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Técnica de Opinião Pública Professora Laura Jane Vidal

Universidade Federal do Amazonas


Instituto de Ciências Humanas e Letras
Departamento de Comunicação Social

Análise do filme “O quarto poder”1

O enredo do filme “O quarto poder” estimula a discussão acerca da mídia, seu poder e suas
artimanhas em busca de elevados índices de audiência, amparados na consulta à opinião pública, por
meio da aplicação de pesquisas de opinião.
Logo no início do filme, pode-se observar uma sutil referência à Teoria Hipodérmica, também
chamada de Teoria da bala, porque compara a audiência a um alvo a ser atingido. Outro nome atribuído
à Teoria Hipodérmica é Teoria da seringa, pelo fato de comparar a audiência a um tecido do corpo
humano que reage à introdução ou aplicação de um determinado líquido por baixo da pele, daí a
expressão hipodérmica, por meio de uma seringa. A referência pode ser observada no filme quando uma
câmera filmadora é preparada como se fosse uma arma de fogo com mira de longo alcance.
Teoria Hipodérmica
A teoria hipodérmica ou modelo da agulha hipodérmica deve seu nome ao termo criado pelo
cientista político Harold Lasswell, um dos principais autores da Corrente ou Teoria Funcionalista,
também chamada de Sociologia Funcionalista da Mídia. A expressão faz referência aos efeitos diretos da
mídia sobre os indivíduos.

O próprio nome da abordagem conhecida como ‘teoria hipodérmica’, ‘teoria da


seringa’ ou ‘bullet theory’ já se encarrega para evidenciar a onipotência (dos
mass media e da sociedade) de um lado, e a vulnerabilidade (do indivíduo, do
público) de outro. O termo hipodérmico ou seringa mostra como o público é
comparado aos tecidos do corpo humano, que atingido por uma substância (no
caso a informação), todo o corpo social é atingido indistintamente. O termo
‘bullet theory’ ou ‘teoria da bala’ também reforça a genialidade de um lado em
atingir o alvo, no caso o público. (GIOVANDRO MARCUS FERREIRA, 2001, p.
106).

O enfoque da Teoria Hipodérmica pode ser definido como pragmático-utilitário dos efeitos da
comunicação sobre as audiências, uma vez que a finalidade dos estudos desenvolvidos era de conhecer
os efeitos da comunicação, principalmente de campanhas de propaganda sobre as audiências para
otimizar seus resultados. O que é claramente percebido na trama do filme em análise, uma vez que os
resultados das pesquisas de opinião, em dois momentos distintos, embasaram as diferentes abordagens

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Texto produzido para a disciplina Técnica de opinião pública
Técnica de Opinião Pública Professora Laura Jane Vidal

utilizadas na apresentação das matérias sobre a situação ocorrida no museu e sobre o principal
protagonista, Sam Baily.
Voltando ao enredo do filme, o quase fracassado e sensacionalista repórter de televisão, Max
Brackett, interpretado por Dustin Hoffman, é encaminhado pelo diretor da emissora de TV a um museu
para cobrir a pauta sobre dificuldades financeiras e demissão de pessoal para redução de gastos.
Sam Baily, interpretado magistralmente por John Travolta, é um segurança recentemente
demitido pela diretora do museu. Sam já havia tentado uma conversa com a referida diretora, na
tentativa de reaver seu emprego, sem sucesso. Movido pela recusa da diretora e pela sua própria
instabilidade emocional, Sam retorna ao museu com a intenção de “dar um susto” na tal diretora e ser
ouvido por ela, carregando uma espingarda e uma bolsa cheia de dinamites.
Max já havia concluído a entrevista e estava no banheiro do local, quando Sam chegou, tentou
conversar com a diretora e obteve nova recusa. Sam se descontrola, fecha a porta do museu, saca a arma e
começa a discutir com a diretora. Acidentalmente, a arma dispara e o tiro atinge o outro segurança,
quando este tentava abrir a porta do museu. Max ouve tudo e decide que a situação é um furo de
reportagem. Consegue convencer o diretor da emissora de TV, por telefone, e entra no ar, dali mesmo,
relatando os fatos que são enriquecidos com a tomada de imagens externas do museu, feitas pela
assistente de câmera que estava no furgão da emissora em frente ao museu.
A situação, mesmo contra a vontade do diretor da emissora de TV, é transmitida ao vivo. Max
se encarregou de convencê-lo a autorizar a transmissão do fato. O diretor argumentou que aquilo era
sensacionalismo, que o horário não era apropriado para a exposição de imagens violentas,
principalmente envolvendo crianças tomadas como reféns, que o ideal seria apresentar somente a voz de
Max ao fundo. Max rebate dizendo: “Isso é rádio. Nós temos as imagens e você fica fazendo rádio!”.
Convencido o diretor, a matéria vai ao ar com o título “De dentro do cerco”, quando “circo” seria o termo
mais adequado, afinal, o espetáculo lá fora estava se desenrolando: policiais, repórteres de outras
emissoras de TV e uma multidão de curiosos. Assim, uma situação trágica é transformada em espetáculo
na disputa pelo maior índice de audiência.
Max passa a controlar a situação, manipulando o ingênuo e instável segurança que só pretendia
reaver seu emprego. Max consegue permissão da polícia para uma entrevista ao vivo com Sam e
direciona as perguntas de modo a apresentar um homem frágil, ingênuo e fracassado, que se vê diante da
impossibilidade de sustentar sua família. O que comove a opinião pública: “aquelas pessoas lá fora,
aquilo é a opinião pública e ela é poderosa!”, nas palavras de Max.
A situação ganha destaque nas discussões das pessoas e Sam é visto pela opinião pública como
um herói que, vitimado pelo sistema, ousa lutar por seus direitos. A abordagem da Agenda Setting

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explica a atuação da mídia como determinante dos temas das discussões da sociedade: o que se deve
discutir, como se deve discutir, enfim o que e como pensar.
A referida abordagem tem origem americana e foi desenvolvida por Maxwell McCombs e
Donald Shaw. A Agenda Setting é referenciada como hipótese porque suas propostas ainda não foram
devida e cientificamente comprovadas e, desse modo, os estudiosos da comunicação, optaram pelo uso
do termo hipótese em referência à mesma. Embora o enfoque ou objeto de estudo ainda sejam os efeitos
dos meios de comunicação de massa, a abordagem da Agenda Setting, ao contrário das abordagens que a
antecederam nos estudos da comunicação, que enfatizavam os efeitos imediatos dos mass media,
centraliza suas preocupações em torno dos efeitos produzidos em longo prazo.
A abordagem da Agenda Setting desenvolve uma perspectiva que considera a ação dos meios
de comunicação de massa como um “agendamento” que coloca determinados temas ou fatos na pauta ou
na “agenda” das discussões da sociedade, alterando o processo cognitivo do indivíduo, indicando aquilo
que ele deve conhecer e discutir.
A perspectiva da massificação dos receptores pela mídia ainda prevalece, agora, pelo viés do
entendimento de que a mídia conduz ou direciona o processo individual de conhecimento da realidade, à
medida que determina os assuntos sobre os quais o indivíduo deve pensar.
Não incluir os assuntos pautados ou agendados pela mídia, ou manifestar opiniões contrárias
àquelas veiculadas pela mídia, no entendimento dos autores dessa abordagem, é fator de exclusão
grupal, é condenar a si mesmo à exclusão silenciosa, à “espiral do silêncio” (expressão proposta por
Noelle Neumann) – o termo também vale para o silêncio midiático sobre determinados assuntos ou
acontecimentos, os quais, se omitidos ou silenciados pela mídia, acabam sendo banidos das discussões e
também condenados à espiral do silêncio.
A emissora de TV local é filiada a uma rede nacional que envia o famoso âncora do telejornal da
noite, Kevin Hollander, adversário declarado de Max.
Sam, o segurança demitido, é disputado por Max e Kevin, num jogo de interesses pessoais e
profissionais, vaidades e rancor de ambas as partes. Max já havia editado uma matéria sobre a situação
no museu, reforçando o mesmo conteúdo da entrevista, isto é, destacando o infortúnio de um chefe de
família desempregado, digno, trabalhador, amigo, humano e merecedor de compaixão. Kevin se apropria
da matéria e a reedita, mostrando um Sam violento e desequilibrado. A mudança é justificada pelos
resultados da pesquisa de opinião: Sam já não era mais visto como um herói pela opinião pública.
Ligados à abordagem da Agenda Setting há ainda os termos newsmaking (fazedores de notícias) e
gatekeeper (porteiros, portões ou cancelas), diretamente relacionados aos emissores da mensagem, das
informações, das notícias, os próprios profissionais da comunicação, que atuam de modo a filtrar
determinadas informações, selecionando aquilo que deve, pode ou não ser transformado em notícia,

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concretizando, dessa forma, as hipóteses do agendamento das discussões na sociedade, interferindo no


conhecimento e na percepção da realidade, do mundo externo, pelos receptores, uma vez que
determinam o objeto de conhecimento dos mesmos. No filme em questão. Max e Kevin “fazem”,
literalmente, a notícia e filtram, selecionam o que será veiculado, editando e reeditando, cortando e
acrescentado, mostrando o que lhes convém.
Retornando ao enredo do filme, Max negocia com outra emissora de TV e consegue mais uma
entrevista com Sam. A entrevista foge ao controle de Max e evidencia a insegurança e o desequilíbrio
emocional do segurança demitido.
No hospital, o segurança baleado morre, a situação se agrava, Sam libera as crianças tomadas
como reféns e se suicida, explodindo o museu. Max cai na real e conclui: “Nós o matamos!”.
Dizem que a arte imita a vida e tal afirmação não está muito longe da realidade. Basta
lembrarmos o caso da Escola Base (SP), quando os proprietários de uma escola infantil foram
injustamente acusados de submeter os alunos a práticas sexuais abusivas. Por lá não houve tiros, tomada
de reféns ou explosões, mas, houve depredação da escola por populares indignados, histeria de mães,
atuação irresponsável da mídia e de um delegado sedento por fama. Após inúmeras investigações, nada
foi efetivamente comprovado, as “marcas” do assédio em uma das crianças eram, na verdade, assaduras.
O furor de indignação foi silenciado. E os proprietários?

Falando neles – naquela gente do bem – eles foram destruídos financeira,


moral, física e psicologicamente. Comeram o pão que o diabo amassou. Um
casal se separou. Ela vive em permanente estado de depressão. Ele se sente
perseguido, tem alucinações, virou um pária. O outro casal sobreviveu por aí à
base de biscates e de favor dos amigos. O processo foi arquivado por falta de
provas. Em 1999, o Tribunal de Justiça de São Paulo, por unanimidade de seus
membros, condenou o estado a pagar a cada dos sócios uma indenização de
100 mil reais por danos morais. O delegado foi condenado a pagar 10 mil. A
indenização referente aos danos materiais ficou para a fase de execução de
sentença porque dependia de laudos periciais. (ROBERTO DE CASTRO
NEVES, 2002, p. 150).

Outro conceito que pode ser utilizado na análise do filme “O quarto poder”, por conta do
extremo apelo à violência, é o conceito de indústria cultural, preconizado por autores da Escola de
Frankfurt.
Escola de Frankfurt – Constituída por pensadores e cientistas sociais alemães envolvidos pelo ideal de
desenvolver uma teoria crítica da sociedade, a Escola de Frankfurt instaurou a pesquisa crítica em
comunicação e deixou legados importantes à investigação dos fenômenos comunicacionais.
O conceito de indústria cultural é apontado como uma das contribuições dos frankfurtianos.
Criado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, o termo se “tornou central para os estudos culturais e as

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análises de mídia” (FRANCISCO RÜDIGER, 2001, p. 131). O termo faz referência à disseminação de bens
culturais entre as massas, o que não quer dizer que os pensadores dessa escola fossem contrários ao fato
de que as massas tivessem acessos aos bens culturais como obras de arte, literatura, cinema, música etc.,
mas, a questão problematizada pelos frankfurtianos era a maneira como a cultura destinada às massas é
produzida e veiculada de modo a perpetuar a exploração, fazendo-as reproduzir e interiorizar a ordem
vigente, inibindo a crítica e a reflexão. Nessa perspectiva, os frankfurtianos criticavam tanto a
comercialização e a produção em série dos bens culturais, que perderiam sua essência artística e
espiritual, à medida que se tornam mercadorias, produzidas para atender ao mais diversos gostos, bem
como, a produção de bens culturais de pouco ou nenhum valor em termos de estética.
Os frankfurtianos centralizavam suas críticas no entendimento de que a indústria cultural
“conserva as marcas das violências e da exploração a que as massas têm sido submetidas desde as
origens da história”, ao mesmo tempo em que apontavam aspectos como “a linguagem rebaixada, o
menosprezo da intelectualidade e a promoção de nossos piores instintos, senão da brutalidade e
estupidez, que encontramos em tantas expressões da mídia” (RÜDIGER, 2001, p. 144).
Será que o alcance do nível máximo de audiência justifica o apelo a tanta violência, a imagens
abusivas de sexo, à falta de estética e de conteúdo, à ridicularização das pessoas, à destruição da vida de
cidadãos decentes, à criação de celebridades vazias e efêmeras, à espetacularização de conflitos pessoais e
familiares, enfim à atuação desmedida dos meios de comunicação de massa? Será que é isso, realmente, o
que o povo quer ver na TV?

Referências

ARAÚJO, Carlos Alberto. A pesquisa norte-americana. In: HOHLFELDT, Antônio (org.). Teorias da
Comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 119-130.
FERREIRA, Giovandro Marcus. As origens recentes: os meios de comunicação pelo viés do paradigma da
sociedade de massas. In: HOHLFELDT, Antônio (org.). Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e
tendências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p.99-116.
MATTELART, Armand. História das Teorias da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2000.
NEVES, Roberto de Castro. Crises empresariais com a opinião pública: Rio de Janeiro: Mauad, 2002.
RÜDIGER, Francisco. A Escola de Frankfurt. In: HOHLFELDT, Antônio (org.). Teorias da Comunicação:
conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 131-147.

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