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XIX – 2018-2019
João Manuel Mota Martins Serra
O presente ensaio explora o papel do Altes Museum, o mais antigo e também o primeiro
museu de arte público de Berlim, no desenvolvimento da arquitetura no século XIX.
Trata-se de um dos vários museus de renome internacional situado na Ilha dos Museus,
tendo a sua construção sido, extremamente, importante para o arranjo arquitetónico da
ilha. Património da UNESCO desde 1999, a ilha abrange cinco museus representativos
para a cidade de Berlim e está localizada entre as duas margens do rio Spree. É de
salientar que todas as edificações da ilha foram construídas num período de,
aproximadamente, cem anos, entre 1830 e 1930.
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destacando-se no espaço público e elevando a sua tipologia a um novo patamar, devido
à sua importância tanto arquitetónica como social.
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Construído em estilo clássico, o museu
tem dois pátios interiores e é composto
por três pisos, que não são
perceptíveis a partir do exterior. O piso
inferior é reservado para as salas de
serviço, espaços destinados a
académicos e artistas, apartamentos
dos funcionários do museu, auditórios,
fornos e depósitos. O primeiro andar
abriga as esculturas e o segundo pinturas. O piso inferior é, completamente, separado
dos demais, para proteger as obras em caso de incêndio na área de serviço. As divisões
do segundo andar são separadas umas
das outras, por paredes de madeira, que
não vão até o teto, criando, assim, um
caminho, em frente às janelas. Schinkel
explica o mérito destas divisões de
madeira, afirmando que criam mais
espaço para pendurar as pinturas e
classificá-las de acordo com sua
importância (Schinkel, 1989, 42). Dentro
do edifício, os dois pátios são separados pela rotunda, suportada por vinte colunas.
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No início do século XIX, a burguesia alemã, classe em ascenção, passou a ter novos
anseios e visões, como por exemplo que todos os cidadãos deveriam ter acesso à arte
e à educação cultural, uma vez que, até então, as coleções de arte eram fechadas ao
público em geral. Adepto desta visão, o rei da Prússia Friedrich Wilhelm III solicitou a
Karl Friedrich Schinkel, o arquiteto mais importante da Prússia, a projeção de um museu
para expor as coleções de arte da realeza.
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arsenal e representava o poder militar, e a Berliner Dom, associada ao poder divino. O
museu, que pretendia fornecer educação ao povo, representava as ciências e as artes.
O Altes Museum foi desenhado em estilo arquitetónico do classicismo, tendo,
inicialmente, a designação de Königliches Museum (Museu Real), nome que foi mantido
até 1845, quando foi renomeado para o seu nome atual.
Schinkel foi um dos arquitectos que travou a luta para encontrar o modo como a
arquitetura, estando ao serviço da necessidade e da utilidade, é elevada ao estatuto das
artes. Foi dos primeiros alunos a frequentar a Bauakademie, todavia a sua formação
não se limitava ao currículo da academia. “Schinkel assistia, também, às conferências
na Academia de Belas Artes, onde Aloys Hirt (...) falava da arquitectura e das
civilizações antigas com a mais clara manifestação de um ideal estético” (Bergdoll, 1994,
14-15). Além disso, estabeleceu um contacto intímo com David Gilly e o seu filho
Friedrich, que se revelou fundamental para a sua formação. “David forneceu-lhe os
princípios de uma filosofia pragmática, na qual a construção era o aspecto fundamental
da arquitectura. Friedrich despertou o seu interesse pela filosofia estética e pela
subjectividade romântica” protagonizadas por intelectuais como Karl Wilhelm Solger,
Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm Schelling ou Auguste Schlegel (Bergdoll,
1994, 16). A relação dialética, entre a importância da construção e a subjetividade
romântica, está presente em Schinkel, durante toda a sua vida. Este admite que a tarefa
central da arquitetura é responder às necessidades de uma sociedade, o que não a
impede de ser capaz de transcender o mero pragmatismo da construção pela virtude de
assumir significado simbólico. É na escola do idealismo estético, que Schinkel percebe
que a arquitectura deve culminar num enriquecimento espiritual, numa forma artística.
Conclui-se, portanto, que a beleza arquitetónica e o seu ideal, apenas, emergem,
depois, dos requisitos da necessidade e da construção terem sido cumpridos. De acordo
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com Mallgrave, é bastante provável que Schinkel tenha assistido às palestras de August
Schlegel, lecionadas, em Berlim, em 1801-02, que definem a arquitetura como uma arte
que se “deve dirigir a um propósito” (Mallgrave, 2009, 99).
A arquitetura de Schinkel passa por uma fase inicial romântica na década de 1810, em
que projeta tanto no estilo gótico como no neoclássico. A segunda fase descreve um
Schinkel defensor de um estilo utilitário, puramente, mecânico, a partir da década de
1820, período em que Berlim tentava recuperar da ruína fiscal, devido às guerras
napoleónicas e esforçava-se por investir em áreas como o comércio, a indústria e as
artes. É com Peter Christian Beuth que se faz acompanhar na viagem até França,
Inglaterra e Escócia, em 1826, para se inteirarem das mais recentes técnicas
construtivas usadas na arquitetura industrial - armazéns, fábricas, pontes, maquinaria,
galerias -.
Ainda segundo Mallgrave, é na terceira fase da sua carreira, que Schinkel procura “re-
vestir” uma arquitetura tectonicamente pura com os ditos atributos “históricos e poéticos”
(Mallgrave, 2009, 101). O ornamento tanto pode apresentar-se como decoração ou
emergir da própria estrutura do edifício, sendo cada um justificado pela sua finalidade.
Há duas obras que focam este ponto de vista, mas de maneiras distintas: o Altes
Museum e o novo edifício da Bauakademie (1831-1836). No Altes Museum, o
ornamento representado pelas esculturas tem o papel moral de educar o público,
narrando a história mitológica das divindades e do nascimento da raça humana.
Schinkel, através da conceção clássica e dos murais torna o edifício numa “paragem de
instrução civíca e de auto-reflexão histórica” que ultrapassa o seu uso imediato, na
perfeita tríade entre arquitetura, pintura e escultura (Mallgrave, 2009, 101). No entanto,
no edifício das novas dependências da Bauakademie (1831-1836), a construção
industrial como tema volta a colocar-se e o edifício consiste numa estrutura
independente, em tijolo de terra cota à vista, não estrutural. Os elementos ornamentais
“históricos e poéticos” não implicam, aqui, um recurso ao mundo clássico, puramente
decorativo ou formal. Schinkel demonstra que é possível uma arquitetura que, não
implicando uma decoração formalmente histórica, o é nos seus princípios.
Como boa parte de Berlim, também o edificio do Altes Museum não ficou imune à
Segunda Guerra Mundial, tendo sido, praticamente, destruído pelo fogo, nos dois
últimos anos. Os trabalhos de restauração foram concluídos, em 1966, quando passou
a apresentar exposições de arte contemporânea da República Democrática da
Alemanha, uma vez que o prédio ficou na parte oriental de Berlim.
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Atualmente, o Altes Museum exibe grande parte da Coleção de
Antiguidades Clássicas – a parte da coleção dedicada à arte da
antiguidade grega, romana e etrusca, distribuídas em dois
andares. O andar principal , térreo, é dedicado à arte da Grécia
antiga - esculturas em barro, bronze e mármore, vasos em
cerâmica, jóias em ouro e prata, moedas, etc. O andar de cima
é dedicado às artes romana e etrusca, onde é possível
encontrar as esculturas de César e Cleópatra, além de
mosaicos, sarcófagos e afrescos.
É visível que Schinkel se interessou pela arquitetura da Grécia clássica não apenas pela
sua simbologia, mas, também, porque servia os seus propósitos de conceção racional
dos edifícios, tendo sido o principal difusor deste estilo, no norte da Europa. A forma
como aproveitou as oportunidades, conciliando as questões pragmáticas com os
aspetos conceptuais, é, ainda, hoje, inspiradora para arquitetos e urbanistas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bergdoll, Barry. Karl Friedrich Schinkel: An Architecture for Prussia, Rizzoli International
Publication, New York, 1994
Buddensieg, T. Berliner Labyrinth, neu besichtigt: von Schinkels Unter den Linden bis
Fosters Reichstagskuppel. Klaus Wagenbach Verlag, Berlin. 1999
Naredi-Rainer, Paul von. Museum Buildings: Design manual. Basel, Birkhauser, 2004
Schinkel, Karl Friedrich. Collection of architectural designs: including designs which have
been executed and objects whose execution was intended. Guildford : Butterworth
Architecture, 1989
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