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RESUMO
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Artigo apresentado à Faculdade UnYLeYa – Pós Graduação à Distância – como parte dos requisitos
para obtenção do título de Especialista em Psicopatologia e Dependência Química, sob a orientação
da Profª Luciana Raposo dos Santos Fernandes, Brasília/DF, janeiro de 2018.
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Psicólogo, formado pelo Instituto Porto Alegre (IPA), desde sua formação atuando como Psicólogo
clínico, atualmente residindo na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul.
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
A partir desta visão, surgem as Políticas de Atenção Integral para Usuários de Álcool
e Outras Drogas, como uma nova estratégia de cuidado, que pretende contemplar
as diversas esferas que a droga atinge, ampliando o espectro de tratamento e
reconhecendo a complexidade e singularidade de cada caso. Deste modo, o cuidado
deixa de ser pautado unicamente pela abstinência e passa a utilizar também a lógica
da Redução de Danos (RD). O que é corroborado pela visão de Machado e Boarini
(2013), ao considerarem que:
Sendo assim, a RD passa a ser uma estratégia de ação para encarar a dependência
química, respeitando a singularidade de cada caso e entendendo que saúde é um
direito de todos, independentemente de estar ou não em estado de abstinência.
Diante da complexidade que envolve o contexto de tratamento em dependência
química, faz-se necessário aprofundar e avaliar as estratégias de cuidado, tendo em
vista que muitas pessoas e profissionais de saúde se colocam contra a RD, mesmo
sem saber ao certo seus preceitos, bem como defendem o proibicionismo sem
avaliar os seus resultados em termos de saúde. Dessa forma, este artigo pretende
não apenas apresentar o percurso das políticas públicas direcionadas aos usuários
de drogas no Brasil, mas principalmente discorrer sobre a potência da RD como
ferramenta de promoção em saúde e qualificação no cuidado direcionado aos
dependentes químicos, evidenciando suas vantagens em relação ao modelo do
proibicionismo.
O emprego histórico do vocábulo droga - assim como a sua conotação -, passou por
trajetória evolutiva e delimitatória no transcorrer das diferentes épocas. De acordo
com Escohotado (2007), na Grécia antiga, a palavra pharmakon significava remédio
e veneno sem delimitação entre benefício e prejuízo, abarcando ambos valores
contraditórios sem conotação negativa e diferenciação, senão através do padrão e
níveis de uso.
Nesse contexto, o uso de plantas e ervas que alteravam a consciência era visto
como uma fórmula mágica de se alcançar a sabedoria para se comunicar com
instâncias tidas como soberanas à condição humana.
De acordo com Soccal (2012), a mudança de paradigma da concepção do uso de
drogas, baseia-se em pontos primordiais como o surgimento da farmacologia e da
química moderna, no início do século XIX, que levou ao surgimento e ao refinamento
de novos princípios ativos, – os fármacos puros – de distintas plantas, em uma
sucessão que começou com a morfina (1806), prosseguindo com a estricnina
(1817), cafeína (1820), nicotina (1828), codeína (1832), cocaína (1860), heroína
(1883) e barbitúricos (1903), entre muitos outros. A partir de tais descobertas, a
indústria passou a investir e a difundir a fabricação de compostos estimulantes, a
exemplo, a mundialmente conhecida até os dias de hoje, coca-cola.
(SOCCAL,2012).
De fato, a proibição do consumo de drogas, inicia no século XX, com uma tentativa
do governo chinês de equilibrar a balança econômica, ao proibir inicialmente o
tabaco e, por conseguinte o ópio, a medida em que a população recorreu a outra
droga para suprir a necessidade da inicialmente proibida.
Fato é que o Brasil não fazia parte das potências e países ativos nos debates
internacionais sobre o uso de substâncias, tendo adotado a postura de alheamento
durante praticamente todo o século XX. (SILVA, 2013). Especificamente, o percurso
do proibicionismo no Brasil se inicia em 1912 após a convenção de Haia, momento
em que houve o comprometimento de se consolidar a vigilância sobre o uso de Ópio
e cocaína, devido ao aumento da incidência de uso entre diferentes instâncias da
sociedade, fato que acarretava a disseminação das substâncias pelas cidades.
Deste modo, apesar de isolados, foram emergindo algumas medidas pontuais ainda
que sem muitas repercussões sociais. Em 1921, surge a primeira lei restritiva ao uso
de drogas, a qual determinou que todo o consumo não medicinal era passível de
punição.
Contextualiza-se que até então, tanto os usuários como os traficantes eram vistos
como iguais, sendo atribuído a ambos julgamentos baseados na esfera moral e
criminal. A partir da promulgação da Lei 6.368/1976, os usuários são diferenciados
dos traficantes e passam a ser vistos como portadores de uma patologia de ordem
biológica, e para tanto, deveriam ser tratados como doentes. (BRASIL, 1976). Este
modelo prevê que os usuários sejam reabilitados de maneira isolada, através de
regimes de internações hospitalares que primam pela abstinência. Sendo assim, a
abstinência passa a ser o cerne do tratamento, e consequentemente, passa a não
ser aceito nenhum tipo de padrão de uso. Sob o prisma do proibicionismo, de acordo
com Marlatt (1999):
A abstinência é quase sempre pré-requisito para o tratamento, uma vez que
a maioria dos programas de tratamento de dependência química recusa-se
a admitir pacientes que ainda estejam usando drogas. A exigência de que o
indivíduo deve primeiro abster-se a fim de receber o tratamento que visa
manter a abstinência exemplifica uma abordagem de “alta
exigência”(MARLATT ,1999, p.58).
A repressão nacional ao uso de substância prosseguiu com a criação, em 1980, do
Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de Entorpecentes e do
Conselho Nacional de Entorpecentes (CONFEN), órgão colegiado normativo e
instância máxima para a determinação das políticas nacionais antidrogas e de todas
as iniciativas, internas e externas, naquela esfera. De acordo com Silva (2013), a
inserção do Conselho na estrutura do Ministério da Justiça refletiu o enfoque
prioritariamente repressivo que o governo pretendia dar à questão, vista então da
perspectiva do aumento do tráfico e da criminalidade. (SILVA, 2013).
Neste contexto, há uma grande mudança na relação saúde-doença, uma vez que
anteriormente o cuidado era pautado unicamente pela dimensão biológica, em que o
sujeito era visto de forma fragmentada e tratado apenas pelos sintomas manifestos,
a nova perspectiva passa a encarar o sujeito na sua totalidade, de maneira
biopsicossocial. Desta forma, segundo Mendes (1996, apud PRATTA; SANTOS,
2009, p. 208), a saúde deixa de ser vinculada única e exclusivamente a dimensões
biológicas, e passa a considerar outros aspectos que envolvem os sujeitos e suas
vivências cotidianas, como trabalho, educação, lazer, alimentação e outras.
Nesse sentido, é que a Redução de Danos é tomada como uma estratégia, a qual
parte da promoção em saúde como modo de interferir no processo de drogadição,
divulgando a prevenção e ações educativas. Por outro lado, no caso de o indivíduo
já ter se tornado dependente, tal política pretende agir no sentido de possibilitar um
entendimento mais amplo sobre a situação e a relação que cada usuário estabelece
com o uso da droga.
O agravante é que este fato contribui para que os usuários se distanciem dos
serviços de saúde, já que a recaída passa a ser apenas um sinal de fraqueza e
frustração, não sendo encarada como parte do processo de tratamento, que deve
ser entendida e trabalhada de modo a diminuir a incidência novos episódios. Defesa
também realizada por Alves (2009, p. 2312), ao afirmar que “a exigência do
abandono imediato e total do uso de drogas colabora com as censuras feitas ao
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derivado do grego prágma, significa ‘fazer’, denota ação, ato ou caso. Na antropologia pragmática
de Kant, é a ética prática. Na definição kantiana, o horizonte pragmático representa a adaptação do
conhecimento à finalidade moral, aos fins da vida prática, do agir.
usuário em casos de reincidência, fazendo com que estas instituições de saúde
sejam territórios reprodutores de estigmas”. (ALVES, 2009, P. 2312).
Concordando com Stronach (2004), a Redução de Danos não incentiva nem fecha
os olhos para o uso de drogas, pois reconhece que existem danos e consequências
envolvidas. Ainda, não existe uma oposição da Redução de Danos ao uso de
estratégias clínicas que pressupõem a abstinência, mas uma reprovação do
posicionamento dos dispositivos de atenção em saúde que defendem a abstinência
como único objetivo do tratamento. Então, não se trata de desprezar a relevância da
abstinência para o tratamento de muitos usuários, mas sim de entendê-la como
apenas uma possibilidade entre as várias existentes (SOUZA, 2007; CRUZ et al,
2003).
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, isso não significa que seja uma solução única para a dependência de
drogas, e sim que se trata de uma estratégia possível a outras ações, ao incluir
intervenções com maior comunicação e articulação entre os atores envolvidos no
processo de cuidado dos usuários, com vistas a viabilizar a integralidade e a correta
funcionalidade da atenção em saúde para os dependentes químicos.
REFERÊNCIAS
MACHADO, Letícia Vier; BOARINI, Maria Lúcia. Políticas sobre drogas no Brasil:
a estratégia de redução de danos. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 33, n. 3, 2013.
SILVA, Luiza Lopes da. A questão das drogas nas relações internacionais : uma
perspectiva brasileira ISBN 978-85-7631-428-8. Brasília: FUNAG, 2013. 407 p.