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Universidade Federal do Paraná

Setor de Ciências Humanas


Disciplina: Tópicos Especiais de América Latina
Professor: Marcos Gonçalves
Graduando: Lucas Salmoria de Souza Rosa; Murillo
Amboni Schio; Felipe Bastos; Anna Beruski; Daniele
Viana; Samuel Kawahara
Data: 03/10/2014

Resenha do Texto: MARIÁTEGUI, José Carlos. Introdução: Nem decalque, nem cópia:
o marxismo romântico de José Carlos Mariátegui; Parte I: Concepções de Vida. In: Por
um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2011.

Este texto visa resumir as ideias apresentadas na introdução e na primeira parte do


livro Por um Socialismo Indo-Americano de José Carlos Mariátegui, além de analisar
essas informações fazendo uma consideração ao final sobre a obra e seu autor. Sendo esse
livro uma coletânea de trechos de que foram publicados no jornal Mundial durante 1924
e 1925, algumas mais tarde foram transcritas para revista Amauta, com exceção da
introdução feita por Michael Löwy. Ao todo são oito textos de José Mariátegui:
Nacionalismo e Internacionalismo; Passadismo e Futurismo; o Nacional e o Exótico; a
Imaginação e o Progresso; Duas Concepções de Vida; o Homem e o Mito; a Luta Final;
e por último Pessimismo da Realidade e Otimismo do Ideal. Cada parte será apresentada
e resumida, mostrando a data de publicação.

A introdução – nomeada Nem decalque, nem cópia: o marxismo romântico de


José Carlos Mariátegui – desta edição da obra Por um Socialismo Indo-Americano, de
José Carlos Mariátegui, foi escrita pelo renomado sociólogo brasileiro Michael Löwy.
“Considerado um dos maiores pesquisadores das obras de Karl Marx, Leon Trotski, Rosa
Luxemburgo, György Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin”1, Löwy propõe, em
seu capítulo introdutório, delinear o núcleo “irreversivelmente romântico” do “marxismo
herético” de Mariátegui.2

1
Disponível em http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/authors/view/326. Acesso em 1 de outubro
de 2014.
2
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 7.
As imbricações literárias, ideológicas e políticas entre o romantismo e o marxismo
foram extensivamente argumentadas por Löwy em sua bibliografia3. Sua argumentação
busca evidenciar que, apesar da heterogeneidade constitutiva do romantismo, é possível
distinguir uma matriz comum que o define enquanto a nostalgia das sociedades pré-
capitalistas. Em suas palavras,

Na visão romântica de mundo, esse passado pré-capitalista se encontra


ornado de uma série de virtudes (reais, parcialmente reais ou imaginárias) como,
por exemplo, a predominância de valores quantitativos (valores de uso ou
valores éticos, estéticos e religiosos), a comunidade orgânica entre indivíduos,
ou ainda, o papel essencial das ligações afetivas e dos sentimentos – em
contraposição à civilização capitalista moderna, fundada na quantidade, o preço,
o dinheiro, a mercadoria, o cálculo racional e frio do lucro, a atomização dos
indivíduos. Quando essa nostalgia é o eixo central que estrutura o conjunto da
Weltanschauung, encontramo-nos frente a um pensamento romântico stricto
sensu.4

O referido conceito de Löwy a respeito das correlações entre marxismo e


romantismo é retomado como eixo argumentativo central na sua introdução do livro de
Mariátegui. Löwy inicia sua abordagem elencando o artigo de um especialista soviético
escrito em 1941, cuja crítica dirigida a Mariátegui incidia precisamente na sua
heterodoxia “populista” e “romântica” do marxismo, características inconcebíveis para a
ortodoxia stalinista vigente à época.

Em seguida, o autor busca contextualizar a presença do romantismo no seio das


correntes marxistas que sucederam a morte de Marx e Engels para situar os conceitos e
problemáticas de Mariátegui. Destacam-se duas: a primeira é evolucionista e positivista,
apegada às concepções de progresso linear; e a segunda é designada de romântica por ser
incrédula das “ilusões do progresso”, e sugere, por sua vez, uma dialética utópico-
revolucionária entre o passado pré-capitalista e o futuro socialista. Para Löwy, “é a esta
segunda corrente que pertence José Carlos Mariátegui, de forma original e num contexto
latino americano muito diferente daquele da Inglaterra ou da Europa Central”.5

3
LÖWY, Michael. Marxismo e Romantismo Revolucionário. In: Romantismo e Messianismo: Ensaios
sobre Lukáes e Benjamin. São Paulo: Edusp/ ed. Perspectiva, 1990.
4
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 13.
5
Idem, pp. 10.
Portanto, Löwy direciona sua argumentação no intuito de evidenciar as
manifestações dessa visão de mundo romântico-revolucionária nas teorias de Mariátegui,
ele próprio crítico do “culto supersticioso do progresso” moderno. Como exemplo dessa
articulação romantismo-marxismo, o autor ressalta o entusiasmo de Mariátegui no seu
posicionamento contrário ao racionalismo e o que intitula de “medíocre edifício
positivista”: “Quanta incompreensão!” – afirma Mariátegui sobre o racionalismo burguês
– “A força dos revolucionários não está na sua ciência; está na sua fé, na sua paixão, na
sua vontade. É uma força religiosa, mística, espiritual. É a força do Mito”6.

Na sequência, Löwy destaca uma importante característica para a concepção


romântico-marxista de Mariátegui: a divisão entre romantismo e “neo-romantismo”.
Aquele, profundamente individualista, oriundo do liberalismo vigente no século XIX.
Este, pós-liberal e coletivista, “intimamente ligado à revolução social”7. Para Löwy, essa
distinção ocupa um lugar central na crítica dos escritores e poetas peruanos
contemporâneos, e de grande importância para o próprio referencial teórico de
Mariátegui. Em suas palavras, “O romantismo do século XIX foi essencialmente
individualista, o romantismo do século XX, ao contrário, é espontânea e logicamente
socialista”8. Esta corrente neo-romântica, prossegue Löwy, é caracterizada pelo
surrealismo, cuja vocação “nitidamente subversiva” teve influência considerável no
pensamento de Mariátegui. “Por causa do repúdio revolucionário ao pensamento e à
sociedade capitalistas, coincide historicamente com o comunismo, no plano político”9. É
por meio dessa articulação entre romantismo e marxismo que Mariátegui concebeu parte
considerável de sua sensibilidade crítica. Löwy reitera sua exposição ao elencar outro
exemplo: para Mariátegui, o quixotismo presente na literatura de Miguel de Unamuno,
“cuja concepção agonística da vida como combate permanente continha, a seu ver, ‘mais
espírito revolucionário que muitas toneladas de literatura socialista’”.10

Com o propósito de escapar daquele romantismo antigo, asfixiante, economicista


e pseudo-marxista da Segunda Internacional, Mariátegui irá propor um novo modelo para
mudança da condição social-economica presente na América Latina. A despeito de outros
autores heterodoxos ou de interpretações complexas sobre o marxismo, como Gramsci,

6
Idem, pp. 11.
7
Idem, pp.13.
8
Idem, Ibidem.
9
Idem, Ibidem.
10
Idem, pp. 14.
Benjamin e Lukács, Mariátegui irá se manter crédulo e convicto acerca de sua base
soreliana de crítica das ilusões do progresso e de defesa de uma base heroica e mítica da
revolução. Mais que influência, para Löwy, a manutenção do elemento místico em sua
interpretação é entendida como uma escolha, modelando e até inventando o Sorel de que
precisava para construir sua teoria. Com essa adoção, a intenção de Mariátegui, segundo
Lowy, era muito mais de ressaltar o substrato místico e romântico do combate
revolucionário do que alinhar o socialismo com alguma espécie de doutrina dogmática.
Reencantar o mundo para seus partícipes através dos pressupostos socialistas e
revolucionários era seu maior projeto.
Contudo, na última seção da Introdução, Löwy afirma que do ponto de vista
prático, Sorel pouco tinha á contribuir para Mariátegui, que traz, então, para o bojo de seu
estudo o bolchevismo como energia para a luta revolucionária. Dentro desse quadro e de
suas análises sobre o Peru, Mariátegui apresenta uma alternativa, por meio da revolução
socialista, ao imperialismo e latifúndio invocando as tradições do campesinato indígena
para servir de elemento heroico e mítico: o comunismo inca. Apoiado nas análises
historiográficas do peruano César Ugarte, conclui que a conquista colonial arruinou a
economia agrária inca e seria necessário recuperarmos a eficácia econômica da
agricultura coletivista praticada pelos incas por meio da reconceituação das instituições
do ayllu e marca.
Num primeiro momento, o que expomos até aqui é claramente uma visão de um
romântico, marcada pelo idealismo do passado, mas, conforme pondera Löwy,
Mariátegui escapa do regressismo ao passado e do dogmatismo, propondo uma interação
entre passado, presente e futuro. Reconhecendo os imperativos morais modernos que
integram o corpus social e institucional de seu tempo, além dos progressos científicos e
técnicos que o mundo ocidental conheceu no século XIX, o heterodoxo marxista procura
integrar em seu pensamento esses imperativos, sem refutá-los como inadequados ao
momento. Sua estratégia política, portanto, também dita como a grande inovação de seu
pensamento, visa fundir o modelo da grande empresa agrícola às práticas coletivistas
indígenas, pois encontra no século XX a sobrevivências destas práticas.

A ponte entre o modelo da grande empresa latifundiária e o coletivismo agrícola


inca está na fundação de grandes cooperativas, nas quais o poder seria transferido das
mãos dos latifundiários para a administração das comunidades. Assim sendo, para seus
críticos, a posição adotada qualificava-se como “socialismo pequeno burguês”, mesmo
que da aproximação desta proposta com a que Marx sugerira certa vez, segundo Löwy.
Também fora acusado de tentar europeizar ou de defender um romantismo nacionalista,
enquanto na realidade procurava justamente escapar dialeticamente deste binarismo
sólido e encontrar uma saída entre as categorias do universal e individual. Finalmente,
apesar de reconhecer a origem europeia do socialismo, Mariátegui irá considerar este um
movimento mundial, conforme Löwy, passível de adaptação dentro dos mais diversos
países e de atuação política efetiva de acordo com as especificidades e passados heroicos
próprios de cada território, possuindo a América Latina a mais “avançada organização
comunista primitiva que a história registra”11: o comunismo inca.

A parte seguinte do texto, Michael Löwy apresenta uma rápida biografia de José
Carlos Mariátegui, o título dessa parte é Cronologia.

José Carlos Mariátegui (1894-1930) é peruano, durante sua vida publicou em


vários jornais e revistas. Ao fundar a revista Nuestra Época, Mariátegui inicia sua
“orientação socialista”. Em 1918, por conta de um artigo, ele é agredido por militares,
tendo que parar de publicar, porém continua a se manifestar intelectualmente fundando
um jornal para se colocar ao lado de proletários grevistas. A partir de crítica feita ao
governo de Augusto Leguía, em 1919, Mariátegui e um colega são nomeados
“propagandistas do Peru no exterior”. Assim, ele passa a viver na Europa, onde, com
alguns amigos, projeta a organização de um Partido Socialista Peruano. Em 1923, retorna
ao Peru e se torna membro da APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana), que
tinha por objetivo unir forças anti-imperialistas. Mas quando a APRA se torna um partido,
Mariátegui se retira para então finalmente fundar o Partido Socialista Peruano. Em 1929,
na Confederação Geral do Trabalho peruana, Mariátegui apresenta sua tese sobre “El
problema indígena”, provocando acirradas controvérsias. A I Conferência Comunista
Latino-Americana passa a atacar as posições do PSP, excluindo-o da Internacional
Comunista, de modo que Mariátegui e seus colegas são convidados a dissolvê-lo e formar
um verdadeiro “partido comunista”, o que Mariátegui se opõe fortemente. Em 1930, o
intelectual peruano pede demissão do cargo de secretário do PSP, indicando alguém mais
“centralista”. Nesse mesmo ano, ele falece. Após isso, o PSP se torna comunista.
Em seguida, Löwy apresenta as publicações em vida e póstumas das obras do
intelectual peruano. Esta parte acaba recebendo o título de Nota Bibliográfica. Mariátegui

11
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 23.
acabou publicando apenas dois livros: La escena contemporânea e 7 ensaios de
interpretacíon de la realidad peruana. Deixando mais ou menos prontos para a
publicação outros três: Defesa Del marxismo, El alma matinal y otras estaciones Del
hombre de hoy e La novela y La vida.
Os escritos que compõe esta coletânea foram selecionados por Michael Lowy, que
foi quem os agrupou em seções temáticas, em cujo interior os textos são dispostos
cronologicamente.
PARTE I: CONCEPÇÔES DE VIDA.
Nesta parte do texto entra-se nos escritos de José Carlos Mariátegui.

Nacionalismo e Internacionalismo.
Esse texto foi publicado em 10 de outubro de 1924 pela primeira vez no jornal
Mundial.
Há uma obscura demarcação tanto teórica quanto prática entre nacionalismo e
internacionalismo.
Quando o nacionalismo se recusa a compreender ou admitir a segunda realidade
internacionalista, que lhe é superior, há um problema de miopia, isso, porque não
consegue adaptar-se a ele. Mariátegui compara esse mecanismo de rechaçar
automaticamente e à priori com a física einsteiniana. Diferentemente, os
internacionalistas, ante a física de Galileu, não contradizem o nacionalismo, ao contrário,
reconhecem-no.
Na atualidade observada por Mariátegui, o nacionalismo o mesmo valor que um
provincianismo ou regionalismo, porém, encontra-se exacerbado. Isso porque ele é uma
face do movimento revolucionário (provocando reações como: chauvinismo, fascismo,
imperialismo etc.).
Nessa atualidade, Mariátegui percebe que há um complicado processo de ajuste,
de adaptação das nações e de seu interesse a uma convivência solidária. Essa convivência
se expressa pela vontade de dar aos povos uma disciplina internacional, a qual faz surgir
o sentimento nacionalista, que é romântico e anacrônico, porque diferencia direitos da
nação do restante do mundo.
Apesar de os nacionalistas classificarem os internacionalistas como utópicos,
seriam esses que se aproximariam mais da realidade, isso porque o internacionalismo não
é só um sentimento, mas um fato histórico. Ocorre que a civilização ocidental se
internacionalizou e tornou solidária a vida da maior parte da humanidade, tornando suas
paixões universais. De modo que a vida tende a uniformidade, à unidade. Estranha e
insolidamente vinculados aparecem a história e o pensamento dos povos mais diversos.
Os Estados europeus foram obrigados a reconhecer a impossibilidade de restaurar
sua economia e produção sem um pacto de assistência mútua. Assim, por sua
interdependência, os povos não podem se lançar uns contra os outros. O
internacionalismo, como fato histórico, não é exclusivamente revolucionário, havendo
um internacionalismo socialista e um burguês. Em sua origem, o internacionalismo foi a
emanação da consciência liberal, isso porque os interesses capitalistas se desenvolveram
independentemente do crescimento da nação e o proletariado já conhecia sua finalidade
internacional.
A Inglaterra foi o único país a se tornar plenamente liberal e democrático. No
entanto, com as crises na produção, tornou-se protecionista e sua disputa por mercados
adquiriu caráter nacionalista. Após isso a função internacional torna a encontrar sua
expressão na no capital financeiro. Contudo, a crise pós-Segunda Guerra Mundial revelou
a solidariedade econômica das nações e, também, a unidade moral e orgânica da
civilização.
A sociedade das nações aparece como uma tentativa vã de resolver as contradições
entre economia internacionalista e a política nacionalista, o que, por sua vez, gera choques
e contradições. Por isso, a civilização cria organismos internacionais de comunicação e
coordenação, como as internacionais operárias.

Passadismo e Futurismo
Esse texto foi publicado em 31 de outubro de 1924 no jornal Mundial.
Melancolia e passadismo se associam a um mesmo estado de espírito. Estes
sentimentos encontram-se no homem entediado, que renega o presente. Deste modo, o
autor classifica o Peru como melancólico, por causa do caráter passadista da população.
Já a preocupação de outros povos é mais ou menos, futurista, que é diferente da
América Latina, pois nessa terra o futuro recebeu tratamento injusto. O autor volta-se ao
Peru apontando seu passadismo como de má qualidade, de modo que, o período que mais
atraiu nunca foi o inca, por ser demasiado autóctone, nacional e indígena. O objeto desse
passadismo é o vice-reinado, período colonial. A literatura sobre esse período traz encanto
e prestígio, porém, não passa de literatura decadente e artificiosa (definição que exclui a
literatura humorística sobre o assunto).
Para Mariátegui, os traços legados pela colônia são insignificantes, adorá-los e
celebrá-los seria uma atitude de mau gosto. Ele alerta para o fato de ter visto o autor dr.
Mackay comentar que a literatura sobre esse período ser “historicista”, o que repudia,
pois o historicismo é uma aptidão para o estudo da história, o que não existiu no Peru.
Por conta dessa falta de espírito histórico e incapacidade de compreender o passado, não
há também a capacidade de sentir o presente e de inquietar-se com o futuro. Assim, fora
alguns trabalhos parciais de investigação, não há nenhum grande trabalho de síntese
histórica no Peru.
Dessa forma, Mariátegui rechaça o sentimento nostálgico peruano, que não
demarca o que seria um povo forte, que sente plenamente e fecundamente as emoções de
uma época. Já a atitude um pouco iconoclasta, que o autor observa nos jovens peruanos,
convém estimular, pois se têm de romper com ideias velhas e com gerações precedentes.
Têm-se no Peru um passado que isola, dispersa e separa, diferenciando demais os
elementos da nacionalidade mal formada, tornando seus membros inimigos. Assim, o
ideal de futuro seria a unidade.

O Nacional e o Exótico

Este trecho foi publicado em 28 de novembro de 1924 no jornal Mundial.

O autor trata nesta parte o debate entre a questão de “nacional” e “exótico”, este
entendido como estrangeiro, vindo de fora do país. Logo nos primeiros parágrafos
percebesse que Mariátegui posiciona-se contrário aos nacionalistas, portando um
defensor das ideias forasteiras. O primeiro ponto levantado é uma crítica a posição dos
“exóticos” que somente visam importar ideias que sejam favoráveis aos ideais
conservadores, ou seja, como o intelectual coloca: “Trata-se, pois, de uma simples atitude
reacionária, disfarçada de nacionalismo”.12

Em seguida, José Mariátegui aprofunda-se na falta de divisão entre o nacional e


estrangeiro na discussão, condenando a posição de governar o Peru visando somente esta
região, sem entender o mundo ocidental que o país está inserido. O autor coloca exemplos
mostrando a formação desse Estado-nação como dependente de fatores externos, como a

12
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 43.
ciência, filosofia, maquinário, instituições legislativas, até mesmo a língua não é
originária da região, vinda da Espanha.

O intelectual peruano afirma que a nacionalidade de seu país ainda está em


formação. Retoma-se a história peruana para mostrar como esta nação foi constituída de
elementos estrangeiros, como a conquista dos espanhóis sobre os incas, que substituíram
as tradições e costumes no local pelos europeus; a ideologia de independência é vinda de
fora também, o autor coloca como sendo fruto da Revolução Francesa. Com isso o autor
termina argumento apontando a dependência da sua região a cultura europeia, o
desenvolvimento do país acaba sendo resultado das ligações com exterior, sendo assim o
autor coloca: “Não é possível falar de ideias políticas nacionais”.13

Nos parágrafos seguintes Mariátegui aponta a necessidade de incorporar ideias


exóticas para uma melhora do país, este por estar inserido em um contexto internacional
deve importar noções de fora. O intelectual apresenta diversos exemplos de locais e países
que assimilaram modos de outras regiões para desenvolverem-se, principal exemplo
apresentado é a Turquia.

O intelectual termina está parte mostrando a necessidade do externo para


formação da nacionalidade peruana, pois uma ideia que beneficie o país deve ser utilizada
embora não seja nacional. Além de criticar novamente os nacionalistas extremos
apontando que para estes seria necessário voltar-se aos costumes incas para ter algo
verdadeiramente nacional.

Interessante apontar sobre essa parte que ela se relaciona com as teorias sobre
internacionalismo de Mariátegui, vendo o país como continuação do plano internacional.
Estas ideias também são mostradas na parte anterior: Nacionalismo e Internacionalismo.

A Imaginação e O Progresso

Este trecho também foi publicado em 12 de dezembro de 1924 no jornal Mundial.

O intelectual começa apontando que ser revolucionário está ligado com a


imaginação. O conservador é apontando como alguém que tem falta de imaginação para
ver além das limitações da realidade, o autor aponta a diferença entre tradicionalismo,

13
Idem, pp. 45.
somente vê a vida como ela era, e o conservadorismo, este somente entende existência
como é vista. Mariátegui cita frases de Luis Araquistán e Oscar Wilde para demonstrar
como a imaginação está vinculada com o progresso na humanidade. Embora o intelectual
peruano critique essa concepção linear da história, ele entende que a capacidade de sonhar
está ligada com a mudança da história, o avanço. Utiliza-se dos exemplos dos
combatentes pela independência da América Latina, principalmente Simon Bolivar, para
mostrar a ligação da imaginação com a revolução, o ato de se revoltar contra a realidade
imposta. Depois, o autor reforça a imaginação desses homens como uma forma de
progresso, colocando os muitos estudos dos revolucionários da França sobre a nobreza.

Em seguida, Mariátegui aborda as limitações da capacidade imaginativa, não


entendendo ela como algo metafísico ou infinito, mas pautada na realidade em que
observa. Portando, a imaginação só pode ter influência sobre a realidade observada, assim
o revolucionário só muda aquilo que vê. As utopias formadas pelo processo de revolução
são condicionadas pelo concreto, não pela construção imaginária. Nesta parte o autor cita
ideias de Hegel sobre a história para exemplificar essa teoria.

O intelectual peruano afirma depois que o homem contemporâneo nunca teve uma
utopia muito romântica, sempre sendo pautada no concreto. Apresenta-se o romance de
Anatole France, Sobre a pedra branca, para mostra como a erudição não é dependente da
imaginação. O personagem Galão, embora muito sábio, entendia o futuro como uma
continuação do presente, demonstrando a sua falta de capacidade imaginativa. O autor
termina está parte indicando uma nova classificação para revolucionários e
conservadores, agora sendo nomeados como imaginativos e sem imaginação.

Duas Concepções da Vida

O texto foi publicado em 9 de janeiro de 1925 no jornal Mundial.

As ideias debatidas nesse texto visam as mudanças ocorridas na sociedade


europeia após a guerra mundial, atualmente nomeada de Primeira Guerra Mundial. José
Mariátegui divide essa breve analise em duas: a primeiro analisa o período anterior ao
confronto; a segunda as mudanças que seguiram com o conflito nos modos de vida.

O intelectual peruano critica fortemente está sociedade antecessora da guerra,


sendo caracterizada como fútil, artificial, esteticista. Aponta-se que ela possui uma visão
clara de progresso, a qual Mariátegui posiciona-se contrário. Entretanto, são apresentados
autores que não participam desse pensamento como Georges Sorel que foi uma grande
influência ao socialista peruano, segundo Löwy. A relação entre burguesia e proletariado
era de negociação, segundo o José Mariátegui. Cita-se Adriano Tilgher para exemplificar
essa geração, o caso apresentado por esse autor italiano é o francês. Em suma, essa
sociedade era cômoda e fútil, sem uma perspectiva de mudança.

A segunda parte do texto analisa-se as mudanças que surgiram com a guerra.


Segundo José Mariátegui, a guerra era fruto de um tedio e insatisfação dessa sociedade
acrítica, a qual considerava esse conflito bélico como um esporte ou espetáculo. Porém,
segundo o autor, o confronto não foi essa futilidade, mas acabou gerando ideologias mais
bélicas como o bolchevismo, como resposta a esquerda à direita recorreu aos fascismos.
As novas doutrinas acabaram quebrando essa visão estática linear ao progresso. Esse novo
momento de agitação provocou uma nostalgia em velhos grupos, apontados no texto
como a burocracia socialista e burgueses, quando ao período antes da guerra. Este
sentimento é nomeado pelo autor como “normalização”, a qual visa quebrar esses
sentimentos românticos bélicos gerados pelo bolchevismo e fascismo, ela busca uma vida
tranquila. Entretanto, esses dois movimentos que surgiram com o movimento acabam
quebrando qualquer volta a essa tranquilidade anterior. Este trecho acaba com o autor
determinando o homem contemporâneo como um combatente, esta sendo uma fé para
ele.

O Homem e O Mito
Texto publicado pela primeira vez em 16 de janeiro de 1925 no jornal Mundial.
Nesta parte José Carlos Mariátegui trabalhou com a necessidade do mito para a
realização de movimentos sociais, afinal o homem oriundo da burguesia sofre com a falta
de religiosidade, de fé e de esperança, já que racionalizar o idealizar só serviu para
desacreditarmos a Razão. Ele afirma que “A própria Razão se encarregou de demonstrar
aos homens que ela não lhes basta [...]”14e que o grande responsável por mover o homem
na história é o Mito, desse modo sobrou aos homens contemporâneos, principalmente da
burguesia cética, recorrer a guerra para reanimar a fé e buscar os mitos na revolução.
Mariátegui cita a Revolução Liberal e mitos como a ‘Liberdade, a Democracia e a Paz’15.

14
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 57.
15
Idem, pp. 58.
Ele associa a questão do mito à verdade, os homens lutam para descobrir a verdade
de seus mitos, contudo ressalta que as verdades só são válidas cada qual para sua época e
é por isso que devemos nos contentar a sabermos apenas uma verdade relativa. Nessa
busca pelo mito os homens acabam por restaurar certos ideais como o católico, clássico
(fruto do Renascimento) e exemplifica o facismo que atribui a si uma mentalidade
medieval e católica, mesmo encarnando a ideia de Nação, fruto da influência do ideário
liberal.
Mariátegui usa as palavras de Jean R. Bloch para afirmar que buscar certa fé
“capaz de encher os desgraçados de esperança”16e quando a encontrarmos não seremos
os mesmos homens de antes. Ou seja, para se forjar uma nova civilização, de acordo com
Romain Rolland, a alma dos homens necessita desse encanto mítico, e é justamente essa
crença que difere a burguesia do proletariado, visto que a burguesia com o tempo tornou-
se pessimista, já não mais crê, em compensação o proletariado encontrou na Revolução
social o mito que move sua esperança. Em uma linda passagem José Carlos Mariátegui
afirma que “Os motivos religiosos se deslocaram do céu para a terra. Nâo são divinos;
são humanos, são sociáveis.”17E essa fé renovada é o que faz com que os povos, em
especial nos socialistas, a força que os move e que faz com que não desistam de sua luta.

A Luta Final
Publicado pela primeira vez em 20 de março de 1925 no jornal Mundial.
Este trecho Mariátegui discute a necessidade de se acreditar na mudança completa
das revoluções. Os homens que encabeçam e lutam por mudanças visualizam sempre a
mudança total e eterna, entretanto no começo do seu discurso já deixa claro que mesmo
não prevendo uma revolução que virá, em suas entranhas o germe está presente. Os
homens acreditam que sua realidade ao inaugurar novas eras são definitivas e
insuperáveis, foi assim na Revolução Francesa, foi assim na Revolução Proletária,
nascida do ventre da revolução anterior, criando seus exércitos nas fábricas e
alimentando-os com o capitalismo.
Essa necessidade de uma “ilusão da luta final”18 sempre aparece afim de renovar
os homens, e de acordo com Mariátegui, apresenta-se dessa forma, buscando uma
finalidade para que os homens tenham certeza de que vale a pena e diferentemente dos

16
Idem, pp. 59.
17
Idem, pp. 60.
18
Idem, pp. 63.
filósofos e intelectuais que entendem que existem verdades pretéritas e verdades futuras,
o homem inserido na multidão e munido de sua fé não distingue as verdades, ela é
“absoluta, única, eterna. E, de acordo com esta verdade, sua luta é, realmente, uma luta
final.”19

Pessimismo da Realidade e Otimismo Ideal


Este texto foi publicado pela primeira vez em 21 de agosto de 1925.
Em “Pessimismo da Realidade e o Otimismo Ideal” o autor mostra a participação
dos intelectuais da nova geração ibero-americana na busca para a criação de um mundo
novo, ressaltando que estes estão cheios de “ardor místico e paixão religiosa” 20. A partir
dessa afirmação coloca em pauta a relação de otimistas e pessimistas quando o assunto é
corrigir a realidade. José Carlos Mariátegui afirma que na maioria dos casos o pessimismo
da realidade é que move o otimismo de um futuro melhor: “Não acreditamos que o mundo
deva ser fatal e eternamente como é.”21
Todavia, Mariátegui avisa-nos que entre os pessimistas há dois tipos: O
exclusivamente negativo e o Niilista simulado. Enquanto o primeiro é fruto de um período
de decadência, desilução e não é comum, o outro busca esse negativismo forjado para
lhes servir de pretexto tendo por único objetivo protegê-los das grandes paixões,
tornando-o um idealista vulgar.
Entretanto, após apresentar os tipos negativitas, José Carlos Mariátegui retorna a
conclamar a nova geração de estudiosos da América, cheios de fé e esperança, reforçando
a ideia de que atitudes absolutamente negativas são estéreis e que um sentimento
desencantado da vida só surge num mundo decadente onde prevalece um estado de
espírito cético.
Por fim, o autor cita Hans Vihinger afirmando que “Existem verdade relativas que
governam a vida do homem como se fossem absolutas”22 e nos explica que as verdades
relativas não nos devem convidar a renúncia da ação, mas pretende alertar que devemos
negar o absoluto, visto que cada qual pertencendo a sua época tem a mesma força de uma
verdade absoluta e eterna, o que o homem de seu tempo precisa é de um mito e ter
esperança/fé. José Carlos Mariátegui finaliza sua argumentação apresentando que um

19
Idem, pp. 64.
20
Idem, pp. 65.
21
Idem, pp. 66.
22
Idem, pp. 67.
mundo novo ainda em gestação depositará sua esperança, necessitando de uma nova
geração forte para sua nova luta final.
Conclusão
Com a leitura da introdução feita por Michael Löwy – Nem decalque, nem cópia:
o marxismo romântico de José Carlos Mariátegui – e a primeira parte – As Concepções
de Vida – do livro póstumo Por um socialismo indo-americano: Ensaios escolhidos de
José Carlos Mariátegui é possível fazer algumas conclusões quanto ao intelectual peruano
e a sua obra. A primeira é quanto ao romantismo que este autor possui, durante a
introdução de Löwy e ao longo dos trechos do livro chega-se ao entendimento que o autor
renova esse movimento, atribuindo uma nova roupagem de vertente esquerda.
Interessante abordar, que embora tenha características idealizadoras, o autor funda-se na
realidade. No texto A Imaginação e O Progresso aborda a utilização da imaginação, algo
considerado idealizado, porém atribui ao esse aspecto mental um reflexo da realidade,
sendo limitada pelo concreto. Portanto, qualquer criação de uma utopia não seria uma
sociedade idealizada totalmente, mas pautada nas dificuldades vistas e entendidas.
Todavia não é possível esquecer que Mariátegui possui um teor que não é empírico, como
as considerações quanto Georges Sorel que Löwy aponta que são idealizadas para
satisfação a teoria do intelectual peruano. Outro aspecto é a crença que o autor possui na
alteração da sociedade, pois fortemente é atribuindo importância ao futuro e as mudanças
não em um panorama de progresso, mas de luta e heroísmo. O caráter que Mariátegui
acaba inserindo-o como um intelectual engajado nas lutas sociais, ainda motivado por
elas, sendo um exemplo forte desse tipo do século XX.

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