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RELATÓRIO
A Corte de origem inadmitiu o recurso especial pelos seguintes fundamentos (fls. 266-268,
e-STJ): (a) inexistência de violação do art. 1.022 do CPC/2015; e (b) incidência dos óbices das
Súmulas 7/STJ e 284/STF.
A Primeira Seção afetou o presente feito ao rito dos recursos repetitivos às fls. 326-330,
e-STJ.
Após petição protocolizada pelo recorrente, por meio de Questão de Ordem (fls. 389-398),
a Primeira Seção aditou o tema afetado inicialmente, que passou a conter o seguinte enunciado:
Obrigatoriedade do poder público de fornecer medicamentos não incorporados em atos
normativos do SUS.
O Ministério Público Federal apresentou parecer assim ementado (fls. 517-520, e-STJ):
É o relatório.
VOTO
Imperioso que se diga, desde já, que não se desconhece que a questão em análise neste
recurso especial representativo de controvérsia guarda certa similitude com o que o Supremo
Tribunal Federal está apreciando, em sede de repercussão geral no RE 566.471/RN ("Dever do
Estado de fornecer medicamento de alto custo a portador de doença grave que não possui
condições financeiras para comprá-lo") e no RE 657.718/MG ("Dever do Estado de fornecer
medicamento não registrado pela ANVISA").
Não há, contudo, impedimento para que se prossiga o julgamento do repetitivo, pelos
seguintes motivos:
Consta dos autos que a ora recorrida, nos termos do receituário e do laudo médico (fls.
14-15, e-STJ) expedidos por médico integrante do Sistema Único de Saúde - SUS, é portadora de
glaucoma crônico bilateral (CID 440.1), necessitando fazer uso contínuo dos medicamentos (todos
eles colírios) azorga 5 ml, glaub 5 ml e optive 15 ml, na forma prescrita.
O ente público aduz em seu recurso especial que a assistência farmacêutica estatal apenas
pode ser prestada por intermédio da entrega de medicamentos prescritos em conformidade com os
Protocolos Clínicos incorporados ao SUS ou, na hipótese de inexistência de protocolo, com o
É preciso destacar que uma das tarefas primordiais do Poder Judiciário é atuar no sentido
de efetivar os direitos fundamentais, mormente aqueles que se encontram assegurados na
Constituição Federal. Assim, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta
Corte Superior de Justiça, não há que se falar em violação ao princípio da separação dos poderes,
quando o Poder Judiciário intervém no intuito de garantir a implementação de políticas públicas,
notadamente, como no caso em análise, em que se busca a tutela do direito à saúde.
Nesse sentido:
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Assentada tal premissa, de que não constitui violação ao princípio da separação dos
poderes a atuação do Poder Judiciário com vistas a efetivar políticas públicas, é preciso analisar a
legislação vigente a fim de verificar o que os legisladores constituinte e ordinário estabeleceram a
respeito da temática que se analisa no presente recurso especial repetitivo, ou seja, sobre o
fornecimento de medicamentos pelo Estado com fundamento nos atos normativos do SUS.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 196, estabelece que "a saúde é direito de todos
e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação".
Para alcançar tal mister, a própria Carta Constitucional estabeleceu as bases para a
criação do Sistema Único de Saúde - SUS, e definiu como uma de suas diretrizes o "atendimento
integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais" (art.
198, II, da CF/1988).
A Lei n. 8.080/1990, que veio a dar concretude ao SUS e efetivar a sua criação, ao tratar
do atendimento integral, define, em seu art. 6º, que:
Com o advento da Lei n. 12.401/2011 foi incluído o Capítulo VII no Título II na Lei n.
8.080/1991, que passou a conter disposições quanto à assistência terapêutica e à incorporação de
tecnologias em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, in verbis:
Consta das Jornadas de Direito da Saúde, realizadas pelo Conselho Nacional de Justiça -
CNJ, algumas diretrizes sobre a comprovação da imprescindibilidade do medicamento, sendo que o
enunciado n. n. 15 da I Jornada de Direito da Saúde asseverou que o laudo médico deve conter, pelo
A propósito:
Esta diretriz está em conformidade com o entendimento do Ministro Marco Aurélio, que
em seu voto no julgamento do RE 657.718/MG, que trata precisamente da questão do fornecimento
de medicamentos não aprovados pela ANVISA, consigna a seguinte tese: "o registro do
medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa é condição inafastável, visando
concluir pela obrigação do Estado ao fornecimento".
Conclui-se, portanto, que a tese firmada no presente recurso especial julgado sob o rito dos
recursos repetitivos (art. 1.036 do CPC/2015) e para os fins do disposto no art. 1.041 do mesmo
diploma processual é a seguinte: Constitui obrigação do Poder Público o fornecimento de
medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS, desde que presentes,
cumulativamente, os requisitos fixados neste julgado, a saber:
Por fim, na linha do já apontado pelo Ministro Luís Roberto Barroso, em seu voto no RE
566.471/RN, exorta-se que os órgãos julgadores, após o trânsito em julgado, comuniquem ao
Ministério da Saúde e à Comissão Nacional de Tecnologias do SUS (CONITEC) para que realizem
estudos quanto à viabilidade de incorporação do medicamento no âmbito do SUS.
Por fim, cabe tratar da questão referente aos processos em curso que não atendem aos
critérios acima descritos porquanto estão sendo definidos somente neste recurso repetitivo.
Sendo assim, verifica-se que o caso em tela impõe a esta Corte Superior de Justiça a
modulação dos efeitos deste julgamento, pois vinculativo (art. 927, inciso III, do CPC/2015), no
sentido de que os critérios e requisitos estipulados somente serão exigidos para os
processos que forem distribuídos a partir da conclusão do presente julgamento.
Nos termos da modulação acima fixada, não há que se exigir no caso concreto constante
dos autos a presença de todos os critérios e requisitos presente na tese fixada sob o art. 1.036 do
CPC/2015.
Registre-se que a fixação da premissa da hipossuficiência pela Corte de origem impede, via
de regra, que se reanalise a questão, pois exigir-se-ia o reexame do conjunto fático-probatório dos
autos, o que não se permite nesta instância recursal, a teor do enunciado de Súmula 7/STJ.
É o voto.