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Dois calos de poesia

Carlos Xuê

2010
DOIS CALOS DE POESIA

Vida simples
O calo que teceu a manha
Infinitesimal
Como se chama os versos
Feito contexto
Procuro
Ninho
Choro
Correio
As coisas que não sei dizer
A garrafa
Fome
De perder-se
Sono ó
Saudade
Medo
A imagem aos olhos
Um fica, o outro
O poema
Carrossel
Mar
O nó
Infames
Morte neuropsicótica
Que será de nós?
Amor lúgubre
Discurso
O desespero
Sintonia maltrapilha
Apraz
Noite ébria
Incoerência
Música
Lingua
Se se morre de amor
VIDA SIMPLES

O maior dos meus problemas é


[quando a borra de café entope o cano;
Outros problemas esqueço
[com‘um bom chocolate quente.
O CALO QUE TECEU A MANHÃ

Uma pedra cantou de galo,


A manhã nasceu em um calo na testa.
INFINITESIMAL

Ao amigo Fabiano de Andrade

A felicidade, hoje,
Derramou uma
Lágrima.

Ah!
Vá entender os olhos,
Choram quando riem.
COMO SE CHAMAM OS VERSOS

Se numa noite dessas na taverna, de


Álvares negruras,
Eu
Encontrar um poeta dando
Bandeira
Em qualquer
Quintana...
E se essa
Pessoa
Não atender por
Borges,
Então chamarei de Amor.
FEITO CONTEXTO

A vida se abriu c’uma aspa.


E em vários pontos corriam minhas reticências...
[que para o fim delas corria.
Pra quê, meu Deus, se estou
[em cima de um ponto final?
PROCURO

Mesmo que’u me encontre


Continuo procurando por mim;
E quando encontro,
Procuro descobrir onde esconder o que achei.
COSTUME

Se olhos acostumados com coisas atrozes


Vissem de repente uma luz no céu
[a descer entre trombetas e vozes,
Talvez dissessem:
- Que diabos é isso? É Jesus?
NINHO

Meu cabelo caiu,


Fio por fio.
O tempo levou-me ao ninho de um passarinho.
Vi.
Minha calvície ajudara-o a tecer uma morada.
CHORO

Que chova da íris, sal;


Que minha lente se encha...
E depois nasça um arco-íris do globo ocular.
CORREIO SOCIAL

Uma vida
Que pariu outra
Vida
Ocupada de ausência.
AS COISAS QUE NÃO SEI DIZER

As coisas que nãã o sei dizer


Enganam saber do corpo
E não do peito
Que grita
um grito de vontade
Do calar que pede silêncio:
hoje deu vontade de chorar, mas não deu tempo.
A GARRAFA

.
Estranho!
Esvaziei a garrafa de litro,
Matei a sede d’água no gargalo,
Mas ainda não me basta
Sinto-me vazio.
FOME

Ouvi dizer que amor não enche barriga,


Mas nada como a fome,
Que cheia de vazio,
Engole espaços,
Tempo
E aceita qualquer nome.
DE PERDER-SE

Fácil é perder-se dentro da gente


Basta ler um livro
Ou conversar sobre um assunto inútil,
Aparentemente!
SONO Ó

Sempre suspeito do bocejo


Quando abro a boca,
Que mesmo até entre os dentes,
Acaba por engolir o sono;
E o dia amanhece sorrindo
Como se culpasse a gente.
SAUDADE

Bom sentir saudade...


Ao menos sei que vivi sem arrependimento.
MEDO

Eu tinha medo do meu guarda-roupa.


Eu acreditava em bicho-papão.
Descobri depois que o bicho era o meu medo.
Hoje,
Guardo minhas roupas penduradas n’um cordão.
A IMAGEM AOS OLHOS

A imagem
Que transcende na retina reflete-se,
E se der,
[em pura limpidez quando condiz a nosso favor;
Encardida quando se opuser.
UM FICA, O OUTRO

Meu bem,
Alguém precisa acordar.
Alguém...
Ninguém
Onde meu lado está?
Será que fugiu?
Nem vi – não sei.
Antes faltava costela
Hoje,
Meu bem,
Com teus pés,
Não sei o que mais pode deixar de faltar.
O POEMA

Quando o poeta pensa um poema,


Ainda o é seu, retém-no.
Amém!
Quando o escreve,
este,
com certeza, -
Torna-se de alguém.
CARROSSEL

Meus amigos vão passando.


Os carros vão passando.
A vida vai passando.
A morte... parou para conversar um pouco.
MAR

Sinto-me como o mar


Que é como eu,

Misterioso.

Guarda remorsos.
Guarda os mortos e monstros.
E ainda assim continua a ser o que é,

Maré.

Mar.
O NÓ

Um x-lhão de átomos.
Uma quantidade de corpos.
Um sol.
Um bilhão de estrelas.
Dois mundos.
Duas luas.
Por trás do cenário uma guerra.
Um passo para o caos.
As memórias.
As lembranças.
Duas faces.
Um corpo.
Nós.
INFAMES

Vestidos ainda, as palavras escapam pela boca.


Os corpos suspensos no espaço; não-inertes.
Ainda guardados como presentes na roupa,
Logo doados mutuamente a quem se pertence.

O ser singular, de início se sustenta


[No sentimento e na imagem social vestida.
Escapa a dualidade do ser na premissa do gozo da fenda.
E a razão se esvai transformada em primitiva.
MORTE NEUROPSICÓTICA

Quero dizer que morri.


Morri dentro de mim
E este texto foi psicografado por mim mesmo.

Quero dizer que morri.


Morri de desejo de morrer vivendo.
Vivendo a morte da inibição.

Minhas mãos morrem


E ressuscitam no sopro da escrita.
QUE SERÁ DE NÓS?

O universo inteiro conspira


E eu, passageiro insular.
Algo surpreendentemente segue uma trilha
Levando o escopo de partículas,
Deixando sinais espalhados por teu corpo inteiro.
(a paz que encontrei no teu dorso).

Do seixo que fez cidades;


As lágrimas destruirão metade;
O cio emancipando com provetas o rio da libido;
Os cometas que fecundam essas novas profecias
Prendendo-os a verdades provisórias;
O destino rasurado em minha mão.
E o que será de nós?
AMOR LÚGUBRE

Peço-te, em dores mortíferas no peito,


Expondo-me a tais reações ridículas.
Retalhe minh’alma com teu arquejo.
Digo isso já pendurado em tua clavícula.
DIRCURSO

Que eu quis dizer? Não sei.


O que eu quis dizer já foi dito
Quando eu disse o que agora digo:
O que eu disser terá a certeza do talvez.
O DESESPERO

O momento mais perturbador de um poeta


é quando ele não tem um caneta nas mãos; isso o irrita.
E perturba mais ainda quando a tem,
Mas não há tinta.
SINFONIA MALTRAPILHA

Era sinfonia...
O assovio do mendigo.
Tanto que aticei a amplificação auricular
E o som sibilante tornou-se portátil:
Levei-o a todo lugar.
APRAZ

A poesia dilatada no espírito do poeta


Entra devagar em qualquer brecha;
Na súbita essência latejante da uretra
Confundi-se o cio com a letra.
NOITE ÉBRIO

E a saudade breve teu olhar


Não faz mudar o que sou
(Do homem criador de Deus)
Tenho a sensação de saber de mim.

Ninguém vai dizer que eu me perdi


Se me mostro em razão,
Mas deixo perguntarem-me: És dono de si?
Quando eu o for verão.

O pudor de não ter a quem não se tem mais


Não me faz ir aonde não vou.
(De Deus criador de mim)
Tenho a sensação de suportar o que vir.

Isso foi o que eu quis para mim:


Proteger-me do meu coração.
Ninguém vai dizer que eu me enganei
Se mostro convir a decisão.

O que eu construir vai ser o que sou.


E a partir daqui jamais me farão cair.
E sonhar me fará resistir.
INCOERÊNCIA

Algo tem que domar a alma.


Amor, raiva ou rima.
Nervosismo ou calma.
Fora isso, aplausos!
MÚSICA

Tenho dó, de compaixão.


Tenho ré, de covarde.
Tenho mil razões para ser assim.
Faz sol lascivamente!
E verão arrebentar mais uma corda dessa frágil coração.
LÍNGUA

Uma língua.
Uma história paralela...
Para lê-la.
SE SE MORRE DE AMOR

Ao iludir-se com o belo,


Tantas vezes pó, capricho;
Fiz meu lar num embrião arisco.

Do amor só ficaram perguntas:


Quantas mentiras contar para que um dia se seja feliz?
Nada será como antes:
Limites, visão ou alcance daquilo
[que já ficou para trás.

Se se morre de amor, que morra!


Se não se sabe a dor, não corra!

Porém, não se pode desistir.


Os sonhos não vivem sem pedir...
E porque o meu amor é um imã.

O meu amor é um cataclismã.


O meu amor é um imã.

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