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construiu em mim
Que não vou pirar quando outra pessoa me oferecer afeto e do nada fizer algum
comentário, ou gesto, ou sei lá, qualquer coisa que me lembre de você, me remetendo ao
momento em que eu repeti para mim mesmo,
Você venceu
Você me venceu
E não existe mecânica quântica ou teorias esotéricas que expliquem como foi que você
conseguiu.
Eu cedi
Eu fui cedendo
Eu me cedi
A palavra vem pronta na ponta da minha língua, porque eu ensaiei a semana toda. Eu
mudei o tom de voz cerca de cinqüenta e cinco vezes, se é que isso é possível, para
tentar soar convincente para você. Mas de que adiantam todos os diálogos, toda essa
preparação intensa para te mostrar um mundo que é só meu? Eu deveria? Deveria te
convidar para dar um passeio pelos cômodos da minha casa e depois te levar para ir ao
campo, montar os cavalos que dormem eu meu jardim, pegar um barco e ir de um lado a
outro do oceano que me corta, chegar a uma ilha deserta onde guardo o que tenho de
mais sagrado e abrir para você? Há placas por todos os lados, proibido tirar as coisas do
lugar e não colocá-las novamente. Proibido alimentar as esperanças se você não tem a
mínima intenção de ficar. Proibido induzir a criar expectativas se você quer apenas uma
noite inteira de sexo e quando o dia raiar e você for pra sua casa, não responder mais as
minhas mensagens, e se eu insistir, coisa que eu não farei, me interditar da sua vida.
Eu deveria?
Proibido! Proibido! Proibido! Proibido!
Quantas vezes ao dia eu penso: se eu não tivesse cedido, quão melhor eu estaria agora?
Eu não sei, mas eu penso. Eu sento na cadeira do escritório e dou início as minhas
tarefas diárias, mas parece que o big bang está prestes a acontecer no meu peito. Há um
movimento aleatório de sentimentos que vem a tona, e ocasionam emoções, que me
arrepiam, que me tomam todo o corpo e quando dou por mim, um nó se formou em
minha garganta e eu não consigo mais dizer uma única palavra sem que um vulcão entre
em erupção nos meus olhos. Não há gravidade que me mantenha no chão, pois eu vago
diante do cosmos no qual estou inserido. É tudo escuro, nada é discernível o suficiente
para que eu possa ter controle da situação e faça parar. E a sensação de que o big bang
se aproxima, aumenta. Meus músculos se tencionam. Eu quero correr, levantar da
cadeira e me trancar no banheiro. Não consigo. Tento parar de pensar na pergunta. Se eu
não tivesse cedido, quão melhor eu estaria agora? Novamente me entrego ao caos
apocalípto que não é mais o início de todas as coisas, mas o fim do mundo como eu o
conhecia. Eu me sentencio pela minha burrice, e me culpo pela minha covardia. Lembro
do dia em que você chegou, o dia em que te conheci, e meu mundo que era plano -
mesmo que Galileu muito antes já tivesse dito que não - tornou-se redondo e eu comecei
a orbitar ao teu redor, te fazendo de sol, bebendo dos teus raios, alimentando-me da tua
presença, respirando todos os dias o mesmo ar que você. Você se tornou minha segunda
pele, e eu só via casa, dentro do teu abraço. Mas tudo foi em vão, o sopro dos ventos, a
movimentação das placas tectônicas, a minha tentativa de ser o único planeta a orbitar
ao seu redor.
Só precisei reconhecer,
Com o tempo,
Que não precisava
Alocar a responsabilidade
De me fazer feliz a ninguém
Além de mim mesmo.
Suas mãos são tão grandes e parecem conhecer meu corpo com presteza
Todas as vezes que me visitam nervosas.
Eu queria olhar dentro dos teus olhos e não reconhecer a tempestade
Que eu sou, quando me vejo refletido em tua íris.
Você me fala palavras de afeto, e há uma ventania tão grande
Que OZ foi destruída e no meio dos escombros
Só resistem pedaços que se descolaram de mim no passado,
Mas eles não servem mais,
O que se quebra nunca mais volta a ser o mesmo quando realocado.
E eu continuo te ver falar sobre a tua vida
Como você gosta de estar comigo, de invadir meu corpo,
De brincar de me deixar bobo, com vergonha
Das coisas involuntárias que faço
E que são carinhosas, mas quando tu percebe, eu me retraio.
Mas as suas mãos me seguram de novo e colam meu corpo junto do teu.
Eu sinto o cheiro do seu pescoço
Vejo de perto de que cor são seus olhos, e desvio o olhar da minha figura.
Só por esta noite sinto vontade de me deitar sobre o teu peito e
Esquecer que príncipes usam espadas porque também vão à guerra
E sabem manejá-las, e ferem com a mesma avidez de um cavaleiro.
- Desejo
E está aqui.
e você me perdeu
mas eu ganhei,
- plenitude
você não precisa que doa
para se sentir vivo.
o seu vazio também é um sentir-se
completo e inteiro dentro de si.
Quantas vezes você foi brasa pra quem só jogou água em seus sentimentos? Aos
poucos você foi se desgastando, se perdendo, se diminuindo para caber num espaço
que era centenas de vezes menores que a sua grandeza, se mortificando para
satisfazer os desejos de quem só queria jogar com você. Quantas vezes você
mergulhou fundo em pessoas rasas e sentiu a cabeça doer, quase rachar, ao perceber
que não tinha para onde ir, além da superfície? Dói, a gente cansa, perde as
esperanças, e só quer voltar pra casa. Mas onde é casa? Se ao se doar, você abre as
portas, e quando precisa voltar a si, existe apenas uma bagunça. As pessoas vêm e
vão e não fazem questão de por no lugar, as coisas que tiraram. Onde estava a sua
responsabilidade emocional consigo mesmo esse tempo todo? Quantas vezes você foi
um bibelô de gigolô, um parque de diversões, quando na verdade queria ser museu e
morada? E quantas e quantas vezes você ainda pretende se doar para quem não te
respeite como pessoa e só te enxerga como objeto?
eu despido, tu despido,
corpo, alma, ego & tudo o mais
que cabe no corpo
sendo partilhado
no lampejo da pulsão
no afeto
no gozo.
Queimei a língua
No calor de uma estrela
Que apanhei
No céu da tua boca
Você
Meu coração invernou
Eu fechei as janelas e as portas
E me retraí em minha casa.
Estava tudo bagunçado, sala, cozinha, banheiros
& os quartos.
Eu em tornei um pântano
Gelado e seco,
E não havia lei da termodinâmica
Que funcionasse comigo,
Para que alguém transferisse calor para mim.