Вы находитесь на странице: 1из 12
186 Sais Educacdo Matemdtica Indigena: a Constitui¢ao do Ser entre os Saberes e Fazeres Pedro Paulo Scandiuzzi* 1. Introdugio Concordando com D’Ambrésio (1999) que um dos maiores erros da pratica em educagéo, em particular da Educacéo Matematica, é desvincular a Matematica das outras atividades humanas, pensei em direcionar este artigo as populagées indigenas, que caracteristicamente estio bem distan- tes da nossa realidade e do nosso cotidiano a ponto de serem chamadas de exdticas. Trabalhar com essas populagdes e discutir sobre 0 universo que faz parte do cotidiano delas é que percebo que estes povos tidos como povos da oralidade necessitam para pronunciar a palavra de um texto que se trata do préprio contexto, e o proprio texto necessita do contexto no qual se enun- cia. Todo esse emaranhado de palavras aponta/sinaliza para um caso sin- gular dentro de um espaco maior que estamos acostumados a chamar de global, isto €, 0 global é mais que o contexto, é o conjunto de diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional. * Professor Assistente Doutor do Departamento de Educacao da UNESP, $i José do Rio Preto © Professor do Programa de Pés-Graduagio em Educacio Matemética da UNESP, Rio Claro. EOUCAGAO MATEMATICA 17 Esse grupo de humanos constitui uma organizacao para sobrevive- rem que é também mais ampla que o proprio contexto que denominamos sociedade. As sociedades dos povos indigenas, no contexto brasileiro, sao formadas por 230 diferentes grupos étnicos e que falam atualmente 180 Iinguas, linguas essas provenientes dos troncos lingiiisticos tupi-guarani: macro-jé, aruak e da familia karib, além de alguns grupos indigenas falan- tes de linguas isoladas. O contexto do qual o texto se enuncia pela palavra é bastante diferenciado no ser, no fazer e no saber. Esse espaco variegado, & medida que avangamos em nossos pensa- mentos, faz com que percebamos que tudo isso est4 dentro do planeta Ter- ra e que as relacdes de forcas sécio-politica-econémica-cultural-ecolégica contribuem para desorganizar e organizar o contexto, modificando assim 0 discurso feito pela palavra. E nesse mundo milenar que se faz presente no planeta Terra, que esta geograficamente localizado na demarcagao de terra chamada pelos invaso- res de Brasil, que encontramos os povos indigenas brasileiros encobertos —como diz Enrique Dussel —, com a chegada dos portugueses em 1500. Nesse artigo, a realidade dos povos indigenas no seu proceso educa- cional faz-me reafirmar o que jé foi dito na minha dissertaczio de mestrado de que a nossa realidade faz-nos distanciar desses povos indigenas, ¢ assim podemos observar a afirmagao: dificil na cidade um falar com outro, Ora, indio quando se encontra é uma festa, muita conversa, muita alegria, pou- ca pressa. Nessa mesma dissertagao também pactuo a frase de um descen- dente indigena krenak, © que precisamos abolir é o termo: indio brasileiro. E uma expressao colonialista, pois passamos a considerar 0 indigena como um brasileiro, igual aos demais. Eles séo cidadaos especiais, tendo sua prépria nacdo, sua lingua e culturas espe~ cificas. Hoje, no Brasil ha em torno de 200 nagdes indigenas, falando cerca de 200 linguas diferentes. Isto é muito importante sabermos, pois sempre se falou que no Brasil existe apenas uma lingua — a portuguesa. ‘A sociedade nacional com as nagGes indigenas presentes faz-me re- pensar 0 processo educacional desses povos. 2. educacao indigena No mundo indigena o saber/fazer e 0 set constituem uma diferencia- cdo do nosso proceder educacional chamado por eles do saber/fazer/ser 18 BICUDO + BORBA caraiba. Nés, os carafbas, somos considerados os donos da doenga, os inva- sores, os estupradores. Por isso, fago-me uma pergunta: Como fica a educa- cdo escolar indigena se somos vistos dessa maneira? Entretanto, opto por falar da educagao indigena uma vez que poucos falam dela e nem sempre a valorizam. Para os povos indigenas, a crianga é muito importante, tanto quanto os velhos. As criancas aprendem desde cedo a observar os mais velhos. Taukane nos informa que a educagio é dada desde que acordamos para a clareza do sol, nés aprendemos vivendo. Vai acontecer, no dia-a-dia, desde as coisas mais simples até as mais complexas, as sagradas. Apren- demos fazendo junto aos mais velhos. Mas Taukane nos recorda, também, que existem estagios e etapas de aprendizado comuns na formagao social, mo- rale intelectual. Prestar atencio 6 uma das caracteristicas basicas do apren- diz na educacao indigena. Ele vai prestar atengao, com os olhos, com 0 ouvido, para poder reproduzir todo o aprendizado que lhe ¢ ensinado. E nesta reproducao, nos minimos detalhes, desde fazer um artesanato até 0 de reinterpretar um mito, que identificamos 0 sabio aprendiz. Mas o processo de aprendizagem vai além disso, passando pelo con- {role emocional. As criangas aprendem a falar baixo, saber silenciar nos momentos de dor, gesticular suavemente. Ela aprender este controle emo- cional no decorrer de sua vida, sobretudo ao receber na sua pele a arranhadeira, nos dias de rituais ou nos dias comuns, e isto na praga publi- ca. A arranhadeira que parece sob os nossos olhos um instrumento de tor- tura, também foi analisada por Scandiuzzi (1997) como um recurso 4 apren- dizagem matemitica. ‘A observacao constante faz parte da vida didria, e é logo observavel pelo educador da nossa cultura. E observando um especialista executar um trabalho que o aprendiz no fazer mostra o saber construido pelo olhar aten- to e minucioso. O ser vai se construindo a medida que aguca o olhar e sabe repetir 0 que viu, sabe fazer uso de poucas perguntas ou explicacdes en- volvidas nesse processo. No ritmo diario da vida, as habilidades verbais, as participacdes nas dangas, as cancGes rituais, 40 ensinadas pelos mais velhos de uma maneira parecida com as nossas escolas. O procedimento desse ensino parecido com as nossas escolas acontece toda vez que 0 pai sai com 0 filho para passear pela floresta ou para banhar-se. O pai aproveita esses momentos para contar histérias especificas no trajeto. Com a mae e a filha acontece o mesmo. Nesses passeios, os filhos aprenderao o relaciona- mento social com aqueles que encontram.

Вам также может понравиться