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NARI ZI N HO
a r r e b it a d o
LIV R O DE F IG U R A S
P OR M O N T E I R O
l o b a t o com
d e s e n h o s
de VO LTO -
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O SO M N O Á B E IR A D O R IO
A MENINA DO
O s dois bichinhos,
pegados de surpreza, revi
raram de pernas para o ar,
cahindo um grande tombo
no chão.
— Não disse? ex
clamou o besouro, erguen
do-se e limpando com a
manga o chapéo sujo de
terra. Não disse que havia
~\
) resta a menor duvida, e eu
com raças dc ferrão vene
noso não quero historias,
n ão! A té logo, amigo Es-
camado, sáre bem e seja muito feliz. Caspité!
E lá se foi pelos ares afóra, zumbindo que nem um aeroplano .
peixinho, porem, era um guarú valente que nunca teve medo de cucas,
e porisso alli continuou firme, cada vez mais interessado em decifrar o
enigma. Pensou, pensou muito tem po,, de mãosinha no queixo, e de
repente, vendo a boneca ao lado da menina, bateu na testa, numa grande
alegria :
— E esta ! Pois não é que é Narizlnho Rebitado, a nossa amlguinha
de todos os dias? Bello encontro! V ou convidal-a a visitar o Reino das
N ARIZINHO ARREBITADO
exclamou :
— Com todo o prazer! Estou ás tuas ordens, amavel principe das
Escamas de Prata.
Dizendo isto, ergueu-se,
deu-lhe o braço, e seguidos pela
Emilia, que, muito têsinha, ia
atraz feito criada, foram-se os rr>llllllllll/'l
dois, como um casal de namo
rados, em direcção ao Reino das
Aguas Claras.
Depois de muito cami
nhar, chegaram a uma grande
pedreira, numa curva do ribeirão.
— A entrada do meu
reino é por aqui, disse Escamado,
apontando uma furna entre as
pedras e dando a mão á menina
para ajudal-a a subir. Entraram.
Mas a escuridão era peior que a
10 A MENINA DO
— Vamos acor-
dal-o agora, disse Esca
mado, pespegando-lhe um
formidável pontapé na \
barriga.
— Hum! gemeu 'v / r <
o sapo, arregalando os ■/i
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olhos e abrindo a bocca,
espantado de ver o principe
>»T^
em companhia d uma me
nina desconhecida e d uma
senhora boneca muito en
vergonhada de achar-se em
fralda de camisa. Escama A
do, muito têsinho, engros
sou a voz e ralhou:
— Bella c o u s a ,
mestre Agarra. Vestido de mulher, você o guarda do palacio!
__ Vestido de mulher ? Eu ? disse o sapo espantado.
— Mire-se neste espelho, disse o príncipe.
Só então o sapo percebeu a judiaria de que tinha sido victima. Ficou
apalermado, a olhar para o principe, para a menina e para o espelho, sem nada
comprehender do caso.
— Agora, por castigo, disse o principe, em vez das cincoenta
12 A MENINA DO
moscas do nosso trato, vae engulir hoje cincoenta pedrinhas redondas, ouviu?
O sapo derrubou um grande beiço, e foi encorujar-se a um canto,
muito desconsolado da vida, emquanto Narizinho ria a mais não poder.
Em seguida Escamado abriu a porta e, dando a mão á menina, introdu-
ziu-a numa grande sala onde havia um throno.
E aqui a sala do governo, onde dou audiências aos meus súbditos
e distribuo justiça, castigando os mãos e premiando os bons.
Sentou-se no throno e bateu, com um martellinho de prata, très pancadas
num gongo de bronze: pom ! pom! pom ! Immediatamente surgiu um desta
camento de grillos fardados sob o commando do capitão Gafonhoto. Pcrfilaram-se
todos e ficaram immoveis como se fossem de páu.
Adeante-se ! ordenou o príncipe. O capitão adeantou-se e veiu
postar-se em frente do throno.
NARIZINHO ARREBITADO 13
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ícsta como nunca liouvc iyual. Avise a côrlc e dê as ordens necessárias, inas
antes de nada, mande vir o coche real. O capitão saudou militarmente e sahiu
acompanhado dos guardas.
Não demorou muito e uma carruagem appareceu á porta, puxada por
très fiarelhas de lambarys.
Servia de cocheiro um bello camarão de libre vermelha, muito teso no
no alto da boléa. Mal o principe e a menina entraram na carruagem, mestre
Camarão estalou o chicote e os lambarys partiram como raios.
A E N F E R M A R IA
dos doentes. Os dois bagres de barriga amarella estavam numa das camas,
embrulhados em très cobertores, muito pallidos e suando em bicas. Escamado
tomou-lhes o pulso e viu que tinham febre alta.
— Queira Deus não batam as botas ! . . . disse elle para Narizinho. O
doutor Caramujo é um grande medico mas os doentes d elle morrem todos...
Não tem sorte nenhuma. . .
Mais adeante, em outra cama, gemia o pae-barata, ferido mortalmente
pela rã verde.
— Como vae este freguez ? perguntou o principe.
— Muito mal, respondeu Caramujo. Quebrou cinco pernas, rasgou uma
asa, e está todo arrebentado por dentro. Dei-lhe as pilulas de mestre Escara
velho mas não tenho esperanças de salval-o.
— Já se confessou ? indagou o principe.
— Confessou-se agorinha
mesmo e vae commungar neste ins
tante. Ahi vem Frei Louva-a-Deos
com os sacramentos.
Nern bem pronunciara o
medico taes palavras, eis que entra
Frei Louva-a-Deos, acompanhado
dum mosquito coroinha. Era tão
triste a scena que Narizinho sentiu
vontade de chorar. O frade animou
o doente, falou da belleza do céo
c offereceu-lhe a hóstia sagrada ;
uma escamazinha de peixe. Nem
podia sentar-se na cama, o pobre.
Foi preciso que as irmãs enfermeiras
/6 A MENINA DO
X — Antes assim,
disse o medico. Si sarasse,
que triste vida seria a sua,
j só no mundo, sem mulher,
nem filhos...
T o d o s concorda
ram, enxugando cada um a
sua lagrima. O principe, depois de ordenar o enterro, perguntou a mestre Caramujo:
— E os outros doentes, doutor
— O s outros?... os ou
tros morreram, respondeu elle um
tanto enfiado.
Escamado piscou para a
menina como quem diz : “V ê ?
ninguém escapa das mãos delle...”
e convidou-a a retirar-se. Antes
de sahir, porem, Narizinho espiou
pela janella e viu a rã assassina
pendurada pelo pescoço a balan-
çar-se no galho dum espinheiro.
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Teve dó, mas lembrando-se do
iii)
pae-barata moribundo, disse com- ' V ..
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sigo: — Bem feito!
NARIZINIIO ARREBITADO 17
N O P A L A C IO R E A L
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Narizinho, encantada,
batia palmas a cada novidade
e ria-se muito das graças e
micagens que o bôbo da corte
fazia. Este bôbo era o carun A',
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cho Carlito Pirolito, um cor-
cundinba pegado dentro dum 3
cf;
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caroço de milho e criado pe r*
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lo p r i n c i p e para divertir a
corte. Durante o jantar sen
tou-se ao lado de Narizinho e
não parou de fazer diabruras
e molecagens o tempo todo.
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laços de fita nas asas.
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Moscas
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Afinal o principe
deu ordem para a qua
drilha. A orchestra rom
peu uma composição do
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maestro Colleirinha e os
cavalheiros principiaram a
NARIZINHO ARREBITADO 25
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à ^ - -,
tirar as damas. Quem marcava era um faceiro tangará, famoso mestre sala
da corte. Nanzmho, sentada no throno, estava doidinha por dançar. Mas a
quadrilha passou-se e ninguém veiu tiral-a. Logo depois, entretanto, a orches
tra rompeu a Valsa Real e o principe, levantando-se, disse á menina:
— É chegada a nossa vez. Quer dar-me a honra desta valsa ?
Respondeu o caramujo :
— Talvez me sahisse melhor do que um cascudo da tua marca! E
cada um riu-se lá por dentro da triste figura que faria o outro, porque no
reino dos animaes, bem como entre os homens, ninguém se conhece.
Terminada a valsa Narizinho voltou para
o throno e assistiu a uma polka dançada por um
caranguejo e uma latorana vermelha, muito gor
da, de grande faixa de gorgorão na cintura.
Apesar do respeito devido ao principe,
a côrte riu-se a mais não poder, e Narizinho che
gou a perder o folego. Porque não havia nada
mais comico do que o senhor caranguejo a pu
lar passos de polka nos braços da senhora tato-
rana, que suava em bicas numa grande afobação.
Quando a musica parou, a dama nem suster-se em pé podia, de tão cançada,
e foi preciso carregarem-na a braços e entregal-a aos cuidados do doutor Ca
ramujo. Depois desse comico incidente, surgiram na sala as bailarinas libeli
nhas. Uma azul, outra vermelha, outra verde esmeralda, todas muito leves-
e nervosas, começaram a bailar, treme-tremendo as lindas asas transparentes.
T ã o vivos e rápidos eram seus movimentos que aquillo mais parecia um bai
lado de raios de luz viva
mente coloridos.
Foi um deslumbra
mento. E estavam todos no
maior encanto, suspensos no
ar pela admiração, quando
se ouviu barulho d’uma cor
reria em frente do palacio.
NARIZINHO ARREBITADO 27
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V
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28 A MENINA DO
D E P O IS D A F E S T A
N cama servidas por criadas abelhas, muito galantes em suas toucas en-
tiotadas. Estavam ainda nervosas do grande susto da vespera. O dou
tor Caramujo receitou-lhes Biotonico, recommendando passeios pelo campo.
Narizinho, depois de tomar o remedio, saiu em companhia de Dona Aranha
NARIZINHO ARREBITADO 31
tavam v e s t i d o s em
o
E m i 1i a . A meni
na p e d i u n o t i c i a s
do principe. Disse
ram-lhe que tinha sa-
hido de viagem para
as fronteiras afim de
o r g a n i z a r a defesa
contra a invasão de
outros monstros. Narizinho sus:
pirou de saudades e disse :
— Vou confessar-te,
amiga aranha, o meu grande
segredo. Desde hontem que
4
A’» me sinto apaixonada pelo prin
cipe. .. Disse e corou. A A ra
nha sorriu-se e respondeu:
áte — E elle muito me
rece o amor da menina, por
i/ que não existe no mundo in
teiro principe mais valoroso.
o . Meu desejo é que se casem
porque do contrario o principe
O
é capaz de engraçar-se d’ al-
32 A MENINA DO
guma barata e o reino sofíreria a vergonha de ser governado por uma rainha
que volta e meia perde a casca . . .
E assim, conversando, caminhavam as duas pelas alamedas muito lim-
pinhas e bem arrumadas do jardim. Todas as manhãs as formigas corriam
o parque inteiro catando todos os cisquinhos, aparando os gramados e dei
xando tudo que era um primor. Havia um lago á beira do qual pararam,
mirando-se no espelho liquido. Estavam pensativas ambas: Narizinho com sau
dades do principe e a Aranha com saudades das sessenta filhas papadas por
mestre sapo. Nisto ouviram um gemido a certa distancia. Approximaram-se.
Era mestre Agarra que alli gemia com uma harriga enorme estufada de
pedrinlias.
— A i de mim, chorava elle, que não posso nem andar!... Menina
dos cahellos de
/ ouro, tenha dó
deste pobre sapo
e peça ao prín
V
/ ff,
cipe que me per
y doe ! . . .
Narizinho
tinha bom cora
ção c, compade
cida da miséria
U yt *
do infeliz animal,
prometteu inter
... vir em seu favor.
— V e ja ,
disse ella á A ra
-d
nha, este coita-
NARIZINHO ARREBITADO 33
e comem cadaveres de
animaes. Já tive minha
teia num açougue da
cidade e todas as noi
tes via chegar um car- t*
•...
roção cheio de cadave-
res de bois, carneiros e y / 7
porcos esfolados, que j
^sí
um homem, chamado
açougueiro, todo sujo
de sangue, vendia aos
pedacinhos ás criadas
de cesta.
34 A MENINA DO
Perdoas também ?
— Nunca ! respondeu a aranha. Não posso esquecer dos meus filhos...
36 A MENINA DO
¥Â
,AV-w-ii»W
A FESTA V E N E Z IA N A
e ssa noite houve uma pequena festa nocturna nos jardins do palacio.
A TRAM A
a noite desse m
N d i a estava
Na r i z i n h o
no melhor do somno
quando acordou com
uma batida na ja-
nella.
T o c ! . . . toc !..
38 A MENINA DO
J — Tu me salvaste a
vida, respondeu o sapo, e eu
quero salvar a tua. Escuta lá.
Depois que me tiraram as pe-
^ drinhas da barriga, eu sahi do
__________ ^ jardim e íui encorujar-me num
canto escuro para sarar da cor-
tadura com todo o meu socego,
procurando para esse fim uma tóca de pedra. A chei uma tóca a meu geito, i' í
e lá estava a cochilar quando á meia noite ouvi rumor de vozes ao lado.
Como sou muito curioso, encostei o ouvido a uma fresta e puz-me a escutar.
Essa fresta ia ter ao cárcere do Escorpião Negro. A principio me pareceu
que o monstro cego falava comsigo mesmo. M as não era assim. O monstro
conversava com o capitão da guarda, cuja voz conheço muito bem. Estavam
conspirando contra o pnncipe, e muito tempo levaram combinando os planos
duma revolta afim de matar o principe e enforcar todos os nobres do reino.
Combinaram também que subina ao throno o Escorpião cego, sendo Narizi
nho obrigada a casar com elle.
NARIZINHO ARREBITADO 39
m m ^
assustado, pulou da ca'
1^^ ma de espada na mão e
vendo em sua frente Na
rizinho em camisola, mais
O C A S T IG O
- O i.:
NARIZINHO ARREBITADO 41
H Oi. ______
JSDrrvj;
M O N T E IR O L O B A T O E O D IR E IT O D E SO N H A R
Monteiro Lobato começou a se interessar por lite surpreso com a repercussão alcançada. Nunca
ratura infantil por volta de 1912, segundo Leo supusera que fosse tão fácil imprimir e vender um
nardo Arroyo, no seu excelente Literatura Brasi livro. E não imaginara que uma coisa feita tão
leira Infantil Nas cartas a Godofredo Ran despretensiosamente alcançasse tanto êxito” . É
gel, comunica-lhe a idéia que começa a germinar: quando Lobato começa a considerar seriamente a
escrever um romance para crianças. Pensava a possibilidade de tornar-se um editor. Ocorre ao
princípio em transformar o mito popular de Pedro mesmo tempo o convite de Julio Mesquita e Al
Malasartes numa réplica nacional do Barão de fredo Pujol para assumir a direção da Revista do
Münchhausen. Na verdade, tinha vários outros Brasil, que vinha sendo publicada desde 1916 pelo
projetos sem se fixar em nenhum. LFmdeles era por grupo do grande jornal. A Primeira Guerra Mun
exemplo “vestir à nacional as velhas fábulas de dial como que alertara os intelectuais para o de
Ésopo e La Fontaine, tudo em prosa e mexendo bate dos problemas nacionais. Julio Mesquita, em
nas moralidades. Coisas para crianças” . E confes editorial publicado n‘0 Estado de São Paulo, ex
sava ao amigo o quanto se impressionava da aten pôs o programa do novo periódico: “O que há por
ção curiosa com que os seus filhos ouviam as fá detrás do título desta Revista e dos nomes que a
bulas tal como eram narradas pela mãe. No en patrocinam é uma coisa simples e imensa: o desejo,
tanto, ainda estava em dúvida por onde começar. a deliberação, a vontade firme de constituir um
Em 1917, aparece voltado para uma nova temá núcleo de propaganda nacionalista. Ainda não
tica, que o fascinava: o saci-pererê. Perguntava somos uma nação que se conheça, que se estime,
então a Godofredo Rangel: como seria o saci em que se baste, ou, com mais acerto, somos uma
Minas Gerais? “Minha idéia, dizia ele, é de que se nação que ainda não teve o ânimo de romper sozi
trata de um molecote pretinho, duma perna só, nha para a frente numa projeção vigorosa e fulgu
pito aceso na boca e gorro vermelho” . Dessa preo rante da sua personalidade. Vivemos desde que
cupação, que passa a dominá-lo, surge a pesquisa existimos como nação, quer no Império quer na
sobre o saci, que publica, sem assinatura, na República, sob a tutela direta ou indireta, se não
edição vespertina de O Estado de São Paulo, O política ao menos moral do estrangeiro. Pensamos
Estadinho, e depois em livro: O Saci-Pererê — pela cabeça do estrangeiro, vestimo-nos pelo al
resultado de um inquérito . faiate estrangeiro, comemos pela cozinha estran
geira e, para coroar essa obra de servilismo cole
Foi do sucesso da publicação desse volume de 291 tivo, calamos, em nossa pátria, muitas vezes, den
páginas, pago do próprio bolso, que nasceu o tro dos nossos lares, a língua materna, para falar a
editor. A primeira edição foi de 5.300 exemplares, língua do estrangeiro!” . Mas advertia Julio Mes
conta o seu biógrafo Edgard Cavalheiro: “Ficou quita, a respeito da Revista do Brasil: “O seu
48 M O N T E IR O L O B A T O
nacionalismo nâo é porém e nâo será nunca uma nha, Os Sertões. Desde os primeiros anos da Repú
forma de hostilidade ao estrangeiro. Não quere blica, Rondon havia iniciado a sua obra gigantesca
mos isolar o Brasil da humanidade, o que seria um de penetração dos sertões reconhecida e valorizada
disparate, nem podemos negar a dívida de civili pelo Presidente Afonso Pena e atraíra para a sua
zação que nos prende ao estrangeiro” campanha intelectuais e cientistas e até um antigo
Nacionalista mas não chauvinista, a Revista do presidente dos Estados Unidos, Teodoro Roose
Brasil congregará rapidamente a nata da intelli velt. É de 1916 o livro de um antropólogo de
gentzia de São Paulo e do Rio de Janeiro, diria 32 anos, Roquette-Pinto, Rondônia, notas de uma
expedição, por assim dizer uma suite de Os Ser
mesmo de todos os Estados. Nos primeiros nú
tões, em favor agora do indígena, em desamparo
meros formam entre os seus colaboradores alguns
talvez maior que o do caboclo das caatingas do
dos escritores mais prestigiosos do país, o cearense Nordeste*. Havia pois razões para lutar e ter espe
Capistrano de Abreu, o pernambucano Oliveira ranças. Foi nesse clima que se criava contra o ma
Lima, os cariocas Roquette-Pinto e João Kopke, rasmo, que se seguiu à decepção da derrota de Rui
o paranaense Rocha Pombo, o baiano Teodoro Barbosa nas eleições de 1910, que Monteiro Lo
Sampaio, o mineiro Afonso Arinos, sem esquecer o bato aceitou o convite de Julio Mesquita e resolveu
jovem Alceu Amoroso Lima, que ainda não havia adquirir a Revista do Brasil. “Em lugar da di
adotado o pseudônimo que o tornaria famoso: reção, propõe a compra da empresa. A experiência
Tristão de Athayde. A esse conjunto de escritores com a edição de Saci-Pererê fora animadora. Ad
da mais alta categoria, poderiamos acrescentar os quirindo a Revista do Brasil poderá torná-la a base
nomes de Pedro Lessa e Pandiá Calógeras, Olavo editorial que há tempos vem acalentando. O ne
Bilac e L u í s Pereira Barreto, Artur Neiva e Plínio gócio é definitivamente resolvido em maio de 1918;
Barreto. Mesmo assim, receio que a lista não esteja
por dez contos de réis uma assembléia extraordi
completa'*.
nária transfere a propriedade do mensário a Mon
A Primeira Guerra Mundial, volto a insistir nesse teiro Lobato” ’.
ponto, viera, de certo modo, despertar da aliena
ção em que viviam as classes cultas, pela voz de Somente em julho de 1918, aos 36 anos de idade,
José Veríssimo, na série de artigos que precedeu é que Monteiro Lobato surge em livro, com uma
a organização da Liga Pelos Aliados, logo no início brochura intitulada Urupês^. O acolhimento unâ
do conflito. A Liga de Defesa Nacional antecede nime do público e da critica para o escritor que
porém o movimento liderado por Veríssimo e que, estreava consagrado veio acompanhado de um
após a sua morte, naquele mesmo ano de 1916, espetacular êxito comercial do editor. O livro já
teria como continuadores Rui Barbosa, Sá Viana e estava em 3? edição quando a ele se refere Rui
Miguel Calmon. Este seria também um dos arau Barbosa no seu segundo discurso da campanha
tos da campanha pelo serviço militar obrigatório, presidencial de 1919, o discurso pronunciado no
através da Liga de Defesa Nacional, ao lado de Teatro Lírico, sobre a questão social. A figura do
Pedro Lessa, da qual Olavo Bilac foi o grande Jeca-Tatu logo conhecida ganhou popularidade. O
propagandista, em discursos que inflamaram os pronunciamento de Rui Barbosa foi um pé-de-
estudantes no Rio de Janeiro e em São Paulo, em vento que faz esgotar rapidamente a terceira edi
Porto Alegre, Curitiba, Santos e Belo Horizonte. ção, diz Lobato ao amigo Godofredo Rangel: “Es
Outra campanha paralela, a do saneamento, ou tou apressando a quarta edição, que irá do 8? ao
sanitarista, defendia a necessidade da luta contra 12? milheiro. Tiro-a, agora, aos quatro mil. E isso
as enfermidades endêmicas, como a ancilosto antes de um ano, hein!”’ . Ê um milagre, dirá mais
míase, a varíola e a doença de Chagas, que imor tarde Gilberto Freyre, ao escrever sobre apareci
talizou Carlos Chagas, ao grito de Miguel Pereira: mento de Urupês.
o BrasU é um vasto hospital *. O personagem criado por Monteiro Lobato era
Dir-se-ia que o litoral novamente se voltava para a tirado da vida real. No Estado mais rico da fede
imensidão do interior esquecido pelos governos, do ração, o trabalhador rural vegetava em condições
sertanejo abandonado, que em 1902 tinha sido subumanas, enquanto prosperava a lavoura do
lembrado pelo livro vingador de Euclides da Cu café gerando a riqueza em torno da qual se movi-
49
E O D IR E IT O D E SO N H A R
mentava a política brasileira, decidia-se a sorte dos proibido falar. O mais ilustre dos seus biógrafos
governos, distribuíam-se os altos cargos do Minis retraça numa síntese o quadro da situação pohtica
tério da Fazenda e do Banco do Brasil. O pobre e a posição do estadista, ainda na plenitude dos
Jeca-Tatu foi tema de polêmicas patrioteiras nas seus recursos oratórios e da capacidade de lutar até
tribunas da Câmara e do Senado. O deputado pelo o fim, mesmo para uma causa perdida. É Luis
Ceará Ildefonso Albano deblaterou contra a dis Viana Filho quem escreve: “Não perdera sequer
torção paulista e apresentou como o oposto do aquele tom profético, que tanto incomodava os
Jeca-Tatu o trabalhador nordestino simbolizado adversários. Agora prevê a nação rebelando-se,
em Mané Chique-Chique, o bravo “domador do mais dia menos dia, contra a corrupção dos cos
deserto” e intrépido “ desbravador da Amazônia” . tumes políticos, que tiraram ao país o direito de
O Jeca-Tatu tinha sangue degenerado mas em govemar-se por si mesmo. Será a desordem, a
Chique-Chique concentravam-se as qualidades anarquia, a reação desordenada contra os vícios de
viris dos antigos Tabajaras, Jenipapos, Cariris, uma época. Ê possível que ele não veja mais desen
Pitiguaras e Apinajés. Também no Sul houve cadear-se a avalanche revolucionária. ‘Mas, diz no
quem reagisse contra o personagem sinistro de curso da campanha, por um que se vai, milhares
Lobato. Rocha Pombo falava com entusiasmo do de outros aí se acham para embocar os clarins de
Jeca-Leão'®. alvorada. Não deixem expirar os sons...’ Também
a questão social, ainda quase ignorada no Brasil
Essa onda patrioteira coincide com a candidatura por esse tempo constituiu o tema de um dos dis
de um homem do Nordeste à presidência da Repú cursos da propaganda. Defendendo um sistema de
blica. Epitácio Pessoa, que representava o Brasil leis ‘a cuja sombra o capital não tenha meios para
na Conferência da Paz, era o nome escolhido pelas abusar do trabalho', aventura as questões refe
oligarquias para a sucessão de Rodrigues_ Alves, rentes à saúde, habitação e seguro dos operários e
elevado pela segunda vez ao Palácio das Ãguias, não se esquecera da situação das mulheres operá
morto antes da sua nova investidura no poder. rias, para as quais pedia amparo no período da
Depois do malogro do governo do Marechal Her gravidez e dos menores, cuja idade e salário míni
mes da Fonseca, a classe política restabelecera o mos julgava caber à lei estipular” " .
pacto do café-com-leite, com o rodízio dos presi
Falava para um país de pouco mais de 30 milhões
dentes mineiros e paulistas. Primeiro Venceslau
de habitantes, onde o índice de mortalidade infan
Brás, em seguida Rodrigues Alves. Mas o homem
til era sem falsa retórica terrivelmente alarmante e
de São Paulo, pontífice máximo do PRP, que vol
desolador. Em 1920, com as deficiências reconhe
tara a governar o Estado ainda coberto das glórias
cidas na coleta de dados pela Diretoria Geral de
do seu quatriênio, envelhecido e doente, parecia
Estatística, foram registradas na região Norte
não ter mais condições para suceder Venceslau
2.119 nascimentos e 27.390 mortes, num total de
Brás quando o escolheram para a segunda presi
mais de 12 milhões de habitantes. Na região Sul,
dência. A 16 de janeiro de 1919, sem ter podido
foram registrados 229.195 nascimentos e 101.367
assumir o governo, Rodrigues Alves faleceu. mortes. “ Levando a sério esses dados, — conclui
Roquette-Pinto ao examinar essas cifras — esta
Rui Barbosa declinara de ser o delegado do Brasil
ríamos desaparecendo!” E aponta o autor de Ron
à Conferência da Paz. O seu nome é lembrado dônia o grave problema das migrações internas,
mais uma vez. As oligarquias não o aceitam. Mes
sobretudo o caso dos sertanejos, que as secas
mo assim o pacto entre Minas e São Paulo se impelem a procurar as terras do Sul, paradoxo
cumpre, através de um candidato do Norte, Epitá
trágico que denuncia a falta de organização social
cio Pessoa, o mesmo que se encontrava em Ver
e deve ser denunciada como cheia de complicações
salhes, como delegado do Brasil, na conferência
que decidirá a sorte da Alemanha vencida e tra futuras. “A gente que emigra do Norte é a mesma
çará os novos rumos da política internacional. Mas que há uns cinqüenta anos começou a conquista da
Rui Barbosa aceita o desafio. “ Às vezes, luta-se Hiléia Amazônica. É sóbria, resistente, dedicada,
para perder” , dissera. Vem agora com uma nova corajosa. Mas do ponto de vista cultural não está
bandeira: a questão social, até então menospre em fase, quanto ao trabalho agrícola, com as
zada pela situação política, um tabu de que era populações das zonas meridionais. É uma verdade
50 M O N T E IR O L O B A T O
que ninguém discute. A defasagem social explica o João Mangabeira, essa campanha é mais fulgu
paradoxo” '^. rante que a civilista” *'*.
Vale lembrar aqui a denúncia de um outro escritor O certo é que seis meses após o lançamento de
citadino, mas que vivia na área suburbana do Rio Urupês, venderam-se 10.000 exemplares do pri
de Janeiro, sempre esquecida e maltratada nas meiro livro de Monteiro Lobato. E hoje — dizia
suntuosas reformas urbanas que se ensaiaram, nas Edgard Cavalheiro em 1955 — “não é fácil uma
duas primeiras décadas do século, os famosos estatística precisa a fim de sabermos quantos mi
Melhoramentos, que na verdade procuraram sem lhares de exemplares circulam por aí” '*. Mas
pre isolar e esconder as zonas da pobreza e até da Urupês não interrompeu a sua trajetória que se
miséria. A situação do interior, afirmava Lima prolonga até os nossos dias, mesmo incorporado
Barreto, não é diferente: "O pária agrícola (cha aos volumes de contos leves e pesados, na classi
mam lá colono ou caboclo), quando se estabelece ficação do próprio autor, ao organizar as suas
nas suas propriedades, tem todas as promessas Obras Completas, edição da Brasiliense, de São
e garantias verbais. Constrói o seu rancho, que é Paulo. Está longe de perder a atualidade e se
uma cabana de taipa coberta com o que nós cha incluem entre os sucessos de livraria, na termino
mamos de sapê, e começa a trabalhar para o barão logia peculiar a esse tipo de negócios. Mais do que
desta ou daquela maneira (...). Mas posso asse isso: está entre os nossos clássicos. Oswald de
verar que o trabalho agrícola — esteja o café em Andrade, num daqueles rasgos tipicamente oswal-
alta, esteja na baixa, suba o açúcar, desça o açúcar dianos, dá a Urupês posição singular na literatura
— há trinta anos ganha o mesmo salário” , salário, brasileira, é ele o verdadeiro Marco Zero de Os
já se vê, irrisório, e assim mesmo a seco, sem wald de Andrade” , ou seja, como que cedendo a
direito à alimentação. E Lima Barreto acrescen prioridade de ter sido o iniciador do movimento
tava: “A Terra vive na pobreza; os latifúndios renovador. “Não venho retificar, e sim esclare
abandonados e indivisos; a população vive sugada, cer” , acrescenta Oswald de Andrade: “De fato,
esfomeada, maltrapilha,- macUenta, amarela, Urupês é anterior ao Pau Brasil e à obra de Gilb-
para que, na sua capital, algumas centenas de berto Freyre” *‘ . Podería completar a retificação:
parvos, com títulos altissonantes, doutores disso e Urupês veio antes de Macunaíma e dos romances
daquilo, gozem vencimentos, subsídios, dupli sociais do Nordeste. Na época, Alceu Amoroso
cados e triplicados, afora rendimentos que vêm de Lima falou na “fulminante popularidade” do es
outra e qualquer origem, empregando um grande critor. E João Ribeiro chamou a Urupês “nossa
palavreado de quem vai fazer milagres” . magna-carta, documento da nossa independência
Ê força reconhecer que a situação não mudou cultural”
muito. Em nossos dias, as condições sociais das Monteiro Lobato destoava dos escritores da sua
classes assalariadas pouco progrediram. Mas pelo geração — todos ou quase todos anatolianos —
menos a nação começou a reagir, com o final da ele próprio seria rotulado equivocadamente como
Primeira Guerra Mundial. O livro de Monteiro um anatoliano — porque cedo tornou-se afeiçoado
Lobato representa um papel importante nesse con da literatura inglesa e norte-americana. Em 1907
texto. Urupês veio alertar mais uma vez o pais. lia e elogiava Mark Twain, uma das mais fortes
E encontrou no verbo de Rui Barbosa, no crepús influências que assimilou, antes mesmo de dedi
culo da sua vida de lutador sempre vencido, mas car-se à literatura infantil, como o demonstrou em
sempre disposto a retomar a sua constante batalha ensaio realmente notável Cassiano Nunes, num
contra a corrupção, a incompetência e por fim trabalho de literatura comparada, que faz lembrar
contra a injustiça social, vindo ao encontro das os melhores momentos de um Augusto Meyer e um
reivindicações do proletariado, não só o das ci Eugênio Gomes. No período do aprendizado, é
dades, como o do interior. Monteiro Lobato, na visível a marca de Camilo Castelo Branco, mas
juventude, ficara ao lado de Rui Barbosa, na acabou se curando desse sarampo literário, mo
campanha civilista, como apoiará a campanha de delo de tantos escritores brasileiros da nossa belle
1919, sempre ao lado de Rui, agora contra os époque, tal como o fora Fialho de Almeida, para os
oligarcas que defendem a candidatura de Epitácio jornalistas que se armavam cavaleiros e se exer
Pessoa. "Do ponto de vista democrático, assinalou citavam nos folhetins panfletários. Pode-se dizer
51
E O D IR E IT O D E SO N H A R
que, além de Mark Twain, Monteiro Lobato rece maravilhosas ilustrações de Voltolino, eliminadas
beria o grande impacto na sua formação quando em edições futuras. Que teria acontecido com Vol-
descobriu Machado de Assis. Em 1906, escrevia a tolino?“ A tiragem é de 60.000 exemplares, se
Rangel: “Tenho lido muito em inglês — viagens. gundo os arquivos da gráfica“ , retificando Ed-
Enjoei-me do francês” '•. Quanto a Machado de gard Cavalheiro, que registra 50.000, assim mes
Assis, dirá mais tarde: “Não conheço melhor mo mo coisa verdadeiramente fantástica não só para
delo. Camilo ainda me choca, é muito bruto, aqueles tempos, mas até mesmo para os nossos
muito português de Portugal, e nós somos daqui. dias. Pois bem. A tiragem monstro, verdadeira
Machado de Assis é o clássico moderno mais per loucura editorial, esgotou-se em oito ou nove me
feito e artista que possamos conceber. Que pro ses. Lobato reservaria 500 exemplares para distri
priedade! Que simplicidade! Simplicidade não de buição, como propaganda, para todos os grupos e
simplório, mas do maior dos sabichões. Ele gasta escolas públicas do Estado. Esse golpe do editor,
as suas palavras como um nobre de raça fina que ainda não ocorrera a nenhum outro por consi
gasta a sua fortuna e jamais como o parvenu, o derá-lo destituído de espírito comercial, inútil e
upstart, que começou vendeiro da esquina e acaba dispendiosa quixotada, acabou dando certo.
comprando um título de barão do Papa” . Edgard Cavalheiro, na biografia tantas vezes ci
Era assim Monteiro Lobato. Daí o seu pragma tada, conta a bela aventura, segundo depoimento
tismo sonhador, ao mesmo tempo homem de ne do próprio Lobato. Narizinho nascera de estrela na
testa. Um dia, o Dr. Washington Luis, presidente
gócios e escritor. Absorvido pelos trabalhos da sua
de São Paulo, saiu a percorrer os grupos escolares
editora, que em março de 1919 foi registrada com a
da capital em companhia de Alarico Silveira, en
marca Monteiro Lobato & Cia., nem por isso
tão Secretário do Interior. Notou o presidente que
deixaria Lobato de tomar o seu cafezinho no Gua
em todas as escolas havia um livrinho de leitura,
rani, ponto de encontro dos intelectuais de São extraprograma, muito sujinho e surrado, que era o
Paulo, ou de empenhar-se, mesmo no escritório, preferido da criançada. “ Se este livro anda assim
em renhidas partidas de xadrez com José Maria de tão escangalhado em tantos Grupos, observa o Dr.
Toledo Malta. O escritor que se escondia sob o Washington Luis, é sinal de que as crianças gos
pseudônimo de Hilário Tácito havia publicado um tam dele. Indague de quem é e faça uma compra
dos mais interessantes romances, retratando a
grande, para usar em todas as escolas” . No dia
vida mundana e política de São Paulo, Madame
seguinte Alarico Silveira telefonou ao editor, pe
Pommery, e mais tarde reunirá em três volumes de
dindo-lhe que passasse na Secretaria. Contou-lhe
excelente tradução uma seleta dos Ensaios de
Montaigne“ . Pois foi entre dois lances de uma então das visitas da véspera e da opinião do Presi
dessas partidas de xadrez que Malta contou a dente, e concluiu: “Quantos exemplares desse li
Lobato a história de um peixinho que por haver vro você pode vender ao governo?” Uma per
passado algum tempo fora d’água ‘desaprendera gunta, assim à queima-roupa, conta Lobato, a um
de nadar’, e de volta ao rio se afogara. Foi um es editor que está atrapalhado com a maior vasante
talo. Diz Lobato que naquele dia perdera a partida nasal da sua vida, é coisa de estontear. Pisquei sete
de xadrez, “talvez menos pela perícia do jogo do vezes e respondi: “ Quantos quiser, Alarico. Temos
Malta do que por causa do peixinho. O tal pei narizes a dar com pau. Posso fornecer cinco mil,
xinho pusera-se a nadar em minha imaginação; dez mil, trinta m il...” Alarico Silveira pensou que
e quando Malta saiu, fui para a mesa e escrevi a fosse brincadeira e, para pilhar-me, disse: “ Pois
‘História do Peixinho que Morreu Afogado’ — manda trinta mil exemplares ao almoxarifado” .
coisa curta. Do tamanho do peixinho. Publiquei Veio nesse momento o café, mudamos de assunto e
logo depois sai. Quando no dia seguinte o almo
isso logo depois, não sei onde. Depois veio-me a
xarifado recebeu os trinta mil narizes, houve
idéia de dar maior desenvolvimento à história, e ao
alarme por lá. Telefonaram ao Secretário, o qual
fazê-lo acudiram-me cenas da roça, onde eu havia
também me telefonou. “Lobato, então era verdade
passado a minha meninice” .
a história dos trinta mil?” — “Claro, Alarico.
Nasceu assim a primeira versão de A Menina do Onde se viu blefar para cima de um Secretário
Narizinho Arrebitado, que logo se publicou com as como você?” E ele: “ Pois só agora depois da tele-
52 M O N T E IR O L O B A T O
fonada do almoxarifado é que estou acreditan plares, ensaiara com Lobato tiragens jamais alcan
do...” 2^. çadas, como a de U rupêstA Menina do Narizinho
Logo em seguida, aparecem O Saci e Fábulas, na Arrebitado. Em fins de 1925, já circulam 250 mil
verdade os volumes que estavam planejados antes exemplares das obras de Monteiro Lobato. O edi
do estouro á t Narizinho. Leonardo Arroyo consi tor já tinha publicado até então mais de 500 tí
tulos de autores brasileiros, em apenas sete anos,
dera O Saci “ um dos mais belos trabalhos da lite
desde a aquisição da Revista do Brasil em 1917.
ratura infantil brasileira” . Esses primeiros volu
A empresa tem agora novos sócios, Paulo Prado e
mes continuam ainda sendo ilustrados por Volto-
José Carlos de Macedo Soares. O primeiro assume
lino. Ao mesmo tempo, publica/afcu/as. “Tomei
a direção Revista do Brasil. O segundo torna-se
de La Fontaine, — explica Monteiro Lobato, o
presidente da companhia editora, que se instala
enredo e vesti-o à minha moda, ao sabor do meu
afinal na Rua Brigadeiro Machado, no Brás, com
capricho, crente como sou de que o capricho é o
oficinas próprias, em prédio de 5.000 m^ de área
melhor dos figurinos. A mim me parecem boas e
bem ajustadas até o fim — mas a coruja sempre coberta. Todo cheio de máquinas. “Gozamos de
acha lindos os filhotes” . Estava de fato entusias um prestígio formidável que cada dia mais se di
mado com o sucesso dos livros infantis. Mesmo funde. As nossas edições são vendidas com grande
assim ainda tinha dúvidas se havia encontrado o sucesso por todos os recantos do país e tal é o nosso
caminho certo. E consultava o amigo Godofredo conceito que o público compra os nossos livros,
Rangel, pedindo todo o rigor no julgamento. Que muitos de autores desconhecidos, só por saber que
ria a sua “impressão de professor acostumado a é edição nossa” . Mas, diz ele, “agora devemos mi
lidar com crianças. Experimente nalgumas, a ver lhares de contos. Há lá um mundo de linotipos e
se se interessam. Só procuro isso: que interesse as prelos e o diabo, adquiridos a prazo. O prédio é
crianças” “ . No entanto, é evidente que Lobato uma beleza — é um monstro. Adquirido também
encontrara a sua verdadeira vocação de escritor, — e a pagar-se em prestações mensais de contos e
mais ainda que na literatura dita para adultos, um contos” ” .
escritor para crianças, que se ia realizar em pleni Octalles Marcondes Ferreira, o Sancho Pança
tude. Mais ainda do que em todas as atividades em desse Dom Quixote, fiel escudeiro, acompanhava
que se havia empenhado até aquela altura da vida, atento todas as loucuras do cavaleiro do Vale do
ou mesmo depois: estudante de direito, promotor Paraíba. Era o seu braço direito. Entrara para a
público, fazendeiro, jornalista, editor ou nas expe editora com 14 anos. Com o tempo, trabalhava
riências futuras como empresário, organizador de como simples auxiliar de escritório, passou depois
companhias de siderurgia ou de petróleo. a chefiar a contabilidade e por fim passou a dirigir
Disse acertadamente Leonardo Arroyo: “ Resol toda a produção gráfica da empresa. Estava a par
vera entrar pelo caminho certo: literatura para de todo o negócio, que ia de vento em popa, mas
crianças, e parece que Lobato já então começa a aconteceu um fato inesperado. Em julho de 1924,
convencer-se disso: “De escrever para marmanjos irrompeu em São Paulo a revolução chefiada pelo
já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para as crian General Isidoro Dias Lopes, no momento da mu
ças, o livro é todo um mundo. Lembro-me de como dança do governo do Estado. Saía Washington
vivi dentro do Robinson Crusoé, do Laemmert Luis e entrava Carlos de Campos. São Paulo já era
(refere-se, é claro, ao editor brasileiro da obra- então uma cidade de 700.000 habitantes, com uma
prima de Daniel Defoe, Eduardo Laemmert, tra grande concentração operária. O café estava em
duzida por Carlos Jan sen )^. Ainda acabo fazendo crise. A população vivia inquieta, na expectativa
livros onde as nossas crianças possam morar. Não de novas greves. Com a rebelião dos quartéis e a
ler e jogar fora; sim morar, como morei no Robin descida dos soldados, São Paulo foi ocupada em
son e no Os Filhos do Capitão Grant”^ . algumas horas. Vários pontos estratégicos, o corpo
de bombeiros, delegacias de policia e os Telégra
Ê preciso não esquecer que Lobato estava à frente fos, estavam em poder dos revoltosos. Q governo
de Monteiro Lobato & Cia., uma editora que teve que deixar o Palácio dos Campos Elíseos,
começara a crescer. A indústria de livros, que abandonou a cidade e instalou-se em Guaiaúna,
publicava edições limitadas a 4(X) e 500 exem na periferia da capitai que estava sob constante
E O D IR E IT O D E SO N H A R 53
bombardeio. José Carlos de Macedo Soares, presi vender em leilão os seus bens. Além dos negócios
dente da Associação Comercial e presidente tam de livros, mantinha com Octalles Marcondes Fer
bém de Monteiro Lobato & Cia. tratava de orga reira pequena casa de loterias, à Rua Direita. Da
nizar a defesa civil, prevenindo o saque e a desor venda, apuraram 100 contos de réis. E assim se
dem, negociando com os rebeldes. Após quase habilitaram ao espóho da massa falida, avaliada
vinte dias de sítio, o primeiro bombardeio aéreo em cerca de dois mil contos. Por 300 e tantos,
das forças legalistas. Logo em seguida, um comu fecham o negócio. Entram com os 800 contos,
nicado do Ministério da Guerra pedindo à popu deixando o restante para ser pago em prestações
lação que evacuasse a cidade para que as forças mensais. Foi assim dos escombros da Gráfica Edi
legalistas pudessem agir livremente contra os re tora Monteiro Lobato que nasceu a Companhia
beldes. Macedo Soares propõe a anistia aos revol Editora Nacional, a maior editora da época. Afas
tosos de 1922 e 1924. O General Isidoro estava tando-se de qualquer atividade comercial, vive
disposto a negociar a paz, desde que houvesse uma algum tempo no Rio de Janeiro, até ser nomeado
trégua de 48 horas. Só a 27 de julho, os revoltosos pelo Presidente Washington Luis adido comercial
se retiraram. A revolta deixara um saldo de 500 junto ao Consulado do Brasil em Nova York, de
mortos**. onde só retorna em 1931“ .
A cidade ainda não havia retomado o ritmo normal Vem com novas idéias, em tomo da siderurgia e
quando o governo federal decretou a moratória, do petróleo. -Empenha-se simultaneamente nas
que determinou a reabertura dos bancos, com a duas campanhas. Organiza novas empresas, mas a
ampliação dos prazos para o pagamento das dí sua luta terá um final patético em 1941, com a sua
vidas. José Carlos de Macedo Soares, que tivera prisão. Ele que pouco antes havia recusado o posto
participação decisiva na retirada dos rebeldes e de Ministro da Propaganda, a convite do ditador
nos esforços para a normalização da vida da ci que havia instaurado o Estado Novo. Positiva
dade, acabou sendo preso e processado pelo go mente, esta não seria uma história para crianças e
verno federaP'. Naquele momento, com a prisão sim um dos capítulos de uma longa e intermitente
do seu presidente, a suspensão das operações de
novela de violência e terror, somada aos muitos
redescontos do Banco do Brasil, o pânico instalou-
atentados contra os direitos humanos e a liberdade
se no sistema comercial. Tudo se agravara com a
de expressão durante o regime de exceção, entre
longa estiagem ocorrida em São Paulo, pouco
1937 e 1945. Para Lobato, é o tempo em que se
antes do movimento revolucionário, que obrigara
acumulam as desgraças que caem sobre a sua vida
a Light and Power a cortar de dois terços o forne
particular. Além dos obstáculos que se Uie ante
cimento de energia elétrica. A editora permane
põem aos projetos mirabolantes do ferro e do
cera sem produzir, durante meses, com toda uma
petróleo, assinalam-se a morte do seu filho Gui
enorme maquinaria, movida a eletricidade, para lherme, aos 25 anos incompletos (1937), o suicídio
lisada, à espera que chovesse para encher os ma do seu cunhado Heitor de Moraes, amigo dos mais
nanciais. Em junho de 1925, a situação não melho queridos (1937), a morte de mais um filho, Ed-
rava. As perspectivas eram pessimistas. Só em no gard, aos 32 anos (1943).
vembro, com a volta das águas, a Light teria
condições para suspender o racionamento. Os tí Ê convicção de Cassiano Nunes, professor da Uni
tulos vencendo, os credores apertando. Faltou a versidade de Brasília, e que se empenha em levan
Lobato — segundo o fiel Octalles Marcondes Fer tar a correspondência de Lobato, é convicção desse
reira — um pouco de calma. A situação, embora ilustre professor e infatigável trabalhador, que
dramática, podería com paciência ser superada. Monteiro Lobato foi salvo do desespero pelo tra
Encontrava-se em viagem pelo sul, quando soube balho. “Trabalho tantas vezes áspero, esgotante,
que o sócio e companheiro recorreu à falência, como foi o que realizou na qualidade de tradutor.
como única saída para a crise. A esse labor, aliás, entregou-se como a uma droga,
Monteiro Lobato dirige uma circular aos acionis nos dias de desespero, esse pai infortunado que
tas, que faz lembrar a exposição aos credores do perdeu os seus dois filhos homens, quando se
Barão de Mauá. Saíra pobre da empreitada. De encontravam em plena juventude. O seu amor ao
cide transferir-se para o Rio de Janeiro, depois de trabalho pouco tinha de virtude, se considerarmos
54 M O N T E IR O L O B A T O
0 pai de Narizinho, que vinha conhecer o grupo e A obra de Monteiro Lobato não termina com o que
conversar com os alunos: chamou ‘consolidação’ de Narizinho Arrebitado.
É a partir daí que ela se expande e adquire maior
— Nunca pensei que fosse tâo séria a influência do consistência, a começar por Emüia no País da
que escrevo — disse então a Emílio Moura —, até Gramática (1934) e Aritmética da Emília (1935),
agora ia escrevendo... por escrever... Mas essa Geografia de D. Benta (1935), Serões da D. Benta
meninada me deu uma lição. Vou pensar mui (1937), Histórias de Tia Nastácia (1937), O Poço
to antes de escrever para crianças daqui por do Visconde (1937), Viagem ao Céu (1937), O
diante^’. Minotauro (1939), O Picapau Amarelo (1939),
Foi precisamente em 1934 que o escritor decidiu Memórias de Emília (1939), OEspantodas Gentes
reunir as aventuras de Narizinho — até então, (1941), A Reforma da Natureza (1941), A Chave
constantes de pequenos tomos intitulados Nari do Tamanho (1942), sem falar nas séries que
zinho Arrebitado (1921), O Marquês de Rabicó levantaram tanta celeuma. História do Mundo
(1922), Aventuras do Príncipe (1927), A Caçada para Crianças (1933) e História das Invenções
da Onça (1927), O Gato Félix (1927), O Noivado (1940) e nas numerosas traduções e adaptações de
de Narizinho (1927), O Circo de Escavalinho obras de autores estrangeiros, como D. Quixote
(1927), A Pena do Papagaio (1930), O Pó de Pir- das Crianças (1936), além das histórias extraídas
limpimpim (1930), As Caçadas de Pedrinho da mitologia greco-romana, num total de treze, se
(1933), e Novas Reinações de Narizinho (1933) — incluído o já citado O Minotauro. É um mundo,
num único volume, que Lobato chamou ‘conso sem dúvida, maravilhoso, que tem encantado as
lidação’, o que se efetivou naquele ano, “quando crianças não só do Brasil, como de toda a América
apareceu com a chancela da Companhia Editora Latina.
Nacional o texto definitivo de Narizinho Arrebi O segredo de Lobato está na espontaneidade do
tado"'^ . seu estilo, descontraído e seguro, na propriedade
À frente da maior empresa editora do país, Octal- na aplicação das palavras, grande leitor que era
les Marcondes Ferreira será o seu editor, até 1944, dos dicionários, num tempo em que ainda não
quando resolve associar-se a Artur Neves e Caio existia o melhor de todos, o de Mestre Aurélio.
Prado Júnior, para a fundação da Editora Brasi- “O relato de simples manuseio de dicionário —
liense. A partir daí, suas edições passam a ter a recorro-me ainda a uma observação de Cassiano
tiragem de 200 mil exemplares. Na Argentina, as Nunes — nos oferece, de modo didático, a relação
edições da Losada são de 250 mil exemplares s’ . visual de Lobato com as palavras. Leiamos o tre
As tiragens daquele ano ultrapassavam a casa do cho de uma carta que enviou a Rangel em 1909:
milhão de exemplares só em livros infantis Não ‘mandei vir o dicionário de Aulete, que é ainda o
arrefece a amizade com Octalles. De uma carta a melhor e estou a lê-lo. Aventura esplêndida, Ran
Jerônimo Monteiro datada de 1947, dirá o se gel! os vocábulos são velhos amigos nossos que pelo
guinte: “A confiança entre nós sempre foi perfeita; fato de diariamente nos acotovelarem nos bruaás
minha conta corrente vivia sempre em oscilação. da Língua não nos merecem a atenção curiosa e
Teve ano em que meu débito passou de 150 mil indagadora que damos às palavras estrangeiras.
cruzeiros; e ano em que meu crédito foi a mais do Pelo fato de freqüentar uma parente, você chega a
dobro disso. Nunca um abusou do outro. Sempre ponto de não poder descrever-lhe a cara — e no
reinou a mais perfeita cordialidade e lealdade. entanto é capaz de até desenhar de memória a cara
E o resultado é que, em vez de andar a falar mal do dum estranho que viu ontem. Daí o valor da leitura
meu velho editor, como fazem vocês todos, eu con do dicionário. Todo o povo tumultuoso da praça
tinuo a tê-lo como o número 1, entre os meus pública da língua lá o encontramos individuali
amigos — e já estamos separados — já não é mais zado como soldados em quartel, cada um com o
ele o meu editor. Embora aparentemente indife seu número, o seu posto, perfilados e obedientes,
rentes, Octalles sabe que conta comigo em todos os quando os defrontamos. No dicionário encontra
terrenos. Não andamos às beijocas porque sempre mos um cavalo. Na rua, vemos passar cavalos.
fomos secos — mas eu quero a Octalles como a um ‘Quem é você?’ E ele muito sério: ‘Substantivo,
filho — o último filho homem que me resta’’’' . masculino. Quadrúpede doméstico, solípede, ra-
56 M O N T E IR O L O B A T O
mo ou tronco que enxerta, banco de tanoeiro, etc. para elas; podería ter escrito muito mais. E eu
etc.’ A gente regala-se com o mundo de coisas que creio que sim. Eu perdi o tempo escrevendo para
o cavalo é, e muitas vezes, também nos regalamos gente grande, que é uma coisa que não vale a
com as cavalidades do dicionarista” '*^. pena” . O repórter insiste, numa daquelas infalí
veis perguntas do nosso jornalismo radiofônico:
Grande escritor, a quem Carlos Drummond de “Chegamos à nossa última pergunta: nesta hora,
Andrade chamou de “herói civil da Literatura” '*’ , neste momento, qual seria o seu maior desejo,
que deu assim a exata dimensão de Monteiro Monteiro Lobato” . E a resposta: “Meu maior
Lobato, o homem e o escritor. 'Na sua última desejo, neste momento, seria ver este locutor pelas
entrevista pelo rádio, pouco antes de morrer, con costas e eu já lá em cima, no meu apartamento, na
versa descontraída, com o repórter Murilo Antu cama, para descansar desta esfrega que eu levei
nes Filho, que lhe perguntava se gostaria de ter hoje” '**. Lobato morreu dois dias depois, às 4 da
vivido como viveu, dirá apenas isto: “Eu acho que manhã, de 4 de julho de 1948. Aos amigos dissera
queria isso: viver de novo a minha vida, a vida que na véspera: “Meu cavalo está cansado, querendo
eu vivi escrevendo coisas mais variadas, de mais cova, e o cavaleiro tem muita curiosidade em
interesse para as crianças e mais, porque as crian verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula, ponto
ças me condenam uma coisa: que eu escrevi pouco e vírgula ou ponto final” *’ .
NOTAS
1. A R R O Y O , Leonardo. L ite r a tu r a in fa n til b ra sile ira . São 13. B A R R ET O , Lim a. O s B r u z u n d a n g a s . São Paulo, Brasi-
Paulo, M elhoram entos, 1968. p. 203. liense, 1956. p. 98 e 68. Às obras de Lim a B arreto, reporto-m e
2. C A V A L H EIR O , E d g a rd . M o n te ir o L o b a to , vid a e o b ra . sem pre a esta edição de 1956, que é a fidedigna.
São Paulo, C ia. E d. N acional, 1950. v. 1, p. 192. 14. M A N G A B E I R A , J o io . R u i e o e s ta d is ta d a R e p ú b lic a . Rio
3. M A R T IN S, W ilson. H is tó ria d a in te lig ê n c ia b ra sile ira . São de Janeiro, J. O lym pio, 1943. (D ocum entos B rasileiros, 40),
p .287.
Paulo, C ultrix, E d . d a U S P , 1978. v. 6, p. 38-9.
15. C A V A L H EIR O , ob. c it., v. 1, p. 216.
4. Por ocasião do cen ten ário da sua fun d ação , O E s ta d o d e Sã o
P a u lo publicou u m a série de suplem entos do m aio r interesse 16. A N D R A D E , O sw ald de. P o n ta d e la n ça ; polêm ica. 3. ed.
histórico. U m desses suplem entos do c en ten ário foi especial Rio de Janeiro, 1972. (O bras C om pletas, 6), p. 4. Prefácio de
m ente dedicado á R e v is ta d o B r a s il e d a sua elaboração se M ário d a Silva B rito, "O sw ald, dem ocracia e liberdade” .
N outro passo, disse o m esm o O sw ald de A ndrade: “ Foi em
encarregou a Professora Cecília de L ara, d a U niversidade de
L obato que a renovação teve de fato o seu im pulso básico. Ele
São Paulo, q u e se especializou no e stu d o dos periódicos do
apresentava, enfim , um a prosa nova” . A pud. NUN ES, Cas-
M odernism o e d a fase que antecedeu o m ovim ento. E o suple
m ento de n. 36 e traz a d a ta de 06.09.1975. siano. M onteiro Lobato; um a teoria de estilo. I n : ________ .
B reves e s tu d o s d e lite r a tu ra b ra sile ira . São Paulo, Saraiva,
5. Ver, a propósito, a in tro d u ção de Francisco de Assis B ar 1969. p. 66.
bosa a Id éias e c o n ô m ic a s d e M ig u e l C a lm o n . B rasília, Senado
17. C A V A L H EIR O , ob. c it., v. 1, p. 218.
Federal; R io de Janeiro, F u n d a ç ão C asa de R ui B arbosa, 1980.
(A ç ã o eP en sa m en to d a R epública, 1), p. 23-78. 18. N U N ES, C assiano. M ark Tw ain e M onteiro Lobato; um
estudo com parativo. In: ________ . N o rte -a m e r ic a n o s . São
6. R O Q U E T T E -P IN T O , E . R o n d ô n ia . 3. ed . São P aulo, C ia.
Paulo, C om issão E stad u al de L iteratu ra, 1970. p. 116.
E d. N acional, 1934 (B rasilian a, 34).
7. C A V A L H E IR O ,o b .é it.,v . l , p . 194. 19. NUN ES. B reves e s tu d o s d e lite r a tu r a b r a sile ira , cit; 68.
a ser estudada. Ver: BELLUZZO» A na M aria de M orais. Vol- 34. Idem, idem, p. 17-8.
to lin o e as raízes do m o d e rn is m o ; dissertação de mestrado. 35. NUNES, Cassiano. Oson/io6rfl5/7eíro de Loòaío. Brasília,
São Paulo, s.d. 220 fls. T rabalho p o r sinal excelente e que
s.ed., 1979. p. 17-8.
merece ser publicado em livro.
23. ARROYO, o b .c it..v . 2, p . 570-1. 36. NUNES, Cassiano. M o n te iro L o b a to h o je. São Paulo,
Biblioteca M unicipal M ário de A ndrade, 1979. p. 40. Separata
24. CAVALHEIRO, ob. cit., v. 2. p. 570-1.
á t B o letim B ib lio g rá fico , SâoPaulo(39), ja n ./ju n . 1979.
25. ARROYO, ob. cit., p. 204.
37. CAVALHEIRO, ob. c it., II. p. 610.
26. Idem, idem , p. 204.
27. Idem , idem, p. K15. 38. A RROYO, ob. cit., p. 205.
28. Idem , idem, p. 205. 39. CA VALHEIRO, o b .c it.. II, p. 560.
29. CAVALHEIRO, ob. cit., v . l . p . 253.
40. NUNES, Cassiano. M ark Twain e M onteiro Lobato. In:
30. A situação é descrita com porm enores no livro de A nna ob. cit., p. 89.
M aria M artinez C orrêa, A R eb eliã o d e 1924 e m S ã o Paulo^
São Paulo, Hucitec, 1976. 41. ARRO Y O , ob. c it., p. 206.
31. A prisão e o processo são tratados na o b ra /u if/r/a , deJosé 42. NUNES, Cassiano. M o n te ir o L o b a to h o je , c it., p. 39.
Carlos de M acedo Soares. São Paulo, s.e d ., 1925.
43. A pud NUNES, Cassiano. O s o n h o b rasileiro d e L o b a to ;
32. CAVALHEIRO, ob. cit., v. 1, p. 370-6. cit., p. 47.
33. NUNES, Cassiano. O p a tr io tis m o difícil; a correspon
44. CA VALHEIRO, ob. cit., II, p. 831.
dência entre M onteiro L obato e A rtu r Neiva. São Paulo, s.ed.,
1981. p. 13. 45. Idem , idem , II, p. 693.
1
Com esta edição fac-similar, fora de comércio, da
1? edição de A Menina do Narizinho Arrebitado,
com as ilustrações de Voltolino, a Metal Leve
associa-se às homenagens prestadas a Monteiro
Lobato no centenário de seu nascimento, trans
corrido este ano.
Para esta edição, sugerida por Camila Cerqueira
Cesar e pelo Celiju, a Metal Leve contou também
com a cooperação da Biblioteca Infantil Monteiro
Lobato, da Prefeitura Municipal de São Paulo,
que emprestou seu exemplar da edição original;
da família de Monteiro Lobato, autorizando a
edição; e do ilustre escritor Francisco de Assis
Barbosa, da Academia Brasileira de Letras, autor
do magnífico ensaio que acompanha o texto de
“Narizinho” — “ Monteiro Lobato e o direito de
sonhar” .
A todos a Metal Leve agradece tão precioso con
curso.
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U R U P Ê S , contos por J I onteiro L obato,
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