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Hume e o Conservadorismo.

0. Introdução

Tanto o conservadorismo das origens (Burkeano) quanto o mais recente


(Oakeshott, por exemplo) bebem de uma fonte que por muitas vezes passa
despercebida na análise da estrutura dessa filosofia política: David Hume.
O filósofo do século XVIII é representante principal de uma bandeira sem a
qual o conservadorismo não se define: o ceticismo. Além disso, os nuances
empiricistas nas obras de Burke são muitos para serem deixados de lado. A
influência do pensamento Humeano é notável.

1. O ceticismo e a crítica ao racionalismo


Conforme exposto na introdução ao filósofo, Hume é um filósofo das paixões e
das sensações, mas muito além disso um crítico notável do racionalismo.
Burke, ao falar da complexidade do mundo real e criticar os ‘’religiosos da
metafísica’’ que querem construir através de pilares abstratos uma estrutura no
mundo concreto, alertando-nos do perigo em se fazer isto, muito lembra Hume.
Hume nega a possibilidade criação de uma ciência, de um instrumento
explicador calcado em ‘’verdades abstratas e absolutas’’. A defesa de um
empirismo particularista tem influência críptica sob o motivo da preferência das
instituições antigas e já bem moldadas por Burke. Instituições como família,
igreja e governo não são preferíveis à inovações por desejos solipsistas
românticos. São preferíveis por funcionarem na realidade, na experiência
sensorial. Em um mundo de complexidade e insegurança, o concreto palpável
é muito mais saudável aos olhos do conservador do que o provável ainda não
realizado. A crítica de ambos à metafísica e ao racionalismo apesar de
diferente no método é muito parecida em essência.
A política da prudência Oakeshottiana também bebe muito (e mais do que
Burke) nesse aspecto. Ao desconfiar da razão para explicar uma realidade
política complexa demais para ser simplificada, Oakeshott usa a máxima
Humeana de que o racionalismo é insuficiente justamente por estar
‘’subordinado aos afetos e às paixões’’.

2. O Hábito
Outro ponto central para a disposição/pensamento conservador muito presente
em Hume é o Hábito. Em Hume o Hábito é uma categoria fundamental para a
determinação do próprio entendimento humano, por através de sua repetição
constante criar a possibilidade do homem fazer inferências, pensar sobre os
aspectos sensoriais que o bombardeiam. Além disto, o hábito é necessário
para a aceitação comum e solidificação da moral e da moralidade. Em Burke, o
hábito e os costumes são necessários pois geram a coesão necessária e a
preservação de uma sabedoria milenar trazida pelo passado (e pelos
antepassados) ao presente, sabedoria esta que entretanto é frágil, mas é a
fonte que emana coesão sob os homens, seja quando se refere à família,
religião, entre outros. Além disso, a influência do hábito Humeano também se
mostra presente na filosofia do direito Burkeana. Ao considerar todas as leis e
regras positivas como frutos do hábito e dos costumes, justamente por estes
criarem sempre as ‘’melhores opções’’ (aqui, mais uma influência, da ideia
protoutilitarista humeana de Justiça, que será citada mais a frente) Burke está
em consonância com a ideia de hábito enquanto categoria central para explicar
o entendimento humano e a sociedade como um todo.
A preferência pelo familiar ao desconhecido em Oakeshott é nada menos do
que uma apologética ao hábito. A ideia de continuidade, de repetição é aqui
ilustrada ainda mais claramente, principalmente quando Oakeshott, ao falar das
mudanças, enuncia que uma mudança só é aceita dentro de um corpo social
quando esta, por pura experiência e tempo, já se consolidou como hábito.

3. A propriedade e/ou posse

Ao analisar a formação da sociedade como mecanismo para minimização das


dores e como necessidade humana, Hume argumenta que a justiça surge para
garantir a estabilidade das posses, visto que o primeiro conflito ‘’não
solucionável’’ pela própria natureza é o da escassez de bens. Ao
instrumentalizar a justiça como estabilizadora das posses e elencar a
manutenção da propriedade como um dos pilares da ordem social, Hume
lembra muito Burke. Burke afirma que a propriedade é uma categoria natural à
sociedade, e esta (com a fortificação do hábito e dos costumes) é elemento
regulador social central. A defesa do mercado e da propriedade privada em
Burke está explícita (apesar de ser uma defesa de um mercado contido, ainda
de certa forma adestrado pelos valores e pela hierarquia cultural). Já em Hume,
por vezes pode se entender a defesa das posses, e em vezes a da propriedade
(não entrando diretamente na discussão entre a utilização de fato e não
perpétua da posse versus o abstracionismo e perpetuidade individual da
propriedade). Entretanto, o conceito de posse em Hume é mais adequado,
visto que entendendo posse como um exercício de fato da propriedade, este se
encaixa mais na teoria das vontades e ações humeanas. De toda forma, ao
citar o caso da situação das terras da igreja, Burke em muito lembra Hume e
sua ‘’lei da transferência de posses’’, ao argumentar sobre o direito da igreja
pelo exercício de fato (mas aqui de papel social) que é cumprido pelas terras.

4. O governo

Entre um governo que tem como função ‘’fazer a justiça ser cumprida’’ (Hume)
e um que ‘’só tem como obrigação justamente governar’’ (Oakeshott) as
semelhanças são muitas. Oakeshott ao enunciar um governo que tem como
função a provisão de regras de conduta, deixando o resto por conta dos ‘’little
platoons’’ Burkeanos, em muito lembra Hume, quanto este diz que o hábito
associado à existência do governo faz com que as regras sejam aceitas e a
moral seja construída. Ainda mais, quando trata da ideia de justiça como
virtude construída artificialmente, como necessidade de controlar paixões
humanas, que também em suas reflexões podem ser virtuosas (como em
Oakeshott, o governo não é responsável pela extinção dessas paixões e
possíveis virtudes, só cria um ambiente de familiaridade através do hábito para
que essas regras se apliquem de forma orgânica).
A aceitação destas regras e a legitimidade dos governos também encontra
semelhança no pensamento dos três autores. Hume elenca que, através do
hábito, a aceitação de um governante se torna factualmente legítima (assim
como seu governante), pois este é o representante do controle destas paixões.
Oakeshott lida com a ideia similar de que, com o hábito (familiaridade) se torna
possível entender a origem da legitimidade do poder de um governo. Tem
poder justamente pois ‘’sempre teve’’. É mais fácil e seguro do que mudar toda
uma existência já sincrônica em prol de um teste de hábito novo e prolongado.
Burke (em menor forma, pois este é um defensor das ideias de direito divino),
também diz algo semelhante ao argumentar que a constituição inglesa ganha
força justamente pelo ‘’teste do tempo’’ (hábito).

5. Conclusão

Ceticismo, Empirismo, Propriedade/Posse e Hábito. Categorias importantes e


de grande destaque no pensamento Humeano que se mostram presentes no
pensamento conservador. A ideia de preferência pela prudência devido à
complexidade do real concreto, a desconfiança do racionalismo explicador
presunçoso da realidade, o elogio ao hábito como formador de categorias e
ligações sociais e a utilidade prática das instituições testadas pelo tempo são
elementos do pensamento conservador (assim como vários outros menores)
fortemente influenciados pela tradição cética e empirista de David Hume.

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