Вы находитесь на странице: 1из 143

1

Pedro Henrique de Araújo Cabral

MANUAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
DE DIREITO DA EMPRESA EM CRISE

Direito Empresarial III


2

MANUAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
DE DIREITO DA EMPRESA EM CRISE

Direito Empresarial III


3

Pedro Henrique de Araújo Cabral


Advogado. Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Graduado em Direito
pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará – UFC. Especialista em Direito Empresarial pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Pós-graduado em Direito Tributário pelo Instituto
Brasileiro de Direito Tributário – IBET/SP. Pós-graduado em nível de extensão em Direito Societário, em Direito
do Seguro e Resseguro, em Processo Civil, em Inglês Jurídico e Economia Aplicada ao Direito, tudo, pela
Fundação Getúlio Vargas – FGV/RJ. Professor de Direito Falimentar e de Direito Processual Tributário da
Faculdade de Direito da FAMETRO. Professor de Direito Societário, de Direito de Falência e da Empresa em
Crise, de Direito Tributário, de Direito Cambiário, de Direito Contratual, de Direito Bancário e de Direito Penal
Bancário na Fundação Getúlio Vargas.

MANUAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
DE DIREITO DA EMPRESA EM CRISE

Direito Empresarial III

ORIGINAIS

JAN/2019
4

NÃO CATALOGADO
CABRAL, Pedro H. de A.
Direito Empresarial: Manual Didático-Pedagógico de Direito da Empresa Em Crise / Pedro H. de A. Cabral
Manuscritos Originais – Fortaleza, 2018
95p.

Inclui bibliografia
Sem ISBN

1. Direito Empresarial. 2. Direito da Empresa em Crise. 3. Recuperação Judicial. 4. Falência.


5

SUMÁRIO
PRÓLOGO
1. PROPEDÊUTICA
1.1 Destruição Criativa
1.2 Falência como Estímulo Econômico
1.3 Interdisciplinaridade do Fenômeno Falimentar
1.4 Espécies de Cries Empresarial
2. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
2.1 Disposições Preliminares da LREF
2.1 Disposições Preliminares à Lei de Recuperação de Recuperação de Empresas e Falência
2.1.1 Por que as empresas do governo, mesmo apresentando prejuízos bilionários, não vão à Falência? Ou,
quem está sujeito aos efeitos da Lei de Recuperação de Empresa e Falência - LREF1
2.1.2 Magaempresas do Varejo de eletrodomésticos, Crise Econômica e Dificuldade de Identificação do
Principal Estabelecimento
2.2 Disposições Gerais Comuns à Recuperação Judicial e à Falência
2.2.1.1 Comentários - Capítulo II
- Disposições Comuns à Recuperação Judicial E À Falência; Seção I -
Disposições Gerais; Parte 01
2.2.1.2 Custo Brasil e os créditos que, Apesar de Legítimos, não Podem ser Cobrados nem na Recuperação
Judicial, nem na Falência; Ou Porque O Art. 5º. Da LREF é Injusto
2.2.1.6 Exercício de Fixação Capítulo II
- Disposições Comuns à Recuperação Judicial E À Falência; Seção I -
Disposições Gerais; Parte 01
2.2.2.1 Comentários - Capítulo II
- Disposições Comuns à Recuperação Judicial E À Falência; Seção I -
Disposições Gerais; Parte 02
2.2.2.11 Suspensão do Procedimento Executivo Fiscal por Ausência de Garantia do Juízo Fiscal
2.2.2.12 Prevenção de Jurisdição em Caso de Grupo Econômico
2.2.2.13 Prazos Processuais Devem Ser Contados em Dias Úteis com Novo CPC
3. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
3.1 Disposições Gerais Relativas à Recuperação Judicial
3.2 Do Pedido de Recuperação Judicial
3.3 Processamento da Recuperação Judicial
3.4 Da Verificação e da Habilitação de Créditos na Recuperação judicial
3.5 Do Administrador Judicial e do Comitê de Credores na Recuperação Judicial
3.6 Da Assembleia-Geral de Credores na Recuperação Judicial
3.7 Do Plano de Recuperação Judicial
3.8 Do Procedimento de Recuperação Judicial
3.9 Do Plano de Recuperação Judicial para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
3.10 Da Recuperação Extrajudicial
3.11 Do Convolação da Recuperação em

1 Disposições preliminares da lei 11.101/2005: Sujeição Passiva;


6

PRÓLOGO
O bacharel em Direito exerce as chamadas profissões jurídicas: advogado público ou particular,
consultor jurídico, magistério superior, juiz, promotor, procurador da república, defensor público,
cargos da estrutura do poder judiciário, do ministério público, dos tribunais de contas e de outras
áreas do estado e do mercado privado.

Todas elas são profissões que envolvem o trato com os direitos e interesses dos indivíduos, tais como
vida, propriedade e liberdade, além do manejo de institutos jurídicos de larga escala derivados do
conjunto dos interesses “difusos” e “coletivos”, de grande repercussão social.

Pelo que resta evidente a capital importância do ensino jurídico, da formação desses profissionais do
Direito, que manipularão o saber jurídico como instrumento de atendimento às necessidades
concretas dos seres humanos, na composição de seus conflitos e na orientação de condutas pela trilha
da segurança jurídica e, principalmente, na busca pela justiça.

Nesse contexto, o professor desempenha importante papel, não só como mediador da construção do
conhecimento, mas também, como membro ativo da comunidade acadêmico-jurídica sob a égide de
uma ética profissional e pessoal que, dentro e fora da sala de aula, ensina, forma, oferece modelo de
conduta, cultura e intelectualidade.

No seu mister, faz imprescindível também o seu compromisso com a satisfação dos alunos, primando
sempre pelo respeito aos seus direitos e pela busca de soluções que atendam a seus interesses,
sempre em consonância com os objetivos de desenvolvimento e princípios éticos.

Outrossim, já sob o prisma pedagógico, cabe ao professor auxiliar o educando na construção de sua
autonomia, vez que a “autonomia do sujeito” é outro princípio expressamente assumido, pois
consubstancia um dos objetivos da prática educacional em geral, não só na área jurídica, assumindo-
se como tal a competência para governar a si mesmo, nos pedagógicos termos de Marilena Chauí,
para quem o ser autônomo é

“... aquele que controla interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, discute
consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, indaga se devem
e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores e fins superiores ao existente,
avalia sua capacidade para dar a si mesmo suas regras de conduta, consulta sua razão e sua
vontade antes de agir, tem consideração pelos outros sem se subordinar nem se submeter
cegamente a eles, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa a violência
contra si e contra os outros.”2

Ressalta-se, como efeito natural do agir autônomo, a responsabilidade pela ação, do que se conclui
que autonomia pressupõe responsabilidade, da qual o profissional do direito deve estar sempre
consciente e diante da qual deve sempre estar preparado e disposto a assumir.

Por todo o exposto, a presente apostila de notas de aula propõe-se a construção de saber teórico-
prática contextualizada, estimulando o educando a cotejar normas e os fatos juridicamente

2 Convite à filosofia, pp. 434/435, disponível em http://edgarrogerio.net/arquivos/autonomia.pdf, acessado em 10/10/2010.


7

relevantes, a refletir sobre sua repercussão na vida das pessoas e o seu significado social, para além
do mero eruditismo e a eloquência impecável das teorias. Enfim, propõe-se a empreender encontrar-
se com a verdade da vida e do homem.

Exatamente aí é que entra proposta metodológica ativa de ensino-aprendizagem jurídicos a ser


implementada, alternando momento de exposições teóricas com estímulo à reflexão e ao
uso/exposição do conhecimento prévio do aluno, dos dados de sua experiência pessoal e de sua
realidade de vida. Sempre com prudência e progressividade, empregar-se-á uma pedagogia viva de
base dialógica e interdisciplinar.

Haverá também o estímulo à pesquisa por meio de sugestão de texto para leitura complementar, de
tema para trabalho e discussão acadêmica mais aprofundada, bem como indicação de jurisprudência
a ser estudada em complemento à exposição didática operada.

Como instrumentos de apoio pedagógico serão manipulados trecho de filmes, obras plásticas e
literárias. Será, ainda, ocasionalmente feito uso de recurso audiovisual, datashow, para conferir maior
dinâmica e fluidez à aula, bem como, propiciar o aguçamento dos canais de percepção de todos.

Com isso, a intenção é que a aulas sejam efetivas na transmissão do conteúdo e, ao mesmo tempo,
seja atraente, despertando a curiosidade de todos, o interesse pela matéria e o gosto pelo debate e
participação.

O material foi elaborado com o cuidado de ter uma linguagem clara, objetiva e rica em situações
concretas, coletadas durante diretamente da nossa pratica profissional. E motivado exatamente
pela necessidade do mercado, absolutamente carente de profissionais bem preparados, resolvemos
criar estruturar a disciplina voltada para a prática, sensível às dificuldades do cotidiano dos
estudantes d dos profissionais do direito.

Professor Pedro Cabral


Julho de 2018
8

Capítulo 01 01.1 Falências e Destruição


Propedêutica Criativa, o Insight de
Schumpeter

Texto 01
Verbete Draft: o que é Destruição Criativa
Por Gisela Blanco

A invenção dos CDs destruiu o mercado de discos de vinil. Até vir um novo ciclo, no qual a Polysom,
que fica no Rio de Janeiro, prospera imprimindo vinis "por fetiche".

Gisela Blanco, que assina este texto, é jornalista mestre em Business Innovation pela University of
London.

Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova
economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas
que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e
investidores. O verbete de hoje é…

DESTRUIÇÃO CRIATIVA

O que acham que é: Algo que é radicalmente criativo.

O que realmente é: O termo não se refere especificamente a criatividade, mas a uma das teorias mais
importantes sobre o capitalismo — a dos ciclos econômicos. A também chamada “destruição
criadora” explica o efeito que as inovações produzem no mercado. Quando uma tecnologia nova
chega para substituir a que antes era dominante, começa todo um novo ciclo — que vai se renovar
mais uma vez no futuro, quando esta tecnologia ficar obsoleta e seu monopólio for quebrado. São
esses ciclos que empurram a economia para a frente, fazendo o mercado se renovar e ganhar fôlego.
“As inovações são a força motriz do crescimento econômico, e a destruição criativa é essencial para o
capitalismo. Ao mesmo tempo que se cria um negócio, se destrói outros”, afirma o professor Luis
Carlos Di Serio, coordenador adjunto do Fórum de Inovação da FGV. Nesses ciclos, muita coisa muda:
fábricas fecham e outras são abertas, gente é demitida e outras contratadas, mudam os modelos de
negócios, as formas de ganhar dinheiro, os hábitos dos consumidores. Quando os discos de vinil foram
substituídos pelos CDs, por exemplo, começou uma nova Era para a indústria da música. Os vinis
sumiram das lojas e as pessoas aos poucos trocaram as vitrolas por CD players. Mas só até vir o
próximo ciclo de destruição criativa, quando os CDs começaram a ser substituídos pelo mp3 e pelo
streaming.
9

Imagem 2

Quem inventou: O economista austríaco Joseph Schumpeter, Professor de Harvard considerado o


mais importante teórico sobre capitalismo. Para ele, a destruição criativa era a essência do sistema
econômico, ou como ele escreveu, “fato essencial do capitalismo”. Um caos perene, uma capacidade
infinita se de destruir e se reinventar, sem a qual não há progresso.

Quando foi inventado: Schumpeter explica o conceito pela primeira vez no livro Capitalismo,
Socialismo e Democracia, publicado em 1942. “Ao longo dos anos, autores como Marx ou Keynes
acabaram tendo muito mais visibilidade do que Schumpeter. Mas a melhor explicação sobre como
funciona o motor do capitalismo foi oferecida por ele”, afirma Marcos Troyjo, economista e cientista
político que é professor da Universidade de Columbia. “O mais extraordinário é que o capítulo sobre
destruição criativa tem apenas quatro páginas”, diz. Mas causou um baita impacto nas teorias sociais,
ajudando a entender o sistema econômico de uma forma como ninguém antes havia conseguido.

Para que serve: Para explicar por quê as inovações são tão importantes para a economia. Não é só
uma questão de moda, capricho ou expressão de criatividade. As inovações radicais e as incrementais
são mesmo necessárias para que a economia continue funcionando. “Não é possível levar adiante
choques de produtividade ao longo do tempo sem ciclos de inovação. Estes, no limite, são os
propulsores do crescimento econômico”, afirma Troyjo. Assim, tanto novas empresas quanto as já
estabelecidas precisam ficar atentas para não perderem o passo e serem engolidas pelos novos ciclos.

Quem usa: Praticamente todas as tecnologias que usamos atualmente — dos carros que dirigimos aos
aplicativos dos nossos smartphones — só existem porque “destruíram” a que existia antes. A
popularização dos carros desempregou milhares de chocheiros e ferreiros. Os aplicativos que
aparecem a cada dia ameaçam tomar o lugar de outros serviços ou profissões, como das cooperativas
de taxi ou personal trainers. Os inovadores que sonham entrar no mercado e causar esse tipo de
disrupção, podem usar a teoria para entender a hora certa de se movimentar. Para quem já domina o
mercado, a ideia é aprender a inovar sempre, para não deixar a bola cair. “As empresas precisam ficar
atentas para perceber quando entrarem numa curva de declínio. A Nokia, por exemplo, já foi muito
importante mas falhou em manter suas inovações. Já a Apple, continuou inovando e por isso ainda
está em curva ascendente”, afirma o professor Luis Carlos Di Serio. Um ótimo exemplo de adaptação
10

é o da marca Montblanc, que soube usar a destruição criativa a seu favor. Como conta o professor
Marcos Troyjo: “Nos anos 1990, o conselho se reuniu para discutir o futuro da empresa. Eles
fabricavam canetas e as pessoas estavam usando cada vez mais computadores para escrever. Um
executivo sugeriu fazer uma ‘autodestruição criativa’ da marca. Aproveitaram a receita das canetas
para levar o estilo da marca a outros produtos: relógios, assessórios finos, cosméticos e perfumes
masculinos”. Já dá para imaginar o resultado. “Eles cresceram, enquanto outras marcas de canetas
ficaram atreladas a noções arcaicas de ‘core business’, como é o caso da Parker, Cross ou Sheaffer,
que não se reinventaram e viram suas fatias de mercado cada vez mais delgadas”. Ser líder em um
certo segmento não deve significar que “em time que está ganhando não se mexe”, afirma Troyjo.

Efeitos colaterais: As consequências da destruição podem ser severas: demissões, quebra de


empresas, falências. Os adeptos de tecnologias antigas também podem se sentir prejudicados (já não
há lugar no mundo para os entusiastas dos disquetes, por exemplo). “Ciclos de inovação produzem
vencedores e perdedores. A única certeza que temos na vida econômica é a de que a prosperidade
chega por meio de destruição criativa ou, como eu gosto de chamar, em um caminho alternativo, de
‘adaptação criativa'”, diz Troyjo. Assim, para não sofrer demais com os efeitos colaterais, empresas e
trabalhadores precisam se adaptar. Abraçar um nicho e ter paciência também pode ser uma solução.
Um caso interessante é o dos discos de vinil. Depois de terem sua morte decretada, serem substituídos
pelos CDs e depois pelos formatos digitais, as poucas fábricas que sobreviveram agora experimentam
um renascimento deste mercado, baseado não mais na simples entrega da música, mas no valor da
experiência de se tocar um vinil (a Polysom, no Rio de Janeiro, é emblemática deste ciclo de renovação
após a destruição). Segundo a Associação da Indústria de Discos dos Estados Unidos (RIAA), a venda
de álbuns encolheu 12% de 2013 para 2014. No mesmo período, as vendas de discos de vinil cresceu
50%.

Quem é contra: Principalmente críticos do sistema capitalista, além de empreendedores e


profissionais que não conseguem se adaptar às mudanças dos ciclos econômicos. Um crítico ilustre às
teorias de Schumpeter é o economista americano Herbert Gintis, que argumenta que o professor
austríaco falhou em entender a liderança social e a influência do ambiente externo nas atitudes dos
líderes. Diz também que o livro Capitalismo, Socialismo e Democracia trás uma visão muito limitada
do capitalismo, por ter sido escrito em uma época em que o socialismo era muito jovem e ganhava
espaço no mundo. Enquanto isso, o capitalismo, na visão do próprio teórico, parecia fadado ao
fracasso.
11

Capítulo 01 Exercícios de Fixação


Propedêutica Texto 01
01 - Gisela Blanco, jornalista mestre em Business Innovation pela University of London, ao introduzir
o “Verbete Draft: o que é Destruição Criativa” (Texto 01), observa que “a invenção dos CDs destruiu o
mercado de discos de vinil. Até vir um novo ciclo, no qual a Polysom, que fica no Rio de Janeiro, prospera
imprimindo vinis ‘por fetiche’". Tal observação, de perspicácia ímpar, traduz a essência da teoria
Schumpeteriana sobre a qual pode-se, inclusive, não se pode afirmar que:
a) A expressão Destruição Criativa refere-se especificamente à criatividade, mas a uma das teorias
mais importantes sobre o capitalismo — a da exploração da mais valia que destrói o trabalha dos
proletariado.
b) As inovações são a força motriz do crescimento econômico, e a destruição criativa é essencial
para o capitalismo. Ao mesmo tempo que se cria um negócio, se destrói outros. Nesses ciclos, muita
coisa muda: fábricas fecham e outras são abertas, pessoas são demitida e outras contratadas,
mudam os modelos de negócios, as formas de ganhar dinheiro, os hábitos dos consumidores.
c) Schumpeter explica o conceito pela primeira vez no livro Capitalismo, Socialismo e Democracia,
publicado em 1942. “Ao longo dos anos, autores como Marx ou Keynes acabaram tendo muito mais
visibilidade do que Schumpeter. Mas a melhor explicação sobre como funciona o motor do
capitalismo foi oferecida por ele”, afirma Marcos Troyjo, economista e cientista político que é
professor da Universidade de Columbia. “O mais extraordinário é que o capítulo sobre destruição
criativa tem apenas quatro páginas”, diz. Mas causou um baita impacto nas teorias sociais,
ajudando a entender o sistema econômico de uma forma como ninguém antes havia conseguido.
d) Praticamente todas as tecnologias que usamos atualmente — dos carros que dirigimos aos
aplicativos dos nossos smartphones — só existem porque “destruíram” a que existia antes.
e) Um ótimo exemplo de adaptação é o da marca Montblanc, que soube usar a destruição criativa
a seu favor. Como conta o professor Marcos Troyjo: “Nos anos 1990, o conselho se reuniu para
discutir o futuro da empresa. Eles fabricavam canetas e as pessoas estavam usando cada vez mais
computadores para escrever. Um executivo sugeriu fazer uma ‘autodestruição criativa’ da marca.
Aproveitaram a receita das canetas para levar o estilo da marca a outros produtos: relógios,
assessórios finos, cosméticos e perfumes masculinos”.

02 - Gisela Blanco, jornalista mestre em Business Innovation pela University of London, ao introduzir
o “Verbete Draft: o que é Destruição Criativa” (Texto 01), observa que “a invenção dos CDs destruiu o
mercado de discos de vinil. Até vir um novo ciclo, no qual a Polysom, que fica no Rio de Janeiro, prospera
imprimindo vinis ‘por fetiche’". Tal observação, de perspicácia ímpar, traduz a essência da teoria
Schumpeteriana sobre a qual pode-se, inclusive, não se pode afirmar que:
a) A também chamada “destruição criadora” explica o efeito que as inovações produzem no
mercado. Quando uma tecnologia nova chega para substituir a que antes era dominante, começa
todo um novo ciclo — que vai se renovar mais uma vez no futuro, quando esta tecnologia ficar
obsoleta e seu monopólio for quebrado. São esses ciclos que empurram a economia para a frente,
fazendo o mercado se renovar e ganhar fôlego.
b) Esse teoria foi concebida pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, Professor de Harvard
considerado o mais importante teórico sobre capitalismo. Para ele, a destruição criativa era a
essência do sistema econômico, ou como ele escreveu, “fato essencial do capitalismo”. Um caos
perene, uma capacidade infinita se de destruir e se reinventar, sem a qual não há progresso.
c) A popularização dos carros desempregou milhares de chocheiros e ferreiros. Os aplicativos que
12

aparecem a cada dia ameaçam tomar o lugar de outros serviços ou profissões, como das
cooperativas de taxi ou personal trainers. Os inovadores que sonham entrar no mercado e causar
esse tipo de disrupção, podem usar a teoria para entender a hora certa de se movimentar.
d) As consequências da destruição podem ser severas: demissões, quebra de empresas, falências.
Os adeptos de tecnologias antigas também podem se sentir prejudicados.
e) Essa teoria não explicar por que as inovações são tão importantes para a economia. É uma
questão de moda, capricho ou expressão de criatividade. As inovações radicais e as incrementais
são mesmo necessárias para que a economia continue funcionando. É possível levar adiante
choques de produtividade ao longo do tempo sem ciclos de inovação. Estes, no limite, são os
propulsores do crescimento econômico. Assim, tanto novas empresas quanto as já estabelecidas
precisam ficar atentas para não perderem o passo e serem engolidas pelos novos ciclos.

03 - Gisela Blanco, jornalista mestre em Business Innovation pela University of London, ao introduzir
o “Verbete Draft: o que é Destruição Criativa” (Texto 01), observa que “a invenção dos CDs destruiu o
mercado de discos de vinil. Até vir um novo ciclo, no qual a Polysom, que fica no Rio de Janeiro, prospera
imprimindo vinis ‘por fetiche’". Tal observação, de perspicácia ímpar, traduz a essência da teoria
Schumpeteriana sobre a qual pode-se, inclusive, não se pode afirmar que:
a) A também chamada “destruição criadora” explica o efeito que as inovações produzem no
mercado. Quando uma tecnologia nova chega para substituir a que antes era dominante, começa
todo um novo ciclo — que vai se renovar mais uma vez no futuro, quando esta tecnologia ficar
obsoleta e seu monopólio for quebrado. São esses ciclos que empurram a economia para a frente,
fazendo o mercado se renovar e ganhar fôlego.
b) A popularização dos carros desempregou milhares de chocheiros e ferreiros. Os aplicativos que
aparecem a cada dia ameaçam tomar o lugar de outros serviços ou profissões, como das
cooperativas de taxi ou personal trainers. Os inovadores que sonham entrar no mercado e causar
esse tipo de disrupção, podem usar a teoria para entender a hora certa de se movimentar.
c) As ajudas financeiras dadas pelos governos são uma alternativa de combate às recessões, de
combater o insucesso econômico. Mas tais esforços inevitavelmente solapam o aspecto "prejuízo"
do mecanismo de lucros e prejuízos. Lucro e prejuízo andam lado a lado - como direita e esquerda,
bem e mal. Se tentarmos abolir os prejuízos, acabaremos estimulando os lucros
d) As consequências da destruição podem ser severas: demissões, quebra de empresas, falências.
Os adeptos de tecnologias antigas também podem se sentir prejudicados.
e) Um ótimo exemplo de adaptação é o da marca Montblanc, que soube usar a destruição criativa
a seu favor. Como conta o professor Marcos Troyjo: “Nos anos 1990, o conselho se reuniu para
discutir o futuro da empresa. Eles fabricavam canetas e as pessoas estavam usando cada vez mais
computadores para escrever. Um executivo sugeriu fazer uma ‘autodestruição criativa’ da marca.
Aproveitaram a receita das canetas para levar o estilo da marca a outros produtos: relógios,
assessórios finos, cosméticos e perfumes masculinos”.
13

Capítulo 01 01.2 Falências como


Propedêutica Estímulos Econômicos
Texto 02
As falências são o verdadeiro estímulo econômico
Por Ron Paul

Há muita discussão hoje em dia sobre socorros financeiros e estímulos - o caso mais recente é o da
GM. Eles são mesmo necessários? Eles são justos? A resposta para ambos é não e não. Entretanto,
vários economistas, políticos e empresários seguem dizendo que os socorros são medidas
emergenciais necessárias para se impedir o agravamento de recessões. Sem levar em consideração a
justiça e a moralidade dessas medidas, eles nos alertam que haverá um enorme e desnecessário
sofrimento se ficarmos inertes e permitirmos que o mercado faça seu serviço, liquidando os
ineficientes. Os socorros podem estancar essa dor, alegam eles, e restaurar ordem e calma a uma
economia.

Sim, sabemos que uma onda de falências significa desemprego maciço e uma economia em contração
- isto é, recessão. Mas o risco moral por trás de medidas supostamente tidas como benfeitoras não
pode ser desprezado. (Fora isso, a ideia de que estímulos podem curar recessões está bem debatida
aqui e aqui).

O capitalismo depende de três instituições fortemente complementares, porém distintas: preços,


propriedade e o mecanismo de lucros e prejuízos. Os liberais clássicos demonstraram a função
essencial que esses pilares da prosperidade tiveram durante séculos. Essas instituições fundamentais
da economia de mercado são como as pernas de um tamborete. Se formos debilitando gradualmente
uma perna, inevitavelmente iremos fazer com que o tamborete desmorone - um colapso econômico.

Quando uma empresa obtém um lucro, é sinal de que ela está utilizando racionalmente seus recursos,
aumentando seu valor ao mesmo tempo em que controla seus custos. Quando uma empresa opera
com prejuízos, é sinal de que ela está ou diminuindo o valor de seus recursos ou deixando que seus
custos operacionais superem o valor daquilo que ela esteja criando. Portanto, uma empresa que
opera com prejuízo é uma máquina de destruição de riqueza. (O mecanismo sinalizador que orienta
todas as decisões e fornece os resultados é o sistema de preços).

Falências são algo positivo para uma economia porque permitem que aqueles concorrentes mais
produtivos tenham a oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de barganha,
permitindo-os fortalecer suas operações. Em uma economia que permita esse tipo de crescimento e
mudança, os empregos perdidos em um processo de falência serão rapidamente repostos por outros,
uma vez que as empresas mais eficientemente geridas ganham acesso a mais ativos e se expandem.

Dito isso, as implicações das ajudas financeiras são claras. Esses socorros são concebidos para
imunizar alguns empreendedores dos efeitos de suas decisões ruins. Quando os preços de mercado
se alteram dramaticamente, deixando a descoberto as más escolhas de investimento, os socorros
financeiros "vêm ao resgate", prometendo àqueles que erraram em seus cálculos que eles não terão
14

de sofrer as consequências de seus erros.

Mas quem está na área de empreendedorismo precisa entender uma questão básica, porém crucial:
os preços estão sujeitos a mudanças. Mudança é uma característica indelével dos
mercados. Empreendedores ganham dinheiro pesquisando e buscando preços "errados" - preços que
seus concorrentes estão superestimando ou subestimando - e apostando em qual direção esses
preços irão se mover no futuro. Os empreendedores de sucesso, aqueles que corretamente
antecipam as mudanças de preços, são recompensados com lucros. Os empreendedores mais
inaptos, aqueles que não estimam corretamente os movimentos desses preços, são penalizados com
prejuízos. Essa é a essência do processo de mercado.

As ajudas financeiras dadas pelos governos, portanto, são uma tentativa de abolir os efeitos dos
prejuízos, do insucesso econômico. Mas tais esforços inevitavelmente solapam o aspecto "prejuízo"
do mecanismo de lucros e prejuízos. Lucro e prejuízo andam lado a lado - como direita e esquerda,
bem e mal. Se tentarmos abolir os prejuízos, acabaremos diluindo o significado dos lucros. Afinal, por
que se esforçar para servir bem o consumidor e obter lucros se no final o governo vai cobrir seus
prejuízos com o dinheiro do contribuinte? Por que se esforçar para competir e ter sucesso se, ao
invés, você pode apenas se recostar e reclamar sua fatia num pacote de ajuda financeira? Os socorros
governamentais destroem a busca pelo lucro - e todos os benefícios trazidos por uma economia
concorrencial.

Falências não são o fim do mundo. Ao contrário, elas fazem com que haja menos máquinas de
destruição de riqueza atuantes no mundo. O exemplo do Japão não deve ser esquecido. A década de
1990 foi para os japoneses a "década perdida" por causa de seus bancos zumbis que foram mantidos
artificialmente vivos pela ajuda do governo japonês. Toda a produtividade e riqueza gerada pela
economia japonesa foi redirecionada para essas máquinas de destruição de riqueza, o que resultou
em uma estagnação de longo prazo.

Pra finalizar, um último detalhe, quase nunca mencionado: por causa da grande acumulação de
riqueza trazida pelo capitalismo, vivemos em um mundo de relativa abundância, o que suaviza
enormemente as agruras e privações de um desempregado. Quando um indivíduo perde o emprego
em uma recessão, certamente ele terá de apertar os cintos e procurar outro emprego. Mas ele não
corre o risco de morrer de inanição. E quanto mais livre for o mercado, maiores serão as
oportunidades para ele ir se ajustando às mudanças econômicas. Sim, esse indivíduo irá sofrer um
bocado durante a transição, mas essa dor oriunda do fracasso econômico irá guiá-lo para escolhas
mais produtivas e exitosas.

O fracasso não é divertido, mas ele nos ensina lições essenciais. Não devemos ignorar essas lições só
porque acreditamos que o certo é despejar dinheiro do contribuinte nos cofres de empresas
insolventes. Ao invés de tentar abolir as falências por meio de socorros financeiros, deveríamos deixar
o mercado funcionar, deixar que os ineficientes quebrem e aprender a lição.

Disponível em, http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=256


15

Capítulo 02 Exercícios de Fixação


Propedêutica Texto 02
04 - No Capítulo 01, estudamos o Texto de Ron Paul, “As falências são o verdadeiro estímulo
econômico”, que muito bem introduzido nos seguintes termos:
“Há muita discussão hoje em dia sobre socorros financeiros e estímulos - o caso mais
recente é o da GM. Eles são mesmo necessários? Eles são justos? A resposta para ambos
é não e não. Entretanto, vários economistas, políticos e empresários seguem dizendo que
os socorros são medidas emergenciais necessárias para se impedir o agravamento de
recessões. Sem levar em consideração a justiça e a moralidade dessas medidas, eles nos
alertam que haverá um enorme e desnecessário sofrimento se ficarmos inertes e
permitirmos que o mercado faça seu serviço, liquidando os ineficientes. Os socorros podem
estancar essa dor, alegam eles, e restaurar ordem e calma a uma economia. Sim, sabemos
que uma onda de falências significa desemprego maciço e uma economia em contração -
isto é, recessão. Mas o risco moral por trás de medidas supostamente tidas como
benfeitoras não pode ser desprezado.”
Daí, prossegue o Congressista Americano refletindo seriamente sobre o sistema de estímulos
econômicos no contexto da crise empresarial. Face dessa reflexão qual assertiva está errada?
a) Quando uma empresa obtém um lucro, é sinal de que ela está utilizando racionalmente seus
recursos, aumentando seu valor ao mesmo tempo em que controla seus custos. Quando uma
empresa opera com prejuízos, é sinal de que ela está ou diminuindo o valor de seus recursos ou
deixando que seus custos operacionais superem o valor daquilo que ela esteja criando. Portanto,
uma empresa que opera com prejuízo é uma máquina de destruição de riqueza.
b) As implicações das ajudas financeiras do estado a empresas em crise são claras. Esses socorros
são concebidos para imunizar alguns empreendedores dos efeitos de suas decisões ruins. Quando
os preços de mercado se alteram dramaticamente, deixando a descoberto as más escolhas de
investimento, os socorros financeiros "vêm ao resgate", prometendo àqueles que erraram em seus
cálculos que eles não terão de sofrer as consequências de seus erros.
c) As ajudas financeiras dadas pelos governos são uma ótima alternativa de combate às recessões,
de combater o insucesso econômico. Mas tais esforços inevitavelmente solapam o aspecto
"prejuízo" do mecanismo de lucros e prejuízos. Lucro e prejuízo andam lado a lado - como direita
e esquerda, bem e mal. Se tentarmos abolir os prejuízos, acabaremos estimulando os lucros
d) Por causa da grande acumulação de riqueza trazida pelo capitalismo, vivemos em um mundo de
relativa abundância, o que suaviza enormemente as agruras e privações de um desempregado.
Quando um indivíduo perde o emprego em uma recessão, certamente ele terá de apertar os cintos
e procurar outro emprego. Mas ele não corre o risco de morrer de inanição. E quanto mais livre
for o mercado, maiores serão as oportunidades para ele ir se ajustando às mudanças econômicas.
e) Ao invés de tentar abolir as falências por meio de socorros financeiros, deveríamos deixar o
mercado funcionar, deixar que os ineficientes quebrem e aprender a lição.

05 - No Capítulo 01, estudamos o Texto de Ron Paul, “As falências são o verdadeiro estímulo
econômico”, que muito bem introduzido nos seguintes termos:
“Há muita discussão hoje em dia sobre socorros financeiros e estímulos - o caso mais
recente é o da GM. Eles são mesmo necessários? Eles são justos? A resposta para ambos
16

é não e não. Entretanto, vários economistas, políticos e empresários seguem dizendo que
os socorros são medidas emergenciais necessárias para se impedir o agravamento de
recessões. Sem levar em consideração a justiça e a moralidade dessas medidas, eles nos
alertam que haverá um enorme e desnecessário sofrimento se ficarmos inertes e
permitirmos que o mercado faça seu serviço, liquidando os ineficientes. Os socorros podem
estancar essa dor, alegam eles, e restaurar ordem e calma a uma economia. Sim, sabemos
que uma onda de falências significa desemprego maciço e uma economia em contração -
isto é, recessão. Mas o risco moral por trás de medidas supostamente tidas como
benfeitoras não pode ser desprezado.”
Daí, prossegue o Congressista Americano refletindo seriamente sobre o sistema de estímulos
econômicos no contexto da crise empresarial. Face dessa reflexão qual assertiva está errada?
a) O capitalismo depende de três instituições fortemente complementares, porém distintas:
preços, propriedade e o mecanismo de lucros e prejuízos. Os liberais clássicos demonstraram a
função essencial que esses pilares da prosperidade tiveram durante séculos.
b) Falências são algo negativo para uma economia porque permitem que aqueles concorrentes
mais produtivos tenham a oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de
barganha, e com isso, grandes corporações tiram vantagem de pequenos negócios. Em uma
economia que permita esse tipo de crescimento e mudança, os empregos perdidos em um
processo de falência dificilmente serão repostos por outros.
c) Quem está na área de empreendedorismo precisa entender uma questão básica, porém crucial:
os preços estão sujeitos a mudanças. Mudança é uma característica indelével dos mercados.
Empreendedores ganham dinheiro pesquisando e buscando preços "errados" - preços que seus
concorrentes estão superestimando ou subestimando - e apostando em qual direção esses preços
irão se mover no futuro. Os empreendedores de sucesso, aqueles que corretamente antecipam as
mudanças de preços, são recompensados com lucros. Os empreendedores mais inaptos, aqueles
que não estimam corretamente os movimentos desses preços, são penalizados com prejuízos. Essa
é a essência do processo de mercado.
d) Falências não são o fim do mundo. Ao contrário, elas fazem com que haja menos máquinas de
destruição de riqueza atuantes no mundo. O exemplo do Japão não deve ser esquecido. A década
de 1990 foi para os japoneses a "década perdida" por causa de seus bancos zumbis que foram
mantidos artificialmente vivos pela ajuda do governo japonês. Toda a produtividade e riqueza
gerada pela economia japonesa foi redirecionada para essas máquinas de destruição de riqueza, o
que resultou em uma estagnação de longo prazo.
e) Ao invés de tentar abolir as falências por meio de socorros financeiros, deveríamos deixar o
mercado funcionar, deixar que os ineficientes quebrem e aprender a lição.

06 - No Capítulo 01, estudamos o Texto de Ron Paul, “As falências são o verdadeiro estímulo
econômico”, que muito bem introduzido nos seguintes termos:
“Há muita discussão hoje em dia sobre socorros financeiros e estímulos - o caso mais
recente é o da GM. Eles são mesmo necessários? Eles são justos? A resposta para ambos
é não e não. Entretanto, vários economistas, políticos e empresários seguem dizendo que
os socorros são medidas emergenciais necessárias para se impedir o agravamento de
recessões. Sem levar em consideração a justiça e a moralidade dessas medidas, eles nos
alertam que haverá um enorme e desnecessário sofrimento se ficarmos inertes e
permitirmos que o mercado faça seu serviço, liquidando os ineficientes. Os socorros podem
estancar essa dor, alegam eles, e restaurar ordem e calma a uma economia. Sim, sabemos
que uma onda de falências significa desemprego maciço e uma economia em contração -
17

isto é, recessão. Mas o risco moral por trás de medidas supostamente tidas como
benfeitoras não pode ser desprezado.”
Daí, prossegue o Congressista Americano refletindo seriamente sobre o sistema de estímulos
econômicos no contexto da crise empresarial. Face dessa reflexão qual assertiva está errada?
a) Falências são algo positivo para uma economia porque permitem que aqueles concorrentes mais
produtivos tenham a oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de
barganha, permitindo-os fortalecer suas operações. Em uma economia que permita esse tipo de
crescimento e mudança, os empregos perdidos em um processo de falência serão rapidamente
repostos por outros, uma vez que as empresas mais eficientemente geridas ganham acesso a mais
ativos e se expandem.
b) As implicações das ajudas financeiras do estado a empresas em crise são claras. Esses socorros
são concebidos para imunizar alguns empreendedores dos efeitos de suas decisões ruins. Quando
os preços de mercado se alteram dramaticamente, deixando a descoberto as más escolhas de
investimento, os socorros financeiros "vêm ao resgate", prometendo àqueles que erraram em seus
cálculos que eles não terão de sofrer as consequências de seus erros.
c) Quem está na área de empreendedorismo precisa entender uma questão básica, porém crucial:
os preços estão sujeitos a mudanças. Mudança é uma característica indelével dos mercados.
Empreendedores ganham dinheiro pesquisando e buscando preços "errados" - preços que seus
concorrentes estão superestimando ou subestimando - e apostando em qual direção esses preços
irão se mover no futuro. Os empreendedores de sucesso, aqueles que corretamente antecipam as
mudanças de preços, são recompensados com lucros. Os empreendedores mais inaptos, aqueles
que não estimam corretamente os movimentos desses preços, são penalizados com prejuízos. Essa
é a essência do processo de mercado.
d) Falências são muito ruins para o mercado, elas fazem com que haja mais máquinas de destruição
de riqueza atuantes no mundo. O exemplo do Japão não deve ser esquecido. A década de 1990 foi
para os japoneses a "década perdida" por causa de seus bancos zumbis que faliram por falta de
ajuda do governo japonês. Toda a produtividade e riqueza gerada pela economia japonesa foi
redirecionada para essas máquinas de destruição de riqueza, o que resultou em uma estagnação
de longo prazo.
e) As ajudas financeiras dadas pelos governos são uma tentativa de abolir os efeitos dos prejuízos,
do insucesso econômico. Mas tais esforços inevitavelmente solapam o aspecto "prejuízo" do
mecanismo de lucros e prejuízos. Lucro e prejuízo andam lado a lado - como direita e esquerda,
bem e mal. Se tentarmos abolir os prejuízos, acabaremos diluindo o significado dos lucros.
18

Capítulo 01 Case 01
Propedêutica Caso Bayer X Confertil

Imagem 03

01. Descrição

No Recurso Especial nº 1.107.937 - MT (2008⁄0278535-8), da Relatoria da MINISTRA NANCY


ANDRIGHI e interposto por BAYER S.A., com fundamento no art. 105, III, “a”, da Constituição
Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (TJ⁄MT), que
confirmou em cede de Apelação a sentença que julgou improcedente o pedido de falência dessa
empresa em face de COFERTIL COMÉRCIO DE FERTILIZANTES LTDA discutiu-se acerca da
possibilidade ou não da decretação de falência de empresa que já tivesse encerrada a atividade
empresarial.

O julgado em referência é de 2010 e ainda versava sobre pedido feito na égide da legislação
falimentar anterior ao atual sistema de Direito da Empresa em Crise (Lei nº. 11.101/2005), o sistema
do Decreto-Lei 7.661⁄1945, mas o Voto da Ministra Relatora deixa explícita as funções do processo
de falência que desde sempre foram considerados pela doutrina e pela jurisprudência.

A Ministra resume o caso da seguinte forma:

1. Ação: pedido de falência formulado pela recorrente em face de COFERTIL COMÉRCIO DE


FERTILIZANTES LTDA., com fundamento no art. 1º do Decreto-Lei 7.661⁄45. O pedido
encontra-se lastreado em instrumento particular de confissão de dívida (fls. 14⁄16) no valor
19

de R$ 60.779,36 (sessenta mil setecentos e setenta e nove reais e trinta e seis centavos),
atualizados até a data da propositura da ação (fls. 5⁄20);

2. Sentença: julgou improcedente o pedido com fundamento no art. 4º, VII, do Decreto-
lei 7.661⁄45, tendo em vista que a requerida cessou suas atividades há mais de dois anos (fls.
161⁄163);

3. Apelação: interposta pela recorrente, sob a alegação de que os documentos que instruíram
a inicial, a defesa e os juntados no decorrer do processo demonstraram claramente que a
Apelada não cessou suas atividades mercantis, mas apenas e tão-somente
está temporariamente com suas atividades paralisadas (fls. 168⁄174 – com destaques no
original);

4. Acórdão: o TJ⁄MT negou provimento à apelação, nos termos da seguinte ementa (fls.
214⁄222): RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – FALÊNCIA - CESSAÇÃO DO EXERCÍCIO DO
COMÉRCIO HÁ MAIS DE DOIS ANOS – CONJUNTO PROBATÓRIO ROBUSTO - DECRETAÇÃO –
IMPOSSIBILIDADE - INTELIGÊNCIA DO ART. 4º,VII, DO DECRETO-LEI Nº 7.661⁄45 – RECURSO
IMPROVIDO - Nos termos do art. 4º, VII, do Decreto-Lei nº 7.661⁄45, vigente à época
dos fatos, que não se declara a falência da empresa que provar a cessação do exercício do
comércio há mais de dois anos, por documento hábil do registro docomércio, o qual não
prevalecerá contra a prova de exercício posterior ao ato registrado.

5. Recurso especial: alega violação dos arts. 2º, I, IV e VII e 4º, VII, do Decreto-lei 7.661⁄45.
Sustenta a recorrente que os documentos que instruíram a inicial, a defesa e os juntados
com a réplica demonstram que a Recorrida não cessou suas atividades mercantis, tanto que
não cancelou seu registro junto ao CNPJ⁄MF e não está em situação tributária regular. Não
bastasse isso, (...) a paralisação temporária do exercício do comércio não se equipara,
para efeitos do Decreto-lei n.º 7.661⁄45, à cessação prevista no seu art. 4º, inciso VII (fls.
238⁄247).

2. Atividade

A partir da leitura do Voto da MINISTRA RELATORA NANCY ANDRIGHI, responda:

1. Qual a função jurídica do processo de falência?

2. Qual a função mercadológica (econômica) do processo de falência?

3. É possível o requerimento e a decretação da falência de sociedade empresária que já tenha


encerrado as atividades empresariais? Justifique.

Fonte de Pesquisa
Acesse o inteiro teor do Julgado no seguinte link 3.
20

Capítulo 02 Exercício de Fixação


Case 01

07 - No Recurso Especial nº 1.107.937 - MT (2008⁄0278535-8), da Relatoria da MINISTRA NANCY


ANDRIGHI e interposto por BAYER S.A., com fundamento no art. 105, III, “a”, da Constituição
Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (TJ⁄MT), que
confirmou em cede de Apelação a sentença que julgou improcedente o pedido de falência dessa
empresa em face de COFERTIL COMÉRCIO DE FERTILIZANTES LTDA discutiu-se acerca da
possibilidade ou não da decretação de falência de empresa que já tivesse encerrada a atividade
empresarial. O julgado em referência é de 2010 e ainda versava sobre pedido feito na égide da
legislação falimentar anterior ao atual sistema de Direito da Empresa em Crise (Lei nº. 11.101/2005),
o sistema do Decreto-Lei 7.661⁄1945, mas o Voto da Ministra Relatora deixa explícita as funções do
processo de falência que desde sempre foram considerados pela doutrina e pela jurisprudência. Dos
termos desse julgado pode-se inferir o que se segue, exceto:
a) A falta de inscrição do distrato social no Registro Público de Empresas Mercantis é irrelevante
se for comprovada, por outros meios, a inatividade da empresa pelo período de dois anos
contados do requerimento da falência;
b) Se a empresa que teve suas atividades temporariamente paralisadas permanece nessa
situação por um período superior a dois anos, é razoável pressupor a “cessação do exercício do
comércio”;
c) A falência deve ser vista somente como um instituto necessário para impedir a dissipação dos
bens da sociedade insolvente e assegurar, assim, o tratamento igualitário dos credores no
pagamento de seus créditos;
d) O decreto falimentar objetiva também afastar da atividade mercantil as empresas que não são
mais economicamente viáveis e que, por esse motivo, podem comprometer o regular
desenvolvimento da economia como um todo.
21

Capítulo 01 01.3 Interdisciplinaridade do


Propedêutica Fenômeno Falimentar

Texto 03
Multidisciplinaridade do Tema

1. Exigências do mercado

Pode parecer, em princípio, que um curso de falências e de recuperação de empresas tem por público-
alvo apenas os estudiosos de Direito.

Essa visão, no entanto, certamente está deturpada e em desacordo com as exigências do mercado.

A recente crise financeira mundial, por exemplo, afetou a situação econômica de muitas empresas e
intensificou o número de processos de falência e de recuperação judicial – ainda chamados de
concordata nos Estados Unidos.

A crise é enfrentada, do primeiro ao último estágio, por profissionais de diferentes ramos e somente
aqueles que tiverem uma visão multidisciplinar terão chances de vitória.

Em outras palavras, o melhor caminho para enfrentar a crise só poderá ser encontrado pelo
empresário que consiga implementar as melhores práticas econômicas sem esbarrar em proibições
jurídicas.
22

2. Atuação conjunta

A concordata da General Motors, a recuperação judicial das brasileiras Varig, Parmalat e Casa &
Vídeo, a falência da Vasp são exemplos vivos de grandes empresas envolvidas em falência ou
recuperação judicial.

Os primeiros a sentirem os reflexos de uma crise são os diretores das empresas, os contadores, os
responsáveis pela produção e pela distribuição...

Os profissionais em Direito terão, certamente, papel fundamental na orientação do melhor caminho


a ser trilhado em momentos de turbulência.

Contudo, a decisão final será sempre do empresário, que precisará de uma boa noção dos
instrumentos jurídicos que a lei coloca a sua disposição para tentar superar as dificuldades.
Na corrida contra a crise, o tempo é fundamental.

3. Nova lei de falências

Sem destoar desse cenário de cooperação, a nova Lei de falências e recuperação de empresas é
verdadeiramente multidisciplinar.

A principal novidade do novo sistema, a recuperação judicial, é a que mais depende dessa visão
abrangente.

O plano de recuperação de uma empresa em crise reflete as opções do empresário por alguns dos
diferentes caminhos postos a sua disposição pela legislação.

O empresário devedor, como auxílio de seus técnicos, deverá demonstrar a viabilidade econômica do
plano de reestruturação de sua empresa para o Juiz da causa e, principalmente, para seus credores.

Trata-se de uma complexa negociação coletiva.

O sucesso de um processo de recuperação empresarial depende não apenas do comprometimento e


da especialização de seu departamento jurídico ou do escritório de advocacia contratado...

São os profissionais das áreas econômica, contábil e de administração de empresas que têm fornecido
os subsídios mais eficazes para a reestruturação de um negócio.

4. Questões societárias

Outro viés do curso passa, necessariamente, pela abordagem de questões societárias...

Como a falência da sociedade empresária afeta seus sócios e seus administradores? Seus bens
pessoais correm algum risco?

Quem administra as empresas em regime de recuperação?


23

A especialização no tema de falência e de recuperação de empresas não é caro apenas para aqueles
envolvidos com a empresa em crise, ou seja, com o empresário devedor.

O conhecimento também interessa – e muito – às empresas credoras e a seus profissionais.

Da ótica do credor, o que esperar de um processo de falência ou de recuperação de uma


empresa devedora?

Eventuais créditos podem ser considerados ativos perdidos?

Qual é o risco de negociar com empresas em crise?

Qual é a melhor forma de se prevenir contra a falência de um cliente?

Ao longo do curso, vamos dissipar essas incertezas.

Apostila FGV, Curso de Falência e Recuperação Judicial, com adaptações.


24

Capítulo 01 1.4 Espécies de Crises


Propedêutica Empresarial
Texto 04
A Empresa Em Crise
Por Fabio Ulhoa Coelho

1. INTRODUÇÃO

Quando se diz que uma empresa está em crise, isso pode significar coisas muito diferentes. Para
sistematizar o assunto, proponho que se distinga entre crise econômica, financeira e patrimonial.
Normalmente, uma desencadeia a outra, mas a complexidade da economia e das relações jurídicas do
nosso tempo tem gerado, cada vez mais, situações em que se manifesta uma dessas crises, sem
despertar nenhuma preocupação nos agentes econômicos.

Por crise econômica deve-se entender a retração considerável nos negócios desenvolvidos pela
sociedade empresária. Se os consumidores não mais adquirem igual quantidade dos produtos ou
serviços oferecidos, o empresário varejista pode sofrer queda de faturamento (não sofre, a rigor, só
no caso de majorar seus preços). Em igual situação está o atacadista, o industrial ou o fornecedor de
insumos que veem reduzidos os pedidos dos outros empresários. A crise econômica pode ser
generalizada, segmentada ou atingir especificamente uma empresa; o diagnóstico preciso do alcance
do problema é indispensável para a definição das medidas de superação do estado crítico. Se o
empreendedor avalia estar ocorrendo retração geral da economia, quando, na verdade, o motivo da
queda das vendas está no atraso tecnológico do seu estabelecimento, na incapacidade de sua empresa
competir, as providências que adotar (ou que deixar de adotar) podem ter o efeito de ampliar a crise
25

em vez de combatê-la.

A crise financeira revela-se quando a sociedade empresária não tem caixa para honrar seus
compromissos. É a crise de liquidez. As vendas podem estar crescendo e o faturamento satisfatório —
e, portanto, não existir crise econômica —, mas a sociedade empresária ter dificuldades de pagar suas
obrigações, porque ainda não amortizou o capital investido nos produtos mais novos, está endividada
em moeda estrangeira e foi surpreendida por uma crise cambial ou o nível de inadimplência na
economia está acima das expectativas. A exteriorização jurídica da crise financeira é a impontualidade.
Em geral, se a sociedade empresária não está também em crise econômica e patrimonial, ela pode
superar as dificuldades financeiras por meio de operações de desconto em bancos das duplicatas ou
outro título representativo dos créditos derivados das vendas ou contraindo mútuo bancário mediante
a outorga de garantia real sobre bens do ativo. Se estiver elevado o custo do dinheiro, contudo, essas
medidas podem acentuar a crise financeira, vindo a comprometer todos os esforços de ampliação de
venda e sacrificar reservas imobilizadas.

Por fim, a crise patrimonial é a insolvência, isto é, a insuficiência de bens no ativo para atender à
satisfação do passivo. Trata-se de crise estática, quer dizer, se a sociedade empresária tem menos
bens em seu patrimônio que o total de suas dívidas, ela parece apresentar uma condição temerária,
indicativa de grande risco para os credores. Não é assim necessariamente. O patrimônio líquido
negativo pode significar apenas que a empresa está passando por uma fase de expressivos
investimentos na ampliação de seu parque fabril, por exemplo. Quando concluída a obra e iniciadas
as operações da nova planta, verifica-se aumento de receita e de resultado suficiente para afastar a
crise patrimonial.

A crise da empresa pode manifestar-se de formas variadas. Ela é econômica quando as vendas de
produtos ou serviços não se realizam na quantidade necessária à manutenção do negócio. É
financeira quando falta à sociedade empresária dinheiro em caixa para pagar suas obrigações.
Finalmente, a crise é patrimonial se o ativo é inferior ao passivo, se as dívidas superam os bens da
sociedade empresária.

Esses índices de crise são muito relativos e não se revelam úteis à análise de mercado em algumas
situações. No fim do século XX, por exemplo, com o início da difusão do comércio eletrônico via
internete, muitas empresas que realizavam ainda incipientes negócios através da rede mundial de
computadores, registravam prejuízos consideráveis e ostentavam patrimônio líquido acentuadamente
negativo foram, apesar desses indicativos clássicos de crise, negociadas por milhões de dólares.

Se confirmadas, no futuro, as estimativas de lucratividade do comércio eletrônico que embasaram a


avaliação dessas empresas, o preço terá sido vantajoso para quem o pagou. Em geral, cabe dizer que
determinada sociedade empresária está em crise quando presentes as três formas pela qual se
manifesta. A queda das vendas acarreta falta de liquidez e, em seguida, insolvência: este o quadro
crítico que preocupa os agentes econômicos (credores, trabalhadores, investidores etc.).

A crise da empresa pode ser fatal, gerando prejuízos não só para os empreendedores e investidores
que empregaram capital no seu desenvolvimento, como para os credores e, em alguns casos, num
encadear de sucessivas crises, também para outros agentes econômicos. A crise fatal de uma grande
empresa significa o fim de postos de trabalho, desabastecimento de produtos ou serviços, diminuição
na arrecadação de impostos e, dependendo das circunstâncias, paralisação de atividades satélites e
26

problemas sérios para a economia local, regional ou, até mesmo, nacional. Por isso, muitas vezes o
direito se ocupa em criar mecanismos jurídicos e judiciais de recuperação da empresa (Lobo, 1996).
Nos Estados Unidos, o primeiro diploma de direito estatutário dispondo sobre recuperação judicial de
empresas surgiu em 1934, visando atenuar os efeitos da crise provocada pela quebra da Bolsa de
Valores de Nova York em 1929. Em França, o instituto foi introduzido na lei em 1967 e aperfeiçoado
em 1985 e 1995. Na Itália, sob a denominação “administração extraordinária”, ele apareceu nos fins
do ano 1970. Em Portugal, em 1976, criou-se a “declaração da empresa em situação economicamente
difícil”, embrião do “Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência”, de
1993. Áustria (1982), Reino Unido (1986), Colômbia (1989), Irlanda (1990), Austrália (1992), Espanha
(1992) e Argentina (1994) são outros países que, no fim do século passado, introduziram mudanças
no direito falimentar com o objetivo de criar mecanismos mais eficientes de preservação das empresas
viáveis diante das crises. No Brasil, a Lei de Falências de 2005 introduziu o procedimento da
recuperação das empresas, em substituição à concordata (Cap. 48).

2. SOLUÇÃO DE MERCADO E RECUPERAÇÃO DA EMPRESA

Nem toda falência é um mal. Algumas empresas, porque são tecnologicamente atrasadas,
descapitalizadas ou possuem organização administrativa precária, devem mesmo ser encerradas. Para
o bem da economia como um todo, os recursos — materiais, financeiros e humanos — empregados
nessa atividade devem ser realocados para que tenham otimizada a capacidade de produzir riqueza.
Assim, a recuperação da empresa não deve ser vista como um valor jurídico a ser buscado a qualquer
custo. Pelo contrário, as más empresas devem falir para que as boas não se prejudiquem. Quando o
aparato estatal é utilizado para garantir a permanência de empresas insolventes inviáveis, opera-se
uma inversão inaceitável: o risco da atividade empresarial transfere-se do empresário para os seus
credores (Lynn Lo Pucki, apud Jordan-Warren, 1985:657).

Se as estruturas do livre mercado estão, em termos gerais, funcionando de modo adequado, as


empresas em crise tendem a recuperar-se por iniciativa de empreendedores ou investidores, que
identificam nelas, apesar do estado crítico, uma alternativa de investimento atraente. Imagine-se que
uma indústria líder de mercado e lucrativa esteja com dois problemas: a sua planta reclama urgente
modernização tecnológica e há excesso de pessoal. Se significativos investimentos não forem feitos
na construção de uma nova fábrica e não houver redução na folha de pagamentos, em poucos anos a
sua posição econômica confortável pode reverter-se. Se o empreendedor não dispõe de capital e
vontade para implementar essas mudanças, a sobrevivência da empresa, a médio ou longo prazo,
depende de alguém (outro empreendedor ou investidor) vislumbrar nela uma oportunidade de ganhar
dinheiro e, motivado por essa perspectiva, procurar o controlador da sociedade empresária para
propor algum tipo de negócio: alienação do controle, trespasse, assunção de ativos, ingresso na
sociedade, incorporação etc. Pois bem, se prevalecer a racionalidade nos dois lados, quer dizer, se
ambos considerarem vantajosa a transação, a empresa recapitaliza-se e reorganiza-se, continuando a
operar, e deve até mesmo crescer. Nesse exemplo, a recuperação da empresa foi fruto do normal
funcionamento das forças do livre mercado. Isso se costuma chamar de “solução de mercado”.

A superação da crise da empresa deve ser resultante de uma “solução de mercado”: outros
empreendedores e investidores dispõem-se a prover os recursos e adotar as medidas de saneamento
administrativo necessários à estabilização da empresa, porque identificam nela uma oportunidade
de ganhar dinheiro. Se não houver solução de mercado para determinado negócio, em princípio, o
melhor para a economia é mesmo a falência da sociedade empresária que o explorava.
27

Nesse contexto, pode-se afirmar que, em princípio, se não há solução de mercado para a crise de
determinada empresa, é porque ela não comporta recuperação. Se nenhum empreendedor ou
investidor viu nela uma alternativa atraente de investimento, e a recapitalização e a reorganização do
negócio não estimulam nem mesmo os seus atuais donos, então o encerramento da atividade, com a
realocação dos recursos nela existentes, é o que mais atende à economia. Quando não há solução de
mercado, aparentemente não se justificaria a intervenção do estado (Poder Judiciário) na tentativa de
recuperação da empresa. O próprio instituto jurídico da recuperação parece, prima facie, um
despropósito no sistema econômico capitalista. Se ninguém quer a empresa, a falência é a solução do
mercado, e não há por que se buscar à força a sua recuperação.

Não é bem assim, contudo. Quando as estruturas do sistema econômico não funcionam
convenientemente, a solução de mercado simplesmente não ocorre. Nesse caso, o estado deve
intervir, por meio do Poder Judiciário, para zelar pelos vários interesses que gravitam em torno da
empresa (dos empregados, consumidores, fisco, comunidade etc.). Exemplo característico de
desfunção do sistema é o do valor idiossincrático da empresa. Para entendê-lo, deve-se recuperar a
lição sobre o valor da ação, que se aplica inteiramente à questão da valoração da empresa. Interessam,
aqui, o valor de negociação e o econômico. Como examinado antes (Cap. 19, item 1), a ação de uma
companhia, ao ser alienada, tem o valor que vendedor e comprador contratam, isto é, aquele que o
vendedor considera oportuno receber em troca da participação societária, e o comprador, por sua
vez, tem por interessante pagar para adquiri-la. Nenhuma outra variável atua na equação. Se as partes
não atribuem à ação o mesmo valor, simplesmente não há compra e venda. Esse é o valor de
negociação. Por sua vez, o valor econômico é o calculado por especialistas a partir das perspectivas
de rentabilidade da ação e fornece o parâmetro para as negociações racionais. O vendedor que alienar
a ação por preço significativamente inferior ao valor econômico ou o comprador que a adquirir por
preço significativamente superior estão fazendo um mau negócio.

O valor idiossincrático da empresa é o atribuído exclusivamente pelo seu dono (melhor: pelo
controlador da sociedade empresária que a explora). É muito comum que o empreendedor valorize a
sua empresa de modo bem particular, principalmente se foi o seu iniciador e lhe devotou muitos anos
e energia. Trata-se de um valor subjetivo e individual, derivado da autoimagem do empreendedor, da
qual a empresa serve de projeção psicológica. Por vezes, o controlador resiste à realização de negócios
voltados à recapitalização e reorganização do negócio porque não sente devidamente considerado
pelos adquirentes ou investidores o esforço pessoal dele impregnado na empresa. A característica
essencial da valoração idiossincrática é a de que nenhum empreendedor, especulador, corretor,
especialista em avaliação de ativos ou qualquer outro agente econômico acha que a empresa vale o
quanto o dono quer (cf. Jackson-Scott, 1989:151/153).

A recuperação da empresa por intervenção do aparato estatal (Executivo ou Judiciário) é justificável


apenas se a solução de merca- do não pôde concretizar-se por disfunção do sistema de liberdade de
iniciativa, na hipótese de o empreendedor atribuir à empresa, por exemplo, valor idiossincrático.

O valor idiossincrático compromete a racionalidade das negociações. O mercado não soluciona a crise
da empresa, não porque inexistem interessados em recapitalizá-la e reorganizá-la, mas porque o seu
titular quer um preço que ninguém vê vantagem em pagar. Se, de um lado, o valor de negociação não
precisa corresponder necessariamente ao econômico, e, por isso, pode ocorrer de se pagar pela
empresa mais do que o recomendado pelos especialistas, de outro, quando o valor idiossincrático
28

interfere fortemente na relação negocial, e o vendedor mostra-se insensível aos argumentos técnicos
que fundamentam o valor econômico, é provável não ocorrer nenhuma negociação. Esse é um
exemplo de disfunção do sistema econômico: o princípio basilar da livre iniciativa, em que se assenta
o direito de propriedade do empreendedor capitalista, impede que o próprio mercado recupere a
empresa em crise. Nesse caso, porém, interesses que transcendem os dos empreendedores, e, muitas
vezes, expressam alcance social e econômico de relevo — como são os dos empregados, da
comunidade, dos consumidores, do fisco etc. —, podem ser prejudicados de forma injusta. Se o
controlador quer receber algo que ninguém está disposto a pagar, não será realizado negócio nenhum,
e a empresa em crise tenderá a desaparecer. Agride ao senso de justiça ver o fim de postos de
trabalho, redução de abastecimento, falência de pequenas e médias empresas satélites e outros
efeitos negativos da crise de uma grande empresa, quando o mercado poderia tê-la solucionado, mas
a idiossincrasia de um homem impediu.

O instituto da recuperação da empresa tem sentido, assim, no capitalismo para corrigir disfunções do
sistema econômico, e não para substituir a iniciativa privada.

3. A REFORMA DO DIREITO FALIMENTAR

Neste item, gostaria de apresentar algumas ideias gerais para a reforma do direito falimentar.
Considero que a sistemática atual de execução concursal do patrimônio da sociedade empresária
devedora acarreta grande desperdício dos sempre parcos recursos do Poder Judiciário e prejuízos
certos para todos os envolvidos. Alerto, portanto, que se seguem considerações de lege ferenda. A
recuperação judicial não pode significar, como visto, a substituição da iniciativa privada pelo juiz na
busca de soluções para a crise da empresa. Se a sobrevivência de determinada organização
empresarial em estado crítico não desperta o interesse de nenhum agente econômico privado
(empreendedores ou investidores), então, em princípio, as suas perspectivas de rentabilidade não são
atraentes quando comparadas com as das demais alternativas de investimento. Ora, se assim é,
ninguém vai perder dinheiro investindo naquele negócio. Contudo, pode ocorrer de a solução de
mercado não se viabilizar por alguma disfunção do sistema econômico, como no exemplo do valor
idiossincrático. Nesse caso, e com o objetivo de garantir o regular funcionamento das estruturas do
livre mercado, pode e deve o juiz atuar. Note-se, a solução da crise não é dele, nem sequer deve ser
aprovada por ele; o papel do estado-juiz deve ser apenas o de afastar os obstáculos ao regular
funcionamento do mercado.

Se é essa a premissa, conclui-se que o direito falimentar deve passar por profundas alterações,
norteadas pela equação do law as market mimicker, desenvolvida pela análise econômica do direito
(Cap. 2, item 2). Em termos gerais, quando a empresa está em crise — econômica, financeira ou
patrimonial —, o direito deve regular o procedimento extrajudicial, iniciado e desenvolvido pela
própria sociedade empresária devedora, de cessação de pagamentos. O objetivo é criar condições
para renegociações globais das dívidas. Ao fazer a declaração unilateral de cessação de pagamentos,
a devedora convoca a assembleia de credores, na qual apresenta seu plano de recuperação da
empresa e uma proposta de renegociação do passivo. Até a realização da assembleia, para que cada
credor possa aferir a viabilidade do plano e ponderar o interesse em aceitar ou não a proposta, é
indispensável ampla transparência sobre a realidade econômica, financeira e patrimonial da devedora.
Note-se que os credores da sociedade empresária em crise podem interessar-se em abrir mão de
parte do crédito, prorrogar o vencimento da obrigação ou renunciar a garantias e privilégios se ficarem
convencidos das boas intenções dos empreendedores e administradores e da consistência do plano
29

de recuperação. Para tanto, devem ter inclusive o direito de realizar auditoria (due diligence) na
devedora, individual ou coletivamente.

Se a proposta de renegociação apresentada em assembleia for aprovada pela maioria dos credores, a
renegociação obriga também os credores que votaram vencidos. De certa forma, passa a ser problema
dos credores a sobrevivência de devedora em estado crítico, e tem sentido considerá-los uma
comunhão de interesses e, em decorrência, submeter todos à vontade da maioria (Ferreira, 1963,
15:263/266), que deve ser computada, como no direito norte-americano, por dois critérios
cumulativos: o do valor do crédito e o da quantidade de credores. Além disso, a maioria deve
reproduzir-se em cada classe de credores, já que nem sempre convergem os interesses dos titulares
de preferências e garantias e os dos quirografários, relativamente à recuperação da empresa — os
primeiros, tendo em vista a preferência ou garantia titula- rizada, podem ter seus direitos satisfeitos
na liquidação falimentar, enquanto os últimos, muitas vezes, só receberão algum pagamento se a
sociedade devedora conseguir recuperar-se da crise (cf. Jackson-Scott, 1989:159). Se, por outro lado,
não for aprovada a proposta da devedora, configura-se o conflito de interesses. Instaura-se, então, o
processo judicial, iniciado com a publicação de edital, convidando instituições financeiras a formular
oferta pública de aquisição dos créditos. A ideia é criar condições para operação do mercado
secundário das obrigações da empresa em crise. As instituições financeiras tenderão a fazer as
propostas, levando em conta o risco de não realização do crédito, e os credores, por sua vez, ao
cederem seus direitos creditícios, sofrerão o prejuízo correspondente ao deságio, mas livrar-se-ão do
risco da inadimplência e insolvência.

Se a maioria dos credores vende seus créditos a uma ou mais das instituições financeiras licitantes, o
juiz declara que os demais credores terão seus direitos satisfeitos com os descontos ou prorrogações
propostos pela sociedade empresária devedora na assembleia. É realista, contudo, imaginar que essa
hipótese não será comum. A experiência norte-americana, diga-se, tem revelado que tanto devedor
como credores procuram evitar a imposição judicial da revisão da obrigação (cram down),
empenhando-se realmente em encontrar uma saída negociada para a crise que afeta os interesses de
ambos (White, 1989:219/220). É realista esperar, também, que empreendedores e investidores se
articulem com instituições financeiras para, nessa oportunidade, manifestar, inclusive como apêndice
às propostas de aquisição dos créditos, o interesse em assumir a empresa, ou parte dela, com seus
planos de recapitalização ou reorganização. Estatísticas mostram que é rara a apresentação, por
credores, de proposta de recuperação da empresa de devedores em crise (Weiss, 1990:266/267), de
modo que não há razões para a criação de procedimento específico destinado a motivá-los nesse
sentido.

Caso nenhuma instituição financeira realize oferta pública de aquisição dos créditos ou os credores
não se interessem pelas realizadas, e também não se habilite nenhum capitalista para assumir o
negócio, ficará então caracterizado que o mercado não tem solução para a crise daquela empresa.
Assegurada, em assembleia, a oportunidade para a sociedade devedora e os credores reverem suas
posições anteriores, bem como para a manifestação de demais interessados, como o sindicato de
empresas e de trabalhadores envolvidos e o Poder Executivo municipal, estadual ou federal, e
persistindo o quadro de inexistência de solução de mercado, é decretada a liquidação da sociedade
empresária devedora por falência.

Mesmo após a decretação da falência, o direito falimentar pode continuar prestigiando as soluções
de mercado. A realização do ativo não precisa ser de responsabilidade da estrutura judicial. O melhor
30

é que empresas cadastradas e fiscalizadas pelo Poder Judiciário sejam convidadas a formular
propostas de aquisição dos bens da sociedade falida. A venda é feita em favor da proponente de
melhor oferta, sem demora, de modo a se transformar em dinheiro o ativo da sociedade falida o mais
rápido possível. Além do mais, nada obriga a paralisação da atividade no transcurso do processo:
mesmo estando a sociedade empresária em liquidação, o negócio pode conservar seu potencial
econômico, ainda que em patamares mínimos. E, de novo, se nenhuma empresa de ativos cadastrada
atender ao edital, deve-se concluir que não há interesse do mercado nos bens da sociedade em
liquidação. O destino deles deve ser, então, a pronta doação a entidades beneméritas, igualmente
cadastradas e fiscalizadas pelo Poder Judiciário.

Em 2005, a reforma da lei falimentar brasileira, embora tenha introduzido importantes avanços no
campo da preservação da atividade econômica, não alterou os fundamentos do sistema anterior. O
direito brasileiro continua presumindo o litígio em qualquer hipótese de crise da empresa,
envolvendo em demasia o Poder Judiciário.

Em 1993, o Poder Executivo enviou ao Congresso o projeto de reforma da Lei de Falências que vigia
desde 1945. O projeto era bastante tímido em termos de alterações. Em 2004, o Poder Legislativo
aprovou, depois de longa tramitação, um projeto bem diferente, com alterações mais significativas.
Ele foi sancionado como Lei n. 11.101/2005 (LF). Além de atualizar a lei falimentar, a reforma teve o
objetivo de contribuir em duas frentes importantes para a economia brasileira do início do século XXI:
a luta contra o desemprego e a retomada do desenvolvimento econômico. Na primeira, procurou-se
desacelerar a elevação do nível de desemprego por meio da introdução do instituto da recuperação
judicial. Na medida em que empresas viáveis possam se reorganizar, mantêm-se os postos de trabalho
a ela correspondentes. Na segunda frente, medidas como a venda dos bens do devedor
independentemente da verificação dos créditos e investigação de crime falimentar ou alterações na
classificação dos credores foram introduzidas com o objetivo de reduzir o risco associado à insolvência
do devedor e, consequentemente, os spreads e juros bancários.

A reforma de 2005 não alterou os fundamentos da lei falimentar anterior. A crise da empresa continua
sendo vista como essencialmente litigiosa, demandando por isso constante presença do Poder
Judiciário em cada passo dos seus desdobramentos. Considero, assim, as ideias gerais de reforma do
direito falimentar aqui apresentadas como sendo ainda pertinentes.

4. OBSERVAÇÃO

Como pretende ser uma obra do seu tempo, este Curso de direito comercial deve concentrar-se na
exploração da atividade empresarial por pessoas reunidas em sociedades (limitada ou anônima),
porque as empresas exploradas individualmente ou por sociedades de tipos menores (nome coletivo,
comandita simples ou por ações) correspondem a situações marginais e desimportantes. Do mesmo
modo, ao voltar sua atenção ao direito falimentar, deve privilegiar a falência e recuperação judicial
daqueles tipos principais de sociedades empresárias (Caps. 45 a 48), relegando a plano secundário as
do empresário individual (Cap. 49) e dos tipos menores.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V. 3 – Direito de Empresa,


Cap. 44, 13a. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
31

Capítulo 01 Case 02
Propedêutica Caso Reapertos

01. Descrição

Famosa oficina mecânica especializada em desvendar onde se encontravam os pontos com folga ou
desgaste nas peças de veículos novos e usados, a Reapertos Caça Grilos (Galba Borges de Melo Jr —
Micro Empresa), fundada em 1993, teve seu auge empresarial em meados da década de 2000, mas
por volta do 2010 começou a passar por dificuldades de diversas ordens.

Em 2011, diante do quadro agudo de crise empresarial, patrocinada pelo famoso Advogado e
saudoso e querido Professor José Alberto Rola, Reaperto Caça Grilos protocolou pedido de
Recuperação Judicial, cujos termos da petição seguem para leitura e análise minuciosa sobre a
espécie de crise empresarial experimentada pela empresa, se econômica, financeira ou patrimonial:

EXCELENTISSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ VARA DE FALENCIAS E CONCORDATAS
DA COMARCA DE FORTALEZA-CEARÁ.

Acão de Recuperacão Judicial

Requerente: Galba Borges de Melo Jr — Micro Empresa

GALBA BORGES DE MELO JR - Micro Empresa, pessoa jurídica individual, CNPJ 41.652.090/0001-82 com sede à Rua
Carolina Sucupira, 456, Aldeota, Fortaleza vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seu procurador
judicial adiante firmado, propor a presente Ação de Recuperação Judicial, ao amparo da Lei nr. 1 1.101, de 9 de
fevereiro de 2005, artigo 47 e demais, especialmente o seu artigo 70, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir
expostos:

I - DOS FATOS:
32

A requerente está em atividade desde 1993, sempre como firma individual, microempresa, tendo consolidado sua
imagem pelo diferencial da alta qualidade dos seus serviços (especializada em reaperto de veículos automotores,
conhecido como" CAÇA GRILOS"). O reconhecimento perante um seguimento especial de proprietários de veículos,
com o consequente crescimento paulatino ao longo do tempo decorre, especialmente, do esmero artesanal com
que seu titular exerce a profissão, perfil assimilado por sua equipe de mecânicos, o que se reflete no
reconhecimento inconteste de seus clientes, cujos veículos, em geral de grande valor, apresentam problemas em
razão das péssimas condições de conservação de nossas ruas e avenidas.

Desde o início de suas atividades, em 1993, quando se instalou em terreno sem qualquer benfeitoria senão um
simples telhado de amianto de 5 x 10 metros para seu titular trabalhar, a requerente vem progredindo, sempre
diferenciada por prestar serviços de reconhecida qualidade. Apesar de viver modestamente, o titular sempre
retirou seu sustento das atividades de sua microempresa, tendo ainda, paulatinamente, feito investimentos na
melhoria de suas instalações, as quais hoje oferecem razoável condição de conforto aos empregados e clientes,
conforme fotos (anexo nr. 10);

No início de 2007, após ter feito substancial melhoria nas instalações físicas, apesar de o imóvel ser alugado, a
Requerente, atendendo demanda/sugestões de clientes, passou a dar assistência técnica e manutenção a veículos
blindados, uma vez que esse tipo de serviço era oferecido basicamente fora de Fortaleza. Este novo serviço
proporcionou expressiva elevação das receitas e, como consequência natural, motivou a Requerente a atuar nesse
segmento de serviço (blindagem de veículos);

Para oferecer esse novo serviço, mantendo-se fiel à imagem de qualidade, a Requerente decidiu, equivocadamente,
acelerar os investimentos necessários para compor a infraestrutura adequada (adaptação das instalações físicas,
aquisição de equipamentos e ferramentas especiais, processos de legalização do serviço, certificações, etc.). Esta
decisão passou a ser implementada no início de 2010 e, fruto da total ignorância em temas relacionados a
planejamento, marketing, métodos de gestão, principalmente financeira, por parte do seu titular, a Requerente
cometeu equívocos, com destaque para:

i) Acreditar que sua imagem em relação ao serviço "caça grilo" - o seria suficiente para imediatamente
apresentar demanda expressiva de clientes para blindagem de veículos;
ii) Acelerar os investimentos utilizando, primeiramente, recursos o através de instrumentos
absolutamente inadequados para essa finalidade (cheque especial, capital de giro de banco comercial,
cartões de crédito, descontos em factoring, etc.), todos a juros e prazos totalmente incompatíveis.
Neste caso, o equívoco foi agravado pelo fato da Requerente não ter considerado a possível incerteza
da demanda por tais serviços e que, como costuma acontecer quando as decisões de investimentos
contam com orientação adequada, qualquer financiamento precisa oferecer carência, justamente para
dar tempo de "maturação" do negócio e conclusão da implantação, definição de processos, etc.;
iii) Recorrer, somente em segundo momento, a linhas especificas e adequadas à atividade, concedidas
pelo Banco do Brasil e posteriormente também pelo BNDES, mas já quando tinha expressivo
endividamento caro. Ainda assim, sem que essas instituições tenham alertado para a desproporção dos
investimentos realizados com recursos de terceiros, em comparação com a exígua/nula capacidade de
pagamento, enquanto não ocorresse o aumento das receitas;
iv) Atuar, através de seu titular, cujo nome e trabalho pessoal está intimamente ligado aos serviços que
diferencia a Requerente no mercado, focada unicamente em ações relacionadas à blindagem de
veículos, acarretando, obviamente, a estagnação e até redução do segmento "caca grilo";
v) Não perceber a tempo que essa estratégia de priorizar a implantação do setor de blindagem, além de
não propiciar qualquer contribuição ao faturamento da titular, impediu o desempenho normal dos
serviços "caca grilo" e consumiu recursos de terceiros, sendo a maior parte de grande monta. De
ressaltar, também, que a titular, no afã de trazer clientes para o novo serviço e mal aconselhada, se
comprometeu com investimento em propaganda sem, sequer, ter avaliado adequadamente sua efetiva
capacidade de atender eventual demanda;

Concluído o processo de estruturação do serviço de blindagem, a Requerente havia se deteriorado tanto


administrativamente quanto financeiramente, que não dispunha da menor condição para oferecer esse serviço. Isto
porque, ao contrário do serviço "caca grilo", onde prevalece a mão de obra, na blindagem o maior volume de
recursos consumidos é na aquisição de material, da ordem de 65% do orçamento. Como ao Requerente não
dispunha de recursos próprios para capital giro, margem de crédito e sendo o fornecimento do material utilizado
e o ICMS, pagos antecipadamente, a titular deparou-se com a situação que justifica o presente pleito;
33

Efetivamente, o fato de a Requerente, humildemente, reconhecer suas falhas, principalmente nos campos de
planejamento e gestão administrativa e financeira, não altera sua drástica situação, caracterizada por uma grave
crise econômico-financeiro; que a imobiliza e sufoca com uma avalanche de problemas diários relacionados a
dívidas com fornecedores, empregados e principalmente bancos, impedindo que seu titular se dedique a fazer o
que sabe ,ou seja, executar e coordenar os profissionais nos serviços de "caca grilos", recuperando a clientela e,
simultaneamente, iniciar ao prestação dos serviços de blindagem, para os quais está totalmente preparada.

II - OS FUNDAMENTOS JURIDICOS:

A requerente pertence a um segmento da sociedade brasileira que somente nos últimos anos tem merecido dos
Legisladores, Poder Executivo e das Instituições Públicas, uma percepção mais correta de seu papel. As micro e
pequenas empresas representam mais de 90% das empresas e empregam mais de 60% das pessoas
economicamente ativas, embora respondam por apenas 20% do Produto Interno Bruto do país. No entanto, as
mesmas têm um lado que ainda não despertou o olhar correto da sociedade. Trata-se do fato de que seus
titulares/sócios são profissionais empreendedores que, ao invés de buscar a condição de empregados, hoje
amplamente protegidos pela legislação, preferem correr riscos como empreendedores, se expondo a perder, em
situação de crise, o pouco que possam ter amealhado economicamente, para desenvolver atividades úteis, pagar
impostos e oferecer empregos.

Importante reafirmar que, além de admitir seus próprios erros, de boa fé e querendo fazer o melhor, a Requerente
reconhece hoje, à luz dos estudos e colaboração que vem recebendo para diagnosticar sua situação e identificar
saídas, que também acabou recebendo ajuda para errar, na medida em que instituições financeiras experientes lhe
entregaram recursos sem uma análise mais adequada quanto à conveniência e oportunidade dos empréstimos que
contraiu. Desta forma, admite que foi um grande equívoco requerer recursos dessas instituições financeiras, em
valores e condições indicadas nos anexos, os quais se mostraram inadequados para o fim em que foram utilizados
e em lugar de colaborar com a Requerente, acabaram por empurrá-la para a crise que hoje enfrenta.

A Lei n o 1 1.101, de 09.02.2005, diante de um país carente de oportunidades de emprego e geração de riqueza,
veio melhorar a proteção legal às empresas que de boa-fé, mas por problemas que não conseguiram superar
entram em situação de crise econômico-financeira aguda permitindo, através do mecanismo da Recuperação
Judicial, como oportunidade para evitar os desperdícios que a falência acarreta à sociedade. Nesse sentido, o art.
47, do diploma legal referido proclama textualmente: a recuperação judicial tem por objeto viabilizar a superação
da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estimulo à atividade econômica.

Na mesma lei foi reservado tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas, na secção V, justamente para
permitir ao Magistrado uma alternativa de agilidade e singularidade no exame dos pleitos, como o que a
Requerente apresenta. Reafirmando sua disposição de continuar lutando para manter a Requerente em atividade,
seu titular precisa de tempo razoável para reorganizar a empresa e mesmo sua vida pessoal, bem como um prazo
preliminar para, com ajuda de terceiros especializados, planejar não apenas a forma de pagar suas obrigações, mas,
também, esquematizar e implementar ações comerciais lhe permitam elevar o faturamento e, por consequência,
o lucro voltar a ser um ente econômico e socialmente útil e não mais um fracassado parasita social, dependente da
benevolência do Estado.

Sem prejuízo aos elementos constantes dos anexos e àqueles que constarão pormenorizadamente no PLANO DE
RECUPERACAO JUDICIAL, o qual será apresentado dentro do prazo legal e com todos os requisitos necessários para
evidenciar a disposição e capacidade de honrar as sujas obrigações, e em condições realistas para a empresa e
credores, registramos a seguir, resumidamente, a situação atual da requerente:

• Faturamento mensal: (média dos últimos 12 meses)........ R$ 21 .000,00


• Déficit mensal, incluídas obrigações financeiras................ R$ 17.000,00
• Déficit mensal, excluídas obrigações financeiras............... R$ 5.000,00
• Total das dívidas (60%.com instituições financeiras) ........ R$ 385.822,00

Portanto, a Promovente atende aos requisitos para concessão da RECUPERACAO JUDICIAL prevista na Lei 11.101,
de 09.02.2005, inclusive a especificidade da secção V, apresentando em anexo os documentos seguintes:

i. Anexo 01: Declaração Anual Simples Nacional — DASN — 2008, 2009 e 2010;

ii. Anexo 02: Declaração Imposto de Renda Pessoa Jurídica Física do titular de Galba Borges de Melo Jr-
ME. — ano 2009;
34

iii. Anexo 03: Declaração nominal de Credores;

iv. Anexo 04: Relação de Empregados e Débitos de Folha de Pagamento;

v. Anexo 05: Extratos Bancários — Banco do Brasil e Banco Itaú;

vi. Anexo 06: Certidões de Protestos;

vii. Anexo 07: Declaração Imposto de Renda Pessoa Física — 2008/2009/2010;

viii. Anexo 08: Copia dos Contratos de Financiamentos Banco do Brasil e Banco

ix. Anexo 09: Extrato Cartão de Credito;

x. Anexo 10: Fotos das instalações da Requerente;

III - DO PEDIDO:

Face o exposto, requer que Vossa Excelência, após a análise da petição inicial e documentos anexados, defira o
que segue:

A) O devido processamento da Recuperação Judicial, nos termos preconizado pelo Plano Especial previsto no
art. 70 e seguintes da Lei no 11.101/2005;

B) A nomeação do administrador judicial;

C) A dispensa da apresentação de certidões negativas para que a empresa possa exercer suas atividades;

D) Cientificar todos os interessados, através da expedição de edital, contendo o resumo do pedido e a relação
dos credores;

E) A proibição de que os credores, uma vez avisados, protestem títulos ou iniciem ações de cobrança;

F) Determinar que o Banco do Brasil mantenha ativa sua conta corrente nr. 19.776-9, mantida na Agencia
3655-2, para permitir a correta gestão dos recursos que venha receber e necessite movimentar antes da
apresentação e aprovação por Vossa Excelência, do Plano de Recuperação Judicial, com proibição de
qualquer apropriação ou débito de qualquer natureza, por parte daquele Banco, sem anuência expressa da
Requerente;

REQUER, por fim, que lhe seja concedido prazo de até 60 (sessenta) dias, a contar do deferimento para
processamento da RECUPERACAO JUDICIAL, para apresentação do PLANO DE RECUPERACAO JUDICIAL.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Nestes termos, pede espera e deferimento.

2. Atividade

A partir da leitura da petição acima, construa um texto entre 15 e 30 linhas explicitando qual a
espécie de Crise Empresarial que se abateu sobre Reaperto Caça Grilos (Galba Borges de Melo Jr —
Micro Empresa), levando em consideração as noções expostas por Fábio Ulhoa Colelho no Texto 04,
“A Empresa Em Crise”.
35

Capítulo 01 Resumo Executivo


Propedêutica
RESUMO EXECUTIVO
GRUPO COURO CALÇADOS

Notas Preliminares

Objetivo – O presente visa demonstrar o perfil empresarial do Grupo Couro Calçados, em formato de
sumário executivo, preliminar, e propor plano de ação para superação da crise empresarial.

Suporte ao Trabalho – o site de Couro Calçados (http://www.courocalcados.com.br) e documentos


fornecidos pelo cliente, tais como, contratos sociais e requerimentos perante a junta.

Registro do trabalho – Registram-se os dados aqui de maneira formal para as finalidades de estilo.

Forma – Vai o mesmo em forma de resumo analítico e propostas de plano de ação.

Conteúdo – A linha de raciocínio de que se fez uso foi a lógico-analítica e descritiva, buscando responde
às questões chaves sobre a dinâmica empresarial de Grupo Couro Calçados e suas unidades
empresariais.

Perfil Empresarial

Crise Interna – O Grupo Couro Calçados consiste na reunião informal de duas empresas: 1) MARIA DA
SILVA EIRELI - ME (COURO EVIDÊNCIA) e, 2) JOÃO DE SOUZA DA SILVA – ME (COURO CALÇADOS).

Fundação – Pode-se considerar a data da fundação da COUTO CALÇADOS como a data de fundação do
Grupo, qual seja, 24 de setembro de 2001, na cidade de Fortaleza, por Maria DA Silva.

Presença – Hoje, o Grupo possui três unidades econômicas na cidade?

o ATACADO - COURO LOJA DA FÁBRICA

o ATACADO - COURO MARAPONGA MART MODA

o VAREJO - COURO SHOPPING PARANGABA

Atuação – O Grupo Couro Calçados concentra suas operações na indústria, no atacado e no varejo
especializados em calçados femininos, há mais de 15 anos.

Expansão – Contudo, a direção do Grupo pretende diversificar sua atuação por meio da entrada no
mercado de Franquias, já estando o projeto em andamento.

Estrutura de Capital – O seu capital total é de R$ 156.000,00 subscritos. Hoje, a estrutura de capital
integralizado do Grupo é a seguinte: 1) COURO EVIDÊNCIA – R$ 78.000,00 e, 2) COURO CALCADOS – R$
78.000,00.

Análise Sumária da Crise


36

Situação Interna – De posse das informações


repassadas pelo cliente, pode-se identificar,
preliminarmente, como principal fator interno da
crise do Grupo Couro Calçados o baixo
desempenho de sua unidade de varejo,
somando-se a isso os efeitos dos esforços
financeiros despendidos na estruturação física de
tal unidade.

Cenário Econômico Pretérito – No entanto,


analisando o contexto macroeconômico do país
nos últimos 24 meses, vemos que fatores como a
queda de 3,8% do PIB 2015, dentre outros, como
a alta da inflação acima de 10% e a queda na
renda das famílias por conta do aumento do
desemprego em 6,8%, só naquele ano,
acarretaram a queda de 8,7% do varejo,
especialmente, no seguimento de calçados,
segundo o IBGE. Sendo essa a maior queda
registrada desde 2001, ano de fundação do
Grupo Couro Calçados.

Perspectivas do Mercado – Observa-se que,


desde o início da crise econômica, o consumo
das famílias reduziu mais de 6% e que o
investimento foi reduzido em impressionantes
25%. Esses números são muito preocupantes
para o crescimento futuro do país – pois com
menos investimento, há menos acumulação de
capital, o que significa que a produtividade (e,
consequentemente, os salários) dos
trabalhadores não vai ser tão alta quanto
poderia ser. E o que é pior, dentre
os componentes do PIB, aquele que menos caiu
foram os gastos do governo – o que contraria a
ideia de que teria sido o “ajuste fiscal” (que é
difícil de ser observado nos dados) o responsável
pela crise.

Outro bom termômetro da situação econômica


do país é a taxa de desemprego. Quando a taxa
de participação na força de trabalho é mantida
constante, os números são impactantes. Em
dezembro de 2015, a taxa de desemprego Todos esses fatores permitem estabelecer a
chegou a 10%. perspectiva de que a economia brasileira
deve encolher 3,7% em 2016 e se manter quase
estável, em -0,2%, em 2017, repercutindo no
setor de varejo de vestuário e calçados numa
queda aproximada à de 2015 para 2016, ou seja,
cerca de 8,5% e para 2017 uma queda menor, em
torno de 4,7%, que ainda é bastante expressiva.

Pode-se ainda esperar que a taxa de juros


continue alta, o que torna a tomada de crédito
extremamente desaconselhável, nos próximos
anos. Conforme a previsão da tabela abaixo.
Além disso, como o mercado de trabalho tem Ano Juros Inflação PIB
uma forte relação com a economia, a
2016 14,25% 7,7% -3,7%
intensa contração econômica tenderá a
continuar com a tendência de destruição de 2017 13,5% 5,3% -0,2%
empregos formais. Nós projetamos que, até o 2018 12,3% 4,3% 1,7%
fim desse ano de 2016, cerca de 3 milhões de Fonte: Instituto Mercado Popular
37

empregos formais terão sido destruídos. Tal situação na economia como um todo, se
materializada, tornaria a recessão atual a pior da
história do país. Pois, desde a Grande Depressão
não há dois anos seguidos de crescimento
negativo do PIB. De forma que 2016
provavelmente será o momento de maior
retração da economia brasileira desde que o PIB
começou a ser estimado.
38

Capítulo 01 Exercícios de Fixação


Crise Empresarial
Texto 04
08. Temos acima um instrumento muito usado no ambiente empresarial para apresentar diagnósticos
do desempenho econômico-financeiro das empresas, é o chamando Resumo Executivo. Nesse
exemplo Resumo Executivo são franquiadas informações sobre o Grupo empresarial objeto da análise,
bem como, sobre o mercado que ele está inserido. Diante dessas informações e sobre o tema crise
empresarial, não é pertinente afirmar que:
a) O Grupo Couro Calçados está inserido no contexto de crise macroeconômica e setorial, além de
enfrentar problema de baixo desempenho da uma unidade de varejo, somando-se a isso os efeitos
dos esforços financeiros despendidos na estruturação física de tal unidade. Constata-se que a
diretoria já está tomando providências para debelar a crise interna com a diversificação das
operações passando funcional também como Franqueadora. Porém, estima-se que tais medida não
sejam suficientes para fazer frente à crise que atinge o setor no qual se está envolvido.
b) Quando se diz que uma empresa está em crise, isso pode significar coisas muito diferentes. Como
se sabe, distinguem-se crise econômica, financeira e patrimonial. Normalmente, uma desencadeia
a outra, mas a complexidade da economia e das relações jurídicas do nosso tempo tem gerado,
cada vez mais, situações em que se manifesta uma dessas crises, sem despertar nenhuma
preocupação nos agentes econômicos.
c) A crise econômica pode ser generalizada, segmentada ou atingir especificamente uma empresa;
o diagnóstico preciso do alcance do problema é indispensável para a definição das medidas de
superação do estado crítico. Se o empreendedor avalia estar ocorrendo retração geral da
economia, quando, na verdade, o motivo da queda das vendas está no atraso tecnológico do seu
estabelecimento, na incapacidade de sua empresa competir, as providências que adotar (ou que
deixar de adotar) podem ter o efeito de ampliar a crise em vez de combatê-la.
d) Em geral, se a sociedade empresária não está também em crise econômica e patrimonial, ela
pode superar as dificuldades financeiras por meio de operações de desconto em bancos das
duplicatas ou outro título representativo dos créditos derivados das vendas ou contraindo mútuo
bancário mediante a outorga de garantia real sobre bens do ativo. Se estiver elevado o custo do
dinheiro, contudo, essas medidas podem acentuar a crise financeira, vindo a comprometer todos
os esforços de ampliação de venda e sacrificar reservas imobilizadas.
e) A crise econômica apresentar uma condição temerária, indicativa de grande risco para os
credores. Não é assim necessariamente. O patrimônio líquido negativo pode significar apenas que
a empresa está passando por uma fase de expressivos investimentos na ampliação de seu parque
fabril, por exemplo. Quando concluída a obra e iniciadas as operações da nova planta, verifica-se
aumento de receita e de resultado suficiente para afastar a crise patrimonial.
09. Temos acima um instrumento muito usado no ambiente empresarial para apresentar diagnósticos
do desempenho econômico-financeiro das empresas, é o chamando Resumo Executivo. Nesse
exemplo Resumo Executivo são franquiadas informações sobre o Grupo empresarial objeto da análise,
bem como, sobre o mercado que ele está inserido. Diante dessas informações e sobre o tema crise
empresarial, não é pertinente afirmar que:
39

a) O Grupo Couro Calçados não está inserido no contexto de crise, apensa de enfrentar problema
de baixo desempenho da uma unidade de varejo, constata-se que a diretoria já está tomando
providências para enfrentar a crise setorial com a diversificação das operações passando funcional
também como Franqueadora, que atuar fora do setor afetado e com boas perspectivas.
b) Quando se diz que uma empresa está em crise, isso pode significar coisas muito diferentes. Como
se sabe, distinguem-se crise econômica, financeira e patrimonial. Normalmente, uma desencadeia
a outra, mas a complexidade da economia e das relações jurídicas do nosso tempo tem gerado,
cada vez mais, situações em que se manifesta uma dessas crises, sem despertar nenhuma
preocupação nos agentes econômicos.
c) O Grupo Couro Calçados enfrenta uma crise econômica que deve ser entendida como a retração
considerável nos negócios desenvolvidos pela sociedade empresária - os consumidores não estão
adquirindo igual quantidade dos produtos oferecidos por si devido as condições da gerais e setoriais
da economia.
d) A crise econômica pode ser generalizada, segmentada ou atingir especificamente uma empresa;
o diagnóstico preciso do alcance do problema é indispensável para a definição das medidas de
superação do estado crítico. Se o empreendedor avalia estar ocorrendo retração geral da
economia, quando, na verdade, o motivo da queda das vendas está no atraso tecnológico do seu
estabelecimento, na incapacidade de sua empresa competir, as providências que adotar (ou que
deixar de adotar) podem ter o efeito de ampliar a crise em vez de combatê-la.
e) Em geral, se a sociedade empresária não está também em crise econômica e patrimonial, ela
pode superar as dificuldades financeiras por meio de operações de desconto em bancos das
duplicatas ou outro título representativo dos créditos derivados das vendas ou contraindo mútuo
bancário mediante a outorga de garantia real sobre bens do ativo. Se estiver elevado o custo do
dinheiro, contudo, essas medidas podem acentuar a crise financeira, vindo a comprometer todos
os esforços de ampliação de venda e sacrificar reservas imobilizadas.
10. Temos acima um instrumento muito usado no ambiente empresarial para apresentar diagnósticos
do desempenho econômico-financeiro das empresas, é o chamando Resumo Executivo. Nesse
exemplo Resumo Executivo são franquiadas informações sobre o Grupo empresarial objeto da análise,
bem como, sobre o mercado que ele está inserido. Diante dessas informações e sobre o tema crise
empresarial, não é pertinente afirmar que:
a) Quando se diz que uma empresa está em crise, isso pode significar coisas muito diferentes. Como
se sabe, distinguem-se crise econômica, financeira e patrimonial. Normalmente, uma desencadeia
a outra, mas a complexidade da economia e das relações jurídicas do nosso tempo tem gerado,
cada vez mais, situações em que se manifesta uma dessas crises, sem despertar nenhuma
preocupação nos agentes econômicos.
b) O Grupo Couro Calçados enfrenta uma crise patrimonial pois está a insolvência, isto é, apresenta
insuficiência de bens no ativo para atender à satisfação do passivo. Trata-se de crise estática, quer
dizer, o Grupo tem menos bens em seu patrimônio que o total de suas dívidas, ela parece
apresentar uma condição temerária, indicativa de grande risco para os credores.
c) O Grupo Couro Calçados enfrenta uma crise econômica que deve ser entendida como a retração
considerável nos negócios desenvolvidos pela sociedade empresária - os consumidores não estão
adquirindo igual quantidade dos produtos oferecidos por si devido as condições da gerais e setoriais
da economia.
40

d) A crise econômica pode ser generalizada, segmentada ou atingir especificamente uma empresa;
o diagnóstico preciso do alcance do problema é indispensável para a definição das medidas de
superação do estado crítico. Se o empreendedor avalia estar ocorrendo retração geral da
economia, quando, na verdade, o motivo da queda das vendas está no atraso tecnológico do seu
estabelecimento, na incapacidade de sua empresa competir, as providências que adotar (ou que
deixar de adotar) podem ter o efeito de ampliar a crise em vez de combatê-la.
e) Em geral, se a sociedade empresária não está também em crise econômica e patrimonial, ela
pode superar as dificuldades financeiras por meio de operações de desconto em bancos das
duplicatas ou outro título representativo dos créditos derivados das vendas ou contraindo mútuo
bancário mediante a outorga de garantia real sobre bens do ativo. Se estiver elevado o custo do
dinheiro, contudo, essas medidas podem acentuar a crise financeira, vindo a comprometer todos
os esforços de ampliação de venda e sacrificar reservas imobilizadas.

11. Leia a seguinte notícia do portal IG sobre ambiente de crise empresarial que o país experimente
hodiernamente:
Pedidos de recuperação judicial aumentam 61,2% no acumulado de 2016, diz Serasa
Por Brasil Econômico - Com informações da Serasa Experian
| 05/09/2016 15:53
De acordo com indicador da entidade, micro e pequenas empresas lideram os
requerimentos de recuperação judicial e de falência de janeiro a agosto/2016.
A Serasa Experian afirmou, nesta segunda-feira (05), que o número de pedidos de
recuperação judicial entre janeiro e agosto de 2016 das empresas no País subiu 61,2% em
relação ao mesmo período do ano passado.
O indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações mostrou que houve 1.235
pedidos no período contra os 766, apurados entre janeiro e agosto do ano anterior. Em
2015, houve um total de 1.287 pedidos. Com isso, o resultado de empresas que já
requereram recuperação judicial este ano bate recorde histórico, sendo o maior para o
acumulado do ano desde 2006, após a entrada em vigor da Nova Lei de Falências
(junho/2005).
Entre os perfis diferentes de empresas, as micro e pequenas lideraram os pedidos de
recuperação judicial no período avaliado, sendo 741. Depois disso, vêm as médias, com 317
pedidos e, por fim, as grandes empresas, com 177.
Já na análise mês a mês, a Serasa verificou uma queda de 21,7% na quantidade de
requerimentos em agosto em relação a julho deste ano (137 em agosto contra 175 em
julho). Já na comparação entre agosto deste ano e no de 2015, a queda foi de 1,4%, sendo,
respectivamente, de 137 e 139.
Na verificação mensal de agosto de 2016, as MPEs também ficaram na frente com 84
requerimentos, seguidas pelas médias empresas, com 35, e as grandes com 18.
Segundo os economistas da Serasa Experian, o baixo dinamismo econômico e as altas taxas
de juros continuam pesando sobre a saúde financeira das empresas, acarretando elevadas
quantidades de pedidos de falências e de recuperações judiciais neste ano de 2016...
41

http://economia.ig.com.br/2016-09-05/empresas-recuperacao-falencia.html
Como se vê, o ano de 2016 registra-se o recorde histórico de pedidos de Recuperação Judicial, reflexo
da grave crise econômica que assola a economia desde o ano passado. Infelizmente, as perspectivas
econômicas não são das melhores e o país ainda haverá de amargar bastante dificuldades até que a
economia como um todo comece a se recuperar, isso ainda num cenário nebuloso e incerto que
depende, em grade medida, do ajuste fiscal do governo federal. Na seara do direito, não seria
irrazoável anotar que muitos pedidos de Recuperação Judicial ainda serão feitos e, por isso, o
profissional da área deve estar muito bem preparado para atender a demanda das empresas em
situação de crise. Isso posto, analise as proposições abaixo e aponte a alternativa errada:
a) A principal inovação da Lei nº 11.101/05 é, sem dúvida, o instituto da recuperação de empresas,
que guarda certa semelhança com a antiga concordata preventiva. Contudo, essa novidade trouxe
uma complicação, qual seja, a falta de material doutrinário que analise o tema com profundidade.
b) É entendimento corrente que as empresas devem ser preservadas sempre que possível, pois
gera riqueza e cria empregos e renda, contribuindo com para o crescimento e o desenvolvimento
social do país.
c) O legislador deixou clara a mudança de orientação a ser adotada na Lei 11.101/2005 ao regular
os planos de recuperação judicial. O Plano previsto na Lei de Falência e Recuperação de Empresas
– LFRE – com o objetivo de permitir as empresas em crise financeira o retorno na competição e
produção econômica.
d) O Plano de Recuperação Judicial baseia-se na análise aprofundada dos fatores críticos que
levaram a empresa ao fracasso, sendo necessário também dar chance de opinião a todos os
credores, com o intuito de encontrar alternativas de recuperação da empresa em bancarrota.
e) Em razão do princípio da preservação da empresa vem previsto no Artigo 47 da Lei nº
11.101/2005 – Lei de Falências e Recuperação de Empresas - afirma-se que em razão de sua função
social, a empresa deve ser preservada sempre.
42

Capítulo 02 2.1 Disposições Preliminares


Disposições à Lei de Recuperação de
Preliminares e Comuns Recuperação de Empresas e
Falência

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a


falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor.

Art. 2o Esta Lei não se aplica a:

I – empresa pública e sociedade de economia mista;

II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio,


entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de
assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras
entidades legalmente equiparadas às anteriores.

Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a


recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

Art. 4o (VETADO)
43

Capítulo 03 3.1.1 Por que as empresas do


Disposições governo, mesmo apresentando
Preliminares e Comuns prejuízos bilionários, não vão à
Falência? Ou, quem está
sujeito aos efeitos da Lei de
Recuperação de Empresa e
Falência - LREF3
Texto 05
Por Pedro Cabral

Em setembro de 2016, Karin Salomão escreveu uma matéria para a Exame em que relatou os
bilionários prejuízos sofridos pelas maiores empresas brasileiras de capital aberto, dentre elas,
grandes companhias estatais, afirmando que as 25 maiores perdas somavam 127,5 bilhões de reais.
Segundo a reportagem, só a Petrobras, maior companhia do país, havia atingido prejuízo de 34,84
bilhões de reais no ano4 de 2015.

Mais recentemente, em março desse ano, o Portal G1 publicou que “pelo terceiro ano consecutivo, Petrobras, Eletrobras e
Banco do Brasil acumularam prejuízo na consolidação dos balanços anuais. Segundo levantamento da provedora de
informações financeiras Economatica, as 3 maiores estatais brasileiras de capital aberto fecharam 2016 com um prejuízo
consolidado de R$ 3,36 bilhões”.

Só a Petrobras seria responsável pelo prejuízo de 14,8 bilhões em 2016. Já a Eletrobrás, depois de 04 anos de perdas (2012
- 2015), registra lucro de R$ 3,4 bilhões no ano de 2016. Veja o gráfico que ilustra a situação geral das empresas estatais:

3 Disposições preliminares da lei 11.101/2005: Sujeição Passiva;


4 http://exame.abril.com.br/negocios/os-25-maiores-prejuizos-de-2015-ano-de-perdas-historicas/;
44

Esse quadro de contínuo resultados negativos não é, como se deve imaginar, restrito às companhias estatais de capital
aberto (sociedades de economia mista), ele também se apresenta entre as empresas públicas, cujo capital é integralmente
subscrito pelos Entes de Direito Público Interno (União, Estados, Distrito Federal e Município). E, certamente, o caso mais
dramático hoje é o da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ou simplesmente Correios.

Segundo a Valor Econômico5, em 2016, os Correios, pelo segundo ano consecutivo, tiveram prejuízo em torno de 2 bilhões
de reais e vive a mais grave crise financeira de sua história6. A empresa está apostando num Plano de Demissão Voluntária
de empregados e com isso espera economizar perto de 1 bilhão de reis por ano, mas, mesmo assim, o seu destino é incerto,
ou não...

De fato, não é tão incerto assim o destino dos correios, bem como, não é o de nenhuma empresa estatal, por mais prejuízo
que dê, pois todas fazem parte da chamada Administração Pública Indireta e estão fora do alcance do regime jurídico
falimentar, vez que, simplesmente, nenhuma empresa do governo pode falir. A uma, porque, seja qual for tamanho do
prejuízo, no final das contas, o Tesouro sempre há de cobrir o rombo. A duas, porque a própria Lei nº. 11.101/2005 exclui
tais entes empresarias da sua incidência.

Isso mesmo, nem os Correios, nem a Petrobras, nem o Banco do Brasil, nem a Eletrobrás ou qualquer
outra empresa estatal é passível de se submeter às consequências de um pedido de falência.
Tampouco, podem requerer recuperação judicial ou extrajudicial, mas, também, para que pedir
recuperação se os impostos cobrados de cada cidadão estão sempre à disposição para serem
enterrados, quer dizer, investidos nelas, não é mesmo?

Aliás, não só os impostos cobrados dos cidadãos, mas também os impostos cobrados das empresas
individuais e das sociedades empresárias, que por sua vez se submetem aos termos da Lei e
Recuperação de Empresa e Falências – LREF, da qual o art. 1º, apropriadamente, as nomina de
devedores.

Já que estamos falando de devedores-empresários7 submetidos à LREF, é bom esclarecer que,


tecnicamente, são aquelas pessoas, físicas ou jurídicas, submetidas ao regime jurídico de direito
privado, que exercem profissionalmente uma atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços, conforme dispõe o art. 966 do Código Civil8.
Nesse conceito de devedor-empresários9 estão incluídas as pessoas10 que exercem profissão
intelectual11, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou

5 http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/correios-tem-novo-prejuizo-de-r-2-bilhoes-e-recebem-aval-para-pdv.ghtml
6 Assista a essa reportagem: http://noticias.r7.com/record-news/jornal-da-record-news/videos/economista-analisa-crise-nos-correios-04042017
7 Empresário individual e à sociedade empresária, genericamente falando.
8 (1) AgRg no REsp 1109103 / SP - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2008/0278860-6; Relator(a) - Ministro SÉRGIO KUKINA (1155); Órgão

Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA; Data do Julgamento 25/11/2014; Data da Publicação/Fonte; DJe 02/12/2014 - 1. A jurisprudência desta Corte Superior
tem entendimento pacífico no sentido da inaplicabilidade da legislação falimentar às cooperativas em liquidação, pois estas não possuem características
empresariais, sendo a elas aplicáveis as disposições previstas naLei 5.764/71. Precedentes: AgRg no Ag 1.385.428/MG, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,
Primeira Turma, DJe 13/09/2011; AgRg no REsp 999.134/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 21/09/2009; REsp 1.202.225/SP, Rel. Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 06/10/2010. (2) AgRg no AgRg nos EDcl no REsp 1129512 / SP - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL 2009/0142730-0; Relator(a) Ministra ELIANA CALMON (1114); Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA; Data do Julgamento 03/12/2013; Data da Publicação/Fonte DJe 10/12/2013 - 1. As sociedades cooperativas não estão sujeitas à
falência, uma vez que não possuem natureza empresarial, devendo, portanto, prevalecer a forma de liquidação prevista na Lei 5.764/71. (3) AgRg no AgRg
nos EDcl no REsp 1129512 / SP - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIA
2009/0142730-0; Relator(a) Ministra ELIANA CALMON (1114); Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURM; Data do Julgamento 03/12/2013; Data da
Publicação/Fonte DJe 10/12/2013 - 1. As sociedades cooperativas não estão sujeitas à falência, uma vez que não possuem natureza empresarial, devendo,
portanto, prevalecer a forma de liquidação prevista na Lei 5.764/71.
9 Art. 966, parágrafo único, do Código Civil.
10 Físicas ou jurídicas, também.
11 Medicina, advocacia, serviço de corretagem, por exemplo.
45

colaboradores, desde que o exercício de tal profissão constitua elemento de empresa, ou seja, desde
que a atividade objeto da profissão possa ser exercida pela unidade produtiva independente dos
profissionais, em sim, pela atuação exclusiva de empregados e colaboradores12.

Ah, sim, por equiparação legal13, também são consideradas empresários as pessoas físicas que tenham
a atividade rural como sua principal profissão e que requeira sua inscrição no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, com a observância das formalidades de que tratam o art.
968 e seus parágrafos do Código Civil.

Para finaliza, voltando aos entes empresariais que não se submetem ao regime jurídico da LERF, além
das empresas públicas e sociedades de economia mista, são excluídas do micro sistema falimentar:
1) Instituições financeiras;
2) Instituição financeira pública;
3) Instituição financeira privada;
4) Cooperativa de crédito;
5) Consórcio;
6) Entidade de previdência complementar;
7) Sociedade operadora de plano de assistência à saúde;
8) Sociedade seguradora;
9) Sociedade de capitalização; e
10) Outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

Isso, porque tais entidades estão sob a égide de leis especiais que disciplinam sua liquidação em caso
de insolvência14 e, cá pra nós, não é difícil imaginar quem, ao final, paga a conta do insucesso
empresarial desses entes, não é? Banqueiros e seguradoras é que não hão de ser.
Link 06: Para aprofundar os estudos sobre o tema: https://jus.com.br/artigos/18021/a-falencia-das-empresas-publicas-e-das-sociedades-de-
economia-mista/2

12 REsp 284571 / SP - RECURSO ESPECIAL 2000/0109759-8; Relator(a) Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR (1110); Órgão JulgadorT4 - QUARTA TURMA;
Data do Julgamento 12/12/2006; Data da Publicação/Fonte; DJ 12/02/2007 p. 262 Ementa COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO ESTADUAL.
NULIDADE NÃO CONFIGURADA. PEDIDO DE FALÊNCIA. AUSÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS. RECURSO ESPECIAL. EMPRESA JORNALÍSTICA. COMÉRCIO.
MATÉRIA DE FATO. SÚMULA N. 7/STJ. LEI FALENCIAL. ART. 2º, I. NÃO REVOGAÇÃO PELO CPC. I. Inexiste nulidade em decisão suficientemente
fundamentada, apenas que desfavorável à parte. II. Recaem no óbice da Súmula n. 7 do STJ as discussões acerca da qualificação da empresa jornalística
ré como comerciante, para fins falimentares, bem como a inexistência de bens penhoráveis, assim declarada pela instância ordinária, soberana no exame
fático com base no qual foram firmadas as conclusões do aresto objurgado. III. Inconfundíveis as conseqüências atinentes aos processos falimentar e
executório, pelo que equivocada a pretensão de suspensão do feito quando, com base na Lei de Quebras, pode ser requerida a falência nos termos de seu
art. 2º, inciso I. IV. Recurso especial não conhecido.
1313 Art. 971 do Código Civil.
14 CC 43128 / SP - CONFLITO DE COMPETENCIA 2004/0050781-5; Relator(a) Ministra DENISE ARRUDA (1126); Órgão Julgador S1 - PRIMEIRA SEÇÃO; Data

do Julgamento 14/12/2005; Data da Publicação/Fonte DJ 01/02/2006 p. 416 Ementa CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO ADMINISTRATIVO
INSTAURADO PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL. EMPRESA EM REGIME DE LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. ARTS. 45 DA LEI 6.024/74 E 109, I, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ENCAMINHAMENTO DO INQUÉRITO, APÓS A CONCLUSÃO PELA EXISTÊNCIA DE PREJUÍZOS, AO JUÍZO DA FALÊNCIA OU
AO COMPETENTE PARA DECRETÁ-LA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. O art. 109, I, da Constituição Federal, ao prever a competência dos juízes
federais, dispõe que a eles cabe processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, excepcionando, entre outras, as demandas envolvendo falência. 2. Por sua vez, a Lei 6.024/74, que
dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras, estabelece em seu art. 45 que o inquérito instaurado pelo Banco Central
do Brasil, caso conclua-se pela existência de prejuízos, será encaminhado, com o respectivo relatório, ao Juízo da falência, ou àquele que for competente
para decretá-la. 3. "Segundo o legislador, esta forma de distribuição do inquérito ao juiz competente nos casos de intervenção ou liquidação extrajudicial
visa a prevenir a jurisdição do mesmo juiz, no caso de vir a ser decretada a falência da instituição" (TZIRULNIK, Luiz. "Intervenção e Liquidação
Extrajudicial das Instituições Financeiras". 2ª edição, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 80). 4. Considerando que o Juízo da falência
também é o competente para o inquérito instaurado pelo Banco Central do Brasil nos procedimentos de liquidação extrajudicial, e tendo em vista que
a Constituição Federal expressamente exclui as causas relativas à falência da competência atribuída à Justiça Federal, impõe-se o reconhecimento
da competência da Justiça Estadual para processar e julgar a presente demanda. 5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de
Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Campinas/SP, o suscitado.
46

Capítulo 03 3.1.2 Magaempresas do Varejo


Disposições de eletrodomésticos, Crise
Preliminares e Comuns Econômica e Dificuldade de
Identificação do Principal
Estabelecimento

Texto 06
Por Pedro Cabral

Seguindo à risca a mais antiga e eficaz receita para se produzir uma crise econômica, no final de 2011,
o governo Brasileiro anunciou que interviria mais uma vez na economia para “combater” a
desaceleração acentuada de alguns setores da indústria nacional15, apostando mais uma vez no
consumo à base de crédito artificial como mola propulsora da economia.

Já em 2013, incrementando o pacote de medidas que visava alterar artificialmente os sinais de


mercado, não faltou espaço para o populismo econômico, razão pela qual um dos setores mais

15 www.valor.com.br/.../governo-estuda-incentivo-compra-de-moveis-e-eletrodomesticos;
47

prestigiados por tais medidas intervencionistas do governo foi justamente o setor de bens de consumo
duráveis, principalmente, o de eletrodomésticos. Jogando como o psicológico das massas, como já era
de sua tradição, o governo chegou inclusive a atrelar a concessão de crédito para consumo de
eletrodomésticos ao crédito habitacional, outro forte instrumento de populismo16.

De fato, em meados daquele ano, o governo lançou crédito para móveis e eletrodomésticos pelo
Minha Casa, Minha Vida. O novo programa de crédito subsidiado foi batizado de Minha Casa Melhor
e oferecia até R$ 5.000,00 de crédito para famílias à taxa de 5% a.a, às custas de R$ 8 bilhões do
Tesouro Nacional17. Obviamente, empresários beneficiados pelo programa, teceram loas ao programa
e legitimaram o despautério do governo, como foi o caso da megaempresária Luiza Helena Trajano,
dona do Magazines Luiza, segundo a qual o programa dava "dignidade para o nosso povo"18.

A farra foi grande, em tempos de “pibinho”, entre 2011 e 2015, período em que o país cresceu apenas
5,67%19, o varejo de eletrodomésticos cresceu 56%20, ou seja, 10 vezes mais que a economia real.

Foi nesse período que houve expansão vertiginosa das maiores empresas do ramo, tanto por meio de
inauguração de novas lojas, como pela aquisição ou incorporação de redes menores. Por exemplo, em
2013, ocorreu a fusão entre Casas Bahia e Ponto Frio, que se uniram para formar a gigante líder de
mercado Via Varejo que, só em 2015. Essa companhia atingiu presença em mais de 400 municípios
brasileiros, em 20 Estados e no Distrito Federal, com mais de 900 lojas21.

A segunda maior empresar do ramo, a Magazine Luiza, hoje, possui mais de 740 lojas, 9 centros de
distribuição e 3 escritórios, espalhados por 16 estados brasileiros22. Já a terceira gigante do ramo, a
Máquina de Vendas foi fundada em março de 2010, como resultado da fusão das empresas Insinuante
e Ricardo Eletro, e desde então adquiriu as bandeiras City Lar (junho de 2010), Eletro Shopping (junho

16 http://noticias.r7.com/economia/noticias/governo-da-credito-para-compra-de-moveis-e-eletros-por-beneficiarios-do-minha-casa-minha-vida-
20130612.html;
17 http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-lanca-credito-para-moveis-e-eletrodomesticos-pelo-minha-casa,156346e;
18 idem;
19 https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_do_PIB_do_Brasil;
20 http://exame.abril.com.br/revista-exame/lojas-de-eletrodomesticos-sofrem-o-maior-tombo-da-decada/;
21 http://www.viavarejo.com.br/companhia/quem-somos;
22 http://www.magazineluiza.com.br/quem-somos/historia-magazine-luiza/;
48

de 2011) e Salfer (abril de 2012), tornando-se a rede varejista com maior cobertura territorial no País,
possuindo mais de 800 lojas distribuídos em 23 estados e no Distrito Federal23.

A reboque, vieram empresas menores, mas expressivas do ponto de vista regional, a exemplo da
Eletrosom, com lojas em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Distrito Federal, Tocantins e no
Espírito Santo24; da Eletro Zema, presente em 600 cidades em Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Bahia,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Espírito Santo25; da Darom, pertencente ao Grupo Simbal,
conta com 52 filiais distribuídas pelo Paraná e Mato Grosso do Sul; da Cybelar, que atua no estado de
são Paulo e possui mais de 100 lojas e um centro de distribuição na cidade de Tietê. Em nossa região,
são exemplos de megaempresas de varejo no ramo de eletrodomésticos a Macavi, com mais de 100
lojas no Ceará e o Piauí; e a Rabelo, também como mais de 100 lojas na Região Nordeste.

É... mas como diz o ditado, dinheiro não aguenta desaforo e a fonte do crédito que sustentou a surreal
expansão do setor secou. Já no final de 2014, o governo não tinha como sustentar a oferta de crédito,
nem como manter os juros baixos, e o fantasma da inflação, causada pelo exagero nos gastos
públicos26, voltou a rondar o lar das famílias brasileiras, tangendo os consumidores para longe das
lojas de eletrodomésticos e do aumento do endividamento. Após registrarem uma taxa de crescimento
média de 14,5% ao ano entre 2004 e 2012, as vendas de eletrodomésticos cresceram apenas 4,9% em 2013, 0,6%
em 201427 e caíram 14% em 201528 e 12,6% em 201629.

Desempenho do Verejo de
Eletrodomésticos
10,0%

5,0%

0,0%
2013 2014 2015 2016
-5,0%

-10,0%

-15,0%

Consequência: Crise Econômica no setor!

No geral, o varejo, apenas em 2015, fechou 80 mil lojas. Só a líder de mercado no setor de
eletrodoméstico, a Via Varejo, fechou cerca de 76 lojas (73 Ponto Frio + 03 Casas Bahia). A segunda

23 http://ri.maquinadevendas.com.br/#historico_perfil;
24 http://www.eletrosom.com/nossas-lojas/;
25 http://www.grupozema.com.br/site/ver.aspx?id=42&emp=1;
26 Lembre-se das pedaladas fiscais que fizeram cair o governo da Presidenta Dilma, está tudo interligado;
27 http://eletrolar.com/artigos/tempos-dificeis-para-o-varejo-de-eletrodomesticos-e-eletroeletronicos/;
28 http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/02/vendas-no-comercio-fecham-2015-com-queda-de-43-diz-ibge.html;
29 http://g1.globo.com/economia/noticia/vendas-no-comercio-caem-62.ghtml;
49

rede do país, Magazine Luiza, por sua vez, dispensou 2000 mil empregados naquele ano30. Já a
Máquina de Vendas, entre 2014 e 2016, envolta em uma grave crise sócio-institucional trocou de
comando nada menos do que seis vezes em dois anos e no início de 2016 acumulava um passivo
tributário de cerca de 1,5 bilhão de reais31 e, em até maio de 2016, já tinha fechado mais de 100
lojas32.

33
Fonte

E se as coisas não iam bem para as líderes do mercado, que possuem poder de barganha com
fornecedores e até como o fisco, imagine-se o impacto da crise nas redes regionais... Das redes
regionais citadas acima, três estão em Recuperação Judicial, a Eletrosom, a Darom a Rabelo, o que era
bem previsível que acontecesse, uma vez que, as menores não possuem a escala das líderes para
barganhar preço com fornecedores.

Ocorre que mesmo sendo menores que as líderes, as empresas regionais ainda são megaempresas
com centenas de unidades vendedoras e vários escritórios e centros de distribuição espalhados em
vários estados do país, o que gera uma dificuldade prática para os profissionais do direito que devem
lidar com eventuais processos de falência ou recuperação judicial. E é sobre esse problema que passa
a nos interessar doravante.

30 https://oglobo.globo.com/economia/varejo-fecha-80-mil-lojas-recessao-nao-poupa-nem-grandes-redes-18580962
31 http://exame.abril.com.br/revista-exame/lojas-de-eletrodomesticos-sofrem-o-maior-tombo-da-decada/
32 http://exame.abril.com.br/negocios/maquina-de-vendas-fechou-mais-de-100-lojas/
33 http://infograficos.oglobo.globo.com/economia/diminuindo-de-tamanho.html
50

Como se sabe, empresas dessa magnitude costuma segregar atividades societárias, logísticas,
administrativas e comerciais, o mais das vezes, com objetivo de ganho em eficiência operacional e de
racionalização tributária. Em cenário de guerra fiscal entre entes da federação que disputam tais
fontes de arrecadação, também é comum a escolha de determinadas cidades ou estados para a
concentração de operações logísticas em face de vantagens extrafiscais oferecidas pelos governos
locais, tais como, doações de terrenos e oferecimento de obras de infraestrutura para o escoamento
de produtos.

Por tais fatores e premidas pela necessidade sempre premente de conquista de novos mercados, as
megaempresas de eletrodoméstico acabam por apresentar estrutura muito complexa, como cede
societária, escritórios administrativos, centro de distribuições e grandes lojas em cidades distintas.
Complexidade essa que só aumenta tendo em vista que geralmente não se tratam de uma só pessoa
jurídica, mas sim, de grupos de empresas, grupos de redes, que em si também comportam holdings e
empresas patrimoniais, não sendo raro os casos em que tais grupos sejam compostos por empresas
com objetos sociais distintos do objeto principal “varejo de eletrodomésticos”.

Diante dessa complexidade, a singela formulação do art. 3o da Lei 11.101/2005, segundo o qual “é
competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou
decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor...”, parece ser insuficiente
para, de fato, determinar-se qual o foro para processar a falência ou a recuperação judicial de uma
megaempresa do ramo de eletrodomésticos.

Qual é o principal estabelecimento de uma dessas megaempresas, o da sua sede social, onde são
arquivados todos os seus atos societários como fusões, aumento de capital, modificação de quadro
social? Ou o centro administrativo de onde emanam as decisões comerciais – compras e vendas de
mercadorias, assunção e concessão de créditos, aquisição e realização de ativos, etc – o que, a rigor,
constituem o seu objeto empresarial? Ou o centro de distribuição, onde são recebidas e de onde são
despachadas as mercadorias, que recebem fisicamente pagamentos e onde se configura a maioria dos
fatos geradores tributários? Qual desses estabelecimentos é mais importante para a existência de tais
empresas? E, no caso de grupo de redes, qual rede deve ser considerada como detentora do principal
estabelecimento do grupo?
51

Seja na doutrina, seja na jurisprudência, a única certeza que se pode colher sobre o tema é que
“principal estabelecimento do devedor” não será necessariamente a sua “sede social”. Com efeito,
esse critério seria de pouca serventia diante de uma realidade fática em que outra unidade
operacional ou administrativa apresentasse melhores condições de satisfação das obrigações do
devedor perante seus credores. Menos serventia, ainda, teria o critério da “sede social” em caso de
grupo econômico, por óbvio, haveria mais de uma sociedade empresarial, cada uma com sua sede
social, o que demandaria um outro critério para decidir quais das sedes sociais envolvidas deveria
prevalecer. Ponto superado, acredito.

Outro ponto sobre o qual não resta dúvida é o de que, adotando o critério do “principal
estabelecimento” a lei exclui a possibilidade de eleição de foro falimentar, seja por deliberação
societária, seja por acordo prévio entre o devedor e seus credores. Retirando, assim, da disposição
particular a matéria de foro, o legislador, por via de consequência lógica, afetou a questão ao interesse
público indisponível, razão pela qual a matéria pode ser discutida a qualquer tempo e em qualquer
grau de jurisdição.

Porém, essas exclusões reduzem pouco a incerteza sobre a questão do “principal estabelecimento do
devedor”, pois como visto acima, pelo menos em relação às megaempresas de eletrodomésticos, a
possibilidades continuam em aberto e a questão perdura: qual o critério seguro e objetivo para se
apontar o principal estabelecimento de uma empresa?

Para que se tenha uma ideia mais clara da insegurança jurídica em o estado da arte deixa o
jurisdicionado, veja-se o seguinte esquema de que resume os critérios apontados por importantes
juristas brasileiros para a determinação do principal estabelecimento de uma empresa:

Critérios Autores
Corrente Majoritária: Rubens
Unidade de onde Emanam as Decisões
Requiam34, Pontes de Miranda35;
1 Administrativo da Empresa - Centro de
Marleo M. Bertoldi e Marcia Carla
Decisões
Pereira36; Edilson Enedino das Cahgas37.
Sede Societária – Definida nos Atos
2 Jorge Pereira Andrade38
Constitutivos da Sociedade Empresária
Unidade de Maior Concentração Patrimonial
3 Osvaldo Barreto Filho 39
– a que possui mais bens móveis e imóveis
Unidade com Maior Movimentação
4 Econômica – Onde são executadas as Marlon Tonazette 40
operações objeto da empresa
Unidade com Maior Importância Econômica –
5 Onde são planejadas e decididas as Fábio Ulhoa Coelho41
operações objeto da empresa

Não bastasse essa indefinição da doutrina, os profissionais do direito ainda têm que lidar com a
vacilação dos tribunais no tema. Por exemplo, vários são os julgados do STJ, última instância no

34 In Curso de Direito Falimentar, 3ª. ed., p.80;


35 In Comentários à Lei de Falência, v. I, p. 84;
36 In Curso Avançado de Direito Comercial, 4ª. ed., p. 482;
37 In Direito Empresarial Esquematizado centro de decisões administrativas, 3ª. ed., p. 778;
38 Apud. Edilson Enedino das Cahgas, Op. Cit., p. 778;
39 Apud. Edilson Enedino das Cahgas, Op. Cit., p. 778;
40 Apud. Edilson Enedino das Cahgas, Op. Cit., p. 778;
41 In Curso de Direito Comercial, v. 3, p. 240;
52

assunto, em que se recorre à formulações genéricas para definir “principal estabelecimento” tais
como: "o local onde a 'atividade se mantém centralizada', não sendo, de outra parte, 'aquele a que os
estatutos conferem o título principal, mas o que forma o corpo vivo, o centro vital das principais
atividades do devedor'."42. Com todas as vênias ao Ínclito Tribunal, recorrer a figuras de linguagem na
resolução de questões técnicas geralmente atrapalham mais do que ajudam!

O que seria o “estabelecimento principal”, “o corpo vivo”, o todo, ou o seu “centro vital de principais
atividades”, uma parte do todo? Falar em “todo” como principal estabelecimento, não seria uma
incongruência logica, já que que o “todo” comporta o “principal” e “o(s) secundário(s)”?

E o que seria o “centro vital das atividades” de uma empresa? O seu coração? O Seu cérebro? O seu
pulmão? O que são coração, cérebro e pulmão de uma empresa? Questões fisiológicas de alta
indagação são desnecessariamente e inapropriadamente trazidas à baila!

E, mesmo ignorado tais impropriedades comparativas, o que seria o “centro vital das atividades” de
uma empresa? A Unidade de onde emanam as decisões administrativo da empresa? Sua Societária?
A Unidade de maior concentração patrimonial? A unidade com maior movimentação econômica? A
unidade com maior importância econômica?

Volta-se à estaca zero!

Menos angustiante são as decisões em que o Superior Tribunal de Justiça assume expressamente um
dos critérios, como aconteceu no Conflito de Competência nº. 36.394/SP, suscitado no famoso caso
da concordada da empresa Boi Gordo, no qual ficou assentado que o principal estabelecimento da
empresa era aquele em que eram tomadas as decisões administrativas da empresa, assim como
ocorreu noutro caso famoso, qual seja, o da falência da megaconstrutura Ecol43.

Menos angustiante, mas não tão menos... uma vez decisões nesse sentido são mais frequentes, porém
não são pacíficas, havendo decisões que adotam o critério do “maior volume de atividades econômica
da empresa”, como é o caso do Conflito de Competência nº. 37.736/SP no qual se decidiu que a
falência da Sharp, conhecida indústria de eletrônicos, seria processada em Manaus, onde se
encontrava a sua linha de produção, e não em São Paulo, onde era fixada a sua administração geral e
seu conselho administrativo44.

Tamanha e perniciosa variedade de critérios adotados pela doutrina e pela jurisprudência talvez
resulte da falta de objetividade já no critério hermenêutico e deontológico usados para se determinar
o alcance da expressão “principal estabelecimento do devedor”. Ao que parece doutrina e tribunal
têm negligenciado o termo “devedor” na hora de perscrutar a carga semântica do art. 3º. da LREF,
deixando de dar o peso qualificatório adequando ao vocábulo ali posto, quando não, ignorando-o
completamente. Isso precisa ser corrigido.

Então, tomando a expressão por completo “principal estabelecimento do devedor” e não só “principal
estabelecimento”, podemos introduzir um critério deontológico à análise. Qual o objetivo do
legislador ao abandonar o critério usual para a determinação do foro em que deva a pessoa jurídica

42 STJ-CC 32.988/RJ; STJ-CC nº 116.743/MG; STJ-CC nº 146.579/MG, dentre outros;


43 CC nº. 122.869/GO.
44 Edilson Enedino das Cahgas, In Direito Empresarial Esquematizado centro de decisões administrativas, 3ª. ed., p. 775;
53

ser demandada em juízo? De certo, o mesmo, ou os mesmos, objetivos da própria LREF como um
todo, quais sejam:

1. Impedir a dissipação dos bens da sociedade insolvente e assegurar, assim, o tratamento


igualitário dos credores no pagamento de seus créditos;
2. Afastar da atividade mercantil as empresas que não são mais economicamente viáveis e
que, por esse motivo, podem comprometer o regular desenvolvimento da economia como
um todo.
3. Preservar a continuidade das empresas viáveis economicamente, otimizando a utilização
produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa45.

De todos os critérios acima cima citados como assumidos pela doutrina e pela jurisprudência, somente
um propicia adequadamente a perseguição desses três objetivos, qual seja, o critério patrimonial,
apontado por Osvaldo Barreto Filho. Com efeito, ao fim e ao cabo, são os bens e direitos que compõem
o ativo de uma empresa, seja ela um pequeno armarinho de bairro, seja ela uma megaempresa do
varejo de eletrodoméstico. Em qualquer circunstância o que vai garantir a satisfação dos créditos dos
credores, primeiro objetivo do direito falimentar, é o patrimônio da devedora.

Não serão as decisões administrativa dos gerentes, em si, que materialmente satisfarão as obrigações
da empresa; muito menos os atos societários ou mesmo a atividade objeto da empresa. Serão os
imóveis, os móveis, as disponibilidades em dinheiro, o estoque, os créditos e os direitos perante
terceiros que serão usados para saldar as dívidas do ente empresarial.

E, se assim o é, para os fins a que se destinam os processos de cunho concursal, o principal


estabelecimento do devedor é aquele que possui maiores condições e facilidade de responder perante
os credores, ou seja, o estabelecimento que concentrar a titularidade (no caso de grupos de empresa)
ou a afetação (no caso de uma única pessoa jurídica com vários estabelecimentos) do maior valor
patrimonial.

Isso, independente, de tal unidade ser sede administrativa, societária ou operacional. Se, por exemplo,
voltando às megaempresas do varejo de eletrodoméstico, o centro administrativo de uma dessas
megaempresas detém a titularidade de propriedade de imóveis que compõe o maior ativo da rede,
será ele o seu principal estabelecimento.

Se, por outro lado, for a sua cede societária detentora da marca e demais intangíveis que componham
o maior ativo do ente empresarial, será este o seu principal estabelecimento. Numa terceira hipótese,
se o seu centro de distribuição operacional possuir estoque avaliado de forma a representar o maior
peso do ativo no balanço do grupo, ele será o principal estabelecimento para fins falimentares.

A contrário senso e de maneira retórica, o que aproveitaria aos credores o trâmite de eventual
processo de falência de uma megaempresa de eletrodomésticos no juízo do centro administrativo que
não possui bens a lhes garantir o crédito; da mesma forma em relação à sede societária da rede ou
em relação ao seu centro de distribuição?

45 Recurso Especial nº 1.107.937 – MT.


54

Ao que parece, seja do ponto de vista hermenêutico, seja do ponto de vista deontológico, seja do
ponto de vista pragmático, o mais razoável é que se considere como principal estabelecimento do
devedor, não só quando se trate das megaempresas referidas, aquele que possui o maior patrimônio
apto a satisfazer os direitos dos credores.

O tema é tormentoso e ainda aqui não foi levado em consideração as distinções patentes entre as
finalidades da falência e a recuperação de empresa, o que como se deve intuir, igualmente, devem
ser levadas em consideração para se estabelecer em cada caso o sentido menos ambíguo do que
venha a ser “principal estabelecimento do devedor”.

Para finalizar, esclareça-se que o judiciário já enfrentou o tema em relação a uma das empresas de
varejo aqui citada, a Eletrosom, no Conflito de Competência nº. 146.579 – MG, e por conta da
esperada complexidade do caso concreto, este será objeto de estudo em sala de aula.
55

Capítulo 03 3.1.4 Casuística - Intervenção


Disposições do Ministério Público na
Preliminares e Comuns Recuperação Judicial e na
Falência

RECURSO ESPECIAL Nº 996.264 - DF (2007/0241453-4)


RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
RECORRIDO : ARI ROBERTO MENEZES MONTEIRO
ADVOGADO : ALEXANDRE CASTRO CERQUEIRA

EMENTA

FALÊNCIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. FASE PRÉ-FALIMENTAR. DESNECESSIDADE DE INTERVENÇAO. LEI


N.11.101/05. NULIDADE INEXISTENTE.

I - A nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas (Lei nº 11.101/05) não exige a atuação
geral e obrigatória do Ministério Público na fase pré-falimentar, determinando a sua intervenção,
apenas nas hipóteses que enumera, a partir da sentença que decreta a quebra (artigo 99, XIII).

II - O veto ao artigo 4º daquele diploma, que previa a intervenção do Ministério Público no processo
falimentar de forma genérica, indica o sentido legal de reservar a atuação da Instituição apenas para
momento posterior ao decreto de falência.

III Ressalva-se, porém, a incidência da regra geral de necessidade de intervenção do Ministério


Público antes da decretação da quebra, mediante vista que o Juízo determinará, se porventura
configurada alguma das hipóteses dos incisos do artigo 82 do Código de Processo Civil, não se
inferindo, contudo, a necessidade de intervenção “pela natureza da lide ou qualidade da parte”
(artigo 82, inciso III, parte final) do só fato de se tratar de pedido de falência. IV - Recurso Especial a
que se nega provimento.

ACÓRDAO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, prosseguindo no
julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Vasco Della Giustina, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça,por maioria, negar provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do (a) Sr (a). Ministro (a) Relator (a). Votou vencido o Sr. Ministro Massami Uyeda.
Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Nancy Andrighi
votaram com o Sr. Ministro Relator. Não participou do julgamento o Sr. Ministro Paulo Furtado
(Desembargador convocado do TJ/BA).

Brasília, 19 de agosto de 2010 (Data do Julgamento)


56

Ministro SIDNEI BENETI


Relator

O EXMO SR. MINISTRO SIDNEI BENETI (Relator):

1.- MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS interpõe recurso especial com
fundamento na alínea a do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, contra Acórdão proferido
pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, que rejeitou alegação de nulidade
decorrente da falta de intervenção do Ministério Público na fase antecedente à decretação
da falência, na vigência da Nova Lei de Recuperações Judiciais e Falências (Lei 11101, de 9.2.2005).

O Acórdão, de que Relator o Des. JESUÍNO APARECIDO RISSATO, vem assim ementado (fls.38):

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FALÊNCIA. DECISAO QUE DECRETA A QUEBRA. FALTA DE INTIMAÇAO


DOMINISTÉRIO PÚBLICO NA FASE PRÉ-FALIMENTAR. IRRELEVÂNCIA. AUSÊNCIA DE NULIDADE.
AGRAVOIMPROVIDO.

1. Inexiste nulidade na sentença que decretou a falência sem a manifestação prévia do Ministério Público, vez
que a nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas (Lei n. 11.101, de 09.02.2005) não prevê a atuação
ministerial na fase pré-falimentar.

2. Segundo o magistério de FÁBIO ULHOA COELHO (in Comentários à Nova Lei de Falência e de Recuperação
deEmpresas, Saraiva, 3ª ed., p. 30), “O Ministério Público só começa a participar do processo falimentar depois
da sentença declaratória da falência. A lei prevê sua intimação apenas no caso de o juiz decretar a quebra do
devedor insolvente (art. 99, XIII). Durante a tramitação do pedido de falência, não há sentido nenhum em colher
sua manifestação”.

3. Agravo conhecido e improvido.

2.- O Recorrente alega que o veto presidencial ao dispositivo da Lei nº 11.101/05 que impunha a
intimação do Ministério Público para intervir em todas as fases do processo falimentar não afasta
tal obrigatoriedade quando presente alguma das hipóteses previstas no artigo 82 do Código de
Processo Civil. Ressalta que, não obstante o artigo 99, XIII, da Lei 11.101/05 determine a intimação
do Ministério Público apenas a partir da sentença que decreta a falência, se houver interesse
público, difuso ou coletivo, no processo, será de rigor a intervenção do Parquet inclusive na fase
pré-falimentar.

3.- A inobservância dessa formalidade implicaria, segundo sustenta, a nulidade do processo, nos
termos do artigo 246do Código de Processo Civil.

4.- O Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do Recurso Especial (fls. 70).

É o relatório.

VOTO

O EXMO SR. MINISTRO SIDNEI BENETI (Relator):


57

5.- A nova Lei de Recuperação de Empresas e Falências (Lei n. 11.101/05) não determina a atuação
do Ministério Público na fase pré-falimentar, realizada entre particulares, apenas a determinando
quando caracterizado o interessepúblico, o que se dá com a decretação da quebra.

A desnecessidade legal da intervenção, aliás, já se evidenciava nos últimos tempos sob a égide da
anterior Lei de Falências (Decreto-lei 7661, de 21.6.1945), a ponto de em alguns Estados ter havido,
mesmo, atos normativos daProcuradoria Geral da Justiça dispensando os Promotores de Justiça da
manifestação, caso lhes fossem enviados os autos com vista.

6.- A questão acerca da necessidade, ou não, de intervenção, foi presente na elaboração da Nova
Lei de Falências, terminando afastada a regra da obrigatoriedade.
Com efeito, o art. 4º do Projeto de Lei que resultou na Nova Lei de Falências previa a intervenção
do Ministério Público de forma geral. Mas tal dispositivo foi vetado pelo Presidente da República,
de modo que não há nenhuma disposição legal que determine, genericamente, essa intervenção.

A Nova Lei de Falências em verdade optou pelo sistema de reservar a intervenção do Ministério
Público para momentos específicos, considerados mais relevantes do processo da falência ou da
recuperação, nos quais, ao critério da Lei, sepatenteia o interesse público que exige a intervenção,
todos eles situados posteriormente à decretação da quebra.

As razões do veto presidencial deixam claro que o diploma legal se afastou da redação da anterior
Lei de Falências (Decreto-Lei 7661, de 21.6.1945), que continha previsão geral, diante da qual, por
décadas, o Ministério Público atuou na fase pré-falimentar até que a própria evolução
jurisprudencial deixou firme a desnecessidade da intervenção.

7.- A doutrina inicial a respeito da Nova Lei de Recuperações Judiciais e Falências revelou, é certo,
vacilação, a respeito do tema, dividindo-se as opiniões.

Alguns doutrinadores sustentaram que o veto ao art. 4º não restringia a atuação do Ministério
Público às hipóteses estabelecidas expressa e pontualmente na própria lei (WALDO FAZZIO JÚNIOR,
"Lei de Falência e Recuperação de Empresas", São Paulo: Atlas, 4ª ed., 2008, p. 260-261; RICARDO
NEGRAO, "Manual de Direito Comercial e de Empresa", São Paulo: Saraiva, vol. 3, 4ª ed., 2009, p.
459; e MANOEL JUSTINO BEZERRA FILHO, "Nova Lei de Falências Comentada", São Paulo: Revista
dos Tribunais, 3ª ed., 2005, p 55).

Outros, contudo, assinalaram que "o andamento célere do processo, de um lado, e a natureza
predominantemente privada dos interesses em jogo, de outro, recomendam a oitiva do Ministério
Público somente nos casos expressamente previstos em lei e naqueles em que houver relevante
interesse público" (NEWTON DE LUCCA, "Comentários a Nova Lei de Recuperação de Empresas e de
Falências, São Paulo: Quartier Latin , 2005, p. 101; AMADOR PAES DE ALMEIDA"Curso de Falência e
Recuperação de Empresa, São Paulo: Saraiva, 25ª ed., 2009, p. 216; SERGIO CAMPINHO, "Falência e
Recuperação de Empresa", Rio de Janeiro: Renovar, 3ª ed., 2008, p.49).

FÁBIO ULHOA COELHO, enfrentando clara e precisamente o tema, assinala: "O Ministério Público só
começa a participar do processo falimentar depois da sentença declaratória da falência. A lei prevê
sua intimação apenas no caso de o juiz decretar a quebra do devedor insolvente (art. 99, XIII).
Durante a tramitação do pedido de falência não há sentido nenhum em colher a sua manifestação
58

(...) e mesmo depois de decretada a falência, a atuação desse órgão deve ao contrário do que inspira
a cultura forense associada à Lei de 1945 ser a menor possível. Se não houver expressa e especifica
previsão legal de oitiva do Ministério Público, o juiz não deve remeter-lhe os autos da falência, para
prestigiar a nova sistemática e garantir uma das medidas adotadas com vistas a celeridade do
processo falimentar" ("Comentários a Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas, São
Paulo: Saraiva, 2ª ed., p. 31).

Essa última posição é a que deve prevalecer, tanto por ser a que se extrai da redação da lei,
observado o veto presidencial, afastando a geral e indeterminada intervenção do Ministério Público,
quanto por adequar-se à ressalva daintervenção mínima no processo de falência e recuperação,
enquanto se realiza entre os particulares, como, ainda, por ensejar mais celeridade ao
procedimento, eliminando a fragmentação procedimental e os sucessivos deslocamentos físicos dos
autos até o Ministério Público colocando, direta e imediatamente, ao Juiz o dever de decisão pronta
das questões ocorrentes, sem a válvula temporal do envio às manifestações do Ministério Público.

8.- Impossível ignorar que, na generalidade dos Estados da Federação, o próprio Ministério Público,
por atos das Procuradorias Gerais da Justiça de cada Estado, já vinha desobrigando os seus
representantes de atuar na fase pré-falimentar do processo de falência, evidentemente que
ressalvada, sempre, o caso de configuração de alguma das hipóteses gerais de atuação em todo e
qualquer processo, previstas no artigo 82 do Código de Processo Civil o que abaixo se analisará.

A inexistência de nulidade decorrente da falta de intervenção do Ministério Público na fase pré-


falimentar já se declarara, aliás, na aplicação da anterior Lei de Falências, por votação majoritária,
citando-se precedente desta mesma 3ª Turma, Rel. Minª NANCY ANDRIGHI ( REsp 867128/SP).

9.- Neste Tribunal, aliás, ao menos dois precedentes já indicavam a orientação da intervenção
mínima, que ora se proclama:

RECURSO ESPECIAL. PARTE MASSA FALIDA. INTERVENÇAO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. OBRIGATORIEDADE.

I - Nas ações, iniciadas durante a vigência do Decreto-Lei 7.661/45, em que são partes Massa Falida ou
SociedadeConcordatária e obrigatória a intervenção do Ministério Público (Art. 210 do Decreto-Lei 7.661/45).

II - Não se pronuncia a nulidade se o MP intervêm em segundo grau de jurisdição, sem apontar concretamente
a existência deprejuízo. Precedentes do STJ. (REsp 803.897/SC, ReI. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,
DJe 05/03/2008);

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇAO. NULIDADE DA DECISAO PROFERIDA NO JULGAMENTO DO


ESPECIAL, POR FALTA DE INTERVENÇAO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. EXECUÇAO FISCALPROMOVIDA
CONTRA A MASSA FALIDA.

1. Ainda que na antiga Lei de Falências - Decreto-Lei nº 7.661/45 - houvesse dispositivo a prever a oitiva do
Parquet em toda ação proposta pela massa falida ou contra ela, não se cogita, em direito processual civil, de
declarar;ao de nulidade sem demonstrar;ao concreta de prejuízo ( pas de nullité sans grief ). (EDcl no REsp
235.679/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, DJ 18/05/2007).

10.- Como se vê, a orientação que afasta a obrigatoriedade de intervenção o Ministério Público na
fase pré-falimentar, além de possuir em seu prol as razões acima apontadas (n. 7, último parágrafo,
supra), mostra-se perfeitamenteadequada a tendência que já se registrava em julgados deste
Tribunal, sob a égide, mesmo, da anterior Lei de Falências, que previa, genericamente, a
59

intervenção. Dessa forma, com muita razão, completa-se a evolução jurisprudencial no sentido
da dispensa de intervenção, salvo hipóteses em que a lei expressamente a determine.

11.- Pode, evidentemente, na fase pré-falimentar, apresentar-se alguma das hipóteses de


intervenção geral do Ministério Público em todo e qualquer processo, de modo que dessa regra não
se isentará o pedido da quebra na fase pré-falimentar.

Embora algumas das hipóteses sejam de difícil ocorrência, ressalvam-se elas para a exigência de
intervenção do Ministério Público, tal como enumeradas no artigo 82 do Código de Processo Civil),
que dispõe:

Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:

I - nas causas em que há interesse de incapazes;

II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento,
declaração deausência e disposição de última vontade;

III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse
público, evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

Assim, se ocorrente, na fase pré-falimentar, alguma dessas hipóteses especificas, em que a lei
processual determine expressamente a obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público na
generalidade dos processos cíveis, também noprocesso falimentar ele deverá intervir.
Nesse sentido a lição explicita de JOSÉ DA SILVA PACHECO (" Processo de Recuperação Judicial,
Extrajudicial e Falência ": Forense, Rio de Janeiro, 2006, p. 34):

(..) não tendo sido afastadas as disposições dos arts. 822 e833 doCódigo de Processo Civill,
as quais prevêem a possibilidade de intervenção do Ministério Público em qualquer processo,
no qual entenda haver interesse público, pode o seu representante fazê-lo, também, nos
processos concursais e naqueles em que a massa falida seja parte.

Atente-se, contudo, a que, quanto à última hipótese de intervenção prevista no art. 82 do Código
de Processo Civil("interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte "), essa
hipótese não se configura pelo só fato de tratar-se de fase pré-falimentar em processo de falência,
porque a natureza da lide falimentar já foi desconsiderada pela nova Lei de Recuperações e
Falências, tal como promulgada, com o veto presidencial, de modo que seria incongruente,
por interpretação, chegar a uma verdadeira derrogação oblíqua do texto legal, ou, por outras
palavras, ter-se-ia, por circunlóquio, uma verdadeira anulação disfarçada do veto presidencial.

12.- Da circunstância fática de por vezes o processo falimentar poder produzir consequências de
relevo para credores, empregados e outros interessados, não resulta a caracterização de situação
jurídica de"interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte", até porque,
a rigor, conseqüências iguais ou mesmo maiores também são produzidas por outros processos,
como os que lidam com a dissolução de sociedades, fusão e incorporação de empresas, participação
acionária e tantos outros, nos quais jamais se duvidou da desnecessidade de intervenção
do Ministério Público ou de vista à Instituição, ante a razão simples de que a lei não as determina.
60

Em verdade, aliás, se se proclamasse, agora, a necessidade de intervenção ou intimação, daí


resultaria larga avenida para a alegação de nulidade em todos os processos em curso em que não
tenham elas ocorrido, fazendo emergir uma como que gigantesca onda de nulidades hibernadas a
se transformarem em ensejo à litigância a à recorribilidade por partes e terceiros que tenham tido
interesses contrários, sob o pretexto da necessidade de proteção do interesse público - isso não
só nos processos falimentares, mas também nos demais casos alegáveis.

13.- Observe-se, ainda que, a exemplo do que se passa na generalidade dos processos judiciais, não
é necessária a determinação prévia de vista de todos os processos ao Ministério Público, para que
este verifique se se trata, ou não, de caso de sua participação, bastando que, como ocorre, repita-
se, na generalidade dos casos, o Juízo deverá, examinando o processo, verificar se se configura
alguma das hipóteses legais do aludido artigo 82 do Código de Processo Civil, para, caso
positivo, determinar a vista dos autos, aí sim, sob pena de nulidade.

Nesse ponto, assinale-se que inacolhível o argumento, que vez ou outra se vê na doutrina, de que a
vista prévia em todos os casos seria obrigatória, para que o órgão do Ministério Público verificasse,
em cada processo, a necessidade daprópria atuação. Ao Juízo incumbe, zelando pela regularidade
da relação jurídica processual, jurisdicionalmente decidir se ocorre a hipótese de intervenção e,
caso positivo, determiná-la. O ato é, portanto, indisfarçavelmente jurisdicional, e não de mera
opcionalidade do Ministério Público.

O argumento da necessidade de vista geral, para verificação, pelo Ministério Público, de


configuração de hipótese de intervenção não se sustentaria jamais, seja porque não haveria como
imaginar atividade seletiva discricionária de casos, quando a matéria é indisfarçavelmente
jurisdicional, seja porque o argumento em verdade provaria demais, pois equivaleria a instituir a
obrigatoriedade de vista de todos os processos cíveis ao Ministério Público, para que este, em cada
caso, verificasse eventual necessidade de intervenção, não instituída pela nova lei de Falências e
Recuperação.

14.- O caso presente, aliás, é típico exemplo da desnecessidade da grave regra de intervenção geral
do Ministério Público na fase pré-falimentar, pois aqui se tem prosaico pedido de falência de uma
sociedade dedicada a compra, venda e troca de veículos, com fundamento na alegação de execução
frustrada de dívida equivalente a R$ 73.232,05, não tendo sido apresentada defesa, nem
realizado depósito elisivo.

Não há nada, na fase pré-falimentar deste processo em específico, de que extraísse a conclusão de
presença do interesse público.

Volte-se à palavra FÁBIO ULHOA COELHO ( Comentários à Nova Lei de Falência e Recuperação de
Empresas. 3ª edição.: Saraiva, São Paulo, p. 268) na lição transcrita pelo Acórdão recorrido:
A participação do Ministério Público, como fiscal da lei e titular da ação penal, é compreensível
somente após a instauração do concurso de credores, quando podem entrar em conflito, de um lado,
os interesses dos trabalhadores, do Fisco e de sujeitos de direito vulneráveis, e de outro, os dos
credores cíveis, normalmente empresários e bancos. Mesmo assim, quando não houver as hipóteses
descritas na lei, não há razões para envolver o promotor de justiça na demanda.

15.-Ante o exposto, nega-se provimento ao Recurso Especial.


61

Ministro SIDNEI BENETI


Relator

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS):

Ao relatório do eminente Ministro Relator, acrescenta-se que o feito foi levado a julgamento pela
egrégia Terceira Turma, ocasião em que, após a prolação do voto do ilustre Ministro
Relator, negando provimento ao recurso especial, pedi vista dos autos para melhor exame
da questão jurídica em evidência.

A controvérsia posta a desate cinge-se em perquirir acerca da obrigatoriedade da intervenção do


Ministério Público na fase antecedente à decretação da falência, sob a égide da nova Lei de
Recuperação e Falências (Lei 11.101/2005).

É o breve relatório.

No sistema anterior, regido pelo Decreto-lei 7.661/45, prevalecia o entendimento de que o


Ministério Público somente deveria ter ciência do pedido de falência após a prolação da decisão de
quebra, ante a ausência de previsão legal quedeterminasse a intervenção do Ministério Público na
fase pré-falimentar.

Esta Turma julgadora teve a oportunidade de se pronunciar, recentemente, sobre o assunto, no


julgamento do REsp 867.128/SP, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, julgado em 01/10/2009, que
restou assim ementado:

COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DO DL Nº 7.661/45.


PRÉVIO AJUIZAMENTO DE AÇAO ANULATÓRIA DO TÍTULO QUE LASTREIA O PEDIDO. SUSPENSAO DO PEDIDO DE
FALÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE DEPÓSITO ELISIVO. NAO CABIMENTO. DECRETAÇAO DA FALÊNCIA PELO TRIBUNAL.
POSSIBILIDADE. INTERVENÇAO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ANTES DA DECRETAÇAO DA QUEBRA.
DESNECESSIDADE. INTERVENÇAO PRÉVIA DO PODER EXECUTIVO EM FALÊNCIAS DE EMPRESASAÉREAS.
DESNECESSIDADE. NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO DE RENEGOCIAÇAO DE DÍVIDA.
EXECUTIVIDADE. NOVAÇAO. MANUTENÇAO SUBSTANCIAL DA OBRIGAÇAO PRETÉRITA. INEXISTÊNCIA.
NOMEAÇAO DE SÍNDICO PELO TRIBUNAL, NO ATO DE DECRETAÇAO DA FALÊNCIA. POSSIBILIDADE. FALTA DE
NOMEAÇAO DE FISCAL PARA ACOMPANHAMENTO DA FALÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO PARA O ANDAMENTO
DO PROCESSO.

- Ainda que previamente ajuizada ação anulatória do título que lastreia o pedido de falência, se inexiste depósito
elisivo e não houve garantia do juízo, não há de se cogitar a suspensão do processo de falência, cuja natureza
processual de execução coletiva, de cognição sumária, permite a aplicação analógica do art. 585, 1º, do CPC.

- O procedimento estabelecido pelo DL nº 7.661/45 previa, para a fase pré-falimentar, uma instrução sumária,
própria das ações executórias, de sorte que, não havendo depósito elisivo e não sendo requerida a concessão do
prazo previsto no art. 11, 3º, o Tribunal, após afastar os argumentos da defesa, podia de plano decretar a
quebra.

- Não havia no DL nº 7.661/45 um único dispositivo que determinasse a intervenção do Ministério Público no
processo pré-falimentar. A análise sistemática do art. 15, II, permite concluir que o Ministério Público somente
deveria ter ciência do pedido de falência após a prolação da respectiva decisão de quebra.
62

- O art. 188 do Código Brasileiro de Aeronáutica veicula mera faculdade do Poder Público de intervir em
empresas aéreas, faculdade essa que não poderia embaraçar a efetividade do DL nº 7.661/45, que não
impunha nenhum empecilho à decretação da falência de empresas aéreas.

- O contrato de confissão de dívida é título executivo, podendo executar-se a nota promissória a ele vinculado.

- Não havendo a criação de uma obrigação nova para substituir a antiga, não há de se falar em novação.

- Na sistemática do DL nº 7.661/45, a nomeação do síndico faz parte do próprio conteúdo da declaração de


falência.

- Nos termos do parágrafo 2º do art. 201 do DL nº 7.661/45, a falta ou demora da nomeação do fiscal não
prejudica o andamento do processo da falência. Recursos especiais não providos. (REsp 867.128/SP, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/10/2009, DJe 18/11/2009).

A nova Lei de Recuperação e Falências (Lei 11.101/2005), a exemplo da legislação revogada,


também não dispõe de nenhuma regra específica, determinando a atuação do Ministério Público na
fase pré-falimentar.

Ademais, o art. 4º do Projeto de Lei, que previa a intervenção do Ministério Público de forma geral
nos processos de recuperação judicial e de falência, foi vetado pelo Presidente da República, de
modo que não subsiste na legislação atual nenhuma norma cogente que enseje, genericamente, a
obrigatoriedade de intervenção ministerial.

É certo que tais conclusões não afastam a exigência de intervenção do Ministério Público, caso
configurada alguma das hipóteses previstas expressamente no art. 82 do Código de Processo Civil,
circunstância que, contudo, deverá suplantar o simples fato de tratar-se de fase pré-falimentar em
processo de falência,"porque a natureza da lide falimentar já foi desconsiderada pela nova Lei de
Recuperações e Falências, tal como promulgada, com o veto presidencial ", como concluiu o
esmerado voto do eminente Relator Ministro Sidnei Beneti.

Ocorre que, concretamente, como bem visualizado pelo eminente Relator, não se identifica
interesse público a justificar a intervenção do Ministério Público, pois, nas palavras do e.
Ministro," aqui se tem prosaico pedido de falência de uma sociedade dedicada a compra, venda e
troca de veículos, com fundamento na alegação de execução frustrada de dívida equivalente a R$
73.232,05, não tendo sido apresentada defesa, nem realizado depósito elisivo ".

Ante o exposto, acompanho na íntegra o voto do e. Ministro Relator.

É como voto.

VOTO-VENCIDO

EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA:

Srs. Ministros, com todo respeito ao Ministro Relator e aos eminentes Ministros que acompanharam
o posicionamento de S. Exa., divirjo e dou provimento ao recurso; divirjo, e justifico as razões da
minha divergência.
63

A questão que se põe aqui é do papel desempenhado pelo Ministério Público na fase pré-falimentar.
O Ministério Público, no caso, do Distrito Federal e Territórios, reclama não ter tido a participação
na fase pré-falimentar, e oSuperior Tribunal de Justiça tem se manifestado no sentido de que a
intervenção ministerial só é cabível, só é possível, após a decretação.

Sempre pensei que esse entendimento, data maxima venia , não se coaduna com as relevantes
atribuições da própria Instituição, que é velar pelos interesses indisponíveis da sociedade, como
fiscal da lei. E, se há algo que está ínsita, recheada, plena, do interesse público, é um pedido de
quebra.

Um pedido de quebra representa um abalo na própria atividade de produção, comércio, indústria


etc., tanto é que, por isso mesmo, com a evolução, com a alteração da Lei de Falências, até surgir a
figura da liquidação extrajudicial, aintervenção judicial, encontramos, sempre, uma preocupação do
legislador em guarnecer essas atividades de produção de um abalo que possa representar a quebra
de uma empresa, de um comerciante, de um industrial com as gravesconsequências sociais que
advêm na parte trabalhista, no desemprego, na parte tributária, na própria estabilidade das relações
jurídicas dos contratantes, que assim firmaram negócio jurídico com o indigitado pré-falido.

Ora, muitas vezes a prática tem demonstrado que pedidos de quebra são sucedâneo de cobrança.
Momentaneamente, uma empresa se vê com uma dificuldade e, ao se ajuizar um pedido de quebra,
não se observa, exatamente, os requisitos formais, que são rígidos, para que se possa deferir um
processamento. E, se o papel do Ministério Público é ser custos legis , defensor dos interesses
dos direitos indisponíveis da sociedade, e só é permitido após a decretação da quebra,chegaremos
a uma situação, digamos, de quase uma teoria do fato consumado.

Então, baseado numa experiência pessoal, que me permito trazer à memória, nos idos de 1970 tive
a honra de pertencer ao Ministério Público do Estado de São Paulo posteriormente deixei o
Ministério Público e, mediante concurso, entrei na Magistratura , mas, naquela oportunidade, tive
uma atuação muito incisiva na Curadoria de Massas Falidas e, exatamente a solicitação,
a determinação do Juiz, anterior ao despacho de citação, uma manifestação do Ministério Público
para poder verificar se, efetivamente, estavam presentes os requisitos formais. Isso impediu, não só
na minha atuação como curador de massas falidas, mas também em toda a Curadoria, um controle
maior, uma capacidade defiscalizar a indiscriminada maneira de se requerer falência como
sucedâneo de cobrança.

Ainda recentemente, aqui tivemos um caso, de grande repercussão, da qual foi Relatora a eminente
Ministra Nancy Andrighi, e que versava sobre a decretação da falência da Transbrasil. E uma das
preliminares que foi ali arguida foi exatamente a não intervenção do Ministério Público na
fase anterior à decretação da quebra. A quebra foi decretada, afinal, após o julgamento do acórdão
em Segundo Grau. Aí então é que o processo foi encaminhado para a Procuradoria Estadual, e a
Procuradoria emitiu um parecer dizendo que tomava ciência e que estava de acordo com o
processado. Vem o recurso especial, são arguidas várias preliminares, que foram analisadas pela Sra.
Ministra Nancy Andrighi, em percuciente voto, de mais de quarenta páginas e, a Turma, por maioria,
ficando eu vencido, dizia da necessidade da intervenção, entre outras questões que foram ali
aventadas.
64

Esse processo ainda não transitou em julgado aqui, porque está pendente de embargos de
declaração. Nesses embargos de declaração, foi trazida a conhecimento o resultado do julgamento
de uma ação declaratória de anulação do título que embasou o decreto de falência, e que era uma
das preliminares, também levantadas, que eu tinha apreciado, e que era necessário dizer que me
parecia que o título que sustentava o pedido de falência não tinha as características de liquideze
certeza.

Se o Ministério Público atuado antes... Várias preliminares foram levantadas. Essas preliminares não
foram apreciadas pelo fiscal da lei. E todo o fundamento do voto do Sr. Ministro Sidnei Beneti, que
é um Juiz de formação profunda, tenho o maior respeito e sou testemunha de toda sua atuação
desde os tempos em que, como Promotor, S. Exa. era o Juiz da Comarca, e trabalhávamos ladoalado,
mas, dizer-se que não há interesse público porque não estaria configurada a figura do
art. 82 do Código de Processo Civil, penso, então, onde estaria? Haveria a necessidade de uma lei
específica? O Estatuto Falimentar de 1945 não prevê a figura, mas é elementar. E veio o Código de
Processo Civil de 1973, e, no art.82 declarou, como aqui citado, que, nas ações que envolvam
litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse
público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte, compete ao MinistérioPúblico
intervir.

E, quando o Código de Processo Civil, de 1973, foi promulgado, houve uma celeuma muito grande
para se saber a quem competia dizer se havia existência do interesse público: ao Ministério Público
ou ao Juízo?

Aqui, pelo voto que V. Exa. trouxe, o Juiz é que estaria avaliando o interesse público; por isso, estou...

Ministro MASSAMI UYEDA

VOTO-VENCIDO 2

EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA:

Estou dizendo isso porque, na verdade, esse meu posicionamento foi defendido lá naquele voto, e
estou acompanhando, porque penso eu que estaríamos cerceando aquilo que de mais essencial há
na atuação do Ministério Público, que é a defesa do interesse público.

O interesse público, pela parte, não é como V. Exa. diz, apenas uma agência de venda de automóveis:

" O caso presente, aliás, é típico exemplo da desnecessidade da grave regra de intervenção geral do Ministério
Público, na fase pré-falimentar, pois aqui se tem prosaico pedido de falência de uma sociedade indicada,
compra, venda e troca de veículos, com fundamento na alegação de execução frustrada de uma dívida
equivalente a R$ 73.000,00 (setenta e três mil reais), não tendo sido apresentada defesa, nem realizado
depósito elisivo. "

Mas a prosaica atividade de uma compra e venda de automóveis integra a cadeia de produção.
Então, essa é a minha preocupação.

Por isso, com todo o respeito, divirjo do voto de V. Exa., e dou provimento ao recurso especial.
Ministro MASSAMI UYEDA
65

CERTIDAO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada
nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Vasco Della Giustina, a Turma, por
maioria, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do (a) Sr (a). Ministro (a) Relator
(a). Votou vencido o Sr. Ministro Massami Uyeda. Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina
(Desembargador convocado do TJ/RS) e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator. Não
participou do julgamento o Sr. Ministro Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA).

Brasília, 19 de agosto de 2010

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

Documento: 978306 Inteiro Teor do Acórdão - DJe: 03/12/2010


66

Capítulo 03 3.1.5 Exercícios de Fixação


Disposições Disposições Preliminares
Preliminares e Comuns
01. Sobre a Teoria da Empresa no Direito Brasileiro não se pode afirmar que:

a) O legislador brasileiro, a exemplo do italiano que o inspirou em muitos aspectos, não define
empresa, mas sim empresário.
b) Segundo o art. 966, caput, do CC: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.

c) É possível extrair, do conceito legal de empresário, o de empresa como sendo “atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
d) O comerciante de perfumes que leva ele mesmo, à sacola, os produtos até os locais de trabalho ou
residência dos potenciais consumidores explora atividade de circulação de bens, fá-lo com intuito
de lucro, habitualidade e em nome próprio, mas é empresário.
e) Já o feirante que desenvolve seu negócio valendo-se apenas das forças de seu próprio trabalho e
de familiares (esposa, filhos, irmãos) e alguns poucos empregados, não é empresário porque não
organiza uma unidade impessoal de desenvolvimento de atividade econômica.

02. Sobre a Teoria da Empresa no Direito Brasileiro não se pode afirmar que:

a) O técnico em informática que instala programas e provê a manutenção de hardware atendendo


aos clientes em seus próprios escritórios ou casa; o professor de inglês que traduz documentos
para o português contratado por alguns alunos ou conhecidos deste; a massagista que atende a
domicílio e milhares de outros prestadores de serviço — que, de telefone celular em punho, rodam
a cidade — podem ser considerados empresários, pois desenvolvam atividade econômica.
b) O conceito legal de empresário não recobre todas as atividades econômicas. Permanece, no
interior da teoria da empresa, a classificação destas em empresariais ou não empresariais. No item
subsequente, serão delimitados os contornos de cada uma delas.
c) A adoção da teoria da empresa pelo direito brasileiro não implicou a superação da bipartição do
direito privado, que o legado jurídico de Napoleão tornou clássica nos países de tradição romana.

Alterou, isto sim, o critério de delimitação do objeto do Direito Comercial — que deixa de ser os
atos de comércio e passa a ser a empresarialidade —, mas não suprimiu a dicotomia entre o regime
jurídico civil e comercial.
d) A partir da introdução da teoria da empresa no direito positivo brasileiro, o Direito Comercial
(empresarial, de empresa, dos negócios — é indiferente a denominação que se lhe dê) deixa de ser
o ramo jurídico aplicável à exploração de certas atividades (as listadas como atos de comércio) e
passa a ser o direito aplicável quando a atividade é explorada de uma determinada forma (qual
seja, a forma empresarial).
e) Assim, de acordo com o Código Civil de 2002, continuam excluídas da disciplina do direito comercial
algumas atividades econômicas. São quatro as atividades econômicas não empresariais, cujos
exercentes não são empresários e não podem, por exemplo, pleitear o benefício da recuperação
judicial, nem falir, quais seja: as que não se enquadram no conceito legal de empresário; as
atividades intelectuais; as atividades dos empresários rurais não registrados na Junta Comercial; e,
67

as atividades das cooperativas.

03. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta.

I. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização
produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa.
II. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade, da economia processual e da salvabilidade do
crédito tributário.
III O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios
do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas na lei de falência, em que o
falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.
IV. Todas as ações do falido terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser intimado para
representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo.

a) As quatro assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.

04. Assinale a alternativa incorreta.

a) A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios
limitadamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os
créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para
todos os efeitos desta Lei.
b) Os pedidos de falência estão sujeitos a distribuição obrigatória, respeitada a ordem de apresentação.
c) As ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas a distribuição por dependência.
d) Os processos de falência e os seus incidentes preferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer
instância.
e) Considerar-se-ão habilitados os créditos remanescentes da recuperação judicial, quando definitivamente
incluídos no quadro-geral de credores, tendo prosseguimento as habilitações que estejam em curso.

05. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta.

I. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a
falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e,
por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.
III. A decretação da falência aplica-se ao sócio ilimitadamente responsável que tenha se retirado
voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois) anos, quanto às dívidas
existentes na data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data
da decretação da falência.
III. As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores ou liquidantes, os quais terão
os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido.

a) As três assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.
68

06. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta.

I. A Lei LRF não se aplica à empresa pública; à sociedade de economia mista; à instituição financeira; à
cooperativa de crédito; e, às sociedade anônimas com ações em bolsa de valores.
II. A Lei LRF não se aplica à entidade de previdência complementar (previdência privada); à sociedade operadora
de plano de assistência à saúde; à sociedade seguradora; à sociedade de capitalização; e, a consorcio.
III. A Lei LRF se aplica à grandes escritórios de arquitetura em que a figura dos sócios não seja preponderante
para o desenvolvimento da atividade; sociedades que desenvolvem atividades hospitalares; e, a sociedades
que desempenham atividades intelectuais em que esteja presente o elemento de empresa.

a) As três assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.

07. Assinale a alternativa incorreta.

a) É competente para decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial
de empresa que tenha sede fora do Brasil.
b) A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização
produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive, os intangíveis.
c) O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual.
d) O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios
do falido.
e) Segundo a LRF, são processadas no juízo indivisível da falência as causas trabalhistas e fiscais

08. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta.

I. Todas as ações fora do juízo falimentar - inclusive aquelas excetuadas - terão prosseguimento com o
administrador judicial.
II. As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores ou liquidantes, os quais terão
os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido.
III. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios da
empresa falida.

a) As três assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.

09. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta.

I. No caso da antecipação haverá abatimento proporcional dos juros, à taxa convencionada no contrato ou, na
sua falta, de acordo com as normas do código civil.
II. Dívidas em moeda estrangeira também vencem antecipadamente e devem ser convertidas em moeda
nacional pelo câmbio do dia da decisão de falência, para todos os efeitos da LRF.
III. Os pedidos de falência estão sujeitos a distribuição obrigatória, respeitada a ordem de apresentação. E as
ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas a distribuição por dependência.
69

IV. Os processos de falência e os seus incidentes preferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer
instância.

a) As quatro assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.

10. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta.

I. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a
falência destes. Tais sócios ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade
falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem (Art. 81)
II. Será apurada no próprio juízo da falência, independentemente, da realização do ativo, e da prova da sua
insuficiência para cobrir o passivo, a responsabilidade pessoal, estabelecida nas respectivas leis: 1. dos sócios
de responsabilidade limitada da sociedade falida 2. dos seus controladores, e 3. dos seus administradores.
Observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil (Art. 82).
III. Prescreverá em 05 anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação
de responsabilização de responsabilização pessoal referida (§ 1o).

a) As três assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.

11. Julgue as assertivas e marque a alternativa correta, segundo a Doutrina de Fábio Ulhoa Coelho.

I - A Lei de Falências se aplica à execução concursal (e aos meios de evitá-la, que passam a ser a recuperação
judicial e a extrajudicial) do devedor sujeito às normas do Direito Comercial.

II - No direito brasileiro, “empresa” deve forçosamente ser definida como atividade, uma vez que há conceitos
legais próprios para empresário (CC, art. 966) e estabelecimento (CC, art. 1.142).
III - Como deflui do conceito legal de empresário, “empresa” só pode ser entendida mesmo como uma atividade
revestida de duas características singulares: é econômica e é organizada.

a) As três assertivas são verdadeiras.


b) É falsa apenas a segunda assertiva.
c) É falsa apenas a primeira assertiva.
d) São verdadeiras apenas a primeira e a última assertivas.
e) É verdadeira apenas a última assertiva.

12. Em relação às hipóteses em que a lei prevê a participação do Ministério Público na falência pode-
se afirmar as seguintes assertivas, exceto:

a) O Ministério Público tem legitimidade para impugnar a relação de credores, a venda dos bens do
falido, para pedir a substituição do administrador judicial ou de membro do Comitê e para propor
a ação de rescisão de crédito e a revocatória.
b) O Ministério Público deve ser intimado da sentença declaratória da falência, do relatório do
70

administrador judicial que apontar a responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos no


processo e da designação da hasta para a venda ordinária dos bens do falido, bem como ser
informado pelo juiz de qualquer indício da prática de crime falimentar.
c) O Ministério Público pode pedir explicações ao falido e deve-se manifestar na prestação de contas
do administrador judicial.
d) O Ministério Público deve, ao ser intimado da sentença declaratória da falência, propor a ação
penal ou requisitar a instauração do inquérito policial, sempre que houver indícios de crime
falimentar.
e) O Ministério Público intervirá nos processos de recuperação judicial e de falência, além de intervir
em toda ação proposta pela massa falida ou contra esta.

13. O art. 1o. da LRF preceitua que seguinte:

Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário
e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.

Pergunta-se:

a) Quem é o empresário a quem a lei de falência de refere no art. 1o, É o representante ou controlador
de pessoa jurídica empresária?

b) A Lei n. 11.101/2005 se aplica as sociedades simples? Fundamente a sua resposta.

14. Em razão do veto do art. 4º da Lei de Falências, o Ministério Público ainda pode atuar no processo
falimentar? Justifique.

15. Quais são as finalidades prioritárias perseguidas pela lei de falência?

16. De que forma a função social da empresa transformou os paradigmas vigentes à luz da legislação
anterior?
71

Capítulo 03 3.2 Disposições Gerais Comuns


Disposições à Recuperação Judicial e à
Preliminares e Comuns Falência

CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA

Seção I
Disposições Gerais

Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:

I – as obrigações a título gratuito;

II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação


judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o
devedor.

Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação


judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

§ 1o Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que


demandar quantia ilíquida.

§ 2o É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou


modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza
trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão
processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que
será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.

§ 3o O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1o e 2o deste artigo poderá


determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou
na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe
própria.

§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em


hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias
contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após
o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e
execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

§ 5o Aplica-se o disposto no § 2o deste artigo à recuperação judicial durante o período


de suspensão de que trata o § 4o deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as
execuções trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já
esteja inscrito no quadro-geral de credores.
72

§ 6o Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de


distribuição, as ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser
comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial:

I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;

II – pelo devedor, imediatamente após a citação.

§ 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da


recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código
Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.

§ 8o A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a


jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo
ao mesmo devedor.
73

Capítulo 03 3.2.1.1 Comentários - Capítulo


Disposições II
- Disposições Comuns à
Preliminares e Comuns Recuperação Judicial E À
Falência; Seção I - Disposições
Gerais; Parte 01

Texto 07
Por Fábio Ulhoa Coelho
Comentários

Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:



I — as obrigações a título gratuito;

II — as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência,
salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.

15. Dispositivo equivalente na lei anterior


Na Lei de 1945, o dispositivo que cuidava das obrigações excluídas da falência era o art. 23, parágrafo
único, que prescrevia: “não podem ser reclamadas na falência: I — as obrigações a título gratuito e as
prestações alimentícias; II — as despesas que os credores individualmente fizerem para tomar parte
na falência, salvo custas judiciais em litígio com a massa; III — as penas pecuniárias por infração das
leis penais e administrativas”.
74

Duas diferenças devem ser destacadas.

A primeira diz respeito às prestações alimentícias. No sistema anterior, era obrigação que não se podia
reclamar na falência. O pressuposto — de resto, correto — do legislador era o de que a falência do
empresário individual devia ser suportada por todos os seus dependentes, para que se dispensasse
tanto àquele que havia cumprido suas obrigações com os familiares como o que havia fugido delas de
modo igual. A nova lei, ao admitir que o credor por alimentos concorra junto com os demais na falência
e na recuperação judicial ou extrajudicial, acaba incorrendo numa inversão de valores. Se o empresário
individual sustentava espontaneamente os familiares que dele dependem, esses últimos hão de sofrer
os efeitos da crise na empresa e nenhum deles poderá habilitar seu crédito; se, porém, havia sido
condenado a pagar alimentos — por evidente, porque não cumprira espontaneamente a obrigação —
, os alimentados podem concorrer com os demais credores. Felizmente, os empresários individuais
representam hoje parcela insignificante da economia, e a infeliz inversão de valores veiculada pela
nova lei não terá relevância prática nenhuma.

A segunda está relacionada às penas pecuniárias por infração das leis penais e administrativas. Na lei
anterior, esse crédito não era reclamável na falência. O credor devia simplesmente suportar a perda.
Na nova, ele passou a ser classificado como subquirografário (art. 83, VII). Se houver recursos, serão
atendidas as penas pecuniárias por infração das leis penais e administrativas.

16. Credores não admitidos


Dois são os credores não admitidos no processo de falência e na recuperação de empresa. De um lado,
os titulares de crédito derivado de obrigação gratuita e, de outro, os de crédito por despesas para
tomar parte nos feitos falimentares.
A inadmissão das obrigações gratuitas tem o sentido de
economizar os poucos recursos disponíveis para o atendimento dos credores que titulam crédito
derivado de negócio oneroso ou de natureza pública. Não seria justo comprometer parte dos recursos
disponíveis na massa ou no patrimônio do devedor em recuperação no atendimento a obrigação
gratuita, quando não há suficientes para pagamento de todos os credores.

Por seu turno, a inadmissão das despesas para fazer parte do processo de falência ou de recuperação
judicial representa uma exceção à regra geral da distribuição dos ônus da sucumbência. Nos feitos
falimentares, as custas e honorários de advogado despendidos pelo credor para habilitar-se e
eventualmente defender seu crédito não podem ser reclamados da massa ou do devedor em
recuperação.

Excetua-se da inadmissão — e, portanto, são reclamáveis nos feitos falimentares — as custas judiciais
decorrentes de litígio com o devedor. Se determinado credor precisou, por ação de conhecimento,
obter inicialmente a declaração da existência e extensão de seu crédito, as custas judiciais desse
processo ele pode habilitar na massa falida, mas não poderá reclamar as despesas e honorários de
advogado que pagar para promover a habilitação.

16-A. Garantias concedidas dentro do grupo


As garantias que um sujeito presta em favor de outro são classificadas entre os contratos gratuitos,
porque o garante, se for chamado a responder pela obrigação, poderá, no máximo, recuperar o
despendido do garantido. Quer dizer, não ganha nada com a operação; ao contrário, perde a
75

oportunidade de ganhar com o dinheiro que desembolsaria e atrás do qual teria, depois, que
correr[30]. Deste modo, em princípio, estão excluídos da falência e da recuperação judicial do garante
os créditos objeto de garantia.

Houve, porém, um caso em que as circunstâncias específicas levaram o TJSP a não considerar a
outorga de garantia um ato gratuito. Trata-se da recuperação judicial de uma sociedade limitada que
prestou garantia em favor de sua própria holding, que controlava a recuperanda quase
completamente. Tanto em primeiro grau, como em nível de recurso, considerou-se que o negócio
jurídico nada tinha de gratuito, já que inserido no contexto da exploração de atividade empresarial.

Segundo o Acórdão relatado pelo Des. Lino Machado: “Não é possível ver ato gratuito na participação
de pessoas jurídicas de um mesmo grupo econômico, como garantidoras, em empréstimo contraído
pela holding visando à sua reestruturação econômica e financeira, o que significa reestruturação
econômica e financeira de todo o grupo. Por isso, no AI n. 460.339.4/7 desta Câmara, em acórdão por
mim relatado, lê-se na ementa: ‘Não é gratuita a responsabilidade assumida pela devedora de dívida
de empresa do mesmo grupo econômico, e ainda tendo adquirido ações dadas em caução pela
devedora original’. Já no AI n. 555.224.4/0-00, também desta Câmara, relatado pelo Desembargador
Romeu Ricupero, lê-se na ementa: ‘Não é ato gratuito aquele em relação ao qual é possível identificar
contraprestação, ainda que intangível; não é ato gratuito aquele que não está isolado da atividade
empresarial; se a relação existente entre o devedor e o garante aponta para uma comunhão de
interesses comerciais, decorrente de uma determinada sinergia, a garantia produzirá seus regulares
efeitos; em suma, a garantia pessoal pode ser ato gratuito, quando nenhum interesse tinha o garante
no ato praticado, o que se presume se o ato não tem o caráter comercial ou dele nenhuma vantagem
era possível resultar para o devedor’. Evidentemente que, estando em situação econômica de perigo
a holding, natural será que se movimente em busca do apoio das demais pessoas jurídicas
pertencentes ao mesmo grupo econômico, as quais, não só por subordinação à sua controladora, mas
também por seu interesse próprio de manter saudável a situação econômica do grupo do qual faz
parte, vinculadas à sorte comum, não estarão fazendo nenhum favor em prestar sua garantia para o
pool de bancos que tenha aceito o risco de financiar a tentativa de salvação de uma grande empresa
multinacional”.
76

Capítulo 03 3.2.1.2 Custo Brasil e os


Disposições créditos que, Apesar de
Preliminares e Comuns Legítimos, não Podem ser
Cobrados nem na Recuperação
Judicial, nem na Falência; Ou
Porque O Art. 5º. Da LREF é
Injusto
Texto 08
Por Pedro Cabral

Devido à complexidade da legislação brasileira e à extrema ineficiência do poder judiciário na missão


de fazer valer as obrigações assumidas em negócios jurídicos, a insegurança jurídica a que se
submete os credores no Brasil é muito grande, ponto de tal fator ser considerado um dos elementos
componentes do que se convencionou chamar de Custo Brasil46.

Em conjunto com entraves burocráticos, corrupção, alta carga tributária, crescente regulação de
mercado e outros fatores característicos do ambiente nacional desfavorável aos negócios
empresariais, a inadimplência empresarial encontra condições para se alastrar diante das
dificuldades sistêmicas que os credores enfrentam para satisfazer os seus créditos.

46Assista programa que discute a inadimplência empresarial no país http://g1.globo.com/globo-news/videos/t/todos-os-videos/v/convidados-avaliam-


inadimplencia-das-empresas-brasileiras/3639568/
77

Como se não bastasse a conhecida morosidade do judiciário brasileiro47, muitos credores encontram
na legislação barreira normativas à satisfação de seus créditos, embora que legitimamente
constituídos, como é o caso dos termos postos pelo art. 5º. da Lei nº. 11.101/2005, que veda a
cobrança de obrigações a título gratuito assumidas pelos devedores em recuperação judicial ou que
tenham tido sua falência decretada.

Há quem defenda o dispositivo legal como forma de evitar a dilapidação do patrimônio empresarial
em desfavor dos credores de obrigações a título oneroso, o que, em sim, seria muito jutos. De fato,
prestigiar um donatário de bens ou um beneficiário de um ato de benemerência, a promessa de
reforma de instalações de um clube ou de uma igreja, credores a título gratuito, em detrimento do
direito creditório de fornecedores e empregados de um devedor em recuperação judicial ou mesmo
falido não seria razoável, num primeiro momento.

Mas tendo em vista que as obrigações a título gratuito são obrigações legítimas e que, pelo princípio
da presunção constitucional da presunção de inocência, não podem ser consideradas atos de
dilapidação fraudulenta do patrimônio do devedor, vê-se que a objeção referida como justificativa
da impossibilidade da cobrança dos créditos referidos não poderia vingar, a não ser a posteriori, em
caso de comprovada fraude.

Isso, além do fato de que as disposições a título gratuito geram expetativas firmes aos seus
beneficiários, que por sua vez pode ter planejado atos e negócios jurídicos com base no crédito
respectivo. A insatisfação desse crédito abala a segurança jurídica na cadeia de negócios que se
seguem a partir dele e tem o potencial de atingir terceiros de boa-fé, além do próprio beneficiário.

Há ainda a situações em que as disposições a título gratuito se dão em contexto negocial complexo,
como mecanismo mercadológico de fomento empresarial, o qual, inquinado de insegurança jurídica
pode ser extremamente prejudicial ao desenvolvimento da economia como um todo. É o caso dos
contratos de Vendor Finance e de Compror Finance48.

O Vendor Finance é o arranjo contratual entre Vendedor, Comprador e Instituição financeira, em


que o Vendedor afiança (no caso de contrato) ou avalisa (no caso de título de crédito), o crédito
cedido pela Instituição Financeira ao Comprador. Nesse caso, o Vendedor recebe o valor à vista da
Instituição Financeira, pro solvendo, do valor da venda efetivas ao Comprador que pagará à prazo
ao financiador acrescido de encargos financeiros.

Vencida a dívida e não paga pelo Comprador, o Vendedor, fiador ou avalista responde pela dívida
integralmente. Essa situação é bem comum nas atividades em que grandes industrias agem como
garantidores do crédito de comerciantes que escoam os seus produtos no mercado.

Já o Compror Finance é um arranjo contratual muito parecido com o Vendor, mas com troca de
posição entre garantidor e garantido. É o caso também corriqueiro em que grandes redes varegistas
ou grandes indústrias garantem o crédito de seus fornecedores de mercadoria ou matéria prima
perante instituições financeiras. No caso de inadimplência desses fornecedores, o Comprador
responde pela dívida perante a financiadora.

47http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18074&revista_caderno=27
48 http://www.coladaweb.com/economia/vendor-finance-e-compror-finance
78

Em ambos os casos, a garantia prestada é dada a título gratuito e o garantido não efetiva qualquer
contraprestação perante o garantidor, o qual, embora não remunerado diretamente, objetem
diversas vantagens negociais, como recebimento à vista do valor de sua venda (no Vendor) ou
descontos e/ou exclusividade na compra de fornecedores (no caso de Compror).

Se o Vendedor, no Vendor, ou o Comprador, no Compror, forem exonerados de suas obrigações


perante às instituições financeiras, que concederam créditos a terceiro em função da confiança que
depositaram em tais agentes econômicos, a injustiça fica mais patente ainda do que no caso de
doações e atos de benemerência.

Pior, o risco daí decorrente será incorporado ao cálculo dos juros de mercado que onerará todos os
demais tomadores de créditos no mercado, especialmente, aqueles usuários do Vendor e do
Compror, o que significa a imposição de ônus a quem não deu causa ao risco sistêmica – é a velha
máxima, o justo pagará pelo pecador.

Por fim, não se pode deixar de registrar que também é injusta a dispensa do devedor, na
recuperação judicial e na falência, do pagamento das “despesas que os credores fizerem para tomar
parte na recuperação judicial ou na falência”49, com exceção apenas das “custas judiciais decorrentes
de litígio com o devedor”. Isso, porque, impõe-se aos credores um empobrecimento para o qual ele
próprio não deu causa e o qual imputável exclusivamente ao devedor.

49 Art. 5º., II, da LREF.


79

Capítulo 03 3.2.1.3 Casuística - Cobrança


Disposições dos Encargos Legais da Fazenda
Preliminares e Comuns Pública Previstos no Decreto-Lei
1.025/1969

RECURSO ESPECIAL Nº 1.234.893 - SP (2011/0018451-2)

RELATOR: MINISTRO HERMAN BENJAMIN


RECORRENTE: FAZENDA NACIONAL
PROCURADOR: PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RECORRIDO: OS MESMOS

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E FINANCEIRO. FALÊNCIA. HABILITAÇÃO DO CRÉDITO DA FAZENDA NACIONAL. EXCLUSÃO


PARCIAL DOS ENCARGOS LEGAIS PREVISTOS NO DECRETO-LEI 1.025/1969, COM BASE NO ART. 5º, II, DA LEI
11.101/2005. NATUREZA JURÍDICA QUE NÃO SE CONFUNDE COM O CONCEITO DE "DESPESAS PARA TOMAR
PARTE NOS AUTOS FALIMENTARES". IMPOSSIBILIDADE.
1. Controverte-se a respeito do acórdão que, ao dar parcial ao Agravo de Instrumento do Ministério
Público do Estado de São Paulo, afirmou que o encargo previsto no art. 1º do Decreto-Lei
1.025/1969 possui dupla função: a) honorários advocatícios; e b) custeio de despesas de
arrecadação da dívida ativa federal.
2. Com base nesse entendimento, o Tribunal a quo afirmou que a parcela referente às despesas
arrecadatórias deve ser excluída do montante a ser habilitado, diante da redação do art. 5º, II, da
Lei 11.101/2005.
3. A norma acima referida prescreve que são inexigíveis, em relação ao devedor, "as despesas que
os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência".
4. Nota-se, portanto, que o legislador vinculou e especificou que não podem ser cobradas do
devedor as despesas cuja causa de origem esteja relacionada ao ingresso na demanda falimentar.
5. Sucede que o STJ, ao apreciar, sob o rito do art. 543-C do CPC, a possibilidade de cobrança dos
encargos legais do Decreto 1.025/1969 nos autos da Execução Fiscal, definiu que, após a
modificação introduzida pela Lei 7.713/1988, a referida verba, além de inconfundível com os
honorários de advogado, constitui receita do Fundo Especial de Desenvolvimento e
Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização – Fundaf (REsp 1.110.924/SP).
6. Segundo o Direito Financeiro, receitas e despesas são termos cujos conceitos não se confundem.
7. À luz da disciplina específica, constata-se, portanto, que o encargo legal do Decreto-Lei
1.025/1969 constitui receita da União (pois o Fundaf ostenta natureza jurídica de fundo contábil),
e não despesa, razão pela qual, por integrar a dívida ativa da Fazenda Pública, pode ser exigido
em Execução Fiscal ou, opcionalmente, habilitado em Ação Falimentar.
80

8. Não bastasse isso, trata-se de crédito cuja origem é totalmente desvinculada da necessidade de a
Fazenda Pública "tomar parte na falência", mesmo porque exigível, independentemente da
situação de insolvência do devedor.
9. Recurso Especial da Fazenda Nacional provido. Imprescindível a devolução dos autos ao TJ/SP para
que, em continuação ao julgamento do Agravo de Instrumento, proceda à análise da ordem de
classificação da verba controvertida, para os fins do art. 83 da Lei 11.101/2005.
10. Recurso Especial do Ministério Público do Estado de São Paulo prejudicado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso da Fazenda
Nacional e julgou prejudicado o recurso do Ministério Público do Estado de São Paulo, nos termos do voto do
Sr. Ministro-Relator, sem destaque." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Cesar Asfor Rocha, Castro
Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 18 de agosto de 2011(data do julgamento).

MINISTRO HERMAN BENJAMIN


Relator

RECURSO ESPECIAL Nº 1.234.893 - SP (2011/0018451-2)

RELATOR: MINISTRO HERMAN BENJAMIN


RECORRENTE: FAZENDA NACIONAL
PROCURADOR: PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RECORRIDO: OS MESMOS

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):

Trata-se de Recurso Especial interposto por ambas as partes contra acórdão assim ementado:

FALÊNCIA – HABILITAÇÃO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO DA UNIÃO FEDERAL – ENCARGO LEGAL DE 20% DO


DECRETO-LEI Nº 1.025/69 – SE O ACRÉSCIMO LEGAL INSTITUÍDO PELO DL 1.025/69 SUBSTITUI, NOS EMBARGOS,
OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (SÚMULA 168/TFR), ELE É SEMPRE DEVIDO, QUER EM EXECUÇÃO FISCAL,
QUER EM HABILITAÇÃO DE CRÉDITO EM FALÊNCIA – CONTUDO, SE ESSE ACRÉSCIMO LEGAL DESTINA-SE AINDA
A CUSTEAR AS DESPESAS ASSOCIADAS À ARRECADAÇÃO DA DÍVIDA ATIVA FEDERAL, NOS TERMOS DO ART. 3º
DA LEI 7.711/88, ENTÃO ELE DEVERIA PERMITIR REDUÇÃO, OU SEJA, UMA PARTE REFERENTE À SUBSTITUIÇÃO
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DEVERIA SER INCLUÍDA E OUTRA PARTE REFERENTE A CUSTEAR AS DESPESAS
ASSOCIADAS À ARRECADAÇÃO DA DÍVIDA ATIVA FEDERAL DEVERIA SER EXCLUÍDA – INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO
NO ART. 5º, II, DA LEI Nº 11.101/05 – REDUÇÃO DO ENCARGO LEGAL PARA 10% – AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
81

Os Embargos de Declaração opostos pelo Parquet estadual foram acolhidos, implicando alteração na
classificação dos honorários advocatícios.

O Ministério Público do Estado de São Paulo alega violação do art. 5º, II, e 83, V e VI, da Lei
11.101/2005; do art. 1º do Decreto-Lei 1.025/1969; do art. 3º da Lei 7.711/1988; do art. 24 da Lei
8.906/1994 e do art. 20 do CPC.

A Fazenda Nacional afirma que foram infringidos o art. 1º do Decreto-Lei 1.025/1969; o art. 5º, II, da
Lei 11.101/2005; e o art. 208, § 2º, do Decreto-Lei 7.661/1945. Assevera que há divergência
jurisprudencial com o acórdão proferido no AgRg no REsp 263.013/PR.

O Ministério Público Federal opinou pelo provimento do Recurso Especial do MP/SP, prejudicado o
apelo nobre fazendário.

É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.234.893 - SP (2011/0018451-2)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):

Os autos foram recebidos neste Gabinete em 9.5.2011.

As partes submetem à análise deste Tribunal Superior a matéria concernente à possibilidade de


habilitação, nos autos da Ação de Falência, do encargo legal previsto no Decreto-Lei 1.025/1969.

O Tribunal de origem, em interessante análise da referida verba, consignou que se trata de quantia
que serve a dois propósitos distintos: a) honorários advocatícios; e b) custeio de despesas associadas
à arrecadação da dívida ativa federal. Transcrevo o seguinte excerto do voto-condutor (fls. 94-95, e-
STJ):

Esta Câmara Especial, apreciando a questão, em várias oportunidades decidiu que o acréscimo legal instituído
pelo Decreto-lei nº 1.025/69 podia ser exigido na falência independentemente da propositura da execução fiscal
e da caracterização da sucumbência, na medida em que o e. Superior Tribunal de Justiça pacificou o
entendimento de que aquele não pode mais ser considerado como mero substituto da verba honorária
sucumbencial. (...)

Tal entendimento veio a se alterar, após pioneiro e magnífico voto do Desembargador ROMEU RICUPERO, no
julgamento do Agravo de Instrumento nº 605.016.4/9-00, de que participei como vogal, aderindo integralmente
à orientação adotada pelo relator sorteado.

Naquela ocasião, depois de percuciente análise da doutrina e da jurisprudência, o ilustre relator chegou às
seguintes conclusões: "(a) nas cobranças de créditos tributários em face da massa falida são exigíveis honorários
advocatícios; (b) se o acréscimo legal instituído pelo DL 1.025/69 substitui, nos embargos, os honorários
advocatícios (Súmula 168/TFR), ele é sempre devido, quer em execução fiscal quer em habilitação de crédito
em falência, (c) contudo, se esse acréscimo legal destina-se ainda a custear as despesas associadas à
82

arrecadação da dívida ativa federal, nos termos do art. 3º da Lei 7.711/88, então, ele deveria permitir redução,
ou seja, uma parte referente à substituição dos honorários advocatícios deveria ser incluída e outra parte
referente a custear as despesas associadas à arrecadação da dívida ativa federal deveria ser excluída".
(...)

Por essa razão, a Corte local aplicou o art. 5º da Lei 11.101/2005 para afirmar que a parcela referente às
despesas de custeio com a arrecadação da dívida ativa não deveriam ser incluídas no crédito cuja habilitação
foi pleiteada. A (parcela) relativa aos honorários de advogado, estimada na metade do encargo legal, foi
mantida na habilitação, embora considerada como crédito com privilégio geral, nos termos do art. 83, V, c/c o
art. 24 da Lei 8.906/1994.

O Ministério Público Estadual afirma que a habilitação é indevida, porque a lei não estipula quanto
dos 20% definidos no art. 1º do Decreto-Lei 1.025/1969 são referentes a honorários advocatícios e,
conseqüentemente, quanto diz respeito às despesas para arrecadação da dívida ativa. Ademais,
afirma que o aludido encargo não possui natureza de verba honorária, pois preexistente à
habilitação, "e cuja classificação não se coaduna com a constante no Estatuto da OAB" (fl. 154, e-
STJ).

A Fazenda Nacional, por seu turno, afirma que o encargo controvertido não pode ser cindido, pois o
"fato do encargo substituir duas verbas, não significa que ele se confunda ou se reduza a uma delas"
(fl. 184, e-STJ). Defende o argumento de que deve ser pago como crédito fiscal privilegiado.

Como a questão debatida em ambos os recursos é a mesma, examinarei o seu mérito para, ao final,
apresentar as minhas conclusões.

A natureza do encargo legal previsto no Decreto-Lei 1.025/1969 foi amplamente debatida no


julgamento do Recurso Especial 1.110.924/SP, de relatoria do E. Ministro Benedito Gonçalvez, no rito
do art. 543-C do CPC.

Ratificou-se naquela oportunidade a orientação de que, após a modificação introduzida pela Lei
7.711/1988, tal verba não se confunde com honorários advocatícios, pois constitui receita do Fundo
Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização – FUNDAF, instituído
pelo Decreto-Lei 1.437/1975.

Transcrevo o seguinte excerto do respectivo voto-condutor:

Ocorre que, com a entrada em vigor da Lei n. 7.711/88, foi criado o Fundo Especial de Desenvolvimento e
Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização, para o qual, nos termos do artigo 4º da mesma lei, devem ser
destinados, dentre outros, o encargo de 20% previsto no Decreto-Lei 1.025/69.

Os recursos que compõem tal Fundo são destinados a custear as despesas referentes ao "programa de trabalho
de incentivo à arrecadação da dívida ativa da União", previsto pelo artigo 3º da já mencionada Lei 7.711/88,
despesas essas que não se limitam a substituir condenação em verbas honorárias, mas se referem a uma série de
outros gastos decorrentes da propositura das execuções fiscais.

É o que se depreende da leitura dos artigos a seguir transcritos, in verbis :

Art. 3º A partir do exercício de 1989 fica instituído programa de trabalho de "Incentivo à Arrecadação
da Dívida Ativa da União", constituído de projetos destinados ao incentivo da arrecadação,
administrativa ou judicial, de receitas inscritas como Dívida Ativa da União, à implementação,
desenvolvimento e modernização de redes e sistemas de processamento de dados, no custeio de taxas,
83

custas e emolumentos relacionados com a execução fiscal e a defesa judicial da Fazenda Nacional e sua
representação em Juízo, em causas de natureza fiscal, bem assim diligências, publicações, pro labore
de peritos técnicos, de êxito, inclusive a seus procuradores e ao Ministério Público Estadual e de
avaliadores e contadores, e aos serviços relativos a penhora de bens e a remoção e depósito de bens
penhorados ou adjudicados à Fazenda Nacional.

Parágrafo único. O produto dos recolhimentos do encargo de que trata o art. 1º Decreto-Lei nº 1.025,
de 21 de outubro de 1969, modificado pelo art. 3º do Decreto-Lei nº 1.569, de 8 de agosto de 1977,
art. 3º do Decreto-Lei nº 1.645,de 11 de dezembro de 1978, e art. 12 do Decreto-Lei nº 2.163, de 19
de setembro de 1984, será recolhido ao Fundo a que se refere o art. 4º, em subconta especial,
destinada a atender a despesa com o programa previsto neste artigo e que será gerida pelo Procurador-
Geral da Fazenda Nacional, de acordo com o disposto no art. 6º desta Lei.

Art. 4º A partir do exercício de 1989, o produto da arrecadação de multas, inclusive as que fazem parte
do valor pago por execução da dívida ativa e de sua respectiva correção monetária, incidentes sobre
os tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal e próprios da União,
constituirá receita do Fundo instituído pelo Decreto-Lei nº 1.437, de 17 de dezembro de 1975, excluídas
as transferências tributárias constitucionais para Estados, Distritos Federal e Municípios.

Dessa forma, se o encargo de 20% previsto no Decreto-lei 1.025/69 se destina a Fundo cuja função é fazer face
a despesas que não abrangem apenas honorários, não se justifica o afastamento da obrigação da massa falida
em efetuar seu pagamento, justamente porque tal despesa não se amolda à hipótese do artigo 208, § 2º, da
antiga Lei de Falências.

As conclusões acima, como se vê, demonstram que o encargo legal não tem natureza de honorários
advocatícios, razão pela qual se tornam inaplicáveis as disposições do art. 20 do CPC e do art. 24 da Lei
8.906/1994.

Embora a matéria então analisada tivesse por objeto a definição quanto à possibilidade de cobrança,
nos autos da Execução Fiscal, do encargo previsto no Decreto-Lei 1.025/1969, é evidente que os seus
fundamentos se aplicam ao caso dos autos.

Pois bem, conforme ficou demonstrado, a natureza legal do encargo previsto no art. 1º do Decreto-
Lei 1.025/1969 é de receita que compõe Fundo de natureza contábil.

Quanto ao art. 5º, II, da Lei 11.101/2005, tem-se que dispõe o seguinte:

Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:

(...)

II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas
judiciais decorrentes de litígio com o devedor. (grifei)

Consoante se infere da norma, o termo "despesas" vem aqui veiculado de forma finalista, isto é, são
inexigíveis as despesas que o credor tiver de suportar, quando relacionadas ao ingresso nos autos da
Recuperação Judicial ou da Falência.

Outro não é o ensinamento do renomado jurista Fábio Ulha Coelho:

(...) a inadmissão das despesas para fazer parte do processo de falência ou de recuperação judicial representa
84

uma exceção à regra geral da distribuição dos ônus da sucumbência. Nos feitos falimentares, as custas e
honorários de advogado despendidos pelo credor para habilitar-se e eventualmente defender seu
crédito não podem ser reclamados da massa ou do devedor em recuperação.

Excetua-se da inadmissão – e, portanto, são reclamáveis nos feitos falimentares – as custas judiciais
decorrentes de litígio com o devedor. Se determinado credor precisou, por ação de conhecimento,
obter inicialmente a declaração da existência e extensão de seu crédito, as custas judiciais desse
processo ele pode habilitar na massa falida, mas não poderá reclamar as despesas e honorários de
advogado que pagar para promover a habilitação. (grifei) (Comentários à nova Lei de Falências e de
recuperação de empresas; 2ºed. rev. – São Paulo: Saraiva, 2005, pág. 35)

Ora, por qualquer ângulo que se pretenda analisar a questão, conclui-se que o acórdão do Tribunal de origem
merece reforma.

Com efeito, qualificando-se o encargo legal do Decreto-Lei 1.025/1969 como receita de Fundo
contábil, e não como despesa, a regra do art. 5º, II, da Lei 11.101/2005 não pode ser utilizada para
excluí-la na habilitação do crédito da Fazenda Pública.

Ademais, o aludido encargo não constitui despesa suportada pela União "para fazer parte na
falência", pois, conforme reconhecido pelo MP/SP, constitui crédito da União preexistente – e, diga-
se além, absolutamente desvinculado – da situação de insolvência.

Diante do exposto, deve ser anulado o acórdão proferido no Tribunal de origem, pois, como visto, o
encargo legal do Decreto-Lei 1.025/1969 constitui receita da Fazenda Pública, inconfundível com os
honorários advocatícios ou com a dívida principal (in casu, tributo).

Dito de outro modo, devem os autos retornar ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, para
que, em continuidade ao julgamento do Agravo de Instrumento, seja analisada, para fins de
habilitação nos autos falimentares, a respectiva ordem de classificação.

Com essas considerações, dou provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional. Julgo
prejudicado o Recurso Especial do Ministério Público do Estado de São Paulo.

É como voto.
85

Capítulo 03 3.2.1.4 Casuística - Honorários


Disposições Advocatícios em Contrato de
Preliminares e Comuns Prestação de Serviço
Continuada e sua Cobrança na
Falência

EDCL NO RECURSO ESPECIAL Nº 1.368.550 - SP (2013/0039058-0)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


EMBARGANTE : STAMPAFARE EMBALAGENS LTDA - MASSA FALIDA
ADVOGADO : ADNAN ABDEL KADER SALEM E OUTRO(S) - SP180675
EMBARGADO : ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA SÉRGIO BERMUDES
ADVOGADO : ALESSANDRA MARQUES MARTINI E OUTRO(S) - SP270825

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO E CONTRADIÇÃO.


INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE.
1. Nos termos do artigo 1.022 do NCPC, cabem embargos de declaração contra decisão judicial para
esclarecer obscuridade ou eliminar contradição, corrigir erro material e/ou suprir omissão de ponto
sobre o qual deveria ter se pronunciado o julgador, aí incluídas as condutas descritas no § 1º do
artigo 489 do novel codex, caracterizadoras de carência de fundamentação válida. Nada obstante,
não se prestam os aclaratórios ao simples reexame de questões já analisadas, com o intuito de dar
efeito infringente ao recurso integrativo.
2. Embargos de declaração rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, por unanimidade, rejeitar os embargos
de declaração, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti
(Presidente) e os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro
Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília (DF), 16 de maio de 2017(Data do Julgamento)


MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
Relator

EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.368.550 - SP (2013/0039058-0)


EMBARGANTE : STAMPAFARE EMBALAGENS LTDA - MASSA FALIDA
ADVOGADO : ADNAN ABDEL KADER SALEM E OUTRO(S) - SP180675
EMBARGADO : ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA SÉRGIO BERMUDES
ADVOGADO : ALESSANDRA MARQUES MARTINI E OUTRO(S) - SP270825
86

RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

1. Cuida-se de embargos de declaração opostos por STAMPAFARE EMBALAGENS LTDA - MASSA FALIDA
em face de acórdão da Quarta Turma, de minha relatoria, que negou provimento ao recurso especial
do ora insurgente, nos termos da seguinte ementa:

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL CONVOLADA EM FALÊNCIA. CRÉDITO CORRESPONDENTE AOS


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DEVIDOS À SOCIEDADE DE ADVOGADOS CONTRATADA PARA FORMULAR E
ACOMPANHAR O PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CRÉDITO EXTRACONCURSAL. INTERPRETAÇÃO LÓGICO-
SISTEMÁTICA E TELEOLÓGICA DAS NORMAS E PRINCÍPIOS NORTEADORES DA LEI 11.101/2005.

1. Os artigos 67 e 84, inciso V, da Lei 11.101/2005 determinam que, em caso de decretação da falência, os créditos
decorrentes de obrigações contraídas durante a recuperação judicial serão classificados como créditos
extraconcursais submetidos ao concurso especial estabelecido no artigo 84 do citado diploma legal, sendo pagos
antes dos créditos sujeitos ao concurso geral do artigo 83 (créditos trabalhistas e equiparados, créditos com
garantia real, créditos tributários, créditos com privilégio especial, créditos com privilégio geral e créditos
quirografários).

2. O marco temporal estabelecido pela lei em comento para que seja reconhecida a extraconcursalidade dos
créditos é o nascimento da obrigação (ou a prática do ato jurídico válido) durante a recuperação judicial.

3. Ao definir o significado da expressão "durante a recuperação judicial", a Quarta Turma assentou que "abrange o
período compreendido entre a data em que se defere o processamento da recuperação judicial e a decretação da
falência, interpretação que melhor harmoniza a norma legal com as demais disposições da lei de regência e, em
especial, o princípio da preservação da empresa (LF, art. 47)" (REsp 1.399.853/SC, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,
Rel. p/ Acórdão Ministro Antônio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 10.02.2015, DJe 13.03.2015).

4. Diante deste quadro, remanesce delimitar o sentido das expressões "créditos decorrentes de obrigações
contraídas pelo devedor" ou "obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados" durante a recuperação
judicial, para fins de aferição da extraconcursalidade prevista nos artigos 67 e 84 da Lei 11.101/2005.

5. Em se tratando de crédito decorrente de contrato de execução continuada ou periódica (também chamado de


contrato de duração), a inferência de que a classificação da extraconcursalidade do crédito vincula-se à data da
Documento: 1603329 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/05/2017 Página 2 de 6 Superior Tribunal
de Justiça formalização da avença não guarda coerência com o objetivo primordial do instituto da recuperação
judicial, isto é, o restabelecimento da força
econômica e produtiva em declínio. Assim, em regra, independentemente da data da celebração do contrato de
duração, a extraconcursalidade deve ser atribuída aos créditos decorrentes do fornecimento de bens ou da
prestação de serviços ocorridos após o deferimento do processamento da recuperação judicial. Exegese defluente
do parágrafo único do artigo 67 da Lei 11.101/2005 (privilégio atribuído aos titulares de créditos quirografários que
continuam a fornecer bens ou serviços) e da situação dos credores trabalhistas. Inexigibilidade de novos contratos,
revelando-se suficiente a aferição do momento em que os bens ou serviços foram fornecidos/prestados.

6. No caso concreto, cuidando-se de contrato de evidente execução continuada (estabelecendo prestação de


serviços jurídicos até o encerramento da recuperação judicial), deve-se abstrair o fato de ter sido verbalmente
pactuado antes do marco temporal reconhecido pela jurisprudência. É que grande parte da assessoria advocatícia
contratada foi efetivamente prestada após o deferimento do processamento da recuperação.

7. Ademais, não se pode olvidar que a atuação do advogado é imprescindível para garantir o acesso do empresário
ou da sociedade empresária à recuperação judicial. Nessa perspectiva, em virtude do princípio da preservação da
empresa, deve-se prestigiar a conduta do advogado (ou sociedade de advogados) que, ciente da crise econômica e
financeira que acomete a recuperanda, empreende esforços concretos voltados à reestruturação da atividade
empresarial, mediante a elaboração e o ingresso do pedido de recuperação judicial, além da prestação de serviços
jurídicos até o seu encerramento com a decretação da falência.
87

8. À luz do princípio geral da presunção de boa-fé, cabia a qualquer um dos credores, à massa falida ou ao
administrador judicial aventar a eventual má-fé do prestador do serviço, o que não ocorreu, sobressaindo,
outrossim, a consonância dos honorários contratados com o parâmetro mínimo estipulado pela Tabela da Ordem
dos Advogados do Brasil da Seção de São Paulo.

9. Recurso especial não provido.

Em suas razões, o embargante aponta omissão no julgado sobre qual a classificação dos créditos da
sociedade de advogados na ordem interna do artigo 83 da Lei 11.101/2005. Pleiteia que, se a verba
honorária for considerada equiparada aos créditos trabalhistas, deve ser aplicado o limite de 150
salários mínimos previsto no inciso I do dispositivo legado citado.

É o relatório.

VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. Não merece prosperar o recurso.

Nos termos do artigo 1.022 do Novo CPC (aplicável à espécie), cabem embargos de declaração contra
decisão judicial para esclarecer obscuridade ou eliminar contradição, corrigir erro material e/ou suprir
omissão de ponto sobre o qual deveria ter se pronunciado o julgador, aí incluídas as condutas descritas
no § 1º do artigo 489 do novel codex, caracterizadoras de carência de fundamentação válida. Nada
obstante, não se prestam os aclaratórios ao simples reexame de questões já analisadas, com o intuito
de dar efeito infringente ao recurso integrativo.

Na hipótese, a embargante alega omissão quanto à ordem de pagamento dos créditos decorrentes
dos honorários advocatícios devidos em razão do ajuizamento da recuperação judicial, à luz do artigo
83 da Lei 11.101/2005.

Verifica-se, contudo, que o acórdão embargado bem elucidou a questão, ao consignar que, em caso
de decretação da falência, os créditos decorrentes de honorários advocatícios contratados para o
ajuizamento da recuperação judicial são classificados na quinta posição dos créditos extraconcursais
submetidos ao concurso especial estabelecido no artigo 84 da Lei 11.101/2005, sendo pagos antes
dos créditos sujeitos ao concurso geral do artigo 83 (créditos trabalhistas e equiparados, créditos com
garantia real, créditos tributários, créditos com privilégio especial, créditos com privilégio geral e
créditos quirografários).

Assim, sobressai o intuito da embargante de reverter o resultado do julgamento que lhe fora
desfavorável, ultrapassando, assim, os restritos limites dos embargos de declaração, os quais não
permitem a reapreciação da causa, sendo certo que o efeito modificativo pretendido somente é
possível em casos excepcionais e uma vez comprovada a obscuridade, contradição ou omissão do
julgado, vícios não configurados na espécie.

3. Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração.

É como voto.
88

Capítulo 03 3.2.1.6 Exercício de Fixação


Disposições Capítulo II
- Disposições
Preliminares e Comuns Comuns à Recuperação Judicial
E À Falência; Seção I -
Disposições Gerais; Parte 01

01. Não se sujeitam à recuperação judicial os créditos:

f) cujo credor seja titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis.
g) de natureza trabalhista ou fiscal.
h) garantidos por hipoteca registrada antes do pedido de recuperação judicial.
i) não vencidos na data do pedido de recuperação judicial.
j) constituídos antes do pedido de recuperação judicial.
89

Capítulo 03 3.2.2.1 Comentários - Capítulo II


Disposições 
- Disposições Comuns à
Preliminares e Comuns Recuperação Judicial E À
Falência; Seção I - Disposições
Gerais; Parte 02
Texto 09
Por Fábio Ulhoa Coelho
Comentários

Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial


suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário.


§ 1o Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia
ilíquida.


§ 2o É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de


créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as
impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até
a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor
determinado em sentença.

§ 3o O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1o e 2o deste artigo poderá determinar a
reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez
reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.


§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma
excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores
de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

§ 5o Aplica-se o disposto no § 2o deste artigo à recuperação judicial durante o período de suspensão


de que trata o § 4o deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções trabalhistas poderão ser
normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no quadro-geral de credores.
§ 6o
Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que
venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da
recuperação judicial:
I — pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;

II — pelo devedor, imediatamente após a citação.

§ 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial,
ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação
ordinária específica.
§ 8o A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a
90

jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo
devedor.

17. Dispositivos equivalentes na lei anterior


São vários os dispositivos da lei anterior equivalentes ao artigo acima.

À cabeça do artigo e aos §§ 1o e 2o correspondem os arts. 24 e seus §§ e o 47.

Ao §3o corresponde o art.130 e ao § 8o, o §1o do art.202.


Não há correspondente, na antiga lei, aos §§ 4o a 7o.

18. Suspensão da prescrição


A prescrição das obrigações do falido suspende-se com a decretação da quebra; a das obrigações do
devedor em recuperação judicial quando do deferimento do processamento desta. Elas voltam a fluir
com o trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência ou da recuperação judicial.


Não se suspendem, no entanto, a prescrição das obrigações de que era credor o falido ou titular da
empresa em recuperação, nem a fluência de prazos decadenciais, mesmo das obrigações devidas por
eles (cabendo, na hipótese de falência, ao administrador judicial atentar para uma e outra no interesse
da massa).

Desse modo, se o devedor era o sacado de uma duplicata mercantil, vencida 6 meses antes da
sentença de falência ou despacho de processamento da recuperação judicial, susta-se a fluência da
prescrição, que no caso é de 3 anos, a contar do vencimento. Proferida a sentença de encerramento
de um ou outro processo, os 2 anos e 6 meses restantes passam a fluir do trânsito em julgado desta.
Caso se encontrem bens do falido ou do titular da empresa em recuperação durante esse prazo, o
credor pode executá-los singularmente, já que a duplicata ainda não prescreveu.


Se, ao revés, o falido ou titular da empresa em crise era o sacador do título (ou seja, credor), o
administrador judicial (no primeiro caso) e o empresário ou sociedade empresária (no segundo) têm
os mesmos 3 anos, a contar do vencimento, para ajuizar a execução contra o devedor, uma vez que a
decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial não alteram o
curso da prescrição nesse caso.

Se o prazo não é prescricional, mas decadencial, não se opera, como visto, a suspensão. E aqui é
irrelevante se o falido ou o titular da empresa em crise é sujeito ativo ou passivo da obrigação. Os
consumidores que desejam reclamar por vícios no produto ou serviço adquirido deles têm o mesmo
prazo que possuíam antes da falência (30 ou 90 dias, conforme seja fornecimento não durável ou
durável etc.[31]). Do mesmo modo, se o falido havia adquirido de outro empresário um insumo com
vício, o prazo de 30 dias para reclamar a rescisão do contrato ou a redução proporcional do preço (CC,
art. 445) não se altera pela decretação da falência.

19. Suspensão das execuções individuais na falência



91

Um dos principais efeitos da decretação da falência em relação aos credores do falido é a suspensão
das execuções individuais em curso. Cuida-se de consequência da edição da sentença declaratória da
falência, que inicia o processo de execução concursal do empresário individual ou da sociedade
empresária insolvável. Seria de fato despropositado que os credores pudessem continuar exercendo
individualmente seu direito à cobrança judicial, concomitante à tramitação do concurso. Estariam,
nesse caso, sendo desenvolvidas duas medidas judiciais de idênticas finalidades, a execução individual
e a concursal. Por essa razão, suspendem- se as execuções em que seja executado o falido (aquelas
em que ele é exequente prosseguem).

Essa suspensão, na grande maioria das vezes, será definitiva, isto é, corresponderá à extinção do
processo. As execuções individuais apenas retornarão seu curso regular caso a decretação da falência
seja reformada no julgamento de recurso (agravo ou embargos).

A única exceção da lei à regra da suspensão das execuções diz respeito às fiscais. Isto porque,
tecnicamente falando, as ações que demandam quantia ilíquida e as reclamações trabalhistas não são
execuções, mas processos de conhecimento. Com ênfase, de acordo com a lei, a instauração da
execução concursal apenas não inibe o prosseguimento das execuções fiscais. O art. 187 do CTN
determina que o crédito tributário não participa de concurso de credores.

Há, contudo, duas situações a considerar, em que cabe ao juiz ampliar o leque de exceções à regra
geral de suspensão das execuções individuais contra a falida. Assim, devem continuar tramitando
simultaneamente à falência:


a) Execução individual com hasta já designada. O juiz da falência pode, na sentença declaratória,
determinar que não se suspendam as execuções individuais com hasta já designada como medida de
economia processual. Sendo um dos objetivos da falência a venda dos bens do ativo da falida, e a
execução individual estando já adiantada a ponto de se encontrar às vésperas da alienação judicial,
recomenda o princípio da economia que se realize o ato nesta última. Nesse sentido, a hasta (praça
ou leilão) é realizada na época da designação, mas o seu produto não é levantado pelo exequente, e
sim entregue à massa. O credor que movia a execução individual deverá habilitar o seu crédito na
falência. Resultando infrutífera a hasta, e não mais subsistindo as razões de economia processual que
justificavam a exceção, suspende-se também essa execução individual. O bem penhorado é
arrecadado para oportuna alienação na falência.

b) Execução individual com hasta já realizada. Esta execução não se suspende porque, na verdade, o
bem da devedora já foi liquidado. Considera-se, então, que a execução individual atingiu seu objetivo
antes da decretação da falência. Nesta hipótese, o credor que movia a execução individual levanta, do
produto apurado em hasta, o valor de seu crédito. Se o produto da venda judicial do bem penhorado
não for suficiente para a integral satisfação do crédito exequendo, o credor poderá habilitar na falência
o saldo em aberto. Se, após o pagamento do exequente individual, restar ainda produto da hasta, ele
será entregue à massa.

As ações e execuções que não se suspendem com a falência terão prosseguimento com a massa falida
no polo ativo ou passivo da relação processual, representando-a, judicialmente, o administrador
judicial.

20. Suspensão das execuções na recuperação judicial



92

Se a suspensão das execuções contra o falido justifica-se pela irracionalidade da concomitância de


duas medidas judiciais satisfativas (a individual e a concursal) voltadas ao mesmo objetivo, na
recuperação judicial o fundamento é diverso.


Suspendem-se as execuções individuais contra o empresário individual ou sociedade empresária que


requereu a recuperação judicial para que eles tenham o fôlego necessário para atingir o objetivo
pretendido da reorganização da empresa. A recuperação judicial não é execução concursal e, por isso,
não se sobrepõe às execuções individuais em curso. A suspensão, aqui, tem fundamento diferente. Se
as execuções continuassem, o devedor poderia ver frustrados os objetivos da recuperação judicial, em
prejuízo, em última análise, da comunhão dos credores.

Por isso, a lei fixa um prazo para a suspensão das execuções individuais operada pelo despacho de
processamento da recuperação judicial: 180 dias. Se, durante esse prazo, alcança-se um plano de
recuperação judicial, abrem-se duas alternativas: o crédito em execução individual teve suas
condições de exigibilidade alteradas ou mantidas. Nesse último caso, a execução individual prossegue.

Também na recuperação judicial, a suspensão não atinge as execuções fiscais, que devem prosseguir.

21. As ações contra o devedor


As ações de conhecimento contra o devedor falido ou em recuperação não se suspendem pela


sobrevinda da falência ou do processo visando o benefício. Não são execuções e, ademais, o legislador
reservou a elas um dispositivo específico preceituando o prosseguimento (§ 1o).


As ações monitórias também não se suspendem se estiverem tramitando para discussão de obrigação
ilíquida. Mas se não foram embargadas, como deveriam prosseguir com observância das normas
atinentes às execuções (CPC, art. 1.102c), as ações monitórias se suspendem.


Nas reclamações trabalhistas e nas ações que não se suspendem, cabe a reserva do valor em
discussão. Prevê a lei atual — diferentemente da anterior — que a competência para determinar a
reserva é a do juiz perante o qual tramita a reclamação trabalhista ou a ação não suspensa.

22. Prevenção


Nas comarcas em que houver mais de um juízo com competência para a matéria falimentar, a
distribuição do primeiro pedido de falência ou de recuperação judicial referente a determinado
empresário individual ou sociedade empresária previne a competência para apreciação dos pedidos
seguintes.


Na Comarca de São Paulo, por exemplo, os foros regionais não têm competência para a falência, mas
as 44 Varas Cíveis do foro central são todas competentes para os feitos falenciais. A distribuição do
primeiro pedido de falência contra certa sociedade limitada, para, por exemplo, a 28a Vara Cível,
torna-a competente, por prevenção, para todos os pedidos de falência posteriormente aforados
contra essa mesma sociedade.

A execução, no caso de tríplice omissão, e o pedido de homologação de plano de recuperação


93

extrajudicial não geram prevenção. Como se trata de norma excepcional a que determina a prevenção
— ela, na verdade, excepciona o princípio do juiz natural —, deve ser interpretada restritivamente.
Não havendo expressa menção à homologação de plano de recuperação extrajudicial ou à execução
que se revelar frustrada, deve-se considerar que a distribuição desses feitos não previne a jurisdição.

22-A. Suspensão das execuções contra os sócios avalistas


Ao julgar os Embargos Infringentes 7.166.479-6/02, o TJSP considerou, em Acórdão relatado pelo Des.
Antonio Marson, que a recuperação judicial da sociedade empresária importa a suspensão da
execução movida contra os seus sócios, na condição de avalistas da recuperanda. Considerou-se que,
se a lei determina a suspensão das execuções em andamento contra os sócios solidários, não haveria
motivos para não se suspenderem também as que executam os sócios na condição de devedores
solidários. Segundo o Acórdão: “Se suspensas as ações e execuções dos credores particulares dos
sócios solidários, com mais razão se suspendem as ações e execuções ajuizadas em face da pessoa
jurídica devedora e seus sócios, na qualidade de devedores solidários”.

O melhor entendimento sobre a matéria, contudo, está com os votos vencidos.

Do voto do Des. Silveira Paulilo extrai-se: “Não há que se fazer confusão,venia concessa, entre sócio
solidário e devedor solidário, ainda que sócio. O art. 6o da nova Lei de Falências trata do primeiro, e
não do segundo. Sócio solidário é aquele em que a natureza jurídica da sociedade os impõe, como é
o caso da sociedade em nome coletivo. Na hipótese presente, contudo, os coobrigados executados
são avalistas das notas promissórias exequendas, pouco importando ostentarem a condição de sócios
da sociedade garantida, que é uma limitada”.

E do voto do Des. Mauro Conti Machado: “A compreensão da suspensão sob a ótica do art. 6o da Lei
11.101, de 2005, tem, como se vê, inicialmente, o óbice da independência da obrigação do avalista,
que não é e nem pode ser compreendida como semelhante à do avalizado se é pelo contrário exigível
independente. É dizer, em outras palavras, seria exigível com ou sem a vigência do art. 6o da Lei
11.101, de 2005. O motivo, próximo e objetivo, que determina a suspensão com o deferimento da
recuperação judicial tem em mira essa realidade fática, onde está presente a supremacia do interesse
coletivo da massa de credores inicialmente com a sua projeção a toda coletividade, ao próprio Estado
pela continuidade da atividade econômica que ensejará a exigibilidade dos tributos, que são essenciais
à realização de sua missão constitucional na distribuição do bem comum, e não outra qualquer, como
seria, e é, aí, com a devida vênia, a proteção do interesse individual do avalista”.

22-B. Registro da falência no distribuidor


Súmula 54 do TJSP: “O registro do ajuizamento de falência ou de recuperação de empresa no cartório


do distribuidor ou nos cadastros de proteção ao crédito não constitui ato ilegal ou abusivo”.

Coelho, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de recuperação de empresas. 9a. ed. São Paulo : Saraiva,
2013. 1.
94

Capítulo 03 3.2.2.2 Casuística - Recurso


Disposições Repetitivo - Recuperação
Preliminares e Comuns Judicial de Devedor Principal e
Terceiros Devedores Solidários
ou Coobrigados em Geral 50 51 52
53 54 55

REsp 1333349 / SP - RECURSO ESPECIAL 2012/0142268-4; Relator(a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
(1140); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data do Julgamento 26/11/2014; Data da
Publicação/Fonte DJe 02/02/2015; RMP vol. 56 p. 379; RSTJ vol. 236 p. 324

Ementa

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ N.


8/2008. DIREITO EMPRESARIAL E CIVIL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCESSAMENTO E CONCESSÃO.
GARANTIAS PRESTADAS POR TERCEIROS. MANUTENÇÃO. SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO DE AÇÕES
AJUIZADAS CONTRA DEVEDORES SOLIDÁRIOS E COOBRIGADOS EM GERAL. IMPOSSIBILIDADE.
INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 6º, CAPUT, 49, § 1º, 52, INCISO III, E 59, CAPUT, DA LEI N. 11.101/2005.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: "A recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros
devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se

50 Pertinente ao Art. 6o da LREF.


51 Súmula 581 - Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data do Julgamento 14/09/2016; Data da Publicação/Fonte DJe 19/09/2016. Enunciado: A
recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou
coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória.
52 Competência para deferir a suspensão dos processos individuais: AgInt nos EDcl no REsp 1323788 / DF. Ementa: AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS

DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. ANÁLISE PELO JUÍZO DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência da Segunda Seção desta Corte é no sentido de que, deferido pedido de recuperação
judicial, suspendem-se as execuções em curso contra a empresa recuperanda, podendo este prazo, eventualmente, ultrapassar o limite de 180 (cento e
oitenta) dias previsto no art. 6°, § 4°, da Lei 11.101/2005, tendo em vista as dificuldades inerentes ao próprio procedimento de recuperação. 2. No caso
dos autos, a questão acerca da suspensão dos prazos das execuções individuais deverá ser decidida pelo Juízo da recuperação judicial, a quem compete
analisar o caso concreto, ao menos até haver pronunciamento definitivo acerca da continuidade ou não do processo de recuperação. 3. Agravo interno
a que se nega provimento.
53 Caso complexo da Brasil Telecom: AgInt no AREsp 972332 / RS: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. BRASIL TELECOM. SUBSCRIÇÃO

DE AÇÕES. PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO EM VIRTUDE DE DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. VIA ESPECIAL
INADEQUADA. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 502 E 505 DO CPC. SÚMULA 284 DO STF. VALOR PATRIMONIAL DA AÇÃO. COISA JULGADA. DATA LIMITE DOS
DIVIDENDOS. SÚMULA 284 DO STF. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Em demandas de complementação acionária de telefonia envolvendo a OI S.A., quando
não há notícia de concessão de tutela provisória recursal, que excepcional e eventualmente poderia ocasionar a prática de atos expropriatórios, o recurso
especial não se revela a sede própria para a realização do pedido de suspensão do processo em virtude de deferimento de processamento de recuperação
judicial, de forma que ele deve ser formulado perante o juízo de origem. 2. Em relação à alegada ofensa aos arts. 502 e 505 do CPC, não se vislumbra a
aduzida violação por falta de articulação de argumentos jurídicos a embasar tal assertiva, caracterizando deficiência de fundamentação. Incidência da
Súmula 284 do STF. 3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é consolidada no sentido de que, havendo definição no título judicial exequendo
quanto ao critério de apuração do VPA, ele deve ser observado em sede de cumprimento de sentença, em respeito à coisa julgada. 4. No tocante ao
tema sobre a data limite dos dividendos, a ausência de indicação de dispositivo de lei federal tido por violado caracteriza a deficiência de fundamentação
a inviabilizar a abertura da instância especial. Aplicação da Súmula 284/STF. 5. Pedido de suspensão do processo indeferido. Agravo interno não provido.
Idem AgInt no AREsp 972396 / SC; AgInt no AREsp 969592 / SC.
54 Pertinente CC 142726 / GO; AgRg no REsp 1575215 / MT.
55 Penhora e deferimento da Recuperação Judicial REsp 1635332 / RJ AgInt no AgRg no AREsp 835530 / SC (pode haver a desconstituição da penhora?)
95

lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o
art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005".

2. Recurso especial não provido.

Informativo de Jurisprudência 56 57

DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE DEVEDOR PRINCIPAL E TERCEIROS DEVEDORES


SOLIDÁRIOS OU COOBRIGADOS EM GERAL. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-
STJ).

A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão
ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia
cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, III, ou a
novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei 11.101/2005.

De fato, a recuperação judicial divide-se, essencialmente, em duas fases: (a) a primeira inicia-se com o
deferimento de seu processamento (arts. 6º, caput, e 52, III, da Lei 11.101/2005); e (b) a segunda, com a
aprovação do plano pelos credores reunidos em assembleia, seguida da concessão da recuperaçãopor
sentença (arts. 57 e 58, caput) ou, excepcionalmente, pela concessão forçada da recuperação pelo juiz, nas
hipóteses previstas nos incisos do § 1º do art. 58 (Cram Down).

No que diz respeito à primeira fase (a), uma vez deferido o processamento da recuperação, entre outras
providências a serem adotadas pelo magistrado, determina-se a suspensão de todas as ações e execuções. É o
que prescreve o art. 6º, caput, da Lei 11.101/2005: "A decretação da falência ou o deferimento do
processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e
execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário".

No mesmo sentido, o art. 52, III, do mesmo diploma legal: "Estando em termos a documentação exigida no art.
51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: [...] III - ordenará a
suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os
respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta
Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei [...]".

A par disso, ressalte-se ainda que, em não raras vezes, o devedor solidário é, também, sócio da pessoa
jurídica em recuperação. Contudo, os devedores solidários da obrigação - que tem como devedor principal a
empresa recuperanda - não podem alegar em seu favor a parte final do caput do referido art. 6º como
fundamento do pedido de suspensão das ações individuais ajuizadas contra eles, invocando, assim, a redação
que determina a suspensão das ações não apenas contra o devedor principal, mas também "aquelas dos
credores particulares do sócio solidário".

Isso porque o caput do art. 6º da Lei 11.101/2005, no que concerne à suspensão das ações por ocasião do
deferimento da recuperação, alcança os sócios solidários, figuras presentes naqueles tipos societários em que
a responsabilidade pessoal dos consorciados não é subsidiária ou limitada às suas respectivas quotas/ações,
como é o caso, por exemplo, da sociedade em nome coletivo (art. 1.039 do CC/2002) e da sociedade
em comandita simples, no que concerne aos sócios comanditados (art. 1.045 do CC/2002).

56 Vide também Informativo nº 0554 Período: 25 de fevereiro de 2015.


57https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=@cnot=%2715141%27
96

Diferentemente, é a situação dos devedores solidários ou coobrigados, haja vista que para eles a disciplina é
exatamente inversa, prevendo o § 1º do art. 49, expressamente, a preservação de suas obrigações na
eventualidade de ser deferida a recuperação judicial do devedor principal: "Os credores do devedor em
recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de
regresso".

Portanto, não há falar em suspensão da execução direcionada a codevedores ou a devedores solidários pelo só
fato de o devedor principal ser sociedade cuja recuperação foi deferida, pouco importando se o executado é
também sócio da recuperanda ou não, uma vez não se tratar de sócio solidário. Nesse sentido, aliás, o
Enunciado 43 da I Jornada de Direito Comercial realizada pelo CJF/STJ determina que a "suspensão das ações e
execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor".

Sob outro enfoque, no tocante à segunda fase (b), a aprovação do plano opera - diferentemente da primeira
fase - novação dos créditos, e a decisão homologatória constitui, ela própria, novo título executivo judicial. É o
que dispõe o art. 59, caput e § 1º, da Lei 11.101/2005: "O plano de recuperação judicial implica novação dos
créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias,
observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei [...] § 1º A decisão judicial que conceder a recuperação
judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III, do caput da Lei nº 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 - Código de Processo Civil".

Antes de prosseguir, a respeito da novação comum, destaque-se que os arts. 364 e 365 do CC prescrevem,
respectivamente, que "A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver
estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese,
se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação" e que "Operada a novação
entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação
subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato
exonerados".

A despeito disso, as execuções intentadas contra a empresa recuperanda e seus garantes não podem ser
extintas nos termos dos referidos arts. 364 e 365 do CC. De igual sorte, as garantias concedidas não podem ser
restabelecidas em caso de futura decretação de falência, apesar do disposto no art. 61, § 2º, da Lei
11.101/2005, segundo o qual "Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias
nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos
validamente praticados no âmbito da recuperação judicial".

Tudo isso porque a novação prevista na lei civil é bem diversa daquela disciplinada na Lei 11.101/2005. Se a
novação civil faz, como regra, extinguir as garantias da dívida, inclusive as reais prestadas por terceiros
estranhos ao pacto (art. 364 do CC), a novação decorrente do plano de recuperação traz, como regra, ao
reverso, a manutenção das garantias (art. 59, caput, da Lei 11.101/2005), as quais só serão suprimidas ou
substituídas "mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia", por ocasião da alienação
do bem gravado (art. 50, § 1º). Além disso, a novação específica da recuperação desfaz-se na hipótese de
falência, quando então os "credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente
contratadas" (art. 61, § 2º). Daí se conclui que o plano de recuperação judicial opera uma novação sui generis e
sempre sujeita a condição resolutiva - que é o eventual descumprimento do que ficou acertado no plano -,
circunstância que a diferencia, sobremaneira, daquela outra, comum, prevista na lei civil.

Dessa forma, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as
garantias reais ou fidejussórias são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos
contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores,
avalistas ou coobrigados em geral.
97

Importa ressaltar que não haveria lógica no sistema se a conservação dos direitos e privilégios dos credores
contra coobrigados, fiadores e obrigados de regresso (art. 49, § 1º, da Lei 11.101/2005) dissesse respeito
apenas ao interregno temporal que medeia o deferimento da recuperação e a aprovação do plano, cessando
tais direitos após a concessão definitiva com a decisão judicial.58

58 Precedentes citados: REsp 1.326.888-RS; REsp 1.269.703-MG; AgRg no REsp 1.334.284-MT; AgRg nos EDcl no REsp 1.280.036-SP e EAg 1.179.654-SP.
98

Capítulo 03 3.2.2.3 Casuística - Reclamação


Disposições Trabalhista que Persegue
Preliminares e Comuns Crédito Oriundo de Trabalho
Realizado em Momento
Anterior ao Pedido De
Recuperação Judicial 59 60 61 62 63
64

REsp 1634046 / RS - RECURSO ESPECIAL 2016/0250770-3; Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI


(1118); Relator(a) p/ Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150); Órgão Julgador T3 -
TERCEIRA TURMA; Data do Julgamento 25/04/2017; Data da Publicação/Fonte DJe 18/05/2017;

Ementa

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO TRABALHISTA. DISCUSSÃO


QUANTO AO MOMENTO DA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRABALHISTA. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
QUE PERSEGUE CRÉDITO ORIUNDO DE TRABALHO REALIZADO EM MOMENTO ANTERIOR AO PEDIDO
DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUBMISSÃO AOS SEUS EFEITOS, INDEPENDENTE DE SENTENÇA
POSTERIOR QUE SIMPLESMENTE O DECLARE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não
vencidos (art. 49, caput, da Lei n. 11.1.01/2005). 1.1 A noção de crédito envolve basicamente a troca
de uma prestação atual por uma prestação futura. A partir de um vínculo jurídico existente entre as
partes, um dos sujeitos, baseado na confiança depositada no outro (sob o aspecto subjetivo,
decorrente dos predicados morais deste e/ou sob o enfoque objetivo, decorrente de sua capacidade
econômico-financeira de adimplir com sua obrigação), cumpre com a sua prestação (a atual), com o
que passa a assumir a condição de credor, conferindo a outra parte (o devedor) um prazo para a
efetivação da contraprestação. Nesses termos, o crédito se encontra constituído, independente do
transcurso de prazo que o devedor tem para cumprir com a sua contraprestação, ou seja, ainda, que
inexigível.

59 Pertinente ao §1º. do Art. 6o da LREF.


60 Sobre sentença estrangeira e continuidade de ação para cobrança de crédito ilíquido vide SEC 14519 / EX, SEC 12574 / EX.
61 REsp 1634046 / RS, no mesmo sentido.
62 Ver também REsp 1399853 / SC e REsp 1185567 / RS, peculiaridade
63 AgRg no CC 132344 / SP - AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2014/0024169-1; Relator(a) Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO

(1144); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data do Julgamento 22/10/2014; Data da Publicação/Fonte DJe 28/10/2014. Ementa: AGRAVO
REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL EM PROCESSAMENTO NO JUÍZO LABORAL. ANTERIOR DEFERIMENTO DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. LEI N. 11.101/05. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICO-TELEOLÓGICA DOS SEUS DISPOSITIVOS. MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE
ECONÔMICA. RECENTE REAFIRMAÇÃO DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL PELO SEGUNDA SEÇÃO NO JULGAMENTO DO AGRG NO CC 134.470/RS (MIN.
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, DJE DE 01/10/2014). ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ART. 97 DA CF/88. INEXISTÊNCIA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO CONFLITO PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DE FALÊNCIAS E RECUPERAÇÕES
JUDICIAIS DO FORO CENTRAL CÍVEL DE SÃO PAULO - SP. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
99

2. A consolidação do crédito (ainda que inexigível e ilíquido) não depende de provimento judicial que
o declare e muito menos do transcurso de seu trânsito em julgado, para efeito de sua sujeição aos
efeitos da recuperação judicial.

2.1 O crédito trabalhista anterior ao pedido de recuperação judicial pode ser incluído, de forma
extrajudicial, inclusive, consoante o disposto no art. 7º, da Lei 11.101/05. É possível, assim, ao próprio
administrador judicial, quando da confecção do plano, relacionar os créditos trabalhistas pendentes,
a despeito de o trabalhador sequer ter promovido a respectiva reclamação. E, com esteio no art. 6º,
§§ 1º, 2º e 3º, da Lei n. 11.1.01/2005, a ação trabalhista que verse, naturalmente, sobre crédito
anterior ao pedido da recuperação judicial deve prosseguir até a sua apuração, em vindoura sentença
e liquidação, a permitir, posteriormente, a inclusão no quadro de credores. Antes disso, é possível ao
magistrado da Justiça laboral providenciar a reserva da importância que estimar devida, tudo a
demonstrar que não é a sentença que constitui o aludido crédito, a qual tem a função de simplesmente
declará-lo.

3. O tratamento privilegiado ofertado pela lei de regência aos créditos posteriores ao pedido de
recuperação judicial tem por propósito, a um só tempo, viabilizar a continuidade do desenvolvimento
da atividade empresarial da empresa em recuperação, o que pressupõe, naturalmente, a realização
de novos negócios jurídicos (que não seriam perfectibilizados, caso tivessem que ser submetidos ao
concurso de credores), bem como beneficiar os credores que contribuem ativamente para o
soerguimento da empresa em crise, prestando-lhes serviços (mesmo após o pedido de recuperação).
Logo, o crédito trabalhista, oriundo de prestação de serviço efetivada em momento anterior ao pedido
de recuperação judicial, aos seus efeitos se submete, inarredavelmente.

4. Recurso especial provido.

Informações Adicionais

(VOTO VENCIDO) (MIN. NANCY ANDRIGHI) "[...] o STJ já decidiu que somente com o trânsito em
julgado da reclamação trabalhista o crédito é efetivamente constituído. Desse modo, para os efeitos
da sujeição ao plano de recuperação, considera-se a data da consolidação do crédito (trânsito em
julgado da reclamação trabalhista), não a data do fato gerador da obrigação do contrato de trabalho".
100

Capítulo 03 3.2.2.4 Casuística -


Disposições Impossibilidade da Suspensão
Preliminares e Comuns do Processo que Persegue
Montante Ilíquido pelo
Deferimento do Processamento
de Recuperação Judicial65

AgInt no AgInt no AREsp 930558 / SC - AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL - 2016/0149043-2; Relator(a) Ministro RAUL ARAÚJO (1143); Órgão Julgador T4 -
QUARTA TURMA; Data do Julgamento 09/03/2017; Data da Publicação/Fonte DJe 22/03/2017;

Ementa

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA. SUSPENSÃO DO PROCESSO PELO DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. NÃO CABIMENTO. RADIOGRAFIA DO CONTRATO. INSUFICIÊNCIA. REEXAME DE PROVAS.
INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ.

1. O presente processo trata de recurso especial interposto contra decisão proferida em agravo de
instrumento na origem, no qual se pretende, em cumprimento de sentença, estabelecer os critérios
para elaboração do cálculo dos valores devidos. Dessa forma, é incabível a suspensão do processo em
razão do deferimento do processamento da recuperação judicial, pois não se verifica, na presente
hipótese, a possibilidade da prática de atos expropriatórios, o que recomenda prosseguimento do
feito, conforme ressalva prevista no artigo 6º, §§ 1º e 3º, da Lei 11.101/2005.

2. A jurisprudência desta egrégia Corte se orienta no sentido de que, "nas hipóteses em que o devedor
não fornece os documentos necessários para a confecção dos cálculos executivos, aplica-se o art. 475-
B, § 2º, do CPC, que autoriza presumir corretos os cálculos apresentados pelo credor" (AgRg no AREsp
521.635/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/8/2014, DJe de
25/9/2014).

3. A modificação do entendimento lançado no v. acórdão recorrido quanto à necessidade de


apresentação do contrato de participação financeira firmado entre as partes para aferir o valor devido
à recorrida demandaria o reexame do material fático-probatório dos autos, o que é vedado pela
Súmula 7.

4. Agravo interno não provido.

65 Pertinente ao §1º. do Art. 6o da LREF.


101

Capítulo 03 3.2.2.5 Casuística - Execução de


Disposições Crédito Trabalhista em Face da
Preliminares e Comuns Massa Falida e
Redirecionamento da Execução
ao Sócio da Devedora66

CC 125589 / MG - CONFLITO DE COMPETENCIA 2012/0240037-4; Relator(a) Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO (1140); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data do Julgamento 25/09/2013; Data da
Publicação/Fonte DJe 14/10/2013

Ementa

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FALIMENTAR E JUÍZO TRABALHISTA.


DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA. EXECUÇÃO DE CRÉDITO TRABALHISTA EM FACE DA MASSA FALIDA.
INCLUSÃO DO SÓCIO SUSCITANTE NO POLO PASSIVO DA EXECUÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
UNIVERSAL APENAS EM RELAÇÃO AOS ATOS CONSTRITIVOS REFERENTES AOS BENS DA FALIDA.
CONFLITO PARCIALMENTE CONHECIDO.
1. Uma vez deferido o processamento da recuperação judicial ou decretada a falência, ao Juízo laboral
compete tão somente a análise da matéria referente à relação de trabalho, vedada a alienação ou
disponibilização do ativo.
2. Porém, se a execução trabalhista, movida em face da empresa que teve a falência decretada, foi
redirecionada para atingir bens dos sócios, não há conflito de competência entre a Justiça
especializada e o Juízo falimentar, portanto não justifica o envio dos autos ao Juízo universal, pois
o patrimônio da empresa falida continuará livre de constrição. Precedentes.
3. Ademais, considerando que os recursos a serem utilizados para satisfação do crédito trabalhista
não desfalcarão o patrimônio da massa falida, não há falar em burla à ordem de pagamento dos
credores na falência. (AgRg no CC 109256/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 14/04/2010, DJe 23/04/2010).
4. A situação é diferente quando o Juízo universal da recuperação também decreta a desconsideração,
relativamente aos mesmos bens e pessoas, ainda que posteriormente, única exceção capaz de
limitar a aplicação da disregard doctrine aos sócios de empresas integrantes de conglomerados
econômicos pela Justiça trabalhista.
5. Conflito parcialmente conhecido para declarar competente o Juízo da 2ª Vara Empresarial de Belo
Horizonte/MG, apenas no que diz respeito aos atos constritivos dos bens da Massa Falida, nas ações
de execução em debate.

66 Pertinente ao §2º. do Art. 6o da LREF.


102

Capítulo 03 3.2.2.6 Casuística - Constrição


Disposições de Bens: Impossibilidade de
Preliminares e Comuns Retomada de Bem objeto de
Alienação Fiduciária Essencial à
Atividade Empresarial

Processo

CC 121207 / BA - CONFLITO DE COMPETENCIA 2012/0036586-4; Relator(a) Ministro RICARDO VILLAS


BÔAS CUEVA (1147); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data do Julgamento 08/03/2017; Data
da Publicação/Fonte DJe 13/03/2017

Ementa

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. BEM


MÓVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. ATIVIDADE EMPRESARIAL. ESSENCIALIDADE DO BEM. AFERIÇÃO.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL.
1. Ainda que se trate de créditos garantidos por alienação fiduciária, compete ao juízo da recuperação
judicial decidir acerca da essencialidade de determinado bem para fins de aplicação da ressalva
prevista no art. 49, § 3º, da Lei nº 11.101/2005, na parte que não admite a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais ao desenvolvimento da atividade
empresarial.
2. Impossibilidade de prosseguimento da ação de busca e apreensão sem que o juízo quanto à
essencialidade do bem seja previamente exercitado pela autoridade judicial competente, ainda que
ultrapassado o prazo de 180 (cento e oitenta dias) a que se refere o art. 6º, § 4º, da Lei n.
11.101/2005.
3. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara dos
Feitos de Relação de Consumo Cíveis e Comerciais da Comarca de Barreiras/BA.

Informações Adicionais

"[...] '"o conflito positivo de competência (art. 115, I, do CPC) caracteriza-se na hipótese em que,
mesmo sem nenhum dos juízos ter-se declarado competente para processar e julgar a causa em
curso perante outro, há a prática de atos que denotem implicitamente o reconhecimento da
competência em paralelo com órgão judicial diverso´[...]".
"[...] o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência pacificada no sentido de que, aprovado e
homologado o plano de recuperação judicial, a competência para a prática de atos que
comprometam o patrimônio da empresa recuperanda é do juízo no qual se processa o pleito
recuperacional".
103

Capítulo 03 3.2.2.7 Casuística - Habilitação


Disposições Retardatária do Crédito
Preliminares e Comuns Trabalhista e Participação nos
67 68 69
Rateios Posteriores

Processo

REsp 1627459 / DF - RECURSO ESPECIAL 2015/0323706-2; Relator(a) Ministro PAULO DE TARSO


SANSEVERINO (1144); Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA; Data do Julgamento 06/12/2016;
Data da Publicação/Fonte DJe 14/03/2017

Ementa

RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. HABILITAÇÃO RETARDATÁRIA. CRÉDITO TRABALHISTA. PARTICIPAÇÃO


NOS RATEIOS POSTERIORES. INOCORRÊNCIA DE PERDA DO DIREITO DE PREFERÊNCIA.
1. Polêmica em torno da situação do crédito trabalhista retardatário que se habilita no processo de
falência após a homologação do quadro geral de credores e o pagamento de toda a classe dos
credores trabalhistas, mas antes da quitação dos demais créditos constantes do quadro geral de
credores.
2. A habilitação retardatária não exclui o credor trabalhista dos rateios posteriores ao seu ingresso no
quadro geral de credores, tampouco prejudica a preferência legal que lhe é inerente.
3. Doutrina e jurisprudência sobre o tema.
4. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

Informações Adicionais

(VOTO VENCIDO) (MIN. NANCY ANDRIGHI) "[...] as habilitações apresentadas após a homologação
serão processadas pela via ordinária, por meio de ação própria, com o objetivo de retificar o quadro
geral para inclusão do respectivo crédito.
Essa formalidade é exigida pela lei porque a homologação do quadro geral de credores é realizada por
meio de sentença do juízo universal, cuja alteração não pode ocorrer por simples decisão
interlocutória no processo falimentar. Percebe-se que a própria legislação procura estabilizar ao
máximo o quadro geral de credores homologado pelo juiz, exigindo ação própria para a sua
retificação, justamente porque está em pauta o rigoroso cumprimento da ordem de satisfação dos
débitos da massa falida.
Isso quer dizer que o crédito apresentado após a homologação do quadro geral deve aguardar o
trânsito em julgado da sentença de retificação, ocasião em que um novo quadro geral será
consolidado para o prosseguimento da ordem de pagamentos, sem retrocessos em relação aos
rateios já realizados.

67 Sobre suspensão de cumprimente de sentença e grupo econômico vide AgInt no REsp 1585729 / RS.
68 Sobre suspensão de cumprimente de sentença e valor ilíquido vide AgInt no AREsp 932979 / SC.
69 Conflito de competência juízo falimentar e juízo trabalhista CC 112392 / PE; CC 112799 / DF; CC 111074 / DF.
104

Vale dizer que a ação de habilitação de crédito retardatário não tem efeito suspensivo, de maneira
que o quadro geral previamente homologado terá normal andamento enquanto não sobrevier
sentença, com trânsito em julgado, consolidando nova ordem de pagamento.
Nesse contexto, o credor que depende do trânsito em julgado da sentença condenatória trabalhista
para habilitar seu crédito no juízo universal deve pedir a reserva de importâncias no processo
falimentar, de modo a preservar sua pretensão creditícia em face da falida. Essa medida está
disciplinada nos arts. 24, §3º, 130 do DL 7.661/45 e 6º, §3º, da Lei 11.101/05".
105

Capítulo 03 3.2.2.8 Casuística -


Disposições Possibilidade de Prorrogação do
Preliminares e Comuns Prazo de Suspensão de Ações e
Execuções Individuais Movidas
Contra o Devedor 70 71

Processo

REsp 1610860 / PB - RECURSO ESPECIAL 2016/0171448-5; Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI


(1118); Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA; Data do Julgamento 13/12/2016; Data da
Publicação/Fonte DJe 19/12/2016

Ementa

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,


CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. PRAZO DE SUSPENSÃO DE AÇÕES E
EXECUÇÕES INDIVIDUAIS MOVIDAS CONTRA O DEVEDOR. PRORROGAÇÃO. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES.
1- Pedido de recuperação judicial formulado em 14/11/2013. Recurso especial interposto em
9/11/2015 e atribuído à Relatora em 1/9/2016.
2- Controvérsia que se cinge em definir se a suspensão das ações e execuções individuais movidas
contra empresa em recuperação judicial pode extrapolar o limite legal previsto no § 4º do art. 6º
da Lei 11.101/2005, ficando seu termo final condicionado à realização da Assembleia Geral de
Credores.
3- Ausentes os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração.
4- O mero decurso do prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4º, da LFRE não é bastante para,
isoladamente, autorizar a retomada das demandas movidas contra o devedor, uma vez que a
suspensão também encontra fundamento nos arts. 47 e 49 daquele diploma legal, cujo objetivo é
garantir a preservação da empresa e a manutenção dos bens de capital essenciais à atividade na
posse da recuperanda. Precedentes.
5- O processo de recuperação é sensivelmente complexo e burocrático. Mesmo que a recuperanda
cumpra rigorosamente o cronograma demarcado pela legislação, é aceitável supor que a aprovação
do plano pela Assembleia Geral de Credores ocorra depois de escoado o prazo de 180 dias.
6- Hipótese em que o Tribunal de origem assentou que a prorrogação é necessária e que a recorrida
não está contribuindo, direta ou indiretamente, para a demora na realização da assembleia de
credores, não se justificando, portanto, o risco de se frustrar a recuperação judicial pela não
prorrogação do prazo.
7- A análise da insurgência do recorrente, no que se refere à existência ou não de especificidades que
autorizam a dilação do prazo de suspensão das ações e execuções em trâmite contra a recorrida,
exigiria o reexame de fatos e provas, o que é vedado em recurso especial pelo enunciado n. 7 da
Súmula/STJ.

70 Pertinente ao §4º. do Art. 6o da LREF.


71 Pertinente AgRg no CC 119624 / GO.
106

8- Recurso especial não provido.

Informações Adicionais

"[...] permitir a retomada das ações e execuções individuais contra a recuperanda - ainda que
ultrapassado o prazo de 180 dias -, equivale a aniquilar qualquer possibilidade de recuperação da
sociedade em dificuldades. Essa medida autorizaria aos credores a busca imediata da satisfação de
seus créditos, em detrimento dos princípios consagrados na LFRE. Releva consignar que não se está
admitindo a prorrogação genérica e indiscriminada do prazo suspensivo previsto no dispositivo
legal ora examinado para qualquer processo de recuperação judicial. Faz-se necessário analisar as
circunstâncias subjacentes a cada caso".
107

Capítulo 03 3.2.2.9 Casuística - Retomada


Disposições da Imóvel Locado à Sociedade
Preliminares e Comuns Empresária em Recuperação
Judicial não se Submete à
Competência do Juízo Universal
da Recuperação72

Processo

CC 123116 / SP - CONFLITO DE COMPETENCIA 2012/0124090-8; Relator(a) Ministro RAUL ARAÚJO


(1143) Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data do Julgamento 14/08/2014; Data da
Publicação/Fonte DJe 03/11/2014; RDDP vol. 142 p. 149

Ementa

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. LOCAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO.


SUJEIÇÃO AO JUÍZO NATURAL.
1. Em ação de despejo movida pelo proprietário locador, a retomada da posse direta do imóvel locado
à sociedade empresária em recuperação judicial, com base nas previsões da lei específica (a Lei do
Inquilinato n. 8.245/91), não se submete à competência do Juízo universal da recuperação.
2. O credor proprietário de imóvel, quanto à retomada do bem, não está sujeito aos efeitos da
recuperação judicial (Lei 11.101/2005, art. 49, § 3º).
3. Conflito de competência não conhecido.

Processo

AgRg no CC 92664 / RJ - AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2007/0302525-0;


Relator(a) Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data
do Julgamento 10/08/2011; Data da Publicação/Fonte; DJe 22/08/2011

72 Pertinente ao §6º. do Art. 6o da LREF.


108

Capítulo 03 3.2.2.10 Casuística - Crédito


Disposições Constituído no Curso da
Preliminares e Comuns Recuperação Judicial é Crédito
Extraconcursal

Ementa

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DE DIREITO E


JUIZADO ESPECIAL CIVIL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. MONTANTE APURADO.
ART. 6º, § 4º, DA LEI N. 11.101/2005. RETOMADA DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. AUSÊNCIA DE
RAZOABILIDADE. CRÉDITO EXTRACONCURSAL. PRECEDÊNCIA EM RELAÇÃO A QUAISQUER OUTROS.
FATO SUPERVENIENTE. CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA. HABILITAÇÃO NO
JUÍZO FALIMENTAR E SUJEIÇÃO DOS CRÉDITOS AO CONCURSO DE CREDORES. COMPETÊNCIA DO
JUÍZO DA VARA EMPRESARIAL.
1. Com a edição da Lei n. 11.101, de 2005, respeitadas as especificidades da falência e da recuperação
judicial, é competente o respectivo Juízo para prosseguimento dos atos de execução, tais como
alienação de ativos e pagamento de credores, que envolvam créditos apurados em outros órgãos
judiciais, ainda que tenha ocorrido a constrição de bens do devedor.
2. Se, de um lado, deve-se respeitar a exclusiva competência do juizado especial cível para dirimir as
demandas previstas na Lei n. 9.099/1995, de outro, não se pode perder de vista que, após a
apuração do montante devido à parte autora naquela jurisdição especial, processar-se-á no Juízo
da recuperação judicial a correspondente habilitação, consoante os princípios e normas legais que
regem o plano de reorganização da empresa recuperanda.
3. A Segunda Seção do STJ tem jurisprudência firmada no sentido de que, no normal estágio da
recuperação judicial, não é razoável a retomada das execuções individuais após o simples decurso
do prazo legal de 180 dias de que trata o art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005.
4. O crédito constituído no curso da recuperação judicial advindo de decisão proferida em ação
proposta contra o devedor, inclusive de natureza indenizatória, por se inserir na categoria de
crédito extraconcursal e, portanto, ter precedência em relação a quaisquer outros, deve submeter-
se ao processo de recuperação, caso não tenha sido objeto de reserva, ao invés de ser perseguido
por meio de medidas judiciais em juízos diversos, uma vez que implicaria oneração de bens da
sociedade recuperanda, descontrole na negociação e no pagamento de credores e desestímulo
para o equacionamento do estado de crise econômico-financeira.
5. Em razão de fato superveniente, isto é, decreto da falência da empresa mediante sentença - ato
circunscrito à convolação da recuperação judicial em regime falimentar -, os créditos já submetidos
ao processo de recuperação e aqueles constituídos até a data da quebra sujeitam-se ao concurso
de credores, observadas as regras aplicáveis à verificação e habilitação de créditos, bem como o
disposto no art. 80 da Lei de Recuperação e Falência.
6. Agravo regimental desprovido.
109

Capítulo 03 3.2.2.11 Suspensão do


Disposições Procedimento Executivo Fiscal
Preliminares e Comuns por Ausência de Garantia do
73 74 75 76 77 78 79 80
Juízo Fiscal

Processo

AgRg no CC 129290 / PE - AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2013/0252345-0;


Relator(a) Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA (1146); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO; Data
do Julgamento 09/12/2015; Data da Publicação/Fonte; DJe 15/12/2015

Ementa

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL. EDIÇÃO DA LEI N. 13.043, DE
13.11.2014. PARCELAMENTO DE CRÉDITOS DE EMPRESA EM RECUPERAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA
MANTIDA.

73 Pertinente ao §7º. do Art. 6o da LREF.


74 Ver também AgRg no CC 125697 / SP.
75 Ver ainda REsp 1598130 / RJ.
76 Alienação pela justiça trabalhista: CC 146657 / SP - CONFLITO DE COMPETENCIA 2016/0129374-9. Ementa: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE

COMPETÊNCIA. FALÊNCIA. TERMO LEGAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. BEM IMÓVEL PRACEADO PELO JUÍZO TRABALHISTA. DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA.
PRODUTO ARRECADADO PELO JUÍZO TRABALHISTA SEM REMESSA AO JUÍZO FALIMENTAR. NECESSIDADE. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO
JUÍZO FALIMENTAR. 1. Trata-se de conflito de competência suscitado por empresa submetida ao processo de falência, que teve seu bem imóvel praceado
pelo Juízo Trabalhista. 2. A jurisprudência do STJ tem entendimento firmado no sentido de que os atos de execução dos créditos individuais promovidos
contra empresas em falência ou em recuperação judicial, sob a égide do Decreto-lei nº 7.661/45 ou da Lei nº 11.101/05, devem ser realizados pelo Juízo
Universal, ainda que ultrapassado o prazo de 180 dias de suspensão previsto no art. 6º, § 4º, da Lei nº 11.101/05. Precedentes. 3. O valor arrecadado
com o praceamento do bem da falida no Juízo Trabalhista deve ser remetido ao Juízo falimentar, a quem compete a administração dos bens daquela,
bem como o pagamento dos débitos por ela contraídos e apurados no âmbito do processo de falência. 4. Conflito de competência conhecido para
declarar a competência do Juízo Falimentar. Informações Adicionais (VOTO VISTA) (MIN. MARCO AURÉLIO BELLIZZE) "[...] a competência do Juízo
Falimentar não resta instaurada a partir do 'termo legal da falência', suspendendo-se, a partir daí, todas as execuções que correm contra a empresa
falida, mas, sim, a partir de seu decreto". "[...] nos termos da pacífica jurisprudência do STJ, 'devem ser aproveitados os atos de arrematação praticados
na execução singular, com a remessa do seu produto ao Juízo Falimentar, devendo o exequente providenciar sua habilitação frente à massa falida'".
Pertinente AgRg no CC 116594 / GO; AgRg no CC 115275 / GO; AgRg no CC 112402 / RJ; CC 149811 / RJ; REsp 1659669 / RS; AgInt no CC 144157 / SP;
AgInt no AgRg no REsp 1525114 / PE.
77 Suspensão do executivo penal durante a recuperação judicial: REsp 1166600 / RJ - RECURSO ESPECIAL 2009/0225326-2; Ementa: RECURSO ESPECIAL.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. TRANSFERÊNCIA DE VALORES LEVANTADOS EM CUMPRIMENTO DE PLANO HOMOLOGADO. GARANTIA DE JUÍZO DE EXECUÇÃO
FISCAL EM TRÂMITE SIMULTÂNEO. INVIABILIZAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 1. As execuções fiscais ajuizadas em face da empresa em
recuperação judicial não se suspenderão em virtude do deferimento do processamento da recuperação judicial ou da homologação do plano aprovado,
ou seja, a concessão da recuperação judicial para a empresa em crise econômico-financeira não tem qualquer influência na cobrança judicial dos tributos
por ela devidos. 2. Embora a execução fiscal, em si, não se suspenda, são vedados atos judiciais que inviabilizem a recuperação judicial, ainda que
indiretamente resulte em efetiva suspensão do procedimento executivo fiscal por ausência de garantia de juízo. 3. Recurso especial não provido.
78 Execução fiscal: AgInt no CC 150065 / GO - AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2016/0313619-8. Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO

INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E FALÊNCIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL. ATOS DE CONSTRIÇÃO E EXPROPRIAÇÃO
INCIDENTES SOBRE O PATRIMÔNIO DA MASSA FALIDA. JURISPRUDÊNCIA MANTIDA. SÚMULA VINCULANTE N. 10/STF. NÃO INCIDÊNCIA. SIMPLES
INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 6º, § 7º, da LEI n. 11.101/05, 29 DA LEI 6.830/80 e 187 do CTN. 1. Compete à SEGUNDA SEÇÃO processar e julgar conflito de
competência entre o juízo da falência e o da execução fiscal, seja pelo critério da especialidade, seja pela necessidade de evitar julgamentos díspares e a
consequente insegurança jurídica (Questão de Ordem no CC n. 120.432/SP, da minha relatoria, CORTE ESPECIAL, julgada em 19.9.2012). 2. O deferimento
da falência não suspende a execução fiscal, mas os atos de constrição e de alienação de bens componentes da massa falida submetem-se ao juízo
universal. Precedentes. 3. "Estando o pronunciamento judicial baseado em simples interpretação de norma legal, descabe cogitar de enfrentamento de
conflito desta com o texto constitucional e, assim, da adequação do Verbete Vinculante n. 10 da Súmula do Supremo" (Rcl n. 14.185 AgR, Relator Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/5/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-110 DIVULG 11-6-2013 PUBLIC 12-6-2013). 4. Agravo interno a
que se nega provimento.
79 Impossibilidade de suspenção da execução fiscal REsp 1652333 / RS; AgRg no CC 124330 / PR; AgInt no AREsp 956853 / SP.
80 Execução de título extrajudicial e recuperação judicial REsp 1639029 / RJ.
110

1. O juízo onde se processa a recuperação judicial é o competente para julgar as causas em que
estejam envolvidos interesses e bens da empresa recuperanda.
2. O deferimento da recuperação judicial não suspende a execução fiscal, mas os atos de constrição
ou de alienação devem-se submeter ao juízo universal.
3. A edição da Lei n. 13.043, de 13.11.2014, por si, não implica modificação da jurisprudência desta
Segunda Seção acerca da competência do juízo da recuperação para apreciar atos executórios
contra o patrimônio da empresa.
4. No caso concreto, o deferimento do processamento da recuperação e a aprovação do
correspondente plano são anteriores à vigência da Lei n. 13.043/2014.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
111

Capítulo 03 3.2.2.12 Prevenção de


Disposições Jurisdição em Caso de Grupo
Preliminares e Comuns Econômico 81

Processo
CC 116743 / MG - CONFLITO DE COMPETENCIA 2011/0080932-0; Relator(a) Ministro RAUL ARAÚJO
(1143); Relator(a) p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140); Órgão Julgador S2 - SEGUNDA
SEÇÃO; Data do Julgamento 10/10/2012; Data da Publicação/Fonte DJe 17/12/2012; REVJMG vol.
203 p. 329

Ementa
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE FALÊNCIA CONTRA DETERMINADA EMPRESA. POSTERIOR
PEDIDO DE RECUPERAÇÃO DO GRUPO EMPRESARIAL DO QUAL FAZ PARTE A EMPRESA CONTRA A
QUAL FOI AJUIZADO O FEITO FALIMENTAR. INEXISTÊNCIA DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL DE
QUALQUER DAS COMPONENTES DO GRUPO NO JUÍZO EM QUE TRAMITAM OS PROCESSOS. A
EMPRESA ALVO DA DEMANDA DE FALÊNCIA ENCONTRA-SE ESTABELECIDA UNICAMENTE EM
GUARANÉSIA. TEORIA DO FATO CONSUMADO. IMPOSSIBILIDADE, HAJA VISTA TRATAR-SE DE CASO
DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO DE GUARANÉSIA. ARTS. 3º E 6º, § 8º, DA LEI N. 11.101/05.
PREVENÇÃO DO JUÍZO DA FALÊNCIA PARA EXAMINAR O PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
1. O pedido de falência formulado por Agrocampo Ltda, empresa sediada em Guaxupé-MG, foi
ajuizado nessa Comarca e direcionado apenas à Alvorada do Bebedouro S/A - Açúcar e Álcool, cuja
sede está em Guaranésia-MG. No prazo da contestação, e perante o Juízo em que proposta a
falência, a ré Alvorada e outras quatro pertencentes ao mesmo grupo empresarial postularam e
obtiveram o deferimento da recuperação judicial.
2. O art. 3º da Lei n. 11.101/05 estabelece que o Juízo do local do principal estabelecimento do
devedor é absolutamente competente para decretar a falência, homologar o plano de recuperação
extrajudicial ou deferir a recuperação.
3. Em Guaxupé/MG não há estabelecimento da empresa contra a qual foi proposta a demanda de
falência, nem de nenhuma outra integrante do Grupo Econômico Recuperando. Assim, fica
evidenciada a incompetência absoluta do Juízo atuante naquela Comarca, o que afasta a
possibilidade de aplicação da teoria do fato consumado.
4. Conforme se depreende dos autos, a empresa Alvorada do Bebedouro S/A - Açúcar e Álcool (ré na
demanda falimentar) possui seu único estabelecimento em Guaranésia/MG, sendo esta a Comarca
em que deveria ter sido proposta a ação de falência.
5. Conquanto o pedido de recuperação judicial tenha sido efetuado por cinco empresas que compõem
um grupo econômico, certo é que contra uma dessas empresas já havia requerimento de falência
em curso, o que, consoante o teor do art. 6º, § 8º, da Lei n. 11.101/05, torna prevento o Juízo no
qual este se encontra para apreciar o pleito que busca o soerguimento das demandantes.
6. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara de
Guaranésia/MG para processar e julgar o processo de falência ajuizado em face de Alvorada do
Bebedouro S.A - Açúcar e Álcool e o pedido de recuperação judicial proposto pelo grupo
empresarial intitulado CAMAQ-ALVORADA.

81 Pertinente ao §8º. do Art. 6o da LREF.


112

Capítulo 03 3.2.2.13 Prazos Processuais


Disposições Devem Ser Contados em Dias
Preliminares e Comuns Úteis com Novo CPC

Texto 09
Por Teresa Arruda Alvim Wambier e Arthur Mendes Lobo

A chegada do novo Código de Processo Civil tem sido esperada com bastante entusiasmo e muita ansiedade.
De um modo geral, prevalece o clima de receptividade, embora existam aqueles que estejam vendo o novo
código com um pouco de má vontade.

O que há de mais relevante, todavia, é que ele não seja visto como mais um “brinquedo” na mão da
doutrina. Explicamos: discussões acadêmicas são realmente fascinantes, delas pode resultar a luz para muitos
problemas jurídicos sérios. Entretanto, há temas sobre os quais a discussão acalorada não é bem-vinda. São
aqueles que não envolvem valores. A solução da discussão, que deve ser curta, sobre, por exemplo, o que é
coisa julgada, prequestionamento etc, deve se derivar de um acordo, pois, caso este acordo não exista, o único
prejudicado é o jurisdicionado.

Interessante não perdemos isso de vista: o processualista trabalha com a realidade criadas por nós. Não há, na
natureza, uma coisa julgada ou um prequestionamento. Nós é que dizemos o que são esses dois fenômenos,
traçando-lhes o perfil. Portanto, devemos dialogar, sempre com o objetivo de chegar a uma solução, e não com
a finalidade de “ganhar” a discussão.

Não se trata de discussão sobre dizer quando se pode qualificar uma situação como união estável: esta
discussão tem sentido, porque envolve valores. A união estável existe no mundo dos fatos e envolve pessoas,
sentimentos, dignidade humana etc.

Com certeza, haverá discussões sobre o novo CPC e o sentido de suas regras. Com certeza, também, se
perceberá que várias interpretações são possíveis, de um mesmo dispositivo.

Atenção: muitas dessas discussões são daquelas que na verdade nem deveriam existir: trata-se de criar uma
convenção, apenas, para que o jurisdicionado não seja prejudicado, pois tudo existe em função e por causa
dele, afinal.

Então, em caso de haver esse tipo de discussão e de se verificar haver ótimos argumentos para sustentar todas
as possíveis interpretações, qual seria o critério para se optar por uma ou por outra interpretação? O que deve
desempatar é esse critério: como vai funcionar melhor o sistema, do ponto de vista do jurisdicionado? Ou ainda,
qual a opção que torna o sistema mais simples e gera menos problemas para o jurisdicionado?
113

Uma das inspirações dos processualistas que elaboraram o novo CPC foi simplificar o sistema, para que as
discussões acadêmicas, tão fascinantes, não acabassem por prejudicar o jurisdicionado.

Ficaria integralmente frustrada caso cada tribunal do país interpretasse de um modo diferente as regras sobre
prazos, considerando que alguns seriam, e outros não, tipicamente processuais.

O artigo 219 do novo CPC estabelecendo que “na contagem de prazos em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
computar-se-ão somente os dias úteis”. Em seguida, o parágrafo único desse dispositivo ainda dispõe que,
somente aos prazos processuais se aplica essa contagem em dias úteis.

Como leciona Candido Rangel Dinamarco: “[...] Há também leis que em um só corpo trazem disposições
substanciais e processuais, como a Lei do Divórcio, a Lei de Locação de Imóveis Urbanos, o Código de Defesa do
Consumidor etc.; isso assim acontece, com plena legitimidade sistemática, devido à integração do processo e
direito material em um só contexto global de tutela, sendo às vezes de toda conveniência disciplinar em um só
corpo algum instituto de direito substancial e os modos como há de ser tratado quando posto em litígio perante
o Poder Judiciário” (in: Dinamarco, C. R. Instituições de Direito Processual Civil, Vol. I, 7. ed. rev., Ed. Malheiros,
São Paulo, 2013).

Em um primeiro momento se poderia pensar que prazos processuais são aqueles lapsos temporais concedidos
aos sujeitos do processuais (juiz, partes, perito, assistente técnico, assistente litisconsorcial, custos legis,
escrivão, oficial de justiça, enfim, atores do processo), para que atuem no processo, impulsionando-o, para
obter a prestação jurisdicional almejada.

Sob outro prisma, seria possível afirmar que prazos processuais são todos aqueles previstos em leis processuais.
Mas e quando a lei contém prazos não processuais?

Uma interpretação mais razoável e condizente com a segurança jurídica seria, a nosso ver, a seguinte: prazos
processuais são os prazos fixados em lei ou em decisão judicial que determinam “quando” e “como” devem
ocorrer situações jurídicas que geram efeitos processuais. São atos que marcam as fases do processo e
impulsionam o feito para a fase seguinte.

É o que ocorre, por exemplo, quando uma parte é pessoalmente intimada para fazer ou deixar de fazer algo,
determinado em uma ordem judicial exarada, obviamente, em um processo judicial. Isso terá consequências
no processo, por exemplo, se não houver cumprimento da ordem o juiz abrirá vista à parte requerente ou
poderá, de ofício, fixar astreintes.

Outras interpretações são também possíveis quanto à definição dos prazos processuais. E justamente por isso
muitas polêmicas poderão surgir.

Por exemplo, o prazo para a parte se dar por intimada em processo eletrônico, será contado em dias úteis ou
dias corridos?

A Lei 11.419/2006, em seu § 3º do artigo 4º, dispõe que, em se tratando de publicação eletrônica, a consulta
pelo advogado deve “ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena
de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo”.

Resta saber, no entanto, se essa norma foi derrogada pelo artigo 219 do novo CPC.

Alguns dirão que por ser norma especial, prevaleceria em pleno vigor, devendo o prazo ser contado em dias
corridos.
114

Outros dirão que o novo CPC é a norma que rege o processo civil e, por ser cronologicamente posterior à Lei
11.419/2006, o prazo será contado em dias úteis por se tratar de prazo processual.

Dúvida não há de que o prazo de 10 dias para a intimação ficta no processo eletrônico é um prazo previsto em
lei processual. É certo que não se trata de um prazo para a parte realizar um ato processual (por exemplo,
recorrer, juntar documentos, falar nos autos de maneira geral), mas sim de um prazo para que o juiz presuma
a ocorrência deste ato, qual seja: a intimação do advogado da parte.

Como cediço, a intimação é um ato processual por meio do qual o juiz presume que o advogado teve ciência
inequívoca da decisão ou despacho exarado no processo. Se essa presunção de intimação tem
efeitos processuais, podemos concluir que se trata de um ato processual. Logo, o prazo de dez dias para a
acessar o teor do despacho que determina a intimação do advogado da parte, é um prazo processual, razão
pela qual deverá ser contado em dias úteis após a vigência do novo CPC.

Outro exemplo, é o prazo de suspensão por 180 dias dos processos (execuções e cobranças) na recuperação
judicial (Lei 11.101/05, artigo 6º). Esse prazo é processual, embora previsto em lei especial. Então, considerando
que o novo CPC não excepcionou prazos processuais fixados em outras leis extravagantes (já que o artigo 219
dispõe sobre prazos processuais fixados “por lei”, sem limitação dos prazos previstos nesta ou naquela lei),
deverá, sim, ser contado em dias úteis.

Na dúvida se o prazo é material ou processual, deve-se entender como processual, já que previsto para ser
praticada determinada conduta pela parte ou por seu advogado dentro do processo. Realizado o ato, o mesmo
deverá ser informado no processo gerando consequências na marcha processual? Se a resposta for positiva,
então se trata de um prazo processual e, como tal, deve ser contado em dias úteis.

Esta solução deve ser construída a partir de um acordo na comunidade jurídica. Se houver discussão quanto ao
termo final dos prazos processuais, por filigranas jurídicas ou vaidade intelectual, principalmente quanto à
classificação de um prazo como material ou processual, teremos uma enorme insegurança jurídica com
consequências incalculavelmente nefastas para o jurisdicionado.

Há situações em que não se têm dúvidas a respeito de certo prazo ser material, e portanto deverá ser contado
em dias corridos. É o caso, por exemplo, de prazo prescricional, prazo decadencial ou um prazo para pagar o
preço de uma mercadoria em um contrato de compra e venda. Sim, nestes casos não há dúvida de que se refere
à pretensão ou a direito material, porque sua contagem, a obrigação a ser cumprida ou o ônus obrigacional,
independem da existência de um processo.

Porém, se um prazo é previsto em uma norma processual, ainda que não integrante do novo CPC, este deve
ser contado, sim e sempre, em dias úteis, ainda que se possa eventualmente dizer, com bons argumentos, que,
no fundo, se trataria de um prazo material, de modo a evitar confusão e insegurança jurídica.

Por ora, em se tratando das possíveis discussões e polêmicas, que tanto fascinam os estudiosos do Direito, deve
ficar sempre o lembrete de que o desejo deste novo CPC é produzir bons resultados na prática, beneficiando o
jurisdicionado: em última análise, a sociedade brasileira.

Teresa Arruda Alvim Wambier é advogada e professora livre-docente da PUC-SP. Relatora-geral da Comissão de Juristas encarregada
de elaborar o anteprojeto do Código de Processo Civil. Presidente do Instituto Brasileiro de Direito Processual e membro da
International Association of Procedural Law. Sócia do Wambier & Arruda Alvim Wambier Advocacia & Consultoria Jurídica.
Arthur Mendes Lobo é doutor em Direito Processual Civil pela PUC-SP, professor de Direito e Economia na Universidade Federal do
Paraná e advogado no Escritório Wambier & Arruda Alvim Wambier Advocacia & Consultoria Jurídica.

Revista Consultor Jurídico, 7 de março de 2016, 6h11


115

VÍDEO

O Novo CPC e o Recuperação Judicial


116

VÍDEO

Recuperação Judicial do Grupo OI, mais uma Crise Criada pela Intervenção Governamental
117

CASE 04

Caso RJ da Oi

1. Descrição

1.1. Como amplamente divulgado na impressa, em Junho de 2016, um dos maiores entes empresariais do
ramo de telefonia do país, o Grupo OI, com R$ 65,4 bilhões em dívidas, pediu à justiça do Rio de Janeiro
que processasse sua Recuperação Judicial;

1.2. Em 26.06.2016, O juiz FERNANDO VIANA, da 7ª Vara Empresarial do Rio, concedeu Tutela de Urgência
para, dentre outras coisas, para determinar “a) A suspensão de todas as ações e execuções contra as
Recuperandas, pelo prazo de 180 dias, de modo a evitar que constrições judiciais sejam realizadas no
período compreendido entre o ajuizamento da presente recuperação judicial e o deferimento do seu
processamento”;

1.3. No dia 29.06.2016, o mesmo magistrado, agora em juízo de admissibilidade, deferiu o pedido de
processamento dessa que é a maior Recuperação Judicial da história e, dentre as diversas providências,
ratificou expressamente a Tutela de Urgência deferida no tocante a suspensão de todas as ações e
execuções;

1.4. Antes de expirar o prazo de suspensão das ações e execuções o Grupo OI requereu a prorrogação
do stay period alegando: 1. que não era possível concluir todas as etapas do processo até a realização
da AGC, antes do final do prazo concedido, cujo encerramento se daria no dia 16.05.2017; 2. que, o
esgotamento do prazo sem sua prorrogação irá deixar as devedoras vulneráveis a atos de execução
de bens de seu patrimônio, trazendo efetivo prejuízo para o desenvolvimento do processo e das
118

negociações que estão em andamento com as diversas classes de credores; e, 3. que não deu causa
ao retardo da conclusão do procedimento nos prazos assinados em Lei.

2. Atividade

A partir da leitura dos textos e jurisprudência carreado a essa Nota de Aula e da consulta às fontes
a seguir, elabore um texto de 15 a 30 linhas:

1. explicado:
1.1 se a prorrogação do stay period é prevista na lei;
1.2. se tal prorrogação é aceita pelo judiciário brasileiro;
Em caso positivo
1.3 quais os fundamentos jurídicos para tanto;
1.4 por quanto tempo mais a suspensão deve perdurar;
2. explicando a forma de contagem do prazo em questão, se em dias corridos ou em dias úteis;
3. explicando:
3.1 se nesse caso em particular seria possível a prorrogação em questão; e,
3.2 em caso positivo, dizendo quando acabaria o novo prazo.

3. Fonte de Pesquisa

Acesse as peças do processo de Recuperação Judicial do Grupo OI nesse link.


119

FILME 01
“O Processo”

Já se disse que “a questão não é o processo mas a forma com que ele se processa” e a monumental
obra literária8283 de Franz Kafka, adaptada para o cinema por Orson Welles, retrata precisamente a
angústia daqueles que se veem às voltas como a burocracia e os entraves dos sistemas judiciários e
do emaranhado de normas, os quais aparentam existir somente para decepcionar aqueles a quem de
início enchem de esperança na justiça, como é o caso de credores que ao buscarem a satisfação de
seus direitos na justiça pode se deparar como suspenções processuais - que os impedem de ter acesso
ao patrimônio de seus devedores – como são os casos regulados pelo artigo 6º. Da LREF. Abaixo vai
um trailer do Filme e à mais à frente uma ótima resenha do mesmo.

82 Resenha da obra literária https://youtu.be/E83WV22jRIk;


83 http://www.nesua.uac.pt/uploads/uac_documento_plugin/ficheiro/27ca9b82a164bc2cd68f5a71be15f96fbad08e90.pdf;
120

RESENHA 0184
“O Processo – 1962”

Por
Luiz Eduardo Luz

Em um dia qualquer, o jovem Josef K. é acordado pela presença de homens estranhos em seu quarto,
que imediatamente lhe dizem que será preso e terá que passar por um julgamento. O problema,
porém, está no fato de que K. não fez absolutamente nada.

É assim que se inicia o filme O Processo (Le Procès, 1962), escrito e dirigido pelo lendário Orson Welles,
baseado no romance homônimo de Franz Kafka, escritor nascido no antigo Império Austro-Húngaro,
atual República Tcheca.

A insignificância do homem comum, quando colocado contra a pesada máquina judiciária estatal, é
um dos principais temas dessa obra de Kafka. Sendo ele um judeu que viveu na Europa durante a
primeira metade do século XX, somos levados a estabelecer a relação entre o personagem Josef e o
povo judeu, que fora perseguido brutalmente durante aquela época (e em praticamente toda sua
história) por estados totalitários e antissemitas. Por que eles eram perseguidos? Pelo mesmo motivo
que K.: nada.

No decorrer do filme, vemos as cansativas e inúteis tentativas do protagonista para provar sua
inocência diante dos juízes de acusação. Welles aprofunda a temática de perseguição e abuso de
poder por parte do estado com a sutileza e maestria pela qual sua filmografia é lembrada. O
protagonista, interpretado de forma esplêndida por Anthony Perkins (sim, o próprio Norman Bates!),
é constantemente fotografado por Edmond Richard (de “O Discreto Charme da Burguesia”) através

84 http://www.cantodosclassicos.com/o-processo-1962-resenha/.
121

de câmeras baixas – mas o efeito obtido é justamente o contrário do que o normal por tal
posicionamento (o de superioridade diante do espectador). Nesse caso, K. é engolido visualmente por
enormes fóruns e edifícios que apenas diminuem o indivíduo e realçam sua insignificância na
sociedade moderna. O diretor, com essas tomadas em lugares não-nomeados, em um país não-
nomeado, universaliza o romance de Kafka, destacando como (mesmo após duas grandes guerras e
um ataque nuclear) a humanidade é engolida pela burocracia, pela opressão ao individualismo das
pessoas e pelo estilo de vida decadente da modernidade (vale lembrar que Fellini também retrata esse
estilo de vida em sua obra-prima, A Doce Vida).

Durante “o processo”, o senhor K. nunca é informado do que realmente é acusado; as autoridades


sempre fogem do assunto quando ele pergunta. Em determinada parte do filme, o tio de Josef o
apresenta a um advogado chamado Albert Hastler, interpretado pelo próprio Welles. Hastler é um
homem velho, gordo, que raramente levanta da cama e é cuidado pela enfermeira Leni (Romy
Schneider). Seu trabalho em nada ajuda o protagonista, pois só atrasa o julgamento diversas vezes e
nunca revela o real motivo de sua acusação. Mais uma vez, o filme mostra a incapacidade (ou até a
falta de vontade) dos representantes da justiça em dar ao homem comum o que lhe é devido. Em uma
das cenas, outro cliente de Hastler vai conversar com ele para saber como anda seu processo, e é
rechaçado pelo advogado, que mostra claramente o seu descaso para com a situação daquele homem.

Esquecido (como boa parte da obra do cineasta), O Processo é um dos grandes filmes dos anos 60 e
de toda a história do cinema, que merece estar entre as grandes obras de Welles, juntamente com
clássicos como Cidadão Kane e A Marca da Maldade. Misturando crítica social, fotografia e atuações
memoráveis, o filme leva o espectador a uma inquietude sufocante, que nos deixa refletidos em Josef
K., sem saber o que está acontecendo: um sonho, um pesadelo ou a mais pura realidade da sociedade
moderna.

Para quem se interessar, o filme e o romance tem conclusões distintas. Enquanto Kafka apresenta o
desfecho de seu personagem de forma pessimista, mostrando a impotência de K. contra o sistema,
Welles nos presenteia com um final ambíguo, no qual o protagonista levanta e enfrenta aqueles que
querem o destruir. Porém, da forma como o filme é conduzido, o diretor insere uma pergunta em no
122

Capítulo 03 3.1 Disposições Gerais Relativas à


Recuperação Judicial Recuperação Judicial

3.1.1 Introdução

A principal inovação da Lei nº 11.101/05 é, sem dúvida, o instituto da recuperação de empresas, que
guarda certa semelhança com a antiga concordata preventiva. Contudo, essa novidade trouxe uma
complicação, qual seja, a falta de material doutrinário que analise o tema com profundidade. Nesta
unidade, iremos nos basear na experiência vivenciada no âmbito profissional para essa análise.

3.1.2. Teleologia

É entendimento corrente que as empresas devem ser preservadas sempre que possível, pois gera
riqueza e cria empregos e renda, contribuindo com para o crescimento e o desenvolvimento social do
país.

O legislador deixou clara a mudança de orientação a ser adotada na Lei 11.101/2005 ao regular os
planos de recuperação judicial. O Plano previsto na Lei de Falência e Recuperação de Empresas – LREF
– com o objetivo de permitir às empresas em crise o retorno ao mercado de forma saudável. Ele se
baseia na análise aprofundada dos fatores críticos que levaram a empresa ao fracasso, sendo
necessário também dar chance de opinião a todos os credores, com o intuito de encontrar alternativas
de recuperação da empresa em vias de bancarrota.

3.1.3. Princípio da Preservação da Empresa

O princípio da preservação da empresa vem previsto no Artigo 47 da Lei nº 11.101/2005. Alega-se que
em razão de sua função social, a empresa deve ser preservada sempre que possível, pois sua extinção
provoca a perda do agregado econômico***85 representado pelos chamados intangíveis86, tais como:

• nome;
• ponto comercial;
• reputação;
• marcas;
• clientela;
• rede de fornecedores;
• know-how;
• treinamento;
• perspectiva de lucro futuro.

85Chumpeter, discorda disso;


86“A preocupação em relação às sociedades anônimas é ressaltada pelo professor José Edwaldo Tavares Borba, ao afirmar que tais sociedades não são
apenas um mero instrumento de produção de lucros para a distribuição aos detentores do capital , mas sim uma instituição destinada a exercer o seu
objeto para atender aos interesses de acionistas, empregados e comunidade.” (Extraído de: BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. 8. ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 2003. p. 134.)
123

De acordo com o Artigo 47 da LERF “...a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação
da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.”

Dessa forma, a intenção da do legislador foi promover a preservação da empresa, sua função social e
o estímulo à atividade econômica.

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.

3.1.4. Espécies de Recuperação

A LFRE contemplou duas formas de se evitar a falência de um devedor em crise...


• a recuperação judicial;
• a recuperação extrajudicial.

A recuperação extrajudicial tem natureza contratual sendo precedida de um acordo homologado pelo
juiz competente

A introdução deste novel instituto em nosso ordenamento jurídico não dependeu exclusivamente da
aprovação da nova Lei de Falências, tendo sido também necessária uma alteração no Código Tributário
Nacional, o que se deu por meio da Lei Complementar nº 118/2005.

3.1.5. Legitimidade Ativa

O processo de recuperação aplica-se, exclusivamente, a empresários individuais e a sociedades


empresárias viáveis87. Porém, o plano de recuperação deve obter a aprovação dos credores, afinal, os
credores são os principais interessados na recuperação da empresa em crise. Assim, serão os credores
em assembleia que definirão o destino da empresa.

O objetivo da recuperação judicial é reerguer a empresa em crise. Dessa forma, repise-se, só terão
legitimidade ativa para requerer a recuperação aqueles que estão sujeitos à falência – ou seja, as
sociedades empresárias e o empresário individual, nos termos do Artigo 1º da LREF.

No entanto, o parágrafo único do Artigo 48 LFRE estende essa legitimidade ativa para o pedido de
recuperação judicial ao cônjuge sobrevivente, aos herdeiros do devedor ou ao inventariante, caso se
trate de empresário individual falecido e aos sócios remanescentes, quando se tratar de sociedade
empresária.

87 Registre-se o Superior Tribunal de Justiça, em decisão monocrática do Ministro Fernando Gonçalves, nos autos do AI nº 1.009.540/RJ, deu
provimento ao recurso da Casa Portugal, uma associação civil sem fins lucrativos, a fim de que tivesse seguimento seu processo de recuperação
judicial. Ademais, tal decisão singular é reflexo de uma decisão colegiada da 4ª Turma do mesmo Tribunal, envolvendo também a Casa Portugal,
conforme Resp. 1.004.910/RJ. Além de extremamente polêmica, ainda não podemos considerá-la formadora de jurisprudência, pois não transitou em
julgado.
124

O professor Fábio Ulhoa Coelho afirma que, quando o legislador se referiu a sócio remanescente, quis
referir-se a sócio minoritário, permitindo, assim, que os sócios que discordaram, em assembleia geral,
de eventual rejeição de proposta de recuperação judicial possam aduzir em juízo o pedido de
recuperação88.

Apenas o devedor em crise terá legitimidade para requerer a recuperação judicial. Credores e
empregados ainda que tenham um plano de recuperação não possuem legitimidade para o apresentar
em juízo.

3.1.6. Créditos Sujeitos à Recuperação Judicial

Conforme o Art. 49. da LREF Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data
do pedido, ainda que não vencidos. Contudo, os credores do devedor em recuperação judicial
conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso89, e as
obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou
definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar
estabelecido no plano de recuperação judicial90.

3.1.6.1. Créditos Não Sujeitos à Recuperação Judicial

Porém, o próprio Art. 49. referido acima, em seu § 3o , exclui da Recuperação Judicial os respectivos
créditos:

1. do credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis;


2. do credor titular da posição de arrendador mercantil;
3. do credor titular da posição de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos
respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade;
4. do credor titular da posição de incorporador imobiliário; e
5. do credor titular da posição de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio.

Tais créditos não se submeteram aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de
propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não sendo
permitindo, contudo, que durante o prazo de suspensão do Stay Period (180 dias), a venda ou a
retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

Igualmente, agora por conta do § 4o do dispositivo suso mencionado, não se sujeitará aos efeitos da
recuperação judicial a importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de
adiantamento a contrato de câmbio para exportação, desde que o prazo total da operação, inclusive
eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente (a
que se refere o inciso II do art. 86).

3.1.6.2. Crédito Garantido por Penhor

88 Comentário à Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 125.
89 § 1o.
90 § 2o
125

Tratando-se de crédito garantido por penhor sobre títulos de crédito, direitos creditórios, aplicações
financeiras ou valores mobiliários, poderão ser substituídas ou renovadas as garantias liquidadas ou
vencidas durante a recuperação judicial e, enquanto não renovadas ou substituídas, o valor
eventualmente recebido em pagamento das garantias permanecerá em conta vinculada durante o
período de suspensão de que trata o § 4o do art. 6o desta Lei.

3.1.7. Do Meios de Recuperação Judicial

Por força do Art. 50 da lei em tela, constituem meios de recuperação judicial:

1. concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou


vincendas;
2. rearranjos societários: 1) cisão, 2) incorporação, 3) fusão, 4) transformação de sociedade, 5)
constituição de subsidiária integral, e 6) cessão de cotas ou ações (respeitados os direitos
dos sócios, nos termos da legislação vigente);
3. alteração do controle societário;
4. substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos
administrativos;
5. concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de
veto em relação às matérias que o plano especificar;
6. aumento de capital social;
7. trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos
próprios empregados;
8. redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;
9. dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia
própria ou de terceiro;
10. constituição de sociedade de credores;
11. venda parcial dos bens;
12. equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive
aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
13. usufruto da empresa;
14. administração compartilhada;
15. emissão de valores mobiliários;
16. constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor.

Contudo, na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição
somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia91. E,
nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de
indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial92.

91§ 1o
92§ 2o
126

Capítulo 03 3.2 Do Pedido de Recuperação


Recuperação Judicial Judicial

3.2.1. Requisitos Subjetivos do Pedido de Recuperação Judicial

O processo de recuperação judicial será instaurado por iniciativa do devedor em crise. Para tanto,
devem ser atendidos os requisitos previstos no Art. 48 da LFRE, quais sejam:

1. a sociedade não pode estar falida;


2. a sociedade deve estar explorando a atividade econômica há pelo menos 02 anos;
3. a sociedade não pode ter se submetido a recuperação judicial nos últimos 05 anos – no caso
de sociedade micro-empresária ou empresária de pequeno porte, há 08 anos.
4. o sócio controlador ou administrador não pode ter sido condenado por crime falimentar –
salvo se já reabilitado

3.2.2. Requisitos Objetivos ou Formais do Pedido de Recuperação Judicial

Já do ponto de vista formal, a petição inicial do processo de Recuperação Judicial deve satisfazer aos
seguintes requisitos formais, estabelecidos pelo art. 51:

1. a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise
econômico-financeira;
2. as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas
especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação
societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a. balanço patrimonial;
b. demonstração de resultados acumulados;
c. demonstração do resultado desde o último exercício social;
d. relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
3. a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar,
com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos
registros contábeis de cada transação pendente;
4. a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários,
indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de
competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
5. certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo
atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
6. a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
7. os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações
financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de
valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
8. certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e
naquelas onde possui filial;
9. a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte,
127

inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.

Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte


previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante
autorização judicial, de qualquer interessado93. Com relação à exigência prevista no item 2, as
microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil
simplificados nos termos da legislação específica94. Nesse dois casos, porém, o juiz poderá determinar
o depósito em cartório dos documentos ou de suas cópia95.

93 § 1o
94 § 2o
95 § 3o
128

Capítulo 03 3.3 Do Processamento do


Recuperação Judicial Pedido de Recuperação Judicial

3.3.1 . Deferimento do Processamento do Pedido

Apresentado o pedido de recuperação judicial, o juiz verificará se os requisitos mencionados, previstos


nos Artigos 48 e 51 da LFRE , foram preenchidos. Caso tenham sido, deferirá o processamento do
pedido, Será determinada a expedição de edital – Parágrafo 1o do Artigo 52 da LFRE, contendo

• o resumo do pedido e da decisão;


• a relação nominal dos credores;
• a discriminação do valor atualizado e a classificação de cada crédito;
• advertências acerca dos prazos para habilitação dos créditos;
• prazos para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial.

Advirta-se por oportuno que o despacho não se confunde com a decisão que concede a recuperação
judicial, pois se limita a acolher o pedido de tramitação do processo de recuperação. Ele determina as
providencias e produz os efeitos do artigo 52, in verbis:

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei,


o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo
ato:

I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21


desta Lei;

II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para


que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o
Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei;

III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o


devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos
autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§
1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos excetuados na
forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei;

IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas


mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de
destituição de seus administradores;

V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por


carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios
em que o devedor tiver estabelecimento.
129

§ 1o O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão


oficial, que conterá:

I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o


processamento da recuperação judicial;

II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor


atualizado e a classificação de cada crédito;

III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na


forma do art. 7o, § 1o, desta Lei, e para que os credores apresentem
objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos
termos do art. 55 desta Lei.

§ 2o Deferido o processamento da recuperação judicial, os credores


poderão, a qualquer tempo, requerer a convocação de Assembleia-geral
para a constituição do Comitê de Credores ou substituição de seus
membros, observado o disposto no § 2o do art. 36 desta Lei.

§ 3o No caso do inciso III do caput deste artigo, caberá ao devedor


comunicar a suspensão aos juízos competentes.

§ 4o O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial


após o deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação
da desistência na assembleia-geral de credores.

3.3.2. Suspensão de Ações ou Execuções

A suspensão das ações ou execuções em trâmite contra o requerente é temporária, cessa com a
aprovação do plano de recuperação ou com o decurso do prazo de 180 dias, nos termos do Parágrafo
4º do Artigo 6º da LFRE .

Art. 6o...

§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste


artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180
(cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da
recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos
credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções,
independentemente de pronunciamento judicial.

Ações que não se suspendem:

1. ações que versem sobre quantia líquida;


130

2. reclamações trabalhistas;
3. execuções de credores que não se submetem à recuperação;
4. execução fiscal desde que não parcelada – art. 155-A, parágrafos 3o. e 4o.

Conforme salienta o professor Fábio Ulhoa Coelho, o inciso III do artigo 52 da LFRE não possui grande
relevância quanto aos pedidos de falência fundados na impontualidade injustificada, já que esses
pedidos de falência são suspensos pela mera distribuição do pedido de recuperação no prazo da
contestação, nos termos do artigo 96, VII da LFRE, mas sua importância está relacionada aos demais
pedidos de falências, ações e execuções que terão a sua tramitação suspensa com o processamento
da recuperação judicial9697.

3.3.3. apresentação de certidão

O inciso II do art. 52 dispensa o devedor de apresentar as certidões negativas para o exercício de suas
atividades, pois isso poderia inviabilizar justamente a recuperação. Apenas nos casos de contratação
com o poder público ou recebimento de incentivos ou incentivos fiscais tais certidões são exigidas.

3.3.4. desistência do pedido

Nos termos do parágrafo 4º do art. 52 da LFRE depois de deferido o pedido de processamento da


recuperação o devedor só poderá desistir do processo se a assembleia de credores anuir.

3.3.5. Participação Do Ministério Público

Conforme leciona o professor Fábio Ulhoa Coelho, o legislador não previu expressamente a
participação do Ministério Público nessa fase inicial postulatória, já que a lei prevê que ele será
intimado apenas se o juiz determinar o processamento do pedido ou decretar a falência do
requerente98.

96 COELHO, Fábio Ulhoa. Ob. cit. p.154.”


97 Vide: artigo 155-A do CTN e
Lei Complementar n.º118/2005.
98 COELHO, Fábio Ulhoa. Ob. cit. p. 52.
131

Capítulo 03 3.4 Verificação e da Habilitação


Recuperação Judicial de Créditos

3.4.1 Do Procedimento Administrativo de Verificação dos Créditos

A verificação dos créditos99 será realizada pelo administrador judicial, com base:

• nos livros contábeis do devedor;


• em seus documentos comerciais;
• em seus documentos fiscais; e,
• nos documentos forem apresentados pelos credores.

Para essa verificação, o Administrador judicial pode contar com o auxílio de profissionais ou empresas
especializadas.

3.4.1.1 Da Habilitação de Créditos

Publicado o edital previsto decorrente da admissão do processamento da Recuperação Judicial,


previsto no art. 52, § 1o, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar diretamente
ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados pelo
devedor na inicial do pedido de Recuperação.

3.4.1.2 Da Petição para Habilitação de Créditos100

A petição de habilitação de crédito a ser realizada pelo credor que teve seu crédito omitido da lista
publicada na conformidade art. 52, § 1o da LREF, deverá conter:

• o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer ato


do processo;
• o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação
judicial, sua origem e classificação;
• os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem
produzidas;
• a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento;
• a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.

Ressalte-se que os títulos e documentos que legitimam seus créditos deverão ser exibidos no original
ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo.

3.4.1.3 Da Habilitação Retardatária101

99 Art. 7o
100 Art. 9o
101 Art. 10o
132

Se o credor perde, por qualquer motivo inescusável o prazo de 15 dias para se habilitar perante o
Administrador Judicial, ainda assim poderá apresentar o seu crédito para habilitação que será recebida
como retardatária.

Observe-se que, na Recuperação Judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados os


titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a voto nas deliberações da
Assembleia-geral de credores.

Porém, se a habilitação de crédito retardatária for apresentada antes da homologação do Quadro-


geral de credores, ela será recebida como impugnação e processadas na forma dos arts. 13 a 15 desta
Lei.

Após a homologação do Quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu crédito poderão,
observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, requerer
ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do
respectivo crédito.

3.4.1.4 Publicação do Edital com a Relação dos Créditos Verificados

Findo o prazo de 15 dias para que os credores apresentem suas habilitações ou suas divergências em
relação aos créditos listados inicialmente pelo devedor, o Administrador Judicia fará publicar um novo
edital no prazo de 45 dias, agora, contendo a Relação de Créditos por si verificados a vistas dos
documentos e informações apresentados pelo devedor e seus credores, na forma acima descrita.

Além dessa Relação de Créditos verificados o edital a ser publicado deve indicar o local, o horário e o
prazo comum em que os documentos que fundamentaram a elaboração ficaram à disposição para
consulta:

• dos credores;
• do devedor;
• dos sócios do devedor; e
• do Ministério Público.

3.4.2 Da Inexistência de Impugnações102

Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como Quadro-geral de Credores, a Relação de Créditos
Verificados publicado pelo Administrador Judicial103, sem necessidade qualquer outras publicação
referente aos créditos.

3.4.3 Da Impugnação à Relação de Créditos Verificados104

No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação do edital contendo a Relação de Créditos qualquer
interessado poderá apresentar impugnação contra a essa Relação apontando:

102 Art. 14.


103 7o, § 2o
104 Art. 8º.
133

• apontando a ausência de qualquer crédito; ou,


• manifestando-se contra:
o a legitimidade;
o a importância; ou,
o classificação de crédito relacionado.

Consideram-se interessados e, portanto, legitimados a apresentar a impugnação à relação de Créditos


verificados:

• o Comitê de credores;
• qualquer credor;
• o devedor;
• os sócios do devedor; e
• o Ministério Público.

3.4.3.1 Da Petição Inicial de Impugnação à Relação de Créditos Verificados105

A Impugnação será dirigida ao juiz presidente do feito de Recuperação Judicial, por meio de petição,
instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas
necessárias.

Cada impugnação será autuada em separado, contudo, há de se observar o teor do parágrafo único
do art. 13 que preceitua que, se diversas impugnações versarem sobre o mesmo crédito, elas terão
uma só autuação.

3.4.3.2 Da Contestação à Impugnação106

Os credores de cujos créditos forem impugnados serão intimados para contestar a impugnação, no
prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que tiverem e indicando outras provas que reputem
necessárias.

3.4.3.3 Da Manifestação do Devedor e do Comitê de Credores107

Findado esse prazo, o devedor e o Comitê, se houver, serão intimados pelo juiz para se manifestar
sobre ela no prazo comum de mais 5 (cinco) dias.

3.4.3.4 Da Manifestação do Administrador Judicial108

Findo o prazo de 05 dias, por sua vez, o administrador judicial será intimado pelo juiz para emitir
parecer, também no prazo de 05 (cinco) dias, devendo juntar à sua manifestação:

• se for o caso, laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada; e,

105 Artigos 11 a 17
106 Artigos Art. 11.
107 Artigos Art. 12.
108 Artigos Art. 12.
134

• todas as informações existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do
crédito, constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação.

3.4.3.5 Da Reserva de Valores para os Créditos Impugnados109

Para fins de rateio, o juiz determinará a reserva de valor para satisfação do crédito impugnado, sendo
que, em caso de impugnação parcial, não há impedimento ao pagamento da parte incontroversa.

3.4.3.6 Do Julgamento Antecipado da Impugnação

Transcorridos os prazos previstos para a manifestação da Administradora Judicial sobre a matéria


impugnada, os autos serão conclusos ao juiz, que:

• determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de créditos não


impugnadas, no valor constante da Relação de Créditos Verificados110;e
• julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas alegações e provas
apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crédito, o valor e a classificação.

3.4.3.7 Da Instrução da Impugnação

No entanto, se o Magistrado entender que a alegações e provas apresentadas pelas partes não são
suficientes para resolver a Impugnação - transcorridos os prazos previstos para a manifestação da
Administradora Judicial sobre a matéria impugnada – ele:

• fixará os aspectos controvertidos;


• decidirá as questões processuais pendentes;
• determinará as provas a serem produzidas; e se necessário,
• desenganará audiência de instrução e julgamento.

Finda e instrução que o juiz tiver por necessária, o processo será concluso para decisão final.

3.4.4 Do Recuso contra a Decisão que Julga a Impugnação111

Da decisão judicial sobre a impugnação caberá agravo. Recebido o agravo no Tribunal, o relator poderá
conceder efeito suspensivo à decisão que reconhece o crédito ou determinar a inscrição ou
modificação do seu valor ou classificação no quadro-geral de credores, para fins de exercício de direito
de voto em Assembleia-geral.

3.4.5 Da Consolidação do Quadro-geral de Credores 112

O administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-geral de credores, a ser


homologado pelo juiz, com base na relação dos credores apresentada e publicada por si e nas decisões
proferidas em cada uma das impugnações oferecidas.

109 Art. 16.


110 Art. § 2o do art. 7o.
111 Art. 17.
112 Art. 18.
135

O Quadro-geral, assinado pelo juiz e pelo administrador judicial, mencionará a importância e a


classificação de cada crédito na data do requerimento da recuperação judicial ou da decretação da
falência, será juntado aos autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da
data da sentença que houver julgado as impugnações.

3.4.6 Impugnação à Posteriori 113

O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá,


até o encerramento da recuperação judicial, observado, no que couber, o procedimento ordinário
previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer
crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda,
documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de
credores.

A ação ordinária referida no parágrafo anterior será proposta exclusivamente perante o juízo da
Recuperação Judicial. Contudo, os créditos finalmente reconhecidos e liquidados nas ações por
quantia ilíquida contra do devedor e os créditos resultantes de ações de natureza trabalhistas,
continuarão a ser processadas nos seus juízos de origem.

Proposta a ação ordinária acima, o pagamento ao titular do crédito por ela atingido somente poderá
ser realizado mediante a prestação de caução no mesmo valor do crédito questionado.

3.4.7 Habilitação dos Credores do Sócio Ilimitadamente Responsável

Dispõe o Art. 20 da LREF, que as habilitações dos credores particulares do sócio ilimitadamente
responsável serão processada pelo rito ordinário igualmente à impugnação à posteriori.

3.4.8. Timeline do Fluxo Processual da Verificação e da Habilitação de Créditos

PRAZO 05 DIAS
PUBLICAÇÃO -
EDITAL (ART. MANIFESTAÇÃ PRAZO 05 DIAS
PRAZO 10 DIAS - DECISÃO
52, §1O, OU O DO CREDOR -
DO JUIZ (ART. 15 C/C ART.
ART. 99, §ÚN) IMPUGNADOMANIFESTAÇÃ
PRAZO 10 (ART.11)
DIAS PRAZO 15 DIAS 456, CPC) 15 DIAS - AGRAVO
PRAZO
O DO ADM.
- - AGRAVO (ART.17 C/C 1003, 5§2O,
IMPUGANÇÃO PRAZO JUD. (ART. 12,
05 DIAS (ART.17 C/C PCP)
PRAZO 15 DIAS - §ÚN.)
DA RELAÇÃO 1003, 5§2O,
- HABILITAÇÃO
(ART. 8O) MANIFESTAÇÃ PCP)
DE CRÉDITOS O DO CREDOR
(ART. 7, §1O) E DO COMITÊ
(ART. 12)

27 ago1 set 6 set 11 set16 set21 set26 set1 out 6 out11 out16 out21 out26 out31 out5 nov10 nov15 nov20 nov25 nov30 nov5 dez10 dez15 dez20 dez25 dez30 dez4 jan 9 jan 14 jan19 jan24 jan29 jan 3 fev 8 fev 13 fev18 fev23 fev28 fev
PRAZO 10 DIAS
- DECISÃO DO
PRAZO 45 DIAS PRAZO 04 DIAS JUIZ (ART. 15
- PUBLICAÇÃO - DESPACHO E C/C ART. 456,
EDITAL INTIMAÇÃO CPC)
RELAÇÃO (ART. 139, I E
CREDORES ART. 190 CPC) PRAZO 30 DIAS - AUDIÊNCIA
PRAZO 04 DIAS PRAZO 04 DIAS
(ART. 7, §2O) (ART.15 C/C 331, PCP)
- DESPACHO E - DESPACHO E
PRAZO 05 DIAS -
INTIMAÇÃO INTIMAÇÃO
PUBLICAÇÃO EDITAL DE
(ART. 139, I E (ART. 139, I E
CONSOLIDAÇÃO (ART.18)
ART. 190 CPC) ART. 190 CPC)

113 Art. 19.


136

3.5 Do Administrador Judicial e do Comitê de


Capítulo 03 Credores na Recuperação Judicial
Recuperação Judicial

3.5 Do Administrador Judicial e do Comitê de Credores

3.5.1 Do Profissional Administrador Judicial

Preceitua o art. 21 da LREF que o administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente:

• Advogado;
• economista;
• administrador de empresas;
• contador; ou
• pessoa jurídica especializada.

No caso de o administrador judicial nomeado ser pessoa jurídica, será declarado no seu termo de compromisso (art. 33,
LREF) o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, o qual não
poderá ser substituído sem autorização do juiz.

3.5.2 Da Competência do Administrador Judicial na RJ114

O Administrador Judicial está submetido à fiscalização do Juiz e do Comitê de Credores e a ele compete, além de outros
deveres que esta Lei lhe impõe:

1. enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51
comunicando a data do pedido de Recuperação Judicial, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;
2. fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;
3. dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações
e impugnações de créditos;
4. exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;
5. elaborar a Relação de Credores de que trata o § 2o do art. 7o da LREF (Relação de Créditos Verificados);
6. consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;
7. requerer ao juiz convocação da Assembleia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender
necessária sua ouvida para a tomada de decisões;
8. contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário,
auxiliá-lo no exercício de suas funções;
9. fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;
10. requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação;
11. apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor;
12. apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63
desta Lei;

3.5.2.1 Da Remuneração dos Auxiliares Técnicos do Administrador Judicial na RJ

As remunerações dos auxiliares do administrador judicial serão fixadas pelo juiz, que considerará a complexidade dos
trabalhos a serem executados e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.
Caso algum credor, o devedor ou seus administradores se recusarem a fornecer qualquer informação, o juiz, a
requerimento do administrador judicial, intimará quem se recusou para que compareçam à sede do juízo, sob pena de
desobediência, oportunidade em que as interrogará na presença do administrador judicial, tomando seus depoimentos
por escrito.

114 Art. 22.


137

3.5.3 Da Destituição do Administrador Judicial na RJ115

O administrador judicial que não apresentar, no prazo estabelecido, suas contas ou qualquer dos relatórios previstos nesta
Lei será intimado pessoalmente a fazê-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desobediência.

Decorrido o prazo do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador judicial e nomeará substituto para elaborar
relatórios ou organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor.

3.5.4 Da Remuneração do Administrador Judicial na RJ116

O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados:

• a capacidade de pagamento do devedor;


• o grau de complexidade do trabalho; e
• os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.

3.5.4.1 Da Reserva de Parte do Valor Devido ao Administrador Judicial na RJ

Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos
credores submetidos à recuperação judicial e 40% (quarenta por cento) do valor do montante devido ao administrador
judicial será reservado para pagamento após atendimento das obrigações que lhe são impostas pelos arts. 154 e 155 desta
Lei.

3.5.4.2 Da Remuneração do Administrador Judicial Substituído na RJ

O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem
relevante razão.

3.5.4.3 Da Perda da Remuneração pelo Administrador Judicial na RJ

O administrador judicial perde sua remuneração se:

• for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas na Lei; ou
• tiver suas contas desaprovadas.

3.5.4.4 Da Remuneração do Administrador Judicial de Microempresa e Empresas de Pequeno Porte na RJ

A remuneração do administrador judicial fica reduzida ao limite de 2% (dois por cento), no caso de microempresas e
empresas de pequeno porte.

3.5.4.5 Da Remuneração do Administrador Judicial de Microempresa e Empresas de Pequeno Porte na RJ

Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração do administrador judicial e das
pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo.

115 Art. 23.


116 Art. 24.
138

3.6 Da Assembleia-Geral de Credores na


Capítulo 03 Recuperação Judicial
Recuperação Judicial
3.6.1 Da Competência da Assembleia-Geral de Credores (AGC) na RJ117

Na Recuperação Judicial, a Assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre:

• aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor;


• a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição;
• o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4o do art. 52 desta Lei;
• o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor (ou seu administrador);
• qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores;

3.6.2 Da Convocação da AGC na RJ118

3.6.2.1 Da Convocação de Ofício da AGC pelo Magistrado na RJ

A Assembleia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no órgão oficial e em jornais de grande
circulação nas localidades da sede e filiais, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá:

• local, data e hora da Assembleia em 1a (primeira) e em 2a (segunda) convocação;


• a ordem do dia;
• local onde os credores poderão obter cópia do plano de recuperação judicial a ser submetido à deliberação da
Assembleia.

Observe-se que ser observado o interregno de pelo menos 05 dias entre o dia previsto para a realização da AGC em 1ª.
chamada a AGC e 2ª chamada.

Cópia do aviso de convocação da Assembleia deverá ser afixada de forma ostensiva na sede e filiais do devedor.

3.6.2.2 Da Convocação da AGC a Requerimento dos Credores na RJ

Credores que representarem pelo menos 25% do valor total dos créditos de uma determinada classe podem requerer ao
juiz a convocação de Assembleia-geral.

3.6.2.2 Das Despesas com a Convocação e a Realização da AGC na RJ

As despesas com a convocação e a realização da Assembleia-geral correm por conta do devedor ou da massa falida, salvo
se convocada em virtude de requerimento do Comitê de Credores ou na hipótese do § 2o deste artigo.

3.6.3 Dos Trabalhos da AGC na RJ119

3.6.3.1 Da Presidência dos Trabalhos da AGC na RJ

117 Art. 35.


118 Art. 36.
119 Art. 37.
139

A assembleia será presidida pelo administrador judicial, que designará 1 (um) secretário dentre os credores presentes.
Porém, nas deliberações sobre o afastamento do administrador judicial ou em outras em que haja incompatibilidade deste,
a assembleia será presidida pelo credor presente que seja titular do maior crédito.

3.6.3.2 Da Instalação e Quórum da AGC na RJ

A Assembleia será instalar:

• em 1a convocação, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe,
computados pelo valor; e,
• em 2a (segunda) convocação, com qualquer número.

3.6.3.3 Da Participação do Credor na AGC na RJ

Para participar da Assembleia, cada credor deverá assinar a lista de presença, que será encerrada no momento da
instalação.

3.6.3.3.1 Da Participação por Representação na AGC na RJ

O credor poderá ser representado na Assembleia-geral por mandatário ou representante legal, desde que entregue ao
administrador judicial, até 24 (vinte e quatro) horas antes da data prevista no aviso de convocação:

• documento hábil que comprove seus poderes; ou,


• a indicação das folhas dos autos do processo em que se encontre o documento.

3.6.3.3.2 Da Representação Sindical do Credor na AGC na RJ

Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados titulares de créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho que não comparecerem, pessoalmente ou por procurador, à Assembleia,
desde que apresente ao administrador judicial, até 10 (dez) dias antes da Assembleia, a relação dos associados que
pretende representar.

O trabalhador, que conste da relação de mais de um sindicato deverá esclarecer, até 24 (vinte e quatro) horas antes da
Assembleia, qual sindicato o representa, sob pena de não ser representado em Assembleia por nenhum deles

3.6.3.4 Da Lavratura da Ata da AGC na RJ

De tudo o que ocorrer na Assembleia, será lavrada ata que conterá:

• o nome dos presentes;


• a assinatura do presidente;
• a assinatura do devedor; e
• a assinatura de 02 (dois) membros de cada uma das classes votantes.

Essa ata deve ser entregue ao juiz, juntamente com a lista de presença, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, contados
da hora de encerramento da AGC.

3.6.4 Dos Votos e da sua Qualidade na AGC120

O voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito, ressalvado, nas deliberações sobre o plano de recuperação
judicial, o disposto no § 2o do art. 45 da LREF, segundo o qual, nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial,
todas as classes de credores deverão aprovar a proposta.

120 Art. 38.


140

Na recuperação judicial, para fins exclusivos de votação em Assembleia-geral, o crédito em moeda estrangeira será
convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data de realização da Assembleia.

3.6.4.1 Do Direito ao Voto na AGC na RJ

Terão direito a voto121 na Assembleia-geral:

• as pessoas arroladas no Quadro-geral de credores; ou, na sua falta,


• as pessoas arroladas na relação de credores apresentada pelo administrador judicial na forma do art. 7o, § 2o,
desta Lei (Relação de Créditos Verificados); ou, ainda,
• na falta desta, na relação apresentada pelo próprio devedor em sua petição inicial, nos termos dos arts. 51,

A essas pessoas serão acrescidas:

• estejam habilitadas, na data da realização da Assembleia; ou


• as que tenham créditos admitidos ou alterados por decisão judicial;

Nessas últimas, estão incluídas as que tenham obtido reserva de importâncias, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art.
10 da LREF.

3.6.4.2 Dos Créditos Excetuados da AGC na RJ

Não terão direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação os
titulares de créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei.

3.6.4.3 Da Higidez das Deliberações da AGC na RJ

As deliberações da Assembleia-geral não serão invalidadas em razão de posterior decisão judicial acerca da existência,
quantificação ou classificação de créditos.

No caso de posterior invalidação de deliberação da Assembleia, ficam resguardados os direitos de terceiros de boa-fé,
respondendo os credores que aprovarem a deliberação pelos prejuízos comprovados causados por dolo ou culpa.

3.6.4.5 Da Impossibilidade de Suspensão da AGC na RJ122

Não será deferido provimento liminar, de caráter cautelar ou antecipatório dos efeitos da tutela, para a suspensão ou
adiamento da Assembleia-geral de credores em razão de pendência de discussão acerca da existência, da quantificação
ou da classificação de créditos.

3.6.6 Composição da AG na RJ123

A Assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:

• Classe 01 - titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho;


• Classe 02 - titulares de créditos com garantia real;
• Classe 03 - titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.
• Classe 04 - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.

Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho votam com a Classe 01, com o total de seu crédito,
independentemente do valor.

121 Art. 39.


122 Art. 40.
123 Art. 4.
141

Os titulares de créditos com garantia real votam:

• com a Classe 02 até o limite do valor do bem gravado; e,


• com a Classe 03 pelo restante do valor de seu crédito.

3.6.7 Aprovação de Proposta na AG na RJ124

Na recuperação Judicial, considerar-se-á aprovada a proposta que obtiver votos favoráveis de credores que representem
mais da metade do valor total dos créditos presentes à Assembleia-geral, exceto nas deliberações sobre:

• o plano de recuperação judicial nos termos da alínea a do inciso I do caput do art. 35 desta Lei; e
• a composição do Comitê de Credores.

3.6.8 Participação do Devedor na AGC125

Poderão participar da Assembleia-geral de credores, sem ter direito a voto e sem serem considerados para fins de
verificação do quórum de instalação e de deliberação:

• os sócios do devedor,
• as sociedades coligadas,
• as sociedades controladoras,
• as sociedades controladas;
• as sociedades que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital social
do devedor ou
• as sociedades em que o devedor ou algum de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento)
do capital social.

O disposto acima também se aplica ao cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, colateral até o 2o (segundo) grau,
ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de membro dos conselhos consultivo,
fiscal ou semelhantes da sociedade devedora e à sociedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções.

Na escolha dos representantes de cada classe no Comitê de Credores, somente os respectivos membros poderão votar. E
nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41 da Lei deverão
aprovar a proposta.

3.6.9 Da Aprovação das Matérias na AGC

Nas Classes 02 e 03, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos
créditos presentes à Assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.

Nas Classes 01 e 04, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do
valor de seu crédito.

O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quorum de deliberação se o plano de
recuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito.

A aprovação de forma alternativa de realização do ativo na falência, prevista no art. 145 desta LREF, dependerá do voto
favorável de credores que representem 2/3 (dois terços) dos créditos presentes à Assembleia.

124 Art. 42.


125 Art. 43.
142

3.7 Plano de Recuperação Judicial


Capítulo 03
Recuperação Judicial

3.7.1. Apresentação do Plano de Recuperação Judicial

O plano de recuperação deve ser apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60
(sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob
pena de convolação em falência, e deverá conter:
1. A discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art.
50 desta Lei, e seu resumo;
2. A demonstração de sua viabilidade econômica; e
3. laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por
profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de
recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções na forma do art. 55 desta
LREF.

3.7.2. Limitações Objetivas

O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos
créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a
data do pedido de recuperação judicial.

O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de
5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos
nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.
143

Análise Case – Plano Judicial

Decisão Sobre a Viabilidade do Plano

Nesse contexto, consigne-se, de logo, que a Lei 11.101/05 estabelece que a decisão sobre a
viabilidade ou não do plano de recuperação judicial é exclusiva dos credores e, em apenas casos
especiais transfere esse poder ao Juízo da recuperação. Logo, a avaliação do Ministério Público,
Comitê de Credores e do Administrador Judicial é apenas técnica, sendo a viabilidade atestada e
discutida pelos credores.

Requisitos do Plano

No Plano de recuperação, não foram anexados os laudos previstos no art. 53, III, da Lei 11.101/2005.

Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no


prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que
deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em
falência, e deverá conter:
III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do
devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa
especializada.

Laudos Ausêntes

No caso dos autos, através da análise do Plano de Recuperação acostado às fls.283/291, verifica-se
que não houve apresentação do laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do
devedor exigido pelo art. 53, inciso III da Lei 11.101/05. Ambos imprescindíveis.

“O laudo de avaliação patrimonial diz respeito aos bens do devedor que


compõe o ativo indicado no balanço levantado especificamente para a
ocasião. Trata-se de mensuração importante na verificação da consistência
das demonstrações contábeis exibidas pelo requerente na recuperação
judicial. Deve abranger não somente os bens móveis e imóveis como
eventuais direitos suscetíveis de apropriação contábil ou alienação […]

Já o laudo econômico-financeiro é pertinente ao potencial de geração de


negócios da empresa em crise. Cuida-se de mensuração bem mais complexa
que a do patrimônio [...]

Вам также может понравиться