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Resenha do Texto: MARIÁTEGUI, José Carlos. Introdução: Nem decalque, nem cópia:
o marxismo romântico de José Carlos Mariátegui; Parte I: Concepções de Vida. In: Por
um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2011.
1
Disponível em http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/authors/view/326. Acesso em 1 de outubro
de 2014.
2
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 7.
As imbricações literárias, ideológicas e políticas entre o romantismo e o marxismo
foram extensivamente argumentadas por Löwy em sua bibliografia3. Sua argumentação
busca evidenciar que, apesar da heterogeneidade constitutiva do romantismo, é possível
distinguir uma matriz comum que o define enquanto a nostalgia das sociedades pré-
capitalistas. Em suas palavras,
3
LÖWY, Michael. Marxismo e Romantismo Revolucionário. In: Romantismo e Messianismo: Ensaios
sobre Lukáes e Benjamin. São Paulo: Edusp/ ed. Perspectiva, 1990.
4
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 13.
5
Idem, pp. 10.
Portanto, Löwy direciona sua argumentação no intuito de evidenciar as
manifestações dessa visão de mundo romântico-revolucionária nas teorias de Mariátegui,
ele próprio crítico do “culto supersticioso do progresso” moderno. Como exemplo dessa
articulação romantismo-marxismo, o autor ressalta o entusiasmo de Mariátegui no seu
posicionamento contrário ao racionalismo e o que intitula de “medíocre edifício
positivista”: “Quanta incompreensão!” – afirma Mariátegui sobre o racionalismo burguês
– “A força dos revolucionários não está na sua ciência; está na sua fé, na sua paixão, na
sua vontade. É uma força religiosa, mística, espiritual. É a força do Mito”6.
6
Idem, pp. 11.
7
Idem, pp.13.
8
Idem, Ibidem.
9
Idem, Ibidem.
10
Idem, pp. 14.
Benjamin e Lukács, Mariátegui irá se manter crédulo e convicto acerca de sua base
soreliana de crítica das ilusões do progresso e de defesa de uma base heroica e mítica da
revolução. Mais que influência, para Löwy, a manutenção do elemento místico em sua
interpretação é entendida como uma escolha, modelando e até inventando o Sorel de que
precisava para construir sua teoria. Com essa adoção, a intenção de Mariátegui, segundo
Lowy, era muito mais de ressaltar o substrato místico e romântico do combate
revolucionário do que alinhar o socialismo com alguma espécie de doutrina dogmática.
Reencantar o mundo para seus partícipes através dos pressupostos socialistas e
revolucionários era seu maior projeto.
Contudo, na última seção da Introdução, Löwy afirma que do ponto de vista
prático, Sorel pouco tinha á contribuir para Mariátegui, que traz, então, para o bojo de seu
estudo o bolchevismo como energia para a luta revolucionária. Dentro desse quadro e de
suas análises sobre o Peru, Mariátegui apresenta uma alternativa, por meio da revolução
socialista, ao imperialismo e latifúndio invocando as tradições do campesinato indígena
para servir de elemento heroico e mítico: o comunismo inca. Apoiado nas análises
historiográficas do peruano César Ugarte, conclui que a conquista colonial arruinou a
economia agrária inca e seria necessário recuperarmos a eficácia econômica da
agricultura coletivista praticada pelos incas por meio da reconceituação das instituições
do ayllu e marca.
Num primeiro momento, o que expomos até aqui é claramente uma visão de um
romântico, marcada pelo idealismo do passado, mas, conforme pondera Löwy,
Mariátegui escapa do regressismo ao passado e do dogmatismo, propondo uma interação
entre passado, presente e futuro. Reconhecendo os imperativos morais modernos que
integram o corpus social e institucional de seu tempo, além dos progressos científicos e
técnicos que o mundo ocidental conheceu no século XIX, o heterodoxo marxista procura
integrar em seu pensamento esses imperativos, sem refutá-los como inadequados ao
momento. Sua estratégia política, portanto, também dita como a grande inovação de seu
pensamento, visa fundir o modelo da grande empresa agrícola às práticas coletivistas
indígenas, pois encontra no século XX a sobrevivências destas práticas.
A parte seguinte do texto, Michael Löwy apresenta uma rápida biografia de José
Carlos Mariátegui, o título dessa parte é Cronologia.
11
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 23.
acabou publicando apenas dois livros: La escena contemporânea e 7 ensaios de
interpretacíon de la realidad peruana. Deixando mais ou menos prontos para a
publicação outros três: Defesa Del marxismo, El alma matinal y otras estaciones Del
hombre de hoy e La novela y La vida.
Os escritos que compõe esta coletânea foram selecionados por Michael Lowy, que
foi quem os agrupou em seções temáticas, em cujo interior os textos são dispostos
cronologicamente.
PARTE I: CONCEPÇÔES DE VIDA.
Nesta parte do texto entra-se nos escritos de José Carlos Mariátegui.
Nacionalismo e Internacionalismo.
Esse texto foi publicado em 10 de outubro de 1924 pela primeira vez no jornal
Mundial.
Há uma obscura demarcação tanto teórica quanto prática entre nacionalismo e
internacionalismo.
Quando o nacionalismo se recusa a compreender ou admitir a segunda realidade
internacionalista, que lhe é superior, há um problema de miopia, isso, porque não
consegue adaptar-se a ele. Mariátegui compara esse mecanismo de rechaçar
automaticamente e à priori com a física einsteiniana. Diferentemente, os
internacionalistas, ante a física de Galileu, não contradizem o nacionalismo, ao contrário,
reconhecem-no.
Na atualidade observada por Mariátegui, o nacionalismo o mesmo valor que um
provincianismo ou regionalismo, porém, encontra-se exacerbado. Isso porque ele é uma
face do movimento revolucionário (provocando reações como: chauvinismo, fascismo,
imperialismo etc.).
Nessa atualidade, Mariátegui percebe que há um complicado processo de ajuste,
de adaptação das nações e de seu interesse a uma convivência solidária. Essa convivência
se expressa pela vontade de dar aos povos uma disciplina internacional, a qual faz surgir
o sentimento nacionalista, que é romântico e anacrônico, porque diferencia direitos da
nação do restante do mundo.
Apesar de os nacionalistas classificarem os internacionalistas como utópicos,
seriam esses que se aproximariam mais da realidade, isso porque o internacionalismo não
é só um sentimento, mas um fato histórico. Ocorre que a civilização ocidental se
internacionalizou e tornou solidária a vida da maior parte da humanidade, tornando suas
paixões universais. De modo que a vida tende a uniformidade, à unidade. Estranha e
insolidamente vinculados aparecem a história e o pensamento dos povos mais diversos.
Os Estados europeus foram obrigados a reconhecer a impossibilidade de restaurar
sua economia e produção sem um pacto de assistência mútua. Assim, por sua
interdependência, os povos não podem se lançar uns contra os outros. O
internacionalismo, como fato histórico, não é exclusivamente revolucionário, havendo
um internacionalismo socialista e um burguês. Em sua origem, o internacionalismo foi a
emanação da consciência liberal, isso porque os interesses capitalistas se desenvolveram
independentemente do crescimento da nação e o proletariado já conhecia sua finalidade
internacional.
A Inglaterra foi o único país a se tornar plenamente liberal e democrático. No
entanto, com as crises na produção, tornou-se protecionista e sua disputa por mercados
adquiriu caráter nacionalista. Após isso a função internacional torna a encontrar sua
expressão na no capital financeiro. Contudo, a crise pós-Segunda Guerra Mundial revelou
a solidariedade econômica das nações e, também, a unidade moral e orgânica da
civilização.
A sociedade das nações aparece como uma tentativa vã de resolver as contradições
entre economia internacionalista e a política nacionalista, o que, por sua vez, gera choques
e contradições. Por isso, a civilização cria organismos internacionais de comunicação e
coordenação, como as internacionais operárias.
Passadismo e Futurismo
Esse texto foi publicado em 31 de outubro de 1924 no jornal Mundial.
Melancolia e passadismo se associam a um mesmo estado de espírito. Estes
sentimentos encontram-se no homem entediado, que renega o presente. Deste modo, o
autor classifica o Peru como melancólico, por causa do caráter passadista da população.
Já a preocupação de outros povos é mais ou menos, futurista, que é diferente da
América Latina, pois nessa terra o futuro recebeu tratamento injusto. O autor volta-se ao
Peru apontando seu passadismo como de má qualidade, de modo que, o período que mais
atraiu nunca foi o inca, por ser demasiado autóctone, nacional e indígena. O objeto desse
passadismo é o vice-reinado, período colonial. A literatura sobre esse período traz encanto
e prestígio, porém, não passa de literatura decadente e artificiosa (definição que exclui a
literatura humorística sobre o assunto).
Para Mariátegui, os traços legados pela colônia são insignificantes, adorá-los e
celebrá-los seria uma atitude de mau gosto. Ele alerta para o fato de ter visto o autor dr.
Mackay comentar que a literatura sobre esse período ser “historicista”, o que repudia,
pois o historicismo é uma aptidão para o estudo da história, o que não existiu no Peru.
Por conta dessa falta de espírito histórico e incapacidade de compreender o passado, não
há também a capacidade de sentir o presente e de inquietar-se com o futuro. Assim, fora
alguns trabalhos parciais de investigação, não há nenhum grande trabalho de síntese
histórica no Peru.
Dessa forma, Mariátegui rechaça o sentimento nostálgico peruano, que não
demarca o que seria um povo forte, que sente plenamente e fecundamente as emoções de
uma época. Já a atitude um pouco iconoclasta, que o autor observa nos jovens peruanos,
convém estimular, pois se têm de romper com ideias velhas e com gerações precedentes.
Têm-se no Peru um passado que isola, dispersa e separa, diferenciando demais os
elementos da nacionalidade mal formada, tornando seus membros inimigos. Assim, o
ideal de futuro seria a unidade.
O Nacional e o Exótico
O autor trata nesta parte o debate entre a questão de “nacional” e “exótico”, este
entendido como estrangeiro, vindo de fora do país. Logo nos primeiros parágrafos
percebesse que Mariátegui posiciona-se contrário aos nacionalistas, portando um
defensor das ideias forasteiras. O primeiro ponto levantado é uma crítica a posição dos
“exóticos” que somente visam importar ideias que sejam favoráveis aos ideais
conservadores, ou seja, como o intelectual coloca: “Trata-se, pois, de uma simples atitude
reacionária, disfarçada de nacionalismo”.12
12
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 43.
ciência, filosofia, maquinário, instituições legislativas, até mesmo a língua não é
originária da região, vinda da Espanha.
Interessante apontar sobre essa parte que ela se relaciona com as teorias sobre
internacionalismo de Mariátegui, vendo o país como continuação do plano internacional.
Estas ideias também são mostradas na parte anterior: Nacionalismo e Internacionalismo.
A Imaginação e O Progresso
13
Idem, pp. 45.
somente vê a vida como ela era, e o conservadorismo, este somente entende existência
como é vista. Mariátegui cita frases de Luis Araquistán e Oscar Wilde para demonstrar
como a imaginação está vinculada com o progresso na humanidade. Embora o intelectual
peruano critique essa concepção linear da história, ele entende que a capacidade de sonhar
está ligada com a mudança da história, o avanço. Utiliza-se dos exemplos dos
combatentes pela independência da América Latina, principalmente Simon Bolivar, para
mostrar a ligação da imaginação com a revolução, o ato de se revoltar contra a realidade
imposta. Depois, o autor reforça a imaginação desses homens como uma forma de
progresso, colocando os muitos estudos dos revolucionários da França sobre a nobreza.
O intelectual peruano afirma depois que o homem contemporâneo nunca teve uma
utopia muito romântica, sempre sendo pautada no concreto. Apresenta-se o romance de
Anatole France, Sobre a pedra branca, para mostra como a erudição não é dependente da
imaginação. O personagem Galão, embora muito sábio, entendia o futuro como uma
continuação do presente, demonstrando a sua falta de capacidade imaginativa. O autor
termina está parte indicando uma nova classificação para revolucionários e
conservadores, agora sendo nomeados como imaginativos e sem imaginação.
O Homem e O Mito
Texto publicado pela primeira vez em 16 de janeiro de 1925 no jornal Mundial.
Nesta parte José Carlos Mariátegui trabalhou com a necessidade do mito para a
realização de movimentos sociais, afinal o homem oriundo da burguesia sofre com a falta
de religiosidade, de fé e de esperança, já que racionalizar o idealizar só serviu para
desacreditarmos a Razão. Ele afirma que “A própria Razão se encarregou de demonstrar
aos homens que ela não lhes basta [...]”14e que o grande responsável por mover o homem
na história é o Mito, desse modo sobrou aos homens contemporâneos, principalmente da
burguesia cética, recorrer a guerra para reanimar a fé e buscar os mitos na revolução.
Mariátegui cita a Revolução Liberal e mitos como a ‘Liberdade, a Democracia e a Paz’15.
14
MARIÁTEGUI, José Carlos. Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2011, pp. 57.
15
Idem, pp. 58.
Ele associa a questão do mito à verdade, os homens lutam para descobrir a verdade
de seus mitos, contudo ressalta que as verdades só são válidas cada qual para sua época e
é por isso que devemos nos contentar a sabermos apenas uma verdade relativa. Nessa
busca pelo mito os homens acabam por restaurar certos ideais como o católico, clássico
(fruto do Renascimento) e exemplifica o facismo que atribui a si uma mentalidade
medieval e católica, mesmo encarnando a ideia de Nação, fruto da influência do ideário
liberal.
Mariátegui usa as palavras de Jean R. Bloch para afirmar que buscar certa fé
“capaz de encher os desgraçados de esperança”16e quando a encontrarmos não seremos
os mesmos homens de antes. Ou seja, para se forjar uma nova civilização, de acordo com
Romain Rolland, a alma dos homens necessita desse encanto mítico, e é justamente essa
crença que difere a burguesia do proletariado, visto que a burguesia com o tempo tornou-
se pessimista, já não mais crê, em compensação o proletariado encontrou na Revolução
social o mito que move sua esperança. Em uma linda passagem José Carlos Mariátegui
afirma que “Os motivos religiosos se deslocaram do céu para a terra. Nâo são divinos;
são humanos, são sociáveis.”17E essa fé renovada é o que faz com que os povos, em
especial nos socialistas, a força que os move e que faz com que não desistam de sua luta.
A Luta Final
Publicado pela primeira vez em 20 de março de 1925 no jornal Mundial.
Este trecho Mariátegui discute a necessidade de se acreditar na mudança completa
das revoluções. Os homens que encabeçam e lutam por mudanças visualizam sempre a
mudança total e eterna, entretanto no começo do seu discurso já deixa claro que mesmo
não prevendo uma revolução que virá, em suas entranhas o germe está presente. Os
homens acreditam que sua realidade ao inaugurar novas eras são definitivas e
insuperáveis, foi assim na Revolução Francesa, foi assim na Revolução Proletária,
nascida do ventre da revolução anterior, criando seus exércitos nas fábricas e
alimentando-os com o capitalismo.
Essa necessidade de uma “ilusão da luta final”18 sempre aparece afim de renovar
os homens, e de acordo com Mariátegui, apresenta-se dessa forma, buscando uma
finalidade para que os homens tenham certeza de que vale a pena e diferentemente dos
16
Idem, pp. 59.
17
Idem, pp. 60.
18
Idem, pp. 63.
filósofos e intelectuais que entendem que existem verdades pretéritas e verdades futuras,
o homem inserido na multidão e munido de sua fé não distingue as verdades, ela é
“absoluta, única, eterna. E, de acordo com esta verdade, sua luta é, realmente, uma luta
final.”19
19
Idem, pp. 64.
20
Idem, pp. 65.
21
Idem, pp. 66.
22
Idem, pp. 67.
mundo novo ainda em gestação depositará sua esperança, necessitando de uma nova
geração forte para sua nova luta final.
Conclusão
Com a leitura da introdução feita por Michael Löwy – Nem decalque, nem cópia:
o marxismo romântico de José Carlos Mariátegui – e a primeira parte – As Concepções
de Vida – do livro póstumo Por um socialismo indo-americano: Ensaios escolhidos de
José Carlos Mariátegui é possível fazer algumas conclusões quanto ao intelectual peruano
e a sua obra. A primeira é quanto ao romantismo que este autor possui, durante a
introdução de Löwy e ao longo dos trechos do livro chega-se ao entendimento que o autor
renova esse movimento, atribuindo uma nova roupagem de vertente esquerda.
Interessante abordar, que embora tenha características idealizadoras, o autor funda-se na
realidade. No texto A Imaginação e O Progresso aborda a utilização da imaginação, algo
considerado idealizado, porém atribui ao esse aspecto mental um reflexo da realidade,
sendo limitada pelo concreto. Portanto, qualquer criação de uma utopia não seria uma
sociedade idealizada totalmente, mas pautada nas dificuldades vistas e entendidas.
Todavia não é possível esquecer que Mariátegui possui um teor que não é empírico, como
as considerações quanto Georges Sorel que Löwy aponta que são idealizadas para
satisfação a teoria do intelectual peruano. Outro aspecto é a crença que o autor possui na
alteração da sociedade, pois fortemente é atribuindo importância ao futuro e as mudanças
não em um panorama de progresso, mas de luta e heroísmo. O caráter que Mariátegui
acaba inserindo-o como um intelectual engajado nas lutas sociais, ainda motivado por
elas, sendo um exemplo forte desse tipo do século XX.