das
pessoas não gostarem de nenhum tipo de inseto e de que a presença de baratas
demonstra que o local não possui higiene e conservação adequadas. No entanto,
as baratas vivem em qualquer ambiente independente do grupo étnico ou classe
social. Embora muitas residências estejam muito bem conservadas, isto não
impede que as mesmas venham a sofrer uma infestação a qual será limitada pela
disponibilidade de alimento e abrigo para estes insetos.

Algumas espécies se tornaram cosmopolitas, encontrando-se nos mais


diversos ambientes ao redor do mundo (menos nas calotas polares). A maior
parte das espécies é de origem tropical ou subtropical, havendo referências de
serem procedentes do continente africano. Os estudos de fósseis de baratas
demonstram que estes animais mudaram muito pouco nos aproximadamente 300
a 400 milhões de anos que existem na face da terra. Por isso, a barata é
considerada uma das espécies de maior capacidade de adaptação e resistência do
reino animal, podendo adaptar-se às mais variadas condições do meio ambiente.

As baratas são veiculadoras de doenças causadas através da disseminação


mecânica de patógenos, adquiridas quando percorrem esgotos e lixeiras ou
outros lugares contaminados. Os patógenos mais comuns associados às baratas
incluem bacterias dos gêneros Salmonella (veneno alimentar), Staphylococcus,
Streptococcus, Coliform, Bacillus e Clostridium, a bactéria Escherichia coli
50
(diarréia ) e Shigella dysenteriae (desinteria), protozoários causadores de
toxoplasmose e antígeno de hepatite B.

51
Biologia e Comportamento

São insetos de corpo ovalar e deprimido. Seu tamanho pode variar de


alguns milímetros a quase 10 centímetros, tendo em geral coloração parda,
marrom ou negra. Existem, no entanto, espécies coloridas. O formato e o
tamanho variam dependendo da espécie, sendo que, genericamente podemos
dizer que:

Ø Machos são menores que as fêmeas;


Ø Quando diferem pelas asas, os machos tem asas mais desenvolvidas que
a fêmea;
Ø Algumas espécies - machos alados e fêmeas ápteras.

A cabeça é curta, subtriangular, apresentando olhos compostos grandes e


geralmente dois ocelos (olhos simples). As antenas encontram-se inseridas entre
os olhos compostos, apresentando formato filiforme e podendo atingir o dobro do
comprimento do corpo. Elas desempenham um papel fundamental na
sobrevivência da barata servindo não apenas como elemento de direção, mas
também podendo captar vibrações no ar ou ainda identificar alime ntos ou
feromônios.

O aparelho bucal é mastigador, se alimentando de papéis, mel, pão, carne,


batatas, gorduras, rações animais, lombadas dos livros e os seus dourados.
Algumas se alimentam de madeira (celulose), sendo tal alimento digerido por
microrganismos como sucede entre os cupins.

O tórax apresenta o seu primeiro segmento bem desenvolvido, com o


pronoto largo, achatado, cobrindo a cabeça.

As pernas são ambulatórias, tornando as baratas andarilhas excepcionais.


Apresentam coxa grande, fêmures e tíbias com espinhos e, em geral, têm tarsos
pentâmeros.

Quando presentes, apresentam dois pares de asas, sendo o primeiro par


tipicamente coriáceo (tégmina) e o segundo membranoso.

52
O abdome é séssil, alargado e deprimido, apresentando em geral 10
segmentos. Apresenta um par de cercos no último urômero, acrescido de um par
de estilos nos machos.

A postura dos ovos é feita dentro de uma cripta genital em uma capsula
denominada ooteca.

Comportamento

Possuem hábitos noturnos, sendo mais ativas à noite, quando saem do


abrigo para alimentação, cópula, oviposição, dispersão, vôo. Durante o dia ficam
abrigadas da luz e da presença de pessoas, algumas condições especiais
contribuem para o seu aparecimento diurno, tais como:

Ø Excesso de população
Ø Falta de alimento ou água (stress)
Ø
Embora não sejam animais sociais, como as abelhas, cupins e formigas, as
baratas são gregárias, sendo comum ocorrerem em grupos.

Reprodução e desenvolvimento

As baratas são insetos hemimetábolos, ou seja, apresentam metamorfose


gradual ou parcial (simples) em três estágios: ovo, ninfa e adulto. A fêmea
produz uma capsula protetora dos ovos (ooteca), em forma de bolsa fechada, a
qual contém duas fileiras de ovos justapostas e separadas por uma membrana. O
número de ovos varia com a espécie podendo variar de 4 a 50 ovos.

A ooteca é colocada, pela maioria das espécies, em um lugar seguro,


próximo à uma fonte de alimentos, cerca de dois dias após sua formação. Apenas
a Barata alemã (B. germanica) carrega a ooteca até cerca de 24-48 horas antes
da eclosão dos ovos.

As próprias ninfas rompem a ooteca na maioria das espécies, à exceção da


Barata de esgoto (P. americana) onde as formas jovens são liberadas com o

53
auxílio da mandíbula materna. As formas jovens (ninfas) se parecem com as
adultas, menos por:

Ø Não terem asas;


Ø Sofrem mudas (ecdise) para crescer, ou seja, perdem o esqueleto externo
ou casca;
Ø Última muda = barata adulta, com asas totalmente formadas e
sexualmente maduras.

O ciclo de desenvolvimento da barata, do ovo à fase adulta, depende de


fatores como:

Ø Espécie;
Ø Condições de temperatura e umidade (alta temperatura e alta umidade
favorecem um menor tempo de desenvolvimento);
Ø Quantidade de alimento e teor de proteína disponível.

Métodos de Controle

O Manejo Integrado de Pragas é uma filosofia a muito utilizada no controle


de pragas agrícolas. O Controle Integrado de Pragas pode ser utilizada com
sucesso em áreas urbanas, que consiste em:

54
a-) Identificar a espécie.
A correta identificação da identidade da espécie possibilita o acesso ao
acervo de informações técnicas e científicas.

b-) Compreender a biologia e o comportamento da praga.

Após a identificação pode-se analisar os aspectos biológicos e


comportamentais do inseto, buscando-se informações sobre o alimento,
necessidades térmicas, umidade, habitat, e aspectos da reprodução.

Quadro 1. Dados biológicos de Periplaneta americana e Blattella germanica


Dados Biológicos Espécie
Periplaneta Blattella germanica
americana
Tamanho 30-45 mm 15-20 mm
Coloração castanho escuro Caramelo
Pré-postura 20 dias 8 dias
Ootecas/fêmea 10 a 15 4a8
Incubação da ooteca 30-40 dias 17 dias
Ovos/ooteca 14 a 28 37
Números de mudas 9 a 13 5a7
Período de desenvolvimento 9 a 13 meses 40 dias
das ninfas
Longevidade do macho 2 a 3 anos 128 dias
Longevidade da fê mea 2 a 3 anos 153 dias

c-) Determinar o nível de infestação para adoção ou não do controle.

Quadro 2. Número de baratas (ninfas e adultas) capturadas/armadilha/noite e o


respectivo nível de infestação.
Nível Blattella Periplaneta
germanica americana
Baixo 0-5 0-1
Moderado 6-20 2-10
Alto 21-100 11-25
Muito alto + 100 + 25

55
d-) Analisar e determinar quais as condições locais propiciam o
desenvolvimento da infestação (abrigos, fontes de alimento, água e
umidade).

56
Quadro 3. Habitat
Periplaneta americana Blattella germanica
Caixas de esgoto e gordura. Cozinhas
Caixas d"água Depósitos de alimentos e embalagens
Quadros de energia elétrica e Fornos, estufas, geladeiras, freezers, coifas,
telefonia motores elétricos.
Galerias subterrâneas Dutos de eletricidade
Cisternas Sob pias e bancadas
Áreas de serviço Interior e sob moinhos, máquinas de refrigerante
e café, batedeiras.
Sanitários e vestiários Sanitários e vestiários
Porões, sótãos, forros Frestas na alvenaria
Jardins Gabinetes e armários embutidos
Áreas externas (onde ocorra Divisórias
acúmulo de materiais)

Quadro 4. As baratas (Blattella germanica) devido ao seu corpo chato podem se


esconder em frestas bem pequenas.
Estágio de desenvolvimento Medida da abertura (fresta)
ninfa de 1º e 2º estádios 0,5 mm
ninfa de 4º estádio 1,0 mm
macho adulto 1,6 mm
fêmea adulta com ooteca 4,5 mm

e-) Conhecer e avaliar as medidas de controle e o seu uso (riscos,


benefícios, eficácia).

Avaliar os métodos de controle legalmente (produtos devidamente


regis trados) disponíveis e sua aplicabilidade na situação em questão. Considerar
medidas como remoção mecânica (aspiração), armadilhas, iscas, defensivos,
controle biológico e outras.

f-) Implementar táticas seguras e efetivas de controle.

Avaliar o impacto das medidas a serem adotadas sobre o ambiente


(público, animais, resíduo em alimentos e utensílios).

g-) Avaliar a eficiência do controle.

57
Realizar o monitoramento após a aplicação e se necessário adotar medidas
complementares, as quais devem ser previstas previamente. O monitoramento
pós-tratamento pode ser utilizado como um indicador de qualidade do controle.

58
Controle Integrado

A-) Eliminar os fatores locais que favorecem o desenvolvimento de


colônias de baratas:

Ø descarte de materiais sem utilidade;


Ø vedação das frestas e ralos;
Ø condições adequadas de armazenamento;
Ø boa conservação de equipamentos, mobiliário e instalações;
Ø manter os alimentos em recipientes fechados;
Ø remover diariamente os resíduos orgânicos;
Ø eliminar vazamentos de água;
Ø inspecionar a entrada de materiais;
Ø condições de limpeza adequadas;
Ø remoção de resíduos de masseiras, espremedores, fogões, coifas e outros
equipamentos;
Ø limpeza e vedação de caixas de gordura e esgotos;
Ø orientar o cliente e seus funcionários a respeito das condições que
favorecem as baratas.

B-) Controle Mecânico

Ø utilizar um aspirador de pó para remoção de baratas;


Ø utilizar as armadilhas adesivas para monitorar o nível de infestação e
reduzir a população existente;
Ø impedir o acesso das baratas por ralos, janelas e por debaixo das portas.

C-) Controle Químico

Ø Inseticidas
• Pulverização
• Polvilhamento
• Iscagem

D-) Monitoramento Pós-Tratamento

59
Ø Utilizar armadilhas adesivas.
Ø Verificar se o cliente está seguindo as orientações técnicas.
Ø Se necessário realizar aplicação de isca (gel).

60
Quadro 5. Alguns ingredientes ativos de uso profissional para o controle de
baratas.
Ingrediente Grupo químico Formulação
Ativo

Azametifós Organofosforado Isca granulada


Alfacipermetrin Piretróide Suspensão concentrada
a
Betacyfluthrin Piretróide Suspensão concentrada
Cipermetrina Piretróide Concentrado emulsionável, Pó molhável, Pó
seco
Clorpirifós Organofosforado Concentrado emulsionável
Cyfluthrin Piretróide Concentrado emulsionável
Deltametrina Piretróide Concentrado emulsionável, Pó seco, Solução
concentrada
D-Fenotrina Piretróide Concentrado emulsionável
Diazinon Organofosforado Concentrado emulsionável, Pó molhável,
Suspensão aquosa microencapsulada
Diclorvós Organofosforado Concentrado emulsionável
Esbiothrin Piretróide Concentrado emulsionável
Fipronil fenil pirazol Gel
Hidrametilona Amidino Gel
hidrazonas
Lambdacialotrin Piretróide Suspensão aquosa microencapsulada, Pó
a molhável, Concentrado emulsionável
Permetrina Piretróide Concentrado emulsionável
Pralletrina Piretróide Concentrado emulsionável
Propoxur Carbamato Concentrado emulsionável, Gel
Triflumuron Benzoilfenil-uréia Suspensão Concentrada

Literatura Consultada

CORNWELL, P.B. 1968. The cockroach, vol.I. A laboratory Insect and na


Industrial Pest. Hutchinson-London.
CORNWELL, P.B. 1976. The cockroach, vol.II. Insecticides and cockroach
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MARICONI, F.A.M.; ZAMITH, A.P.L.; ARAÚJO, R.L.; OLIVEIRA FILHO, A.F. &
PINCHIN, R. 1980. Inseticidas e seu Emprego no Combate às Pragas.
Tomo III. Animais invasores dos domicílios e de outras construções. 246 p.
ROBINSON, W.H. Urban Entomology: Insect and mite pests in the human
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MARANHÃO, Z.C. Entomologia geral. Nobel, São Paulo, 514pp,1976.

61
POMBOS URBANOS - COLUMBIA LIVIA – O DESAFIO DE CONTROLE EM ÁREAS URBANAS
Vania de Fátima Plaza Nunes
CRMV-SP-4119
Médica veterinária sanitarista,
Especialista em vigilância sanitária, saúde e educação ambiental

A problemática da urbanização desordenada das cidades, associada á


falta de políticas de controle ambiental urbano, rural e silvestre eficientes,
vem criando nos últimos anos, dificuldades e desafios na relação
homem/ambiente.

Os pombos são aves classificadas no gênero Columba que conta com


mais de 50 espécies distribuíd as no mundo todo, apresentando ampla
variação de cor de plumagem, tamanho e hábitos.

O pombo doméstico Columbia Lívia é o mais conhecido por sua


proximidade no convívio com o homem, especialmente em ambiente urbano.
Originou-se por cruzamento seletivo da espécie selvagem, conhecida como
“pombo das rochas”.

Existem relatos da domesticação dos pombos desde a Idade do Bronze,


no Oriente Médio e Egito antigo. Foram trazidos ao Brasil pela família real
portuguesa e rapidamente aqui se adaptaram.

Muitas dificuldades vêm surgindo com a intensa proliferação de


animais sinantrópicos em áreas urbanizadas, fundamentalmente pelo
desconhecimento e desordenação do homem ao ocupar novos espaços
para lazer, moradia e trabalho, desafiando nossa capacidade de
apresentar soluções a tempo de conter o avanço das diferentes
espécies.

Na área urbana estes animais se adaptaram rapidamente a


qualquer estrutura arquitetônica, mesmo em superfícies reclinadas,
que muitas vezes lembram s estruturas do habitat selvagem.

Alimentam-se principalmente de grãos e sementes colhidos em


áreas abertas. Acredita-se que a expansão da atividade agrícola tenha
contribuído para a expansão do habitat destas aves. Muitas das
deficiências no transporte e armazenagem dos grãos, no trato das
62
diversas culturas e na destinação de resíduos das culturas foram
fatores de grande contribuição para iniciar e fortalecer o vínculo
entre o pombo e o homem.

Devido a este estreito contato os pombos têm sido introduzidos, em


novas áreas pelo homem ou se proliferam em conseqüência da atividade
humana. É bastante interessante o relato da extinção de uma população
bastante numerosa de pombos de uma ilha inglesa, subseqüente ao
despovoamento humano na ilha.

O ciclo reprodutivo dos pombos é regulado pela disponibilidade de


alimento. Em centros urbanos, é observada a reprodução destas aves durante
o ano todo, exceto na época de muda das penas, antes do inverno.

Os pombos são monogâmicos. Normalmente a fêmea coloca 2 ovos que


demoram de 17 a 18 dias para chocar, fazendo 2 a 3 oviposições ao ano. O
filhote é alimentado com uma secreção do papo sendo sua composição muito
parecida com o leite, por isso é chamado “leite de papo”. Os filhotes podem
voar em 3 ou 4 semanas.

Entretanto quando recebem alimentação em abundância podem


aumenta r sua capacidade reprodutiva para várias posturas ao ano. Esta
capacidade reprodutiva em ambiente urbano é um dos principais fatores para
a grande proliferação dos pombos na maioria das cidades.

Em muitas localidades pela desordenada ocupação e crescimento


populacional humano a expansão dos pombos também se tornou explosiva.

A problemática do controle

Os pombos observados em áreas urbanas são derivados dos pombos


domésticos que fugiram, perderam-se ou foram abandonados por seus donos,
voltando á vida livre.

Estes “pombos de rua” se adaptaram prontamente a este tipo de


ambiente por três razões básicas para sua sobrevivência:

63
1- oferta abundante de abrigo: a arquitetura urbana de edifícios,
monumentos e obras de engenharia e arquitetura, oferecem uma quantidade
enorme de vãos, frestas e espaços que servem adequadamente para o pouso,
abrigo e formação de ninhos, protegendo os pombos das intempéries, mesmo
em locais onde a falta de verde é significativa.

2- ausência de predadores: a ausência ou pequena existência de aves de


rapina, predador natural das pombas em ambientes naturais, para o controle
de aves doentes e fracas.

3- grande quantidade de alimentos disponíveis: estas aves são pouco


seletivas em sua alimentação e em meios urbanos as fontes de alimentação
artificial são muito amplas e diversificadas, quer seja pela desordenação na
destinação de resíduos provenientes de atividades humanas em todos os
níveis, individuais ou coletivos, quer pela alimentação oferecida por pessoas
na comunidade de forma eventual ou permanente.

Sem que se processe de forma adequada à eliminação das fontes de


abrigo, água e alimentação destas aves, não teremos sucesso na eliminação
das mesmas de áreas alvo para o controle.

Em trabalhos realizados no Brasil e em outros países, já foi


demonstrado que apenas com a supressão das fontes de alimentação
alternativa a diminuição de aves é significativa em um curto espaço de tempo.

Isto se explica pela maior disputa de fontes naturais como sementes,


pequenos insetos e grãos, por aves melhores adaptadas e ágeis eliminando
exemplares mais frágeis e doentes de um grupo, podendo aqui estar agindo
um dos princípios da seleção natural da espécie.

Entretanto quando há fontes alternativas de alimentação em grande


quantidade, muitas aves doentes e fra cas que permanecem vivas, ocorre uma
superalimentação das aves mais saudáveis, ocorre então estímulo das
glândulas reprodutivas, levando a um aumento na oviposição das fêmeas do
grupo e assim teremos uma superpopulação de aves em pouco tempo.
Existem relatos de pombos em áreas urbanas cujo raio de ação não excede
500 metros.

64
Desenvolvimento de atividades de controle

O desenvolvimento de atividades de controle de fauna sinantrópica nos


serviços de controle de zoonoses vem atender ao disposto na constituição
federal no capítulo relativo a saúde, as leis orgânicas estaduais e municipais
nos capítulos relativos a promoção e prevenção à saúde e a legislações
especificas quanto à vigilância a saúde ou do controle das zoonoses, como o
código sanitário estadual e municipal.

Podem ainda existir em cada localidade ou região legislações especificas


ou normas e procedimentos que componham este rol de legislações que
devem estar sendo seguidas pelos serviços municipais.

Vale lembrar que muitas das atividades que devem ser desenvolvidas
necessitam ser discutidas em parcerias com outros setores, como agricultura
e meio ambiente, seja para que leis destes serviços sejam conhecidas e
compreendidas, seja para que de fato a aplicabilidade destas sejam efetivas e
seus resultados eficientes e duradouros.

Muitas vezes somos questionados sobre a classificação do pombo como


animal de fauna brasileira, que por ser ave de origem européia poderia sofrer
formas mais agressivas de controle como simplesmente a eliminação de
indivíduos.

Entretanto é importante lembrar que de acordo com a portaria do


IBAMA 29 de 24/03/94, o pombo é classificado como ave que compõe a fauna
brasileira, e portanto, passível de “abrigo legal” pela lei federal 9605 de 1998,
a lei de crimes ambientais.

Para os profissionais que tem entre suas atividades diárias o controle de


pombos como objeto de trabalho vale o alerta de que além do conhecimento
técnico específico, o conhecimento dos princípios legais para o
desenvolvimento da atividade é fundamental. Não devemos também esquecer
que a definição de competências na aplicabilidade de leis e uso ações de
controle efetivas é fundamental.

65
As Empresas Particulares

As empresas particulares de controle de “pragas” são regidas em sua


instalação e funcionamento, por legislações especificas previstas em
legislações estaduais e municipais, dependendo das atribuições e ações que
vierem a desenvolver. Os códigos sanitários em geral utilizados pelos serviços
de vigilância sanitária dos municípios e as legislações do comércio normatizam
o desenvolvimento das ações das empresas.

A responsabilidade técnica na ação de controle

A boa formação acadêmica muitas vezes se mostra insuficiente, quando


necessitamos atuar no controle da população de columbiformes.

É imprescindível, que atualizemos nosso conhecimento através de


pesquisa em trabalhos de outras localidades, mesmo os mais simples, pois
podemos através das informações prévias planejar cada etapa de ação de
forma mais racional e adequada.

A responsabilidade técnica dos profissio nais no desenvolvimento dos


serviços deve ser observada por áreas de conhecimento, buscando-se sempre
a presença de uma equipe multidisciplinar que trabalhe de forma integrada e
complementar no desenvolvimento das ações de controle a que se destine a
empresa ou órgão público a que está vinculado.

É importante lembrar, que a responsabilidade técnica tem sido


valorizada pelos diversos conselhos de classe dos profissionais das diversas
áreas de atuação que podem e devem atuar no controle dos animais e insetos
daninhos, sinantrópicos ou incômodos, que podem levar ao surgimento de
diversos agravos ou a diversas enfermidades de risco ao homem, as
chamadas zoonoses.

66
Os principais riscos á saúde

Muitas vezes nos deparamos com cenas bucólicas de pessoas que diária
ou eventualmente alimentam os pombos em toda e qualquer localidade.
Muitas delas quer pela solidão, quer pela falta do acolhimento familiar,
encontram aí uma utilidade altamente questionável do ponto de vista biológico
e sanitário.

Quando existe uma grande concentração de pombos em determinada


área além do problema estático e da sujidade no local, encontramos aí um
problema de saúde pública.

O acúmulo de fezes de pombos em edifícios públicos, monumentos


prédios e moradias é muitas vezes tão grande que a tarefa de limpeza se
torna não só dispendiosa, mas de risco para quem a executará, caso cuidados
básicos não sejam adotados tanto no ambiente, tanto quanto com o
trabalhador.

Muitos são os problemas encontrados pelo acúmulo de fezes, penas e


restos de ninhos, que levam a entupimentos de sistema de drenagem de
águas de chuva, comprometimento no funcionamento de equipamentos
diversos e riscos de contaminações diversos em fontes de água e alimentos.

O mais grave é a grande quantidade de microorganismos patogênicos e


parasitas veiculados por estas aves, especialmente em seus excrementos.

As principais enfermidades e agravos relacionados aos pombos são:

Ø Parasitas: piolhos de pombos, ácaros, percevejos e carrapatos.

Estes artrópodes infestam tanto as aves como seus ninhos, abrigos e


em locais com grande concentração destas aves podem infestar casas e
apartamentos próximos, levando seus moradores a problemas respiratórios e
alérgicos como rinite, asma e também carregando consigo uma enorme
quantidade de microorganismos que se desenvolvem no habitat destas aves.

Ø Psitacose: doença causada pela Chamydiae psittaci.

O pombo infectado apresenta o microorganismo no sangue, fezes e


penas. A transmissão para o homem ocorre quando esse inala partículas em

67
aerosóis ao manipular as fezes secas contaminadas por longos períodos ou
pela manipulação das aves.

Ocorre inicialmente infecção pulmonar que se dissemina para o baço e


fígado e daí para outras partes do organismo. Nas aves de vida livre parece
não ocorrer à enfermidade sendo a ave apenas vetor do agente. A forma de
manifestação pode ser de leve a grave, forma que mais se manifesta em
idosos que recebem atenção médica tardia.

Ø Salmonelose: Não apenas as aves podem transmitir a salmonelose,


doença causada por inúmeras espécies de Salmonella, mas também
praticamente todos os grupos de reino animal, inclusive o humano.

Por colonizar normalmente no trato gastrointestinal são as fezes as


fontes mais comuns de infecção. Normalmente a disseminação ocorre pela
falta de higiene na manipulação dos alimentos, especialmente os de origem
animal. Quando são ingeridas colonizam o intestino humano produzem uma
endotoxina. A bactéria causadora da febre tifóide a Salmonella tyffi, já foi
relatada presente nas fezes de pombo e causa no homem quadro grave e
severo. Estudos atuais tem indicado, que a maior fonte de infecção de
Salmonella sp. para o homem são as aves domésticas.

Ø Histoplasmose: o Histoplasma capsulatum é o fungo saprófita


causador da enfermidade, sendo encontrado no solo. Locais com grande
quantidade de fezes de morcegos e pombos são altamente favoráveis para
colonização deste fungo, levando a casos isolados ou epidêmicos de
histoplasmose.

A infecção ocorre por inalação especialmente quando da remoção de


sujidades, terra ou fezes através de ações mecânicas que dispersam o agente
pelo ar. A gravidade da enfermidade vai depender da condição imunológica do
paciente.

Ø Criptococose: A levedura Cryptococcus neoformans se caracteriza


pelo desenvolvimento em não apenas nas fezes de pombos, mas de aves em
geral.

68
Seu ambiente mais favorável para proliferação é em abrigos antigos de
fezes de pombos que são fechados. A infecção também ocorre pela inalação
de aerosóis que são liberados quando da manipulação inadequada das fezes,
este agente permanece por longo período quiescente no pulmão, os pacientes
só apresentam sintomas, quando este, tem queda da imunidade importante,
como no caso de indivíduos imunodeprimidos como no caso da AIDS, doentes
com câncer ou pacientes com enfermidades crônicas que necessitam ser
submetidos a terapias com corticosteróides de forma permanente.

Ø Toxoplasmose: a infecção é muito comum, sendo causada por um


protozoário, mas a manifestação clínica é pouco freqüente.

Estima-se que cerca de um terço ou mais da população mundial possui


anticorpo para o parasita. O coccídeo Toxoplasma gondii é diferente dos
demais, pois seu ciclo se completa apenas no intestino dos felídeos sendo que
sua forma infectante é eliminada pelas fezes destes animais, e todos os
animais são hospedeiros intermediários do agente. Muitas são as formas como
o homem pode se contaminar como através da ingestão de alimentos mal
cozidos, especialmente carne suína, verduras mal lavadas e manuseio
inadequado de caixas sanitária de animais e/ou práticas em jardins sem uso
luvas de proteção para as mãos.

Diversas outras zoonoses como shiguelose, listeriose, aspergilose e


processos dermatológicos e respiratórios diversos estão relacionados com
pombos.

Sempre é fundamental, que cuidados básicos sejam adotados na


verificação de abrigos de pombos e na adoção de medidas de desalojamento e
desinfecção, como uso de máscaras isolantes para material particulado, luvas
de material resistentes e uso de soluções umectantes e desinfetantes para
remoção mecânica de sujidades. Cuidados no transporte dos excrementos
também são de extrema importância para minimizar o risco da dispersão de
agentes que podem estar ali presentes.

Medidas de controle

69
Inúmeras são as ações que poderíamos listar como aplicáveis para
auxiliar na solução dos problemas causados pelos pombos. Para maior
facilidade agrupamos as mesmas em categorias:

a- de baixo impacto:

Ø inclinação da superfície de pouso;

Ø uso de estruturas que impeçam ou desestabilizem o pouso;

Ø emprego de espantalhos;

Ø emprego de refletores luminosos;

Ø emprego de aves de rapina;

Ø equipamentos sonoros de ultra -som;

Ø tiros de ar comprimido.

b- de baixo impacto e risco a outrem

Ø sonorizadores diversos;

Ø fogos de artifício;

Ø gel irritantes de contato;

Ø cercas eletrificadas;

Ø armadilhas para captura;

Ø uso de anticoncepcional ( quimioesterelizante á base de hidrocloro).

c- medidas proibidas

Ø uso de arma de fogo;

Ø envenenamento;

Ø captura e soltura em área aleatória.

d- medidas duráveis

Ø vedação de espaços ou vãos;

Ø uso de abrigos controlados.


70
e- medidas complementares

Ø destinação de resíduos em geral;

Ø controle de fontes alternativas de fornecimento voluntário de


alimento;

Ø controle de ecto parasitos;

Ø limpeza e desinfecção dos locais de abrigo;

Ø educação, orientação e esclarecimento da população.

Princípios para o controle:

Para que de forma efetiva e mais duradoura possamos implantar ações


de controle populacional é imprescindível que se realizem vistorias
zoosanitárias especificas ao local, identificando todos os pontos que
contribuem para a situação em questão. Devemos lembrar que não apenas á
área problema deve ser verificada e analisada, mas o entorno do foco pode
fornecer muitas informações importantes para definição das medidas mais
adequadas a cada caso. Colher informações da população do entorno,
observar as revoadas, locais de abrigo e buscar fontes de alimentação podem
exigir várias visitas ao local, em dias e horários diferentes.

Não esquecer que uma abordagem com a comunidade local seja ela fixa
ou eventual é fundamental para o sucesso das ações empregadas.

O estabelecimento de um programa de educação especifico e


permanente envolvendo todos os atores que direta ou indiretamente estão
contribuindo para a presença ou proliferação das colônias de aves, definindo
tarefas, pensando formas de obtenção de recursos necessários, co m
atividades de esclarecimento das principais dúvidas para esta comunidade
podem ter papel essencial no resultado esperado.

Vale ainda ressaltar que não apenas planos para minimizar riscos já
existentes devem empregados, mas medidas de prevenção devem ser
buscadas adaptando-se a cada nova realidade encontrada, ampliando a
discussão com os diversos setores de controle social que fazem parte do
71
nosso dia a dia quer como cidadão quer seja como funcionário público ou
particular.

Referências

ACHA. P.N. & SZYFRES.B. Zoonosis e enfermidades transmisibles comunes al


hombre y a los animales. OMS.OPAS. Publicação Cientifica nº 503, 2ª
edição, 980 pp.1989.

CARVALHO. G.I. & SANTOS.L. Sistema único de Saúde, comentários à lei


orgânica da saúde ( Lei 8080 e Lei 8142/90). Ed. Hucitec Ltda, 2ª
ed, 393pp.1992.

GOODWIN.D.Pigeons and doves of the world. Cornell University Press.


3 rd.editions.363pp.1983

GRZIMER. B (ED.) Grzimek’s Animal Life Encyclopedia. Vol. 8 . Birds II.


Van Nostrand Reinhold Co.. 2nd Edition 620pp.1975

SKUTCH A.E.& GARDNER.D.Life of the pigeon. Comstock Publ.


Assoc.130pp. 1991

BENENSON ABRAM S. (ED.) El consult de las enfermidades transmisibles


en el hombre 15ª ed. 618.1992

Palestra do Dr. Cris FEEHR- especialista em ornitopatologia da Inglaterra,


apresentada na 1ª Feprag- 1º Congresso Brasileiro de vetores e pragas
Urbanas- Rio de Janeiro -1997.

72
MONITORAMENTO E CONTROLE DE FORMIGAS

Ana Eugênia de C. Campos-Farinha


Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico.
Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252,– São Paulo,SP, CEP 04014-002. E-mail:
anaefari@biologico.sp.gov.br

Bioecologia de formigas urbanas

As formigas estão entre os insetos de maior sucesso e como os cupins,


são insetos sociais. No entanto, as formigas evoluíram o comportamento
social separadamente dos cupins, não estando estes dois grupos relacionados.
Elas pertencem à Ordem Hymenoptera, mesmo grupo de insetos a que fazem
parte as vespas e abelhas.

As espécies de formigas que têm hábito urbano apresentam


características que as diferenciam de outras espécies. São elas: grande
associação com áreas perturbadas; apresentam tendência em mudar
constantemente o ninho de lugar para ocupar novas áreas; a colônia pode
mudar como um todo em apenas uma parte; apresentam populações
unicoloniais, onde ocorre ausência de agressividade entre os indivíduos de
ninhos localizados na mesma região; ocorre agressividade interespecífica,
havendo alta agressividade com espécies nativas; existe poliginia; pode deixar
de existir vôo nupcial e a reprodução pode se dar por sociotomia (com ou sem
rainha) além das operárias apresentarem tamanho muito reduzido, facilitando
a ocupação de locais estratégicos.

As colônias das formigas podem variar de dezenas a milhares de


indivíduos, dependendo da espécie. Nestas colônias, que também são
chamadas de ninhos, são encontradas crias (ovos, larvas e pupas), operárias,
rainha(s) fecundada(s) e fêmeas e machos alados (nas épocas reprodutivas).
Existe um sistema de castas para a divisão de trabalho entre as formas
adultas.

As formigas apresentam metamorfose completa, composta por quatro


estágios: ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos variam em forma e tamanho de
acordo com a espécie, mas, normalmente, são bem pequenos. As larvas são
ápodas e de coloração branca -leitosa. A cabeça e partes bucais localizam-se

73
na parte mais afilada do corpo. Após algumas mudas, que podem variar de
três a quatro, as larvas entram no estágio de pupa que pode ou não ser
envolvida por um casulo. Quando não possuem casulo as pupas assemelham-
se com adultos, porém são frágeis, brancas e não se movem nem se
alimentam. Quando uma colônia de formigas é perturbada, as operárias
podem ser vistas carregando ovos, larvas e pupas.

As operárias de formigas são identificadas por apresentarem um par de


antenas do tipo geniculado (em forma de cotovelo), cujo primeiro segmento,
mais próximo da cabeça, é maior que os demais segmentos. Este primeiro
segmento é denominado escapo. Apresentam também uma cintura que pode
ter um ou dois segmentos, também chamados de nós. Os reprodutores,
machos e fêmeas, apresentam dois pares de asas. O par anterior é mais longo
e largo do que o par posterior e quando em repouso, ultrapassa levemente a
ponta do gáster (abdome).

Rainhas fecundadas perdem as asas e diferem das operárias por


apresentarem ocelos, sutura alar no mesossoma e, na maioria das vezes,
fisogastria.

Muitas espécies de formigas nidificam no chão troncos caídos e árvores,


enquanto outras fazem seus ninhos em batentes de portas e janelas,
rachaduras de parede, atrás de azulejos, sob calçadas, forros de residências e
até mesmo dentro de móveis e aparelhos eletrônicos. Quando as formigas
nidificam em estruturas de madeira, seu dano é geralmente muito menor do
que o dos cupins, pois elas não se alimentam da madeira porque não têm
capacidade de digerir a celulose. Os ninhos protegem consideravelmente as
formigas contra seus inimigos naturais, dão alguma proteção contra variações
extremas de temperatura e normalmente ficam próximos a fontes de
alimento, água e outros recursos. Os aparelhos eletrônicos são extremamente
atraentes para as formigas, pois são quentes e escuros. No entanto, quando
as formigas fazem seus ninhos nestes aparelhos, podem ocorrer alguns danos,
pois seus dejetos corroem os equipamentos e provocam curto-circuito.

Algumas espécies de formigas alimentam-se de uma grande variedade


de itens alimentares e estes itens podem variar significativamente de acordo

74
com as necessidades da colônia. Nos períodos de alta produção de ovos as
operárias procuram alimentos ricos em proteína para levar para a(s)
rainha(s). Em outras épocas elas procuram mais glicose ou óleo para suas
próprias necessidades energéticas ou para o crescimento das larvas. Os
adultos são incapazes de digerir alimento sólido, ingerindo apenas líquidos. As
larvas de ínstares mais avançados, de algumas espécies de formigas, são
capazes de digerir alimento sólido. O alimento trazido pelas operárias é
passado de boca a boca, por um processo chamado trofalaxia. Desta forma, o
alimento pode ser passado de operária para operária, operária para larva,
larva para operária e operária para rainha(s). A transferência de alimento ou
fluxo alimentar é sempre direcionada para as larvas e reprodutivos.

Espécies de formigas urbanas no Brasil

As formigas mais comumente encontradas nas áreas urbanas do Brasil,


por ordem de importância, são: formiga fantasma (Tapinoma
melanocephalum), formiga louca (Paratrechina longicornis), formiga
carpinteira (Camponotus spp.), formiga lava-pés (Solenopsis spp.), formiga
cabeçuda (Pheidole spp.) formiga argentina (Linepithema humile), formiga
faraó (Monomorium pharaonis), formiga acrobática (Crematogaster spp.) e a
pequena formiga de fogo, ou pixixica (Wasmannia auropunctata).

Monitoramento e Controle

Por causa da trofalaxia, a utilização de iscas que incluem inseticidas não


repelentes e de baixa concentração, com uma formulação alimentar atrativa,
é bastante efetiva. As operárias se alimentarão das iscas e não morrerão até
passarem-nas para os outros membros da colônia. No Brasil já existem
algumas iscas comerciais para formigas que funcionam para algumas espécies
e os ingredientes ativos que têm mostrado mais eficiência são a
hidrametilnona, a sulfluramida e o ácido bórico.

Um controle efetivo de formigas depende de alguns critérios básicos. O


primeiro deles é a correta identificação da espécie, a segunda é o nível de
infestação e as prováveis localizações dos ninhos. Assim, uma inspeção deve
ser realizada para a determinação das espécies e se possível, para todas as
75
localizações dos ninhos. Um monitoramento pode ser realizado com iscas
atrativas de mel e insetos frescos ou sardinha. Uma vez localizado o ninho,
pode-se injetar uma solução (1:1) de água com detergente de lavar louças no
local que a colônia será controlada.

Matar simplesmente as formigas forrageadoras com um inseticida não


alivia o problema, pelo contrário, piora a infestação, pois a colônia pode se
fragmentar devido a presença do inseticida. É importante salientar que as
formigas que forrageiam representam somente de 10 a 20% do total de
operárias de uma colônia. Uma barreira química pode ser temporariamente
eficaz no tratamento das formigas que nidificam na área externa e que
entram em um edifício para buscar alimento. Este tratamento é temporário,
pois só funciona enquanto durar o resíduo do inseticida.

Alguns cuidados podem ser tomados a fim de evitar a presença das


formigas, tais como, não deixar migalhas de doces, pães e biscoitos pelo chão
além de fechar bem os alimentos. Já existe no mercado algumas bases
repelentes para formigas que funcionam bem por um longo tempo. Estas
bases podem ser colocadas sob açucareiros ou outros porta-alimentos.
Quando ocorrem em aparelhos eletrônicos, tais como computadores,
aparelhos de som, video-cassetes e telefones, o melhor é abrir o
equipamento, localizar o ninho e matar as formigas.

Literatura Recomendada

BOLTON, B. Identification guide to the ant genera of the world. Harvard


University Press. 222 p. 1994

BUENO, O. C., CAMPOS-FARINHA, A. E. C. As formigas domésticas. In:


MARICONI, F. A. M. (coord.) Insetos e outros invasores de residências.
Piracicaba: FEALQ, 1999. cap.6, p.135-180.

CAMPOS-FARINHA, A. E. C., JUSTI JR., J., BERGMAN, E.C., ZORZENON, F.J.,


RODRIGEUS NETTO, S.M. Formigas Urbanas. Boletim Técnico-Instituto
Biológico, São Paulo, n.8, agosto, 1997. 20p.

76
FOWLER, H. G.; BUENO, O. C.; SATATSUME,T.; MONTELLI, A. C. Ants as potential
vectores of pathogens in hospital in state of SP, Brasil. Insect Sci. Applic.
1992. v.14, n.3, p.367-370.

FOWLER, H.G., BUENO, O.C. O avanço das formigas urbanas. Ciência Hoje. V.
23, n. 137, p. 71-73, 1998.

HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E.O. The ants. Harvard University Press. 732 p.
1990.

WILLIAMS, D.F. Exotic ants. Biology, impact and control of introduced


species. Westview Press. 332 p. 1994.

77
MONITORAMENTO E CONTROLE DE MOSCAS DE IMPORTÂNCIA PARA A SAÚDE PÚBLICA EM
MUNICÍPIOS DO INTERIOR DO E STADO DE SÃO PAULO
Angela Mingozzi Martins dos Santos
Doutoranda no Departamento de Parasitologia do Instituto de Biologia da
UNICAMP. angela.mingozzi@gmail.com

1. Introdução

O Estado de São Paulo apresenta três situações que contribuem para


intensificar a proliferação de moscas em muitos municípios do interior,
ocasionando problemas, não só na zona rural, mas também na zona peri-urbana
e urbana. Os problemas mais graves de proliferação de moscas ocorrem nos
assentamentos situados próximos às atividades avícolas industriais de produção
de ovos e, também, naqueles nos quais se constatam a ausência ou insuficiência
de serviços de limpeza pública (resíduos sólidos) e de esgotamento sanitário. O
mesmo se verifica naqueles situados próximos às instalações de usinas de
produção de açúcar e álcool com suas lagoas e tanques de vinhoto ou nas áreas
de cultivo de cana-de-açúcar, com seus sistemas de canais de vinhoto para
fertirrigação.

No Brasil, entre as espécies de moscas de importância sanitária que mais se


beneficiam dos substratos gerados nessas atividades estão Musca domestica L. e
a varejeira exótica Chrysomya megacephala (Fabricius), essa última de recente
introdução no país.

A importância dessas espécies para a saúde pública e, também, dos


animais domésticos deve -se ao seu comportamento fortemente sinantrópico
(adaptadas ao ambiente humano), comunicativo (contato entre matéria orgânica
contaminada e o alimento ou utensílios) e endofílico (penetração e permanência
no intradomicílio), esse último se verifica em menor grau para as populações da
varejeira exótica C. megacephala presentes nos municípios paulistas. Ambas
desempenham importante papel como vetor mecânico (transportadoras) na
veiculação de bioagentes de doenças entéricas, tais como: vírus, bactérias e
vermes. Há uma forte relação entre locais com maior deficiência sanitária e a
maior presença e abundância dessas moscas e, também, com o aumento de
incidência de diarréia infantil, e conseqüente aumento da mortalidade infantil.

78
Como os demais dípteros muscóides (grupo no qual estão incluídas as duas
espécies), essas moscas se desenvolvem, após a eclosão do ovo, passando por
três estágios na forma de larva vermiforme, seguido por um estágio na forma de
pupa, a qual fica protegida por um invólucro (estojo marrom), denominado
pupário. Os adultos recém emergidos dos pupários, durante algumas poucas
horas, não apresentam a pigmentação típica e suas asas estão, ainda, dobradas.
Em conseqüência, em uma observação rápida não parecem moscas, mas
pequenos insetos rasteiros de cor esbranquiçada.

O desenvolvimento de ovo a adulto pode ocorrer em cerca de cinco a sete


dias, nos meses mais quentes (novembro a março) ou em mais de dez dias nos
meses mais frios. Em conseqüência o número de gerações varia com a época do
ano, e com as condições meteorológicas locais e regionais (temperatura, umidade
relativa, vento, precipitação). Cada fêmea pode depositar uma massa de 100 a
120 ovos, cerca de uma a quatro vezes após ter sido fecundada uma única vez.
Isto pode ocorrer em pequenos potenciais criadouros (ex.: sacos ou latas de lixo
ou recipientes com resíduos de origem animal, etc.) disponíveis no interior das
cozinhas ou áreas externas nas residências, restaurantes, supermercados,
açougues, hospitais e etc. E, quando, nos meses de verão ou em períodos
(semanas) mais quentes nas demais estações (temperatura média superior a 25º
C), acidentalmente, o lixo ou outro resíduo, contendo os ovos, fica acumulado ou
esquecido, ou não é coletado, por cerca de dois a três dias, se pode observar as
larvas de terceiro estágio se deslocando em busca de pontos secos, mais escuros
e protegidos (ex.: frestas no chão, embaixo de entulhos, etc.) onde passam pela
fase de pupa e alcançam o estágio adulto. Desta forma, uma fêmea que chegou
ao ambiente em poucas semanas pode gerar de centenas a milhares de outras
moscas adultas, em apenas um mês.

Segundo estudo realizado na Argentina no qual se comparou o risco


sanitário potencial de sete espécies de moscas foram identificados três grupos,
sendo M. domestica incluída no de menor índice de risco sanitário e C.
megacephala no de maior índice. Tais informações deve riam ser consideradas
pelos gestores de saúde, em especial, nos assentamentos urbanos do estado com
longa história de elevada densidade de adultos das duas espécies. C.
megacephala é atualmente a mosca varejeira (tipo califorídeo) que predomina em

79
ambiente s, tais como: feiras livres, matadouros, abatedouros, domicílios
próximos às áreas de depósito de lixo dos municípios paulistas e de outros
ambientes similares.

Já na década de 1980, pesquisadores brasileiros, tais como prof. Dr. José


Henrique Guimarães da Universidade de São Paulo e Geraldo M. Buralli da
Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) alertavam as autoridades
sanitárias sobre a situação de proliferação de moscas nos municípios paulistas.
Comentavam que essa se agravaria, caso não se investisse na elaboração e na
implantação de Programas de controle de moscas que seguissem os princípios do
programa de controle integrado de pragas (C.I.P.), na época, já usual na
agricultura. Segundo eles, tais programas de controle de moscas nas atividades
impactantes deveriam consistir principalmente na combinação harmônica de
métodos “culturais” (manejo dos animais, dos resíduos, das instalações, do
ambiente etc.), métodos biológicos (inimigos naturais), suplementados pelos
métodos de controle químico (inseticidas seletivos; aplicação segundo o
comportamento das moscas etc.). Também comentavam da importância da
melhoria das condições de saneamento básico.

Nas duas últimas décadas surgiram novas propostas, com base técnico-
científica, para as práticas de controle de moscas nas principais atividades
agropecuárias impactantes, em particular para granjas avícolas industriais.
Entretanto, nos municípios paulistas essas práticas são pouco usuais ou
implementadas apenas de forma parcial pelos responsáveis (ou proprietários) por
tais atividades. Em conseqüência, o resultado ainda não é satisfatório.

2. Fatores antrópicos e a problemática de M. domestica em


assentamentos urbanos.

A ecologia e os hábitos das populações dessa espécie podem variar muito


para diferentes regiões do mundo, adaptando-se ao clima e a outras condições
naturais e antrópicas.

No interior do estado de São Paulo, essa espécie está presente no intra e


peridomicílio urbano e rural. Nesse ambiente os adultos das moscas encontram
maior ou menor oferta de abrigo e alimento e meios de criação (ex.: no lixo
80
doméstico e dejetos e alimentos dos animais domésticos) atrativos para
colocação dos ovos e propícios para o desenvolvimento de seus estágios imaturos
(criadouros). Entretanto, o número de moscas por domicílio varia não só em
função dos fatores naturais, mas também segundo as características de
saneamento básico das diferentes áreas dos assentamentos, com os costumes
dos munícipes e a maior ou menor proximidade às atividades impactantes e,
ainda, com as práticas de controle aplicado nesses ambientes.

Nas diferentes regiões do mundo, M. domestica destaca -se por sua


atratividade e ampla adaptabilidade às atividades antrópicas, em particular, por
aquelas nas quais se verificam o acúmulo de resíduos orgânicos de origem
animal. Nesses ambientes, apresenta uma forte atratividade pelos resíduos (ex.:
esterco de aves poedeiras sob as gaiolas; esterco de bovinos, de eqüinos ou de
suínos acumulados em montes in natura) que então passam a ser substrato nos
quais depositam seus ovos. Esses substratos se tornam excelentes criadouros
quando permanecem por vários dias no ambiente, expostos as mudanças
meteorológicas. Nessas condições o teor de umidade dos resíduos pode variar em
um gradiente desde a camada mais externa até as mais profundas, apresentando
aspecto de consistência desde firme -seco (teor de umidade < 45%) e maior
oxigenação até pastoso-liquefeito (teor de umidade > 75%) e pouca oxigenação.
Também a temperatura varia nas diferentes camadas, atingindo maiores
temperaturas nas camadas mais profundas. Em conseqüência, as larvas de M.
domestica podem ser encontradas até cerca de 20 cm de profundidade,
preferencialmente naquelas em que o teor de umidade varia em média entre 45 a
55%.

A problemática de proliferação de moscas nessas atividades tem resultado


em questões de litígio em cidades norte -americanas. No Brasil desde a década de
1990, em alguns casos, tem resultado em Ações Civis Ambientais propostas pelo
Ministério Público. Isto se tem verificado principalmente para as granjas de
poedeiras e para as áreas de depósito de lixo municipal a céu aberto.

A prática de aplicação de esterco diretamente ao solo para adubação,


também pode estar relacionada ao aumento no número de M. domestica,
devendo-se ter em conta quais as características do esterco adequadas para que
sua aplicação ao solo não acarrete problemas de proliferação desses insetos.
81
Ao contrário de C. megacephala, M. domestica não apresenta forte
atratividade para colocar seus ovos em carcaças ou vísceras, e também, não
completa o seu ciclo em meios com teor de umidade igual ou superior a 80%.
Entretanto, no estado de São Paulo verificou-se que fêmeas dessa espécie
costumam colocar seus ovos, completando o ciclo, em mistura de terra e vinhaça
que se forma nos canais de distribuição desse resíduo em áreas de fertirrigação
de cana-de-açúcar.

3. Fatores antrópicos e problemática de Chrysomya megacephala em


assentamentos urbanos.

Chrysomya megacephala tem origem Oriental (Ásia e Austrália) e


atualmente é quase cosmopolita, estimando-se que sua introdução no Brasil
tenha ocorrido no período de 1970 a 1980, através de navios de imigrantes, o
mesmo ocorrendo para outros países das Américas.

Após sua introdução no país, rapidamente foi detectada sua presença em


cidades de diferentes regiões, acarretando um grande impacto sobre a
comunidade de varejeiras nativas, em particular para Cochliomyia macellaria
(Fabricius, 1775), passando a predominar nos ambientes de feiras livres, aviários,
pocilgas, abatedouros, lixões entre outros, em muitos municípios paulistas e de
outras regiões do país.

Trata-se de uma espécie exófila (peridomicílio), hemissinantrópica (rural) a


eusinantrópica (urbana), marcadamente comunicativa (potencial vetor mecânico
de inúmeros bioagentes), pois com freqüência entra em contato com fontes de
contaminação (fezes, esterco, sangue, carcaças, lixo etc.), seja para se alimentar
ou para colocar seus ovos. As fêmeas colocam seus ovos, intensivamente, nas
carcaças, tendo preferência pelas mais frescas. Também é encontrada em esgoto
e sobre sangue, excreções e matéria animal em início de putrefação.

Como outras espécies de dípteros muscóideos, os adultos de C.


megacephala costumam defecar, ao mesmo tempo em que regurgitam (vômito
de saliva para digerir externamente alimentos sólidos e depois sugá-los) para se
alimentar. É um importante agente contaminador de alimentos (ex: peixes,
carnes, frutas etc.) expostos no comércio, indústrias ou nos domicílios,
82
veiculando bioagentes (vírus, bactérias, cistos de protozoários, ovos de vermes
etc.). Juntamente com Musca domestica é uma das moscas de maior importância
para a saúde pública, pois os indivíduos dessa espécie são freqüentes e
abundantes nas latas e sacos de lixos nos domicílios, nos terrenos baldios, no
comércio de alimentos (açougues, restaurantes, supermercados, nas feiras livres
e etc.) e nas áreas de depósito de lixo a céu aberto, assim como em indústrias de
processamento animal (frigoríficos, matadouros, abatedouros etc.). Segundo
alguns autores C. megacephala parece preferir o peridomicílio, e em geral,
tendem a permanecer próxima ao seu criadouro. Segundo verificação pessoal, em
municípios paulistas como Promissão, Bananal, Monteiro Lobato entre outros, em
situações de elevada densidade verifica-se que em alguns momentos do dia
vários indivíduos dessa espécie costumam entrar na habitação, em especial na
cozinha, atraídos pelo odor de frituras ou de outros alimentos atrativos (arroz
com torresmos, saladas com sardinha etc.), nos quais costumam colocar seus
ovos. Também penetram em supermercados, sendo atraídas especialmente para
as bancas de peixes (e outras carnes) ou para onde haja frutas expostas e/ou
fermentadas, sendo observadas pousadas ou sobrevoando os alimentos. Também
são atraídas pelos demais resíd uos aí gerados e/ou acumulados (lixo orgânico em
geral).

No ambiente rural (fazendas etc.) e urbano (parques e similares), as


fêmeas são fortemente atraídas por carcaças, nas quais pousam de forma
gregária, enquanto, os machos são atraídos por frutas caídas ou pelas
inflorescências de árvores frutíferas (manga, amora, jaca, melancia etc.). A
presença de número elevado de indivíduos dessa espécie sobre carcaças de
animais (ex.: pássaros, sapos, ratos etc.) em logradouros, praças e parques
públicos costuma ser um indicador de proximidade de atividades de impacto.

As varejeiras dessa espécie podem ocorrer em fezes humanas, quando


acumuladas para secar ou quando liquefeita no esgoto, ou ainda, quando usadas
como adubo (líquido ou sólido) em plantações, como se verifica em algumas
regiões do mundo. Entretanto, na natureza, essa espécie raramente coloca os
seus ovos sobre fezes humanas isoladas, esterco de herbívoros (as larvas não se
desenvolvem bem), porém, já ocorreu relato de larvas em placas isoladas de
esterco bovino no campo e também em esterco de galinha.

83
Pesquisadores brasileiros realizaram levantamento da fauna de moscas e de
seus predadores associada ao esterco acumulado sob as gaiolas das aves em
granjas industriais de produção de ovos, situadas em 16 municípios do Estado de
São Paulo e não registraram a ocorrência de C. megacephala, porém larvas de
outra espécie do mesmo gênero, C. putoria, foi abundante no esterco com
elevado teor de umidade (75 a 80% de umidade).

Na China, alguns pesquisadores compararam a presença de C. megacephala


no lixo da cidade e nas fezes humanas sólidas verificando que as fezes liqüefeitas
(de origem humana) foi o meio de criação mais utilizado por C. megacephala,
especialmente, após a estação das chuvas. Nesses estudos, não foram
observadas massas de ovos dessa espécie nas fezes, antes do início do verão
(Julho), sendo o seu registro feito apenas a partir de agosto, com maior número
ocorrendo em setembro.

Alguns experimentos demonstram que em condições de laboratório, a


primeira colocação dos ovos no meio de criação é obtida, geralmente, no período
da tarde, cerca de 8 a 9 dias após a emergência do adulto. Com freqüência os
ovos são depositados em massa na camada abaixo da superfície do meio de
criação (ex.: bife bovino). Alguns estudos demonstram que cerca de 120g de bife
é suficiente para o completo desenvolvimento de 100 larvas.

Em média, os ovários das fêmeas “grávidas” contém 393 ovos, os quais


eclodem em 9 a 10 horas, em temperaturas entre 24 e 28 ºC. As fêmeas
selvagens capturadas costumam depositar no meio de criação uma média de 254
ovos. As larvas nos vários estágios de desenvolvimento necessitam de umidade e
temperatura elevadas. São adaptadas ao meio líquido, pois a fossa estigmática
(abertura respiratória) está constituída de tal modo que suas bordas (dorsal e
ventral) podem ser reguladas, atuando como uma proteção para a fenda
espiracular no bloqueio a entrada de líquido. Em geral, as larvas ficam agregadas
na camada superior do meio, devido à demanda respiratória. Essa adaptação
permite uma maior sobrevivência dessa espécie em períodos de chuva intensa e
em criadouros com maior teor de umidade (ex.: valas de escoamento de esgoto
etc.).

84
Após a saída do ovo, verificam se a passagem pelos três estágios larvais,
todos muito ativos, mas especialmente o terceiro, que se alimenta vorazmente,
contorcendo-se em massas agitadas. Indivíduos no terceiro estágio larval podem
migrar a vários metros do criadouro, procurando local seco e protegido para
interromperem a alimentação e iniciarem o processo de transformação em pupa.

Alguns pesquisadores verificaram os seguintes resultados para os diferentes


estágios na temperatura de 26 e 31ºC, respectivamente: larva 1 (15 a 18h),
larva 2 (18 a 33h) e larva 3 (33 a 93h). O tempo de desenvolvimento total de ovo
a adulto, em temperatura ambiente, foi de oito dias e meio. O estádio de pupa
durou cerca de 100 horas.

A longevidade do adulto depende da temperatura e da umidade. Em


condições de laboratório, quando mantidas em temperaturas entre 25 ºC a 29 ºC
e a 75% de umidade relativa, essas moscas vivem uma média de 54 dias (90 no
máximo), verificando-se ainda que em baixos valores de umidade relativa,
aparentemente, vivem mais.

No Brasil, a maioria dos estudos associa a ocorrência de C. megacephala


com a oferta de meios de criação tais como carcaças e outros resíduos de origem
animal presentes no lixo doméstico (latas e sacos de lixos mal vedados) ou
exposto em áreas de depósito de lixo a céu aberto. A temperatura é um
importante fator no tempo de desenvolvimento dessa espécie. Estudos de
populações introduzidas no país indicam que em condições de laboratório, às
temperaturas de 17 e 20 ºC, o desenvolvimento é bem mais lento, ou seja, a
diferença de idade entre larvas criadas a 17 e 35 ºC pode variar em até 10 dias.
Entre as varejeiras estudadas, C. megacephala foi a espécie que melhor se
adaptou às temperaturas mais baixas, pois mesmo a 13 ºC houve eclosão das
larvas e estas se desenvolveram até o estágio de pupa, porém os adultos não
emergiram. Essa característica, juntamente com a grande oferta de resíduos pode
explicar o aumento da densidade populacional dessas moscas ocorrido em anos
passados, durante os meses de abril, maio e junho, em municípios paulistas
(Promissão, Monteiro Lobato, Bananal).

4. O controle de moscas (Musca domestica e Chrysomya megacephala)


como importante intervenção no controle das doenças diarréicas.

85
Considerando-se o que foi exposto anteriormente sobre a importância
dessas espécies para a saúde pública, em particular na ve iculação de bioagentes
de doenças diarréicas, elaborou-se o texto a seguir a partir do original constante
em publicação da Organização Mundial de Saúde do ano de 1997, com o objetivo
de ratificar o ponto de vista de que o controle de moscas, em particular o de C.
megacephala e M. domestica deveria integrar as prioridades dos programas dos
gestores de saúde, naqueles municípios onde a história de elevada densidade de
moscas existe há décadas e está relacionada à proximidade de atividades
impactantes. Nessas situações faz falta a figura do gerente de programa de
controle de moscas em nível municipal. Algumas intervenções para o controle das
duas espécies deveriam integrar os Programas e treinamentos das equipes
municipais (agentes do programa de saúde da família, programas de saúde
infantil e membros da equipe de Vigilância Sanitária, e demais serviços
municipais como os relacionados ao meio ambiente e turismo, entre outros).
Também os responsáveis pelas atividades antrópicas com potencial de impacto
deveriam apresentar propostas de programa de controle, com bases técnico-
científicas e realizar a capacitação de seus funcionários quanto às práticas e
gerenciamento dos programas.

Segundo a organização Mundial de Saúde (O.M.S.) as diarréias podem ser


causadas por uma ampla variedade de patógenos veiculados por diversos
mecanismos, tais como: mãos, alimento e água contaminados. Assim, os
programas efetivos de prevenção devem integrar a seleção de intervenções
enfocando um patógeno específico (ex.: vacina contra rotavírus) ou interromper
as rotas de transmissão (ex.: melhorias no abastecimento de água e no
saneamento). Com base em uma avaliação da eficácia de uma série de
intervenções realizadas em diferentes regiões do mundo, costuma-se definir três
categorias de inte rvenções: 1) Ineficaz ou de aplicabilidade limitada e não parece
ter um maior papel nos programas de controle; 2) Eficazes ou sua aplicabilidade
permanece duvidosa, necessitando de mais estudos e 3) Forte evidência da
eficácia e da aplicabilidade. No grupo 3 ficaram incluídas sete intervenções
consideradas promissoras para integrarem os programas nacionais para controle
da diarréias, são elas: promover o aleitamento materno, melhorias das práticas
de desmame, vacinação contra rotavírus, vacinação contra cólera (em situações

86
especiais), vacinação contra sarampo, melhoria do abastecimento de água e do
saneamento e promoção da higiene pessoal e doméstica.

Segundo essa classificação, até a metade da década de 1990, o controle de


moscas foi colocado no grupo I. Entretanto, atualmente, nova perspectiva surgiu
a partir de estudos mais elaborados, os quais comprovaram que o controle de
moscas em seis vilarejos no Paquistão teve um impacto sobre a incidência de
diarréia infantil, acarretando uma diminuição de 23%. Outras pesquisas,
realizadas em Israel, obtiveram uma redução de 64% de moscas em
acampamento militar e consequentemente conseguiram uma redução de 42% de
diarréias em geral e 85% de diarréias por Shigella spp.

Com bases nesses resultados preliminares alguns autores sugerem que o


controle de moscas pode ter um impacto sobre a incidência de diarréia
comparável aos obtidos através de intervenções tais como imunização e
promoção do aleitamento e também aos obtidos pelo investimento na melhoria do
sistema de abastecimento de água e de saneamento básico local. Estes últimos
podem reduzir em até 22% a incidência de diarréia. Por outro lado, cada vez é
maior o consenso de que uso de inseticidas para o controle de moscas em
comunidades (ambiental) só se justifica durante epidemias de diarréia.

Outro fator importante é o manejo correto (com bases técnico-cientificas)


de resíduos de origem animal, porém, esse procedimento encontra grande
dificuldade devido aos costumes da população (dificuldade para mudar de
comportamento nas práticas de manejo de resíduos orgânicos domésticos ou
comerciais e industriais).

Alguns autores sugerem o uso de armadilhas, como medida complementar.


Existem vários modelos, porém, todos têm em comum alguns princípios básicos
do comportamento das moscas (visual e olfativo) possíveis de serem empregados
em armadilhas confeccionadas manualmente. Também o emprego de armadilhas
com ferormônios atrativos as moscas é uma importante prática no manejo
integrado.

87
5. Aspectos da Saúde ambiental (saneamento básico e manejo de
resíduos de origem animal) importantes para o controle de M. domestica
e C. megacephala.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) realizada em


2000 verificou-se que entre os serviços de saneamento básico, o esgotamento
sanitário é o que tem menor presença nos municípios brasileiros: 47,8% dos
municípios do país não têm coleta de esgoto, 32% só coletam, mas não tratam e
apenas 20,2% coletam e tratam. Segundo esta pesquisa entre 1989 e 2000, o
serviço de saneamento nos municípios cresceu em apenas 10% e os esforços das
entidades se voltaram para a ampliação do tratamento do esgoto coletado.
Consta que 84,6% dos municípios que não tratam o esgoto coletado despejam o
esgoto nos rios. Quando o esgoto é despejado in natura nos corpos de água ou no
solo, há o comprometimento na qualidade da água utilizada para o
abastecimento, irrigação e recreação.

Quanto ao destino final do lixo no país por município, consta que 63,6%
utilizam lixões e 32,2% aterros adequados (13,8% sanitários, 18,4%
controlados), sendo que 5% não informaram para onde vão seus resíduos. Esses
dados mostram-se mais favoráveis do que os obtidos para o levantamento
sanitário da PNSB 1989, segundo a qual, apenas 10,7% dos municípios vazavam
adequadamente seus resíduos.

Em conseqüência , constata -se que tal realidade está relacionada à gestão


pública. Esta, seja em nível municipal ou regional, com freqüência não prioriza a
questão de saneamento básico, ou quando o faz, muitas vezes o realiza de forma
provisória, mal dimensionada tecnicamente, ou ainda com deficiências no seu
gerenciamento, resultando na ausência ou na insuficiência de um sistema eficaz e
eficiente para atender as gerações futuras. Isto se verifica, tanto para os
assentamentos urbanos como para os assentamentos rurais.

Já em 1985, a Organização Mundial de Saúde (OMS) constatava que em


85% da área rural da maioria dos países em desenvolvimento não se praticava
qualquer tipo de tratamento dos excretas humanos e dos animais domésticos.
Pode-se dizer que essa realidade pouco mudou no Brasil.

88
No Estado de São Paulo, os agravos ao meio ambiente, entre outros
fatores, decorrem da produção de grande quantidade (toneladas/mês) de
resíduos orgânicos gerados ou acumulados em atividades de produção ou
processamento animal (secreções e excreções, esterco, vísceras, carcaças,
sangue ou soro misturados ao solo etc.) ou vegetal (vinhoto etc.) ou, ainda,
restos de alimentos.

Entre os principais fatores que agravam os problemas com resíduos de


origem animal está a inadequação de práticas de manejo, tratamento e de
disposição final dos mesmos, seja nas instalações de criação, seja no meio
ambiente. As atividades agropecuárias de produção ou processamento animal
produzem toneladas de resíduos por mês. Além de propiciarem condições para o
desenvolvimento das moscas, quando não devidamente tratados podem conter
uma variedade de patógenos (vírus, bactérias e fungos) e de parasitas (helmintos
e protozoários). A presença desses organismos constitui um risco potencial à
saúde humana e dos animais domésticos, seja de forma direta ou indireta.

Desta forma as biomassas de origem animal estão relacionadas a doenças,


tanto por conterem os “agentes causais”, como por propiciarem a proliferação de
inúmeros vetores (roedores, moscas, mosquitos, baratas etc.). O mesmo aplica-
se aos excretas de origem humana e ao lixo provenientes dos domicílios,
comércio ou indústrias gerados na área rural e urbana da maioria dos municípios
brasileiros.

No final da década de 1990, foi definido para o país o Sistema Nacional de


Vigilância Sanitária e foi criada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVS)
(Lei Federal Nº. 9.782 de 26 –01-99), que tem como diretriz a Portaria nº.
1.565/GM, de 26-08-94, do Ministério da Saúde, da qual se destaca para o
presente trabalho o disposto nos incisos I, II, III e V do seu artigo 5º, que diz:

A atuação da Vigilância Sanitária, far-se-á integradamente com o


Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, e se orientará
pelas seguintes diretrizes:

I-identificação e divulgação dos fatores condicionantes e


determinantes da saúde, em territórios definidos;

89
II- formulação de política de saúde que leve em conta os fatores
econômicos e sociais, determinantes de doenças e outros
agravos à saúde;

III- promoção e proteção da saúde mediante a realização


integrada das ações educativas e de informação, da prevenção de
dano e agravos à saúde individual e coletiva, do diagnóstico e
terapêutica;

V- estímulo e fortalecimento da participação a comunidade nas


ações preventivas e corretivas de iniciativa do Poder Público, que
dizem respeito à saúde coletiva;

Por Direito Constitucional Federal e Estadual (Lei 8080/90) a vigilância


sanitária é regulamentada no estado de São Paulo pelo Decreto 12.342/78, o
Código Sanitário, ao qual se remetem inúmeras Normas técnicas, sendo essas em
grande parte a base para suas ações. O controle dirigido às ações de saneamento
ambiental inclui desde o uso e parcelamento do solo e salubridade das edificações
até a qualidade da água, o destino dos excretas e do lixo, incluindo então a
abordagem tradicional de saneamento básico e a questão mais atual de agravos
ao meio ambiente e a saúde humana (SÀO PAULO, 2002).

Segundo a proposta atual do Sistema de Saúde os municípios devem atuar


como os principais executores das ações de vigilância sanitária no seu território
através de suas equipes Municipais de Vigilância Sanitária. Entretanto, a pesquisa
realizada pelo Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo (CVS) em
1995, através de resposta voluntária a questionários encaminhados aos 625
municípios do Estado, para avaliar como se encontrava a municipalização das
ações de vigilância sanitária, demonstrou que dos 338 (54%) municípios que
responderam aos questionários, 30% (101) informaram não realizar nenhuma
ação nessa área, enquanto 70% (237) desenvolvem alguma ação de vigilância
sanitária. Verificou-se, ainda, que 62,3% dos municípios que executavam ações
de vigilância sanitária possuíam menos de 20 mil habitantes e esses municípios
enfrentavam dificuldades financeiras que muitas vezes impediam o adequado
desenvolvimento de inúmeros serviços.

90
Pode-se inferir que, atualmente, entre os serviços que continuam sendo um
desafio para a vigilância sanitária dos municípios do estado está o controle de
moscas de importância para a saúde pública nos assentamentos urbanos, tais
como M. domestica e C. megacephala.

6. Considerações finais

A questão de controle de M. domestica e C. megacephala em municípios ou


regiões com longa história de elevada densidade de adultos dessas espécies nos
assentamentos urbanos e rurais do estado, para que atinja o resultado desejado,
deve ser fundamentada nos princípios de controle integrado de pragas, segundo
um gerenciamento local e em parceria com os responsáveis por atividades
impacatantes. Deve contar ainda com a colaboração de todos os setores da
sociedade e, em alguns casos, com a colaboração de gestores envolvidos no
âmbito regional. É fundamental a integração dos diferentes serviços municipais
(meio ambiente, saúde, educação, saneamento básico, turismo etc.). O gestor de
saúde tem papel preponderante nesta questão.

Deve-se ressaltar que a Constituição Federal de 1988, no seu art. 225


estabelece:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.

No parágrafo 1° deste artigo, para assegurar a efetividade desse direito,


incumbe ao Poder Público:

(...) V- controlar a produção, a comercialização e o emprego


de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para
a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. Este artigo,
acrescentado do art. 3° da Lei n° 6938/81 que estabeleceu a
Política Nacional do Meio Ambiente, que caracteriza como
poluição a degradação ambiental causada, dentre outras, por

91
atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde,
a segurança e o bem estar da população” ou “afetem as
condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, são
aplicáveis na questão de proliferação de moscas nos
assentamentos urbanos.

Logo as atividades impactantes, aqui denominadas por potenciais ou


efetivos grandes criadouros de moscas, ao não aplicarem as medidas mitigadoras
necessárias podem ser enquadradas nesses artigos (ex: lixões municipais,
granjas de poedeiras e de suínos com manejo de resíduos inadequados etc.).
Qualquer munícipe poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, fornecendo-
lhe as informações necessárias para o início da ação, que deverá ser proposta no
foro da Comarca de Processo Civil, admitida concessão de liminar suspensiva da
atividade do réu, quando pedida na inicial. O inquérito Civil é o procedimento
meramente administrativo, de caráter pré -processual e que se realiza extra
judicialmente com a finalidade de coletar provas que possam fundamentar a
propositura da Ação Civil. O recurso ao ministério público tem sido crescente
desde 1990 para a questão de proliferação de moscas nos assentamentos
urbanos, talvez porq ue haja ainda uma grande carência de pessoal qualificado
para gerenciar e executar todas as ações que passaram à competência do
município ou, ainda, pela necessidade de uma maior conscientização dos
responsáveis, nos diferentes setores da sociedade.

Concluí-se que a questão do monitoramento e do controle de M. domestica


e C. megacephala não se trata apenas de uma questão de incômodo ou de um
fator de prejuízo econômico para as diversas atividades de produção e/ou
processamento animal e/ou vegetal. Trata -se em primeiro lugar de uma questão
de saúde pública e de responsabilidades social. Em conseqüência, como o
praticado para outros insetos vetores, a elaboração de um programa de controle
de moscas em um determinado assentamento urbano deve ser abordada de
forma simultânea (no tempo e no espaço) para as várias atividades antrópicas
envolvidas. Ressalta -se, também, que o fator de integração dos diferentes
serviços municipais e setores da sociedade deveria ser o conceito de estado de
saúde preconizado na Constituição de 1988. Desta forma a elaboração de
92
programas de controle de M. domestica e C. megacephala e seu gerenciamento
pressupõe a abordagem da saúde ambiental:

“... compreende aqueles aspectos da saúde humana, incluída a


qualidade de vida, que são determinados por fatores ambientais físicos,
químicos, biológicos, sociais e psicossociais. Também se refere à teoria e
a prática da avaliação, correção, controle e prevenção dos fatores
ambientais que podem afetar de forma adversa a saúde da presente e
das futuras gerações.”

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95
ASPECTOS BIOECOLÓGICOS DOS RATOS N O CAMPO E NA CIDADE

Marcos Roberto Potenza


Eng. Agrônomo/Pesquisador Científico. Instituto Biológico/APTA
potenza@biologico.sp.gov.br

Introdução

Os ratos pertencem a Ordem Rodentia, a qual abrange todos os roedores.


Das mais de 2000 espécies distribuídas pelo mundo, cerca de 125 estão
classificadas como pragas e 3 são de grande importância para o homem, Mus
musculus, Rattus norvegicus e Rattus rattus. Estas espécies costumam ocorrer
isoladamente, porém em algumas situações podemos até ter duas espécies
infestando uma determinada área. Desde os tempos mais remotos, Egito e
Mesopotâmia, os ratos sempre conviveram com o homem tanto no campo como
nas cidades, sendo chamadas de espécies sinantrópicas, devido a convivência
com o homem, contra a vontade dele.

Estes animais competem diretamente com o homem por alimentos uma vez
que atacam culturas e produtos armazenados, se estima uma perda anual de até
8% da produção mundial de cereais e raízes, estima-se que cada roedor consuma
por dia o equivalente a 10% de seu peso. As perdas ainda podem ser maiores se
considerarmos a contaminação dos alimentos por urina e fezes e o desperdício
pelo rompimento de sacarias e outras embalagens, o mesmo acontecendo com os
farelos e rações animais. Países importadores com rígidos níveis de fiscalização
podem condenar toneladas de alimentos pela simples presença de alguns poucos
montículos de excrementos, acarretando elevados prejuízos econômicos e a
imagem do exportador.

Diversos setores das cadeias produtivas do agronegócio também sofrem a


ação destes roedores, como nas indústrias de processamento de carnes,
refinarias de óleos, usinas de álcool e açúcar, fábricas de rações, granjas,
armazéns, lavouras e pequenas criações de animais.

A presença destes roedores em nosso meio ainda pode acarretar outros


problemas como os acidentes devidos aos danos causados em fios e cabos de
eletricidade, telefonia e fibra ótica.

96
Os ratos são ainda responsáveis pela transmissão de diversas doenças ao
homem. A Organização Mundial de Saúde já catalogou cerca de 200 doenças
transmissíveis, destacando-se a leptospirose, tifo, peste bubônica, febre
hemorrágica, salmonelose, sarnas e micoses dentre outras. Os ratos urinam
várias vezes ao dia e em pequenas quantidades, aproximadamente 40 vezes.
Com esta informação e estes sendo vetores de doenças, podemos calcular
quantos possíveis focos de contaminação estariam disseminados pelo ambiente.

Exemplo: 10 ratos x 40 x 365 dias/ano = 146.000 focos disseminados.

97
Biologia e Comportamento

Estes roedores possuem uma grande capacidade reprodutiva, sendo


limitada apenas por certos fatores como doenças, falta de alimento e abrigo. São
dotados de uma série de características sensoriais e físicas.

A) Características sensoriais

O olfato é uma habilidade sensorial muito apurada nos roedores. Costumam


marcar as trilhas as quais percorrem podendo delimitar áreas e detectar
condições favoráveis ao acasalamento. Não estranham o odor do ser humano. O
tato é um dos sentidos mais desenvolvido nos ratos, principalmente devido à
presença dos pêlos sensitivos, presos ao focinho, e pêlos tácteis, ao longo do
corpo. Os pêlos sensitivos permitem-lhes orientar-se no escuro, enquanto os
pêlos tácteis possibilita-lhes percorrer superfícies de difícil equilíbrio como o caso
de fios e cabos elétricos.

A audição é muito aguçada e sensível a ruídos estranhos, habilidade muito


importante devido ao hábito noturno. Os ratos podem adaptar-se aos ruídos e
também aos ultra-sons. A visão é adaptada para ambientes escuros, são
sensíveis a luz e não enxergam muito bem, não percebem as cores, somente as
variações de claro e escuro.

O paladar é altamente desenvolvido podendo discriminar e memorizar os


diferentes gostos, rejeitando alimentos estragados e identificar raticidas
misturados ao alimento.

B) Características físicas

Estes animais são providos de um excelente equilíbrio se locomovendo


verticalmente e horizontalmente com extrema facilidade em ambientes estreitos
como tubulações, canos e conduítes. Podem subir pelo interior de calhas cm 4,0 a
10,0cm de diâmetro e escalar externamente canos e calhas com até 9,5cm de
diâmetro. Camundongos e jovens ratos podem passar em uma fresta de apenas
0,5cm de abertura, e os demais em qualquer fresta pela qual passe sua cabeça.
As patas dos ratos de telhado possuem calos rugosos que favorecem a escalada
em paredes, calhas, cordas e cabos.
98
A presença de membranas interdigitais nas patas das ratazanas propicia
ótima capacidade para nadar, sendo excelentes nadadoras e mergulhadoras, daí
a facilidade em viver em esgotos e águas fluviais. Existem casos de invasão de
roedores em residências e apartamentos (principalmente nos andares mais
baixos) através de ralos e sifão dos vasos sanitários, uma vez que podem prender
a respiração por até 3 minutos. Podem nadar até 800m, em locais abertos,
alcançando áreas distantes ou que estejam isoladas pela água.

Os dentes incisivos destes animais podem roer diversos materiais desde


que sejam mais macios que o esmalte do próprio dente, como por exemplo, os
cabos telefônicos, tubulações de pvc, alumínio, tijolos e outros.

As ratazanas são excelentes escavadoras construindo galerias para


passagem e acesso aos ninhos e fontes de alimento. Os camundongos constróem
ninhos dentro de paredes, interior de residências, rede de esgoto abandonada,
jardins, onde haja acúmulo de materiais (papelões e papéis). Os forros e telhados
de residência costumam, frequentemente, hospedar os chamados ratos pretos ou
de telhado pela presença de abrigo e água através de caixas d’água com
vazamento ou incorretamente fechadas. Abaixo segue algumas medidas corporais
(cm) destes roedores

C) Aspectos biológicos

Os ratos possuem hábito noturno, saindo de suas tocas a luz do dia quando
o nível populacional está muito elevado e o alimento disponível é insuficiente para
alimentar a colônia.

Tabela 1. Características reprodutivas dos roedores comensais.

Rattus Rattus Mus


norvegicus rattus musculus

Idade da maturidade 60-90 dias 60-75 dias 42-45 dias


sexual
Período de gestação 22-24 dias 20-22 dias 19-21 dias
Filhotes/ninhada 7-12 7-12 3-8
Ninhadas/Ano 8-12 4-8 5-6
Produção de 56-144 28-96 15-48
filhotes/fêmea/ano
Fonte: FUNASA 2002
99
Alimentação

As ratazanas e ratos-de-telhado (Gênero Rattus) analisam o alimento antes


de consumí-lo. Iscas ou outros alimentos colocados junto à trilha são observados
cuidadosamente. Estes ratos ao desconfiarem não devoram o alimento no
aguardo de um rato mais jovem ou inexperiente consumir o alimento, caso o
observador note sinais de doença no primeiro rato, este rejeita o alimento e
“avisa” os demais da colônia do perigo presente. Não acontecendo nada de
anormal com o primeiro rato, os demais se aproximam e consomem o alimento
junto à trilha. Muitas vezes estes roedores levam alguns dias para consumirem
alimentos estranhos. Já o camundongo é uma espécie muito curiosa a mudanças
que ocorram ao seu redor.

Os camundongos necessitam de pouca água. As ratazanas e ratos-de-


telhado precisam de um bom suprimento de água, principalmente quando
consomem muito alimento seco (cereais, grãos, farelos).

Estrutura Social

Os ratos são animais que vivem em grupos e convivem em colônia que


consiste de pequenas famílias com um macho adulto dominando uma ou mais
fêmeas adultas e suas respectivas ninhadas. Os machos dominantes protegem a
área pertencente à colônia dividindo-a pelo número de ninhos existentes. O
território da colônia nem sempre é uma área delimitada e fechada, sendo
constituída apenas de trilhas marcadas por urina e secreções que servem de
orientação. Os ratos dominantes da colônia são os machos e as fêmeas mais
fortes e em idade de reprodução, e os dominados os ratos jovens ou muito
velhos. Os machos dominantes expulsam os outros machos os quais permanecem
à margem do território, alimentando-se das sobras do dominante. Porém ao
identificarem uma nova fonte de alimento (iscas) no território, o dominante
espera o dominado ingerir parte deste novo alimento no aguardo de sinais que
indiquem que este alimento é seguro. Por isso que os raticidas que possuem
efeito imediato demonstram resultado satisfatório no início do controle, e após
um período reaparece a infestação com os ratos sobreviventes, ou seja, os
100
dominantes que não ingeriram a isca e passam a rejeitá -la e o local em que se
encontrava.

O comportamento social destes roedores confere a colônia um maior


número de fêmeas, maior taxa de reprodução e localização estratégica dos ninhos
em relação às fontes de alimento e água. A disponibilidade de abrigo, alimento e
água determinam o potencial da colônia, podendo ser maior ou menor o número
de indivíduos. As áreas urbanas no modelo atual propiciam condições ideais para
a proliferação destes roedores. O lixo acumulado e os lixões constituem-se em
uma grande fonte alimentar para estes animais. A água pode ser obtida nos
alimentos, córregos, redes fluviais, vazamentos e caixas d"água descobertas. Pela
facilidade em cavar e escalar estes roedores encontram com facilidade locais para
construção e/ou instalação de seus ninhos. Onde ocorre abundância de alimento
podemos encontrar mais de uma espécie de roedores. No caso de limitação de
alimento geralmente encontramos uma única espécie.

A alta taxa reprodutiva, rápida maturação sexual e grande número de


filhotes em cada gestação são alguns dos fatores que favorecem a explosão
populacional destes roedores. Os fatores que limitam o crescimento populacional
são principalmente a disponibilidade de alimentos e a ação do homem no controle
destes animais. Os cães e gatos domésticos não representam um fator eficiente
no controle populacional de roedores.

A quantidade de roedores nas diferentes faixas etárias, em uma colônia


varia com a taxa de reprodução, mortalidade e migração, que são diretamente
afetados pela disponibilidade de alimento, abrigo e água; doenças e parasitas dos
roedores a ação do homem. O crescimento de uma colônia ocorre lentamente no
seu início e rapidamente após um certo período, até os recursos no território da
colônia ficarem limitados. O superpovoamento do espaço territorial acarreta luta
entre os roedores, queda na taxa de fertilidade das fêmeas, canibalismo com os
recém-nascidos e como consequência destes fatores o declínio da população. Por
último ocorre a migração para outras áreas com melhores condições de
sobrevivência, podendo ser interpretada até co mo uma dispersão forçada, destes
roedores. Após o retorno do equilíbrio no territorial da colônia, esta volta a
crescer acentuadamente até esgotar novamente os recursos disponíveis e as
consequências acima mencionadas voltam a acorrer.
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Controle

A presença de roedores está associada a disponibilidade de alimento, água


e abrigo. Acrescentando a estes fatores as características comportamentais e
reprodutivas destes animais encontramos uma situação em que o controle
somente alcançará o efeito desejado com a adoção de medidas integradas. O
controle integrado de roedores envolve basicamente as seguintes etapas:

Ø Inspeção

Ø Adoção de medidas sanitárias

Ø Manejo do ambiente

Ø Controle químico

Ø Controle mecânico

Ø Controle físico

Ø Monitoramento

Inspeção

A inspeção é realizada em toda área a ser protegida contra estes roedores,


além de uma análise dos fatores externos (vizinhança) que podem estar
contribuindo para a infestação. Um estudo das instalações se faz necessário com
a confecção de um croqui para demarcação das áreas críticas, além de uma
entrevista com as pessoas familiarizadas com a rotina do local e as atividades
visíveis dos roedores. A inspeção fornecerá informações que ajudarão na
identificação da espécie presente, nível de infestação, dimensionamento dos
fatores que favorecem a presença desses animais: alimento, água e abrigo.

Tabela 2. Avaliação do nível de infestação pela presença de sinais de atividade.

Sinais Nível de Infestação


Baixa Média Alta
Trilhas Nenhuma Algumas Várias, evidentes
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visível
Manchas de Nenhuma Pouco Evidente em vários
gordura por perceptível locais
atrito corporal
Roeduras Nenhuma Algumas Visíveis em vários locais
diversas visível
Fezes Algumas Vários locais Numerosas e frescas
Tocas ou ninhos 1 a 3/300 m2 - 4 a 10/300 m2 - + de 10/300 m2 -área
área externa área externa externa
Ratos vistos nenhum Alguns á noite Vários a noite, alguns
de dia
Fonte: FUNASA 2002

Tabela 3. Avaliação do nível de infestação pela captura de roedores através de


armadlhas.

Número de roedores Nível de infestação


capturados
01 a 05 Baixa
06 a 15 Média
16 a 29 Alta
Acima de 30 Maciça
Fonte: FUNASA 1993

Ø a operação por três noites seguidas.

Ø Somar Distribuir 100 (cem) armadilhas com iscas e armadas em


diferentes locais dentro da área a ser avaliada.

Ø Colocar as ratoeiras ou armadilhas às 22 horas e retirar na madrugada às


5 horas. Anotar a quantidade de roedores capturados.

Ø Repetir o total de animais capturados.

Avaliação do nível de infestação pelo consumo de alimento fornecido aos


roedores.

Ø Método mais adequado para ambientes fechados, depósitos, fábricas,


armazéns, onde não exista abundância de alimento aos roedores.

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Ø Distribuir em vários locais de fácil acesso aos roedores, recipientes bem
fixados com bordas elevadas (+ ou - 5 cm) contendo 30 g de cereais moídos.

Ø No dia seguinte, pesar novamente o conteúdo de cada recipiente e repor


o dobro da quantidade daqueles que foram totalmente consumidos.

Ø Repetir a operação durante vários dias, até a estabilidade do consumo.

Ø Dividir o total consumido durante o período por 15 e pelo número de dias


de consumo. O resultado indicará o número aproximado de roedores existentes
na área. O cálculo é baseado no consumo médio diário de alimento em relação ao
peso corporal do animal, válido para o gênero Rattus.

Identificação da Espécie Infestante

Alguns sinais deixados pelos roedores auxiliam na sua identificação, tais


como: fezes, danos ocasionados, marcas deixadas no local, trilhas, pegadas,
tocas e constatação visual de roedores vivos ou mortos. A determinação do nível
de infestação irá auxiliar no dimensionamento do controle a ser realizado,
podendo ser realizado através de armadilhas para captura, alimento consumido,
ou avaliação da presença de sinais de atividade dos roedores.

Adoção de Medidas Sanitárias

A eliminação de fontes de alimentos e higienização da área é essencial para


o sucesso no controle de roedores.

Ø Manter a área externa limpa: sem entulhos, materiais empilhados


(madeira, canos, telhas), mato e grama devidamente aparados, poda de galhos
de árvores que se projetem sobre a construção.

Ø Eliminar ou proteger as fontes de água: fossos, valas, poças estagnadas,


poços, caixas d”água e outros reservatórios.

Ø Armazenamento adequado e protegido: cereais e forragens, alimentos,


rações.

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Ø Acondicionamento do lixo em recipientes a prova de roedores, ou de difícil
acesso.

Ø Manutenção adequada das instalações hidráulicas e rede de esgoto.

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Manejo do Ambiente

Envolve medidas que mantenham os roedores do lado externo da


construção, requerendo, às vezes alterações, na edificação.

Ø Fechar todos os orifícios nas paredes externas com argamassa.

Ø Instalar dispositivos de auto-fechamento nas portas mais utilizadas.

Ø Proteger vãos sob as portas ou janelas, com telas ou chapas


galvanizadas.

Ø Instalação de golas metálicas em pilastras e colunas

Controle Químico

Atualmente é o método mais utilizado para eliminação de infestações


existentes. Consiste na utilização de substâncias tóxicas incorporadas a iscas que
serão oferecidas em locais de trânsito ou de visitação destes animais. As
substâncias contidas nas iscas também são tóxicas para outros mamíferos como
gatos, cães e o próprio homem. As principais categorias de produtos rodenticidas
são a de produtos de contato corporal, iscas raticidas de ação aguda, iscas
raticidas de ação prolongada com anticoagulante de dose única ou dose
múltipla. O anticoagulante é uma substância química que impede a coagulação
normal do sangue, podendo provocar hemorragia e causar a morte quando
ingerida por um animal acima de uma determinada dose.

Ø Raticida agudo: A legislação brasileira proíbe a fabricação de produtos


raticidas sob a forma de gás ou produtos de ação fulminante, por uma questão de
segurança em vista da grande toxicidade dos mesmos e o risco de acidentes na
sua utilização. Os raticidas agudos para efeito de informação, são de ação
instantânea (24 horas), por contato, ingestão ou inalação; constituem-se no
grupo mais antigo de agentes para controle de roedores, compreendendo desde
substâncias tóxicas naturais como arsênico, estricnina, sila vermelha, até
produtos sintéticos como gases e outros. Obs: seu uso encontra-se proibido
na grande maioria dos países.

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Ø Raticidas crônicos: de ação cumulativa, atuando por ingestão, podendo
ser aplicado no ambiente. Interferem no mecanismo de coagulação sanguinea,
provocando a morte por hemorragias, caso não haja intervenção de tratamento
com agente específico. Os raticidas crônicos são utilizados na área de Saúde
Pública devido ao menor risco oferecido à população e ao ambiente.

Ø Raticidas de dose única: a ingestão de uma única dose causa o efeito


esperado.

Ø Raticidas de dose múltipla: necessitam de consumo repetido da dose,


provocando o feito esperado através de ação cumulativa.

Ø Formulações: pós de contato, iscas, blocos parafinados.

Ø Iscas: tem a função de atrair o roedor (olfato) e induzí-lo a consumir de


forma contínua (paladar), de forma até desestimulá-lo a consumir seu alimento
habitual em função da isca. Algumas iscas são constituídas de cereais quebrados,
farinhas ou peletizadas. A escolha do componente atrativo da isca deve levar em
consideração os hábitos alimentares da população de roedores que se pretende
controlar. São realizados testes de preferência entre diferentes tipos de
formulação objetivando-se aquela de maior aceitação, Os roedores preferem
partículas de tamanhos maiores, que permitem uma mastigação consistente,
rejeitando muitas vezes os farelos. A coloração da isca é determinada por fatores
de segurança para os seres humanos e principalmente crianças, onde a cor não
deve ser um fator de atração. Muitas iscas possuem a coloração azul ou verde.
Um componente amargo chamado Bitrex é incorporado em muitas iscas visando
afetar a palatabilidade para crianças e animais domésticos, causando uma
rejeição a isca. Os roedores não possuem sua palatabilidade afetada com esta
substância, porque estes animais apreciam gostos extremos (muito doce, muito
amargo). Segundo algumas testes as iscas farináceas são menos preferidas que
as peletizadas que por sua vez são menos preferidas pelas de grãos integrais;
porém não devemos esquecer um fator importante, os roedores possuem olfato e
paladar apurado escolhendo seu alimento. Se houver grande disponibilidade de
alimento na área, as iscas terão dificuldade em atingir o controle desejado por
uma questão de competição.

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Ø Pó de contato: é formulado com um pó muito fino para ser polvilhado na
soleira de tocas, ao longo de trilhas e demais pontos frequentados pelos
roedores. Ratos e camundongos ao entrarem em contato com o pó, carregam
este aderido ao corpo até o ninho. Uma vez no ninho estes animais realizam a
limpeza habitual de seus corpos lambendo o pelame, ingerindo então
forçadamente o pó. Esta formulação não tem caráter de atratividade, uma vez
que o contato é desapercebido pelos roedores, não competindo com o hábito
alimentar já estabelecido destes animais. Esta formulação não deve ser aplicada
próxima a alimentos e em locais de trânsito de animais domésticos e pessoas,
sendo de venda exclusiva para empresas especializadas.

Ø Blocos parafinados: também são iscas, porém recebem uma substância


impermeabilizante, geralmente a parafina. Esta impermeabilização confere uma
maior durabilidade da isca em condições de chuva, excesso de umidade e calor,
fatores estes comuns em países de clima tropical. Possuem uma vantagem que é
a de fácil fixação.

Modo de aplicação: polvilhamento e iscagem.

Atualmente a maior parte dos raticidas possui substâncias anticoagulantes


incorporadas as iscas. As iscas são bem aceitas pelos roedores podendo controlar
as diferentes espécies de interesse em Saúde Pública nos meios urbano e rural.
As iscas quando aplicadas corretamente não oferecem riscos ao meio ambiente
agindo apenas sobre um alvo específico, no caso os roedores. O antídoto para a
intoxicação pelas iscas com anticoagulantes é a vitamina K, entretanto em
qualquer caso de intoxicação procure um médico e leve junto o rótulo do produto
utilizado. Animais domésticos não devem ter acesso a estas iscas e medidas
complementares como a remoção do lixo, indisponibilização de alimentos e água
devem ser efetuadas. Ao realizar um tratamento de desratização certifique-se
sempre que os reservatórios de água estejam devidamente fechados, evitando
que ratos venham a morrer nestes locais com consequente contaminação da água
e possíveis riscos a saúde humana.

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O raticida a ser utilizado deve ser tóxico, palatável, específico para a
espécie alvo, fácil formulação, degradável, quimicamente estável, de baixo custo,
sintomas não devem ser imediatos.

Ø Aplicação de Rodenticidas/Raticidas

Cada técnica e produto possuem suas particularidades as quais devem ser


analisadas e empregadas em conjunto para obtenção de um controle mais efetivo
e seguro dos roedores. O controle químico consiste na distribuição estratégica de
iscas e armadilhas de forma a obter a máxima taxa de controle possível.

Ø Iscas

ü A isca deve conter ingredientes inertes que estimulem o paladar e


o consumo da isca pelos roedores.

ü Uma boa formulação de isca deve ter uma taxa de aceitação entre
70-80% e 100% de mortalidade.

ü Iscagem externa: distribuir nos pontos estratégicos determinados


pela inspeção, as iscas utilizando um porta -isca à prova de impacto.
Posicione em intervalos de 10-15 metros, fechando o perímetro da
edificação.

ü Iscagem interior: utilize porta-isca ao longo de paredes, cantos,


sob estrados e outros locais determinados pela inspeção. Posicione um
ponto de iscagem a cada 5-10 metros para ratos, ou 2-4 metros para
camundongos.

Vantagens da utilização de porta-iscas

Ø Pessoas e animais não poderão remover e manipular a isca.

Ø Os roedores não conseguem mover as iscas instaladas,


continuando inacessíveis para homens e animais domésticos.

Ø Os roedores não carregam a isca para outras localidades.

Ø As iscas ficam protegidas das condições ambientais externas.

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Tabela 4. Indicações de uso para formulações de iscas raticidas.

Pellets Blocos Miniblocos parafinados


parafinados

Áreas urbanas Áreas urbanas e Áreas urbanas e rurais


rurais
Tocas Tocas Tocas
Áreas internas Áreas externas Áreas internas (camundongos) e
(prédios, casas, externas
armazéns, etc.)
Locais secos Locais úmidos Locais muito quentes e úmidos
Rede de esgotos Plantações
Áreas de
armazenamento

Controle Mecânico

Consiste na utilização de sistemas de proteção física contra a entrada de


roedores na área, e sistemas de captura para remoção e posterior eliminação
destes roedores. Devemos eliminar aberturas ou frestas maiores que 0,5 cm
impedindo a passagem dos ratos, instalar mecanismos para impedir o refluxo de
efluentes nos vasos sanitários, colocação de dispositivos impedindo a escalada em
fios, paredes, tubulações, encanamentos e até mesmo em palmeiras localizadas
nos jardins.

Dispositivos de captura podem ser distribuídos estrategicamente pela área,


como ratoeiras, armadilhas adesivas e gaiolas com entrada única. O tamanho do
dispositivo deve ser proporcionalmente resistente a espécie que se pretende
capturar. A utilização de barreira elétrica tem como fatores limitantes o seu custo,
manutenção e riscos de acidentes.

Armadilhas adesivas

Ø Vantagens:

ü As armadilhas adesivas consistem de uma placa com uma cola de


alta aderência em sua superfície, na qual o rato fica preso.

ü Armadilhas adesivas: é um método de captura e controle de


roedores. A posição correta da armadilha influencia diretamente a
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eficiência da mesma. Alguns fatores como a poeira, gordura e sujeira
podem limitar a eficiência das armadilhas adesivas.

ü Prendem tanto ratos como camundongos, cujos pêlos e


ectoparasitos também podem ficar presos na cola.

ü Não riscos para crianças, animais e operadores.

ü Não possuem restrição de uso, podendo ser utilizadas em áreas


de alimentação e fabricação de medicamentos.

ü Não necessitam de manutenção pois são descartáveis, não


possuem cheiro ou odor estranho, pode suportar altas temperaturas.

Ø Desvantagens:

ü Deve ser trocada mensalmente devido à exposição a poeira.

ü A armadilha adesiva não pode ficar em lugares sujeitos a


molhamentos constantes.

ü Devem ser estocadas em locais frescos e não sujeitos a altas


temperaturas.

ü Deve ser utilizada como alternativa e associada a outras técnicas


de controle.

Ratoeiras

São dispositivos para ferir mortalmente o roedor e cujo mecanismo consiste


numa alavanca mantida sob tensão por uma mola. É uma alternativa em
situações de restrição ao uso de raticidas químicos. As ratoeiras devem ser
colocadas na trilha ou pontos de passagem dos roedores, indicadas também para
pequenos ambientes com baixa infestação. Deve -se distribuir várias ao mesmo
tempo para que o controle seja realizado em poucos dias e cobrir parte do
mecanismo com papel ou pano para não assustar os roedores. Inspecionar
diariamente removendo os roedores capturados rearmando os gatilhos das
ratoeiras.

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Controle Físico

A utilização de aparelhos que emitem ultrason segundo diversos autores


deve ser melhor estudada para uma conclusão definitiva sobre esta técnica.
Porém os mesmos autores apresentam algumas limitações dos aparelhos de
ultrason com relação a sua eficiência no controle de roedores.

Ø Direcionalidade: sons de alta frequência não são refletidos ao redor de


objetos sólidos.

Ø Atenuação: o ultrason é absorvido pelos materiais sólidos.

Ø Intensidade: a intensidade efetiva de um ultrason para o controle de


roedores, pode ser prejudicial ao homem.

Ø Aplicabilidade: restrito á areas fechadas.

Ø Familiarização do roedor: a aversão inicial pelos ratos e camundongos


é rapidamente superada.

Ø Custo benefício: sem estudos específicos.

Monitoramento

O monitoramento consiste no acompanhamento dos resultados obtidos


pelas medidas de controle, execução das medidas de higienização e
monitoramento de novas infestações. Medidas preventivas devem ser adotadas e
revistas periodicamente neste processo. As medidas preventivas englobam todos
os mecanismos mecânicos de controle e medidas de higienização. Alimento e
abrigo são os fatores essenciais para promover a infestação destas pragas numa
determinada área, eliminando-se estes fatores podemos evitar a presença
indesejável destes roedores. Algumas medidas devem ser empregadas na rotina
diária como por exemplo: remover diariamente do lixo, acondicionar
corretamente os alimentos, não jogar lixo em terrenos ou córregos, manter os
jardins em bom estado de conservação, remover os entulhos, vedar devidamente
esgotos e canais efluentes desativados, não acumular materiais em locais como

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depósitos e garagens. A presença de ratos em nosso meio se deve muitas vezes
as condições favoráveis fornecidas pelo próprio homem.

O cálculo da eficiência do controle pode ser avaliado pela fórmula:

Taxa de eficiência = 100 x População Pré -tratamento – População Pós-


tratamento

População Pré-tratamento

Precauções

Ø Todos os raticidas são tóxicos;

Ø Verifique antes de realizar a desratização se todos os reservatórios de


água estão bem fechados, incluindo as caixas d”água;

Ø Não utilizar raticidas na forma de pó de contato em locais em que


posssam contaminar alimentos, água, vestuários;

Ø Após a desratização de uma determinada área deve -se recolher as iscas


remanescentes e destruí-las. Cadáveres de roedores também devem ser
eliminados, podendo-se enterrá -los em cova profunda para que cães não tenham
acesso;

Ø Os Postos Permanentes de Iscagem (porta -iscas) devem contem em sua


tampa etiqueta que assinale a presença de veneno;

Ø Não estoque raticidas junto a alimentos;

Ø As iscas devem ser colocadas em locais inacessíveis para crianças e


animais domésticos;

Ø Utilize somente produtos devidamente registrados pelo órgão competente


(Ministério da Saúde).

Programa de Controle de Roedores Urbanos

O controle da população de roedores na área urbana representa um grande


desafio à administração municipal, pois além de requerer uma integração de
diversos setores da Prefeitura e de outros órgãos oficiais, necessita da importante
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cooperação dos próprios munícipes. Para tanto é necessário dispor de um
conjunto de medidas.

Medidas Legais

Ø Disciplinar o acondicionamento, recolhimento e destino dos diversos tipos


de lixo existentes no município, em particular, os de origem alimentar;

Ø Regulamentar o destino de entulhos, sucatas e a limpeza de terrenos


baldios;

Ø Normatizar o armazenamento e a distribuição dos alimentos no comércio


e demais fatores que favorecem a atração e proliferação de roedores;

Ø Estabelecer multas e penalidades nos casos de infração às leis e normas


acima;

Ø Adequar o código municipal de edificações à prevenção contra roedores.

Medidas Educativas

Ø Divulgar e esclarecer as medidas legais implantadas, junto à população;

Ø Conscientizar a comunidade sobre os perigos e riscos à saúde que os


roedores representam e da necessidade de controle da população murina;

Ø Obter a participação da população na adoção das medidas de


antiratização e na cooperação com os órgão públicos, no controle de roedores.

Medidas Corretivas

Ø Fiscalizar e fazer cumprir as medidas legais;

Ø Aplicar multas e demais penalidades em caso de infração.

Medidas de Antiratização

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Ø Aplicação de obstáculos visando impedir o acesso dos roedores a
determinadas áreas ou edificações. Modificação do meio ambiente no sentido de
eliminar as condições favoráveis à atração e proliferação de roedores.

Medidas de desratização

Ø Conjunto de ações visando eliminar os roedores em áreas ou locais


previamente identificados;

Levantamento de roedores em áreas urbanas, tanto em cidades como em


vilas.

Ø Seleção das premissas do método de levantamento;

Ø Preparo da forma do levantamento e itinerários;

Ø Inspeção das premissas selecionadas, tanto internas como internas;

Ø Preparo de mapas, gráficos e tabelas com a síntese dos resultados;

Ø Preparo de um documento analisando o problema de roedores


conjuntamente com as deficiências sanitárias e recomendações para sua
melhoria.

Literatura Consultada

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Procedimentos para o controle de


roedores. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde,
CENEPI, 1990. 80p.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de controle de roedores. Brasília:


Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 129p.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vector control series: Rodents - Training


and information guide. (WHO/VBC/87.949), 1987. 107 p.

NOWAK, R. M. Walker's Mammals of the World, Vol. 2. Johns Hopkins


University Press, London, 1999.

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