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CAPÍTULO 4

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE CONFORTO TÉRMICO

Índice
4.1 Introdução ................................................................................................................................. 2
4.2 Os Edifícios e o Clima .............................................................................................................. 2
4.3 Balanço Térmico do Corpo Humano - Trocas de Calor entro o Corpo e o Ambiente ....... 3
4.4 Formas de Transferência de Calor entre o Homem e o Meio Ambiente ............................. 4
4.5 Conforto Térmico ..................................................................................................................... 8
4.5.1 Balanço Térmico .................................................................................................................... 9
4.6 Avaliação do Ambiente Térmico ........................................................................................... 10
4.7 Factores que Influenciam a Sensação de Conforto Térmico............................................. 11
4.7.1 Temperatura Média de Radiação ........................................................................................ 15
4.7.2 Temperatura do Ar Ambiente ............................................................................................... 17
4.7.3 Velocidade do Ar .................................................................................................................. 17
4.7.4 Humidade Relativa ............................................................................................................... 17
4.7.5 Temperatura de operação.................................................................................................... 18
4.8 Condições Térmicas Necessárias para o Conforto ............................................................ 19
4.9 Critérios para o Estabelecimento de Condições de Conforto Termo-higrométrico ....... 20
4.10 Índices de Avaliação Térmica ............................................................................................... 23
4.10.1 Índices de conforto .......................................................................................................... 23
4.10.2 Índices de desconforto ..................................................................................................... 39
4.11 Exemplos de Aplicação ......................................................................................................... 41
Física das Construções

4.1 Introdução
O ambiente envolvente tem um efeito físico e psicológico no indivíduo e é, por isso, de grande
importância para o projecto de edifícios. A atitude do projectista de climatização visa, na maior parte
do casos, criar nos locais confinados um microclima que, apesar das condições meteorológicas
exteriores, corresponda em grande medida às necessidades fisiológicas do corpo humano do ponto
de vista térmico.

Como qualquer outra noção de conforto, resultante de sensações humanas onde intervêm factores
marcadamente subjectivos, também a noção de conforto termo-higrométrico em edifícios não será
fácil de definir [1].

Há um conteúdo básico correspondente à satisfação estrita de condições fisiológicas, mas que


diverge com o quadro do clima local e a capacidade de adaptação pessoal e, por isso, não é
suficiente para traduzir uma situação de conforto [1].

Assim, considera-se que um indivíduo se encontra em conforto termo-higrométrico quando não


experimenta qualquer desagrado ou irritação de modo a distraí-lo das actividades em exercício [1].

A condição básica para que tal aconteça é a de que o sistema termo-regulador do organismo se
encontre em equilíbrio com o ambiente, isto é, que haja num dado momento equilíbrio de um conjunto
de condições bio-fisiológicas sem violentação das funções orgânicas [1].

Convém distinguir dois tipos de situações:

 Num primeiro tipo, tenta-se obter um microclima que os ocupantes sintam agradável e que,
portanto, possa conduzir ao que se designa normalmente por conforto. Este é o tipo mais
comum dentro dos projectos de climatização;

 Outro tipo de situações corresponde aos casos em que, pela actividade que caracteriza o local,
se torna impossível ou, pelo menos, economicamente pouco viável, criar condições
conducentes ao conforto. Exemplos destes casos são as instalações junto a equipamentos a
alta temperatura tais como fornos, fundições, etc.. Aqui, trata-se então de minimizar o
desconforto e a determinar os limites (tempo de exposição) a que os ocupantes devem estar
condicionados.

Para o estudo de um e de outro tipo de situações, é necessário conhecer o modo como o corpo
humano reage termicamente às condições que o rodeiam. Assim, começa-se pelo estabelecimento
dum balanço térmico do corpo humano e dos factores que o influenciam. Depois estabelece-se o
subconjunto das condições que, produzindo equilíbrio térmico, permitem ainda situações de conforto.

4.2 Os Edifícios e o Clima


Na maioria dos casos os edifícios são construídos para proteger os seus ocupantes do ambiente
exterior (temperaturas extremas, vento, chuva, ruído, radiação, etc.), e assim garantir-lhe um bom
ambiente no interior.

Um edifício que está bem adaptado ao clima protege os seus ocupantes contra as condições
extremas que se observam no exterior, sem criar condições de desconforto no interior.

De acordo com o professor Pierre Lavigne [12] o ambiente interior num edifício passivo (i. e. sem
sistemas de climatização) deve ser pelo menos tão confortável como o ambiente exterior. Esta
estratégia está representada na Figura 4.1 [13].

4.2
Física das Construções

Devido às alterações do tipo de roupa os ocupantes necessitam de temperaturas diferentes para se


encontrarem confortáveis (designadas por “temperaturas de conforto”) no Verão ou no Inverno.
Assim, a “zona” de conforto (a gama de temperaturas confortáveis) é mais alta de Verão do que de
Inverno [13].
Estação de Arrefecimento, Edifício B

Aquecimento
Aquecimento
Edifício A
Edifício A

Zona de Conforto
A - Edifício adequado
Estação de Aquecimento longa para o B - Edifício desadequado
Edifício B C - Ar exterior

Inverno Primavera Verão Outono Inverno

Figura 4.1 - Evolução da temperatura num edifício passivo durante o ano (hemisfério norte) (adaptado
de [13])

Um edifício bem adaptado (curva A) tem um bom isolamento, ganhos solares passivos (incluindo
sistemas de sombreamento móveis e eficientes) e sistemas de habitação adaptativos. De Verão, o
edifício está protegido da radiação solar e possui sistemas de arrefecimento passivo. De Inverno,
utiliza os ganhos solares para aumentar a temperatura interior. O resultado é um edifício que, na
maioria dos climas europeus, fornece conforto sem recurso a outra energia que não a do sol durante
a maior parte do ano. A energia usada para aquecimento é reduzida de forma substancial como
resultado da estação de aquecimento mais curta. Não é necessário arrefecimento se as cargas
internas se mantiverem dentro dos limites razoáveis [13].

Por outro lado, um edifício mal adaptado (curva B) não possui um nível de isolamento adequado, nem
é protegido da radiação solar. Não foi estudado de modo a usar de forma adequada a energia solar,
nem para o arrefecimento passivo. A flutuação de temperatura atinge valores muito baixos de Inverno
e muito altos de Verão. É por isso necessário instalar sistemas de climatização caros e com elevado
consumo energético, de modo a compensar o facto do edifício não se adequar ao ambiente que o
rodeia [13].

Os edifícios mal adaptados irão necessitar de aquecimento de Inverno e de arrefecimento de Verão e


são o motivo pelo qual existe a ideia de que é necessário um elevado consumo energético para se
obterem condições de conforto [13].

4.3 Balanço Térmico do Corpo Humano - Trocas de Calor entro o Corpo e o


Ambiente
O homem é um ser homeotérmico, ou seja, a temperatura interna do organismo tende a permanecer
constante, independentemente das condições do clima. Com o uso do oxigénio o organismo promove
a queima das calorias existentes nos alimentos (processo conhecido como metabolismo),
transformando-as em energia. Assim é gerado o calor interno do corpo humano. Entretanto, existem
sempre trocas térmicas entre o corpo humano e o meio [10].

4.3
Física das Construções

As reacções térmicas do corpo humano dependem, em grande medida, da temperatura a que se


encontram a sua cavidade interna e a sua superfície (pele). No interior, a temperatura ronda
geralmente 36 ± 1ºC, o que é superior à temperatura do ar que o rodeia na grande maioria das
situações. Daí resulta que o corpo sofra constantemente uma certa perda de calor.

A manutenção da neutralidade térmica é, em geral e em condições de saúde, realizada para largos


limites das condições ambientes, dado que o organismo reage automaticamente no sentido de atingir
aquele equilíbrio.

Para compensar a perda de calor para o ar que o rodeia, o corpo dispõe de mecanismos de produção
interna de calor. O mais importante destes mecanismos é o das transformações químicas a nível
celular, em que os alimentos são sintetizados. Outro processo, que só ocorre em períodos curtos em
que a perda de calor excede a produção interna, é o das vibrações (geralmente designadas por
arrepios, “corpo a tremer”, “bater o dente”). Este último método é uma situação de recurso a que o
corpo só recorre em casos extremos [1].

A energia calorífica (metabolismo) produzida pelos processos vitais (circulação, respiração, reacções
provenientes da digestão, etc.) e a actividade muscular deve ser dissipada na medida em que é
produzida, de modo a não existir acumulação ou deficit que provoquem o anormal funcionamento do
organismo [1].

Ou seja, para uma pessoa a desenvolver uma certa actividade poder estar confortável, é necessário
que, pelo menos, o corpo esteja em equilíbrio térmico, isto é, que a energia produzida no interior do
corpo seja igual à energia de perdas.

Como a energia produzida é função da actividade e a energia de perdas é função das condições
térmicas do meio que rodeia o corpo, dadas as variações a que estas últimas estão sujeitas para uma
mesma actividade, é necessário que o corpo disponha de meios de controle sobre os mecanismos de
perdas de modo a torná-las iguais à energia produzida. Estes mecanismos, cuja consequência
térmica é a de variar a resistência à transferência de calor entre o interior do corpo e o ambiente,
consistem na variação do caudal de sangue que alimenta a pele e na intensidade de funcionamento
da transpiração.

Estes mecanismos de regulação térmica apenas actuam dentro de certos limites, para além dos quais
o corpo não é capaz de conservar o equilíbrio térmico. Por exemplo, sob a acção de calor exterior
intenso, a rede de capilares da pele dilata-se, as reservas de sangue enchem o espaço livre e,
consequentemente, baixa a tensão arterial. Resulta então o colapso térmico designado por insolação.

Situação semelhante mas oposta se poderia traçar para a acção de frio intenso, arrepios. De
qualquer forma, situações em que o corpo não consegue manter o equilíbrio térmico só podem ter
lugar por períodos muito reduzidos sob pena de sérias consequências para a saúde, já que a
temperatura interna do corpo tem de se manter num intervalo muito pequeno (36 ± 1ºC).

4.4 Formas de Transferência de Calor entre o Homem e o Meio Ambiente


As trocas de calor entre o corpo humano e o ambiente que o envolve, tal como quando dois corpos
estão na presença um do outro a temperaturas diferentes, ocorrem através da transferência de calor
do corpo mais quente para o corpo mais frio até se estabelecer a igualdade de temperaturas. Esta
transferência pode dar-se através de um ou mais dos seguintes modos, representados de forma
esquemática nas Figuras 4.2 e 4.3:

4.4
Física das Construções

Condução - quando a transferência de calor se realiza através de sólidos ou líquidos que não
estão em movimento (por exemplo através do contacto de partes do corpo com
elementos da envolvente, contacto entre um corpo quente e um frio).

Convecção - quando a transferência de calor se realiza através dos fluidos em movimento, e


por isso só tem lugar nos líquidos e nos gases (por exemplo o movimento do ar
sobre o corpo).

Radiação - todas as substâncias radiam energia térmica sob a forma de ondas


electromagnéticas. Quando esta radiação incide sobre outro corpo, pode ser
parcialmente reflectida, transmitida ou absorvida. Apenas a fracção que é
absorvida surge como calor no corpo.

Evaporação - uma via de grande importância em fisiologia é a evaporação, que constitui uma
perda de calor. Esta evaporação pode dar-se através da transpiração, através
da sudação, quando se dá ao nível da pele e arrefece a sua superfície, ou
através da respiração, ao nível das vias respiratórias.

As trocas por condução, convecção e radiação, podem ser avaliadas com base na teoria do calor e
usando coeficientes apropriados determinados experimentalmente [1].

As trocas devidas à evaporação correspondem ao estado natural de humidade do corpo e resultam


da mobilização do calor próprio equivalente ao calor latente de vaporização, que esta vaporização
exige, sendo a sua determinação objecto de experimentação fisiológica [1].

A sensação de conforto térmico depende do equilíbrio térmico entre a produção de energia pelo corpo
somado dos ganhos de energia do meio e as perdas para o mesmo, com o objectivo de manter a
temperatura interna do corpo em cerca de 37 ºC.

Roupa

Figura 4.2 - Interacção térmica entre o corpo humano e o ambiente

4.5
Física das Construções

Calor Sensível Calor Latente

Radiação Convecção Respiração Respiração Transpiração

Roupa Condução
Radiação e Convecção Superfície
da Pele
Produção de calor Libertação de
Pele Nua (Vibrações) humidade

Produção de
Interior Condução Convecção Calor
do Corpo (sangue) (conversão química)

Figura 4.3 - Principais Mecanismos de transferência de calor no Corpo Humano

Na Figura 4.4 indicam-se as grandezas relativas dos diferentes mecanismos de transferência para
uma pessoa descansada em equilíbrio térmico (isto é, sem transpirar).
100

80
Radiação
60 Calor
Sensível Pele
40
Convecção

20
Evaporação
Calor latente Pulmões
Respiração

Figura 4.4 - Importância dos mecanismos e formas de trocas de calor com o ambiente numa pessoa a
descansar (roupa normal de Verão)

A Figura 4.5 dá uma ideia de importância relativa dos diferentes mecanismos sob várias condições,
de que a Figura 4.4 é um resumo para uma situação de repouso em condições ambientais
confortáveis (cerca de 20ºC).

400
Trabalho pesado

300

Q [W] Trabalho médio


200
Qtot
100 Sentado Qrad +Qconv

Qtransp.

0
0º 10º 20º 30º
Tar = Tsuperfícies

Figura 4.5 - Trocas de Calor entre o corpo e o ambiente [2]

4.6
Física das Construções

A temperatura de conforto sentida resulta do balanço energético do corpo, que inclui perda de calor
por convecção e condução para o ambiente, por evaporação e por radiação de e para as superfícies
circundantes.

Quando o corpo perde muito calor tem uma sensação de frio, sentida através dos sensores de
temperatura na superfície da pele. Quando o corpo perde pouco calor, a temperatura da pele sobe o
que resulta numa sensação de calor [1].

Um corpo saudável mantém sempre um equilíbrio entre ganhos de calor (metabolismo, e ganhos do
ambiente por convecção, condução e radiação) e perdas de calor para o ambiente por convecção,
condução, radiação e evaporação (transpiração). Este equilíbrio é necessário para manter a
temperatura corporal a cerca de 37ºC. Isto é conseguido através de alterações automáticas na
circulação sanguínea e temperatura da pele, por um lado, e através da alteração da quantidade de
roupa e da actividade, por outro. Outra forma de assegurar o equilíbrio térmico é alterar o ambiente
usando sistemas tais como ventoinhas, aquecedores, cortinas, sistemas de ar-condicionado, etc..

A Figura 4.6 mostra o fluxo de calor que o organismo perde para o ambiente, em função da
temperatura. Quando a temperatura é confortável, a perda de calor por radiação é sensivelmente
igual às perdas por condução, convecção e evaporação. Se a temperatura aumenta a perda de calor
por transpiração é a forma de perda de calor predominante e, se a temperatura exceder os 37ºC, é a
única forma do organismo perder calor e arrefecer. Ao mesmo tempo que a produção de calor através
do metabolismo é reduzida [1].

Quando a temperatura desce, a evaporação é reduzida mas é compensada por um aumento das
perdas de calor por radiação e convecção. Para temperaturas baixas, o metabolismo pode aumentar
(sensação de calafrio, produzindo-se arrepios) para compensar a perda de calor pela produção
adicional de calor [1].

180
160
140
Fluxo de calor [W]

120
100 Evaporação
Convecção
Convection e
and Evaporation
80 condução
conduction
60
40
Radiação
Radiation
20
0
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36
Temperatura ambiente [ºC]
Figura 4.6 - Perda de calor de uma pessoa sentada num ambiente isotérmico [13]

Isto mostra claramente que o conforto térmico não resulta apenas da temperatura ambiente, mas
também da temperatura das superfícies circundantes, da humidade relativa e da velocidade do ar [1].

4.7
Física das Construções

4.5 Conforto Térmico


O homem é um animal homeotérmico, de sangue quente que, para sobreviver,
sobreviver, necessita de manter a
temperatura interna do corpo (cérebro, coração e órgãos do abdómen) dentro de limites muito
estreitos, a uma temperatura constante de 37 ºC, obrigando a uma procura constante de equilíbrio
térmico entre o homem e o meio envolvente
envolvente que tem influência nessa temperatura interna, podendo
um pequeno desvio em relação a este valor indiciar a morte.

Quando existe a percepção psicológica desse equilíbrio, pode-se


pode se falar de conforto térmico, que é, de
acordo com a American Society of Heating
Hea Refrigeration and Air Conditionsing (ASHRAE), e tal como
definido pela ISO 7730: “um
um estado de espírito que expressa satisfação com o ambiente térmico
que envolve uma pessoa (nem quente nem frio)”. Se o balanço de todas as trocas de calor a que
está submetido
ubmetido o corpo humano for nulo e, a temperatura da pele e o suor estiverem dentro de certos
limites, pode-se
se dizer que o Homem se encontra numa situação de conforto térmico [10].

Este estado é obtido quando um indivíduo está numa condição de equilíbrio com
com o ambiente que o
rodeia, o que significa que é possível a manutenção da temperatura dos tecidos constituintes do
corpo, num domínio de variação estrito, sem que haja um esforço sensível. No entanto, a
neutralidade térmica não assegura necessariamente o conforto. Por exemplo, uma pessoa sujeita a
um ambiente radiante assimétrico, pode estar em neutralidade térmica, mas não se encontra
confortável. Nos edifícios, em geral, as duas situações coincidem.

Esta é a situação ideal, que corresponde a um ambiente neutro ou confortável, como mostra a Figura
4.7.
7. Fora deste ambiente pode haver alterações fisiológicas no ser humano.

Figura 4.7 - Manutenção da temperatura interna do corpo [10]

O conforto é, portanto, uma sensação subjectiva que depende de aspectos


aspectos biológicos, físicos e
emocionais dos ocupantes, não sendo desta forma, possível satisfazer a todos os indivíduos que
ocupam um recinto, com uma determinada condição térmica.

Um ambiente neutro ou confortável é um ambiente que permite que a produção de calor metabólico,
se equilibre com as trocas de calor (perdas e/ou ganhos) provenientes do ar à volta do trabalhador.

4.8
Física das Construções

Fora desta situação de equilíbrio, podem existir situações adversas em que a troca de energia
calorífica constitui um risco para a saúde da pessoa, pois mesmo tendo em conta os mecanismos de
termoregulação do organismo, não conseguem manter a temperatura interna constante e adequada.
Nestas situações pode-se falar de stress térmico, por calor ou por frio.

4.5.1 Balanço Térmico


O ambiente térmico pode ser definido como o conjunto das variáveis térmicas do posto de trabalho
que influenciam o organismo do trabalhador, sendo assim um factor importante que intervém, de
forma directa ou indirecta na saúde e bem-estar do mesmo e, na realização das tarefas que lhe estão
atribuídas. Assim o ambiente térmico desempenha um papel importante na melhoria das condições
de trabalho.

Em condições normais de saúde e conforto, a temperatura do corpo humano mantém-se


aproximadamente constante próxima de 37 +/- 0,8 ºC, graças a um equilíbrio entre a produção interna
de calor devida ao metabolismo e à perda de calor para o meio ambiente - homeotermia.

Esta perda de calor efectua-se segundo as leis da física de troca de calor (por condução, por
convecção e por radiação), e fisiologicamente pela evaporação/condensação e pela respiração.

A temperatura do ambiente é importante porque determina a velocidade com que o calor do corpo
pode ser transferido para o ambiente e, assim, a facilidade com que o corpo pode regular e manter
uma temperatura adequada.

Uma vez que os mecanismos de termo-regulação do organismo têm como finalidade essencial a
manutenção de uma temperatura interna constante, é evidente que tem de existir um equilíbrio entre
a quantidade de calor gerado no corpo e sua transmissão ao meio ambiente. A equação que
descreve tal estado de equilíbrio denomina-se Balanço Térmico:

M - Ed - Es - Er - L = K = R + C

Em que:
 M - produção metabólica de calor → Metabolismo energético;
 Ed - perda de calor por difusão de vapor de água através da pele;
 Es - perda de calor por evaporação do suor desde a superfície da pele;
 Er - perda de calor latente na respiração;
 L - perda de calor sensível na respiração;
 K - calor transmitido desde a superfície da pele até à superfície exterior da roupa;
 R - calor perdido por radiação desde a superfície exterior da roupa;
 C - calor perdido por convecção desde a superfície exterior da roupa.

A equação anterior expressa que a produção interna de calor menos as perdas por evaporação pela
pele (Ed + Es) e as da respiração (Er + L), é igual ao calor conduzido através da roupa (K) e
dissipado ao outro lado deste por radiação e convecção (R + C).

O corpo humano dispõe de um sistema termo-regulador bastante eficiente, que compreende três
mecanismos, representados nas Figuras 4.2 e 4.3:
• Os vasos sanguíneos (em particular os capilares) desempenham o papel de serpentinas de
arrefecimento ou de aquecimento do sangue. O corpo reage aos efeitos da alta temperatura
aumentando o ritmo cardíaco e dilatando os capilares;
• Segregação de suor (a evaporação do suor produz um arrefecimento);

4.9
Física das Construções

• Termogénese, desencadeia-se quando se dá um arrefecimento do corpo e consiste numa


intensificação das reacções nos músculos e em alguns outros órgãos.

Na presença de frio, os mecanismos termo-reguladores são activados com o objectivo de evitar as


perdas térmicas do corpo ou aumentar a produção interna de calor. O mecanismo termo-regulador a
ser activado é a vaso-constrição periférica, ou seja, os vasos capilares mais próximos à pele
contraem-se, enquanto os mais próximos aos órgãos internos dilatam. Desta forma a temperatura da
pele diminui, atingindo uma temperatura o mais próxima possível à do meio, evitando perdas de calor
por radiação e convecção [14].

O segundo mecanismo termo-regulador activado na presença de frio é o arrepio (é o correspondente


à situação limite de tremer de frio ou bater os dentes). O movimento muscular que provoca o arrepio
aquece a pele por atrito, além de aumentar a sua rugosidade, evitando perdas de calor por
convecção. Depois do arrepio, se o frio ainda for agressivo, haverá o aumento do metabolismo entre
30% e 100%, que se pode manifestar pelo tremor dos músculos. Assim, o calor produzido
internamente será maior, compensando as perdas do organismo para o meio. A partir daí o homem
tem mecanismos instintivos (como curvar o corpo, diminuindo a área de exposição da pele) e
culturais (como esfregar as mãos, fazer alguma actividade física ou ingerir bebidas quentes) e
adapta-se ao meio através de roupas e abrigos [10].

No caso de calor, o primeiro mecanismo termo-regulador a ser activado é a vaso-dilatação periférica,


que aumenta a temperatura da pele, incrementando as perdas de calor por convecção e por radiação.
O segundo mecanismo activado é também o mais importante para a sensação de conforto térmico: o
suor. Os poros produzem suor, que vai sendo evaporado, aumentando as perdas de calor por
evaporação (dissipação de calor por perspiração e transpiração). Quando a temperatura da pele
aumenta muito ou quando o ar está muito húmido, o suor não pode ser totalmente evaporado, ficando
na superfície [10].

Pode também haver redução automática do metabolismo a fim de diminuir a produção interna de
calor no organismo. Todavia, para além de dados limites das condições ambientes, estas reacções
do organismo implicam o seu funcionamento anormal e, em consequência, a sensação de mal-estar
[1].

Assim, as condições fisiológicas não são, por si só, suficientes para explicarem a sensação térmica
provocada pelo ambiente, admitindo-se ser necessário ter em conto factores de natureza psicológica
e sociológica, nomeadamente, sexo, idade, estrato sócio-cultural, adaptação ecológica às regiões,
etc. [1].

4.6 Avaliação do Ambiente Térmico


Para avaliar as situações a que está submetido um trabalhador exposto a determinadas condições
ambientais e de trabalho utilizam-se métodos ou critérios objectivos, que se determinam
principalmente em função de:
• temperatura do ar;
• humidade do ar;
• calor radiante;
• velocidade do ar;

4.10
Física das Construções

• metabolismo;
• vestuário.

No estudo do ambiente térmico há a considerar duas situações [10]:


• A sobrecarga térmica ou "stress" térmico que relaciona a exposição do corpo humano a
ambientes de temperaturas extremas;
• O conforto térmico que, não envolvendo temperaturas extremas, relaciona a temperatura,
humidade e velocidade do ar existentes nos locais que, no seu conjunto, podem provocar
desconforto.

Qualquer uma destas situações pode ser medida com base em técnicas especiais calculando-se
índices que informam da qualidade ambiental do local de trabalho:
- o indicador para avaliar a sobrecarga térmica é o índice WBGT - Norma ISO 7243 -1989.
- o conforto térmico é medido através dos índices PMV e PPD - Norma ISO 7730 -1994.

Qualquer um destes índices é calculado com base em medições de temperatura, humidade relativa,
velocidade do ar, calor radiante e em dados sobre o vestuário dos trabalhadores presentes no local e
na sua actividade.

4.7 Factores que Influenciam a Sensação de Conforto Térmico


A sensação de conforto térmico depende da conjugação e da influência de vários factores. Os
principais são [1]:

• Variáveis Individuais:

- tipo de actividade;

- vestuário;

- aclimatação;

• Variáveis Ambientais:

- temperatura do ar;

- humidade relativa do ar ou pressão parcial de vapor;

- temperatura média de radiação das superfícies vizinhas;

- velocidade do ar.

Além disso, variáveis como sexo, idade, raça, hábitos alimentares, peso, altura etc., podem exercer
influência nas condições de conforto de cada pessoa e devem ser consideradas.

Na Figura 4.8 mostram-se as trocas de calor do corpo humano com o ambiente circundante.

4.11
Física das Construções

Figura 4.8 - Trocas do corpo humano com o ambiente circundante [1]

Do atrás exposto, podem agora deduzir-se


deduzir quais as variáveis que há que ter em conta para
determinação da situação térmica duma pessoa:
1) Temperatura do ar ambiente (Ta) - que está ligada a todas as trocas de calor sensível por
convecção.
2) Temperatura média de radiação (Ts) - que está ligada a todas as trocas de calor por
radiação. É uma média ponderada,
p , das temperaturas das superfícies que envolvem o corpo
através de factores de forma. Há que considerar também as fontes concentradas de radiação
(ex.: radiação solar directa).
3) Humidade relativa do ar (φ) -que está
stá ligada a todas as trocas de calor latente.
4) Velocidade do ar (c) - que está ligada á grandeza dos coeficientes de transferência de calor
e massa por convecção.
5) Resistência térmica da roupa (Rr) - que está ligada à grandeza do fluxo de calor dissipado
pela
la porção coberta da pele.
6) Actividade metabólica (M) - que determina a grandeza do calor total a dissipar para manter
o equilíbrio térmico.

Todas as outras variáveis, duma forma mais ou menos complexa, podem ser relacionadas com uma
ou mais destas seis variáveis.
riáveis. No entanto, para definir completamente o estado térmico duma
pessoa, é necessário conhecer o valor de todas as seis variáveis.

Embora todas estas variáveis possam ser expressas nas respectivas unidades do Sistema
Internacional, recorre-se,
se, em geral,
gera a unidade específicas para as duas últimas:

- Resistência térmica da roupa


A pele troca calor por condução, convecção e radiação com a roupa, que por sua vez troca
calor com o ar por convecção e com outras superfícies por radiação. Quanto maior a
resistência
ência térmica da roupa, menor serão as trocas de calor do organismo com o meio [10].
Poderia parecer estranho o facto de em climas muitos quentes e secos se utilizarem roupas
longas, neste caso, o suor evaporado permanece entre a pele e a roupa, criando um
u
microclima mais ameno, além de diminuírem as perdas de líquido do corpo por evaporação
[10].

4.12
Física das Construções

A roupa reduz também a sensibilidade do corpo às variações de temperatura e de velocidade


do ar [10].
A resistência térmica da roupa depende do tipo de tecido, da fibra, do ajuste ao corpo, e deve
ser medida através das trocas secas relativas a quem usa, exprime-se em clo (de clothes),
que representa o valor da resistência térmica típica de um fato de homem, com:
2
1 clo = 0,155 m K/W
Para caracterizar um qualquer tipo de vestuário, pode recorrer-se aos valores que constam na
Tabela 4.1, seleccionando os respectivos componentes e multiplicando a soma das suas
resistências térmicas por 0,82, factor que corresponde aos efeitos das sobreposições normais
das diferentes peças de vestuário.

Exemplo: Vestuário típico de um homem no Inverno:


Roupa interior - 0,14 Clo
Camisa c/ gravata - 0,23 Clo
Fato - 0,48 Clo
Camisola - 0,37 Clo
Sapatos e meias - 0,08 Clo

Total 1,30
Resistência térmica do conjunto: 1,30 x 0,82 = 1,1 Clo

Deve ter-se em conta que os valores constantes na Tabela 4.1 não são mais que valores
médios, já que há um grande número de tecidos diferentes. Os valores da Tabela 4.1 devem,
ser tomadas como ordens de grandeza, podendo interpolar-se sempre que seja conveniente.
1
Tabela 4.1 - Resistência Térmica Típica de Peças de Vestuário (Clo)
Homem Mulher
Roupa interior leve 0,14 Roupa interior leve 0,05
Camisa: Leve, manga curta 0,14 Blusa: Leve 0,20
Leve, manga comprida 0,22 Pesada 0,29
Pesada, manga comprida 0,29 T-shirt 0,09
Com gravata + 5% Vestido : Leve 0,17
T - shirt 0,09 Pesado 0,63
Colete : Leve 0,15 Saia: Leve 0,10
Pesado 0,29 Pesado 0,22
Calças: Leves 0,26 Calças: Leves 0,26
Médias 0,32 Médias 0,32
Pesadas 0,44 Pesadas 0,44
Camisola: Leve 0,20 Camisola: Leve 0,17
Pesada 0,37 Pesada 0,37
Casaco: Leve 0,22 Casaco: Leve 0,17
Pesado 0,49 Pesado 0,37
Meias e Sapatos 0,07 Meias e Sapatos 0,05
1
Adaptado das normas ASHRAE St. 55-1981. “Thermal Environmental Conditions for human
Occupancy” e ISO 7730-1984 “Moderate Thermal Environments”.

Na Tabela 4.2 apresentam-se os valores típicos para vários tipos de combinações de roupa [2].

Tabela 4.2 - Resistência térmica de várias combinações de peças de roupa [2]

4.13
Física das Construções

Resistência Térmica
Roupa 2
m .K/W clo
Sem roupa (nu) 0 0
Calções, fato de banho 0,015 0,1
Roupa típica de ambiente tropical - roupa interior leve, camisa de manga curta,
0,045 0,3
calções, meias leves e sandálias
Roupa leve de Verão - roupa interior leve, camisa de manga curta, calças ou saia
0,08 0,5
leves, meias leves e sapatos
Roupa leve de trabalho - roupa interior leve, camisa leve de algodão e manga
0,11 0,7
comprida, calças, meias de algodão e sapatos
Roupa típica de Inverno - roupa interior, camisa de algodão e manga comprida,
0,16 1,0
calças ou saia, camisola de manga comprida ou casaco, meias grossas e sapatos
Roupa pesada de Inverno - roupa interior de algodão, camisa de manga comprida,
0,23 1,5
fato, incluindo calças, casaco e sobretudo, meias de lã e sapatos pesados

- Actividade metabólica

A actividade metabólica é o processo de produção de energia interna a partir de elementos


combustíveis orgânicos, ou seja, através do metabolismo, o organismo adquire energia [10].
Porém, de toda energia produzida pelo organismo humano, apenas 20% é transformada em
potencialidade de trabalho. Os 80% restantes são transformados em calor que deve ser
dissipado para que a temperatura interna do organismo seja mantida em equilíbrio [10].
Quanto maior a actividade física, maior será o calor gerado por metabolismo. A actividade
metabólica exprime-se em Met, com:
2
1 Met = 58,2 W/m

Este é o valor da actividade metabólica de uma pessoa sentada a descansar (actividade


sedentária). Comparando com os valores constantes na Tabela 4.3, verifica-se que, para uma
pessoa normal de tamanho médio, 1 Met corresponde a cerca de 100W.

Tabela 4.3 - Actividades Metabólicas Típicas para várias actividades (W)* EN-ISO 7730 [15]
2
Actividade W/m Met
Pessoa a descansar ou à - vontade
A dormir 40 0,7
Reclinado 45 0,8
Sentado, relaxado 60 1,0
De pé, relaxado 70 1,2
Caminhar em terreno plano
3,2 Km/hr (0,89 m/s) 115 2,0
4,8 Km/hr (1,34 m/s) 150 2,6
6,4 Km/hr (1,79 m/s) 220 3,8
8 Km/hr (2,22 m/s) 337 5,8
Marcha a subir (4Km/hr = 1,1 m/s)
5% gradiente 206 3.6
15% gradiente 349 6.1
Actividades de Escritório, Escolar, Laboratório
Ler, sentado 55 1,0
Escrever 60 1,0
Dactilografar 65 1,1
Arquivar, sentado 70 1,2

4.14
Física das Construções

Arquivar, em pé 80 1,4
Circular 100 1,7
Levantar, embalar 120 2,1
Conduzir, Pilotar
Carro 60 - 115 1,0 - 2,0
Avião, rotina 70 1,2
Avião, aterrar com instrumentos 105 1,8
Avião, combate 140 2,4
Veículos pesado 185 3,2
Actividades várias
Cozinhar 95 - 115 1,6 - 2,0
Limpar a casa 115 - 200 2,0 - 3,4
Sentado, movimentando as pernas 130 2,2
Trabalho com máquinas
Corte (mesa leve) 105 1,8
Leve (indústria eléctrica) 115 - 140 2,0 - 2,4
Pesado 235 4,0
Manipular sacos com 50kg 235 4,0
Trabalho com picareta 235 - 280 4,0 - 4,8
Actividades de laser diversas
Dançar, social 140 - 255 2,4 - 4,4
Ginática / exercício 175 - 235 3,0 - 4,0
Ténis, singulares 210 - 270 3,6 - 4,0
Basquetebol 290 - 440 5,0 - 7,6
Luta livre, competição 410 - 505 7,0 - 8,7
2
* Pessoa de tamanho médio, isto é, superfície do corpo de 1,75 m (1.7 m e 69 kg).

A potência calorífica produzida pelo corpo humano depende do tipo de actividade


desenvolvida, tal como se mostra na Tabela 4.3 [2, 15].

Os valores da Tabela 4.3 foram obtidos por via experimental e devem ser interpretados como
médios, já que há variações de pessoa para pessoa devido a factores tais como a idade,
peso, sexo e velocidade do vento, esta para actividades ao ar livre.

Valores para outros tipos de actividades podem ser obtidos, por exemplo, no livro de P.O.
Fanger “Thermal Comfort” [16].

4.7.1 Temperatura Média de Radiação


De uma maneira formal, a temperatura média da radiação pode ser definida como a média pesada
das temperaturas das superfícies envolventes do espaço onde se encontram as pessoas, inclui o
efeito da radiação solar incidente e tem um impacto no conforto superior ao da temperatura ambiente:
N
T s = ∑ Ti Fpi
i=1

em que Fpi é o factor de forma entre a pessoa (p) e a superfície i.

A temperatura média de radiação representa a temperatura uniforme de um ambiente imaginário no


qual a troca de calor por radiação é igual ao ambiente real não uniforme, é uma temperatura média
das superfícies envolventes, como mostra a Figura 4.9.

4.15
Física das Construções

_
25ºC Tr = 22ºC

22ºC 18ºC

20ºC

Temperatura média de radiação

Figura 4.9 - Conceito de temperatura média de radiação (adaptado de [2])

Embora haja valores de Fpi para certas geometrias simples, (ver Anexo I), o seu cálculo exacto é
difícil por meios matemáticos, sendo em geral, feita uma estimativa rápida dos seus valores.

Num espaço já existente, é possível, no entanto, proceder à sua medida através do uso de
termómetro de bolbo negro, tal como se mostra na Figura 4.10. A temperatura deste termómetro
resulta de um balanço entre as trocas por convecção natural e forçada para o ar ambiente (função da
temperatura ambiente e da velocidade do ar) e por radiação para as superfícies envolventes.

É assim possível, para as condições médias típicas no interior de edifícios, obter a temperatura média
da radiação através da expressão, em que Tbn - Temperatura do bolbo negro:

T s = Tbn + 2,27 c (Tbn − Ta )

Convém ainda referir a propósito do cálculo da temperatura média da radiação que uma “superfície”
deve ser tomada no sentido lato, incluindo não só as paredes da envolvente do espaço estudado,
mas ainda também as próprias pessoas que aí se encontrarem, pois também há trocas por radiação
entre duas pessoas que se encontrem próximas uma da outra.

1 - Sonda de temperaturas
2 - Bolbo negro

Figura 4.10 - Representação esquemática e fotografia de um termómetro de bolbo negro [10]

Um outro factor que influencia a temperatura média da radiação é a exposição directa aos raios
solares. Este efeito é de quantificação muito difícil, sendo necessário entrar em conta com as
características de absorção da radiação pela pele ou pela roupa [2].

Um indivíduo que se encontre directamente exposto à radiação solar pode estar sujeito a uma
temperatura média de radiação muito superior à temperatura ambiente, podendo atingir diferenças
superiores a 25ºC, no caso de uma pessoa sentada com a totalidade do corpo exposta à radiação
solar máxima [2].

Logo, a exposição à radiação solar no interior pode facilmente causar desconforto, sendo esta
situação agravada pela assimetria entre a parte exposta do corpo e a parte do corpo à sombra [2].

4.16
Física das Construções

Assim, uma vez que a temperatura superficial interior das paredes exteriores, de um edifício pouco
isolado, em geral são inferiores às de um edifício com um bom nível de isolamento, a temperatura do
ar do segundo pode ser mais baixa do que a do edifício mal isolado, para o mesmo nível de conforto
[2].

Por outro lado, a superfície das janelas sofre maiores flutuações de temperatura, de modo que, a
temperatura média de radiação perto destas superfícies pode ser superior ou inferior à de outros
locais do compartimento e, quando estiverem frias podem causar desconforto devido a assimetrias
radiantes [2].

4.7.2 Temperatura do Ar Ambiente


A temperatura do ar é a principal variável do conforto térmico [10]. A sensação de conforto baseia-se
na perda de calor do corpo pelo diferencial de temperatura entre a pele e o ar, complementada pelos
outros mecanismos termo-reguladores. O calor é produzido pelo corpo através do metabolismo e
suas perdas são menores quando e temperatura do ar está alta ou maiores quando a temperatura
está mais baixa [10].
A diferença de temperatura entre dois pontos no ambiente provoca a movimentação do ar, chamada
de convecção natural: a parte mais quente torna-se mais leve e sobe enquanto a mais fria, desce,
proporcionando uma sensação de arrefecimento do ambiente [10].
A Temperatura do ar que é significativa para as pessoas que passam a maior parte do tempo
sentadas é a temperatura do pavimento até uma altura de 1,1 m [2].

4.7.3 Velocidade do Ar
A velocidade do ar tem efeito na troca de calor por convecção entre o organismo e o ambiente [2].

A velocidade do ar, que costuma ser menor que 1 m/s, ocorre em ambientes internos sem
necessariamente a acção directa do vento. O ar desloca-se pela diferença de temperatura no
ambiente, onde o ar quente sobe e o ar frio desce (convecção natural). Quando o ar se desloca por
meios mecânicos, como uma ventoinha, o coeficiente de convecção aumenta, aumentando a
sensação de perda de calor (convecção forçada). O deslocamento do ar também aumenta os efeitos
da evaporação no corpo humano, retirando a água em contacto com a pele com maior eficiência e
assim, reduzindo a sensação de calor [10]. Ar a circular a uma velocidade superior parecerá mais frio
e as pessoas com actividades sedentárias são mais sujeitas a correntes de ar, ou seja arrefecimento
local indesejado [2].

4.7.4 Humidade Relativa


A humidade é caracterizada pela quantidade de vapor de água contido no ar. Este vapor forma-se
pela evaporação da água, processo que supõe a mudança do estado líquido ao gasoso, sem
modificação da sua temperatura [10].
O ar, a uma determinada temperatura, só pode conter uma certa quantidade de vapor de água.
Quando se atinge a esse valor máximo diz-se que o ar está saturado.
Ultrapassado este limite, ocorre a condensação, no qual o vapor excedente passa ao estado líquido,
provocando o aumento da temperatura da superfície onde ocorre a condensação [10].

4.17
Física das Construções

Estes processos dão lugar a uma forma particular de transferência de calor: um corpo perde calor por
evaporação que será ganho por aquele no qual se produz a condensação [10].
A humidade do ar conjuntamente com a velocidade do ar intervém na perda de calor por evaporação.
Como aproximadamente 25% da energia térmica gerada pelo organismo é eliminada sob a forma de
calor latente (10% por respiração e 15% por transpiração) é importante que as condições ambientais
favoreçam estas perdas [10].
À medida que a temperatura do meio aumenta, dificultando as perdas por convecção e radiação, o
organismo aumenta as perdas por evaporação [10]. Quanto maior a humidade relativa, menor a
eficiência da evaporação na remoção do calor [10]. Isto mostra a importância de uma ventilação
adequada dos edifícios.
Porém, quando a temperatura do ar é superior à da pele, a pessoa ganha calor por convecção, mas,
ao mesmo tempo produz-se um fenómeno de efeito contrário, já que a circulação do ar acelera as
perdas por evaporação [10].
No momento em que o balanço começa a ser desfavorável, ou seja, quando apenas se ganharia
calor, a humidade do ar torna-se importante. Se o ar está saturado, a evaporação não é possível, o
que faz a pessoa começar a ganhar mais calor logo que a temperatura do ar seja superior à da pele
[10]. No caso em que o ar está seco, as perdas continuam ainda com as temperaturas mais elevadas
[10].
Para temperaturas moderadas (15 a 25ºC) em estado estacionário (i.e. quando o indivíduo se
encontra na mesma posição durante um longo período de tempo), a humidade relativa do ar não tem
uma influência muito significativa na sensação térmica: um acréscimo de 10% na humidade relativa
terá o mesmo efeito que um aumento de 0,3ºC na temperatura do ar [2].

Em condições não estacionárias (i.e. quando o sujeito se desloca do interior para o exterior, ou entre
dois locais com humidade relativa diferente), no entanto, o efeito térmico da humidade pode ser 2 a 3
vezes superior [2].

Em ambientes quentes (i.e. com temperaturas superiores a 30ºC), o efeito da alteração da humidade
pode ter um efeito significativo no conforto térmico [2].

Na maior parte das situações que surgem nos edifícios a humidade do ar tem um impacto térmico
moderado, existem no entanto um conjunto de razões pelas quais a humidade relativa deve ser
controlada, pois valores muito elevados podem conduzir ao aparecimento de condensações, bolores,
degradação dos materiais, ácaros, enquanto que valores baixos podem conduzir ao aparecimento de
electricidade estática e secagem das mucosas do nariz e da boca. Estes problemas são resolvidos se
a humidade relativa for mantida entre 30% e 60% [2].

4.7.5 Temperatura de operação


Para o conforto, é interessante conhecer também a temperatura de operação. A temperatura de
operação resume as perdas da temperatura do corpo, que está submetido a um ambiente real com
efeitos desiguais por todos os lados [10].

A temperatura de operação é uma temperatura teórica que provoca uma perda de calor equivalente a
todos os fenómenos que provocam esta perda caso o corpo estivesse num ambiente imaginário
submetido apenas a uma temperatura homogénea [10].

4.18
Física das Construções

A temperatura do ar e a temperatura média de radiação são por vezes consideradas como um único
parâmetro, a temperatura de operação, que para ar calmo (velocidades do ar inferiores a 0,15 m/s) é
igual á média das duas temperaturas, como se representa de forma esquemática na Figura 4.11 [2].
_
Tr = 22ºC
To ≅ 23ºC
Ta = 25ºC

¯
Temperatura de operação
To ≅ (Tr + Ta)/2

Figura 4.11 - Conceito de temperatura de operação (adaptado de [2])

4.8 Condições Térmicas Necessárias para o Conforto

O conforto tem sido definido como o estado de espírito que expressa uma satisfação geral.
Obviamente subjectiva, esta definição implica não só o conforto térmico como também todo o
conjunto de estados psicológicos que dizem respeito à multitude de sensações e estados de espírito.
Como já foi atrás expresso, há muitas condições ambientais em que é possível manter-se a
neutralidade ou equilíbrio térmico do corpo, mas que podem ser consideradas não confortáveis por
uma pessoa, por exemplo, numa situação que envolva elevada transpiração.

Dada a subjectividade da sensação de conforto, é impossível prevê-la de forma definitiva sem recurso
à experimentação. Está claro que esta fase experimental já foi largamente executada e
correlacionada com modelos mais ou menos complexos que equacionam as diversas componentes
de transferência de calor que ocorrem no corpo humano, tal como se mostrou nas Figuras 4.2 e 4.3.
Destes trabalhos semi-empíricos resultou o conhecimento de grupos de valores dos seis factores
anteriormente enumerados que, duma forma geral, são conducentes a situações de conforto térmico
das pessoas.

Deve notar-se, no entanto, que qualquer conjunto particular de valores das seis variáveis não
resultará numa sensação de conforto térmico para a totalidade das pessoas que a ela estão sujeitas.
Fanger mostrou que, mesmo nas situações mais favoráveis, há sempre pelo menos 5% das pessoas
que as acha desconfortáveis.

Estes resultados de Fanger, obtidos por análise estatística das reacções de pessoas sujeitas a
diversos conjuntos bem definidos de valores das seis variáveis, foram posteriormente confirmados
por outros investigadores. É assim, por exemplo, que as normas americanas (ASHRAE) e as normas
ISO definem condições térmicas aceitáveis como aquelas que, em média, resultam em sensações
confortáveis para 80% da população. A situação complica-se ainda mais pela multiplicidade de tipo
de vestuário que podem ser usados em simultâneo num mesmo espaço.

4.19
Física das Construções

4.9 Critérios para o Estabelecimento de Condições de Conforto


Termo-higrométrico

Desde à muito tempo se tem procurado estabelecer para cada tipo de ocupação no edifício -
traduzido pelo nível de actividade e tipo de vestuário utilizado - o conjunto de combinações dos
factores de clima interno - temperatura do ar, temperatura média de radiação, velocidade do ar e
humidade relativa do ar - que conduzam a condições de conforto. Têm sido realizadas várias
tentativas de tradução da acção do ambiente interno num único parâmetro que a caracterize de forma
global e, em simultâneo, permita a delimitação, numa escala desse parâmetro, dos valores
correspondentes às condições de conforto admissível [1].

Destes estudos resultaram diversos índices termo-higrométricos que procuram traduzir, através de
uma única variável, o efeito de cada combinação daqueles quatro factores nas condições correntes
de conforto nos edifícios [1].

Por outro lado, tem-se também procurado explicar a sensação térmica humana através de modelos
teóricos de comportamento fisiológico ou de correlações simples entre os ambientes externo e o
interno pretendido [1].

Os índices de sensação térmica de uso mais generalizado, para situações correntes são a
temperatura efectiva e a temperatura resultante [1].

A primeira, estabelecida como parâmetro empírico definidor duma escala de conforto por Houghten,
Yaglou e Miller (1923/25), traduz, de acordo com testemunhos pessoais realizados em numerosos
ensaios em câmaras climatizadas, a mesma sensação de conforto térmico para diferentes
combinações da temperatura, humidade relativa e velocidade do ar [1].

A segunda, temperatura resultante, foi proposta por Missenard (1960) e pretendia traduzir o efeito
conjunto da temperatura do ar e da radiação envolvente para dado valor da velocidade do ar [1].
Deduzindo o valor daquele parâmetro a partir das expressões das trocas de calor por convecção e
radiação obteve [1]:

Trs = a Trm + (1 - a) Ta

Em que:

Trs - temperatura resultante seca;

Trm - temperatura média de radiação;

Ta - temperatura seca do ar;


1
a=
1 + 10ν
v - velocidade do ar (m/s).

Com ar calmo (v = 0,1m/s) vem: a = 0,5. Nestas condições:

Ta + Trm
Trs =
2

4.20
Física das Construções

Para atender à influência da humidade definiu a temperatura resultante de um dado ambiente como a
temperatura comum do ar e do contorno de um ambiente fictício em que o ar esteja calmo e saturado,
isto é, com teor de humidade de 100%, e que produza a mesma sensação de conforto do ambiente
dado [1].

Na Figura 4.12 apresentam-se


se os monogramas, para as situações mais correntes (pessoas em
actividade livre, com roupa normal) correspondentes aos dois parâmetros enunciados [1].

Figura 4.12 - Monogramas das temperaturas efectiva e resultante para situações correntes (pessoas
em actividade livre, com roupa normal) [1]

A delimitação de zonas de conforto com base nos parâmetros acima referidos, nomeadamente, o de
temperatura efectiva, foi inicialmente realizada por Houghten e Yaglou (1923) recolhendo os
testemunhos das pessoas sujeitas aos diferentes ambientes numa escala psico-fisiológica
psico de sete
termos (muito frio; frio; neutral; nem frio, nem quente; quente e muito quente) e procedendo ao
tratamento estatístico dos resultados obtidos de molde a determinar uma zona em que um grande
número de pessoas - 80% a 90%
0% - se considerasse em condições de neutralidade térmica [1].

Posteriormente, vários estudos têm sido realizados, não só sobre pessoas com actividade sedentária
mas também com outros tipos de actividade traduzidos por níveis de metabolismo de 80, 110 e
2
140 W/m [17].

Na Figura 4.13 sumarizam-se


se os resultados decorrentes destes estudos, estes resultados
correspondem a condições de longa exposição num ambiente uniforme, a flutuação da temperatura e
da humidade do ar, bem como as condições assimétricas de radiação
radiação térmica sobre pessoas em
actividade sedentária, têm efeitos não desprezáveis e foram objecto de estudo de diversos autores.

4.21
Física das Construções

Figura 4.13 - Linhas e zonas de conforto para diversos níveis de actividades, segundo diversos
autores [1]

Uma outra abordagem do problema foi a realizada por Fanger (1972) que assumiu ser a neutralidade
térmica controlada por aspectos fisiológicos quantificáveis, sendo então possível a dedução duma
equação geral de conforto [1, 18]. Utilizando a escala psico-fisiológica
psico isiológica de sete termos de Houghten e
Yaglou, variando de -3
3 a +3, representando o zero a neutralidade térmica e relacionando a equação
deduzida com os votos de sensação térmica recolhidos nos numerosos ensaios realizados (mais de
1300 pessoas) Fanger estabeleceu
tabeleceu um índice - PMV, Predicted Mean Vote - que permitia calcular, a
partir das condições ambientes, da actividade e do tipo de vestuário, o valor médio esperado do voto
dos indivíduos [1].

Com base numa análise estatística dos resultados da observação


observação correlacionou o valor do voto assim
calculado com a percentagem previsível de pessoas insatisfeitas (PPD - Predicted Percentage of
Dissatisfied) com as condições referidas.

Mas, embora os critérios assim formulados tenham grande fundamentação experimental,


experiment eles foram
obtidos para uma percentagem apreciável de pessoas em idade escolar e, em geral, com grande
habituação a ambientes climatizados e deslocados da sua actividade normal [1].

4.22
Física das Construções

Estudos realizados através da recolha directa das respostas dos indivíduos


indivíduos expostos no seu
ambiente normal de actividade, climatizado ou não e, com a roupa apropriada, mostram a importância
da adaptação ecológica às regiões e, na mesma região, a adaptação sazonal e a influência da
habituação, ou não, a ambientes climatizados (ao contrário do que decorre dos trabalhos de Fanger e
da EN ISSO 7730, neles baseada) [1].

Nas Figuras 4.14 e 4.15


15 apresentam-se
apresentam se os resultados dos estudos levados a cabo por Humphreys
(1975), onde os aspectos acima referidos são postos em relevo, na forma
forma de temperatura média de
globo [1].

Figura 4.14 - Relação entre a média mensal do valor da escala psico-fisiológica


psico fisiológica e a temperatura
média de globo, segundo Humphreys [1]

Figura 4.15 - Relação entre a temperatura neutra e a temperatura média exterior, segundo
Humphreys [1]

4.10 Índices de Avaliação Térmica

4.10.1 Índices de conforto


Uma vez que o conforto é expresso pela satisfação dos ocupantes, a forma mais apropriada para
medir o conforto é perguntar aos ocupantes se estes se sentem confortáveis. A escala apresentada
na norma EN ISO 7730 [15], baseada nos estudos realizados por Fanger, é a mais utilizada para este
fim, sendo calculado o voto médio das várias pessoas que se encontram num recinto.

Na Figura 4.16 e na Tabela 4.4


4 apresenta-se
apresenta a escala de conforto térmico da EN ISO 7730 [15].

4.23
Física das Construções

Parâmetro de Conforto – PMV

-3 -2 -1 0 +1 +2 +3

Muito Frio Fresco Neutro Morno Quente Muito


Frio Quente
∆T = Tar - Tar confortável

-8º -6 -4 -2 0º +2 +4 +6 +8º

Figura 4.16 - Escala para representação da sensação térmica de um indivíduo em relação ao local

Tabela 4.4 - Escala de conforto térmico - EN-ISO 7730 [15]


-3 muito frio
-2 frio Desconfortável devido ao frio
-1 ligeiramente frio / fresco
0 neutro / confortável Satisfeito
1 ligeiramente quente / morno
2 quente Desconfortável devido ao calor
3 muito quente

Fanger derivou uma equação geral de conforto para calcular a combinação das variáveis ambientais
incluindo a temperatura do ar, a temperatura média de radiação, a velocidade do ar, a humidade
relativa, a actividade metabólica e a resistência térmica da roupa [18].

Fanger propôs um método para calcular o voto médio de um grupo de pessoas de diferentes
nacionalidades, idades e sexos, a partir dos parâmetros do ar (temperatura, humidade relativa e
velocidade do ar), resistência da roupa e actividade metabólica a que designou "predicted mean vote"
(PMV), ou Voto Médio Previsível.

O Voto Médio Previsível consiste num valor numérico que traduz a sensibilidade humana ao frio e ao
calor. O PMV para uma situação de conforto térmico é zero, para o frio é negativo e para o calor é
positivo [1, 13].

Fanger sugeriu também que a percentagem de pessoas insatisfeitas (que podem estar a sentir frio ou
calor) está relacionado com o voto médio. A relação entre a percentagem de pessoas insatisfeitas,
PPD, e o valor do índice PMV (Voto Médio Previsível) é a que se apresenta na Figura 4.17. De
acordo com este modelo é impossível satisfazer a todas as pessoas, sendo o número mínimo de
pessoas insatisfeitas de aproximadamente 5% [1, 13].

4.24
Física das Construções

100%
90%
80%
70%

PPD
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
-3 -2 -1 0 1 2 3
PMV
Figura 4.17 - Percentagem previsível de pessoas descontentes ou insatisfeitas (PPD) em função do
voto médio previsível (PMV)

Fanger publicou, em 1982, a relação entre os parâmetros físicos que influência o conforto térmico e o
voto médio, que pode assim ser previsto, sendo a equação de Fanger actualmente aceite em todo o
mundo para determinar a situação de conforto [16].

Deverá notar-se que os índices PMV e PPD exprimem sensações de desconforto em relação à
totalidade do corpo. Nesse sentido, recomenda-se que o PPD seja inferior a 10% correspondendo
este valor ao seguinte critério para o PMV [10, 16]:

- 0,5 < PMV < + 0,5

Ainda que o PMV se situe dentro dos valores atrás recomendados será conveniente analisar cada um
dos factores ambientais pois que a sensação de desconforto poderá ser causada por um
aquecimento ou arrefecimento indesejável de uma parte específica do corpo (desconforto local),
devido a trocas de calor exageradas com o ambiente e desigualdade exagerada de temperatura entre
as diversas partes do corpo. Este tipo de situações poderá dever-se a (Figura 4.18):
• uma diferença vertical da temperatura do ar muito elevada entre a cabeça e os tornozelos;
• existência de pavimentos demasiadamente quentes ou frios;
• velocidade do ar demasiado elevada (corrente de ar);
• ou, a uma assimetria muito acentuada nos valores da temperatura de radiação.

Figura 4.18 – Desconforto térmico local.

4.25
Física das Construções

É recomendável o uso do conceito de PMV e PPD apenas para ambientes moderados, quando os
valores de PMV estão compreendidos entre -2 e +2 e os seis parâmetros intervenientes nas
condições de conforto estão dentro de limites correntes nos edifícios [10].

Assim, a avaliação da sensação térmica e grau de desconforto de indivíduos expostos a ambientes


térmicos moderados deverá ser feita com base em critérios que se baseiam na determinação dos
índices PMV (Voto Médio Previsível ou Predicted Mean Vote) e PPD (Percentagem previsível de
insatisfeitos ou Predicted Percentage of Dissatisfied) e aplicam-se a ambientes interiores onde se
pretenda avaliar as condições ambientais em termos de conforto térmico [10]. Conhecidos os valores
PMV poderá determinar-se o PPD com base no gráfico apresentado na Figura 4.17.

Estes critérios seguem, em linhas gerais, as Normas ISSO 7730 (Conforto - PMV e PPD para
ambientes moderados) e ISO 7726 (Parâmetros físicos - Thermal environments - Instruments and
methods for measuring physical quantities).

Na Tabela 4.5 apresentam-se os parâmetros que influência o conforto térmico, segundo a notação
definida por Fanger [13].

Tabela 4.5 - Parâmetros que influenciam o conforto térmico


Temperatura do ar θa [°C] ou Ta [K]
Temperatura média de radiação θr [°C] ou Tr [K]
Velocidade do ar relativamente ao indivíduo v [m/s]
Pressão parcial do vapor de água p [Pa]
Actividade metabólica do indivíduo M [Watt]
Trabalho mecânico do indivíduo W [Watt]
2
Área de pele A [m ]
2
Actividade metabólica específica m = M/A [W/m ]
2
Trabalho mecânico específico w = W/A [W/m ]
2
Resistência térmica da roupa R [m K/W]
Roupa H [Clo] = R/0.155
Fracção vestida f

A equação de Fanger é a seguinte [13]:

PMV = (0.303 exp(-0.036 m) + 0.028)


[m-w - 0.00305 (5733 - 6.99 (m-w) - p) - 0.42 (m-w - 58.15)
- 0.000017 m (5867 - p) - 0.0014 m (307 - Ta D) - F],

Onde a função de roupa, F, é dada por:


F = 4.96 10-8 f(Tcl4 – Tr4) + f h (Tcl - Ta),

O coeficiente de transferência de calor h é dado por:


1/4
h = max [2.38 (Tcl-Ta) ; 12.06 v ],

A temperatura absoluta da superfície das roupas, Tcl,é obtida através de:


Tcl= 308.9 - 0.028 (m - w) - R F

E a fracção vestida pode ser obtida usando as seguintes equações:


2
f = 1.00 + 1.290 R se R < 0.078 m K/W
2
f = 1.05 + 0.645 R se R > 0.078 m K/W

4.26
Física das Construções

Alguns valores para a resistência térmica da roupa são mostrados nas Tabelas 4.1 e 4.2, alguns
exemplos de actividades metabólicas encontram-se na Tabela 4.3, apresentadas anteriormente.

A solução da equação de Fanger é iterativa, e necessita de um computador para ser resolvida. A


norma EN ISO 7730 fornece um programa simples, em BASIC [13].

A equação de Fanger é válida nas seguintes condições [13]:


2
- metabolismo entre 46 e 232 W/m (0,8 a 4 met);
2
- roupa correspondendo a 0 até 2 clo (ou com resistência térmica entre 0 e 0,310 m K/W);
- temperatura ambiente (do ar) entre 10 e 30 °C;
- temperatura média de radiação variando entre 10 e 40 °C;
- velocidade do ar inferior a 1m/s;
- pressão parcial de vapor de água entre 0 e 2700 Pa.

A Figura 4.19 mostra a temperatura resultante ideal - temperatura operativa - (linhas) como uma
função da roupa e da actividade, para a situação que corresponde a que apenas 5% dos indivíduos
não se encontrem satisfeitos. Esta figura é válida para velocidades do ar baixas e para uma
humidade relativa aceitável. A zona a sombreado e as zonas em branco são áreas de tolerância, nas
quais a percentagem de pessoas insatisfeitas é inferior a 10%.

Resistência térmica da roupa [m²K/W]


Temperatura
operativa óptima

Actividade Metabólica [W/m²]


Actividade Metabólica [Met]

Resistência Térmica da
Roupa [clo]

Figura 4.19 - Temperatura Resultante adequada ao Conforto, em função do tipo de actividade e de


roupa (adaptado de [13, 19, 20])

A temperatura operativa é definida como a temperatura uniforme de um contorno radiante negro com
o qual um ocupante trocaria a mesma quantidade de calor por radiação e convecção que troca com o
ambiente não-uniforme em que está inserido. Para casos correntes em que a velocidade do ar seja
inferior ou igual a 0,2 m/s e a diferença entre a temperatura radiante média e a temperatura do ar seja
menor que 4ºC a temperatura operativa pode ser calculada pela média entre a temperatura do ar e a
temperatura radiante média do contorno [1].

4.27
Física das Construções

Por exemplo, uma pessoa sentada, de fato, prefere, em média, uma temperatura resultante de 22±2
°C. Se o nível de actividade aumentar, por exemplo, se a pessoa estiver a ler, a temperatura
resultante de 18±3°C é a escolhida. É por isso que em escolas e escritórios a temperatura ideal é de
cerca de 20ºC. Uma pessoa sentada, vestida com uns calções e camisola leves preferirão uma
temperatura de 26±1.5°C, enquanto que uma pessoa sem roupa, numa situação de descanso, se
encontra confortável, em média, para 28±1 °C [10].

O diagrama de conforto apresentado na Figura 4.20 fornece as diferentes combinações de


temperatura do ar e temperatura média de radiação para situações de conforto térmico.

Velocidade do ar
< 0,1 0,2 0,3 0,5 1,5 m/s
Temperatura média de radiação

Actividade metabólica: 1,2 met


Resistência da roupa: 1,0 clo
Humidade relativa: 50%

Temperatura do ar

Figura 4.20 - Diagrama de conforto (Temperatura do ar versus temperatura média de radiação em


função da velocidade do ar) com 1,0 clo, 1,2 met e 50% de humidade relativa (adaptado de [2])

A temperatura resultante para um determinado local é, por definição, a temperatura de um


compartimento isotérmico no qual uma pessoa tem as mesmas perdas de calor totais que no local em
questão, aproximadamente de:
θr= a θa+ (1 - a) θr

Onde a é um factor que depende da velocidade do ar v em relação ao individuo:


a = 0.5 + 0.25v

Esta aproximação pode ser usada para velocidades até 1 m/s.

Então, para edifícios administrativos, de escritórios e de habitação, onde a actividade é próxima de


1,1 met e a resistência da roupa de cerca de 1 clo, a temperatura resultante pode variar, de Inverno,
entre 20 e 24ºC, enquanto que de Verão, com roupas frescas, a temperatura resultante deve variar
entre 23 e 26°C [13].

4.28
Física das Construções

A Figura 4.19 mostra a temperatura resultante mais adequada ao conforto térmico (PMV = 0 - ver
Figura 4.17) em função do nível de actividade e da quantidade de roupa usada pelos ocupantes. Com
base no conhecimento da temperatura resultante, e a partir da respectiva definição, é possível
determinar a temperatura ambiente mais indicada face aos valores da temperatura média de radiação
e velocidade do ar típica do espaço, suposta inferior a 0,15 m/s no Inverno e 0,25 m/s no Verão.
Admite-se que a humidade relativa, desde que compreendida entre os 30% e os 70%, não tem efeito
significativo, tal como aliás se pode confirmar facilmente na Figura 4.21 e 4.22 para a gama de
temperaturas aceitável [13].

Um valor de PMV=0 é, claro, uma situação ideal. Como já atrás se disse, admite-se que um ambiente
é aceitável sempre que 80% dos ocupantes possam ser satisfeitos, o que corresponde a um valor de
PMV=± 0,5 (o que corresponde a que o valor de PPD seja inferior a 10%, como já foi referido), a esta
variação de PMV está associada uma variação da temperatura resultante admissível em torno do
valor óptimo, variação que está também expressa na Figura 4.19 (áreas brancas ou ponteadas, e
respectiva legenda) [13].

Os valores apresentados na Figura 4.19 expressam as condições de conforto considerando o corpo


no seu todo em troca de calor uniforme com o ambiente, mas pode sentir-se desconforto por um
aquecimento ou arrefecimento assimétrico do corpo (ou partes do corpo, por exemplo, os pés em
contacto com o solo excessivamente quente ou frio, a cabeça aquecida por radiação excessiva, de
lâmpadas ou painéis radiantes), etc. [1]. É assim corrente especificar condições adicionais a
satisfazer. No anexo da Norma ISO X35.203 de 1981 recomenda-se, para actividade sedentária, o
seguinte [1]:
i) em condições de Inverno:
- temperatura operativa compreendida entre 20 e 24% (22±2ºC);
- diferença de temperatura do ar na vertical entre 0,1 m e 1,8 m acima do pavimento
(níveis do tornozelo e da cabeça) menor do que 3ºC;
- temperatura superficial do pavimento compreendida entre 19 e 26ºC;
- velocidade média do ar menor do que 0,15 m/s;
- assimetria da temperatura radiante devida a janelas ou outras superfícies frias verticais
menor do que 10ºC (em relação a um pequeno plano vertical colocado a 0,6 m acima
do pavimento);
- assimetria da temperatura radiante devida a painéis radiantes do tecto menor do que
5ºC (em relação a um pequeno plano horizontal colocado a 0,6 m acima do pavimento).

ii) em condições de Verão:


- temperatura operativa compreendida entre 23 e 26% (24,5±1,5ºC);
- diferença de temperatura do ar na vertical entre 0,1 m e 1,8 m acima do pavimento
(níveis do tornozelo e da cabeça) inferior a 3ºC;
- velocidade média do ar menor do que 0,25 m/s.

Em Portugal, em meados dos anos 1980, as Regras de Qualidade Térmica para Edifícios admitia que
os padrões de conforto poderiam ser traduzidos pela fixação de valores limites para [1]:
• a temperatura do ar interior, que pode variar entre 18 e 26ºC, tendo em conta a variação
sazonal da temperatura exterior, como mostra a Figura 4.21, podendo estes limites ser

4.29
Física das Construções

excedidos em 2ºC, em períodos curtos. A flutuação diária da temperatura durante os períodos


de ocupação não deve ser superior a ±2ºC e, em períodos de Inverno, a diferença de
temperatura para locais não aquecidos (corredores, vestíbulos, etc.), ou para locais onde o
nível de actividade seja elevado (oficinas, ginásios, etc.) não deve ser superior a 4ºC.
• a humidade relativa do ar, que deve estar
estar compreendida entre 35% e 85%, devendo evitar-se
evitar
que em períodos de verão exceda os 60%.
• a radiação do contorno, a temperatura média de radiação deve apresentar valores próximos
da temperatura do ar.
• a velocidade do ar, de Inverno deve ser inferior a 0,2
0,2 m/s, de Verão a velocidade pode ser
mais elevada nos locais de actividade mais pesada (oficinas, ginásios, etc.), mas não
devendo ultrapassar os 0,5 m/s.

Figura 4.21 - Zona de conforto (trabalho leve, velocidade do ar inferior a 0,2 m/s, vestuário adaptado
ada
às épocas do ano [1]

Uma outra forma gráfica alternativa de quantificar o ambiente térmico é a que se mostra na Figura
4.22.

Dada a multiplicidade de tipo de vestuário que podem ser usados simultaneamente num mesmo
espaço é costume, definirem-se
se os valores apropriados dos parâmetros que dizem directamente
respeito ao ar (isto é, temperatura ambiente e humidade relativa) em função de valores
característicos dos outros quatro parâmetros. Assim, é típico apenas estabelecerem
estabelecerem-se
recomendações para os casos
os em que:
1) A temperatura média da radiação é igual à temperatura ambiente.
2) O vestuário é típico do uso em condições de Verão ou de Inverno.
3) A actividade corresponde a trabalho sedentário.
4) A velocidade do ar é inferior a 0,15 m/s, isto é, no domínio exclusivo da convecção natural.

Para este conjunto de condições, definem-se


definem se então as condições de humidade e temperatura
ambiente que são consideradas termicamente aceitáveis, tal como se mostra na Figura 4.22 [21].

4.30
Física das Construções

Deve notar-se que a abcissa da Figura 4.22 é definida como uma “temperatura resultante”
(Operative Temperature), que engloba simultaneamente os efeitos de três das variáveis que
influenciam o conforto: temperatura ambiente, temperatura média da radiação e velocidade do ar.
Matematicamente define-se:
α T T
r s + αc a
Tr = α α
r+ c
em que: Tr - temperatura resultante

αr - coeficiente de transferência de calor por radiação


T s - temperatura média de radiação

αc - coeficiente de transferência de calor por convecção


T a - temperatura ambiente (bolbo seco)
Teor em Água [kg/kg de ar seco]

Ponto de Orvalho [ºC]

Temperatura Resultante [ºC]

Figura 4.22 - Zona de conforto [21]

4.31
Física das Construções

2 2
Em condições normais típicas de edifícios, αr = 4,9 w/m k e αc = 2,9 w/m k, devendo, no entanto,
corrigir-se estes valores sempre que estivermos em presença de temperaturas de superfícies muito
4

elevadas (αr = T s ) ou ar não calmo (αc = 10,4 √c).

Portanto, na Figura 4.22, estão directamente representados os efeitos de 4 das 6 variáveis que
influenciam o conforto térmico, restando o vestuário e actividade metabólica como parâmetros. Se
estes tiverem valores diferentes dos valores padrão - 1 Met, 1 Clo (Inverno) ou 0,5 Clo (Verão) -
torna-se necessário introduzir factores de correcção. Em média, essas correcções tomam-se como:
- 0,14 Clo/ºC

e
- 0,5 Met/ºC

em que o sinal negativo significa que um aumento na roupa ou na actividade metabólica corresponde
a um abaixamento na temperatura resultante para que se possa manter condições de conforto
térmico.

Note-se que o facto de as zonas a tracejado na Figura 4.22 estarem marcadas como sendo de
Inverno e de Verão se refere apenas ao nível de vestuário típico de cada época do ano. A sensação
térmica do homem é independente da época do ano, sendo as duas zonas definidas apenas para
conveniência do leitor. Se se usar o factor de conversação 0,14 Clo/ºC acima apontado, verifica-se
que 0,5 Clo correspondem a cerca de 3,6 ºC, o que muito aproximadamente sobrepõe as duas zonas.
Na realidade, uma pessoa vestida em Agosto com 1 Clo teria uma sensação que se poderia
caracterizar pela zona a tracejado designada por Inverno.

A utilização das metodologias constantes nas Figuras 4.19 e 4.22 conduz a resultados muito
semelhantes.

A quantificação do conforto através de métodos gráficos, tal como se faz nas Figuras 4.17 e 4.19, é
um pouco difícil pois obriga à definição de seis parâmetros independentes. Torna-se mais
interessante, portanto, a sua caracterização através de um único parâmetro. Foram propostos, até
agora, vários tipos de índices, uns de caracter meramente experimentais, outros com base num
modelo teórico, embora recorrendo ainda a resultados experimentais para calibração desse modelo.

Dentro do primeiro tipo (experimental), destacam-se os índices propostos por Fanger: o PMV e o
PPD, representados na Figura 4.17. O primeiro (PMV ≡ Predicted Mean Vote), expresso na abcissa
da Figura 4.17, atribui o valor zero à sensação de conforto térmico, e valores positivos e negativos
respectivamente a sensações de calor e frio.

O PPD (Percentagem of People Dissatisfied) representa a percentagem de um grande número de


pessoas que, em média, estaria desconfortável nas condições ambiente especificadas. Os valores de
PMV constam de tabelas (Tabelas 4.6 a 4.9), e a sua relação com o PPD faz-se através da Figura
4.17 ou da Tabela 4.10.

4.32
Física das Construções

Tabela 4.6 - PMV para uma Actividade Metabólica de 1 Met


TEMP. VELOCIDADE DO AR
ROUPA
RESULT. m/s
2
Clo m . ºC/w ºC < 0,10 0,10 0,15 0,20 0,30 0,40 0,50 1,00
0 0 26 -1,62 -1,62 -1,96 -2,34
27 -1,00 -1,00 -1,36 -1,69
28 -0,42 -0,42 -0,76 -1,05
29 0,13 0,13 -0,15 -0,39
30 0,68 0,68 0,45 0,26
31 1,25 1,25 1,08 0,94
32 1,83 1,83 1,71 1,61
33 2,41 2,41 2,34 2,29
0,25 0,039 24 -1,52 -1,52 -1,80 -2,06 -2,47
25 -1,05 -1,05 -1,33 -1,57 -1,94 -2,24 -2,48
26 -0,61 -0,61 -0,87 -1,08 -1,41 -1,67 -1,89 -2,66
27 -0,17 -0,17 -0,40 -0,58 -0,87 -1,10 -1,29 -1,97
28 0,27 0,27 0,07 -0,09 -0,34 -0,53 -0,70 -1,28
29 0,71 0,71 0,54 0,41 0,20 0,04 -0,10 -0,58
30 1,15 1,15 1,02 0,91 0,74 0,61 0,50 0,11
31 1,61 1,61 1,51 1,43 1,30 1,20 1,12 0,83
0,50 0,078 23 -1,10 -1,10 -1,33 -1,51 -1,78 -1,99 -2,16
24 -0,74 -0,74 -0,95 -1,11 -1,36 -1,55 -1,70 -2,22
25 -0,38 -0,38 -0,56 -0,71 -0,94 -1,11 -1,25 -1,71
26 -0,01 -0,01 -0,18 -0,31 -0,51 -0,66 -0,79 -1,19
27 0,35 0,35 0,20 0,09 -0,08 -0,22 -0,33 -0,68
28 0,72 0,72 0,59 0,49 0.34 0,23 0,14 -0,17
29 1,08 1,08 0,98 0,90 0,77 0,68 0,60 0,34
30 1,45 1,45 1,37 1,30 1,20 1,13 1,06 0,86
0,75 0,116 21 -1,11 -1,11 -1,30 -1,44 -1.66 -1,82 -1,95 -2,36
22 -0,81 -0,81 -0,98 -1,11 -1,31 -1,46 -1,58 -1,95
23 -0,50 -0,50 -0,66 -0,78 -0,96 -1,09 -1,20 -1,55
24 -0,19 -0,19 -0,33 -0,44 -0,61 -0,73 -0,83 -1,14
25 0,12 0,12 -0,01 -0,11 -0,26 -0,37 -0,46 -0,74
26 0,43 0,43 0,31 0,23 0,09 0,00 -0,08 -0,33
27 0,74 0,74 0,64 0,56 0,45 0,36 0,29 0,08
28 1,05 1,05 0,96 0,90 0,80 0,73 0,67 0,48
1,00 0,155 20 -0,87 -0,87 -1,02 -1,13 -1,29 -1,41 -1,51 -1,81
21 -0,60 -0,60 -0,74 -0,84 -0,99 -1,11 -1,19 -1,47
22 -0,33 -0,33 -0,46 -0,55 -0,69 -0,80 -0,88 -1,13
23 -0,07 -0,07 -0,18 -0,27 -0,39 -0,49 -0,56 -0,79
24 0,20 0,20 0,10 0,02 -0,09 -0,18 -0,25 -0,46
25 0,48 0,48 0,38 0,31 0,21 0,13 0,07 -0,12
26 0,75 0,75 0,66 0,60 0,51 0,44 0,39 0,22
27 1,02 1,02 0,95 0,89 0,81 0,75 0,71 0,56
1,25 0,194 16 -1,37 -1,37 -1,51 -1,62 -1,78 -1,89 -1,98 -2,26
18 -0,91 -0,91 -1,04 -1,14 -1,28 -1,38 -1,46 -1,70
20 -0,46 -0,46 -0,57 -0,65 -0,77 -0,86 -0,93 -1,14
22 0,02 0,02 -0,07 -0,14 -0,25 -0,32 -0,38 -0,56
24 0,50 0,50 0,43 0,37 0,28 0,22 0,17 0,02
26 0,99 0,99 0,93 0,88 0,81 0,76 0,72 0,61
28 1,48 1,48 1,43 1,40 1,34 1,31 1,28 1,19
30 1,97 1,97 1,93 1,91 1,88 1,85 1,83 1,77
1,50 0,233 14 -1,36 -1,36 -1,49 -1,58 -1,72 -1,82 -1,89 -2,12
16 -0,95 -0,95 -1,07 -1,15 -1,27 -1,36 -1,43 -1,63
18 -0,54 -0,54 -0,64 -0,72 -0,82 -0,90 -0,96 -1,14
20 -0,13 -0,13 -0,22 -0,28 -0,37 -0,44 -0,49 -0,65
22 0,30 0,30 0,23 0,18 0,10 0,04 0,00 -0,14
24 0,74 0,74 0,68 0,63 0,57 0,52 0,49 0,37
26 1,18 1,18 1,13 1,09 1,04 1,01 0,98 0,89
28 1,62 1,62 1,58 1,56 1,52 1,49 1,47 1,40

4.33
Física das Construções

Tabela 4.7 - PMV para uma Actividade Metabólica de 1,4Met.


TEMP. VELOCIDADE DO AR
ROUPA
RESULT. m/s
2
Clo m . ºC/w ºC < 0,10 0,10 0,15 0,20 0,30 0,40 0,50 1,00
0 0 24 -1,14 -1,14 -1,35 -1,65
25 -0,72 -0,72 -0,95 -1,21
26 -0,30 -0,30 -0,54 -0,78
27 0,11 0,11 -0,14 -0,34
28 0,52 0,48 0,27 0,10
29 0,92 0,85 0,69 0,54
30 1,31 1,23 1,10 0,99
31 1,71 1,62 1,52 1,45
0,25 0,039 22 -0,95 -0,95 -1,12 -1,33 -1,64 -1,90 -2,11
23 -0,63 -0,63 -0,81 -0,99 -1,28 -1,51 -1,71 -2,38
24 -0,31 -0,31 -0,50 -0,66 -0,92 -1,13 -1,31 -1,91
25 0,01 0,00 -0,18 -0,33 -0,56 -0,75 -0,90 -1,45
26 0,33 0,30 0,14 0,01 -0,20 -0,35 -0,50 -0,98
27 0,64 0,59 0,45 0,34 0,16 0,02 -0,10 -0,51
28 0,95 0,89 0,77 0,68 0,53 0,41 0,31 -0,04
29 1,26 1,19 1,09 1,02 0,89 0,80 0,72 0,43
0,50 0,078 18 -1,36 -1,36 -1,49 -1,66 -1,93 -2,12 -2,29
20 -0,85 -0,85 -1,00 -1,14 -1,37 -1,54 -1,68 -2,15
22 -0,33 -0,33 -0,48 -0,61 -0,80 -0,95 -1,06 -1,46
24 0,19 0,17 0,04 -0,07 -0,22 -0,34 -0,44 -0,76
26 0,71 0,66 0,56 0,48 0,35 0,26 0,18 -0,07
28 1,22 1,16 1,09 1,03 0,94 0,87 0,81 0,63
30 1,72 1,66 1,62 1,58 1,52 1,48 1,44 1,33
32 2,23 2,19 2,17 2,16 2,13 2,11 2,10 2,05
0,75 0,116 16 -1,17 -1,17 -1,29 -1,42 -1,62 -177 -1,88 -2,26
18 -0,75 -0,75 -0,87 -0,99 -1,16 -1,29 -1,39 -1,72
20 -0,33 -0,33 -0,45 -0,55 -0,70 -0,82 -0,91 -1,19
22 0,11 0,09 -0,02 -0,10 -0,23 -0.32 -0,40 -0,64
24 0,55 0,51 0,42 0,35 0,25 0,17 0,11 -0,09
26 0,98 0,94 0,87 0,81 0,73 0,67 0,62 0,47
28 1,41 1,36 1,31 1,27 1,21 1,17 1,13 1,02
30 1,84 1,79 1,76 1,73 1,70 1,67 1,65 1,58
1,00 0,155 14 -1,05 -1,05 -1,16 -1,26 -1,42 -1,53 -1,62 -1,91
16 -0,69 -0,69 -0,80 -0,89 -1,03 -1,13 -1,21 -1,46
18 -0,32 -0,32 -0,43 -0,52 -0,64 -0,73 -0,80 -1,02
20 0,04 0,03 -0,07 -0,14 -0,25 -0,32 -0,38 -0,58
22 0,42 0,39 0,31 0,25 0,16 0,10 0,05 -0,12
24 0,80 0,76 0,70 0,65 0,57 0,52 0,48 0,35
26 1,18 1,13 1,08 1,04 0,99 0,95 0,91 0,81
28 1,55 1,51 1,47 1,44 1,40 1,37 1,35 1,27
1,25 0,194 12 -0,97 -0,97 -1,06 -1,15 -1,28 -1,37 -1,45 -1,67
14 -0,65 -0,65 -0,75 -0,82 -0,94 -1,02 -1,09 -1,29
16 -0,33 -0,33 -0,43 -0,50 -0,60 -0,67 -0,73 -0,91
18 -0,01 -0,02 -0,10 -0,17 -0,26 -0,32 -0,37 -0,53
20 0,32 0,29 0,22 0,17 0,09 0,03 -0,01 -0,15
22 0,65 0,62 0,56 0,52 0,45 0,40 0,36 0,25
24 0,99 0,95 0,90 0,87 0,81 0,77 0,74 0,65
26 1,32 1,28 1,25 1,22 1,81 1,14 1,12 1,05
1,50 0,233 10 -0,91 -0,91 -1,00 -1,08 -1,18 -1,26 -1,32 -1,51
12 -0,63 -0,63 -0,71 -0,78 -0,88 -0,95 -1,01 -1,17
14 -0,34 -0,34 -0,43 -0,49 -0,58 -0,64 -0,69 -0,84
16 -0,05 -0,06 -0,14 -0,19 -0,27 -0,33 -0,37 -0,50
18 0,24 0,22 0,15 0,11 0,04 -0,01 -0,05 -0,17
20 0,53 0,50 0,45 0,40 0,34 0,30 0,27 0,17
22 0,83 0,80 0,75 0,72 0,67 0,63 0,60 0,52
24 1,13 1,10 1,06 1,03 0,99 0,96 0,94 0,87

4.34
Física das Construções

Tabela 4.8 - PMV para uma Actividade Metabólica de 2 Met


TEMP. VELOCIDADE DO AR
ROUPA
RESULT. m/s
2
Clo m . ºC/w ºC < 0,10 0,10 0,15 0,20 0,30 0,40 0,50 1,00
0 0 18 -2,00 -2,02 -2,35
20 -1,35 -1,43 -1,72
22 -0,69 -0,82 -1,06
24 -0,04 -0,21 -0,41
26 0,59 0,41 0,26
28 1,16 1,03 0,93
30 1,73 1,66 1,60
32 2,33 2,32 2,31
0,25 0,039 16 -1,41 -1,48 -1,69 -2,02 -2,29 -2,51
18 -0,93 -1,03 -1,21 -1,50 -1,74 -1,93 -2,61
20 -0,45 -0,57 -0,73 -0,98 -1,18 -1,35 -1,93
22 0,04 -0,09 -0,23 -044 -0,61 -0,75 -1,24
24 0,52 0,38 0,28 0,10 -0,03 -0,14 -0,54
26 0,97 0,86 0,78 0,65 0,55 0,46 0,16
28 1,42 1,35 1,29 1,20 1,13 1,07 0,86
30 1,88 1,84 1,81 1,76 1,72 1,68 1,57
0,50 0,078 14 -1,08 -1,16 -1,31 -1,53 -1,71 -1,85 -2,32
16 -0,69 -0,79 -0,92 -1,12 -1,27 -1,40 -1,82
18 -0,31 -0,41 -0,53 -0,70 -0,84 -0,95 -1,31
20 0,07 -0,04 -0,14 -0,29 -0,40 -0,50 -0,81
22 0,46 0,35 0,27 0,15 0,05 -0,03 -0,29
24 0,83 0,75 0,68 0,58 0,50 0,44 0,23
26 1,21 1,15 1,10 1,02 0,96 0,91 0,75
28 1,59 1,55 1,51 1,46 1,42 1,38 1,27
0,75 0,116 10 -1,16 -1,23 -1,35 -1,54 -1,67 -1,78 -2,14
12 -0,84 -0,92 -1,03 -1,20 -1,32 -1,42 -1,74
14 -0,52 -0,60 -0,70 -0,85 -0,97 -1,06 -1,34
16 -0,20 -0,29 -0,38 -0,51 -0,61 -0,69 -0,95
18 0,12 0,03 -0,05 -0,17 -0,26 -0,32 -0,55
20 0,43 0,34 0,28 0,18 0,10 0,04 -0,15
22 0,75 0,68 0,62 0,54 0,48 0,43 0,27
24 1,07 1,01 0,97 0,90 0,85 0,81 0,68
1,00 0,155 10 -0,68 -0,75 -0,84 -0,97 -1,07 -1,15 -1,38
12 -0,41 -0,48 -0,56 -0,68 -0,77 -0,84 -1,05
14 -0,13 -0,21 -0,28 -0,39 -0,47 -0,53 -0,72
16 0,14 0,06 0,00 -0,10 -0,16 -0,22 -0,39
18 0,41 0,34 0,28 0,20 0,14 0,09 -0,06
20 0,68 0,61 0,57 0,50 0,44 0,40 0,28
22 0,96 0,91 0,87 0,81 0,76 0,73 0,62
1,25 0,194 10 -0,33 -0,40 -0,47 -0,56 -0,64 -0,69 -0,86
14 0,15 0,08 0,03 -0,05 -0,11 -0,15 -0,29
18 0,63 0,57 0,53 0,47 0,42 0,39 0,28
22 1,11 1,08 1,05 1,00 0,97 0,95 0,87
26 1,62 1,60 1,58 1,55 1,53 1,52 1,47
1,50 0,233 12 0,15 0,09 0,05 -0,02 -0,07 -0,11 -0,22
16 0,58 0,53 0,49 0,44 0,40 0,37 0,28
20 1,01 0,97 0,94 0,91 0,88 0,85 0,79
24 1,47 1,44 1,43 1,40 1,38 1,36 1,32

4.35
Física das Construções

Tabela 4.9 - PMV para uma Actividade Metabólica de 3 Met


TEMP. VELOCIDADE DO AR
ROUPA
RESULT. m/s
2
Clo m . ºC/w ºC < 0,10 0,10 0,15 0,20 0,30 0,40 0,50 1,00
0 0 14 -1,92 -2,49
16 -1,36 -1,87
18 -0,80 -1,24
20 -0,24 -0,01
22 0,34 0,04
24 0,93 ,70
26 1,52 1,36
28 2,12 2,02
0,25 0,039 12 -1,19 -1,53 -1,80 -2,02
14 -0,77 -1,07 -1,31 -1,51 -2,21
16 -0,35 -0,61 -0,82 -1,00 -1,61
18 0,08 -0,15 -0,33 -0,48 -1,01
20 0,51 0,32 0,17 0,04 -0,41
22 0,96 0,80 0,68 0,57 0,21
24 1,41 1,29 1,19 1,11 0,83
26 1,87 1,78 1,71 1,65 1,45
0,50 0,078 10 -0,78 -1,00 -1,18 -1,32 -1,79
12 -0,43 -0,64 -0,79 -0,92 -1,34
14 -0,09 -0,27 -0,41 -0,52 -0,90
16 0,26 0,10 -0,02 -0,12 -0,45
18 0,61 0,47 0,37 0,28 0,00
20 0,96 0,85 0,76 0,68 0,45
22 1,33 1,24 1,16 1,10 0,91
24 1,70 1,63 1,57 1,53 1,38
0,75 0,116 10 -0,19 -0,34 -0,45 -0,54 -0,83
12 0,10 -0,03 -0,14 -0,22 -0,48
14 0,39 0,27 0,18 0,11 -0,12
16 0,69 0,58 0,50 0,44 0,24
18 0,98 0,89 0,82 0,77 0,59
20 1,28 1,20 1,14 1,10 0,95
1,00 0,155 10 0,22 0,12 0,04 -0,02 -0,22
14 0,73 0,64 0,58 0,53 0,38
18 1,24 1,18 1,13 1,09 0,97
22 1,77 1,73 1,69 1,67 1,59
1,25 0,194 12 0,75 0,68 0,63 0,59 0,47
16 1,20 1,14 1,11 1,08 0,98
20 1,66 1,62 1,59 1,57 1,50
1,50 0,233 10 0,76 0,70 0,66 0,62 0,52
14 1,17 1,12 1,09 1,06 0,98
18 1,58 1,54 1,52 1,50 1,44

4.36
Física das Construções

Tabela 4.10 - Relação entre PPD e PMV


Percentagem de Pessoas Descontentes
PMV
Sensação de frio Sensação de calor Total

-2.0 76.4 - 76.4


-1.5 52.0 - 52.0
-1.0 26.8 - 26.8
-0.9 22.5 - 22.5
-0.8 18.7 0.1 18.8
-0.7 15.3 0.2 15.5
-0.6 12.4 0.3 12.7
-0.5 9.9 0.4 10.3
-0.4 7.7 0.6 8.3
-0.3 6.0 0.9 6.9
-0.2 4.5 1.3 5.8
-0.1 3.4 1.8 5.2
0 2.5 2.5 5.0
+0.1 1.8 3.4 5.2
+0.2 1.3 4.5 5.8
+0.3 0.9 4.9 6.8
+0.4 0.6 7.7 8.3
+0.5 0.4 9.8 10.2
+0.6 0.3 12.2 12.5
+0.7 0.2 15.2 15.4
+0.8 0.1 18.5 18.6
+0.9 - 22.2 22.2
+1.0 - 26.4 26.4
+1.5 - 51.4 51.4
+2.0 - 75.7 75.7

Um outro tipo de índice consiste na definição de temperaturas equivalentes, isto é, temperaturas que
resultam numa mesma sensação de conforto em condições ambientes bem definidas que a sensação
resultante das condições reais. Historicamente, o primeiro índice, chamado simplesmente
Temperatura Equivalente (ET), apareceu nos anos vinte e era definida como a temperatura do bolbo
seco de ar calmo saturado (φ = 100%) que provocaria a mesma sensação térmica que as condições
existentes. Ainda de índole totalmente experimental, o índice ET continuava a obrigar à definição
simultânea dos restantes parâmetros que influenciam o conforto.

Mais recentemente, os valores de ET foram modificados pela sua adaptação a modelos matemáticos
que simulam o comportamento térmico do corpo humano. Numa primeira versão, surgiu a “Nova
Temperatura Equivalente” (ET), que, para além da sua natureza mais racional, referia-se ainda a um
ambiente com φ =50%. Actualmente, usa-se a “Temperatura Equivalente Standardizada” (SET*)
2
que se pode definir como a temperatura do bolbo seco de ar calmo (αc = 2,91 w/m ºC) e 50% de
humidade relativa que, para Rr = 0,6 Clo, T s = Ta e M = 58,2 w/m k (1 Met), resulta numa mesma
2

sensação térmica que as condições existentes.

Como SET*, consegue-se representar qualquer conjunto ambiente térmico/roupa/nível de actividade


por um único parâmetro com significado fácil de interpretar, surgindo então os 24 - 26ºC como valor
óptimo para o qual deve optar para atingir o conforto.

4.37
Física das Construções

Sob o ponto de vista gráfico, os valores do SET* continuam a ter de se exprimir em diagramas tipo
carta psicrométrica para cada par de valores de resistência térmica da roupa e nível de actividade
metabólica. Mostra-se um exemplo na Figura 4.23, para M = 1 e Rr = 0,6 Clo.

Deve notar-se que as linhas do SET* constante são linhas representativas de igual percentagem (W)
de área do corpo molhado por transpiração. Portanto, para um mesmo valor de SET*, a tensão
térmica a que uma pessoa está sujeita é constante (ver “Índices de desconforto”).

Figura 4.23 - Temperatura Equivalente Standardizada

Da Figura 4.23 resulta ainda que a influência da humidade relativa no conforto é tanto maior quanto
maior for a temperatura, supondo que T s = Ta :

Φ = 0% → Ta = 20,2ºC

SET* = 20ºC
Φ =100% → Ta = 19,5 ºC

Φ = 0% → Ta = 34,0ºC

SET* = 30ºC
Φ = 100% → Ta = 28,5ºC

Pode ainda notar-se que, para uma mesma temperatura ambiente, um aumento da humidade relativa
se traduz numa variação da sensação térmica no sentido do “mais quente”. Isto deve-se à maior
dificuldade em evaporar a transpiração e o consequente aumento da temperatura da pele para a
dissipação da mesma potência calorífica.

4.38
Física das Construções

Uma última palavra quanto ao valor de 24 - 26ºC, que foi apontado como a temperatura ideal para o
conforto. Convém não esquecer as restrições com que este valor está associado, nomeadamente
quando ao nível de vestuário.

É por esta razão que, na Figura 4.22, aparecem duas zonas de temperaturas aconselhadas, zonas
estas baseadas no vestuário típico usado nos Estados Unidos.

Em Portugal, por traição, no Inverno, usa-se vestuário “mais quente” que nos Estados Unidos no
interior dos edifícios e, portanto, temperaturas inferiores às indicadas são mais conducentes a
conforto térmico. Deve, portanto, ter-se sempre em atenção o valor das seis variáveis definidoras do
conforto e fugir à tentação fácil de usar, sem adaptação, padrões com significado limitado e que
podem conduzir a erros na avaliação de um dado ambiente térmico.

Deve ainda notar-se que já há no mercado um instrumento capaz de medir a temperatura equivalente
(standardizada) bem como os restantes índices de conforto. O instrumento, que se mostra na
Figura 4.24, utiliza uma sonda elipsoide aquecida de forma a simular a distribuição de temperatura do
corpo humano, contabilizando então as suas perdas por radiação e convecção. Através da leitura dos
níveis de actividades, roupa e humidade em presença, que são definidos pelo operador o instrumento
calcula o balanço térmico do corpo humano e determina SET*, Tr, PMV ou PPD.

Figura 4.24 - Instrumento para avaliar o conforto

4.10.2 Índices de desconforto


Tal como foi referido na introdução, é por vezes impossível satisfazer todas as condições ambientais
para que se obtenha conforto. Assim, torna-se necessário quantificar o desconforto e determinar os
limites que se devem colocar ao trabalho humano nessas condições.

Em primeiro lugar, há que distinguir duas zonas distintas de desconforto, consoante a existência ou
inexistência de neutralidade térmica do ocupante.

4.39
Física das Construções

Se esta não existir (zonas de aquecimento e arrefecimento na Figura 4.22), a presença humana
nesses ambientes está sujeita a períodos mais ou menos curtos dependendo da severidade desse
ambiente.

Em presença de neutralidade térmica, o parâmetro usado na definição de desconforto é a


percentagem (W) de área molhada do corpo (transpiração). Usa-se, entre outros, Índices de Tensão
Térmica (IHS - Index of Heat Stress), que é numericamente igual a W e cujas consequências para
uma exposição de oito horas se encontram sumarizadas na Tabela 4.11.

Tabela 4.11 - Índice de Tensão Térmica (IHS = W)


Índice Comentário
0% Conforto
Tensão moderada
10 - 30% Pequena redução de qualidade de destreza ou trabalho intelectual
Nula redução e qualidade em trabalho pesado
Tensão forte
Possibilidade de problemas físicos nos menos aptos – cuidados médicos na selecção de pessoal
40 - 60%
Nula qualidade de trabalho intelectual
Pequena redução de qualidade de trabalho pesado.
Tensão severa
70 - 90% Pequena percentagem de população apta. Cuidados médicos. Necessária a ingestão de água +
sal a intervalos regulares
100% A máxima tensão tolerável por jovens em boas condições físicas com cuidados acima descritos

4.40
Física das Construções

4.11 Exemplos de Aplicação

EXERCÍCIO 1

Considere o escritório representado na Figura 4.25. Admita que todas as superfícies opacas se
encontram a 26ºC, que o vidro da janela está a 28ºC, que a velocidade do ar é de 0.22 m/s e que a
temperatura ambiente do ar é de 25ºC com 30% de humidade relativa. Admita que o envidraçado tem
2.8 m de altura
3.0 m 4.0 m 1.0 m

2.0 m 4.0 m
A X

2.0 m

5.0 m 0.8 m

0.2 m

8.0m

Figura 3.25

Determine se um indivíduo, desenvolvendo uma actividade equivalente a 1.5 Met, no Ponto A,


vestindo roupa interior, meias, sapatos, calças finas e uma camisa leve de manga curta, está
confortável e calcule o grau de conforto e de desconforto, durante o verão.

Resolução

Tsup.= 26 °C Tjanela= 28 °C C = 0.22 m/s


Tamb.= 25 °C Hr = 30% M = 1.5 Met
Rr = (0.14+0.14+0.26+0.07)×0.82 = 0.5 clo

Correcções:
Roupa (Verão) → (0.5-0.5)/(-0.14) = 0
Act. Met. → (1.0-1.5)/(-0.5) = 1.0 °C
αr = 4.9
2
αc = 10.4×√c = 10.4×√0.22 = 4.878 W/m °K
n
T s = ∑ Ti × FPi
i

4.41
Física das Construções

1 b2 = 2.2 m

2 b1 = 0.6 m

4.0 m

a = 2.0 m
c = 2.0 m

a
 = 1.0
  bc FP1 = 0.02
 1 = 0.3
c
a
 = 1.0
2  cb FP2 = 0.052
 2 = 1.1
 c

FPvidro = 2×(0.02+0.052) = 0.144

FPsala = 1- FPvidro = 0.856


n
T s = ∑ Ti × FPi = 0.144 × 28 + 0.856 × 26 = 26.288 °C
i

α r Ts + α c Ta 4.9 × 26.288 + 4.878 × 25


Tr = = = 25.625 °C
αr + αc 4.9 + 4.878

Tr = 25.625 + 1 = 26.625 °C

Para a situação de Verão, com uma Tr = 26.625 e Hr = 30%, o indivíduo está confortável.

ÍNDICES DE CONFORTO:

Tr = 25.625 °C
1 − 1.5
 = 1.0 °C
Correcção:  − 0.5
0.6 − 0.05
 = −0.7 °C
 − 0.14

Tr = 25.625-0.71+1.0 = 25.915 ≈ 26°C

Índice de conforto SET∗ = 26.6 → W = 10%

Índice de desconforto → IHS = W = 10 %

O indivíduo está sob tensão moderada, existindo pequena redução da qualidade de destreza ou
trabalho intelectual (nula redução e qualidade em trabalho pesado).

4.42
Física das Construções

Exercício 2
Verifique se no inverno, uma pessoa sentada no centro de uma sala com 6x9m, voltada para a
superfície envidraçada, colocada na parede de 9 m, com 3 m de largura e 2.7 m de altura, está em
conforto térmico, sabendo que as superfícies estão todas à mesma temperatura. Determine os
índices de conforto e desconforto.

Dados:

Tamb. Interior = 18ºC T paredes e pavimentos = 11ºC

T sup env. = 9ºC Pd = 2.7 m

Hr int = 85% Rr = 1.2 clo

V = 0.1 m/s

Resolução

Correcções:
Roupa (Inverno) → (1.0-1.2)/(-0.14) = 1.43ºC
Act. Met. → (1.0-1.0)/(-0.5) = 0 °C
2 2
αr = 4.9 W/m K αc = 2.9 W/m K

1 b2 = 2.1 m

2 b1 = 0.6 m

4.0 m

a = 1.5 m

c = 4.0 m

a
 c = 0.5
1 b FP1 = 0.025
 1 = 0.7
c
a
 c = 0.5
2 b FP2 = 0.01
 2 = 0.2
 c

FPvidro = 2×(0.025+0.01) = 0.07

FPsala = 1- FPvidro = 0.93


n
T s = ∑ Ti × FPi = 0.07 × 9 + 0.93 × 11 = 10.86 °C
i

4.43
Física das Construções

α r Ts + α c Ta 4.9 × 10.86 + 2.9 × 18


Tr = = = 13.51 °C
αr + αc 4.9 + 2.9

Tr = 13.51 + 1.43 = 14.94 °C

Para a situação de Inverno, com uma Tr = 14.94 e Hr = 85%, o indivíduo está desconfortável.

ÍNDICES DE CONFORTO:

Tr = 13.51 °C
 1 −1
 = 0 °C
Correcção:  − 0.5
0.6 − 1.2
 = 4.29 °C
 − 0.14

Tr = 13.51+4.29 = 17.80°C

Índice de conforto SET∗ = 15 → W = 0%

Índice de desconforto → IHS = W = 10 % → Corpo em arrefecimento

4.44
Física das Construções

Anexo I

( )
Factores de Forma para Cálculo de Temperaturas Médias de Radiação Ts - Extraídos de “Themal
Comfort”, de P.O. Fanger [16].

4.45
Física das Construções

4.1
Física das Construções

4.2
Física das Construções

4.3
Física das Construções

4.4
Física das Construções

4.5
Física das Construções

4.6

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