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RESUMO
O presente trabalho trata dos estudos de verificação, in loco, do comportamento térmico de um
protótipo de edificação térrea unifamiliar, de padrão popular, construída no Campus da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre/RS (30º 02' S; 51º 13'). No período de
inverno de 2003, foram realizadas medições em intervalos horários de diversas variáveis ambientais
no interior da edificação. Paralelamente, em uma estação meteorológica monitorada pelo Instituto de
Pesquisas Hidráulicas, localizada a menos de 500 metros de distância do protótipo, foram coletados os
valores externos de temperatura e umidade relativa do ar.
Neste artigo, são apresentados os procedimentos e equipamentos usados na monitoração, bem como os
resultados das medições, através da quantificação das horas de desconforto estimadas. Por fim, são
realizadas considerações a respeito dos limites de conforto adotados para este estudo e discutidos os
resultados obtidos.
Palavras chave: conforto térmico; desempenho de edificações; monitoramento de variáveis térmicas
1. INTRODUÇÃO
O déficit habitacional brasileiro é um problema conhecido por todos. As tentativas do poder público de
resolver essa carência, nos últimos anos, têm-se mostrado pouco efetivas. Muitas vezes, nessa corrida
irrefletida para a geração de construções que atendam à população carente, aspectos qualitativos como,
por exemplo, o de conforto térmico, são relevados a um segundo plano ou simplesmente ignorados.
Por outro lado, observa-se que, através de decisões de projeto e da escolha de materiais adequados, é
possível desenvolver habitações populares que apresentem melhor desempenho térmico, sem que para
tal, seja necessário investir muito mais recursos do que os que já são gastos com as atuais construções
de uso similar. Além disso, o consumo de energia com o condicionamento térmico (uso de
ventiladores e/ou aquecedores elétricos) poderá ser minorado, diminuindo-se, também, os gastos
energéticos durante a vida útil da edificação.
Assim, para cada localidade ou região que possua condições climáticas específicas, deverão ser
adotados procedimentos de projeto adequados, para que se alcance uma solução que proporcione o
maior número de horas de conforto, com o menor custo construtivo possível. Nesse sentido, o Núcleo
Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE - UFRGS) vem desenvolvendo estudos direcionados
para a melhoria das condições das habitações de interesse social, sempre considerando os princípios de
sustentabilidade ambiental e econômica.
2. CARACTERIZAÇÃO DO PROTÓTIPO ALVORADA
Os dormitórios são orientados para o norte e leste, para receber a radiação solar da manhã, em
qualquer estação do ano, enquanto que no período da tarde ficam protegidos do forte calor do verão.
Todas as esquadrias do protótipo Casa Alvorada foram confeccionadas em madeira de eucalipto, com
as dimensões indicadas na planta baixa (figura 1). Os vidros são do tipo plano, liso, com 3mm de
espessura. A superfície envidraçada das janelas corresponde, em média, a 50% da área total da
esquadria.
Na figura 2, pode ser visualizado o protótipo, que mostra as fachadas leste e norte da habitação, ao
final do mês de julho de 2003.
3. MATERIAIS E MÉTODO
Figura 3: Carta bioclimática adotada, para países em desenvolvimento, proposta por Givoni
Sobre a carta psicrométrica da figura 3, são identificadas nove zonas de estratégias que, se seguidas,
podem proporcionar melhoras nas condições de conforto térmico e redução no consumo de energia
interno (LAMBERTS et. al. 2000):
a) zona 1 - de conforto;
b) zona 2 - de ventilação;
c) zona 3 - de resfriamento evaporativo;
d) zona 4 - de massa térmica para resfriamento;
e) zona 5 - de ar-condicionado;
f) zona 6 - de umidificação;
g) zona 7 - de massa térmica para aquecimento;
h) zona 8 - de aquecimento solar passivo;
i) zona 9 - de aquecimento artificial.
Segundo Lamberts et al. (1997), o ano climático de referência, que contém valores horários de
temperatura e umidade relativa, pode ser plotado sobre a carta bioclimática, obtendo-se o conjuto das
estratégias mais adequadas para cada período do ano.
Neste contexto, o procedimento sugerido foi realizado por Lamberts et al. (1997), para a cidade de
Porto Alegre onde se verifica que a capital gaúcha está submetida a uma grande variação climática ao
longo do ano. Percebe-se também, que um percentual significativo das horas de desconforto é
decorrente da alta umidade relativa (acima de 80%) e das baixas temperaturas (menores que 18ºC). Ao
se extrair da carta os percentuais respectivos de cada zona, tem-se que em apenas 22,4% das horas do
ano haverá conforto térmico. No restante (77,5%), o desconforto se divide em 25,9%, provocado pelo
calor, e 51,6%, pelo frio. Segundo a tabela, gerada a partir dessas constatações, verifica-se que para
33,7% dos casos, a solução recomendada seria a utilização de massa térmica, associada a aquecimento
solar; a ventilação natural deveria ser adotada em 19,5% dos casos; o aquecimento solar passivo
poderia ser utilizado em 11,7%; e o aquecimento artificial seria necessário em apenas 6% das
situações.
O critério de avaliação sugerido por Barbosa (1997), para habitações térreas padrão COHAB, em
Londrina-PR também é discutido nesse artigo. Onde são realizadas medições e simulações
computacionais anotando a quantidade de horas de calor e de frio no interior das edificações, para cada
estação. Abaixo de um determinado número de horas de desconforto, a edificação é considerada
aprovada sob o aspecto de conforto térmico (valor inferior a 1000 horas anuais, para a cidade de
Londrina). Acima deste valor devem ser adotadas medidas que diminuam o número de horas de
desconforto interno.
Considera-se também neste artigo, o limite inferior de conforto proposto por Becker (1992), que
afirma ser admissível uma temperatura do ar de 16ºC, para o período noturno, no inverno, desde que,
seja adotado um valor de 2.0 clo para o nível de vestimenta (obtido com um pijama longo e
cobertores).
Número de graus/horas 11007,7 graus/hora, para uma 4878,8 graus/hora, para uma
calculado para temperaturas base condição de frio condição de frio
de 18ºC, para condições de frio e 132,4 graus/hora, para uma 0 graus/hora, para uma condição
de 27ºC, para condições de calor condição de calor de calor
O número de graus/hora, para as condições de desconforto, no interior da edificação, foi reduzido para,
menos da metade valor calculado externamente. Já o ganho em número de horas de conforto,
proporcionado pela envolvente construtiva da edificação, ampliado de 9,96 para 24,14% .
5. CONCLUSÃO
Mesmo que um grande número de horas de frio se encontre abaixo dos limites sugeridos por Givoni
(1992) para países em desenvolvimento, os valores medidos no interior do protótipo Alvorada
apontaram um abrandamento significativo das condições de desconforto verificadas externamente. Os
valores medidos internamente apontaram um número de horas de conforto quase três vezes maior que
aquele constatado no exterior.
Observa-se ainda, o inverno de 2003 foi mais frio que a média para cidade de Porto Alegre. Também é
necessário considerar que, no momento em que a edificação estiver em uso, a produção de calor pelos
ocupantes e equipamentos, poderá diminuir ainda mais, o número de horas de desconforto
contabilizadas nesse estudo.
Com a construção do fogão à lenha, previsto no projeto do protótipo Alvorada, poderão ser realizados
outros testes contabilizando o abrandamento das condições de desconforto provocadas pelo frio
(principalmente quando as condições externas apresentarem valores de temperatura abaixo de 10,5ºC).
Ainda deve ser comentado que, segundo Barbosa (1997) na cidade de Londrina, PR, as condições
externas encontram-se dentro dos limites de conforto sugeridos por Givoni (1992), em praticamente
70% das horas do ano (para o ano climático de referência, tomado como base). Em Porto Alegre, a
situação praticamente se inverte. Para as 8760 horas do ano climático de referência, verifica-se um
percentual de desconforto anual de 77,5%, dos quais, 51,6% são associados à condição de frio
(LAMBERTS et. al., 1997). Portanto, considera-se que o método das horas anuais de desconforto
sugerido por Barbosa (1997) como um parâmetro de referência para a avaliação de desempenho
térmico de edificações é válido, mas deve ser adaptado para a cidade de Porto Alegre, principalmente
no que tange ao número máximo de 1000 horas de desconforto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS, Porto Alegre, 1993.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos responsáveis pela estação meteorológica do Campus da UFRGS, pela
cessão dos dados relativos ao período estudado. Também agradecemos ao auxílio do CNPq, que
possibilitou a compra do equipamento de aquisição de dados ambientais, e ao CNPq e CAPES, pela
bolsa concedida a um dos autores.