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SAVATER
“A ESCOLA NAO É DEMOCRÁTICA.
NEM DEVE SÊ-LO. A ESCOLA É
A PREPARAÇÃO PARA
A DEMOCRACIA”
E
Entrevista Cristina Margato
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Fernando Savater entrevistado pela revista ATUAL [Expresso 30.10.2010]
O que pensa disso? Em Espanha, isso aconteceu durante a ditadura. Mas era
obrigatório. Com a democracia passaram a existir duas disciplinas: Religião ou
Moral/Ética. O meu livro “Ética para um Jovem” (Dom Quixote, 2005)
pretendia servir como alternativa à religião. A ética é para todos. Não é
exclusiva dos religiosos. Logo, essa opção parece-me um grande equívoco.
Deixa de fora os laicos e as restantes religiões. Como a sociedade democrática
deve ser laica, não há razão que justifique a presença da religião católica na
escola pública. A religião é um assunto privado, que deve ficar na sinagoga, na
paróquia, na mesquita.
Deveria extinguir-se a disciplina, mesmo opcional? Sim. Sem dúvida.
Poderia existir uma disciplina de Ética mais filosófica e uma de Ética Cívica.
A partir de que idade? Tudo se pode explicar desde que a linguagem seja
adequada à idade. Aos seis anos já pode ter uma disciplina assim.
Se a escola estivesse organizada em ambiente democrático, os
estudantes não poderiam aprender a cidadania pelo exemplo e
prática? A escola não é democrática. Nem deve sê-lo. A escola é a preparação
para a democracia. Uma aula é hierárquica. O professor está sempre acima dos
alunos. A escola deve estar a preparar os jovens para ser cidadãos. A escola não
tem os mecanismos da democracia nem deve ter.
O modelo atual também já não é ditatorial. A escola vive em estado
de crise. A escola sempre viveu em crise. Os escritores do século XVIII já
falavam nessa crise. A escola anda sempre atrás da sociedade, na medida em que
os professores foram educados no passado e tem de educar para o futuro. Essa
crise é a da sociedade. As pessoas que transmitem conhecimento, e preparam o
futuro, vêm do passado, e eles próprios estão a lutar para se colocarem à altura da
sociedade em que vivem.
Em Portugal, os professores já perderam as suas defesas. Em
Espanha, e noutros países europeus, aconteceu o mesmo. Há uma teoria, uma
tendência, que iguala os professores aos alunos e que faz com que os professores
percam o respeito dos alunos. Convencionou-se que o professor tem de inspirar
respeito dentro da aula. Ora, se o professor tem tanta autoridade como o aluno a
aula não funciona.
Fez o prefácio do “Panfleto Anti-Pedagógico” de Ricardo Moreno
Castillo, onde ele defende um modelo de professor mais autoritário
e, logo, mais antigo. Moreno Castillo defende um modelo de professor que
seja possível dentro de uma sala de aula. As aulas não são uma reunião de
amigos nem um recreio. São um lugar onde se transmite conhecimento. Toda a
gente aceita e entende que um treinador de futebol dê ordens aos seus jogadores.
Já o mesmo modelo numa escola parece que começou a ser (erradamente)
entendido como algo escandaloso.
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Fernando Savater entrevistado pela revista ATUAL [Expresso 30.10.2010]
Sublinha a crescente influência maléfica dos ignorantes no rumo da
democracia. O problema é que numa democracia todos somos políticos. Não
há uns especialistas que mandam e outros que são guiados. Logo, todos temos de
ter algum conhecimento para poder intervir na sociedade. Se a maioria é
completamente ignorante não pode argumentar nem entender a argumentação.
Há que evitar essa situação e aumentar o nível médio de conhecimento para que
todos possam intervir com competência.
E não cair na facilidade do discurso demagógico... Um ignorante segue
sempre o que é prometedor. As pessoas que não têm conhecimentos sobre
nutrição preferirão sempre quilos de alimentos mais saborosos, embora com
efeitos nocivos para a sua saúde. Se der a uma criança uma sopa nutritiva ou um
prato de doces, ele escolherá o prato de doces, porque não sabe que lhe faz mal.
Isso também acontece à escala dos adultos. Se um político promete o céu e a
terra, de uma forma inverosímil mas atrativa, e outro exige sacrifícios de forma
realista, para conseguir um país mais forte para todos, os ignorantes obviamente
preferirão o primeiro.
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Fernando Savater entrevistado pela revista ATUAL [Expresso 30.10.2010]