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ISBN 85-&8638-13-4
1. Lingüística - Século XX. 2. Lingilística - Teoria. 3. Lingüística -
Aspectos epistemológicos. 1. Sarfati, Georges-Elia. li. Gregolin, Maria do
Rosário, trad. 111. Sargentini, Vanice Oliveira, trad. IV. Fernandes, Cleudemar
Alves, trad. V. Titulo.
©Editora Claraluz
Rua Rafael de Abreu Sampaio Vidal, 1217
São Carlos - SP 13560-390 Fone/Fax ( 16) 33748332
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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lado, l legcl ( 1770 - 1831) ele outro. Nesse sentido, Robins evidencia fato
deqm:: 0 expõe em La littémture et l 'Art ( 1801 - 1804) sua concepção dos mitos
(:malisados como formações inconscientes da imaginação) ou ainda da poesia
Esse período da lingüística é quase o apani1gio da erudição germânica, aqueles e da linguagem. E também A. W. von Schlegcl que propõe uma tipologia
que 1rahalh:u11 com a lingiiística nos outros países ou eram cientistas que haviam tripartite das línguas a partir de então diferenciadas em "isolantes", "afixantes"
eslUdado na Alemanha, como o americano W. D. Whitney, ou alemães e "flexionais". Essa classificação será posteriormente retomada por Humboldt.
expatriados, como Max Miillcrem Oxford. ( 1976, p. 177). Por meio dessa primeira descrição da organização formal das línguas, fixa-se
uma hierarquização filosófica implícita que consiste em observar as línguas
Examinemos, a seguir, segundo quais preocupações são desenvolvidas as flexionais (européias) como provenientes das mesmas formações culturais e,
principais contribuições.
considerando que elas atingiram um grau mais acabado de constituição,
presume-se que tenham maior aptidão expressiva. É sobretudo no quadro da
2.1. F. von Sch legel (1772 - 1829): a idéia de "gramática lingüística histórica que esse ponto de vista etnocenlrista prevalecerá de
comparada" maneira mais explicita.
.A.~ção do: ir.mãos Schlegel mostrou-se decisiva tanto para a propagação
das ideias romanticas quanto para a formulação de perspectivas, tanto cruciais 2.2. J. Grimm (1785-1863): a idéia de "lei fonética"
quanto novas, no domínio comparatista. Eles foram co-fundadores do Círculo Considera-se que o verdadeiro começo da gramática na Alemanha deu-se
Romântico de léna3 e participantes fervorosos do movimento Sturm und Drang a partir da publicação, por Jacob Grimm, da Grammaire Germanique (1819-
(Tempestade e Paixão) que atrairá toda uma geração, durante as duas décadas 183 7). É igualmente a ele que a crítica atribui a lei lingüística que porta seu
de seu desenvolvimento ( 1770 - 1790). Sob a influência de Rousseau dos nome ("Lei de Grimm"). Na verdade, é depois da leitura do primeiro trabalho
Réveries du promeneur so/itaire (Devaneios de um caminhante solitário), de Rask ( 1818) que ele introduziu, na segunda edição de seu tratado de
e do Essai sur /'origine des tangues, o romantismo exalta a sensibilidade gramática (1822), observações que sistematizam certas conclusões do lingüista
(Empfirdlichkeit) contra o racionalismo das Luzes (Aufklãrung). É dinamarquês. Sintetizando, Grimm afinna que as línguas germânicas comportam
notadamente nesse clima intelectual e cultural que os dois autores - ao mesmo regularmente um "f" onde o grego e o latim comportam um " p"; um "p" no
tempo que os irmãos Grimm - instauram as primeiras balizas da disciplina. O lugar do "b''.; uma transcrição análoga ao "th" inglês no lugar do "t", enfim um
próprio termo de gramática comparada (vergleichende Grammatik), atribuído "t" onde outras línguas empregam um "d" etc. Para explicar a regularidade
a F. von Schlegel, apareceu numa publicação da qual o título indica o interesse dessas correspondências, Grimm postulava uma mutação advinda do período
que seu autor, nos rastros de Herder, atribui à reflexão das línguas enquanto pré-histórico do germânico. Como o resume Lyons:
expressão de culturas. O título dessa obra é De la tangue et du savoir des
Jndiens (1808), na qual Schlegel valoriza a análise morfológica e sublinha a As consoantes aspiradas indo-européias (bh, dh, gh) tornaram-se não aspiradas
importância dessa análise para a elucidação das relações genético-lingüísticas. (b, d, g); as consoantes sonoras (b, d , g) tornaram-se surdas (p, t, k); e as
No contexto romântico, a reflexão lingüística e filológica permanece, por outro consoantes surdas (p, t, k) tornaram-se aspiradas (f, th, h). ( 1970, p. 24).
lado indissociável da exasperação da ideologia nacional. Assim a tradução das De fato, essa série de correspondências (sânscrito/grego/latim/gótico)
grandes obras do patrimônio literário europeu e su~ "a.nexaçào" à cult~ra alemã atesta um mecanismo de mutação consonântica (la11/verschieb1111g), que o
participam desse impulso que ultrapassa os limite~ d.a lilolog1a: Essas próprio Grimm esclarece, afirmando que "a mudança fonética é uma tendência
preocupações ressaltam claramente na Histoire de la l1t1erat11re ~11c1em1e et geral" e que "não é seguida em todos os casos". Nós veremos mais adiante de
moderne ( 1815) na qual F. von Schlcgel expõe seus pontos de vista sobreª que maneira a "lei de Grimm" foi em seguida completada, no decorrer dos
função da literat~ra e da filosofia da linguagem. Os mesmos temas per:orren~ últimos 30 anos do século XIX. As pesquisas comparativas de Grimm traçaram
igualmente os escritos de seu irmão A. W. von Schelegel ( 1767-184)). qui: a via por meio de importantes contribuições, tais como as Rec/1erc/1es
étymologiques dans /e domaine des tangues i11do-e11ropée1111es ( 1833 -
1836) de Pott, ou ainda a liistoire de la linguistique et de la pllilologie
orientale en Allemagne ( 1869), de T. Ben fey ( 1819 - 1881 ).
3 NT. O Romantismo alcmllo dividiu-se cm trcs pcrlodos: "Ronmntismo de l~nn", ··Romantismo
de Hcidclberg" e "Romantismo tardio", sendo o primeiro o mnis conhecido e mais imponantc. Com seu irmão W. Grimm ( 1786 - 1859), J. Grimm leva a cabo ainda,
compreendendo o pcrlodo de t 797 a 180 t e organ izou-se cm tomo dos inm'los Schlegcl e da além de muitos outros trabalhos em filologia e lexicografia, a Histoire de la
revista Athe11ii11111.
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langue a/le111a11de ( 1852 - 1859). assim como o Dictio111wire ai/emanei ( 1852 provável do qual procede - no quadro de sua investigação - a antiga língua
- 1859). O 7nrusiasmo suscita?o pelo rom~n~ismo, paralelamente :'1 exumação escandinava. Segundo Hjelmslev, Rask está entre os precursores da lingüística
do ~assado indo-europeu das linguas gemrnmcas, esteve tam.bém na origem de estrutural; ele é, absolutamente ao mesmo tempo," um dos que reconheceram
?º
um importante trabalho de ~onsagr?ção folclore alemão. E desse modo que, e estabeleceram nas suas grandes linhas a família (lingüística) indo-européia"
com a cooperação do escritor nac1onahsta J.J von Gõrres ( 1776 - 1848), os e" o fundador da tilologia nórdica". Todavia, é forçoso constatar que, em seu
innãos Grimm transcreveram e tomaram acessíveis os contos e as lendas tempo, a influência de Rask foi menor que a de F. Bopp.
veiculados pela cultura popular, tais como os Contes c/'e1!fa11ts et du foyer
( 1812) e as Légendes liéroiques allemandes ( 1829). 2.4. F. Bopp (1791-1867): a idéia do "organismo lingüístico"
O projeto de Franz Bopp é sensivelmente diferente, marcado por uma
2.3. R. Rask (1787 - 1832): a idéia de "mudança lingüística" forte ambição de totalização. Apesar do cientista distanciar-se da maior parte
O lingüista dinamarquês Rasmus Rask aparece, antes de tudo, como um das interpretações românticas da filosofia da linguagem (natureza, origem etc.),
herdeiro do século XVIII, e, notadamente, do racionalismo empirista marcado ele continua ligado à hipótese de uma "língua mãe". Seu interesse, marcado
pela descrição e pela classificação dos dados. Sem dúvida, é preciso também pela pesquisa dos innãos Schlegel e Grimm, o co!1duz a pesquisar o motivo
ver, nessa orientação, a contribuição do naturalismo de C. von Linné (1707 - comum do conjunto das línguas indo-européias. E Bopp que, na Alemanha,
1778) que, tendo sido precursor em botânica e em zoologia, propôs uma paralelamente a Rask na Dinamarca, orientará a gramática comparada para o
nomenclatura binária, levando à classificação dos seres vivos em género exame da organizaçao morfológica das palavras (notadamente do nome e do
(comum a várias espécies) e em espécie (própria a cada um), assim como a verbo). Ele evidenciará numerosas regularidades históricas, por meio das quais
influência do evolucionismo de J. B. Lamarck (1744 - 1829). A transposição os mecanismos das línguas atestadas são definidos e formados a partir de
desse cenário científico, no cadro da gramática comparada em fonnação, formações arcaicas. Bopp é um dentre os cientistas de sua época que tomam
permite a Rask ultrapassar os limites do comparatismo lingüístico. Depois de posição em favor da hipótese da primogenitude do sânscrito: esse idioma seria
um primeiro estudo consagrado à Grammaire de/ 'is/andais ( 1811 ), ele buscou o tronco inicial do qual todas as línguas indo-européias derivariam ao fina l de
estabelecer, nas Recherches sur /'origine de /'ancienne tangue nordique uma longa seqüência de transformações. Essa perspectiva, proveniente do
ou is/andaise ( J818), o parentesco do islandês com as línguas eslava, báltica, transfonnismo de Lamarck e de Darwin ( 1809 - 1882), traçava o caminho
grega e latina. Essa pesquisa magistral apoiou-se na reflexão, já assinalada, para a formulação de uma lei da evolução que afetaria diretamente as formações
conduzida em 1754 por A. Turgot, sobre a preeminência, na evolução das idiomáticas. O primeiro estudo significativo de Bopp é o Systeme de
línguas, das relações etimológicas. Comparando a fonna de numerosas palavras conjugaison du sanskrit ( 1816). Propondo uma reconstrução da gramática
pertencentes aos vocabulários de línguas diferentes, Rask demonstra o original do sânscrito, ele sustenta a tese segundo a qual as línguas indo-européias
parentesco que o "som" de uma língua estabelece com o "som" de uma outra são o resultado de uma desintegração progressiva do antigo sistema flexional.
Jíngua4, a partir do postulado naturalista da estabilidade relativa das espécies O estudo de 1816 servirá de matriz e de ponto de partida à pesquisa que Bopp
(no caso, aplicada às relações etimológicas). O método então empregado é já publicará entre 1833 e 1852, em seis partes, sob o título de Grammaire
aquele da filologia (que será efetivamente fundado pelos trabalhos do helenista comparée du sanskrit, du zend, du latin, du litunien, du vieux slave, du
A. F. Wolf, no fim do século XVIII). Essa demonstração conduz Rask a deduzir gothique et de /'al/emand (Gramática comparada do sânscrito, do véstico,
que: do latim, do lituano, do velho eslavo, do gótico e do alemão). A análise
Se descobrimos que em duas línguas as formas de palavras indispensáveis dessas línguas mencionadas no título da obra tende a verificar de um lado a
concordam a um tal ponto que se pode descobrir ns regras das mudanças de existên~ia da~ regularidades formais que as regulam, de outro,~ caracteriza;-
letras que permitem passar de uma a outra, então existe um parentesco por meio d? investigação etimológica preconizada por Turgot e aplicada por
fundamental entre essas línguas. (apud ROBINS, 1976, p. 179) Rask.- a origem de suas fonnas flexionais. Com um resultado impressionante,
~~ns1derado o caráter ~ecente do método comparativo, Bopp consegue
O lingllista recusa-se, todavia, a acreditar na hipótese de uma "língua mãe", dstabel~c~r q.uc, de maneira prevalente, a organização flexional (notadamente
tendo como objetivo manifesto da pesquisa aproximnr-sc do tronco mais das desincncias nominais e verbais) das línguas derivadas do sânscrito resulta
e um estado de afixação anterior de termos auxiliares que estavam disjuntos
pe1o passado.
4 Lembremos que os primeiros comparntislas trnbalhavom com documentos escritos. Além
disso, na ótica da tradição gramatical, os grníemas representam os sons.
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18 • As Cmndes Ttorias dn Li11g11úlirn
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Três princípios
o tema precedentemente evocado e~tá no centro_ da reflexão ?e Humboldt.
Ele promove uma paciente elaboração CUJO desenvolvimento penmte reconhecer du langage ( 1851), e. de um Précis de linguistique ( 1850 - 1871 ), Stheinthal
funda, em 1859, a importante Revue de p.1:vclwlugie de.1· peuples et de
três grandes princípios diretores:_
phi/ologie. Os trabalhos de_W. W~ndt ( 1.832 - 1.920) prolongam a mesma
_A linguagem é um modo de atividade do espír~to humano. Segundo linha de pensamento. a partir da ps1colog1a experimental (sobre as fontes do
uma distinção clássica, herdada da filosofia grega, a linguagem é energeia pensamento lógico), até uma reflexão aprofundada sobre la psychologie des
peuples ( 1900 - 1920). As mesmas perspectivas marcam ainda as pesquisas
(produção) e não somente ergon (produto); de L. Weisberger, especificamente consagradas à linguística alemã (Sur /es
_ A linguagem unifica uma dimensão espiritual a uma matéria sonora mécanismes de la tangue allemande, 1949 - 1950; Sur l 'esprit de la tangue,
sensível. A esse princípio liga-se uma noção original da especificidade do signo 1964.
lingüístico, apreendido numa perspectiva dinâmica: Na França, é na obra de G Guillaume, inteiramente consagrada a uma
concepção psicomecânica da 1inguagem, que a influência das idéias de Humboldt
Cada língua é desde sempre composta de um substrato material trabalhado mais ressoou.
p~las gerações anteriores, desde um passado distante que nos escapa; e (...] a Pelo intermédio de D. G Brinton, tradutor de Humboldt, a escola americana
atividade espiritual que profere o pensamento, encarnando-o na expressão de lingüística elabora suas próprias ferramentas e define seu programa de
sempre relacionada com um conteúdo já dado, opera antes uma reorganização trabalho. F. Boas ( 1858 - 1942), de origem alemã, emigra para os Estados
que uma produção no sentido rigoroso do termo (apudCAVSSAT, 1974, p. 73) Unidos onde se consagra às pesquisas sobre antropologia física (variação dos
grupos sob a influência do meio) e antropologia cultural (mitos e tradições
_ A forma interna da linguagem determina para cada idioma um orais). Ele influenciou decisivamente os trabalhos de E. Sapir ( 1884 - 1939),
modo de organização particular. Essa economia distintiva governa um conjunto fundador de uma tipologia das línguas a partir da análise conceituai operada
de relações de dependência entre.as diversas unidades que a constituem: pela linguagem. Essa mesma tese, retomada por B. L. Whorf ( 1897 - 1941 ),
definiu, a partir da antropologia lingüística aplicada aos falares ameríndios, o
[A língua) compartilha a natureza de tudo o que é orgânico na medida em que que se convencionou chamar, a partir de então, "hipótese Sapir-Whorf'. Com
cada elemento não existe senão em relação ao outro e sua soma apenas subsiste um século de intervalo, desde Humboldt, essa hipótese rearticula o tema da
graças à energia única que satura o conjunto. [...]a frase mais simples se engaja, língua-visão-de mundo com orientações científicas melhor fundamentadas.
por mais que ela implique a forma gramatical, na unidade de todo o sistema Por outro lado, a obra de Sapir language ( 1921 ), tendo em conta o fato
(ibid. p. 73). atropológico global, teve um impacto notável sobre as teorizações posteriores,
já que Sapir defendia ao mesmo tempo o princípio de uma lingüística sincrônica
O módulo língua e de uma lingüística dinâmica, a partir da identificação de uma "frase-núcleo"
No seu comentário dos princípios da Introduction à l 'oeuvre sur /e Kavi, modificável.
Caussat afirma que "a linguagem sempre é, ao mesmo tempo, produt~r~ ~e A opção sincrônica e funcional encontra um eco maior em L. Blomfield
história e de sistema" e que o empreendimento de Humboldt "excede a d1v1sao ( 1887 - 1949). Depois de ter seguido o ensinamento de Wundt (cf. sua
sincronia/diacronia" (ibíd. p. 140). · lntroduction à /'étude du langage -, composta numa filiação direta à
gramática comparada das línguas indo-européias), Bloomfield orienta-se na
A dupla influência racionalista (Kant) e romântica (Herder, Goethe~ conduz direção da psicologia do comportamento. Seu livro mestre, language (1933),
Humboldt a conceber a linguagem como receptáculo do espírito inquieto que enraiza a lingüística americana sobre bases descritivas e indutivas.
apreende a matéria sonora para se exprimir. Essa operação de informação . A orientação dinâmica (tranformacionalista avant la lettre) determina
· fiOIJar,
mu· tua e cons t ao t e permite · por diferenciações sucessivas,· 0 caráter indiretamente as teorias de Z. S. Harris ( 1909 - 1992) e de N. Chomsky (nascido
próprio de cada idioma. em ~ 928). A história dessa filiação constitui, por fim, um dos principais motivos
do livro de Chomsky denominado A lingüística cartesiana ( 1967).
3.4. A influência de Humboldt _ é exagero
Ela exerceu-se muito além de sua época, de tal modo que 0 0 olvimento ª 4.A.SCHLEICHER(1821 - 1868):ALINGüfSTICA
HISTôRJCA
identificar, através das diferentes obras que nela se inspiram, o desenv
de uma verdadeira escola de pensamento. . tbal ( J823 4.1. O tlm do comparatlsmo
Na Alemanha, é preciso primeiro mencionar a obra de~· St~m a Origine
- 1899). Principal discípulo de Humboldt, autor de um ensa10 so re
......,
/1 Crnmótiro Comparado • 21
quisen1111s :isccmlcr it vitln espiritual dos povo~. e s6 :;e pode tomar a lini1 . . um é'1>1.ado b1~tónco. carac-teri7ado por uma forte tD\ o lução da
como objeto ;\ me11id11 que cio lhe sirvn tlc q11111lr11 e ele concliç~o ~.' 11~1111 or~u~ào formal da\ lmguas.
m;mifcstaçilo dessa vida espirilunl (ílilc/. 11. 52). '" · ª l .i.~ pcnpectJ' a tende. portanto. a situar o indo-europeu no ponto de Junção
de d.ua' época... au1m c-0mo a discernir nas línguas fl exionais existentes
Num es pirit o que evoca aquele 011 lfoc:ii: lupéúiu ( IJIDER<n e cparucuW'ment.e o alemão) um tipo de organização superior. Os pressupostos
D"ALEMBERT, 1756), pela imporlfütcia que seus autores atribuem ú articulação wbjacentô a lógica bJstoricista oons1stem em reconhecer como mais aptaS à
racional das ramilicações do conhccimcnto7, Schleicher objetiva subdividir a ~da nuance intelectual as línguas que possuem declinações (sânscrito
ciência da linguagem em quatro vertentes (capazes de considerar, cada uma a grq.o la.um alemãoJ. em detrimento das 1inguas isolantes (mais especi ficament.e
sua maneira, a originalidade de cada língua): u líoguü asl.átJcas) e das línguas aglutinantes (as línguas semítjcas). Se ele
dJ, erge profundamente de HumboldL no que concerne à avaliação fil osófica
A ciência lingUística [...) sudividir-se-á, então, cm teoria do fonetis mo [...1. ern da\ dJferenças idiomáticas. ScbJeicber partilha com ele. e com a herança das
teoria da forma das palavras - ou morfologia - . cm teoria da funçilo - teoria gr:amáucas gerais. a convicção segundo a qual a linguagem. de maneira universal.
funcional -, e em teoria da estrutura das frases - sintaxe. Cada uma dessas representa uma formalização sonora do pensamento. A teoria dos estados de
partes da ciência pode, por sua vez, dirigir-se, seja à totalidade da linguagem.
C\'olução lingüística def~da por ScbJeicber distingue-se devido a um fone
seja a algum segmento mais ou menos extenso (ibid. p. 54)
postulado etooceotrista. E razoável observar aqui. entre outras fontes teóricas
É importante destacar que a classificação esboçada aqui nilo reserva um (em patticuJar filosóficas). uma das premissas do -mito ariano'" (POLlAKOV.
lugar para a lexicografi a. Esse ponto merece ser lembrado quando se sabe que 197 1J. Sua lenta maruração. assim como sua difusão regular. em função das
em ciência da linguagem, ao menos até a metade do século XIX, essa disciplina circunstáocias políticas e do desenvolvi mento das ideologias de hegemonia
era freqüentemente considerada como auxiliar ou periférica: (pangermanismo romântico, oatiooal-socialismo). afirmará - a partir e além
das esferas acadêmicas - a pretensa preeminência -racial- dos povos indo-
Sentir-se-á a ausência, nesse sistema da ciência lingllística ou glótica. da europeus.
lexicografi a[... ). Não há lugar para o dicionário no sistema da ciência; eh: e.
em sua própria ordem, inteiramente extra-científico e desempenha somente 4.4. A inflaêacd de Scltleicher
um papel prático (ibid. p. 54 - 55). Ela foi duradoura. primeiro naAJemanba. depois oa França onde a difusão
de seu pensamento coincidiu com a introdução do oomparatismo.
A concepção da linguagem ~a AJemanha. um dos ruscípuJos de ScbJeicher. J. Schmidt. propôs uma
Segundo Schleicher, de modo semelhante a Bopp, mas antes dele. as línguas ah.emat.iva à Stammbaumtheorie. Schmidt insistiu mais sobre o que seu mestre
são organismos vivos que, na condição de objetos possíveis de estudo. prestam· não ba\•ia feito em relação ao papel dos contatos entre línguas, de modo a
se a uma classificação científica: fazer prevalecer outras causas da mudança lingüística. Ele antecipava assim.
oo quadro da Willentheorie (literalmente: teoria das mudanças voluntárias..).
As línguas s11o organismos naturais que, exterior à vontade hu111am1 e seguindo leis algumas das teses que uma pane da escola oeo-gramática desenvolveria a
deicnninndas, nascem, crescem, desenvolvem-se, envelhecem e mom:m; das també111 partir do encontro com o historicismo. Schmidt atenuaria assim, por meio de
manifestam, portanto, essa st!ric de fênomcnos <1uc se compn:cndc lmbituahnc1llc ~ob u
um ouiro tipo de argumento, o gradualismo' um pouco mecanista de Schleicher.
nome de vidn (ibicl. p. 56).
O que os naturalistas designariam pela palavra 'classes', os língllistas chanuun Jc Paralelamente, M. Mülle r foi sem dúvida o herdeiro de Scbleiche r que
troncos de lfnguas; as classes mais aproximadas nomdam-sc familias de Unguas 1k uni impulssiooou, o mais longe possível. as teses naturalistas. O que fez dele o ator
mesmo tronco[ ...) (ibícl. p. 57). de uma polêmica importante (sobre o estatuto da lingüística e a natureza da
linguagem). que o opôs a W. D. Wbitoey.
Em conformidade com o esquema cvolucionista-historicistn, Schleiclll'r A influência de Schleiche r não foi meno r na França, ainda que
distingue, no desenvolvimento das línguas, diferentes estados de evolu~·:1C\: diferentemente atestada. V. Henry, por exemplo, que desempenhou, ao mesmo
. . _ .um estado pré-histórico, mnrcado pch1 emcrgcnein de li.innn\·Oi.:s tempo que M. Bréal, um papel preponderante na promoção da gramática
1d1omát1cas cada vez mais complexas: comparada. declarava-se voluntariamente ··schleicheriano de fonnaç! o e de
11111111
1 O cuidado cncictnpédico é, por 11111ro lodo, no sécnln XIX, um 1knu111inndur cu1111
8 /.~. •mudança por grau. aniloga mi lingilistica da posiçlo tnnfonn ista em c iencias naturais.
historicismo de lf c~cl e do posi1 ivi811ttt de C11111tc.
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28 • A1 C:mJJdr.r Tt<J1Ít1.1 rlt1 Lit{(111ítitt1
3. 1. Princípios e método
o ess~ncial do método preconizado e operado pode ser reunido em duas
"' 3.4. O sentido das p:tlnvnts
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4.2. As leis fon éticas: reexame No interior do mesmo dialeto não se vê nunca desenvolver-se a incoerência; se
tal é o caso, é somente na seqüência de uma mistura dialetal ou, para nos
O tratado de Paul apresenta ainda um interesse maior para quem queira scrvinnos de uma expressão mais exata, na seqüência do empréstimo de um
apreender os remanejamentos da doutrina neo-gramática a respeito das "leis termo de um dialeto estrangeiro[...). Tratando de estabelecer as leis fonéticas
fonéticas". A escola teve que resolver certos entraves, com o objetivo de evidentemente nós não consideramos esse tipo de incoerências aparentes'.
enfrentar as críticas que lhe foram endereçadas por parte dos especialistas de (ibid.).
dialetologia e de geografia lingüística. H. Paul reexamina o conceito de lei
fonética, a fim de estabelecer uma definição mais nuançada, interrogando o 4.4. Escrita e fala
caráter de necessidade absoluta que se lhe reconhe.cia no. princípio. Desde Enfim, a síntese de Paul explicita os termos de uma reviravolta radical no
então, o mecanismo que designa esse conceito é apreendido em termos de desenvolvimento da gramática comparada. Com efeito, antes da concentração
"congruência", i.e. de pesquisa de equilíbrio e de adequação entre todos os do comparatismo sobre os mecanismos fonéticos da mudança lingüística, a
elementos sonoros em jogo: referência à representação gráfica da linguagem (a escrita) é muito velada.
Os neo-gramáticos são os primeiros a ter denunciado o caráter ilusório da
O conceito de "lei fonética" não poderia ser entendido no sentido que nós
falamos de leis em tisica ou em química(...). A lei fonética não enuncia o que, escrita, a preconizar a ultrapassagem da letra (o grafema do alfabeto fonético)
dadas certas condições gerais, deve necessária e perpetuamente produzir.se, e a elegerem os sons como verdadeiros objetos de suas análises.
ela constata somente a congruência existente no meio de um grupo de fenômenos Trata-se, aqui, de uma verdadeira ruptura teórica em relação à tradição
históricos dados ( 1978, p. 62). gramatical herdada da Antiguidade. A gramática é primeiramente constituída
como ciência do gramema, valorizando, assim, a análise das línguas por meio
Por outro lado, Paul lembra que a pesquisa fonética soube manter a de suas atestações escritas (de onde as valorizações sucessivas dos diferentes
exigência comparatista, incorporando, pouco a pouco, as formas do raciocínio patrimônios literários e a definição normativa dos usos em referência à língua
mais abstrato: dos "grandes escritores"). Paul aborda, então, essa questão de dois pontos de
Para estabelecer as leis fonéticas, parte-se sempre de uma comparação. vista.:
Relacionam-se os estados de um dialeto com aqueles de um outro [...). Isolam- _ Ele ressalta, primeiramente, que a escrita, i.e. a representação gráfica
se também, por abstração, leis fonéticas, comparando os diferentes estados no da fala, não constitui, em nenhum caso, um instrumento de análise confiável
interior do mesmo dialeto e da mesma época( ...) (ibid.). para o lingüista:
4.3. A analogia e o empréstimo A palavra não se reduz à justaposição de um número determinado de sons
Complementando essa retificação, Paul lembra que existe uma relação de independentes dos quais cada um poderia ser exprimido por meio de um sinal
complementarid.ade es~eita .e~tre o mecanismo insconsciente da evolução alfabético; ela não é outra coisa, fundamentalmente, do que uma série contínua
fonética e o sentimento lmgUtstico dos locutores, quando eles são levados, em de sons infinitamente numerosos, e as letras do alfabeto só fazem marcar, de
maneira imperfeita, certos traços característicos desta série ( 1978, p. 54).
certos casos, a submeter sua atividade lingílística a novos usos (analogia,
empréstimo): Ele ratifica a desqualificação do fundamento gramatica l
(i.e.gramemático) da lingüística e preconiza claramente a constituição de uma
o único ponto sobre o qual se pode (...) razoavelmente discutir concerne ã ciência específica das sonoridades:
questão de saber se a analogia funciona, intervindo desde a percepção de uma
divergência, mesmo que mínima, entre as formas etimologicamente dependentes;
ou se ela limita-se ao momento no qual a possibilidade provisória de exprimir-se Ora, essa continuidade da palavra exclui a possibilidade de a representação
toma-se patente" (ibid. p, 63 ). dos diferentes elementos impor imediatamente sua presença e acarreta que ela
possa ser somente o produto de uma retlexã·o científica, mesmo muito primitiva,
cujo primeiro papel foi sustentado pela necessidade e pela prática da escrita
A essa questão, Paul responde que "é a segunda hipótese que dá conta fonética (ibid.).
dos casos mais freqüentes" (ibid., p. 64).
Sobre o estatuto do empréstimo, e o efeito aparentemente pertubador que Notemos, para prevenir toda confusão que nessa época os termos
po~e dele resultar para a economia fonética, o lingüista mostra-se também
muno categórico:
"fo11éf " " ' , '
ica e fonologia" são empregados indiferentemente. É a partir dos
~abalhos do Círculo Lingüístico de Praga que a lingüística reservará o uso
-._________ •
esses termos para designar dois setores distintos: a fonética como estudo das
.\l • ,,- IJ { :mmlrt 'l (y111(11 d 11 I il~~111·,Ji,.,,
realizações sonoras efetivas. a fo nologia como esludo do sistema dos . A EtVJl11r,io rln Cmm1ílit11 Comfmmda ell
. d' · · d t 'd' · ·
( tonemas) 1st11111vos e cm 11 1 1onrn.
sons
Em tomo de cientistas como K. Vossler, na Alemanha, ou 8. Croce, na
5.ACRÍTICA DIALETOLÓG ICA J1ália, a escola idealista (ou "estética") desenvolveu um outro tipo de crítica
Contra o princípio da univocidadc e da uni versalidade das leis fonét' em dialetologia. Essa crítica consistiu em reafirmar a importância da iniciativa
• • Q . d . ã 1cas
a1gumas vozes se fazem ouvir. uan o essas vozes n o preconizam pu ' individual no processo da mudança lingüística. Contra o postulado neo-gramálico
simplesmente a renúncia dos postulados teóricos - como o faz H. Schuchrade do caráter de necessidade cega da mudança fonética, os partidários desse
· p I1011et1q11es:
na o bra Des Ims ·· contre I es neo-grammanens
· . . ( 1885) _ ar1 t movimento consideram que as mutações são antes de tudo imputáveis à vontade
emanam, na sua maioria, dos círculos de lingüistas especializados no e~te: de alguns locutores conscientes de seu empreendimento. Parece que três
influências preponderantes sustentam essa corrente: primeiro, a psicologia social
dos dialetos. u o
de G de Tarde (segundo a qual a adoção de uma inovação resulta da aplicação
de uma "lei da imitação", a partir de um mesmo "ambiente de difusão"), a
5.1. Principais objeções . filosofia da história de Hegel (sobre o papel histórico das individualidades fortes,
À uniformidade da varição fonética ("leis"), a dialetologia nascente opõe dos "grandes homens"), enfim, a antropologia lingUlstica de Humboldt (sobre o
"a individualidade etimológica". No que concerne à apreciação das causas da aspecto criador da utilização da linguagem).
mudança lingüística. várias objeções prevalecem:
em vez das forças de conservação lingüística (imputáveis por exemplo 5.3. Panor ama
à produtividade da analogia) eles acentuam o processo da mudança lingüística; Diferentes aquisições da gramática comparada, reinterpretada pelos neo-
a idéia de mudança choca-se com a diversidade e com a complexidade gramáticos, devem ser aqui focaliza dos panoramicamente. A linearidade da
dos fenômenos: o princípi o da diferenciação e do empréstimo dialetal cadeia falada, a organização ao mesmo tempo física e psíquica dos sons, a
desempenhariam um papel, no mínimo, tão importante quanto o próprio processo dimensão mnemônica dos sons elementares (sob a relação do empréstimo
de mudança fonética; psíquico), a crítica da escrita, a redefinição do conceito de lei fonética, a
_ do mesmo modo, o exame atento das dinâmicas linguageiras mostra consideração gradual do papel do empréstimo e da analogia na economia da
que ao lado dos parâmetros isolados pelos neo-gramáticos é preciso levar em mudança lingüística: todas essas problemáticas são tão relevantes que
conta outros fatores: a produtividade das etimologias populares (falsas), o continuarão a informar, conseqüentemente, a reflexão epistemológica de
Saussure. Todas elas serão o objeto de uma retomada e de uma reavaliação no
empréstimo a um (ou a vários) dialeto(s) vizinho(s), o conflito homonímico;
Curso de Lingüística Geral (I 916).
_ para pensar a evolução lingüística em termos menos mecanicistas, é
importante considerar, com mais atenção, o mecanismo da divisão social dos 6. UM SÉCULO DE DEBATES TEÓRICOS
idiomas; do mesmo modo, convém pensar - abrindo-se também à diversidade
- a delicada questão dos limites geográficos e temporais de um dialeto. No momento em que a gramática comparada é introduzida na França, a
interrogação lingüistica foi instada a se situar em relação aos principais
5.2. Principais movimentos movimentos do pensamento do século XIX, antes de ganhar definitivamente
sua autonomia. Os lingüistas importantes, aqueles que propuseram e que
A partir das críticas constantemente expressas, algumas sensibilidades
sustentaram os modelos teóricos, foram obrigados a explicitar suas reflexões
teóricas bem definidas destacam-se. Em tomo de cientistas tais como R. em relação a três grandes problemas: a função e a natureza da linguagem, o
Meringer - fundador da revista Worter und Sachen (As Palavras e as Coisas) estatuto da ciência lingüística.
-, uma extensão da dialetologia orienta-se para o estudo de setores inteiros do
vocabulário referentes às práticas. Fundamentalmente, centradas. no 6.1. A fu nção da linguagem
conhecimento onomasiológico, essas pesquisas visam a um exame ~inucioso Esse primeiro problema recebe da filosofia suas primeiras teorizações. O
da historicidade das profissões, considerando os conjuntos lexicais criados ~or Essai sur /'origine des langues de Rousseau ( 1781) veicula duas teses,
elas. Aa~álise das r~Jações palavras-coisas não exclui, portanto, tod~ perspecti~~ aparentemente antinômicas, mas, por elas mesmas, coerentes, se admitimos
referencial, na medida em que esta permite uma melhor compreensao da relaç compreendê-las numa perspectiva histórica. Rousseau desenvolve, com efeito,
línguas/culturas, a partir de um critério de repartição e de difusão geo~r~?ca. uma reflexão bem acabada, ainda que inteiramente especulativa, sobre a
ontogênese da linguagem:
Além da influência que ela exerceu sobre lingüistas inovadores, como J. G1lheron,
esse movimento conheceu importantes desenvolvimentos, no século XIX, colll
eruditos como W. von Wartburg.
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•W • 1f ( ,' mntfr, l 'ronrtt d11 I "'Jt.11lrt1rn
1 ' " " " ''"• ili·J ( •'lllffllllld ( •"lf'-''""'·' • "
_ no estado primeiro da ~atureza, a invenção da linguagem está ligada à hisloricismo filosófico h11sc11 suu principnl justilicaçl1o nas diversas fo rmulaçõc'l
expressão das emoções (alegria, cólera etc.). Assim concebido, o emprego da do naturalismo: do Mganicismo tipnlogin1ntc de Linné ao organiCl'. mo
voz humana, de. modo semelhante a uma harmonia imitativa, teria precedido e evolucionisla de Darwin. Nessa primeira. mas longu. ru~c de formaçao da
moldado a aparição da música; lingilística. 11 linguagem é tcoricamenlc considerada corno organismo vivo, e
estudada como tal. No úllimo lerço do século. o positivism(1 li losófico (1\. ComtcJ.
_ no estado mais tardivo da cultura marcado pelas coerções da
depois experimental (C'. Bemard). substilui. pouco a pouco. o romantismo
socialização (vida em grupo, necessidade econô:nica, emergência das hierarquias (hisroricista e organicista). Os neo-gramáticos rompem progressivamente com
e das relações de dominação), a linguagem, rebaixada de sua função primeira,
os pressupostos filosóficos do romanlismo. mas consagram. ao mesmo tempo.
seria convertida, pouco a pouco, em meio de expressão das necessidades.
fora de toda perspectiva especulativa aparente. o primado da função
É notável que as teses do Ensaio influenciaram profundamente a filosofia comunicativa da linguagem (primado afirmado em detrimento da função
da linguagem, principalmente na Alemanha. representativa). Apesar disso, a questão da natureza da linguagem não está
Com Herder, a primeira geração romântica admite que a linguagem, por inteiramente resolvida. A lingüística positivista toma emprestado ainda do
meio das diferenças culturais, recebe o caráter próprio dos povos. Via Rousseau, naturalismo uma parte de suas referências conceituais (a idéia de lei fonética
a filosofia da linguagem de Herder encontra alguns acentos da gramática aparece como um analogon da noção de lei tisica).
filosófica . Mas, além de toda consideração individual e subjetiva (Descartes/
Port Royal), o primeiro romantismo reconhece, antes de tudo, na linguagem 6.3. O estatuto da lingüística
uma função de representação do pensamento (na ocorrência da formalização Considerada a impulsão que ela recebe, desde seus começos. do
do "gênio" de cada povo). romantismo, do historicismo e do organicismo, a lingüística define-se. por longo
Com Hegel, a segunda geração romântica integra mais claramente a tempo, como uma ciência natural (o ponto forte dessa conceitualização remete
filosofia da linguagem à filosofia da históría. Elaborando uma concepção do a Schleicher). A emergência gradual do positivismo autoriza a tematização de
trabalho (da atividade humana como atividade industrial-produtora), uma metodologia mais rigorosa. Mas, simultaneamente, a formação das ciências
compreendido como mediação transformadora da relação homem/natureza. a sociais - o desenvolvimento da história e da psicologia social de G. de Tarde
fenomenologia do espírito faz valer a função econômica da linguagem, seu (1843 - 1904) com les /ois de /'imitation (1890) e da sociologia funcionalista
valor simbólico preponderante no desenvolvimento das instituições humanas. de É. Durkheim ( 1858 - 1917) com les regles de la mérhode sociologique
Aqui, encontram-se as grandes teses de G 8. Vico ( 1668-1744). (1895) - cria um novo polo de debate. Num lapso de tempo relativamente
As concepções românticas são recebidas de modo diverso pelos primeiros breve, novas orientações teóricas e epistemológicas aparecerão. A lingüística
comparatistas. Próximo de Herder, Humboldt desenvolve uma teoria da geral, na busca de um método próprio, problematiza os fundamentos científicos
linguagem ao mesmo tempo culturalista (antropológica) e mentalista. Herdeiro da gramática comparada.
de Herder e de Hegel, Schleicher - como Bopp, antes dele - relaciona a
hipótese indo-européia ao mito da crença na degenerescência das línguas. Da 7. W..p. WHITNEY (1827"-,1894):
pré-história à época indo-européia - que marca o começo do período histórico A IDEIA DE UMA LINGUISTICA GERAL
- , as línguas seriam destinadas a representar o pensamento humano no mais
alto grau de sofisticação. Com o começo do período histórico - marcado pelo Americano formado na Alemanha - especificamente ao lado de Bopp -
desenvolvimento da civilização - as línguas, corrompidas pelas exigências da William D. Whitney destacou-se no domínio do sânscrito e da gramática
comunicação, teriam entrado numa fase de decadência irreversível (estado de comparada antes de orientar-se para o estudo das línguas ameríndias. Seu
decadência do qual sua organização formal, geralmente deflexiva, seria trabalho de lexicógrafo é tão importante quanto sua obra teórica. A dara de
testemunho). 1867 evocada por Saussure é aquela da publicação de sua principal obra:
language and the study oflanguage (Unguagem e o es111do da linguagem).
6.2.A natureza da linguagem que foi seguida, em 1875, por The life and growrh of language (A vida e o
Os pressupostos filosóficos, mencionados anteriormente, não justificaram. desenvo/vímenro da linguagem).
por eles mesmos, o curso do estudo da linguagem durante o século XIX. Eles
encontraram potentes cauções nos modelos cientlficos dominantes. Entre o 7.1. O p rojeto do conjunto
começo e o fim do século - i.e. até o momento da critica neo-gramática - , o A exposição das principais concepções de Whitney exige uma atenção
particular quando se sabe qual foi seu papel de precursor da ciência da
~
-...,
.'6 • ft (.n..~! / j.,·rr.111!1 l ,111c•1Jf1,,1 -· 1 I:,-;;/11(,111 ,J,, ( •11111111/lfa ( l'l1nfNtr.1tl11 • 17
linl.!uaucm. A consickraçào dos grandes princípios de seu pensamento dev A formulnçl'io d..: um programa de pesquisa com contornos <.:laramcnh.:
- - a\lnliada. tcntlo por base a unan11ni
também e ser
. 'da d.e que e1a desfrutou entre
..• . algumas notas os definidos permilc n \Vhi~ncy conclui_i: qu~ a ~is: ip lina lingilística cm formação
cientistas de seu tempo. E o que re tlt
e e com mui t a e1oquenc1a constitui. por suns premtssns. uma c1cnc1a dtst111ta e completa:
assinadas por Saussurc no momento da morte de seu predecessor:
Ek nos deixou trabalhos. nos quais. a partir dos resultados da grama·i·
iilo logo na~cidn. n ciência da linguagem jú é um dos gr:1ndcs pontos de partida
. superior
emnpar:ida. de d uz-se uma via . e gera 1 so b rc a 1·mguagem: sendo eICa da crilica modcnia. Ela é tão extensa em sua base, tão definida cm seu objeto.
justnmcntc sua grande originalidade desde 1867 (apud JAKOBSON, 19 Sta tão severa em seu método, tão fecunda em seus resultados quanto qualquer
~ 77). 73 • p. outra ciência ( 1978, p. 123).
7.2. O objeto da lingüística A partir das perspectivas abertas por esse novo campo de conhecimento,
\Vhirney atribui à ciência da linguagem um programa muito ambicioso. Whitney fonnula igualmente uma visão fecunda sobre o papel de pólo de
Este deve atingir vários objetivos, assim delimitados'º:
unificação de outras ciências que a lingüística é sem dúvida capaz de
Ess.1 cit!ncia tem por objeto compreender a linguagem, primeiro, em seu conjunio, desempenhar:
como meio de expressão do pensamento humano, em seguida, nas suas
vari..:dndes [... ]. Enfim. ela persegue indiretamente um outro estudo: é aquele ela planificou os obstáculos entre vertentes de conhecimentos que estavam
dos progressos da humanidade [...] conquanto se possa descobri-los pelos separadas, mas que poderiam estar reunidas, e ela penetrou, por assim dizer, no
fatos da língua ( 1978. p. 123). interior do edi ficio do pensamento moderno, de modo a tomar-se indispensável
ao pensador e ao escritor (ibid., p. 124)
Ess:i primeira definição prioriza, antes de mais nada, um cuidado fonnal.
que \1lloriza ..o estudo da linguagem ou da lingüística" corno tal. Todavia. Whitney O gesto fundador de Whitney distingue-se ainda por sua novidade na medida
- fonnado nos quadros da gramática comparada - não hesita em definir os em que a constituição de uma teoria da linguagem acompanha a formulação de
objeti,·os que. por eles mesmos, excedem as concepções então em vigor. O urna demarcação clara entre lingüística e não-lingüística. Encontraremos essa
estudo dos fatos de linguagem é também foca lizado como uma preciosa fonte maneira de proceder no Cours de linguistique généra/e (Curso de lingiiística
de infonnaçi'io para pesquisa antropológica: Geral) de Saussure. Assim, Whitney delimita também o domínio da lingüística
pela negativa, tomando, em princípio, distância em relação a algumas orientações
Ela forneceu para a história da humanidade e de diferentes raças as verdades
precisas e as percepções profundas que jamais seriam obtidas sem seu auxilio da lingüística histórica. Ele opera assim uma dupla ruptura:
(ibid.). - recusando a perspectiva metafísica e teológica, situa fora do campo da
lingüística toda especulação sobre a origem da linguagem, em proveito da
Além disso. a lingüística é capaz de renovar completamente o ensino ~ 35 problemática das causas de sua evolução:
línguas. Por meio dessas considerações, Whitney problematiza. de mnneir.1
ainda prospectiva. as relações que a pesquisa de base é interpelada a empreender Mas como ela [a linguagem] é um produto, um resultado histórico, dizer que ela
com as cil!ncias aplicadas (em particular a didática das línguas): surgiu pronta e acabada, e ao mesmo tempo que o homem, é afirmar um milagre
[...). A.~ou.trina da verdadeira natureza da linguagem, tal como ela é estabelecida
· dt· .1in11uas
Ela prepara a renovação de velhos métodos aplicados ao ensino 'bilita pela c1enc1a lingüística, destrói completamente, ao menos cm sua forma antiga.
desde há muito familiares, tais como o grego e o latim. Elu nos po~~\QiS. o dogma da origem divina da linguagem (ibid., p. 142).
ensinar outras, das quais, há alguns anos, nós sabíamos apenas o nolllt
p. 123 - 124).
i d • .rdccusando a confusão entre lingilíslica e psicologia evita a assimilação
n cvi ªde seus respectivos objetos: '
7.3. Os limites internos da lingüística
A• faculdade huma11a q11c p1·oúuz, rnn1s
· d'iretamcntc n hngungcm.
· e,· como nos
· o
Vimos aquela de ad t · 1· '
lingüi \. .· ' ap nr ~nte 1gcntementc os meios no fim [...] n:lo cabe ao
.
10 As criações de Whi111i.:y sdo eximidas . (A~~m
do co letivo Awmt Sa 11ssm'I! 11 S 1ss1111•) esse ~s0ª• ~s,sim como ao historiador, cxplicnr os segredos do espírito humano:
()97lS,. e ' ' " }(fl/10 do p.vlc:lllogo (i/Jid.).
Sobre esse último W .
psicologia como ponto, h1tney observa as relações entre lingüística-
uma complementaridade frutífera:
~
~
..
\A • ,, ' .~, 1"'4fM• ~t f J'f.t,Nl•l1u1
.lf HrV1hl(1io 1/11 (1m1J11iJJM l.b111/~mula . J?
1\ 11111d11 d11 psic1\lug11 scn.11)rc é preciosa, e ela o é sobretudo no est· d
· que lod o o resto, o corpo do pensauo
. nguugcm e'mais
h11111111j1.l'111: porque a 11 da O homem possui,. como uma de suas ~orncterlsticas distintivas mnis marcantes,
1ihi.I. \. mento a faculdade do discurso:[...] mas ns. l:tculdmlcs são uma coiso. e seus produtos
claborndc;>s ~iio uma m~tra [. ..!. Ass1.m, o homem tem uma capacidade natural
Fm :mnrn. 11 ulirmução de uma ciência da linguagem constrói-se sob paro a pl~stu.:a. paro a 111vençao de 111strumentos, para as matemáticas, e para
1 mda 1,1s1ca
1\'l.'liS:l hllllu la menta1.ismo (ps1co
. quanto do
1
.
. og1smo). re a várias coisas grandes e nobres; mas nenhum homem nasce artista, engenheiro,
matemático, do mesmo modo como, ao nascer, não possui uma língua (ibid. p.
7.4. O antigo e o novo 133).
Ao longo de sua conceituação, Whitney tenta manter aliadas as diferentes Essa distinção fundamenta l, estabelecida em beneficio do processo de
cxigcncius du gramática comparada e aquelas de uma ciência da linguagem. transmissão e de aprendizagem, justifica a caracterização histórico-cultural
Nesse sentido, é importante destacar a sua proposta de hierarquização dos das línguas:
dados e a maneira, principalmente, com que ele justifica o lugar do comparatisrno
(domínio da confrontação empírica dos dados) sob o olhar da ciência da Ora, esses produtos acumulados das faculdades humanas que se exercitam e
linguagem (ou lingüística geral, compreendida como teoria pura, mas edificada se desenvolvem, produtos que crescem e mudam dia após dia, são o que nós
sobre bases emplricas): chamamos de instituições, os elementos da civilização. Cada seção da
humanidade deles possui alguma coisa (ibid. p. 133).
A filologia comparada e a ciência lingüística são os dois lados de um mesmo
estudo. A primeira compreende, em princípio, os fatos isolados de um certo Assim, Whitney insiste sobre o fato de que a linguagem é um obra coletiva,
corpo de língua, os classifica, indica suas relações, e chega às conclusões que sem negligenciar a parte devida a cada contribuição individual. Como fato
essas contribuições sugerem. A segunda faz das leis e dos princípios gerais da histórico, a dinâmica linguageira articula em si uma parte de coerção com a
linguagem seu principal objeto e somente se serve dos fatos como exemplos de possibilidade de inovação:
apoio (ibid., p. 149).
Cada um adquire o que o acidente do lugar de seu nascimento colocou em seu
Enfim, é interessante salientar, na obra de Whitney, um traço de época, caminho. e faz dele o ponto de partida do exercício de suas próprias faculdades,
caracte rísti co da epistemologia do final do século XIX, quando o encontrando-se ao mesmo tempo constrangido e fortificado pelo meio, meio no
desenvolvimento recente das c iências humanas contrapõe-se ao peso da qual o próprio indivíduo está destinado a crescer (ibid. p. 134).
tradição:
Enfim, contra a idéia de um controle evidente da linguagem pelos locutores,
O trabalho de comparação foi feito e continua a se fazer em grande escala e com Whitney - aproximando-se da psicologia - sustenta fortemente o caráter
resultados de grande vulto; mas a ciência da linguagem, propriamente dita, está inconsciente da faculdade da linguagem:
na sua infância, e seus princípios são o tema de uma grande diversidade de
opiniões e de uma viva controvérsia[...). Há um tempo em que esse estado de Não há uma pessoa em cem, em mil, que se dê conta do uso que ela faz da
coisas, tolerável no começo de uma ciência, cessa, e que em lingüística, como linguagem , ela sabe que fala e isso é tudo[ ...) (ibid. p. 136).
nas outras ciências de observação e de dedução[...] haja um corpo, não somente
de fatos reconhecidos, mas de verdades estabelecidas, que se impõem a todos Linguagem e comunicação
aqueles que pretendem o título de cientista (ibid.: 149 - 150).
A originalidade de Whitney consiste, como vimos, em romper com os últimos
7.S. A faculdade de linguagem pressupostos metafisicos da gramática comparada, conservando todavia o que
lhe permite fundar uma análise funcional da faculdade de linguagem. Essa
última somente se justifica, segundo Whitney, sob a perspectiva de um "desejo
Propriedade específica de co'!lunicação", ou ainda da necessidade, para a espécie humana, de traduzir
Whitney instaura uma distinção fundamental entre a linguagem c,omo pela !ala a expressão de suas necessidades fundamentais:
fac~dade antropológica ("capacidade inata") e a atividade linguageira ~SF,1,fic~
~amculannente ligada ao domínio de uma língua ("produto adqu!ndo ). É quando a exprcssi\o cessa de ser limitndn à emoçilo que é sun bnse nnturnl, é
linguagem constitui uma disposição inata da espécie, suscept1vel, pe1 ª quand~ ela vol~n-se aos usos intelectuais que começa a história dn linguagem
l:··l· La onde falta o desejo da co1111111icaç<io, nilo hã nenhuma produção de
aprendiz.agem, de desenvolver-se em aquisição:
~ngua&em. [...) a necessidade de comunicaçilo sempre é a principal força
etermmante que faz com que o homem fole (ibid. pp. 136- 137).
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Nessa nova .reflexão, su_bsi~te uma tentativa. para pensar a ontogênese · · Por
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· lado. com · vistas a cuntcmplnr 111dus· ••is• 1·11 nn.1s• t 1e cxprcss'io
da função comunicativa em referencia a um estado mais recuado da sociabilidade
simbohca.· \ 1Hllll'Y 11:mal1i'a.
· . :iti lnclo dn pnpd dn lingu:1.,c
"' 111 .,• r1·. . .• · '
1c11 1.iu:i aquele
humana: corrd:t11vt1. t tl~. mc1t1s t1l' cxprcss:1n 11:111 wrhu l. nos quuis ele rcco~hcc ·
estatuto de :111x1han.:s: eo
A linguagem audível começou, podemos dizer, quando um grito de dor
nós ICllHl . S tamh~m .IHlSSllS lll.tldlls . 11n1urais. de '""Jlrcss~o
• .. 1' (l l!CSI O. na
provocado pelo sofrimento, compreendido e sentido pela simpalia do outro foi "
p:mton11m:1.
· na cnwna,·:lo.
t e .m1s scrv11nos
. . deles:
. de um hdl1
• . como-meios · de
repetido, via imitação, não mais instintivamente mas intencionalmente [...).' Ao
comu~11ca.;:lo. qunm o 11s mews 11rtl1!1t11·i11s lnlhnm. como ocorre entre homens
edifício a ser construído, bastava esta base (ibid.).
que nno sal~cm mutuah~1cn1c suas hn~uas. ou com s11rtlos: .:. por ouiro lado.
p:ir:t d:ir m:i1s for.;:i. m:us graça ou mais clarcz:i :i lincu:igem ordinária (ihid p
No entanto, o ponto de vista utilitarista prevalece em Wbitney para dar 135). - - . .
conta do alcance da "necessidade de comunicação". A atividade linguageira
constitui uma garantia para os conhecimentos, assim como para sua transmissão; É patente que. nesses pontos fundamentais. Saussure. do qual falaremos
ela mostra-se igualmente fundamental para a renovação das idéias assim como mais adiante. continua profundamente devedor de algumas de suas teses
para a relativa estabilidade dos idiomas: fundamentais à reflexão predecessora de Whitney.
É para que os conhecimentos nos sejam comunicados que nós aprendemos
nossa língua, e é por meio da comunicação que nós aprend~mo-la. E ainda por
7.6. A polêmica Whitney/Schleicher e M iiller
meio da comunicação que nós renovamos nossas idéias. E a necessidade de A reflexão de Whitney foi também rnarcnda por seus freqüentes
conservar esse meio que coloca um freio na mudança dos dialetos, e é ela que, posicionamentos contra o naturalismo de Schleicher e Müller. Diversos escritos
consciente ou inconscientemente, cada um reconhece por regra (ibid. p. 137). pontuam a história dessa polêmica decisiva (principalmente Stricwres11011 the
views of A. Schleic/1er concemi11g the origi11 of /anguage. 1871 e M
Linguagem e instituição Miiller and the Scie11ce of /011g11age. a criticism, 1892): uma polêmica no
Whitney promove aqui uma ruptura com a tradição lingüística anterior: término da qual triunfam as teses defendidas por Whitney.
Nós consideramos, portanto, cada língua como uma instituição e uma dessas O antinaturalismo
que, em cada sociedade, constituem a civilização (ibid. p. 134) Ele desdobra-se, em princípio, a partir de um ataque radical que visa ao
postulado principal das obras de Schleicher e de Mil Iler (a assimilação das leis
Para desenvolver essa nova perspectiva, Whitney estabelece um
paralelo entre a expressão humana e a expressão animal: lingüísticas às leis naturais, o apagamento do parâmetro humano):
A diferença essencial que separa os meios de comunicação que têm os homens, Há tanto mitologia lingliíslicn em afirmar que a linguagem é governada por leis
dos meios de comunicação que têm os animais, é que, nestes últimos, eles são quanto em afimrnr a ausência daquilo que lhe é essencial. justamente a ação
instintivos, uma vez que nos primeiros eles são inteiramente arbitrários e dos homens, o que permite considerá-ln como um organismo (ibid. p. 152)
convencionais (ibid. pp. 134 - 135).
Ele conduz, em seguida, a uma dupla afirmação: de um lado, o caráter
O lingüista inova radicalmente, caracterizando a língua como ~ma social da linguagem, de outro, o papel detenninante dos usos:
institujção na qual os signos são ao mesmo tempo convencionais e arbitrános:
Se nós_d~vcmos dar à linguagem um nome que evidencie suas caracter~sticns
Não há uma única palavra em nenhuma língua conhecida que se possa dizer esscnc1~1s do modo mais distinto e mnis preciso, tomando mesmo a direção
existir, phusei, naturalmente, mas cada uma cumpre seu emprego, thesei,por ~po~ta aqueles que queriam torná-ln um orgnnismo, nós a chamaremos de
atribuição.[... ] (ibid. p. 135). ms11t11içt10, uma das instituições que constituem a cullurn humnnn (ibid)
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4? • ~ 11 Gnmt!u "J"ro11~11 da I Ji{~11í1tim ~
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e propriamente, sob a pluma d Em uma nota, o teórico da semântica explicita o alvo de suas críticas,
• 1·ca não ap arec • . . e
O termo, sem~n 1 e üentemente, pensar que a tennmolog1a vitalista marcando sua discordância de principio com seu predecessor imediato:
Darmesteter. E poss1~el, ~ons q t 0 subentende, de alguma maneira, no estilo
à qual ele se vincula mtelfamen e o leitor ITancês lembrar-se-á, sobretudo, do pequeno livro deArsene Darmesteter,
metafórico: la vie des mots. O autor, certamente, mergulhou demais, lançou-se fundo demais
. . e das palavras; temos razão de chamar esse opúsculo na comparação, de maneira que, em alguns momentos, parece acreditar em suas
Nascimento, vida e ~od~, dans leurs signfications (ibid.) metáforas(...) (ibid.).
de La vie des mots etu iee
, . to merece ser evocado. Refere-se à li~ação da lingüística A mesma passagem comporta uma análise muito apropriada das
Um .~lti~o pon . ltaodo a temática neo-gramátlca de uma evolução contradições que minam em seu princípio o sistema de Schleicher, modelo por
com as c1enc1as naturais, ressa .d d fu .. excelência da lingüística naturalista:
. fi tu sob 0 domínio de uma necess1 a e cega e gitiva
da lmguagem que se e e a
que escapa à vontade dos locutores: a época da perfeição das línguas estaria situada bem longe no passado,
anteriormente a toda história: a partir do momento em que um povo entra na
A 1.mguagem e• uma mate'ria sonora que o pensamento
· d
humano transforma
• · · 1 história, começa a haver uma literatura, uma decadência, uma decadência
· 1mente e sem fim , sob a ação inconsciente a concorrenc1a v1ta e da
·msens1ve irreparável se instala. A linguagem se desenvolve no sentido contrário ao dos
seleção natural (ibid. p.287). progressos do espírito. Exemplo remarcável do poder que as primeiras
impressões, as idéias recebidas na infância podem exercer! (ibid.: 291 ).
M. Bréal (1832-1915): a ciência das "signi_ficações" .
Tradutor da Grammaire comparée de Bopp, M1chel Bréal foi o grande 2.2 A fundação do domínio
introdutor da tradição lingüística alemã na França. Ocupou a cadeira de Quando se trata verdadeiramente de afirmar seu projeto, Bréal fonnula
gramática comparada do College de France e foi secretário da Société de um último postulado, que concerne à natureza e às causas da mudança
Linguistique de Paris (desde 1868). Comentando seu projeto, Meillet afimia lingüística. O ponto de vista defendido tende a causar uma ruptura com as
que Bréal busca "explicar os fatos lingüísticos pelo uso lingüístico". concepções admitidas pelos neo-gramáticos:
A formulação da idéia de uma semântica provoca vários deslocamentos.
Bréal inicia, primeiramente, com um balanço científico da gramática comparada Deixando de lado as mudanças da fonética, que concernem à gramática
e sublinha a ausência de uma reflexão lingüística que "fale à inteligência": fisiológica, estudo as causas intelectuais que presidiram à transformação de
nossas línguas (ibid. ).
~o se limitar às mudanças das vogais e das consoantes, reduz-se aquele estudo
as proporções de uma vertente secundária da acústica e da fisiologia; ao se Além do fato de se distanciar quase inteiramente da linha teórica dos neo-
c~ntentar em enu~e~ar as per~as provenientes do mecanismo gramatical, dá-se gl'amáticos, Bréal se distancia ainda do ponto de vista da filosofia da linguagem,
a 1lu~ão de um ed1fic10 que cai por terra; ao se dividir a origem da linguagem em afinnando - inclusive contra seus rivais franceses (como A. Darmesteter) -
ti:onas vagas, acre~centa~se'. ~e~ grande proveito, um capítulo à história dos que:
sistemas (...) ~xtrair da lmgü1stica o que dela sobressai como elemento !Para
reflexão[...), eis o que merece ser trazido à luz[...) (ibid.p. 289). ª história da linguagem, ao lado das mudanças desenvolvidas com um
extraordinário impacto, apresenta também uma quantidade de tentativas
~ segunda etapa consiste em uma crítica radical do naturalismo, roas esboçadas que ficaram no meio do caminho (ibid. p.291).
tambem da adoção a-crít1·ca desse mo de1o. Ao precisar
. seu argumento,
· Bre'ai
.
discerne na tentação naturalista uma fonna não dissimulada de antropomorfismo, da eObse~emos que a posição defendida por Bréal parece fazer eco às teses
~~j!~' o uso do estilo metafórico leva o pesquisador a desconsiderar seu esta~iº'ª idealista. Essa afinidade objetiva não nos permite, entretanto,
Possa ecer, com certeza, uma filiação direta, ainda que essa convergência
social r~ultar da influência exercida sobre as duas concepções pela psicologia
ª · de
O abuso das abstrações, o abuso das metáforas, tal foi,. tal e, 1.1:da o. disseram·
pengo causar arde). Para melhor definir a amplitude causal ou, mais exatamente,
nossos estudos. Vimos as línguas serem tratadas como seres vivos. morria!ll· categtª dessa ação voluntária, Bréal hesita em usar uma terminologia
nos que as palavras nasciam, travavam combates, propagavam-se e houvesse intelec~c~18 demais. Ele evita toda objeção, determinando que as "leis"
Não haveria nenhum inconveniente nessas maneiras de falar se não diferença Sào [...] ~ n~s quais ele pensa "não são essas leis sem exceções [...) como
pessoas para tomá-las no sentido literal( ...) O que escrevemos sobrel:s tambéfll Propõe e s leis da fonética" (ibid. p. 291 ). Tomada essa precaução, Bréal
das línguas mães e das línguas filhas? As línguas não têm filhas, e ssa caracterização:
não dão a luz a dialetos (ibid. p. 290).
s.z • / IJ Cn1111f~1 'l"rori,u tf11 I i'!f.NÍJ/it.1
; I ltrrr/'(1io Jmnmn 1L1 1.n11111itirn tompnroJ11 . SJ
.. naturalmente, a examinar o problema irritante da conformidade originária da e locado pela pennancnte presunção, conle~sadn ou latente, da intervenção da
consciência nas operações elementares da lmgungem (ibid.p.91 ).
linguagem e do pensamento (ibid. p. 183).
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na l'adeira de gr.:1m:ltil.'.a compamda do Coll<~ge de France, Meillet expõe n Com a adoção do conceito de sistema, a perspectiva defendida por Meillet
sua aula inaugural t"O est:ido atual dos estudos de lingüística geral", em 13 dª faz positivamente eco ao ensino saussureano:
tewreiro de 19()(1) o essencial de suas opções de pesquisa. e
A nova lingüística geral[...] fornece uma renovação completa dos métodos e
O destaque da perspectiva das idéias: aos fatos históricos particulares, ela sobrepõe uma doutrina de
conjunto. um sistema. (ibid. p.15).
A inte.1)\·ão de Meillet se faz sentir desde as primeiras linhas de sua proposta
inaugural. Ek enx:a. primeiramente. as "considerações que [o] levaram a A lingüística geral, assim compreendida, teria como verdadeiro objeto menos
hu~.u. em suas primeira lições[ ...]. as causas sociais dos fatos lingüísticos" o estudo das fonnas particulares que a produção de uma reflexão capaz de um
( 19~2. p. 2-3). alto grau de abstração, isto é, de uma unificação do saber:
Meillet recebeu parcialmente suas concepções de Bréal tanto quanto de
Sau.."-"ure l do qual seguiu o ensino parisiense), de Darmesteter e de Grammont, A pesquisa das leis gerais, tanto morfológicas quanto fonéticas, deve ser de
por quem ele se diz igualmente influenciado (ibid. p.1-2). O lingüista prepara agora em diante um dos principais objetos da lingüística. Mas, pela sua própria
um primeiro balanço do domínio. lembrando que os conceitos de lei fonética, de definição, essas leis ultrapassam os limites das famílias das línguas; elas se
analogia e de empréstimo defin em "os três princípios de explicação que aplicam à humanidade inteira (ibid. p. 13).
reconheceu a lingüística ao longo do século XIX" (ibid. p. 4). Essas diferentes
De fato, por razões culturais e institucionais, a gramática comparada
aquisiçx)es não se limitam a um acúmulo de novos saberes. Elas definem também
desenvolveu-se principalmente a partir do domínio indo-europeu. De maneira
ferramentas de analise suscetíveis de serem empregadas em novos campos de
aplicsçào: que vertentes inteiras do conhecimento lingüístico não puderam se beneficiar
das aquisições teóricas dessa escola. Nada, por outro lado, permite tirar
Primeiramente. há ainda famílias inteiras de línguas às quais sequer se iniciou conclusões gerais a priori, em termos de gramática comparada, "dos outros
sua aplicação f...] (ibid. p. 4). grupos de línguas". Como resultado dessa situação de desequilíbrio científico,
Meillet sugere que os modelos de análise evidenciados a partir das línguas
Elas permitem.. igualmente, sustentar o estudo, pouco desenvolvido até iodo-européias poderiam servir de quadro para o exame científico de outros
·então.. das línguas atualmente faladas:
conjuntos idiomáticos:
C.oJocamcrnos a descrever com uma exatidão singular todos os detalhes dos À medida que as gramáticas comparadas dos diversos grupos se constituirem
idiomas modernos (ibid. p. 5).
de uma maneira mais sistemática, as leis da lingüística geral conquistarão mais
certeza, mais precisão e esgotarão mais completamente o conjunto dos fatos de
Paralelamente, esse mesmo dispositivo conceituai é capaz de promover língua (ibid. p.14).
uma compleu renovação do estudo dos fenômenos lingüísticos já parcialmente
idemifirados:
4.2 As causas sociais da mudança lingüística
S~ domínios que foram estudados mais atentamente, não há, sem dúvida, uma Os limites da gr amática comparada
quesião a partir da qual não se possa renovar o estudo [...], utilizando as
~dos filólogos que se dedicam a cada língua[...] (ibid. p. 4-5). O panorama das aquisições e das possibilidades da gramática comparada
constitui uma prévia ao enunciado de uma perspectiva nova de trabalho. Meillet
O.rwWt•com o conjunto aponta aqui os limites da gramática comparada (particularmente, aquela de
Da mesma maneira que Whitney, Meillet também lamenta a disp~i~a~e seu momento histórico). Essa disciplina, datada de um século verdadeira matriz
.'JDeJ:e.lOõl álll:e o avanço dos conhecimentos lingüísticos (comparatismo, histona) da ciência da linguagem, limitou-se a perscrutar as causas me~ânicas ocasionais
~ a elabol.a~, de wrut teoria geral orientada a ordenar metodologicamente um da mudança lingüística; em nenhum momento ela se deu os meios para isolar a
~ ~~ 1't tornou pletórico. Considerando as diferentes formas da mudança causa invariante do processo:
llngrtíi.llt:a <ki f~ca. analogia, empréstimo), Meillet exprime a preocupação
de Wll ~~vista sí~temático sobre os fatos da linguagem: Todas as leis gerais que se colocaram, todas aquelas que esta pesquisa, apenas
iniciada, reserva ainda à descoberta, têm, no entanto, um defeito: elas anunciam
ourn:a ~ 1egíti11)() lentar explicar um detalhe fora da consideração do sistema possibilidades, não necessidades (ibid. p.15).
~«la lingua na qual ele ap-c11ece (lbld. p.11)
•
60 • .~J <.:mndu l i-on 1u d 1 I 111i:,1111111,1
l ~· f l(r11ftr.io fi .nur111 ,t, f.'•11111it1M 1nmp1n<ul11 • til
A hipótese
O parâmetro causal. invariavelmente considerado como responsável Pela Nesse momento ela arn\lisc. Mcillct opern 11111 deslocamento cm relação ús
mudança lingüística. Mcillet vai delimitá-lo ao entorno imediato de cada língua: concepçõc.:s c.:nt:1o ndmitidas pelos objetivos dn ling!listica. A valorizaçilo teórica
do pnrfünctro social sô tem um precedente se considerarmos o movimento de
Mas há um elemento cujas circunstâncias provocam perpétuas variações, tanto valorizaç:'io teórica elas leis fonéticas empreendido pelos nco-gramúticos. !\
repentinas
da quanto
sociedade lentas, mas jamais inteiramente interrompidas: é a estrutura
(ibid. p.16). constituiçi\o da cnusalidndc social como objeto de pesquisa inédito conduz Meillet
a definir. nssim. sua nova hipótese de trabalho:
!! prov:ivcl a priori que toda modi licaçilo da estrutura social se traduzirá por
O caráter social da linguagem uma mudança das condições nas quais se desenvolve a linguagem (i/Jid. p.17).
<;oi:n as leis fonéticas, a analogia e o empréstimo, a estrutura da sociedade
cons~tm o qu~o "princípio de explicação" da mudança lingüística. Essa posição Essa perspectiva não é sem conseqüência para a conceituação dos objetivos
auton za Me1llet a dar o primeiro passo para uma nova caracterização da da lingüística. Meillet opera, então, uma distinção de importância entre a
linguagem e, finalmente, para uma nova orientação da lingüística: lingüística geral e a lingüística enquanto ciência social:
A linguagem é uma instituição que tem sua autonomia; é preciso, portanto, nela
Ora, a linguagem é eminentemente um fato social[...] pois se a língua não é algo detenninar as condições gerais de desenvolvimento a partir de um ponto de
de substancial, ela não existe menos por isso. Essa realidade é ao mesmo tempo vista puramente lingüístico, e esse é o objeto da lingUistica geral[ ...) mas pelo
lingilística e social (ibid. p. 16). fato da linguagem ser uma instituição social, resulta que a lingüística é uma
ciência social [...] (ibid. p. 17).
Embora de aparência dogmática, essa asserção provoca uma dupla
justificativa teórica. A vertente propriamente "lingüística" da língua constitui O programa
uma ordem de restrição interna: A partir dessa distinção, Meillet percorre a via de uma nova área da
lingüística. A caracterização dessa orientação compreende um enunciado
Ela é lingüística: pois uma língua constitui um sistema complexo de meios de programático:
expressão, sistema no qual tudo se realiza e no qual uma inovação individual
poderá dificilmente encontrar lugar [...) se ela não estiver em harmonia com as Será preciso determinar a que estrutura social responde uma estrutura lingiiística
regras gerais da língua (ibid. p. 16). dada e como, de uma maneira geral, as mudanças da estrutura social se traduzem
por mudanças de estrutura lingüística (ibid. p.18).
Quanto à vertente especificamente "social" da língua, essa define uma
ordem de restrição externa, mas coletiva: Explicitando o laço entre linguagem e sociedade, Meillet despede-se da
lingüística do século XIX e assegura à ciência da linguagem a passagem da
Sob outra perspectiva. a realidade da língua é social: ela resulta[ ...) daquilo que idade da história à idade das ciências sociais:
é 0 meio de comunicação entre os membros de um mesmo grupo e daquilo que
não depende de nenhum dos membros do grupo para modificá-la[...] (ibid. p. O século XIX foi o século da história, e os progressos realizados pela lingüística.
17). ao se colocar do ponto de vista histórico, foram admiráveis; as ciências sociais
se constituem nesse momento e a linguística deve ocupar o lugar que sua
Apo iando-se nessa segunda justificativa, Meillet lembra a função de natureza lhe designa. (ibid. p. 18).
restrição objetiva correlativamente assegurada pelas regulações do uso. mas
sobretudo pela instituição escolar: Para concluir esse ponto, é preciso dizer algumas palavras sobre a inovaçilo
de Meillet. Sem forjar sua exata denominação, Meillct é,juntamente com Bally.
nas sociedades civilizadas modernas, exclui-se de todos os principais empregos um dos dois mais importantes protagonistas dn sociolingilísticn na esfera
examinados aqueles cidadãos que não sabem se submeter às regras da francófona.
linguagem, às vezes, bastante arbitrárias. mas que já foram adotadas pela Com a idéia de uma lingllistica social, Meillct resolve de uma maneira
comunidade. (ibid. p.17). original a aparente antinomia linguagem/sociedndc, ressocializando, para assim
dizer, a divisão individual/coletivo. Sabe-se, no entanto, que Sausuure, um dos
4.3. A idéia de uma lingüfstica social seus mestres, sobrepujou a mesma dificuldade reservando à semiologia o estudo
•
62 • /11 Grn11d<J Teoriru da U11g11í1lita
da vertente social da linguagem 17• Meillet foi, juntamente com seu aluno M
Cohen (1_884-1_974), o organizador das Langues du monde (l 924, 2 ed. 1952): Cnpítulo 4
Esse conjunto ilustra o postulado segundo o qual as línguas são "o reflexo do
comportamento e da mentalidade". A tematização por Meillet do papel
predominante dos processos sociais proporcionava novas interpretações.
Compreende-se, por exemplo, como, a partir desses mesmos postulados, Cohen
propôs uma teoria marxista da linguagem em Matériaux pour une sociologie
FERDINAND DE SAUSSURE :
du langage ( 1956, 2 ed.197 J). A reflexão indo-europeanista de Meillet foi A teorização da lingüística moderna
trabalhada por dois outros discípulos, É. Benveniste ( 1902-1976), autor, nesse
domínio, do Vocabulaire des instituitions indo-européennes (cujas posições Saussure mostra que o homem não é senhor de sua língua. Ao questionar as
se encontram esparsas na obra de Meillet), e G. Dumézil ( 1898-1986) que, ao evidências gramaticais e a maneira pela qual elas funcionam parn o sujeito
se apoiar nos métodos da gramática comparada, conferiu um fundamento filiante. Saussure contribuiu para tirar a reflexão sobre a linguagem das evidências
científico ao estudo da mitologia comparada (em particular: L 'idéologie empíricas: ao estudar a língua como objeto abstrato. um sistema cujas forças
são exteriores ao mesmo tempo ao indivíduo e à realidade tisica. a teoria
tripartite des Jndo-Européens). saussureana produziu um efeito de desconstrução do sujeito psicológico livre
e consciente que reinava na reflexão da filosofin e das ciências humanas
BIBLIOGRAFIA nascentes. no final do século XIX.
BERGOUGNIOUX G. Aux origines de la linguistique française. Paris:
Pocket, 1994. Essa observação de Gadet ( 1966, p. 7) expõe ao mesmo tempo o projeto
BRÉAL M., Essai de sémantique. Paris: Brionne, Gérard Monfort, 1982. de Saussure ( 185 7-1913) e suas conseqüências na ciência lingüística do século
XX. O Curso de Lingiiistica Geral (CLG). publicado em 1916 por Sally e
HENRY, V Les antinomies linguistiques, suivies du Langage martien. Séchehaye, segundo as notas dos estudantes que tinham seguido os cursos de
Paris: Peeters, 2000. Saussure entre 1906 e 1911 18, aparece como o texto fundador da lingüística
MEILLET A. Llnguistique historique et linguistique générale, Genebra: moderna, repousando sobre o estudo da língua como sistema. Ainda que
numerosos temas abordados por Saussure já circulassem em pesquisas da
SJat:kine; Paris:Champion, 1982. segunda metade do século XIX'°, o CLG, constitui, no entanto. o que se pode
chamar de "corte epistemológico''. isto é. uma maneira radicalmente diferente
de considerar os fatos da linguagem. O trabalho de Saussure instaura, com
efeito, uma ruptura com a lingüistica comparatista:o de sua época. propondo
uma abordagem não histórica. descritiva e sistemática (dir-se-á. mais tarde,
"estrutural..).
1KFcnlinuml dl! S:.1 uss111\! 111inisLrt1111r1:s cursos i:m G.:n.:bm i:m 1906-1907. 1907- 1908. 1910-
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..: n prc:sl'111·111lessc p111kr Sl' n:l'lmh1.•cc. Jhlf sm1 w1, s1.-jn pl'ln cxis1ência de algumas sanç<ks
llc:1t•n11i1111dns. sc:ju pdu f'l:sislliu.: iu <Jll<' o ll11<1 ''J><k ;i ' " " ' ' C:lllJll'l.'<-'llllimc:n1,1 individual <111<: h:nde
17 "A natureza social da língua é uma das suas características internas. Pode-se, 11 vinl.:1111\.fn ( 149:!, p. 11 ).
portanto, conceber uma ciência que estuda a vida dos signos no interior da vida social '.?O S''lllllllln 11s l'omp:mllistns 1ln s<'culn XIX. cm Jlí111k11lnr c:m 1omo de F. Bopp. ns línguas se
[...]Nós a nomearemos semiologia [...]A tarefa do lingüista é definir o que faz da língua dc:l!md11111 uo 1.·vol11i~111 snh o di.-it11 1111.s lds li1n.'1il'us. nn ··01111111k:w110. Tm1:1-se <k comparar os
cs111,l11s n111igos :111s 1.•s1111t.1s pl\'S<'lltl'S tln lin!).llll.
um sistema especial no conjunto dos fatos semiológicos" ( 1995, p. 33).
M • /11 Grn11du 1'toria1 da U 1w11i1ifa
I ilf \ 11H'"''' ,, /11J11 o··lf•'" ,/,, lmt)'li ftal 111ul101t1 • " '
É dentro da parte do CLG que os editores denominam de Introdução que Efetivamente, a lingüística será útil se ela fornecer ferramentas de
Saussure lança os fundamentos da lingüística geral. Depois de tê-la constituído observação suficientemente gerais e precisas para serem utilizadas por todos
como ciência, definindo suas tarefas e seu objeto, Saussure evidencia uma das aqueles que estão interessados na língua. Saussure quer, portanto, ultrapassar
antinomias fundamentais do CLG: a distinção entre língua e fala. a comparação conjuntural das linguas particulares, como o fazem os especialistas
da gramática comparada na sua época, para estudar a estrutura geral da língua.
Para fundar uma tal disciplina, é preciso, antes de tudo, definir seu objeto.
.E 0 TCLG acrescenta :
antemão que uma dessas maneiras de considerar o fato cm questão seja ant .
ou superior às outras. ( 1995, p. 15) erior E, assim, poder-se-á introduzir uma ordem interior nas coisas que concernem à
linguagem (p . 66)
Encontra-se nos ELG uma formulação ainda mais clara e concreta d
idéia: essa -A lingüística faz parte da semiologia. A definição do objeto da lingüística
d t rmina, em contrapartida, a natureza dessa disciplina. Enquanto ciência dos
A lingüística encontra diante dela, como objeto primeiro? imediato, um obj t ~ eos a lingüística entra, segundo Saussure, em uma ciência mais geral que
s1gn , . .
dado, um conjunto de coisas que se encontr~m sob o sentido, como é 0 casoe~ ele nomeia sem1olog1a:
tisica, da química, da botânica, da astronomia, etc.?
De maneira nenhuma e em nenhum momento: el.a é colocada no extremo opos10 A língua é um sistema de signos que exprimem idéias, e é comparável, por isso,
das ciências que podem partir do dado dos sentidos (2002, p. 19-20). à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de
polidez, aos sinais militares etc., etc. Ela é apenas o principal desses sistemas.
Isso quer dizer que os fatos da linguagem não são exteriores à experiência pode-se, então, conceber uma ciência que estude a vida dos signos no seio da
humana, mas fazem parte dela, são mesmo o seu produto, porque a linguagem vida social; ela constituiria uma parte da Psicologia social e, por conseguinte,
é uma atividade do homem. da Psicologia geral; chamá-la-emos de Semiologia (do gregosemeion, "signo").
- O objeto da lingüística é a língua e não a linguagem. Com efeito. a Ela nos ensinará em que consistem os signos, que leis os regem[...) A Lingüística
linguagem é uma faculdade humana, muito mais vasta e menos específica que não é senão uma parte dessa ciência geral. ( 1995, p. 24).
a língua. A linguagem supõe somente que seres humanos falem e ela engloba
ao mesmo tempo a produção e a recepção, o pensamento e sua expressão
Lingüística interna e externa
fônica, a dimensão individual e social, a dimensão estática e histórica. Essa é, Nossa definição de língua supõe que eliminemos dela tudo o que lhe seja
diz o TCLG, "uma faculdade que nos vem da natureza" (p. 66). A língua na sua estranho ao organismo, ao seu sistema, numa palavra: tudo quanto se designa
relação com a natureza é definida como "o produto social cuja existência permite pelo termo "Lingüística externa". Essa Lingüística se ocupa, todavia, de coisas
ao indivíduo o exercício da faculdade da linguagem" (p.66), formulação talvez importantes, e é sobretudo nelas que se pensa quando se aborda o estudo da
mais lapidar do que a primeira definição do CLG: linguagem. (1995, p. 29).
Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a lirguagem: é O que Saussure chama de "lingüística externa" estabelece, com efeito,
somente uma parte detenninada, essencial dela, indubitavelmente. E. ao mesmo relações com a etnologia, a história política, o que ele chama de " instituições
tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto ~e d~ todos os !ipos" como a Igreja e a Escola, a geografia lingüística e a
convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exerdc10
dessa faculdade nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme dialetologia. E uma lingüística que descreve os laços que a língua pode ter com
e heteróclita; a cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo llsica. ~que está fora dela mesma, que acumula informações, mas que não dâ conta
fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao domínio individual e ao domin~o e seu funcionamento interno e autônomo:
social; não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos. pois
não se sabe como inferir sua unidade. A Lingüística externa pode acumular pormenor sobre pormenor sem se sentir
A língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação. {1995. P·
17). !~~da no torniquete dum sistema.(...] No qu,e concerne à .Lingüistica interna,
so coisas se passam de modo diferente( ...] a lmgua é um ~1stema que conhec~
Esse "todo por si'', é o "sistema de signos", que tem como princi~al mente sua ordem própria. Uma comparação com o JOgo de xadrez fara
característica sua autonomia e sua "ordem própria", condições necessánas ~~pr~ndê-lo melhor. Nesse jogo, é relativamente fácil distinguir o externo do
para aceder ao estatuto de objeto da lingüística. Essa é a razão pela qual ª in~rno, 0 fato de ele ter passado da Pérsia para a Europa é de ordem externa;
3 • ]~' ao contrário, é tudo quanto concerne ao sistema e às regras. ( 1995, p.
ordem da língua serve, de certa maneira, como modelo rigoroso para abordar
os fatos da linguagem:
13
É necessário colocar-se primeiramente no terreno da língua e tomá-la como
normu de Iodas as outras manifestações da linguagem. De fato, entre tantas 1.2. Lingua/fala
Carletetisttcu da~~ da fala
dualidades, somente a llngua parece suscetivel de uma definição autônoma e
fornece um ponto de apoio satisfatório para o espfrito. ( J 995, p. 16-17).
•
68 • ,111 Gn111tlt1 º/(ori11, d,, 1 Íl((11titim
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70 • • 4 j.1 <, mN1lr• 'l ifinat tlr1 1 Jff~N11t1111
F. dt S1111JSlfrr: 11 kmizt1(tin dfl li11p/fí1liro 111odtr11a • 71
Língun e escrilll silo dois sis t.c111~1s di stint r~s de ~ign~~s; .ªúnica razão de ser do
segundo é rcprcscntnr o ~mnc1ro: o objeto l1n gü 1 s~1c.o não se define pel O argu~ento principal de Sau s~ure é aqui a tradução: 0 fato de que as
·onihinadlo da palavra cscntn e dn palavra falad a: esta ultima, por si só, constJ' tUI~
\: Y • • . • • • mesmas realidades possuem nomes diferentes em diversas línguas é uma prova
tal nbjl'lo. Mns a palavra escrita se m1slura ti10 intimamente com a palavra da não-coincidência entre a língua e o mundo. Saussure se opõe aqui a uma
falado. da 41 wl é a im~1gc.111. qu': a~ab.a por usurpar-lhe e~ papel principal:
icnniil<llllOS por dar mator 11nportam;1a a representação do signo voçal do qu longa tradição representada pela lógica de Port-Royal de Arnauld e NicoJe2J
ao próprio signo. E. como se acre d'1tassemos ,
que, para conhecer uma pesSOa.
e para os quais existe uma estrutura geral da idéia que organiza o enunciado. N~
melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o rosto ( 1995, p. 34). CLG, a idéia é uma "massa amorfa", uma "nebulosa" (p. 155) antes de sua
colocação em língua.
É preciso, portanto, liberar-se da palavra escrita e estudar os sons da
2.2. A natureza do signo
língua, "substituir de imediato o artificial pelo natural" ( 1995, p. 42). Esse é 0
objetivo da fonologia, que permite escapar às " ilusões da escrita" ( 1995, p. Significado e significante
43). Essa precisão leva Saussure a definir a noção de signo lingüístico:
Saussure estabelece a fonologia distinguindo-a da fonética: a segunda é
"uma ciência histórica", enquanto a primeira "está fora do tempo'' (lbid.). Ele O signo lingüístico une não urna coisa e uma palavra, mas um conceito e uma
utiliza, como sempre, uma metáfora para explicar a diferença entre as duas: imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente tisica, mas a
impressão (empreinte) psíquica desse som, a representação que dele nos dá o
testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-
[A Fonologia] constitui um sistema baseado na oposição psíquica dessas la "material", é somente neste sentido, e por oposição ao outro termo da
impressões acústicas, do mesmo modo que um tapete é uma obra de ane associação, o conceito, geralmente mais abstrato. (1995, p. 80).
produzida pela oposição visual de fios de cores diferentes; ora, o que importa.
para a análise, é o jogo dessas oposições e não os processos pelos quais as O esclarecimento sobre o aspecto não material (ainda que concreto) da
cores foram obtidas. ( 1995, p. 43). imagem acústica é muito importante, e articula a distinção entre fonética (ciência
do som material) e a fono logia (ciência da imagem acústica). Saussure faz,
E a introdução é seguida de um apêndice intitulado " Princípios de
com efeito, do signo uma "entidade psíquica" (poder-se-ia igualmente dizer
Fonologia", que será fundamental para os lingüistas do Círculo de Praga, pois
"abstrata"), conforme às precisões da primeira parte sobre a língua, vista como
o modelo fonológico constitui para eles uma das bases da lingüística renovada.
soma de "impressões tisicas" depositadas no cérebro:
20SIGNO
O signo lingilfstico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces, que pode
É na primeira parte do CLG que Saussure situa a teoria do signo. ser representada pela figura:
() termo ~ugno correria o risco. de. ser utili;1,ado somente pela ima
, . • gern
acústica; pnr i N~o. o 11 lermos "'m""''" e /ma~em ucus11ca 1oram substituídos No entanto, os signos evoluem com o tempo:
por i í~llí/i('(ldo e .vl~nl/1"anle :
O tempo que assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, em aparência
r•roponi o-no' con ~crvar
. o, lermo .vígno
, .'fi para
.1
designar
• . o total, e a subsft1 Ulr. contraditório com o primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos
r·mu·d to e lmo}.!em º"L~.vtu:a por .v1J<~! 1cauo e s1gn!11ctmte; estes dois termos lingüísticos e, em certo sentido, pode-se falar, ao mesmo tempo, da imutabilidade
térn a vantagem de ass1m1lar a opos1çâo que os separa, quer entre si, quer do e mutabilidade do signo. ( 1995, p. 89).
total de que fazem parte. ( 1995, p. k 1).
Essa evolução é definida por Saussure como um "deslocamento da relação
Saussure coloca, portanto, claramente a realidade (do mundo real ou do entre o significado e o significante" (1995, p. I09). Trata-se, portanto, de uma
pensamento) à parte na concepção do signo. Signo e realidade pertencem a evolução interna ao signo. Por exemplo, o latim necare (em francês, tuer:
duas ordens diferentes, e não se trata de correspondê-las: a ruptura é feita "matar") que gerou noyer em francês (em português, "afogar"), testemunha
com a concepção clássica do signo como representante de uma idéia (Saint- esse tipo de evolução, porque a relação entre o significante e o significados~
Augustin, Port-Royal), e com o problema da correspondência entre a língua e modificou: necare que corresponde a "levar à morte; fazer perecer", evolui
o mundo, problema de ordem filosófica, mas não lingüística. Como explica para noyer, correspondente a "fazer perecer imergindo em um líquido", com
Milner (2002, p. 28) claramente, Saussure faz a concepção do signo passar da uma restrição de sentido.
assimetria à reciprocidade: Na continuação do CLG, Saussure desenvolve os dois princípios que
ele estabeleceu para o estudo do signo: o arbitrário do signo e a linearidade do
a doutrina port-royalista do signo se fundava na relação de representação. significante.
Essa relação é assimétrica: A representar B não implica que B represente A. Ora.
é notável que Saussure não fale apenas de representação. O termo decisivo na
doutrina saussureana é aquele da associação; ora, a relação de associação é 2.3 A arbitrariedade do signo
recíproca: A estar associado a B implica que B esteja associado a A. O significante A arbitrariedade do signo é uma questão delicada que se inscreve em dois
não representa o significado; ele lhe é associado e, da mesma maneira, o debates diferentes: um, filosófico, da relação entre o nome e a coisa (opondo
siginficado, por sua vez, está associado ao significante. Se alguma coisa tradicionalmente os naturalistas, estudiosos de uma relação natural entre nome
representasse, isso poderia ser não mais que o signo no seu conjunto. mas e coisas e os convencionalistas, para os quais eles estão associados por
nota-se, que essa relação do signo com a coisa significada, não importa de convenção) e outro, lingüístico, estabelecido por Saussure, da relação entre o
maneira alguma a Saussure. Assiste-se, portanto, a um deslocamento decisivo: significante e o significado. O lingüista não entra no primeiro debate e, portanto,
Saussure constrói um modelo do signo que se separa de toda teoria da não apresenta demonstração que possa sustentar o princípio da arbitrariedade
representação.
(o TCLG fala de "verdade primeira"), que se afirma assim:
A imutablidade do signo . ., _ O laço que une o significante ao significado é ~rbitrário ou então, visto que
O signo lingüístico "escapa à nossa vontade" ( 1995, p. 85), o md1v1duo nao entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com
pode escolher os signos, ele os herda, na sua estabilidade. Saussure fala, port~to. um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo lingüístico é
da "imutabilidade do signo", que ele justifica pelas quatro consideraçoes arbitrário. ( 1995, p. 81 ).
seguintes:
Ele esclarece, em seguida, que não entende arbitrário no sentido de "livre"
1.0 c';lráter ar.hitrário do signo[ ... ] põe a língua ao abrigo de toda tentativa e propõe o sinônimo imotivado: '
que vise a mod1ficá-la;
2.A n11tltfdào d~ signos necessários para constituir qualquer língua: ~palavra arbitrário[ ... ] não deve dar a.idéia de que o significado dependa da
3. O carater m11110 complexo do sütema; . _e livre escolha do que fala[ ...)· queremos dizer que o significante é imo11•.., ,a-' ·
4.A resl.vt~ncia da inércia coletiva a toda renovaç<io lingiiística. A hngufi d ' b. ' · ) - ·fj d
e, ar 1trano em re açao ao s1gm 1ca o, com o qual não tem nenhum Jaç 0 tu 1 uO, IS1O
eHta consideração sobreleva todas as demais - é, a cada momento. tarf ªm: na realidade. ( 1995, p. 83). na ra
toda gente. l ... j Nesse particular, não se pode estabelecer comparaçãoª gu
entre ela e as outras instituições. ( 1995, p. 87-88).
Por exemplo, ele explica, a idéia de "irmã" não tem laço particular com a
. As ~.uatro_ razões cx~l icam que o signo não possa ser modificado ~egu~d:i seqüência de sons [irmã). E os s_igni?cantes diferentes de uma língua a outra
locut?res ou c1rcunstâncias, e que o reservatório dos signos da lfngua e estav confirmam 0 princípio de arbitrariedade: o significado "boi" tem como
significante [boi] no Brasil, em francês é [boet] e [oks] na Alemanha .
•
e registrável, cm uma época dada (em um dicionário, por exemplo).
r ~
74 • AI Gn111du T rorifll dn U11g11íllim t·: t!c S11,,s1nrt: " 1rolizpr1in t/11 lh{~íí/Jti(ll 111odrr11fl • 7S
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76 • .rl1 (.;mndt1 Tt01i11J (/;, /_i1~~u/Jtim P. de Sm11111rt: " ltOriZft(tio dt1 lit~íi1ilirf/ 111odm1f/ • n
Saussure hesita nos nomes a dar a essas duas lingüísticas, uma estuda a
evolução da língua, a outra seu funcionamento em um estado dado: ele propõe,
primeiro, evolução e lingüística evolutiva vs ciência dos estados da língua
ou lingüística estática ( 1995, p. 117), depois, estabelece o par sincronia vs
1.
~mgungcm
< < Língua
L
rata
Sincroni-1
Diacronia
,
Numa partida de xadrez, qualquer posição dada tem como característica singular Vê-se, portanto, que Saussure não abandona a lingüística diacrônica, como
estar libertada de seus antecedentes; é totalmente indiferente que s~ ten~~ grande parte dos seus críticos sugeriram, mas distingue cuidadosamente as
chegado a ela por um caminho ou outro; o que acompanhou toda a pa~1da n duas vertentes; a exclusão da vertente diacrônica que se pode ler muito
tem a menor vantagem sobre o curioso que vem espiar o estado do JOS0 n~ claramente nos ELO não se efetua em si, mas na relaçao com a definição da
momento critico; para descrever a posição, é perfeitamente inútil recordar~ que
ocorreu dez segundos antes. Tudo isso se aplica igualmente à língua e consagra lingüística sincrônica:
a distinção radical do diacrônico e do sincrõnico. A fala só opera sobre urn
estado de lfngua, e as mudanças que ocorrem entre os estados não tem • neste5 Nós sustentamos, com efeito, precisamente o inverso, que existe um estudo
nenhum lugar. ( 1995, p. 105). científico relativo a cada estado de língua tomado nele mesmo; que esse estudo
não somente não necessita a intervenção do ponto de vista histórico e não
Com efeito, para compreender a forma plural Gaste, por exemplo, não é depende dele, mas tem como condição preliminar que se faça tábula rasa
necessário se informar sobre sua versão antiga gasti, mas é preciso conhecer sistematicamente de toda espécie de posição e noção histórica quanto de toda
a alternância singular/plural de Gast/Gasle. A sincronia efetua o relacioname~to terminologia histórica (2002, p. 46).
de dois termos do sistema (Gast/Gas te) enquanto a diacronia diz respeito
somente a um deles (a evolução de gasli em Gaste).
fff • l , ( . ._.it;-T"..;,,...;-,ü f J'f(Mllf11, I
--- E tlr Smwrrrr: " ttoriz.orno tltt lingiiútim motlrrna • SI
O verbo opor-se é fundamental, pois ele nomeia o modo de existência~ 3.4. Relações sintagmáticas/relações associativas
entidades da língua. Com efeito, elas não existem em si, mas somente por meJO Uma vez definidos o sistema da língua e a natureza puramente relacional
dos jogos de oposição nas quais estão inseridas: de suas unidades, resta explicar seu funcionamento, para compreender "a vida
dalíngua"(1995,p. 142).
A língua apresenta, pois, este caráter estranho e surpreendente de não oferecer Saussure situa a atividade da lingua em duas "esferas" distintas, uma
entidades perceptiveis à pri~eira vista, sem que se possa duvid~. ~~uu: evidenciando a linearidade da língua e a outra a ordem do sistema.
de que existam e que é seu Jogo que a constitui. Truta-se. sem duvida. de
traço que a distingue de todas as outras instituições semiológicas. <1995· P·
124). A esfera sintagmática
, A esfera sintagmatica é o lugar do encadeamento linear das unidades da
São, portanto, os jogos de oposição que tàzem os signos existirem.. dotando- lmgua, ligadas por "relações sintagmáticas":
os de um valor.
De um lado, no discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude de
V•
Para s .ituar . de valor, Saussure apóia-se no fato da si·nooírn1a:
. a noção
. encadeamento, relações baseadas no caráter linear da língua, que exclui a
possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo [... ) Tais
combinações., que se apoiam na extensão, podem ser chamadas de sintagmas.
(1995,p. 142).
82 • A1 Grandr1 Ttorin1 da I i11f,11/JtiM
--
E tlt S11NJJ11rr: 11 ltoriZf'l(tio tia lint/ÍÍJ/Írd lllfl(/r11111 e l l
Os sintagmas relacionam-se à língua ou à fala? Saussure explica que tanto As relações associativas são dotadas das seguintes características:
a língua quanto a fala devem ser levados em consideração e que isso depende
da natureza da unidade considerada; quanto mais o sintagma é regular, mais - trata-se de relações in absentia, isto é, sem presença efetiva na
depende da ordem da língua: cadeia falada, porque a série é estabelecida virtualmente na memória;
Cumpre atribuir à língua e não à fala todos os tipos de sintagmas construídos - a ordem de sucessão é indeterminada, porque não há nenhuma
sobre fonnas regulares. Com efeito, como não existe nada de abstrato na língua, imposição de linearidade;
esses tipos só existem quando a língua registrou um número suficientemente
grande de espécimes. (1995, p. 145). -o número dos elementos é indeterminado (exceto nas séries flexionais ,
por exemplo, nas quais as formas de conjugação são em número fixo).
Por exemplo, uma palavra como indeclinável somente é possível porque
a língua j á propõe um esquema presente em imperdoável, intolerável,
incansável, etc.
BIBLIOGRAFIA
Por outro lado, o locutor exerce também sua criatividade nas associações
sintagmáticas, em particular, na dimensão frástica: exitem várias maneiras de GADET F. Saussure, une science de la langue. Paris : PUF, 1966.
organizar uma frase, mesmo simples, como o mostram vários exemplos, tanto MILNER J. -C. Le périple structural. Figures et paradigme. Paris: Seuil,
nos textos literários quanto ordinários 27• 2002.
SAUSSURE F. (de). Cours de Linguistiq ue Génerale. Ed. Tulio de Mauro.
Paris : Payot-Rivages, 1986 [Curso de Lingüística Geral. São Paulo : Cultrix,
A esfera associativa 1995]
26 O termo sintagma
. .
designa, .
correntemente, em sintaxe, "
um grupo que 1orma uma unidade na 28 Os sucessores de Saussure falarjo mais tarde de« paradigma» ou« de relações
organização hierárquica da frase: fala-se de sintagma nominal, verbal, adjetival etc. lo Paradigmáticas », mas com um sentido mais estreito, porque em um paradigma as posições
27 NT OH . . . • · e· um exernP gramaticais dos elementos são idênticas.
: mo Nacional Brasileiro, com suas complexas construções sintatlcas
dessa possibilidade de manejo dos sintagmas.
84 • A s Grandes Ttoria1 da I illJ!.llÍJtirll
l A RECEPÇÃO CRÍTICA
1.1 As objeções
Elas consistem mais freqüentemente na reprovação do fonnalismo , do
rigorismo e da abstração que caracterizariam as concepções defendidas por
Saussure. Para Meillet (1917)-que saúda a iniciativa de Bally-Séchehaye - o
talento dos redatores não está em causa, mas a própria proposta resgatada por
eles:
A consciência e o talento dos redatores não deixam dúvida sobre a fidelidade
com a qual foi resgatado, em geral, o pensamento do mestre [... ]. Quanto à
forma , temos uma impressão do ensino de Saussure, mas de modo
esquematizado[...]. As objeções que somos tentados a fazer-lhe incidem sobre
o rigor com o qual as idéias gerais que dominam o curso são perseguidas ( 1978,
p. 164-165).
" . Para Schuchardt ( 1917), não se passa de outro modo; é por seu
s1stem~tismo" (sic) que peca o CLG, ao qual ele objeta ter relegado a segundo
plano o interesse pel~s fatos concretos. Ele come~a por "sublinhar a reprovação
geral[) contra os sistemas que procedem por d1v1silo e violentam as coisas"
e depois acrescenta: '
Saussurc não começou pelo verdadeiro começo, isto é, pela (iníea representação com uma pedagogia da linguagem, não com uma pesquisa sobre a linguagem,
co~creta aqui acessível, aquela du llngua individual: a 1í11gu'.1gl.obal é q~alqucr sendo essa expressamente desconhecida (ibid. p.179)
coisa de abstrato, tal como a almn coletiva cliunlc da alrna 1nd1 v1dual (thid. p.
175).
Meillet arremata sua crítica objetando a Saussure de desconhecer as causas
sociais da mudança 1ingüística, o que é uma maneira de fazer valer sua própria
As distinções estabelecidas por Saussure são denunciadas como artificiais concepção de sujeito:
e, finalmente, inoperantes, como, por exemplo, para Schuchardt, a principal
dentre elas, a divisão sincronia/diacronia: Separando a mudança lingüística das condições exteriores das quais ela
depende, F. de Saussure a priva da realidade, ele a reduz a uma abstração, que
quando os fatos sincrônicos deveriam ser determinados pela diacronia, é antes é necessariamente inexplicável[...) ele não tenta nenhuma classificação, ele não
o in.ver~o que parece de fato impor-se: 'um estado absoluto defi~e-se ~la traz nenhuma nova visão[...]. E parece, ao ler essas páginas, que o problema
a~senct~ das mudanças'. Daí toda oposição desaparece entre sincronia e seja quase quimérico (ibid. p.166).
diacronia (ibid. p.178).
A mesma posição encontra-se em Vendryes, partidário de uma aproximação
Jespersen critica essa mesma distinção, mas utiliza argumentos entre a lingüística e a sociologia:
completamente diferentes. Se a divisão sincronia/diacronia mostra-se inoperante,
é menos por seu caráter artificial que por causa da impossibilidade de Saussure Mas o que é que introduz na língua a mudança criada na fala, senão uma causa
em j ustificar efetivamente essa distinção. Ele vê ai uma "tendência a exagerar social? (ibid. p.172).
a diferença entre os dois aspectos, como se fossem duas coisas absolutamente
1. 2. A novidade
independentes uma da outra" (apud CHISS, ibid. p.159). Essas críticas fe itas a Saussure são mais ou menos nitidamente
Uma outra critica negativa consiste em objetar ao CLG suas escolhas de reconhecidas pelos diferentes autores. Séchehaye relativiza a contribuição do
escrita; em particular, uma retórica certamente didática, mas que emprega CLG, lembrando que ele é antes de tudo a obra de um brilhante continuador de
muito freqüentemente metáforas, o que tem como efeito opacificar a proposta Whitney:
do autor ao invés de esclarecê-la. Essa mesma objeção encontra-se sob a
pluma de Schucbardt e também na de Sécbehaye: um livro, sem dúvida, já havia exercido uma profunda influência sobre seu
pensamento e o havia orientado para a boa direção (...), a obra do sanscritista
Saussure usa comparações para animar sua propost~ o que seria concebível se americano: Whitney, A vida da linguagem[ .. .]. A linguagem é antes de tudo um
admitíssemos qu_e não se possa, sem comparações, desvendar os problemas da conjunto organizado de costumes (ibid. p. 184-186).
linguagem, p_re:1~amente porque ela é qualquer coisa de incomparável. Além
~isso, a mult~phc1dade das con;iparações emp~egadas por Saussure (aquela da Essa observação, que pode parecer ambígua, sublinha como um traço de
hngua ~ do Jogo de_ xadrez) e grande demais; elas se confundem entre si, originalidade a tenacidade de Saussure ao seguir e aprofundar uma via aberta
neutralizam seus efeitos respectivos (ibid. p. 181 ). por Whitney:
Ou ainda (trata-se de Séchehaye):
Todo seu esforço incide, desde então, sobre essa única tarefa: corrigir, completar,
Saussure gostava de dizer: "Um estado de língua é uma posição no jogo de transformar Whitney, conservando absolutamente o princípio bastante simples
xadrez". Quando uma peça é removida, todo o equilíbrio das peças, todos os e bem evidente que ele já havia postulado com tanta força e bom senso (ibid.
valores sofrem o contragolpe, cm virtude de sua solidariedade. Somente p.186).
enquanto o jogador calcula seu golpe, tendo em vista um fim, a mudança. que
provoca um novo equilíbrio se faz sem intenção, por um acontecimento mais ou .o que parecia para alguns autores como um defeito fatal do método é
menos fortuito (ibid.p . 195). ~u~h.nhado ~or outros como a marca de uma conceituação inédita. Tal é a
P1ntão elog1osa, mas lúcida, de Bloomfield:
Mas o ataque mais vivo vem ainda de Schuchardt que contesta ao CLG
todo o caráter fundador. Para ele, a verdadeira qualidade do CLG é de ordem O valor do CLG está centrado na sua demonstração clara e rigorosa de princípios
pedagógica, e não científica: fundamentais. A maior parte do que disse o autor esteve por muito tempo 'no
~
ar' e foi expressa aqui e ali de maneira fragmentária, a sistematização é sua obra
(lbid. p.198).
De .q.ualquer modo, essa obra merece nossa admiração; ela está escrit~ no
espinto e com os meios da ciência, mas institui ela uma ciência? Ela se relaciona
~
, -
u • As Grmttfu T<ori111 J,, U11,~111itir.1 .li l'rfr/'(•'io fn11ui}imn tfo Q...(;: tJ/nt/11nifi1JNOI • l'I
Mas também. numa menor medida. esta é a opinião de Séchehaye: O termo sistema (do grego sustemo) designa uma reunião, e, desde o
século XVII, um conjunto que constitui um todo orgânico. É aproximadamente
Saussure não era homem de se contentar. no que concernia à língua, com a nesse sentido que Saussure utiliza o termo no ClG para dar uma primeira
ciência dos fatos (ibid. p.183) cnracterização dn língua ("sistema de signos"). Considerando rigorosamente
essa definição bastante geral, ela não diz nada sobre a maneira pela qual é
Para Vendryes ( 192 1), o imenso mérito do CLG é o de ter tomado possível organiz~do o "todo orgânico" que constitui um sistema dado (lingüístico ou
a autonomia da lingüística em relação às outras ciências. Esse novo estado de outro). E aí que intervém precisamente o conceito de estrutura, posto que ele
coisas deduz-se notadamente da distinção liminar língua/fala: vem designar e qualificar um certo tipo de relação entre os elementos que se
compõem no "todo orgânico" em questão. De fato, a definição completa da
a distinção entre a língua e a fala é fundamental. limitando o objeto da lingüística, palavra sistema inclui uma especificação suplementar: um sistema é um conjunto
ela isola essa ciência ao mesmo tempo da fonologia (fonética) e da psicologia que constitui um todo orgânico e que possui urna estrutura. Esses dois elementos
(ibid. p.168). definidores compõem, por conseqüência, o estado de uma relação de
complementaridade, e até mesmo de uma inclusão: a divisão sistema/estrutura
Vendryes justifica sua proposta, lembrando as fina lidades da ciência da refere-se não somente à possibilidade de um todo dotado de autonomia, mas
linguagem, tanto quanto seu verdadeiro pertencimento ao domínio das "ciências ainda à idéia de um todo dotado de um modo de organização própria ao qual ele
semiológicas": deve justamente sua autonomia: por exemplo, uma certa lei de combinação
que rege a relação dos elementos que a constituem.
O ato lingüístico está na associação de um conceito psíquico e de uma imagem A definição do conceito de estrutura adotada na filosofia das ciências
acústica, e o objeto da lingüística é o de estudar a relação que une os dois.[...) contempla manifestamente o que se impõe então como um certo tipo de restrição
Ciência das relações entre os valores, a lingüística faz parte das ciências ou de regra, posto que designa um conjunto formado de fenômenos solidários,
semiológicas (ibid. p.169) de tal modo que "cada um depende dos outros e n~o pode ser o que ele é senão
na e pela relação com eles" (LALANDE, 1972). E, portanto, a particularidade
Bloomfield desenvolve uma argumentação análoga, no que concerne à do modo de estruturação de seus elementos que funda a especificidade de um
autonomização da lingüística, precisando que "a psicologia e a fonética não sistema. Se o consideramos atualmente, ultrapassando uma definição puramente
têm nenhuma importância e são, em princípio, não pertinentes ao estudo da intensiva (semântica) desses dois termos e o jogo teórico que resulta de sua
língu a" (ibid p. 198). articulação em diferentes quadros conceituais, é mais fácil compreender as
De todos os lingüistas citados, Bloomfield é o único a sustentar o caráter bases que sustentam as diferentes versões do estruturalismo para definirem
fundamentalmente inovador do CLG: tantas interpretações produtivas do conceito saussureano de sistema. Tratou-
se, em cada caso, de orientar as teorias por meio de programas de pesquisa
Saussure foi o primeiro a esclarecer o mapa-múndi no qual a gramática histórica que pressupõem diferentes níveis de organização da língua, a partir do princípio
do indo-europeu não é nada mais que uma simples província; ele nos deu 3 de que seus constituintes obedecem a regras precisas e identificáveis de
base teórica para uma ciência da linguagem (ibid. p.199). agenciamento e de emprego.
2 DO SISTEMA À ESTRUTURA 2. 2. As elaborações do conceito de estrutur a
O que interessa, com efeito, num segundo momento, é mostrnr que, além
2. 1. Os jogos teóricos da terminologia de urna definição geral do termo, o conceito de estrutura foi objeto de diferentes
Há uma certa vulgata no uso freqüentemente indiferenciado dos termos cl~boraçõcs teóricas, ao longo de toda história da lingllistica. Assim. em
sistema e estrutura. Entretanto, eles não recobrem necessariamente os mes~os l111g11istiq11e et estructuralisme ( 1968), Ducrot trnz uma contribuição bastante
qados, mesmo se eles são indissociavelmente ligados do ponto de vista t~ónc~. esclarecedora à história dos usos teóricos do conceito:
E fato que a afirmação do conceito de sistema remete freqüentemente a~u: e Se se compreende por estrutura toda orgnniznç1lo regular, n pesquisa das
qe es~tura, tanto que ~xiste de um.a o~tro .u~a dinâ!11ica de mútua rem~ssa;~ estruturas lingUisticas é tilo v~lhn quanto o. estudo dns línguas. Desde que
E preciso lembrar aqui que na teoria lmgfüsttca a circulação do conceito essas últimas tornaram-se obJelo de dcscrn,:ilo. desde que os gram:\ticos
·
sistema '
precede o emprego do conceito de estrutura. Como compreende! essa empreenderam desmontar o instrumento ling!listico ( ...] percebeu-se que cada
correlação e, por via de conseqüência como nela discernir os Jogo~ uma delas possui uma organização ( 1968, p.17).
ª
L · 1og1cos.
t ermmo • · ? Para responder a essa dupla
definição primeira desses dois termos.
' · re tornar
questão, convem
~
90 • AI G m11dt.J Tt0ri111 "" I J11s,11fltit11
o próprio Sally tentou, no entanto, inicialmente, prevenir a confusão qu d Se o estudo da linguagem é o estudo de um sistema de relações entre o espírito
.
começa por d1ssoc1ar . o que e1e entende por est1·1·1sllca ' an o
. de toda referênc·
. . 1·1terano:
domínio estel1co . . 'ª ªº e a fala. a estilística pode ser isso, e tudo isso[...]; nós pretendemos que seu
objeto seja a expressão falada e não o fato pensado; seu olhar está voltado
para o fora e não para o dentro ( 1909, p. 12-13)
Esta [a estilística] observa, aquela [a estética) dá conselhos; esta constata
arte de escrever ensina a manejar a língua numa intenção estética (1909, p. f ) Objeto da estilística
4
Tendo definido a estilística a partir da identificação das formas da
Bally recusa, portanto, o que o campo acadêmico entende geralmente por
subjetividade lingiilstica, Bally associa a análise desses dados ao domínio da
estilística, indo até a noção de estilo, no sentido retórico do termo. Após haver
"língua fa lada".
sugerido o que não é a estilística, Bally avança uma definição positiva de seu
projeto: Por essa designação, é preciso prioritariamente entender a língua da
comunicação, ou ainda a língua familiar (dita "de todos os dias"). Para tanto,
A estilística estuda os fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de Sally delimita mais precisamente o objeto da estilística quando ele identifica,
vista de seu conteúdo afetivo, isto é, da expressão dos fatos da sensibilidade na língua falada, o que se inscreve por um lado nas suas formas espontâneas,
pela linguagem e a ação dos fatos de linguagem sobre a sensibilidade (ibid. p.6) e, por outro, nas suas fonnas derivadas. As fonnas derivadas são facilmente
Ou ainda: transponíveis ao domínio da escrita; elas são correspondentes às situações
específicas e constituem gêneros: "discursos, sermões, conferências, palestras,
O que a lingüística da expressividade estuda são (...] os procedimentos, os discussões, debates de assembléias deliberantes, etc." (ibid.p. 285).
signos por meio dos quais a língua produz a emoção (J 913, p. 60) Bally distingue, além disso, dois registros de expressão: o registro afetivo e
o registro intelectual. O registro afetivo, privilegiado pela estilística, divide-se
Mais adiante, Sally esclarece que "a estilística não é o estudo de urna em expressão da percepção e da emoção:
parte da linguagem, mas o estudo da toda a linguagem, observada sob 11111
ângulo particular (id. p. 62). Essa definição bastante extensiva da estilística Nosso pensamento oscila entre a percepção e a emoção; por meio dele nós
(que engloba "todos os fatos lingüísticos" tanto quanto eles "possam manifestar compreendemos e sentimos; freqüentemente temos ao mesmo tempo a idéia e o
alguma parcela da vida do espírito") tem como fonte de influência algumas sentimento das coisas pensadas: em proporção infinitamente variável, é verdade
[... ](ibid.: 151 -152).
teses da gramática comparada do século XIX. A idéia de "vida do espírito" -
idéia filosófica por excelência (notadamente referida a Herder e a Hegel) - Essa distinção não se justifica senão de um ponto de vista metodológico:
foi, lembremo-nos disso, o horizonte conceituai de comparatistas tão diferentes na prática, acontece de um modo bastante diferente, já que os dois registros
quanto Humboldt ou Schleicher, igualmente desejosos, na análise das línguas, interferem-se muito mais que se manifestam isoladamente um do outro. Bally
de isolar a "visão do mundo" que cada uma delas implica. E quando Sally fala também os reaproxima em tennos de prevalência ou de "dominância":
de considerar "sob um ângulo particular" a "linguagem inteira", ele faz ec~ à~
orientações fundamentais da escola alemã, segundo a qual uma llngua cons11tu1 mas pela observação prática, pode-se dizer que é tanto a inteligência quanto o
a expressão dinâmica do espírito de um grupo (de uma cultura, de uma nação): sentimento que dá o tom; o pensamento é orientado para um ou outro desses
pólos, sem jamais atingi-los completamente; ele tem, conforme o caso, uma
A escola alemã vê na estilística de uma língua o estudo dos caracteres dessa "dominante" intelectual ou uma "dominante" afetiva (ibid. p.151-152).
língua; esses caracteres lingüísticos, na sua natureza, reíletem, por seu 1urno,
os caracteres psíquicos da coletividade que fala esse idioma (ibid. p.53) É preciso aqui lembrar que, além da referência teórica à escola lingüística
alemã, Bally pennanece devedor da tradição retórica. Com efeito, a distinção
Todavia, Sally mostra-se inovador quando ele resgata a própria eti1~ologia d~ ~ois regimes de expressão (intelectual I afetivo) evoca necessariamente a
do conceito de estilo para lhe fazer tomar a acepção inicial da expressão s!ng~la~; di~tmção estabelecida por Aristóteles entre a dimensão lógica e a dimensão
Ora, trata-se simplesmente de apreender pela análise da "linguagem 111teirn ~hco-patética do discurso, já que numa terminologia aproximada, a estilística
seu caráter, ou, mais exatamente, seus traços de sensibilidade que ~azem ª e B~lly constitui uma teoria do discurso afetivo. São abundantes as definições
unicidade de seu espírito (seu gênio próprio, no sentido de Herber). Cu1dado~o qu~ crrcunscrevem mais precisamente o que Sally entende por "língua familiar",
ao situar-se em relação aos debates teóricos de seu tempo, sobre a fun_ç.i~
assun:
primeira da língua (expressão do pensamento ou condição da fala), Sally s111"
o programa da estilística do lado da fala: O que mais surpreende no falar verdadeiro, é que ele revela um pensamento
quase constantemente subjetivo, concreto e afetivo (ibid.p. 286)
-....
~ • ,•f/ ( :rw...111 ·;;;;;;;:;J,/,, I i 1{i!,lllilir.1
....--
• 1 tr.Yl'f·,hJ {mrtrti/111.1 tÍft ( I / ,: fJ/rNl1m1/11rro1 . 95
,\ cxprcssi1o fo mil iar ê. por assim dizer. o aspecto subjetivo e asp .
da língu:l comum. essa que compreende o conjunto dos fatos dae~toafetivo
0
falada que exprime as coisas da vida real de uma maneira impess '"cg·uagern Essa noçilo de estilística. 4uc provoca linnlmcntc muila confusão. vai
292) ºª1 1b1d. p, dcs:1pa!\'ccr !'l'pcntinamcntc pam dar lugar ;i noçi\o de c111111ciaçilo ( 1998, p. I 07).
A expressão afetiva, pelas razões evocadas precedentemente nãos d . E o alltl'l' aacsccnta:
·
circunscrever r. ·1 mente.
1ac1 para reme d'rar essa d1'fi1cu Idade prática, Bally
' ee e1xa.
. • . d . . . 1 . . nunc1a B:illy. de acordo com nosso conhecimento. nilo comenta nem justifica sua
um prmc1p10 e pesquisa 1ntang1ve . Diante da 11npossibilidade de isol !\'\'ir:woha tcnninológica. Devido a essa discrição bas1ante surpreendente. ele
- a t•e 1·1va pura, a q~estao
~xpressao - ser~• a de e~tu d.a-.1a em re 1ação com a expressão
ar a niio assinal:u-j esse tenno com a sua marca (ibicl.)
mtelectual. Sally define assim seu objeto de investigação, tomando como medid
de comparação uma perspectiva contrastiva: ª Ainda detendo-se no exame da frase, Bally abre um novo capítulo de sua
pesquisa que acolhe. dessa vez. as implicações do sujeito falante no seu discurso.
Em virtude da relatividade geral dos fatos de expressão, o elemento afetivo de Nesse sentido, uma observação merece ser lembrada: "A frase é a forma mais
um foto de linguagem não pode ser isolado senão por oposição com seu conteúdo simples de comunicação de um pensamento" (BALLY, 1942, p. 35). Embora a
intelectual (ibid.p.117) fr:lse constitua a unidade de estudo basilar da gramática tradicional, Sally vai
reim·estir esse objeto numa perspectiva estritamente enunciativa.
Depois de Bréal, e muito antes de Benveniste, é incontestavelmente Bally A divisão tema/proposição. Essa distinção, doravante clássica em
o primeiro a descrever a subjetividade expressiva como um fato de língua: lingüística textual, permite delimitar na construção de uma frase dois modos
essenciais de repartição da informação. "Toda enunciação compreende
aquele que fala para exprimir uma emoção, para rezar, para ordenar não tem logicamente dois tennos: a coisa da qual se fala e o que dela se diz" (BALLY,
quase nunca necessidade de inventar para ser expressivo: ele encontra os 1942, p. l O1). O principal risco dessa distinção é o de indicar que a organização
meios de expressão já prontos na forma falada. São de falo os primeiros que lhe in1ema da frase comporta algumas instruções relativas à hierarquização da
vêm ao espírito (1913, p. 158). informação comunicada. Todavia, o cuidado de Bally é, uma vez mais. o de
marcar a preeminência da intervenção do sujeito falante sobre o agenciamento
Essa perspectiva fundamental exclui, por conseqüência, a sustentação da de seu discurso. Diz-se que a comunicação da própria informação revela-se
expressão subjetiva numa fala individual improvisada. Ela exclui também, ao secundária em relação à matéria com a qual essa informação é apresentada.
contrário de algumas leituras frequentes, a compreensão da estilística como Durrer emite uma crítica bastante pertinente quando sublinha o caráter
uma lingüística da fala (por oposição a uma lingüística da língua, da qual Saussure aproximativo, até mesmo indefinível, do estatuto da informação assim
seria o único representante). Na verdade, Bally ratifica a divisão língua/fala considerada:
concebida no CLG, mas aproveita a ocasião para, na fundação da estilística não se sabe verdadeiramente se esses dois termos (tema/proposição) remetem
que se atém à " língua falada", proceder a uma reavaliação do conceito de a uma oposição entre infonnações antigas e infonnações novas ou regras que
língua. Radicalmente distintas da fala e efetivamente compreendid.a~ como são secundárias e outras que são importantes ( 1998, p.135)
uti lização da língua, as condições da " língua fa lada" (ou língua fam1lrar) são
apreendidas no horizonte do conceito de língua: A relativa flexibilidade das construções sintáticas (especialmente na língua
falada) toma difici l, a priori, a identificação de mecanismos lingüísticos que
Em suma, cu permaneço fiel à distinção saussureana entre a língua~ a fala, ~:C recobrem os conceitos de tema e de proposição. Também Bally insiste em
eu anexo ao domínio da 1íngua uma província que se pode com mui~a ~ena Ela reconhecer o caráter aleatório de sua distribuição, a partir do momento em que
atribuir: a língua falada focalizada no seu conteúdo afetivo ~ ~u~Jet~~ dos os procedimentos de deslocamento e de segmentação desempenham um papel
reclama um estudo especial: é esse estudo que eu chamo de estrhsticacÍ e na prepondcran1e na forma do discurso:
objetos de meu ensino será o de mostrar como a estilística enqua ra·S
lingüística geral (ibid. p. 158-159) A segmentação permite fnzer de qualquer parte de uma frnsc ordint\rin o tema e
da outra parte o enunciado propriamente dito; ussim "Eu não consigo resolver
Estilística ou enunciação ssões esse problema." toma-se "Eu, cu nilo consigo resolver esse problema.". ou
Depois de uma série de trabalhos consagrados às formas das expre frase "Resolver esse problema, isso cu nilo consigo.", etc. ( 1949, p. 61)
afotivas, Bally orienta s ua pesquisa para o estudo mais específico ~a Esses mesmos mecanismos (particularmente no cnso da segmentação)
com lingüística Geral e Lingüística Francesa. Durrer observa que.
/I '"'/'f''" fi.uut/""'' ,/,., (,/ /~: rllt11/11t'lll111n1;t • ri
~.·t1 z:;;;;;z, 'l'r.i.11 J11 I 1nJ..!1;;;;,
· . ão do aspecto supra-segmentai do falar (dimensão uu!rosas cslrntégias du discurso: a negaçilo polémica, a mentira, a ironia
são recobertos pe1a 1mpress _ . ) 1111
prosódica, mais freqüentemente realizada pela pontuaçao na escnta : ele.
Esses três modos constituem três operações de discurso que se apóiam
É assim que na forma falada um frase ligada pode tornar-se segmentada pela sobre esse recurso./\ semántica da enunciação desenvolvida por Ducrot ( 1984;
1942 64
simples aplicação da música de segmentação ( • P· ) 1995) explorou, nos quadros da teoria da polifonia, a distinção estabelecida por
A divisão dictumlmodus. Essa outra disti~ção adquir~u ~ma .grande
Bally.
importância, em diversos níveis, sobretudo nas teonas da enunciaçao. Eis como Uma concepção sócio-pragmática
Sally a justifica: Em relação às concepções infonnativas da linguagem, herdeiras da tradição
A frase explicita compreende, po~nto, duas partes: uma é o correlato ~o gramatical ou da epistemologia do CLG, Sally introduz numerosos elementos
processo que constitui a represeotaçao (por exemplo, a chuva, uma cura); nos de crítica. Ele promove simultaneamente uma concepção pragmático-enunciativa
a chamamos, conforme os lógicos, o dictum. _ . e sociolingüística da "língua falada''.
A outra contém a peça-mestra da frase, aquela sem a qu~l .nao ha frase, a saber, A atividade enunciativa. Demarcando-se do CLG, Sally valoriza o estatuto
a expressão da modalidade, correlativa à operação do su1e1to pensante ( 1949. p. do sujeito falante, para evidenciar especialmente o próprio mecanismo de
36). expressão:
A oposição assim caracterizada permite isolar um outro mecanismo O estudo de uma língua não é somente a observação das relações que existem
lingüístico - por assim dizer, correlativo - da análise sintática precedente. Por entre os símbolos lingüis1icos. mas também das relações que unem a fala ao
esse viés, Sally evidencia a maneira pela qual o sujeito falante se situa em pensamento [...]: é um es1udo em parte psicológico (... ): um estudo mais
relação ao seu enunciado. Trata-se ai, portanto, de uma extensão da reflexão lingüístico. entretanto. na medida em que ele esuí voltado para a face expressiva
estilística na condição de análise específica das formas do "elemento subjetivo do pensamento e não para a face pensada dos fatos exprimidos ( 1909. p. 2).
na linguagem" (Sréal). Parece, de fato, que a expressão modal do dictum seja
mais importante que o dictum considerado isoladamente. Nisso, Bally recorta A partir dessa especificação. Bally desenvolve uma crítica da concepção
a distinç~o mais tarde operada pela filosofia da linguagem ordinária (e a corrente informatiYa da linguagem. em proYeito de uma concepção subjetiva da fala.
pragmática que dela procede), e que consiste (por exemplo, em Austin) em Toda fala tende a caracterizar os sentimentos do sujeito falante, muito além da
separar, no ato de fala, o que se inscreve no conteúdo enunciado (ato comunicação de um simples conteudo infom1ativo:
locuci.onário) e. o que. se ~n.screve na maneira pela qual 0 locutor enuncia esse
Qiundo dizemos que est3 calor. que está frio ?u que ~ho,·e. _quase n~nca se
co.nte.ud? (ato 1locuc1onano). A partir daí, Sally aplica-se em identificar os tr:au de uma simples consrntaçào. mas de uma 1mpressao afetiva. ou amda de
prmc1pa1s aspect~s do modus, na perspectiva, parece-nos, de uma longa tradição um julg:u11en10 prático suscetível de detem1inar uma ação ( 1913. p. 17).
de reflexão filosofica sobre as faculdades do espíritol':
~osso pensamento acrescenta espontaneamente às menores percepções uma
· modalidade é a fiorma 1·mgu1
A · de um JUigamento
...st1ca . ·mtelectua t. de um3 'idêia de valor· [... ): as coisas afetam-nos agradável ou desagradavelmente:
JU1ga!n~nto afetivo ou de uma vontade que um suj·eito pensante enuncia elss di\"idem-se em coi535 com as quais nós nos regozijamos e coisas com as
proposno
parte d de uma . pe rcepção ou de uma representação de seu espinto · · [··· J· A qw.is nôs sofremos ( 1909. p.152).
dictum (1~~~~~'.ª3d~)que exprime o julgamento da vontade [...] está contida no
A tematização do Yalor subjetivo da expressão lingüística não se limita n
:ma elaboração do conceito de sujeito falante. Ela é paralela com a construção
discurso entre ~ ~·interroga-se sobre o grau de coinc1denc1a
Sally, em segu ·d · . • . · t no
que exis e da ~ ';I::n :ioYo objeto. Assim. os usos linguageiros são caracterizados tomando
coincidência 0
(SF/~~}ito
falante.(S_F) e o sujeito modal (SM). A su~vers~~ção co:no medida de comparação a problemâtica da interação. Mas esse novo
das duas instâncias não conshtut uma exceção na forma falada. A_d~s~ocde de :r.ia~o _de análise é. por seu rumo. apreendido a partir de uma concepção
opera, ao contrário, como condição de posstbihda ~ª:lmlca. Para B:illy. toda fala é dirigida. mas a troca verbal aparenta-se a
"!lm lugar de confrontação simbólica:
. de remete
31 Cilado por Durrer ( 1998 p. J 27) que ressalta: "uma mi concepç ão
. da modahda
desejo. vo ntade) A li::iguagem 1.0nu-se então Wll3 arma de combate: [...) busca-se captar simpatia
·
evidentemente •
à velha metafisica das· três faculdades da alma (en1end1me010• OUJÜnda. Ole,,"1..-munbo de respeito. de admiração (1913. p. 18). •·
resgatada em 1902 pela Sociedade Francesa de Filosofia."
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Enfim, o trabalho do lmgü1sta apóia-se sobre uma técntca à qua 1
0
dá nome de lingüística de posição: tza-se em imagem e matéria fônica.
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ICM • A1 GnmdtJ Tt0ria1 da I '"!$M1Ífitt1
..~'IY''" fnm"V"",., 1/<1 ( 11 .: -;;;;;;;;m/11mo1 • 105
A consecução dessas duas operações define a totalidade do processo de predicativas e não-predicativas (MOIGNET. 1981) conforme elas sejam
lexigênese, isto é, de fonnação das unidades lexicais: constituídas de matéria nocional "pesada.. ou "sutil" (W I LM ET, 1978). Por
É recorrendo aos métodos da lingüística de posição que se pôde descobrir 0
analogia com º.conceito gramatical cl:íssico. a predicação designa, cm
que é o sistema da palavra, não somente nas línguas indo-européias, mas mais Guillaume. a aptidão de algumas palavras para poder dizer alguma coisa sobre
amplamente, na universalidade das línguas (ibid.). outros palavras. Mas essa divisão justifica-se, sobretudo, em relação ao grau
de incidcncia que distingue cada categoria de formas. Entre os elementos
Guillaume, em seguida, observa que a consecução do movimento de predicativos, Guillaum~ elenca o substantivo e o pronome, o verbo, o adjetivo e
particularização e de generalização "representa a própria atividade do 0 advérbio. O substantivo, que comporta em si a categoria da pessoa cardinal
pensamento, que opera nele mesmo uma apreensão dessa atividade por meio (objeto pró~rio da perspect!va predicativa), revela-se auto-incidente, já que ele
- o único do qual ele dispõe - de cortes orientados através da linha vetorial" predica a s1 mesmo a partir de uma semiotização do espaço (isto é, de uma
(ibid. ). ..substància"). O verbo - no qual a noção temporal constitui-se a partir da
A partir desse processo de formação, Guillaume interpreta os pressupostos representação espacial - caracteriza-se pela incidência externa do primeiro
que correspondem a cada apreensão: grau em relação ao substantivo que lhe serve de suporte. O adjetivo entra no
discurso sob as mesmas condições em relação ao substantivo. Quanto ao
- o primeiro corte transversal determina a base da palavra; advérbio, seu semantismo é regido pelo regime de incidência externa do segundo
- o segundo corte fixa a morfologia da palavra; grau, já que essa parte da língua aplica-se ao substantivo (ou ao pronome
- o terceiro perfaz a formação do signo, revertendo cada um deles numa pessoal), mas pela mediação do verbo. A discursivização das partes da língua
"parte da língua" específica. não-predicativas é regida pelo mecanismo da trans-incidência,já que as palavras
semanticamente vazias que são tendencialmente as palavras gramaticais,
Conforme o esquema: servem somente para colocar em relação sejam outras palavras (é o caso das
conjunções de coordenação), sejam as proposições (é a função das conjunções
de subordinação). A mobilidade do discurso, notadamente implicada pelas
Particularização Universalização restrições enunciativas, pennite a essa sistemática da língua regular-se em
Discernimento inicial Operações Mediadoras Entendimenco Final função de um duplo princípio de economia e de congruência expressiva.
Base da palavra Morfologia da palavra Parte da línl"Ua Asp ectos d a psicomecâ nica
Matriz (idéia particular) Forma pré-conclusiva Forma conclusiva A operação de determi11ação. É a partir de uma pesquisa sobre O
problema do artigo e sua solução na lí11g11afra11cesa (19 19) que Guillaume
1º corte 2° corte 3° corte formula pela primeira vez a hipótese do cinetismo fundamental por meio do
qual o pensamento representa a relação particular/universal.
O que, segundo os textos, Guillaume nomeia alternativamente de "formas
A operação gramatical tomada sob a ótica da semiologia do artigo verifica
vetoriais" ou "operações mediadoras", coincide no processo de lexigênese com ~lcnamente o mecanismo mais ou menos preciso da designação. Esse processo
a atribuição de características formais: undamental se deixa esquematizar sob a forma do tensor binário:
As indicações gramaticais degenero, de número, de caso ou de pessoa, qu~:i~
se trata do nome, as indicações de modo, de tempo, de pessoa, quando se
do verbo (id. ).
··························································· / ····················································
cincsc sing-ularizanrc cinese generalizante
A redefinição d a língua . d que
Guillaume desloca a concepção saussureana da língua, precisan ~ição
esta é "um sistema de sistemas". O que isso quer dizer? A língu~, em poã de
de continente universal, recompõe-se por um mecanismo de .integraç t~Pos J São ;rn .francês moderno, os diferentes empregos das formns artigos (o/um)
reri êest~nados à expressão de apreensões determinativas que vilo do uto de
uma série de dispositivos integrados onde se reconhecem os d1ferent~~ guas ll~ ncia genérico indistinto ao ato de dctcrminm,:ilo definida (específico);
de "palavras". Assim, as diversas partes da língua dividem-se em 1" esquema:
_.
IP"
106 • As Gra1tdrs Tmnns da 1Jlf.r,tfÍSlim A rrtt/>(tio fmn"fona tfo CLC: tsln1/11mli1mo1 • 107
realização: ele define uma apreensão injieri; o modo indicativo recobre uma
l + G Un G + 4 Lc representação da temporalidade inteiramente realizada; esse modo integra as
~ formas do presente, do passado simples, do imperfeito, do futuro e do
condicional: ele define uma apreensão in esse.
P2 Un P3 Le - A teoria do tempo. O espaço temporal que contém todos os
acontecimentos do mundo se reparte entre as diversas representações do
........................................................................................... processo verbal. Nesse sentido, ele se apresenta como acontecendo ou
acontecido.
( l) Un soldai frança is ne craint pas la fatigue (Um soldado francês Cada eixo modal integra, por conseqüência, cada um desses dois níveis:
não teme a fadiga) um nível de incidência (aquele do processo acontecido), um nível de decadência
(2) Un soldai sort du baraquement (Um soldado sai do acampamento) (aquele do processo não-acontecido). Algumas representações verbais
(3) Le soldat traverse la cour avec son paquetage (O soldado oferecem uma propriedade mista (particípio presente, imperfeito, condicional),
atravessa o pátio com seu equipamento) que mistura uma parte da realização a uma apreensão de realização. Os
(4) Le soldai /rançais ne craint pas la fatigue (O soldado francês diferentes tipos de temporalidade verbal se repartem assim, cada vez
não teme a fatiga) subdivididos, em função de três estados de cronotese da qual eles dependem
do ponto de vista modal.
A diversidade dos empregos mostra que as formas uni/e (um/o) podem - O aspecto. Em gramática tradicional, a noção de aspecto designa o
entrar em concorrência para exprimir o mesmo valor de discurso (efeito de ponto de vista a partir do qual o processo é percebido. A representação temporal
sentido): em (1) e (4) um/o têm uma mesma dimensão genérica; enquanto que é indissociável do processo; quanto à dimensão aspectual do processo, ela
em (2) e (3) eles têm uma dimensão específica. Por outro lado, é sensível que determina um tempo interior. A concepção psicomecânica reserva os termos
em discurso, a determinação específica (tipo: 3) pressuponha sempre a de imanência e transcendência para qualificar a natureza do processo verbal,
determinação genérica (tipo: l). considerando-se a perspectiva que permite discernir as variações. Guillaume
distingue três formas aspectuais fundamentais:
A representação do tempo. A concepção psicomecânica da temporalidade - uma forma imanente (aspecto tensivo) na qual o acontecimento é
verbal foi exposta a partir de 1921 , no ensaio Tempo e verbo. Ela institui o percebido "dentro do processo": os modos do infinitivo, do subjuntivo e do
conceito de imagem-tempo cuja particularidade, segundo os termos de indicativo perfazem a categoria da imanência aspectual (por exemplo: Eu
Guillaume, é de ser "apoiada sobre a representação do espaço". almoço; Eu estou a almoçar etc.);
- uma forma transcendente (aspecto extensivo) a partir da qual a
- A teoria dos modos verbais. Dois movimentos do pensamento são percepção do processo é "reduzida ao ponto de observação". Essa forma
intrinsecamente ligados à elaboração do que Guillaume chama de imagem- "exprime a anterioridade sem necessidade de mudança de época" (por exemplo:
tempo: Logo que ele termine de almoçar, ele vai embora);
- uma forma bi-transcendente (aspecto bi-extensivo) que exprime a
consegui detenninar, como fonte universal da arquitetura lingilistica do temPo· anterioridade relativa a uma forma de aspecto transcendente (por exemplo:
a cronogênese, que é[...] gênese da potência de construir o tempo. e a cronotese. ªºr.· logo ele terminou de almoçar, ele foi embora).
que é o exercício dessa potência ao longo de sua aquisição (ibid.).
A distinção liminar do eixo longitudinal da cronogênese e dos .eixos 3. 3. L. Tesniere (1893-1954): uma sintaxe de dependência
transve~sos da cronotese permite explicar. numa perspectiva mentahsta.
8
A idéia de uma sintaxe estrutura l
categoria do modo verbal. Assim, sobre a linha vetorial de uma representação
linear da temporalidade (cronogênese). os três modos verbais identi~cados5 ~ inéd!esniere sustenta o paralelo entre a fonologia estrutural e a perspectiva,
"de ita a~tes dele, de uma sintaxe estrutural, quando afirma que é preciso
pela gramática tradicional (quase nominal, subjuntivo, indicativo) são s1tu~do Par~c~bnr, atrás da natureza puramente fisica dos fenômenos , sua aptidão
com.o três estados de elaboração da imagem-tempo (inicial ou precoce, ~ediano. Denu ~sempenhar funções propriamente lingüísticas" ( 1988, p. 40).
tardio ou final). O modo infinitivo - ao qual estão igualmente associadas as do e~ciando o "preconceito escolar" que quer que a sintaxe consista no "estudo
formas d? pres~nte e do pas~ado - constitui uma representação virtual de ui::~ Prego das formas", Tesniere igualmente observa que "a maioria das
tempor~hdade mstada a realizar-se: ele define uma apreensão in posse; 0 mo de
subjuntivo corresponde a uma representação da temporalidade em curso
~
101 • .llJ T:n~111/tr Trorim d,1 I JNJ.NÍJtit11 .-1 trrr/l(<'HJ fn111rAfa1111 ,,;, C/ ,(;: t1/m/11mhi1POJ • 109
sintaxes que foram publicadas desde um século são (assim) somente sinta
morfológicas" (ihid. p. 34. § 8). xes O estudo d:1 frase que é o objeto d:1 sinlaxe estrutural (...) é essencialmente o
Por outro lado, Tcsnicre delimita rigorosamente o objeto do model 0 estudo de sua cslnttura. que não é outra coisa que a hierarquia das conexões
ele propõe assinalando-lhe o estudo da frase : que (ibid. p. 14. § 6).
O objeto da sintaxe estrutural é o estudo da frase. Assim, os lingüistas ale ã O próprio de uma conexão é ligar "em princípio um termo superior (regente)
quando lhes é necessário traduzir a palavra sintaxe na sua língua el m :S· 3 um tenno inferior (subordinado)"(§ 1). Também, para facilitar a análise
encontraram melhor equivalente que Satzlehre: 'ciência da frase' " cibi:s n1ª° estntmral da frase, Tesniere tenta usar uma representação esquemática chamada
§ 1). • p. 2•
estema:
O projeto de Tesniere inscreve-se na tradição filosófico-lingüística orientada, O conjunto dos traços de conexão constitui o e.riema. [Ele) mostra claramente
como em Humboldt, para o princípio da autonomia da sintaxe: a hierarquia das conexões, faz aparecer esquematicamente os diferentes nós
que os amarram num feixe e materializa, assim, visualmente a estrutura da frase
a sintaxe é anterior à morfologia. Quando falamos, nossa intenção não é a de (ibid.p. 15, § 9)
encontrar a posteriori um sentido a uma seqüência de fonemas que lhe são
preexistentes, mas, antes, a de dar uma forma sensível facilmente transmissível Da ordem linear à ordem estrutural. Munido dessa ferramenta analítica,
a um pensamento que lhe preexiste e que é a sua única razão de ser[ ...) (ibid. p. a teoria de Tesniere permite diferenciar nitidamente dois planos de elaboração
36,§4).
do discurso. Com efeito, "estabelecer o estema de uma frase, é transformá-la
Nesse sentido, Tesniere separa-se da vertente mais representativa da de uma ordem linear numa ordem estrutural" (ibid. p.19, § 2), sendo que "toda
gramática comparada (de Bopp a Meil let), e aproxima-se resolutamente de a sintaxe estrutural repousa sobre as relações que existem entre a ordem
lingüistas como o dinamarquês Brondal ou o suíço Sally que, segundo ele, estrutural e a ordem linear" (§ 1).
"teve o mérito de haver reabilitado a forma interior da linguagem diante da
morfologia" (ibid. p.35, § 12). É o que ilustra o seguinte exemplo:
A releitura de Humboldt conduz Tesniere a distinguir nitidamente entre a
forma exterior da linguagem (sua morfologia) e sua forma interior (sintaxe).
Ordem linear: Os pequenos córregos fazem os grandes rios.
Os conceitos descritivos
A conexão. Como o relembra Tesniere num axioma simples, a Ordem estrutural:
inteligibilidade tanto quanto a construção da frase assentam-se na existência
'r~
de algumas relações entre seus elementos:
Toda pala~r~ q~e. faz parte de uma frase deixa por ela mesma de estar isola~a
co~o no d1c1onario. Entre ela e suas vizinhas, o espírito percebe conexões, CUJO córregos rios
conjunto forma a armação da frase (ibid. p.11, § 3).
e: 1 ~
Os pequenos os grandes
.
compreender uma frase é apreender o conjunto das conexões que unem as
diferentes palavras (íbid. p.12, § 1Q)ll.
A análise das conexões faz intervir igualmente uma concepção hierárquica Dessa distinção resulta uma definição rigorosa do processo lingüístico de
das relações sintáticas:
produção /recepção: falar uma lingua,"é transformá-la de umn ordem estrutural
numa ordem linear", e compreender uma língua, "é transfonm\-la de um ordem
33 Tesniere esclarece: "É, aliás, a noção de conexão que exprime o próprio
. nom., e da
d sintaxe,
uramente
em linear numa ordem estrutural".
grego "colocação em ordem, disposição". E é igualmente a essa noção, amiu ebpldt"(ibid.
. . que corresponde a innere Sprachform 'forma .interior
mtenor,
§12). . da lingu a' • de Hum o Mas Tcsnicre sublinha que "há [...) antinomia entre a ordem estmtural
que possui várias dimensões (reduzidas a duas no estema), e a ordem linear',
.......
-
tN • I• (.,.._.'14:ft, 11"~"'1.tr .1J l . ~lf.tS."1..1
O nó verbal[...] exprime um pequeno drama. Como um drama, com efeito, ele A diferença lingüística: tradução, ensino
comporta obrigatoriamente um processo, e, freqüentemente, atores e
circunstâncias (ibid. p. I 02, § 1). O ensino das línguas, assim como a tradução, tirou um grande proveito das
perspectivas da sintaxe de dependência. Trata-se, nos dois casos, de uma
11
~lportante contribuição do modelo proposto por Tesniere à compreensão da
Transposto do plano da realidade dramática para o plano da sintaxe estrutural, diferença linguística (aprender e ensinar uma língua a partir de uma outra).
o processo, os atores e as circunstâncias tomam-se respectivamente o verbo,
os actantes e as circunstâncias (ibid. :p. 102, § 2).
Rec~nhecer uma lfngua. Gostaríamos aqui de chamar a atenção do leitor
No exemplo que segue: Alfredo sempre mete seu nariz em tudo•. o nó para~ vtrtude pedagógica do princípio de classificação das línguas (línguas
verbaJ organiza, de uma parte, os actantes (aqui, são dois: Alfredo e nanz), de centrifugas vs centrípetas) sublinhado por Tesniere, que observa:
~
112 • As Gmndn Ttorins d11 I ;n..~11íslim
......--
,.., tr•lj'(Jf> ; r.v::i/r.t:;; tÍ!J Q...C: 1r:r:,1:1r.:.'i1r:n • IU
~
acentuado/mitigado justifica-se:
Línguas dos Papous
Centrlp<tao Línguas das ilhas Andaman
- "uma língua apresenta um caráter mitigado quando nenhuma das duas Llnguas sino-tibetanas (chinês)
ordens centrífuga ou centrípeta sobrepõe-se completamente à outra" (ibid § Línguas do Caucaso
2); Línguas sul-africanas
(hoccncote, bosquimano)
- "uma língua apresenta um caráter acentuado quando uma dessas duas Línguas draviclianas
ordens, centrífuga ou centrípeta, sobrepõe-se nitidamente à outra" (ibid § 3). Acentuadas Burusaski
Línguas hiperboreanas
Línguas ouralo-baltaicas
(aqui compreendidas o japonês e o coreano)
A alternativa estrutural
_A correspondência geolingliística. Distanciando-se do ponto de vista
As distinções até aqui esboçadas autorizam uma classificação inédi".1 ~ estritamente sincrônico (justificado pela idéia da estrutura), assim como do
línguas que constitui uma alternativa rigorosa para a classificação ge_ne~~g~: Pônto..de vista diacrônico (justificado pela idéia da origem), a classificação de
li
(~is!ó~ica) o~ tipológica (sincrônica). Ao primeiro (distinti~~ da lingil::). reslllere evita tratar, de maneira frontal, do parentesco ou da afinidade das
h1stónca), assim como ao segundo (distintivo da primeira gramanca c?m~põe 0 rnguas (o parentesco pode excluir a afinidade e a afinidade pode excluir o
fundado sobre o grau de fusão dos elementos de uma língua, Tes~iere fi rece Parentesco). Essa classificação proposta por Tesniere faz, além disso,
princípio de classificação "pelo sentido do estrato linear". Esse óltuno; ;) 110 ~~irecerem
1 paralelismos importantes entre a organização fundamental dos
a dupla vantagem de ser " fundado sobre um traço de estrutura" c2,;. 2 §1): crentes idiomas e suas zonas de repartição e de extensão geográfica:
mesmo tempo que "permite uma focalização cômoda sobre os fatos (J ' constatar-se-á uma repartição geográfica característica. As fonnas centrífugas
ocup~~ a maior parte da Áfiica (com exceção do extremo s1;1l) e da Oceania.Ao
contráno, as línguas centrípetas ocupam a maior pane da Asia. Seria estranho
que urna repartição tão nítida fosse o efeito de um simples acaso[...) (33, § 8).
.-.... J
- '" • .·IJ Gn111d1J "/'roli,u da 1ilf,;,lstlm
l
A tradução . .
-A noção de mctahtxe. _Em d1~erentes linguas, a expre,ss_ão das mesmas Capítulo 6
ºdéias (conteúdos semânticos) impõe estruturas sintat1cas distint
~reqilentemente, até mesmo bastante dessemelhantes: "A tradução de uas,
llngua ã outra obriga a que se faça apelo a uma estrutura diferente" (ibid rna
283, § 2). Tesniere propõe dar a essa "mudança estrutural" o nome de metaia"x~: Os estruturalismos funcionais
"as traduções que comportam metataxe são ~m algu~a medida traduçõe~
profundas (ibid, § 6).Essa operação revela, amda mais que a consideraÇão
dos mecanismos de uma única língua, o reconhecimento do paralelismo do J SITUAÇÃO E DEFINIÇÃO DA C ORRENT E
plano estrutural e do plano semântico: FUNCIONALISTA
A metataxe não é senão uma aplicação do princípio da independência do O próprio termo funcionalismo, no que ele permite supor quanto a autonomia
estrutural e do semântico [...)já que se trata de exprimir urna idéia semanticamente
idêntica por meio de uma frase estruturalmente diferente (ibid. p.284, § 8). dos trabalhos que ele designa e reúne em aproximadamente um século, pode
parecer des!gnar uma corrente em si, distinta ou separada do estruturalismo
A extrema diversidade dos casos de metataxe conduz Tesniere a distinguir fundador ormndo dos trabalhos de Saussure. Mas as etiquetas em - ismo achatam
"todos os tipos de graus na metataxe, de acordo com a maior ou menor as realidades teóricas, e os dicionários ou as obras de síntese apresentam como
importância da mudança estrutural a qual é preciso proceder para poder realizar distintas - freqüentemente por motivos de clareza didática - correntes, na
a tradução (ibid. p.284, § II). realidade, estreitamente imbricadas tanto nas suas opções teóricas quanto nas
- Os fios da tradução. A finalidade última da tradução consiste, desde suas filiações: funcionalismo, estruturalismo, formalismo, distribucionalismo não
então, em preservar o conteúdo semântico; este deve ser conservado, restituído constituem corpos teóricos completos e autônomos, mas correntes imbricadas
na língua de chegada a partir da língua de partida: umas nas outras, ligadas por relações de filiação ou de oposição e por escolhas
teóricas complexas. De fato, o funcionali smo tem seu lugar no conjunto do
o usuário da tradução somente tem necessidade de saber o conteúdo semântico movimento estruturalista; é um estruturalismo específico que se pode chamar
da frase e se desinteressa, em princípio, completamente pela sua ordem estrutural. de estruturalismo funcional. Se quisermos integrar o funcionalismo numa das
que é da alçada do tradutor (ibid p. 284, § 9). numerosas antíteses classificatórias das correntes lingüísticas que constituem
Daí resulta que o essencial do trabalho deva permanecer, ao final, totalmente o continente estruturalista, é ao formalismo que é preciso opô-lo: enquanto o
imperceptível: ponto de vista funcionalista privilegia as constantes transformações das formas
da linguagem na sociedade, o ponto de vista formalista tem no centro de suas
O tradutor tem o mesmo dever de ser discreto e de deixar na sombra toda preocupações o funcionamento interno do sistema linguageiro.
manobra estrutural, que constitui a técnica da tradução. Esta pode apresentar Mais do que uma teoria ou um conjunto de teorias, o funcionalismo é um
um grande interesse profissional para o tr~dutor, dado que é seu trabalho. mas modo de pensamento, um olhar sobre a linguagem e suas relações com a
ela não apresenta ab~olutamente !lenhum interesse para o usuário da tradução.
que pede, ao contrário, para ser liberado de toda restrição que o impeça de ter organização do mundo. Nascido dos trabalhos, das partilhas e dos exílios dos
acesso diretamente à idéia expressa [...) (ibid., § l O). membros do Círculo Lingüístico de Praga, a partir dos anos 20, o pensamento
funcionalista encontrou seus acabamentos mais notáveis nas teorias de alcance
BIBLIOGRAFIA geral. Assim, sucessivamente, examinaremos:
DUCROT, O. Le structuralisme em linguistique. Paris: Seuil, 1968.
DURRER, S. l~troduction à la linguistique de Charles Bally. Lausanne: - na Rússia e na Tchecoslováquia, o nascimento da fonologia com N.
Delachaux et N1estlé, 1998. TroubcstskoY·
FUCHS, C. ; f:..E GOFFIC, P. Les Unguistiques contemporaines. Paris: - na Di1;amarca no interior do Círculo de Copenhngue, a elaboração da
Hachette supéneur (2" éd.), 1992 (em particular o capitulo 3: Tesniere). glossemática, com L'. l-ljelmslev.
NORMAND, C. et ai. Ávant Saussure. Choix d e textes (1875-1924).
Bruxelles: Complexe, 1978 (em particular o capítulo V).
M~ND,RA_Y-LESGNE, F.; RTCHARD-ZAPPELLA, J. Lucien Tesniere Mas não se pode compreender esses itin.erórios. sem. considerarº. 1~úclco
auJourd hui. Acte.s du colloque internatlonal CN RS URA 1164-U de Rouen, fundador que foi o Círculo de Praga, verdadeiro cnchnho movndor e cr11Jco no
nov. 1992, Louvam: Peeters, 1995. campo cientifico europeu dos anos 20, matriz de uma nova maneira de pensar
WILMET, M. G ustave G uillaume et soo école lioguistique. Paris- ªlinguagem.
Bruxelles: Nathan-Labor, 1978.
.....-....
Os <Jlnt/11ralismos J1111tionais • m
,..
1~:nn11/t1 1;•f lfi111 1/11 J 11~wdr1i,,1
descritiva. Uma lingüística mais recente veio reconhecer que, ao lado do enfoque
histórico ou diacrônico, existem razões científicas equivalentes para postular
um enfoque não-histórico, sincrônico, nas pesquisas de uma língua dada e de
1. 1. O Circu lo de Praga uma época dada, sem considerar seu estado anterior. Porque somente uma
. Dcnomi.na-.s.e geralmente Círc111<~ de PraK_~ ou Escola de Praga 0 análise de todo o complexo dos fenômenos que se produzem simultaneamente
conjunto de ltngLl1stus que, em torno de 1 roubctsko1 e de Jakobson, elaboraram num momento dado permite-nos apreender a interdependência sincrônica que
as "teses de Praga" oriundas do primeiro Congresso Internacional de Lingüística os relaciona ao sistema lingüístico ( 1983, p.121-122).
de Haia. em 1928. Na realidade, o Círculo de Praga foi fundado em outubro de
1926 por Mathesius, que reuniu pesquisadores tche~os (Havranek, entre outros) A introdução e a justificação do enfoque sincrônico da língua não são,
e que recebeu a colaboração de lingüistas estrangeiros, como o alemão Bühler entretanto, apresentadas como uma verdadeira ruptura epistemológica que abre
os franceses Tesniere, Benveniste, Vendryes e Martinet. As figuras dominante~ caminho para uma re-fundação total da lingüística. Ainda que se fale em diversas
do Círculo de Praga continuam a ser, entretanto, os russos Troubetsko"i e retomadas de "nova lingüística" (new linguistics), Mathesius não sustenta a
Jakobson, que se juntam ao círculo em 1928, e, numa menor medida, Karcevskij. ilusão da novidade radical e inscreve seu trabalho e o de seu grupo na
Esses pragueanos de primeira hora serão substituídos em seguida por seus continuidade das aquisições científicas no curso da história:
discípulos (em particular, Vachek, considerado como o melhor aluno de
Mathesius) que assegurarão por meio das peripécias da história a continuidade O progresso n~ pesquisa cientifica é sempre completado metade pela aplicação
da escola até nossos dias34 • dos velhos metodo.s confrontados com materiais e com problemas novos, e
metade ~ela pesquisa de novos métodos que permitem lançar uma nova luz
Uma lingüística "de um novo tipo" sobre antigos problemas e extrair novas descobertas a partir de antigos materiais
A lingüística oriunda do Circulo de Praga constitui um tipo de revolução (1983, p. 121 ).
epistemológica nos enfoques europeus da língua, nos anos 20: dominada pelas
teorias filológicas fundadas na diacronia, representada essencialmente pelos No final de seu artigo, ele sublinha o quanto o funcionalismo pragueano,
trabalhos dos oeogramáticos, a lingüística tcheca às bordas do século XX estava nas suas próprias elaborações teóricas, é indissociável da produção literária do
centrada em tomo da mudança lingüística e ancorada na dimensão histórica. O mesmo período:
Círculo de Praga, sem recusar a fundamentação do enfoque diacrônico, vai
estabelecer como central e necessária a dimensão sincrônica. Sobre a questão da correção da língua, o lingüista que tem um ponto de vista
funcional sobre a língua anda de mãos dadas com o artista que produz criações
As origens: V. Mathesius (1882-1945). O método e os enfoques da lingüísticas. Não é um acaso. Essa relação estreita entre a nova lingüística e as
lingüística pragueana aparecem claramente fonnulados num artigo de Mathesius.. belas letras (les belles lettres) 35 mostra-se de fato proveitosa em outros
domínios. A nova lingüística contribui colocando as primeiras pedras da nova
"pai fundador" do Círculo de Praga. Intitulado Functional /inguistics e ciência da forma poética e ela mesma encontra junto aos autores de obras
publicado pela primeira vez em 1929 (retomado em VACHEK & DUSLOVA, literárias informações sobre as possibilidades da expressão lingüística. Aqueles
1983), o artigo oferece um bom apanhado da situação da lingüística tcheca. e que não são dotados de uma sensibilidade particular para os valores da
em parte européia, dos anos 20, e da novidade que a ela pôde trazer o olhar linguagem não podem tornar-se lingüistas da nova maneira. Tudo isso é uma
funcional. Mathesius lembra nesse artigo as duas pedras angulares do conseqüência perfeitamente natural. Como disse logo no começo, a lingüística
funcionalismo pragueano: a escolha da sincronia (linha de força da lingüística ~indoura aproximará as pesquisas lingilísticas da realidade, e está aí seu mérito
funcional), e os laços que as pesquisas linguísticas entretêm com o campo inegável ( 1983, p. 139)
social da arte e da criação.
A escolha da si ncron ia é fe ita claramente em oposição à escola dos . É sobretudo Jakobson quem, com sua poética, assumirá de maneira mais
neogramáticos: ngorosa esse laço entre literatura e lingüística e ver-se-á que suas concepções
fon~lógicas estão essencialmente ligadas à sua preocupação com o uso poético
A escola neogramálica [... ] acred itava firmemente que o único. n~é!odo da linguagem. É necessário por outro lado, precisar que as fontes de inspiração
verdadeiramente científico na pesquisa em lingüística era o método h1stonc~ e do e·. 1rculo de Praga são ·freqüentemente os signos
· não- 1..mg tli st1cos
· e, em
tudo o que não se conformava nesse método caía sob n acusação de gramática Particul~r. os trabalhos cinematográficos da vanguarda: a ltngungem aparece
----
SOlllente como um sistema de signos entre outros.
34 O Circulo de Praga, disperso pela Segundo Guerra Mundial ( 1939-1945) e praticamenle
reduzido ao silêncio pela chcgndu dos comunistas em 1948, conhece um renascimento desde lSEm~ · · 1
1990, sob o impulso de Vachek. •rancês e em itãlico no texto ongina ·
~
, 118 • A s Cm11/Íu Tt<>rias IÍa UngNístira
~
Encontra-se nessa tese as primeiras bases da fonologia pragueana (devida ato criador da frase, é a predicação. A sintaxe funcional estuda sobretudo os
a Jakobson e a Troubetsko"i), uma teoria da palavra e uma teoria da sintaxe (a tipos de predicativos, considerando também, ao fazer isso, a forma e a função
primeira "gramática funcional", devida a Mathesius). do sujeito gramatical.
A necessidade da dimensão comparativa é reafirmada aqui: comparando
- a. Elementos para uma fonologia sincrônica. as estruturas frásticas de línguas diferentes (tcheco, francês, inglês), observa-
No primeiro ponto da tese 2, "Pesquisas relativas ao as~ecto fônico da se que as noções de sujeito gramatical e de tema não se recobrem forçosamente,
língua", é afinnada a necessidade de uma disciplina que separ~ra e estabelecerá e que as línguas empregam, cada uma delas, meios diferentes para construir a
claramente duas disciplinas diferentes, a fonética e a fonologia: predicação.
À guisa de anexo a esse último ponto, os redatores das teses esclarecem
Necessidade de distinguir o som como fato fisico objetivo, como representação,
e como elemento do sistema funcional. que a morfologia, definida como a "teoria dos sistemas das formas das palavras
e dos gmpos", não constitui uma "disciplina paralela" àquelas que acabam de
O som como fenômeno físico será, com efeito, o objeto da fonética, ser expostas (lexicologia e sintaxe), mas que ela "as atravessa, uma e outra".
enquanto o som considerado nas suas funções (trata-se, então, do fonema)
será objeto da fonologia: Terceira tese: as funções lingiiísticas. A terceira tese, intitulada
"Problemas das pesquisas sobre as línguas de diversas funções", apresenta,
(... ]as imagens acústico-motoras subjetivas não são elementos de um sistema em princípio, a noção central de função da língua que estará no centro de
lingüístico senão na medida em que elas desempenham, nesse sistema, uma todos os enfoques funciona listas ulteriores (primeiro ponto), mas apresenta
função diferenciadora de significações. O conteúdo sensorial de tais elementos igualmente um certo número de proposições sobre" a língua literária" (segundo
fonológicos é menos essencial que suas relações recíprocas no interior do ponto) e sobre "a língua poética" (terceiro ponto).
sistema (princípio estrutural do sistema fonológico).
- a. "Sobre as funções da língua".
- b. Teoria da denominação. O segundo ponto, intitulado " Pesquisas sobre Os redatores das teses formulam precisamente o princípio de base do
a palavra e o agrupamento de palavras", enfatiza os seguintes fenômenos: funcionalismo; a natureza das funções lingüísticas determina a estrutura da
A afirmação da existência da palavra como "o resultado da atividade língua:
lingüística denominadora":
O estudo de uma língua exige que se considere rigorosamente a variedade das
A lingüística que analisava a linguagem como um fato objetivado de caráter funções lingüísticas e de seus modos de realização no caso considerado. [...]É
mecânico tem amiúde negado completamente a existência da palavra, entretanto. de acordo com essas funções e com esses modos que se transformam a estrutura
do ponto de vista de sua função, a existência autônoma da palavra é algo fônica e a gramatical, e a composição lexícal da língua.
absolutamente evidente, ainda que essa existência se manifeste nas diverSaS
Hng.uas com um.a intensid~de variável e que isso seja um fato poten~ial. Pela Eles estabelecem, em seguida, um certo número de pares conceituais que
atividade denommadora, a lmguagem decompõe a realidade, quer ela seja externa estão no centro do programa funcionalista e que constituem o esboço da
ou interna, real ou abstrata, em elementos lingüisticamente apreensíveis. classificação das funções que será feita por Jakobson um pouco mais tarde:
A necessidade de praticar o que se chamaria atua lment: de ª . - A afirmação da importância da estrutura da língua: a "linguagem
"descompartimentarização das disciplinas",já que o estudo da palavra int~g~ interna" única e generalizável, contrariamente, à "linguagem manifesta":
ao mesmo tempo a dimensão sintagmática (a atividade denominadora "esta, ~s
vezes, indissociavelmente ligada à atividade sintagmática") e a ~i~:ns~o É oportuno distinguir a linguagem interna e a linguagem manifesta. Essa últíma
semântica (será preciso "ocupar-se de fatos que sobressaíam, de ordtnano, 8 não é, para a maioria dos sujeitos falantes, senão um caso particular, porque
semântica"). . eles empregam as formas lingllísticas pensando nelas mais freqüentemente que
delas falando: também é errôneo generalizar e superestimar a importância, para
- c. Si~taxe funciona l. O último ponto dessa segunda tese, intitulado '.'Teor.: a língua, do aspecto fônico absolutamente exterior, e é preciso considerar os
dos procedimentos sintagmáticos", e devido essencialmente a Mathesius, 8 fatos lingiiísticos potenciais.
da noção de predicação o centro da sintaxe:
. - Função social da linguagem. Os redatores consideram que "a linguagem
O ato sintagmático fundamental, que é ao mesmo tempo o próprio •ntelectual manifesta tem, sobretudo, uma destinação social"; a linguagem
•
122 • A1 Grr111du '/ 'torin1 d11 1JÍ((11í11ia1
(h 111n1/ur.1/ir11101 /1tnti1m11ÍJ • llJ
emocional, especificamente,
.
"tem
.
igualmente uma destinação social quande na escrita, e a linguagem descontínua (ou nllernadu, como na conversação) é
el a se propÕe suscitar no ouvinte algumas emoções (linguagem emotiva) aquela que mais se aproxima dn linguagem popular. São essas distinções e,
então é uma descarga emotiva, operada sem relação com o ouvinte". 'ou sobretudo. seus cmznmcntos que é preciso considerar para estudar a língua
literária.
~ Fu~ç~o d.e co~unicação e função p oética. No seu papel social, é
pre~1so d1strngutr a linguagem, segundo a relação que existe entre ela e a - e. "Sobre a linguagem poética"
realidade extralingüistica. Ela tem uma função de comunicação, isto é, dirigida As propostas que concernem à língua poética, que vêm, sobretudo, de
para um significado, e uma função poética, isto é, dirigida para o próprio signo. Jakobson, estabelecem todo seu trabalho ulterior e constituem os fundamentos
do que será a poética no século XX.
- M odo de manifestação escrito e oral. Os modos de manifestações Antes de tudo, a linguagem poética recebe uma definição, que a situa no
lingüísticas são: de uma parte, a manifestação oral (que se subdivide de acordo cruzamento da fala e da comunicação:
com a visibilidade / não visibilidade do sujeito falante para o ouvinte), e, de
outra parte, a manifestação escrita; em segundo lugar,_a linguagem alternada, A linguagem poética tem, do ponto de vista sincrônico, a fonna da fa la, isto é,
com interrupções e a linguagem monologada contínua. E importante determinar de um ato criador individual, que toma seu valor, de uma parte, sobre o fundo da
quais modos se associam a quais funções e em que medida. tradição poética atual (língua poética) e, de outra parte, sobre o fundo da língua
comunicativa contemporânea.
O último domínio de estudo proposto é a "dialetologia funcional", que propõe
considerar a variedade nas línguas: variedades dialetais no interior de uma Ela é, em seguida, definida por sua delimitação, isto é, sua autonomização
mesma língua, variedade das línguas especiais (isto é, Línguas de especialidade em relação aos códigos existentes ou anteriores:
técnicas, profissionais etc.), variedade das "línguas adaptadas às relações com
um meio de língua estrangeira" e variedade das "camadas lingüísticas nas Uma propriedade específica da linguagem poética é a de acentuar um elemento
cidades". de conflito e de deformação, sendo o caráter, a tendência e a escala dessa
defonnação bastante diversos. Assim, por exemplo, uma aproximação da fala
- b. "Sobre a lfngua literária" poética em direção à língua de comunicação é condicionada pela oposição à
Os redatores expõem a problemática que envolve as razões da emergência tradição poética existente[... ].
de uma "língua literária" em uma certa época e em certo contexto, língua
literária que se distingue da "língua popular". Eles explicam que "a distinção da Os redatores insistem sobre o estreito laço entre "os diferentes planos da
língua literária" é funcional: a língua literária "exprime a vida da cultura~ da língua poética", e explicam que na poesia, o ritmo, "princípio organizador",
civilização" e desse modo ela é o lugar de uma "intelectualização" devida articula-se com os elementos fonológicos, mas também morfológicos, lexicais
parcialmente, à necessidade de abstração e de formalização do pensamento, e sintáticos para produzir o verso. "Mesmo a rima não é um fato abstratamente
que se baliza sobre o plano sintático (a presença de subordinadas, por exemplo). fon~lógico", assinalam eles, insistindo sobre a mobilização de todos os planos
Ela é dotada de um certo número de propriedades: da lmgua na linguagem poética.
Mas, encontra-se, sobretudo, nessa terceira tese, um verdadeiro manifesto
"-( ... ] amplo controle (censura) dos elementos emocionais (cultura do e~ favor da consideração da forma no estudo da linguagem poética, contra os
eufemismo); metodos que consistem em descrever os conteúdos semânticos:
.- (... ] mai?r ~tilização funcional de elementos gramaticais e. lexic~is (e:
particular, lex1caltzação por grupos de palavras e delimitação mais precisa~ o índice organizador da arte, pelo qual esta se distingue das outras estruturas
funções que se traduz pela tendência a se evitar o equívoco e por unia maior semiológicas, é a direção da intenção não sobre o significado, mas sobre o
precisão dos meios de expressão); próprio signo. O índice organizador dn poesia é a intenção dirigida sobre n
c~pre~são verbal. O signo é uma dominante no sistema nrtlstico, e, quando o
- (.. .]maior abundância de normas lingOísticas sociais." historiador da literatura tomu como principal objeto de estudo nilo o signo. mns
0 que é significado, quando ele estuda a ideologia de umn obra literária como
• Acrescentando-se à distinção literária versus popular, as distinç~ segu!~f, uma entidade independente e nutônomn, ele rompe n hierarquia dos valores da
vem completar o programa de estudo: linguagem contínua (escnta ou 'ta estrutura estudada por ele.
ver~u.~ ~inguagem. desc.ontlnua (~scrita ou oral) e linguagem literária e;cr~.
ver.1~s linguagem ltterárta oral. A linguagem continua (isto é, de fato, rn°001 . g lat 2ANOÇÃO DE FUNÇÃO EM LI NGÜÍSTI CA
sem mterrupção) é o conservatório das marcas da lfngua literária, em parucu
~ J
,,. .. --
124 • /IJ c:n111dr1 Trol'ÍtlJ d11 l Jl~f.111/llM
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( >t 1J/11t1m.tllunn1 j 1111tin11,1iJ • U.S
2. 1. Definição particular por meio de sua difusão 111assiv·i 110 c•iis·1110 .1 . I' . .1
Nos textos do Círculo de Praga, o termo função não está definido comumcnç. º ào. ' · uC 111gu,1 e ue
precisamente, mas utilizado com um sentido implícito. Se retomarmos a célebre Aos. três eleme~tos que organiza111 a comunicação segundo BOhler (mundo,
declaração da primeira tese ("a língua é um sistema de meios de expressão locutor. 111terlocuto1 ). _Jakobson acrescenta a mensagem, 0 código empregado
apropriados a um objetivo"), pode-se definir função como a tarefa atribuída a e o contato entre os mterlocutores. As seis funções que ele estabelece são
um elemento lingüístico estrutural (classe, mecanismo) para atingir um objetivo então:
no quadro da comunicação humana. .·a funç~o ~eferencial (cognitiva, para Bühler): o enunciado diz o mundo e
As interrogações sobre a identificação das funções da língua, e, portanto, realiza uma 'visada pa~a o referente" (p. 214);
sobre a natureza dessas tarefas atribuídas a esses elementos, desembocam .. - a funç~~ expressiva~ou. e~otiva: ela "visa a uma expressão direta da
sobre a criação de tipologias, que têm por objetivo descrever o funcionamento atitude do s~e1to en~ relaç~o aquilo que ele fala" (p. 214);
da língua como sistema de comunicação. A mais célebre é a classificação de - a funçao conat1va: orientada para o destinatário: o enunciado é destinado
Jakobson. Mas esta re-trabalha, de fato, a primeira tipologia funcional, proposta a agir sobre o interlocutor;
porBühler. - a função fática: o enunciado fala do contato entre o locutor e o interlocutor,
trata-se de U!f1ª mensagem que serve "essencialmente para estabelecer,
2.2. As grandes classificações prolongar ou interromper a comunicação, para verificar se o circuito funciona
K.Bühler (...],para atrair a atenção do interlocutor ou para assegurar-se de que ela não
Karl Bühler ( 1879-1963) é um psicólogo alemão que, na síntese sobre a relaxe" (p.217);
linguagem que ele publica em 1934, define três funções da linguagem (cognitiva, - a função metalingüística: o enunciado dá informações sobre a maneira
expressiva, conativa) que correspondem aos três protagonistas da comunicação pela qual ele é produzido, sobre o código no qual ele é produzido. "Cada vez
(mundo, locutor, interlocutor): que o destinatário e/ou o destinador julgam necessário verificar se eles bem
-A função cognitiva (ou função de representação do mundo) corresponde utilizam o código, o discurso é centrado sobre o código: ele perfaz uma função
à utilização da linguagem com objetivo informativo (transmissão de infonnações metalingüística (ou de glosa)" (p. 217-218);
• a função poética: o enunciado constitui uma produção que é dotada de
factuais);
um valor nele mesmo; a função poética "evidencia o lado palpável dos signos"
- A função expressiva (ou função de exteriorização) libera infonnações
sobre os estados interiores, disposições ou atitudes do locutor; (p. 218).
Jakobson esclarece que uma mensagem não se inscreve somente numa
-A função conativa (ou função apelativa) corresponde ao uso da linguagem
função, mas em várias, com uma dominante: há uma hierarquia das funções
que tem como objetivo influenciar o destinatário ou produzir efeitos pragmáticos.
nos enunciados produzidos.
N~ ª?álise de . Bühler, essas funções correspondem a fenômeno_s A primeira crítica geralmente feita à classificação de Jakobson é que cada
gramat1ca1s, em particular os modos e as pessoas. A função cognitiva passara, uma das funções não se 3:Póia forç?sam_ent~ sobre os el~m~ntos est~uturais
por exemplo, pelo empreg? d~ indicativo e da 3ª pessoa; à função express~va e_specíficos da linguagem. E, com efeito, d1fictl encontrar critér.t0s prop~1amente
co~~sp~nd.e~, antes,? subJunttvo e a 1• pessoa; a realização da função con~t1va lingüísticos para diferenciar as funções. Por exemplo, os dois enunciados "o
pnv1leg1ara o 1mperat1vo e a 2• pessoa. Para Bühler, como para os funcionahstas elemento argon é um gás raro" e "a palavra Vosmecê indica um tratamento
em geral •. ~s estrutu~as da líng_ua são explicáveis pelas funções da lín~~· • arcaico", têm exatamente a mesma estrutura e nenhuma marca lingilfstica
A cnttca que pode ser feita a essa classificação incide sobre a d1stm~ao assinala que o primeiro é referencial enquanto o segundo é mctalingíllstico. A
pouco clara entre ª_segunda e a terceira função: elas são ambas, com efeito, segunda crítica é que se encontram essas funções nos sistemas não-lingíiísticos
voltadas para o destinatário. de comunicação: elas não são específicas das línguas naturais.
R. Jakobson M. Halliday
. _Roman Jakobson ( 1896-1982) retoma e aprofunda essa classificação, . Em 1980, Miehael Halliday (nascido cm 1925) propôs, por seu turno. uma
mspi~ndo-s~ na teoria cibernética (SHANNON & WEAVER 1949) e propõe. llpologia funcional que estabelece relações entre ns estruturns grn111aticnis de
no artigo "L ··1 · ' ' 963 uma língua e suas funções. Hallidny está mnis próximo de B!lhlcr do que de
p. 209 _ ) mgu stica e poética'', dos Essais de linguistique género/ (1 '
248 um esquema de comunicação que repousa sobre seis funções. Jakobson e estabelece as três seguintes funções (retomaremos ndiante o termo
Esse esquema teve um tne1af11nções, empregado igualmente por ele):
a imensa fiortuna na segunda metade do seculo
º , vY em
/V'•
~ ~
•
"função ideacional".
'
128 • •.. 1, r:m111/r1 ., ~;1iH ''" I .i1{~1tt'.rliM
Os grupos de fonemas. Os Princípios de Fonologia contêm um e Sem nd!nitir_esse clcmc1110 lclcológicu, é irnposslvel explicar a evolução
das características das vogais e das consoantes que detalharemos mais a/ªtne
1 fonológ!ca._l:ss~1 cv~luc;ílo lcm, portu~1lo, um sentido, uma lógica interna, que a
no tópico que se refere ao trabalho de Martinet sobre o sistema do fira ªº!e, fonolog1u h1stóncn é 111stadu 11 cv1dcnc1ar ( 1932, upud PARIENTE, 1969, p. 163).
. T b k .. dº .
Concentrar-nos-emos, aqui, no que rou ets 01 1z a respeito das leis gOCês. ·
que regem os grupos de fonemas (dito de outro modo, suas combinaçõ:~is o ponto de vista teleológico de Troubetsko"i implica que as mudanças
dos métodos adequados para estudá-los. e fonéticas e fonológicas não sejam _fenômenos isolaqos, mas organizados tendo
Se cada língua possui leis que re~em_ o grupo de seus _f?nemas, existe cm vista um fi m, que é ~ harmonia dos sistemas. E uma critica implícita das
entretanto, um tipo de combinação que e umversal_mente admitido (e, portanto' posições dos neograrnáttcos, mas também daquelas de Saussure, a quem os
possível em todas as línguas do mundo): a con:ibmação fonema consonantal: pragueanos reprovam o privilégio atribuído à s inc~o.nia. A afirma?ão dessa
fonema vocálico. Uma das tarefas da fono logia será a descrição do sistema tendência do sistema para um fim será ela mesma criticada, em particular por
dessa combinação, que é específico para cada língu~ , segundo um método que Martinet, que nela verá uma posição afetiva demais e pouco científic~..
Troubetskoi" detalha nos Princípios de Fonolog1a e que repousa sobre a Para finalizar, deixaremos o próprio Troubetsko"i resumir suas contnbu1ções
consideração, de um ponto de vista fonológico, de uma "unidade de quadro" à linguística do século XX:
mais ampla que é o morfema ou a palavra. O fonólogo estudará, com efeito, as
combinações de fonemas no interior de uma unidade significante Resumindo tudo o que acaba de ser dito, nós constatamos que, como
(contrariamente, ao fonema isolado, que, lembremo-lo, não porta significação), movimento científico, a fonologia atual é caracterizada, sobretudo, por seu
estruturalismo e seu universalismo sistemático. Esse traço a distingue
em virtude do principio fundador da fonologia que é o de considerar a radicalmente das escolas lingilísticas anteriores, individualistas e atomistas
"significação intelectual" do sistema fonológico de uma língua: por excelência. [...) A época na qual vivemos é caracterizada pela tendência de
todas as disciplinas científicas a substituir o atomismo pelo estruturalismo e o
Evidentemente, dever-se-á examinar separadamente, de um lado, as posições individualismo pelo universalismo (no sentido filosófico desses termos,
no interior das unidades de quadro em questão (inicial, interior da palavra, evidentemente)(ibid. p.164).
final), e, de outro, as três formas fundamentais dos grupos de fonemas (grupos
de fonemas vocálicos, grupos de fonemas consonantais, grupos de fonemas
vocálicos e consonantais) ( 1964, p. 272). 4 L. HJELMSLEV: A GLOSSEMÁTICA
Esse programa induz, em seguida, a exposição de um método: 4.1. Situação
O método que deve ser empregado no estudo dessas formas de grupos Por seus primeiros trabalhos (Études Baltes, 1932), Louis Hjelmslev ( 1899-
fonemáticos decorre, com uma lógica inelutável, das questões que esse estudo 1965) liga-se à tradição da lingüística histórica dinamarquesa (Rask, Thomsen,
deve responder. Deve-se, em princípio, investigar quais fonemas podem se Jespersen). Entre os anos de 1926-1927, o lingüista familiarizou-se com o
agrupar na posição em questão e quais fonemas excluem-se reciprocamente. princípio da lingüística geral, na sua proximidade com Meillet e com Vendryes,
Em seguida, deve-se estabelecer em qual ordem de sucessão esses fonemas se sendo essa influência sensível nos Príncipes de Grammaire générale ( 1928)
encontram um ao lado do outro na posição referida. E, em terceiro lugar, deve- e na Catégorie du cas (1935-1937). Mas o nome e a obra de Hjelmslev
se também indicar o número de cada grupo de fonemas admitidos na posição
em questão (ibid. p. 272) ~nnanecem ligados à co-fundação, em 1931 (com H. Uldall), do Círculo
Lingüístico de Copenhague: On the principies ofphonematics ( 1935) constitui
A evolução fonológica uma resposta crítica aos trabalhos do Circulo Linguístico de Praga. A partir de
Como membro do Círculo de Praga, TroubetskoY partilha a convicção de 1939, Hjelmslev dirige a revista Acta linguística previamente fundada por V.
que, no estudo do sistema de uma língua, é preciso articular estreitamente as Brondal. As pesquisas conduzidas por Hjelmslev, no começo dos anos 40,
perspectivas sincrônica e diacrônica. Essa convicção é derivada do fato ~e am~durecem uma conceituação fortemente marcada pela ambição teórica,
que sua fonologia integra a dimensão histórica. O sistema fonológico evolui e ~sim como o atestam os Prolégomênes à une science du langage ( 1943).
TroubetskoY exprime posições fortes (e que serão contestadas) sobreª razão _gualmente redigido em 1943, mas publicado em 1963, le langage - que
da evolução fonológica de um sistema: :~tr~~ o problema diacrônico - desenvolve a tese segundo a qual as mudanças
inguisticas não seriam devidas nem à necessidade das leis fonéticas (tese
Sendo tudo até certo ponto determinado pelas leis da estrutura geral_- e~: ~ogra~ática), nem a causas sociais (ponto de vista defendido por Meillet)
exclue~ algumas combinações, favorecendo outras-, a evolução do sistti
fonológico, a cada momento dado, está dirigida pela tendência para um 101· reasseriam principalmente imputáveis à modificação das relações lógicas qu~
&em a economia dos elementos de um mesmo sistema.
~ ..... .......
Ul • .l'lt (:runtltJ 'l fafi,u dt1 I Í11)..Wlll1M Os ts/f'M/11rali.r111os jN11rio11ai1 • W
A questão do sentido .
4.2. A in terpretação do CLG
Desde 1935. Hjcltnslev, numa definição que lembra a caracterização A anál ise da forma l~ngü í st i ca dá lugar a duas conceituações
complementares. Para. c~nce1tua.r a forma do conteúdo, Hjelmslev observa
negativa da lingüística de Saussure, indica que a "verdadeira lingüística"
e toda língua constitui um pnsma formal que opera um certo recorte da
deve tentar apreender a lingua não como um conglomerado de fenómenos não qt~lidade (isto é, da substância). O exemplo da delimitação do espectro das
lingüísticos (por exemplo, ílsico, fisiológico, psicológico, social) mas como re es em diversos idiomas
cor . é emblemático
. . . da . pertinência dessa tese. Se a
uma totalidade que se basta a si própria, uma estrutura sui generis ( 1935, p. 2). d'15criminação perceptiva constitui uma mvanante da espécie humana, resta
e os diferentes idiomas (ligados às diferentes culturas) conceitualizam de
A axiomatização quaneira específica a diversidade cromática. Um outro exemplo, emprestado
A teoria esboçada por Hjelmslev desenvolver-se-á como uma ~ um domínio prático, mostra essa mesma "ausência de concordância no
axiomatização das principais concepções do CLG. A análise da língua é aquela ·~erior de uma mesma zona de sentidos'', assim ocorre no caso das "seguintes
de um conjunto de funções (no sentido matemático), isto é, de relações entre ~rrespondências entre o dinamarquês, o alemão e o francês" (1971, p. 72)39:
diferentes variáveis do mesmo processo:
Francês Alemão Di11amarq11és
Deve-se afirmar que cada processo pode ser analisado num número limitado de
elementos que entram constantemente nas diferentes combinações [... ). Arbre Baum trae
Baseando-se nessa análise, deveria ser possível arranjar esses elementos em Bois Holz
classes, segundo suas possibilidades de combinação. E deveria, além disso,
ser possível fazer um levantamento geral e exaustivo das combinações possíveis
(ibid.). Wald skov
Forêt
Hjelmslev distingue três tipos de funções: as relações de interd~p:ndê_?ci~
(um termo pressupõe o outro), de determinação (a pressupos1çao n.a~ . e O tema da configuração da realidade pelas restrições cognitivas que lhe
recíproca), de constelação (trata-se de dependências mais livres). A 1de1a impõe a forma das línguas invoca diretamente a hipótese Sapir-Whorf. O sentido
primeira é, portanto, que os elementos implicados num sistema definem uma (ou a "matéria") constitui "uma entidade definida pelo fato de que ela contrai
estrutura. O objetivo da análise lingüística consiste então em interpretar toda uma função com o princípio estrutural da língua e com todos os fatores que
formação de signos como uma manifestação do sistema: fazem com que as línguas sejam diferentes umas das outras'', de modo que "a
fonna é projetada. sobre a matéria como uma rede aberta lança sua sombra
Partes coordenadas que procedem de uma análise única de um todo, dependem sobre uma superficie não dividida que se en~ontra sob ela". Segundo Hjelmslev,
de uma maneira reciprocamente uniforme desse todo (ibid.p. 17).
a forma do conteúdo é composta por unidades menores, os pleremas
Esquema/uso; conteúdo/expressão (equivalentes dos semas da semântica componencial). Aforma da expressão
Na perspectiva dos Prolegômenos, a divisão saussureana língua/fala é é composta, igualmente, por unidades elementares, os ceremas (análogos aos
reinterpretada sob a ótica da oposição esquema/uso. Hjelmslev organiza essa fone~~s ). As relações funcionais que se estabelecem entre ceremas e pleremas
distinção nela introduzindo um terceiro termo: a norma, concebida como COnd1c1onam a produção dos glossemas. A glossemática. oc~pa-se, en~o, do
generalização coletiva do uso. Essa tripartição sugere uma nova concepção da estudo das variações da relação estrutural que esses dois tipos de umdades
constituiç.âo .de .um idioma (no sentido: norma/ uso/esquema). Por outro lado. . erem - estudo tornado possível pela determinação de uma meta1·mgua
entr
um dos ~nnc1pa1s enunciados teóricos do CLG (segundo 0 qual "a língua elabo_ra ngorosa.
suas u01dades constituindo-as entre duas massas amorfas[.. .) essa combin.açao
P!' 11duz uma f~nna, não uma substância") conduz a um re-exame da teori.a do
0
~ 3 · ~s objetivos da teoria
~~~ ?· ~ara l-IJehn.sl~v, o signo constitui uma função com duas variáveis (o que op~oria da linguagem é concebida nos termos de "uma álgebra da língua,
sigmlicado, redefm1do como conteúdo, e o significante. redefinido como ra com entidades sem nome, isto é, com entidades arbitrariamente
expressão). Nessa perspectiva, a "fom1a" lingüística é concebida sob o mod?,
de uma rede de relações determinadas entre as ''peças do jogo de xadrez
(lembramos que a comparação é de Saussure).
39----
PalaN.T. Emd P<>rtuguês, respectivamente árvore, madeira, floresta. O autor chama a atenção
o fato
'~istein ª""e que, enquanto em francês há três pa.lavras para esses significados, em dinamarquSs
.. ~nas duas.
j
...-
A Função
Em uma obra de 1989, Fonc1io11 el dynamique des langues, Martinet
apresenta uma definição sintética do sentido que ele dá à perspectiva funcional
de seus trabalhos:
O termo "funcional" é empregado em seu sentido mnis corrente e implica que
os enunciados Jinguageiros são analisados cm rcferêncin i\ maneirn como eles
contribuem parn o processo de conrnnicnçilo. A escolhn do ponto de vista
funcional derivu dn convicção de que lodn pesquisn cientílicn se funda no
estabclccime~ito de umn pertinénciu e que é es.snye!·linênc~n comunicativa que
melhor permite compreender a nall.m:~n ~ n d11rnn11c11 dn linguagem. Todos os
traços lingungciros serão, cntilo, pnontnnnmente, nprccndiclos e classificados
em referência no papel que desempenham nn comunicnçilo da infom1ação ( 1989
~~ .
..,
1.1<> •
1t C. f'.1•1/t't I ~n.1t :L1 I 111,.i:.111111;.1
comporta vários monemas lexicais combinados entre si; sendo o fenômeno da ,•Js lnuiur jimrin1111/il/111 • IJ?
combinação da ordem do sintático, ele é denominado como sintema. Por
exemplo, a palavra incompreensível comporta três monemas (o prefixo in-, r\ tilinçiin <k Mnthcsins 110 qne conccrn. ' ., 1111 1 . . .
ecl~~~·) ~ ti ca l1~nc1onnl é ~obrctudo
sufixo ível-, e a base compreens-) e constitui um sintema. 0 :mglt.'·snxônica: autot"l:S como Dik ( 1989 1 1 1
ocy& VanVal111
A sintaxe IIli 11 ·1
t<H) ' (t<)7 ') •K (I''' .
·' c uno :1S7) elaboram gra111útic·ts • r1 ·
•
· (1984)
.· · '
Como os trnbalhos de Halliday estão entre os mais ;1 ~u~~:~< ~~t~mc'.i~c l~11~c10~1ius.
Ela tem por tarefa estudar as relações de dependência dos monemas e as cm particular porque eles cobrem também o c·1m1Jo cio tc)s<t s edm.111~ chlund1dos,
funções que eles assumem em um dado enunciado. .• ' d ~1 . ' ·· x o e o< 1scurso, eles
s1.:n10 os mo e os q11c 11prcscntarcmos aqui como exemplo.
Esses quatro domínios constituem disciplinas autônomas, mas Martinet 2.1 O modelo sistêmico-funcional
lhes acrescenta duas disciplinas transversais: a morfologia e a axiologia.
A morfologia Uma abordagem sócio-funcional
Podemo? ~ua.lifi~ar o trabalho de Halliday (nascido em 1925) como
. C?nsti~i-se do estudo do conjunto das marcas formais não pertinentes da aborda~em soc10-hmc1onal da linguagem. Uma elas linhas centrais de sua obra
pnme1ra articulação e suas condições de aparição. "Eu designo como 'a está na mcoiyoração _da dimensão social à lingüística.
morfologia' o estudo das anomalias formais", declara Martinet (1989, p. 35). S_e Hallt~ay se situa .claramente na linha do funci onalismo de Praga e do
As diferenças formais que não marcam a função da comunicação são numerosas fmnces Martmet, ele se mspira também nos trabalhos da Escola de Londres
em línguas como o francês e o português: certas marcas de gênero para os (em particular, Malinovski e Firth) e de Copenhague (Hjelmslev). Seu interesse
objetos inanimados (que mesa seja feminino e sofá masculino, em português, por Malinovski, antropólogo especialista da Polinésia, para quem a linguagem é
não contribui para a comunicação, tanto é que em outras línguas os gêneros inteiramente dependente da cultura, explica a força com que afirma a ligação
dessas palavras podem ser diferentes), certas modificações de formas da base entre as estruturas sociais e linguageiras:
segundo a derivação (a diferença entre saber e sapiente não é pertinente).
A linguagem não é somente uma parle do processo social - ela é também uma
A axiologia expressão; e isto porque ela está organizada de uma maneira que foz ao mesmo
tempo uma metáfora do processo social (STEELE; THREADGOLD, 1987, p.
Estuda o valor significativo dos monemas, isto é, os traços constitutivos do 604).
significado (ou seja, os semas) dos monemas lexicais e gramaticais, bem como
Mas não se trata de uma simples teoria do reflexo. A articulação entre os
os efeitos de significado que as funções sintáticas podem produzir. Martinet dados sociais e as formas lingüísticas faz-se graças ao que Halliday denomina
distingue a axiologia da semântica: "a axiologia é, então, o estudo dos valores metafunçôes (ideacional, interpessoal, textual)._ As metafun?ões são para ele
significativos que se opõem" ( 1989, p. 36).
uma tentativa teórica de relacionar as formas internas da linguagem e suas
utilizações nos contextos da vida social:
2 UMA GRAMÁTICA FUNCIONAL: M. llALLIDAY
As metafunções são os conceitos teóricos que ~os permitem compr~ender a
os princípios de uma gramática funcional estão presentes desde 1909 nos interface entre a linguagem e o que está fora da lmguagem - e é essa 111terface
ensinamentos de Mathesius e estão expostos nas teses de Praga. A idéia ~entrai que modelou a forma da gramática (ibid. p. 608).
é de que a forma é subordinada à função. Mathesius propôs um modelo umversal
. Halliday explica em outros termos que as i:netafunções são o que permite
não apriorístico, fundado sobre a evidência de dois atos func ionais: o ato de sair do sistema para ir ao texto: a noção de sistema está no coração de sua
nomear (lhe naming act) e o ato de formar os enunciados sintagrnáticos (the lingüística (é por isso que ele fa la de um modelo sistêmico-funcional), e a
syntagmalíc utterance forming act). As noções de nome (name) e de definição que ele apresenta articula-se com aquela de estrutura.
enunciado (utterance) relacionam-se à função; considerando o que os locutores
produzem efetiva!llente, Mathesius falará sobretudo de palavra (word) e de Sistema e estrutura
frase (sentence). E a partir da relação entre nome e enunciado de um lado, e A dimensão paradigmática. Embo~a ao fi nal ~os anos 60 os lingüistas
pala~ra e frase de outro, que Mathesius estabelece os princípios da gramática tenh~m concentrado seu interesse no fu~cton~mento smtagmático da gramática,
fu~c1ona.J. Se as categorias funcionais (nomear, produz ir enunciados) sã~ 'Halltday assinala sua dimensão parad1gn~átic?. Ele r;~erva o termo estrutura
ª?s modelos de combinações em torno do eixo smtagmat1co e opta por deno ·
un1versa1s, o aspecto formal da linguagem (palavras e construção de frases) e
específico: cada língua efetua os atos funcionais de maneira específica. sistema o conjunto de possibilidades de escolha do locutor no eixo paradigm~~~~~~
1 ~
fr l tmt.11 /11nt1111111/111,11 • 111
140 • As Gm11drs ·1~01ins dt1 ,-;;;;;;;11ir,,
Controle
conttole impmtivo < ordem
ameaça
•m•W• ~ punição fisko (o 1)
P
uni - ·
<'h~"'
çao ps1cológica (a )
2
ogon" "P"lfi'° (b 1)
· ·
<"""º
c nao específico (b2)
loc"w (' 11
(o2)
/ regulamentaç>o (m/•gi•"iJ
Essa sub-classificação permite, por exemplo, mostrar que a frase Você
vai receber uma bofetada é uma expansão de (a) que passa pela seleção de
controle posicion~ ~ des.p,ovaç;o (ai) e (b2), ou que Papai irá se aborrecer com você é uma expansão de (a)
que passa pela seleção de (a2), (b 1) e (c2). Halliday insiste sobre o fato de que
uma frase não se explica somente pela sua forma, mas depende sobretudo do
contexto, imediato e amplo; e essa abordagem implica que os conhecimentos
busca de reparação dos parâmetros do contexto permitem previsões das frases possíveis.
É 0 locutor que traça seu caminho paradigmático na rede, segundo o 2.2 A Function a l Sentcnce Pcrspective (FSP) (Pe rspectiva
contexto imediato da situação e aquele, mais amplo, da cultura a que pertence. Funcional da Frase)
A noção de escolha. A noção de escolha é, para Halliday, definidora da A abordagem da frase que habitualmente nomeamos peln sigla inglesa
de rede. A linguagem é considerada como um reservatório de· possibilidades FSP {em português: perspectiva funcional da frase] vem de Mathesius e aparece
semânticas dirigidas para a comunicação; o locutor opera escolhas nas séries nas teses de Praga sob o título "Divisões atuais da proposição". A idéia central
de alternativas significantes: é que a frase tem por objetivo aportar informações novas (rema) apoiadas
sobre informações conhecidas (tema). O tipo de funcionamento determina a
O modelo sistema-estrutura não diz absolutamente nada a respeito de qualquer
processo de decisão ou intencionalidade da parte dos locutores ou dos ordem das palavras e a coincidência ou nilo coincidência entre a estrutura
receptores. Dclinimos um sistema semiótica como uma série de séries de lema-tema e estrutura sujeito-verbo, por exemplo.
alternativas; e uma estrutura é simplesmente a realização de uma escolha dentre líalliday retoma a distinção entre tema (aquilo sobre o que o locutor fala)
essas alternativas - de uma "expressão selecionada", como a chamamos. (ibid.
p. 606).
~cr~~a ~o que o locutor diz n propósit_o do_ tema). Ele considera que a estru~ra
in ~-rema (thematic structure) é s!nti\~1e11 (é. uma ocupação de lu ar·
g1 s, por exemplo, tema ocupa a prnnc1ra posição na frase)· mas " g ' em
A linguagem aparece então como um sistema de probalidades. Por isso, • a estrutura
sua gramâtica sistêmica (!Jystemic grammar) é, às vezes, chamada de gramática
~
14z • A1 (,m11du Teorinr dt1 U11g11í1lira
--
sferiu-se para
41 N.T. Depois de participar do Círculo de Moscou ( 1915-1920), Jakobson tra~ são nazista
a Tchecoslováquia e lá participou do Circulo de Praga ( 1920-1939). Fugindo da inva ·ro para a
.
e da perseguição .
aos Judeus, . P31'ses·
ele foi obrigado a emigrar para vános • •
primeiSuécia
' e de
Escandinávia onde participou do Círculo Lingüístico de Copenhague; de~ois, para~arvard e no
L
42 Todas as citações seguintes foram extraídas dn obro E.\'sai de li11g11is1iq11e Générale vol
lá emigrou para os Estados Unidos, onde passou a lecionar na universidade de 1963•Por .isso, mencionaremos apenas o numero
.. da pngma.
• . ' . 1'
MIT. Jakobson faleceu nos Estados Unidos, em 1982.
t« • Ai G'nJ11tlrJ '/ mri111 tlr1 1i1w1ütira
....-
/ Is trorim / 1111rio1111/ist11s • J.as
decorrência de seu simplismo, essa análise constituiu em seu tempo um av
nos estudos da uti lização da linguagem. anço
Equivalên cia : ·~segu~? 0 ~~ai critério lingüístico reconhecemos
. ,·camente a funçao poet1ca? interroga-se Jakobson após ter elaborado
3.2 Poética: prioridade da forma ernpir · das fu nç õ es da 1mguagem.
versão da tipologia · Ele oferece a resposta <em
Metáfora e Metonímia ~~a passagem célebre na qual aprese~ta a noção de equivalência. Escolhendo
. mplo de uma mensagem produzida com a palavra criança (escolhida no
Para Jakob~on, a oposiç~o similaridad~ / con!igüidade não se restringe ao o:~igma criança, pirralho, garoto, menino etc.) associada a um verbo do
~aradigma de sono (dorme, cochila, repousa), ele afirma:
estudo das afasias, mas func10na de maneira mais ampla como descrição da
utilização da linguagem, sob a forma de uma oposição que reinterpreta duas As duas palaVf'.IS e~col.hidas s~ c?m?inam na cadeia falada. Aseleção é produzida
figuras centrais da retórica, a metáfora e a metonímia: na base da equ1valenc1a, da s~m1 landade e da dissimilaridade, do sinônimo e do
antônimo, enquanto a combmação, a construção da seqüência, repousa sobre
O desenvolvimento de um discurso pode se fazer sob duas linhas semânticas a contigüidade. A.função poética proj eta o princípio de equivalência do eixo
diferentes: um tema (topic) conduz um outro, seja por similaridade seja por da seleção sobre o eixo da combinação. A equivalência ocupa a posição de
contigüidade. O melhor seria, sem dúvida, falar de processos metafóricos no procedimento constitutivo da seqüência (p. 220).
primeiro caso e de processos metonímicos no segundo, pois eles encontram
sua expressão mais condensada, um na metáfora outro na metonímia. [...)No Jackson assinala que, na poesia, em que predomina a função poética, mas
comportamento verbal normal, os dois procedimentos são continuamente também nas outras produções linguageiras em que ela não é dominante, as
agenciados, mas uma observação atenta mostra que, sob a influência dos modelos palavras são escolhidas não pelo seu valor comunicacional e informacional,
culturais, da personalidade e do estilo, um ou outro desses dois processos é mas pela relação de equivalência (por semelhança ou dessemelhança) que
privilegiado (p. 61 ). elas podem estabelecer com as outras. Ele fala também de "superposição da
similaridade sobre a contigüidade [que] confere à poesia sua essência de parte
A partir daí, Jakobson esboça uma classificação binária das formas de aparte simbólica, complexa, polissêmica" (p. 238). Isso ocorre porque a poesia
utilização da linguagem: a poesia seria dominada pela metáfora enquanto a é dominada por diversas formas de equivalência, no plano fónico (rimas,
prosa funcionaria sob a metonímia. Ele propõe também uma descrição das aliterações, assonâncias, paranomásias), rítmico (métrica), sintático
grandes correntes estéticas: enquanto o romantismo e o simbolismo priorizariam (paralelismos, simetrias) etc.
o processo metafórico, o realismo se fundaria predominantemente sobre o
processo metonímico já que "o autor realista opera digressões metonímicas da Ambigüidade: Essa definição da função poética implica que a linguagem
intriga à atmosfera e aos personagens no quadro espaço-temporal" (p. 63). poética não tem por função primordial descrever o mundo real: a função
A Jakobson tem sido reprovada essa tendência de impor um q~ ~ referencial não é mais que acessória, e ela é mesmo seriamente opacificada
descrição binária a todas as produções de linguagem. Mas esse quadro buláno. pelo. tr~balho poético. Como aponta Jakobson ao introduzir a noção de
talvez um pouco redutor, constitui uma aqujsição considerável para a abordage; ambigü1dade, podemos defini-la como a co-presença de dois sentidos, um que
lingüística dos textos literários, poéticos em particular: a elabora~ão ~ ~ postula a referência ao mundo, o outro que emana das combinações do contexto:
de função poética permite um olhar que privilegia a fonna do enunciado lite
e a fabricação dessa forma. A ambigüidade é uma propriedade intrínseca, inalienável, de toda mensagem
centrada sobre si mesma, logo, é um corolário obrigatório da poesia. [...]Não
A Forma da Poesia soment~ ªprópria mensagem, mas também o destinador e o destinatário tomam-
sfie ª.m.biguos. Além do autor e do leitor há o "eu" do herói lírico ou do narrador
ictic1oeo"1"
das • . u ou "vós" do destinatário
, suposto dos mono. logos drama·1·1cos,
.
Integrada no vasto movimento cultural do formaltsmo russo, e inspirada
coloc• a 5
uphcas, das epístolas (p. 238).
em seu interesse pelos poetas Khlebnikov e Maiakovski, Jak.ob~oo -"' texto
no~ã? de P,roc~dimento de criação n~ centro do es~udo ltngu
. "fsttCO uv
"orientação
poet1co. E o Jogo da função poética, caracterizado pela a e:rn parei•
(Einstellung) para a mensagem enquanto tal, o enfoque da m~ns ~
mesma" (p. 2 18) e coloca em evidência o "lado palpável do signo ·
r
146 • ,-1, Crmulrs Tt0rin1 dn U11glffrfir11
BIBLIOGRAFIA
Capítulo 8
HALLIDAY, M. A. K. Explorations in the Functions of Language. London:
E. Arnold, 1973.
JAKOBSON, R. Essais de linguistiquc générale. Paris: Minuit (tomes J et
2), 1963-1973.
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MARTNET. A. Éléments de linguistique génerale. Paris: A. Colin, 1961
[Elementos de lingüístíca geral. São Paulo: Martins Fontes]. do Descritivismo ao Gerativismo
Leonard Bloomfield ( 1887-1949) publica, em 1933, le ~angage, livro que e pock 1.mt1~l) ser .estudada de maneira cxtcr.na; não se trata para ele de uma
dlllltl'inn ps1colôg1cn. mas de uma metodologia.
constitui uma teoria geral da linguagem que será desenvolvida e aprofundada
por seus alunos sob a etiqueta de distribucionalismo, corrente que dominará Ek uplicn ú linguagem o célebre esquema estímulo-resposta, e o formula
do seguinte maneira: S-rs-R. Sé o estímulo externo que impulsiona qualquer
a lingüística americana até 1950. um a produzir n fofa r; essa resposta lingiiística constitui para o ouvinte um
estimulo s. que provoca como retorno uma resposta R. Para exprimir esse
Mentalismo e Mecanicismo itinerário comportamental de S a R, Bloomfield narra o célebre "apólogo de
Não se pode falar do trabalho de Bloomfield sem situá-lo em relação a seu Jill":
colega Sapir. De fato, os dois se formaram e trabalharam na mesma época,
concordando em priorizar o estudo da forma (Sapir fonnulou uma abordagem Suponhamos que Jack e Jill estejam seguindo um caminho. Jill tem fome. Ele vê
do fonema anterior àquela de Troubetskol, e, verdadeiramente, fora do contexto uma maçti cm uma árvore. Ele faz um barulho com sua laringe, sua língua se seus
das abordagens saussureanas), mas eles operaram escolhas teóricas diferentes. l:íbios. Jack salta a cerca, sobe na árvore, pega a maçã, leva-a para Jill, coloca-
Seria caricatural opô-los tenno a termo, mas pode-se mesmo afirmar que Sapir
ª cm sua mão. Jill come a maçã. Essa sucessão de acontecimentos poderia ser
estudada de numerosas maneiras, mas nós, que estudamos a linguagem, faremos
está do lado de uma abordagem mentalista da linguagem, enquanto Bloomfield naturalmente a distinção entre o ato de fala e as outras circunstâncias, que
é definitivamente mecanicista, adotando uma perspectiva behaviorista. Enquanto chamaremos os acontecimentos prúticos. Visto dessa maneira, o incidente se
Sapir fala de uma realidade psicológica do fonema, Bloomfield é explicitamente compõe de três partes, por ordem cronológica:
anti-mentalista, considerando que a linguagem é acessível do exterior, enquanto
comportamento, e não do interior, como expressão de realidades psicológicas A. Ações práticas que precedem o ato de falar.
B. O discurso
ou mentais: C. Ações práticas que sucedem o ato de falar. (p. 27).
A teoria menta/is/a que é muito mais velha, e sempre em vigor na concepção A partir dessa narrativa Bloomfield elabora seu esquema:
popular e entre os homens de ciência, pretende que a variabilidade da conduta
humana é derivada da intervenção de um fator não físico, de um espirito, de Éevidente que a relação entre os movimentos vocais de Jill (B 1) e a audição de
uma vontade, ou de uma consciência (em grego psique, de onde vem o tenno Jack (83) está submetida a muito pouca possibilidade de incerteza, ou variação
psicologia), presente em cada ser humano. Esse espírito, segundo a concepção porque não são mais do que ondas sonoras que atravessam o ar (B2). Se
mentalista, se diferencia totalmente daquilo que é material e, por conseguinte, representarmos essa relação por uma linha pontilhada, podemos simbolizar os
dois meios humanos de responder a um estímulo por esses dois esquemas:
segue um outro tipo de relação casual ou talvez nenhum.(...]
A teoria materialista (ou melhor, mecanicista) pretende que a variabilidade da reação sem fala: S Q R
conduta humana que implica o discurso provém somente do fato de que o
corpo hu_mano é ~m .sistema muito complexo. As ações humanas, segund.o a reação por meio da linguagem: SQ r Q s Q R (p. 29)
concepçao matenahsta, são uma parte das seqüências de causa e ~fe!to,
exatamente como aquelas que observamos no estudo da flsica ou da qu1m1ca. Éimportante notar que Se R são os "aconte~imentos prát~co~'.', p~rtencen~es
43
(1933, p. 35-36) • ªº m~ndo extralingüístico; somente r e s constituem o ato hnguistJco, aquilo
que e nomeado como discurso.
Bloomfiel?~ nã.o aceita os conceitos do mentalismo; para ele, espírito,
vonta?e,,,consc1enc~a não são mais que "configurações de sucessão do mundo O Primado da Descrição
material , dos movimentos corporais. ~partir desse esquema, Bloomfield propõe um programa descritivo: ele
~~~sidera 9~e ~explicação dos fenômenos de lingua~e1? ainda não é possível.
Uma Abordagem Behaviorista . e .descnttvismo é então uma escolha metodolog1ca, que acaba sendo
Sua abordagem te ·
do psicólogo W d) ve origem na psicologia behaviorista (sob a in
· fluência
é t~:~era~a.como redutora por seus detratores.,E~sa escolha o leva a recusar
qu s~onc1smo e todo funcionalismo (o que o d1stmgue de Sapir, por exemplo
explicável a part~~ t · Para o behaviorismo, o comportamento humannão
0
ob:earticuta simultaneamente forma e função): as formas da língua serã~
seriam mais do q~r . e ~ados externos, sem recorrer a dados internos q~ento que ~adas do exterior, sem levar em conta sua evolução histórica e a funçã
e 11us es. Para Bloomfield, a linguagem é um comporta e as desempenham no sistema. O descritivismo de Bloomfield implic~
43 Todas as citações de BI . dicarernos
somente a referên · d . º?mfield foram extraídas da obra de 1933 e, por isso, m
eia a pagina. '
1\
~
r l~k (;;,;1r1 Trori111 t/J1 I Ji~f,ll;ilim
h,,,.,,,;n,,,111: 1/11 tf,,1dtir/Jr111 1ut
-
.~rtllfinil'ln .1~1
I'
-~.crítica à concepção mentalista da significação e a afirmação do
mecaructsmo: ....._
~I
As formas lingüfsticas e os constituintes ,/ii/1111111 111111'. rlanr11111, /11w11n; lilt.wkllf•rry; cranherry; 1·trawberry; 1rw1flower.
As fonnas linguísticas são as unidades de sinal (Bloomfield fala em alguns l h1111 111111111 l111l!llf1>l11·11 11111: 11 1 1~:.111 uma :.<:mclhança fonética e semântica
1 parcial
1.1,1111 11111111111111 111111111 l111gilb1ic:1 é uma forma et1mplcxa. I\ pane comum de todas
momentos de "fonnas de sinal") que, pronunciadas pelos locutores, suscitam
ll1> lllllllll1> l'11111pf,·1111:. <cl11a:.. •111 nwis) é uma forma lingüística; é um constituinte
repostas a uma situação: 11111 1''"'l"'"""t•·) clc~~a11 l 1 >rrna~ complcxac;. Dizemos que esse constituinte
1 ,~ 11\ 1·11111111t11111:. 1011 incluído"ª"· ou incrustado nas) fonnas complexas (p 153).
Pronunciando uma forma lingüística, um locutor leva seus ouvintes a
responderem a uma situação: essa situação e sua resposta constituem a
significação lingüística dessa fom1a (p. 150). Nn:. i"\c111plos 11cima, podemos dizer que John e Bill são constituintes, o
• 1111 1 11 11l' mrr/11, mio, o diminutivo - y (cm Johnny e Billy), os morfemas -
1111 ~ . ~ . .
111111•111 rl1111ç11111,.fo~11111), -heny e -stniw. A noção de mclusao de const1tumtes
~ h'1erarqu1ca
Bloomfield distingue dois tipos de fonnas linguísticas: as formas lexicais e
'~implcs nus lhrnrn.s comp 1cxas. e , a. base da concepçao ' . da tirase em
as fonnas gramaticais.
l'l1tlstlluintcs imcd ratos.
Formas lexicais. Uma forma lexical é urna combinação de fonemas que
possui um sentido estável em urna comunidade lingüística. A terminologia de A i.:1·t111!1\ticn como arranjo das formas lingüísticas
Bloomfield às vezes varia: ele fala também de sinal lexical ou de forma fonética. !llooml~cld dc0ne a gramática de uma língua como um sistema de arranjo
Essa noção de forma lexical é uma maneira de conceber, no interior de uma tlns lormns l111gU lst1cas. Ele define quatro tipos de arranjos:
abordagem behaviorista da linguagem, o que uma outra tradição chamaria de
palavra. - li Ordem. É "a sucessão pela qual se pronunciam os constituintes de
nmn forma complexa" (p. 154). Por exemplo, em português, a ordem
Formas gramaticais. Uma forma gramatical é uma combinação do que !determinante + nome] ou [prefixo + radical). Essa noção corresponde ao
Bloomfield chama de taxemas; um taxema é um traço de disposição gramatical íuncionamento dos sintagmas, segundo Saussure.
(ele emprega, às vezes, a partir da palavra taxema, a expressão forma tática - A modulação. É "a utilização de fonemas secundários" (p. 155), isto
no lugar de forma gramatical). Como o fonema, o taxema ou traço de ê, dos fonemas que aparecem no nível dos arranjos gramaticais como a
disposição gramatical pode ser considerado como um elemento autônomo: entonação (que vai distinguir a questão da ordem em John ?, ou John!, por
exemplo).
Os traços de disposição gramatical aparecem sob as combinações variadas, - A modificação fonética. É uma "mudança de fonemas primários de
mas pode-se geralmente isolá-los e descrevê-los separadamente. Um traço uma fonna" (p. 156). Em inglês, do+ 1101 resultará don ~; duke, flexionado no
simples de disposição gramatical é um traço gramatical ou taxema. Um taxema é feminino, resultará duchess (modificação do k em eh), embora em count ->
para a gramática o que um fonema é para o léxico - isto é, a menor unidade da co11111ess., não se produza uma modificação. Em francês, é o caso, por exemplo,
forma (p. 157).
de mort -> morte/ (foneticamente, passamos de u~ t mu?o para um t sonoro)
em relação a origene -> origina/e em que não ha modificação"~.
O segmento Corra!, por exemplo, resulta da combinação de dois taxemas,
- A seleção das formas. No interior da mesma disposição gramatical,
a exclamação e o infinitivo, que podem ser isolados e descritos separadamente.
as formas podem ser selecionadas diferentemente, o que produz mudanças de
Bloomfield estabelece um paralelo rigoroso entre forma lexical ou fonética sentido. Enquanto João! ou Menino! constituem chamados, Corra! ou Pulei
e forma gramatical ou tática, insistindo sobre a ligação entre forma e sentido: ~ão. or.dens: a disposição gramatical é a mesma, mas a seleção das formas
Uma fonna fonética e seu sentido constituem uma forma 1ingüistica; uma forma ;~.icais (nome próprio ou verbo) é diferente. Da mesma maneira, em inglês,
111
tática e seu sentido constituem uma forma gramatical (p. 157). ·1n'fi1 k• llli/k
•
(beber o leite) e watch John (vigiar John), são expressões
e ni.tivas, enquanto fresh milk (leite fresco) e poor John (pobre John)
t?s ~onstituintes e sua análise. Bloomfield propõe igualmente a n?ç~o de v~n~tlluem fonnas adjetivas: a diferença está na seleção do primeiro constituinte,
~onst!tumte, que está na base do procedimento de análise em const1tumtes 1
da; ª1 ou adjetivo. Bloomfield conclui que drink e watch pertencem a uma
une~tatos (ACJ) tal como será desenvolvida por seus sucessores, sobretudo.a e asses formais do inglês e fresh e poor a uma outra (p. 156).
partlr dos trabalhos de Harris. Um constituinte é um elemento que é comum as
formas complexas: ;--
Nt: Urn co · 1 ji1111 efi11101(em que a nasalização
davog ~responde em português sena, por exemp o,
1
'lllqo:~ ~a Primeira, e o fonema/11/ , na segunda, implicam uma modificação); e lllês e lllesev
Vemos que certas fonnas lingüisticas têm semelhanças fonéticas e se~ântic:~ onema Is/, nus duas palavras, não sofre modificação. ·'
C-Om outras fonnas ; por exemplo John corria, John caia, Bill corria. Bill cm '
1;4 • At Grandtt TNIÍlll da Linj,llÍllÍra ,..,;;;;;;n;;;.1: tio~ llO 6'lJlllYJllll .w
Para Bloomfield, os taxemas de seleção repousam sobre os hábitos próprios Em rnzào da grande complexidade dos dados lin •ilisticos 1 . .
aos locutores de uma língua: ele explica que nos exemplos: John ran, John resíduo de elementos
· ·i
aparentemente
. . .
anômalogs ou de tipos
·. odadanállse deixa que
e estrutura um
Jell,Bill ran, Bill fel/ e Our horses ran mray, os taxemas de seleção são as n· ão1parecem
d s11111
• ·. nres aos
ã
tipos
· ·
pnnc1pais '
assim conio 1 •. •
e ementos ou sequencias •
;~~ ;s que pare1:em n o satisfazerem certas propriedades de sua classe ( 1971 ,
expressões nominais (John. Bill, our l10rses) e as expressões verbais
conjugadas (ran.fel/, ran cnray). E os taxemas de ordem determinam a ordem
3
[expressão nominal + expressão verbal]. As formas lexicais são utilizadas nas Para resolver esse probl~ma, e~e mantém o princípio das regras gerais e
duas posições de ator e de ação em virtude de restrições que associam as propõe. fa~er das exceções combinações particulares de regras gerais da
formas e as funções convencionais. Dito de outra maneira, as formas lexicais gramática ( 1971, p 193), ou extensões de regras gerais:
são associadas a classes formais:
O número de idiomas e outras expressões individuais de uma lingua é tal que
A gramática de uma língua compreende então uma série muito complexa de ~~a ve_z efetua?a a generalização, restam sempre numerosas exceçõe~
hábitos (taxcmas de seleção) que fazem com que uma forma lexical não possa 1d1om.áncas. Por isso, pode-se somente esperar formular as regras gerais de tal
ser utilizada a não ser cm certas funções convencionais; cada forma lexical é man;1~ que as exceções individuais possam ser pensadas como extensões do
sempre atribuída às formas de classes habituais. Para descrever n gramática de domm10 de uma regra, para além dos limites permitidos na regra geral ( 1971 p.
uma lingua, devemos definir as classes fonnais de cada fonna lexical, e dctenninar !~. ,
quais são as cnrncteristicas que fazem com que o locutor as atribua a essas Mas ele considera também inverter a relação entre particular e geral:
classes formais (p. 249).
No caso em que isso é impossível, deveríamos, talvez, mudar nossas definições,
O funcionamento dessas classes formais é apresentado como o objetivo deixando aos elementos um maior grau de liberdade, ou aceitando uma estrutura
da lingüística para Bloomlield, objetivo que seus sucessores, em particular Harris, mais frouxa, na qual a parte mais importante da linguagem (a parte mais regular)
realizaram sob a bandeira do distribucionalismo. constitui um caso particular ( 1971, p. 193).
2 Z . S. HARRIS E O DISTRIBUCIONALIS MO Seja qual for a explicação apresentada, a noção de generalidade é mantida:
ela é de fato central na lingüística barrissiana e constitui um verdadeiro postulado.
O trabalho de Zellig S. Harris ( 1909-1992) se desenvolveu em três grandes
etapas: primeiramente, o desenvolvimento do método distribucional marcado Os métodos da descrição lingüística
pela publicação de Methods in Structura/ linguistics, em 1947; em seguida a A descrição lingüística se faz em dois mome~tos: prirneira~ente, o inventário
passagem para a gramática transformacional com a introdução da noção de das unidades estruturais da língua, e, em seguida, a detenmnação das regras
transformação formulada em 1968 na obra Mathematical Structure of que concernem ao seu relacionamento (isto é, sua distribuição, conceito que
Language; enfim, a evolução por uma outra concepção de transformação Harris fonnaliza e que dará o nome à corrente que ele inicia). Harris sistematiza
exposta em A Grammar of English on Mathematica/ Principies, em 1982. a exclusão, no interior da análise lingüística, das noções de função e significação:
a única relação reconhecida como pertinente é a distribuição, apresentada como
2.1 Os quadros do distribucionalismo ª"pesquisa mais importante da lingüística descritiva" (1971, p.S).
Os objetivos da Lingüística distribucional Segundo Harris, existem dois planos na língua: o dos elementos
Para Harris, o objetivo da lingüística distribucional é mostrar, a partir da fonol~gicos e 0 dos morfológicos. Eles abrangem to~a a extensão de um
observação de um corpus finito de enunciados naturais, que o sistema da enunciado uma vez que todo enunciado pode ser descrito de uma parte pela
Jíngua funciona segundo regularidades demonstráveis: combinação de elementos fonemáticos e de outra como combinação de
elementos morfemáticos.
A tarefa da lingüística, como é o caso para os dados similares cm todas.as
. elementos indepen den tes' CUJ35
. . . li01. determinar quais são os
outras c1enc1as, As unidades da língua:
com mações regulares caracterizam, mais ou menos, todas as enll'd ªdes que
b .
aparecem de maneira independente - aqui as frases ( 1971, p. 179) ~ Os elementos fonemáticos. Para isolar os elementos fonológicos é
Preciso
coro a segmentar a cadeia · sonora: E ssa operação se faz a part ir 'da
S eu ob'~et~vo
· e, · portanto, a generalização de um método . que possa ddars sern~lhração entre numerosos en.u nc 1 ado~, colocando em evidência suas
conta do func.1onamento da linguagem. Seu trabalho inclui ~ proble~:s ; 0 anças. Por exemplo, os dois enunciados Can ~ do it e Carne
100
exceções, fenomenos que poderiam não entrar nas regras gerais deduzi tnuch possuem o mesmo segmento inicial Ca-. O mesmo ocorreras cost
tratamento dos enunciados: com 0
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~- A ~
l ·"nr11111/iJm01: 1/a t!nt1Üil'ÍJlllD ''º J!.tr11Jit'i11110 • 157
156 • A1 Grondt1 Teorias da U ngmilif<I
O contexto imediato do fonema /a/ consiste no conjunto dos fonemas /tr- yd/,
segmento final He s in e That smy pin. Não se trata de semelhança semântica, ou se as entonações fonêmicas são levadas em consideração, /tr- yd : + /./, ou
mas de semelhança formal, podendo permitir uma substituição. Nos dois mais completamente /ay#tr- yd/ ( 194 7. p 1S).
exemplos, ca- e - in são foneticamente substituíveis sem mudança. O princípio
da segmentação é unicamente formal e a significação não é levada em Sobre o plano morremico, o contexto imediato do morfema try é 1-ed.
consideração. O resultado é a produção de classes de segmentos, sendo estes A soma de todos os co-ocorrentes de A , observados nos enunciados
definidos pela totalidade de suas posições na cadeia falada. Esse procedimento coletados no co1p11s, constitui a distribuição de A . Harris dá a seguinte definição
é diferente daquele utilizado pela tradição fonológica européia, na qual os completa do conceito:
fonemas são isolados com base na distinção semântica (que considera, por
exemplo que /p/ e /b/ são fonemas diferentes porque eles distinguem pato e A distribuição de um elemento é a soma de todos os contextos nos quais ele
bato). aparece, isto é, a soma de todas as (diferentes) posições (ou ocorrências) de um
elemento relativas à ocorrência de um outro elemento ( 1947, p. 16).
- Os elementos morfemáticos. Harris propõe uma definição dos
morfemas que, igualmente, não recorre aos sentidos. É preciso ressaltar que a Mas pode-se igualmente definir a distribuição por meio de uma outra
acepção americana do termo mmfema é diferente daquela utilizada na Europa: operação, a substituição: se um elemento A pode substituir B nos mesmos
trata-se, em Harris. de um equivalente aproximativo de signo. A segmentação contextos, dizemos que A e B têm a mesma distribuição. Substituição e
em morfemas é definida da seguinte maneira: distribuição estão, então, estreitamente ligadas.
Uma seqüência de fonemas, por exemplo /ruwm@er/ em That s our roomer,
contém mais de um elemento moriemico se e somente se uma parte da seqüência Distribuição e significação. Pode-se afirmar que Harris exclui o
aparece independentemente de uma outra parte, no mesmo contexto geral: / significado de seu método mas que ele o faz, entretanto, intervir em suas
ruwm/ aparece também em That .5our room, !@ri aparece também em That :1· our análises. Ele explica sua posição sobre a questão ressaltando que distribuição
recorder(l947,p. 158).
e significação estabelecem evidentemente relações, mas que não existe
Podemos, então, concluir que /ruwm/ e /ri são elementos morfêmicos. paralelismo exato entre uma estrutura morfológica e qualquer coisa exterior
Harris as~inala que a .segmentação coloca certos problemas: na série que seria da ordem do sentido. A ordem da fonna e a do sentido são duas
strawbernes, black~ern~s, boysenberries, -berries pode ser isolado como coisas diferentes, mas, nos fatos, elas se encontram freqüentemente:
um morfema, mas e preciso que straw-, bfack- e boysen- apareçam também
em out:os co.ntextos. Esse é o caso dos dois primeiros, mas não 0 de boysen- Isso não quer dizer que as diferenças de significação ou a aparente identidade
' que nao _existe fora de boyse?berries ( 1947, p. 159). Da mesma forma, na das significações não possam ser utilizadas ao longo da pesquisa das
comparaçao de there, then, th1t~er, t~is e that, parece possível segmentar o segmentações do enunciado em segmentos mais amplos que os fonemas. Como
morfema th-,.qu~, segundo Hams, tena um valor interrogativo ( 1947 p. J 92). a segmentação distribucional [... ] e as divisões ligadas à significação [ ... ]
Podemos l ' J k, implicam uma segmentação dos enunciados em partes geralmente mais longas
/ f rac1ocmar
(1947 da mesma maneira para pi-empant.pan l I k, pow,puc
do que um fonema, é possível que as duas segmentações sejam freqüentemente
P ot, P ump • p._ l 93)? A resposta é antes negativa. Mas é preciso destacar
que essas mterrogaçoes nascem do rigor do métod d. t .b . 1· t idênticas. ( 1947, p.189).
Observamos que e _ . o IS n ucrona 1s a.
saussureana. De fato ssa ~oncepçao de .unidade é diferente da concepção Ele explica essa possível identidade pelo fato de que as diferenças
não é dada a priori 'efaara. a~ssure, ~ un1~ade não existe em si mesma, ~la semânticas correspondem em geral às diferenças de contexto:
negativamente em r~la ã~oà~xrste no mte_n.or d? si~ten:a da .língua, d~tinrda
~arecem, ao contrário, Jadas out~as: Na otrca d1stnbu~1o~ahsta, as unid?~es Há, em geral, uma estreita correspondência entre a divisão em morfemas que
lingüística consiste e ª
. pn.º':'• uma vez que a pnmerra etapa da analise
m seu mventáno. podemos estabelecer con1 base nas significações. e aquela que resulta de nossos
critérios distribucionais. E assim porque em geral os mortemas que diferem pelo
. A distribuição. A no ã0 . . . sentido diferirão também pelos seus contextos, se tomarmos contextos
imediato. Seia um 1 ç de d1stnbu1ção repousa sobre a de contexto suficientemente longos e em grande quantidade ( 1947, p. 189, nota 67).
e1ementos à 'sua direit e emento, A·· em· um enunciado,· ele está envolvi·do Por
ª
con~tituem a seleção deª; sua es~uerda, chamados de co-ocorrentes. Esses Dessa opção metodológica resulta que a análise distribucional é bastante
l trzed transcrito "o t' no enunciado em questão. Harris apresenta o exemplo restrita para tratar os casos de ambigilidade: com efeito, uma mesma distribuição
11
ne 1camente co I
mo ay#trayd/ e explica que: Pode ter duas segmentações e dois sentidos, como mostra o célebre exemplo
158 • A 1 GmndtJ TrorirJJ dn U11.ç11fJfirn
1'·~.... :.
Flying f?lanes can be dange~ous45 • Essa dificuldade coloca-se particulannente !'\osso mêtodo cC1mpona, fündamcmalmcmc, uma teoria das r.:l:i~·õcs entre :is
se considerarmos os procedimentos de tradução automática das línguas. frases. Essa :ihClrdagcm d:i ~m:l1ic:icon:;istc cm pc~untar,cm primeiro lug:ir.
não como ns fl"3scs s:'io scgmcm:id:1s [...J. m!ls ú )ltlO as frases são ligadas entre
2.2 Do distribucionalismo ao transformacionalismo si. A relação de h.nse que se enc~'nrra esrnhctcddn nqui fündo1~a cm csqu~mas
de fi-Jscs que exigem ns mcsnlt'1s escolhas de pal:wms para tonnar as lmses
Das unidades às frases accitâveis t 11.)i 1.p. 55-56).
Em um segundo momento de sua pesquisa, nos anos 1960, Harris interessa.
se pelo~ planos da frase e do discurso, naturalmente, animado pela sua concepção ..\s relnções entre ns ~ses são fundadas na trtm.~/brmaçiio: as frases de
uma li~gun podem ~er nnaltsadns e cl~ssiticadns a pnnir de algumas operações
das umdades da língua que repousa na hierarquização:
formais npltcndas as estrutums de tmscs ditas de base (cm ingl~s. kem els,
Em todo material lingüístico, as unidades, ou ao menos seus segmentos iniciais, frases ~uclearcs). Por .exemplo. a frase Esse! w s1ido foi f c!ito por 1111m
podem ser ordenados lineannente. Cada discurso é uma seqüência de fonemas. w 111ri!m1 pode ser nnnhsnda como a tr:msfonnação passiva da frase orfoinal:
De maneira mais precisa, significa dizer que cada morfema é uma seqüência de C:ma coswreira fe~ •'Ss.· l'i?stido. Esse procedimento permite expti'Car a
fonemas, cada palavra uma seqüência de morfemas, cada frase uma seqüência produção de frases complexas a partir da decomp1)siç:10 cm frases simples.
de palavras, e cada discurso uma seqüência de frases ( 1971, p. 10). Por exemplo. n frase .\faria (~\plica q11<' Paulo está doente pode ser
Seu projeto distribucional é renovado pela noção de transfonnação e dá d~omposta em: .\faria !!.\ plica: Pa11/o •'Stâ do.·111e. que produzem a frase
origem ao transformacionalismo. Consoante com o método descritivo que complexa por subordina çi'io. Harri s propõe uma tipologia de doze
ele havia aplicado às unidades da língua e à sua relação distribucional, ele transfommções possi\·eis (transfom1nção passi,·a. subordinação. substituição
pronominal. redução por elipse etc.).
parte da observação de frases para propor em seguida uma formalização
possível. Seu objetivo não é o de poder dar conta da totalidade das frases Esse trabalho não pode ser feito para todas as fu1scs da lingua e não está
produzidas, mas distinguir as combinações de segmentos que formam as frases em questão. para Harris. propor uma descrição exaustiva das fu1ses de ~ma
aceitáveis dos que não as formam. Esse é, para ele. língua, e. menos ainda. propor um modelo abstr.\lo de geração de frases (proJ.eto
que será posteriom1ente desenrnhido por Chomsky): trat~-se de reduzir a
o problema central da gramática, a saber, a caracterização de seqüências de di,·ersidade e a complexidade aparentes das frases às combmações de frases
sons ou de palavras que constituem frases ou discursos, por oposição às que simples. que são em número finito:
não constituem. ( 1971, p. 23)
Pode-se explicar 0 fato de que discurso e frose são s~qüc!ncias de ~lementos
Harris está atento ao fato de que "nem todas as combinações de elementos discretos por meio dc uma considcr:1çào sobre seu numero. O conjunto dos
constituem um discurso" (título de um capítulo de Estruturas Matemáticas da elementos urom::iticais. de car:itcr arbilcirio (quer se u:ntc de sons. elcme1~tos de
\·o~ b 1· .-
Linguagem): 'ª u ano. ou regras de c1a:.- 5 ·1 i-1 caç~•1 o e . compos1çào)
. , deve. ser .fintto ou
.
'""nn .._. 1recurs1Yamente
~enutave • 3 p..uu;rd""
n ..
.. um numero fimto de -c.eradores,
d" se assim
Em uma língua dada nem todas as seqüências possíveis de fonemas que na'o o 1·osse. esse conjunto
• - Poden·a' ser composto de elementos
nao · · 1scretos
d · e
pertencem a essa língua constituem frases ou discursos. O fato de todas as P"""- · ta'-. - t "d · d' · -
..... ~ vc l!C1 os. a 1spos1çao c
onium do locutor
.. .e do ouvmte. Disso enva o
fi · (1971
combinações possíveis não se encontrarem realizadas permite definir todo f.~·o
"' de que ao menos uma das tiormas d:i :::..ramattca e de natureza mtta , p.
elemento complexo (por exemplo, os morfemas) como fruto de restrições impostaS 12~
sobre as combinações de elementos simples (os fonemas) ( 1971 , p. 13).
ParaH · a i:r:ansfom1nçào é uma forr:imenta de ordenamento da língua.
tra arns
A explicação desse fenômeno constitui, em síntese 0 programa mínimo do 0
Gross e d nsfonnac1onalismo será. de uma parte. exportado para a França por
transformacional ismo. ' ~erath . e outra pane retrabalhado e reinterpretado por Choms1'')' e a corrente
~ lSta.
A noção de transformação ões
A noção de transformação responde a uma interrogação sobre as re1aç · na.lise do discurso
A.a
estabelecidas entre as frases e não sobre sua construção: E .... .,5 qu~m invema a expressão ª".ª·1·1se "º d1sc11r~o,
lilnanili:....: " ,J - em
em 1?)2,
o f:rai:ic~ da reY1sta Language, intitulado D1sco11rse A_11a(rs1s (traduzido para
45 "Os aviões que voam podem ser perigosos", ou "voar a bordo do avião ~e ser dadisc em 1969 e publicado na revista Langages, numero 13). Por "análise
perigoso" sendo quejlying é interpretado como forma verbal ou forma adjettva. Urso". Hams entende a análise do "enunciado continuo (escrito ou oral)
......._ -
1'41 • As Gr1111tks Ttor1111 tia I }#g11istira
l 111111,1/11111t11: 1/0 1lno1tnu,,,1J ,,~ 1;1mt111t111'> • ' ' '
•
omo um todo: . nas
...
~----
• 1
,, 164 • As Grondts Trotios dn U11g11ístiro
h•r1110/i11111Jf: do 4/1 i.d/J,./,,1Jf1 ,111 ;:t1.1fh'/1111i1 • "·"
l
sobreAaslagmêmi'.a
tipologiasédas
•tuaJmento discurso.pelos '"balho, de Longacre (/ 98J)
COntinuada
formas de ~le examina, por exemplo, o que Harris denominou " ver·bos 0
Ou seJa d
~
•os verbos de construçoes comp 1exas que regem proposiçõe pera
, ores"
. •
s complettvas
....._
166 • AI Gmnd•I Teo1i1u da U11g,11f.rtir11
Lucjlane la nuit /*Luc lajlane ! *La nuit estflânée par Luc a) pronominalização: Ele leu três desses livros; Max os leu os três;
Luc aime la nuit ! Luc /'aime I La nuit é aimée par Luc41 Três, Max os leu;
b) passivação e pronominalização: Três desses livros foram lidos por
As classes de equivalência permitem explicar o funcionamento das frases Max; Três foram lidos por Max; Três desses livros foram lidos
elementares (com apenas um verbo). Daí a noção de léxico-gramática, definida por e/e; Três foram lidos por ele;
da seguinte maneira:
c) posposição do sujeito e passivaçào: Foram lidos três desses livros
Denominamos léxico-gramática o conjunto de classes de equivalência das frases por Max; Foram lidos três por Max; Foram lidos três desses livros
elementares, conjunto que serve de gerador para as frases complexas ( 1975, p. por ele; Foram lidos três por ele.
45).
As transformações binárias são as que permitem ligar duas frases
Para a língua francesa, em 1990, a léxico-gramática dos ver?~s si?1:ples
elementares entre si, por exemplo: Max leu três desses livros e Luc
recomendou doze livros a Max. Trata-se de coordenações (Luc recomend
comportava 12.000 unidades e a dos ver?os compostos (expressões 1d1omattcas, ªMax doze livros e ele leu três), de subordinações circunstanciai·s ( 1L1 1°u
metafóricas, locuções etc.) compreendia 20.000. três 1· · nax eu
. 1vros porque Luc lhe hawa recomendado), das relativações (o A
1
A questão do sentido :vros q~e Max leu foram recomendados por Luc) e das subord· s tres
ompletivas (Luc recomendou a Max que ele lesse três Jes . mações
Como em Harris, a questão do sentido, que não intervém nos procedi~~n~os u, ses 1ivros).
de análise, é, entretanto, central: o objetivo do trabalho é associar aos cntenos 5 N. CHOMSKY E O MODELO GERATIVO
sintáticos critérios semânticos, a fim de articular os sentidos e o comportamento ser A ii:nportância dos trabalhos de Noam Chomsk .
sintático. Mas, em 1990 essa articulação ainda estava apenas no programa: r
l 47
N.T. Em port.uguês: a) Luc passeia à noite! •Luc a passeia/ *A noite é passeada por Luc;
b) Luc ama a no1te I Luc a ama/ A noite é amada por Luc
ro· Dledtda pela sua repercussão mundial na lingü' (nascido em 1928) pode
co~tnplamente ~ifundida nos anos 1960 e 1970 ~s ica. A teo~ia chomski
lin-~ º.ºs do ensmo. O nome de Chomsky toro ' nto nos meios de pe ~na
6UJStJca. ou-se quase um . ~ . squ1sa
sinonimo do de
~ ~
......
u~• , 11 <,1, 111dn 'l 11111,11 1/11 I JHINflt1111 ~:51"ff'!i: J1 l.r1ontrn1"ro .; .c.<,.J."/nt,,,..,, • 1•9
5.1 O projeto chomskiano para chegar a um estado final. tendo como resultado a produçilo de uma frase:
Chomsky é um aluno de Harris, marcado por seu trabalho sobre a tradução isso é a gramática de estados finitos. que Chomsky considera como
automática no MIT (Massachusetts lnstitute of Technology, em Cambridge ..extremamente potente e gernl ..( 1957. p. 23). mas que e incapaz ele explicar
nos Estados Unidos). Mas ele contesta o princípio harrissiano do corpus finit~ certas frases.
de enunciados naturais (tradição do descritivismo, enraizado na lingüística Gramática dos co11stit11i11tes (GC). Chomsky volta-se. enlào. para a
americana desde a metade do século XIX): se ele recebe e aceita a herança análise em constituintes. que é uma descrição em termos de estru1ura
da formalização e do transformacionalismo. ele recusa a do empirismo sinta!!mática. O modelo propõe um conjunto de "fónnulas de instrução·· (isto é,
descritivista. É preciso assinalar suas ligações científicas com N. Goodman de regras de reescrita) que permitem engendrar frases por meio de un~
(um dos grandes teóricos do construtivismo), pouco conhecidas, mas que procedimento de "derivação... Por exemplo, a frase O homem jogou a bola e
explicam certos aspectos iniciais de sua teoria. en2endrada por uma seqüência de 9 derivações produzidas pelas fom1as de
Chomsky propõe uma teoria transformacional e gerativa, em que uma das in~ção, marcadas por o+ ( 1957, p. 30)4s:
características é a evolução dos modelos: ele expõe o que chamamos sua
"teoria padrão" nos anos 1950 e 1960, depois a "teoria padrão ampliada.. nos Frase (I)
anos 1970, e propõe um último modelo nos anos 1980, com desenvolvimentos SN + SV {li)
nos anos 90: a "teoria dos princípios e parâmetros... Exporemos aqui as grandes Art+ SN + SV (III)
linhas da teoria padrão, que dominou por longo tempo a lingüística nos Estados Art + N +V + SN {IV)
Unidos e parcialmente na Europa. O + N+V + SN (V)
O + homem + V + SN (VI)
5.2 A teoria padrão O + homem +jogou + SN (VII)
Trata-se de uma teoria das estruturas lingüist:icas expostas no livro Simacric O +homem +jogou + Art. + N. (VIII)
Str11cr11res ( 1957). Ele é centrada na sintaxe. que é para Chomsky o centro da O + homem +jogou +a + N. (IX)
análise de uma língua: para ele. a sintaxe é autônoma. e ela deve permitir O +homem +jogou + a + bola. (X)
"construir uma teoria geral formalizada da estrutura lingüística e explorar os
fundamentos de uma tal teoria..( 1957. p. 7). Em busca de uma linguagem formal. Chomsky constata que esse modelo é mais eficiente que o primeiro, mas
Chomsky examina a eficiência de abordagem teórica de vários modelos se funda no princípio de que "a prova mais decisiva da inadequação de uma
sintáticos antes de propor o seu. teoria lingüística consiste em mostrar que ela não pode absolutamente aplicar-
se a uma língua natural" (1957, p. 39), ele prova que ela é inadequada para
Os modelos sintáticos explicar a formação das frases.
Chomsky dá uma definição muito clara da sintaxe e de sua função:
Gramática tra11sfor111acio11al (GT). O modelo da GT vai prolongar e
~ sin1axe é o esl~do dos princípios e dos processos segundo os quai~ as melhorar o dos constituintes. Chomsky introduz novas regras, chamadas
t:Jses são constnuda~ ~as línguas paniculares. o estudÕ sintático M uma "transformações gramaticais":
hng~a tem como O~J~m·o a construção de uma gramática que p<Xlc ::er
,x1ns1Jc~da uma es!>('c1e de mecanismo que produz as frases da língua tomada Uma transformação gramatical T opera sobre uma seqüência dada [...] que
pamunãhse( l957.p. 13). possui urna eslrutura sintática dada, e a converte em uma nova sequência
dando-lhe uma nova estrutura sintagrná1ica derivada ( 1957, p. 50).
EI~ insiste no que denomina ..a independência d8 · ·, .. •m ~laçilll
ao sentido (encontramo · . . . g~mat 1\:a ~ .
. . d ,... . k s. aqui. um dado.do. d1stnbuc1onahsrno hamss1ano)..
ob~l·uvo l' '- 11oms y será elaborar u . . as
º . A transformação passiva, por exemplo, operando sobre John adm · .
~nc~rity (formalizável em: SN I - Aux - V - SN2), engendra Sinceri/'~s
fruses gramu1kais d, . m modelo capaz de explicar todas.
--
1 drnired by John (SN2 - Aux + be + en - V- by - SN1)49.
célebre exemplo da\: 1~~~ª. ln~~ª·. ~o plano de sua estrutura sintática. Ele da o
y s
pcrfoitamen1e 0"mm011· . 11.: .·h idt'ms .''i''!ll!s sc>m cor dormem furiosomenre.
1.:u mas 11-semttnt1l·o. 48SN· ·
J · sin1agma .
nominal; .
SV: sintogrnn verbal;Ar1: urtigo· N: 11011 • y
Gra111áti<·a do ~'Stadofi 110 d ohnadmiraasinceridade-Asinccridadeéudmiradap~r J h \C, ·verbo.
49
. C'h 0
teórico da comunica~ão 0
:;: · omsk~· e~amina. no quadro de um mod~lo 0 Paniclpio passado para os verbos como to eat (eaten). n. Oelemento en é a desinência
• so de uma maquina que pane de um estado inicial
Llllli.......L
,..
l'IU • tt ( '"'"''" l tml;o 1/d I "W''''"'' h1n1t''" "'"" ''" ,1,.1111/11'1t1/m 1HI Jf!f'll/ll'IJINO • 111
e'hoirniky clí 11tlngm: aH tru11111\irm11çé'les focullativas e obrigatórias. Se e é necessário compreender que a distin~·ilo chomskinna (competência/
fllUISÍvlu;no é fii cullulivu. o uuxiliu~ (para ohter .frase~, em ingl.és, no presen~ desempenho) não é somente teórica: é tnmbém epistemológica e institucional.
f!
111 •1'/i·rt, por cxe1t1plo) é 1111111 truns f~1rmac,:.í'lo ohngalóna; conjunlo de frases Estr11turas projimtla.o;/.rnperfldai.o;. A grnmát icn trnns formaciona 1
rirmluiidnKpcln 1rarncfi1rnwc,:í'lo ohngut~mu. é chumado ' nucleo da língua". As
f'rnses de 1111111 li ll KllU scrno c1.1tí'lo de dois ~1pos: as frases nucleares e as frases postula a existência de transformações n partir de fra ses nucleares e, a partir
dcriv11d11s de scq!lêm:ius s11hjucenlcs às frases nucleares. disso. propõe que duas thtses aparentemente diferentes (estrutura superficial )
baseiam-se em uma mesma estrutura profundo, comum ils duas frases antes
Em i>ltimn 11116lisc, Chomsky propôs uma urquitelura geral da gramática da transformação. O inverso é igualmente verdadeiro: duas fra ses
or81111iz111lu c111 três 11lvci11 sucessivos: ' aparentemente análogas podem proceder de duas estruturas profundas
diferentes. !Por exemplo, as duas frases Pierre promete a Maria vir e Pierre
n) cstruturn si11tugm{1ticu: é o nível da construção de seqüências de
permite a Maria vir são aparentemente análogas (mesma estrutura de
11111rlcmns urgunizudus segundo lonnulas de instrução;
superfície), mas diferentes na profundidade (uma sugere a vinda de Pierre, a
h) ci;truturn trunsfonnncionnl: us sequências de morfemas são submetidas outra a de Maria) 50•
1\s trunsform1u;ões llUe produzem sequências de palavras;
O modelo e seus componentes. O modelo exposto em Aspectos da
e) morf'ofonologiu: as sequências de palavras são convertidas em Teoria Sintática comporta três componentes:
seqllêneins de fone11111s.
Chomsky conclui pelo superioridade, em termos de eficiência explicativa - O componente sintático é constituído pelas regras de reescrita que
do modelo trunsfonnncionnl. ' produzem esquemas sintáticos e pelas transformações que perm item o
engendramento das estruturas superficiais a partir das estruturas profundas;
O modelo padrão - O componente semântico, relacionado à interpretação, sem relação
Em 1965 (com o livro Aspectos da Teoria Sintática), Chomsky propõe com o precedente, e ainda estático, é constituído pelo conjunto dos dados
umn teoriu geral (exposição mais elaborada da teoria padrão), que introduz necessários à compreensão; ele é articulado ao componente sintático no nível
dois conceitos que se tomam centrais em lingUlstica: as distinções competência das estruturas profundas.
/ desempe11/w e estruturas pro.fundas /superficiais, que dão uma dimensão
mentulista a seu modelo, uma vez que implicam a presença de esquemas internos - O componente fonológico, relacionado à interpretação, permite a
no sujeito, anteriores à produção das frases . Chomsky se afasta mais da herança co~rtura das estruturas de superflcie; é o que está mais ligado às línguas
distribucionalista, que privilegia o empirismo e o mecanicismo. particulares, e as variações são, por conseguinte, mais importantes.
Competêndaldesempenho. O par competência/desempenho tem As evoluções posteriores da teoria chomskiana vão no sentido de uma
analogias com o distinção saussureana língua/fala: como Saussure, Chomsky abstração crescente: na teoria padrão estendida, ele dota as estruturas
nfnstn os trabnlhos sobre os enunciados produzidos (domínio da fala) para ir superficiais de maior pertinência n,o modelo. Sua interpretação funda-se na
em direção à gramática (estrutura sintática), enquanto Saussure constrói uma noção de "fonna lógica da frase". E o coração do que se denomina a "teoria
lingUlsticu da llngua (sistema da lingua). dos traços".
Chomsky situa o trabalho do linguista ao lado da competência dos locutores, O campo aberto pela teorização de Chomsky é importante, tanto no
isto é, dos conhecimentos intuitivos que um sujeito falante tem de sua língua e Plano.do ~úmero de trabalhos que o evocam, quanto no de sua longevidade. Se
de suas estruturas: ªteoria sintática perdeu o lugar central que ocupou até os anos 1980 devido à
~lller~ência das lingOisticas da fa la (discurso, texto, interação), resta'ainda u
Umu grnmáticn nllo é um modelo do locutor ou do ouvinte [...] ela tenta anteiro aberto às pesquisas. m
---
cnrnctcrizar. dn maneira mais neutra, o conhecimento da língua que fornece sua
bnse ncolocnçllo cm ato efetivo da linguagem pelo locutor-ouvinte ( 1965, p. 19)
A linglllstica gerativa não é, portanto, uma teoria das performances, isto
so E .
é, ~as. produções efetivas dos locutores (seu desempenho). Outras lingüisticas lternpto citado por Fuchs & Le Gome, 1992, p. 76.
(d1stnbucionais, enunciativus. discursivas) colocam-se do lado do desempenho.
L.
112 • _..l.J Gr.:r.IÍll I t0nt11 J.; ' ""ftMUlt1;t
Capítulo 9
BIBLIOGRAFIA
--
conta do funcionamento de unidades superiores il frase.
~.
176 • A1 ( ,'nmdtJ -""fui,~- t/11 T~11ÍJlir11
nada é dito sobre as competências extralingüísticas (enciclopédicas, A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de
psíquicas ou culturais); formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato
psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interaçcio
esse esquema não integra o modelo de produção (codificação) e de verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações ( 1986, p. 123)
interpretação (decodificação).
Para atenuar essas falhas, Kerbrat-Orecchioni ( 1980, p. 19) propõe a Essa concepção do sujeito heterogêneo é particularmente explorada nos
seguinte reformulação: anos 1980 por J. Authier que elabora o par heterogeneidade constitutiva vs
heterogeneidade mostrada ( 1982). O sujeito é constitutivamente heterogêneo
Competências j REFERENTE Competências na medida em que é atravessado por sua própria divisão, pelo social, pelo
lingiiísticas lingüísticas discurso de outrem, pelas numerosas formas de exterioridade. Mas esse sujeito
e paralingüfsticas e paralingüísácasl pode também mostrar sua heterogeneidade no seu discurso: ele submete-se a
uma encenação particular das diferentes vozes que o atravessam e ao falar
exibe a polifonia. Os trabalhos de Ducrot sobre a polifonia são fundados sobre
EMISSOR a contestação da unicidade do sujeito falante.
RECEPTOR
Codificação- MEN~EM- decodificaçãoj Essa concepção interacional da comunicação polemiza com uma
representação da comunicação que repousaria sobre as palavras de um locutor
Competências Competências destinadas a um interlocutor: os dois protagonistas constroem juntos a
ideológica e íli' ideológica e comunicação e é por essa razão que a enunciação toma-se, para Culioli, uma
culrural , cuJturaJ
1
co-enunciação. Há essa mesma idéia na filosofia da linguagem, ao referir-se à
comunidade de enunciação. Trata-se, também aqui, de uma concepção interativa
"psi" . 11 de enunciação:
''psi"
O conceito de interlocução é primitivo, ao passo que os conceitos de locutor e
Coerções do universo de alocutário são derivados (JACQUES, 1983, p. 57-58)
de discurso Coerções do universo
de discurso 1
Bcnveo~'
A abordagem enunciativa da linguagem implica também uma teoria do
É.
· Benveniste · te ( 1902- 197 6) que se encontra a definição
f' · original e
ObJet~ ~rrabalho
'"i.•ito, i• quo •ão'"" mo"" do in"<ição no enunciado que con,.iruem o
E em , . "A cnuocinção é este colocnr em unc1onamento a
mdt~~
.do do lingüista. Enquanto as abordagens estruturahsta e
canônico de enunmça?duol de utilizução." ( 1989, p.82). Ele a compreende no
q"'~ro opo~iç
gcrativ1sta ignoram a questão do sujeito, o ponto de vista enunciativo o coloca
llngu, por um
sernantico. oto
Benvemste c fimdomcn tal entre o domínio semiótico e o dominio
.de •m• hama ".emiótica" o que é do domínio da lingua:
~
171 • _...IJ C:n1111lr.J Traniu tli1 I ;,,,_111JIJM A1 li111ill1tira1 1111111tialil'tl.J • 119
Enunciemos cntilo este princípio: tudo o que é do domínio do semiótico tem por Essa abordagem repousa sobre a distinção que faz Ducrot entre frase e
critério necesst\rio e suficiente que se possa identificá-lo no interior e no uso da enunciado: a frase é o encaixamento siotagmático virtual, enquanto o enunciado
llngua. Cada signo entra numa rede de relações c de oposições com os outros é 0 segmento efetivamente produzido pelo locutor. Como Benveniste, Ducrot
signos que o deli nem, que o delimitam no interior da língua. Quem diz 'semiótico' restringe o trabalho sobre a enunciação às palavras da língua: Conforme sua
diz 'intralingülstico' ( 1989, p. 227) afinnação, seu ponto de vista é "estritamente lingüístico".
E chama "semântica" o que é do domínio da fala:
D. Maingueneau
A noção de semântica nos introduz no domínio da língua em emprego e em As definições ou perspectivas mais recentes consideram os trabalhos
ação; vemos desta vez na língua sua função mediadora entre o homem e o realizados nos últimos 30 anos. É assim que Dominique Maingueneau (nascido
homem, entre o homem e o mundo, entre o espírito e as coisas, transmitindo a em 1950) pode assinalar que a enunciação é "o pivô da relação entre a língua
informação, comunicando a experiência, impondo a adesão, suscitando a e o mundo" ( 1998, p.53) e propor uma explicação que repousa sobre os
resposta, implorando, constrangendo; em resumo, organizando toda a vida pressupostos que devem ser descartados:
dos homens. ( 1989, p. 229)
-A enunciação não deve ser concebida como apropriação, por um indivíduo,
A enunciação é claramente colocada no campo da semântica e no quadro do sistema da língua: o sujeito só acede ã enunciação através das limitações
da frase. Com efeito, para Benveniste, a frase é a unidade do discurso, pois a múltiplas dos gêneros de discurso.
liberdade do locutor aí se exerce, salvo no que concerne à sintaxe:
- A enunciação não repousa sobre um único enunciador: a interação é
A frase, criação indefinida, variedade sem limite, é a própria vida da linguagem preponderante(... ]
em ação. Concluímos que se deixa com a frase o domínio da língua como sistema
de signos e se entra num outro universo, o da língua como instrumento .de - O individuo que fala não é necessariamente a instância que se encarrega
comunicação, cuja expressão é o discurso (1995, p. 139) da enunciação (ibid).
Mas ele trata da frase realizada por um locutor, e não da frase-modelo dos 2. O APARELHO FORMAL DA ENUNCIAÇÃO: É.
gramáticos ou dos gerativistas: BENVENISTE
A frase é então cada vez um acontecimento diferente· ela não existe senão no Existem, no interior de enunciados produzidos por locutores individuais,
instante em que é proferida e se apaga neste instante; éum acontecimento que marcas da "colocação em funcionamento da língua": é o que Benveniste chama
desaparece. (1989, p.231) de "aparelho formal da enunciação", que comporta, nas produções verbais, a
A definição de enunciação para Benveniste é delimitada à frase e são os subjetividade dos locutores.
lingüistas do texto e do_discurso que ampliam o conceito para além da frase.
2.1. A situação de enunciação
Observa-se em Benvemste uma abordagem gramatical da enunciação.
A situação de enunciação é consti~ída pelo conjunto dos parâmetros que
O.DUCROT pennitem a comunicação: o locutor, o mterlocutor, o lugar e o m~mento da
Uma outra definição fundadora, na França, da noção de enunciação. é interlocução. Esses parâmetros inscrevem-se em certas formas da lmgua, por
dada_ nos anos 1970 por Oswald Ducrot (nascido em 1930)- a enunciação é meio da dêixis. Dêixis é uma palavra grega que significa "ostenção, fato de
mostrar" e que é empregada para designar a identificação linguageira dos
cobonsdrderada cor~o o acontecimento correspondente à produção de enunciado,
a r agem estreitamente Parâmetros da situação de enunciação. São c~~adas dêiticas, as formas que
· ana· 1oga aquela
• ·
de Benveniste. Oferecemos. a seguir, recobrem geralmente ao mesmo tempo os 10d1cadores pessoais e espaço-
uma re tiormu 1ação recente:
ternporais, embora Benveniste empregue o termo somente para os indicadores
[a enunciação] é a t . . .
enunciado fi01· d0 ~on ~cimento histórico constituido pelo fato de que um ~~~ço-}emporais. Jakobson utilizará, por sua vez, o termo embrayeur, tradução
buscand pro. uzido, isto é, que uma frase foi realizada. Pode-se estudá-lo ingles shifter, emprestado de Jespersen ( 1922). Jakobson assim 0 define:
[ ] M o as condições socrn1s · · e psicológicas
· que determinam essa procl uçao.
-
e·~·unci=~ã~º~f~se também estudar [... ] as alusões que um enunci~do faz à Todo código Jingilístico contém uma classe especial de unidades g . .
que P<>dem ser chamadas de embreadores (embrayers)· a si n·fi ramatrca1s
tal estudo ' d ~ões que fazem parte do sentido mesmo desse enunciado. Um um embreador não pode ser definida fora de uma referê~ci àg tcação geral de
1
medida e~e e1xa conduzir de um ponto de vista estritamente lingüístico, ~a p.178) ª mensagem ( 1963,
interpr t ã iue todas a~ línguas comportam palavras e estruturas cuJa
e aç 0 az necessariamente intervir o fato da enunciação. (1995, p.60J)
~ ~
- / (J IÍl~(l1illiMI r mnlfi11lirrt1 • UH
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A.r lingiiistiea.r tltNntiatiuaJ o 113
/\
t-.fasculino / feminino Doloroso falante atribui vários pontos de vista que dependem de seus d1spos1t1vos
Alegre/ triste psicológicos. Deve-se, pois, reconhecer, como assinala Larcher ( 1998), que o
verdadeiro antecedente de Ducrot na teoria da polifonia é Sally, no .que
Patético
concerne ao conteúdo da noção, mesmo se o termo (polifonia) tenha vmdo
NAO AXIOLÓGICOS AXIOLÓGICOS
inicialmente de Bakhtin.
Grande/ pequeno Bom/ mau
Quente/ frío Bem/mal 3.2 Dois lugares d e inscrição da polifonia
Alto/ baixo Bonito/ feio Polifonia e negação
Ducrot, no estudo da negação, dá sua melhor ilustração da polifonia
enunciativa. Em um capítulo de sua obra O Dizer e o Dito, intitulado "Esboço
3.TEORIA DA ENUNCIAÇÃO E POLIFONIA: 0.DUCROT de uma Teoria Polifünica da Enunciação" (1984) ele explica que todo enunciado
3.1 A polifonia enunciativa. negativo de um locutor 1 supõe um enunciado ou um pensamento inverso de
A polifonia enunciativa é uma noção que diz respeito ao sujeilo da um locutor 2. Produzir um enunciado negativo, é, então, apresentar ou imaginar
enunciação e às vozes que ele deixa aparecer no enunciado. Ela é sustentada um ponto de vista oposto ao seu e se situar em relação a esse ponto de vista.
pelos nomes de Bakhtin e Ducrot. Bakhtin utiliza o termo polifonia em 1929 na ~i~er por exemplo "Pedro não está lá", é opor-se ao P?,ºt? de vista inve.rs~ que
obra sobre a criação em Dosto'ievski, que na primeira parte intitula-se "0 dina "Pedro está lá". E se o interlocutor responde Sim, Pedro esta la'', o
romance polifônico de Dostoi'evski". A noção intervém no quadro do estudo do emprego do termo afirmativo sim se explica justamente pe]a repetição da
discurso indireto livre, assinalando que o narrador pode fazer intervir a voz do asserção afirmativa "Pedro está lá", contra a qual se construiria "Pedro não
personagem em uma mesma situação de enunciação. ~stá lá". "Pedro não está lá" é um enunciado negativo polifônico, no qual se
Ducrot integra o conceito de polifonia em sua teoria no estudo Les mors identifica a afirmação "Pedro está lá".
du discours (As palavras do discurso), em 1980:
Se consídernmos que 'exprimir-se' é ser responsável por um ato de tàla. então Polifonia e ironia
minha tese permite, quando se interpreta um enuncíado. de aí entc:nd~r se A tradição retórica define a ironia como uma forma de antífrase. Em
exprimir uma pluralidade de vozes, diferentes daquelas do locutor. ou 111nda,
como dizem certos gramáticos a respeito das palavras que o locutor não toma numerosos clichês que se apóiam na ironia, como "Muito esperto!" ou "Bonito!",
por sua própria conta, mus coloca, explicitamente ou não. entre aspas. uma P~de-se, com efeito fazer essa análise: o locutor enuncia A enquanto pensa
"polifonia" ( 1980, p. 44). ~ao-A. A lingüística', a partir dos trabalhos de Sperber e Wilson (1978) e de
Bakhtin e Ducrot nilo falam da mesma coisa quando empregam a palavra D~rrendonner ( 1981 ), redefine a ironia no interior da problemática da polifonia.
P?lif0 nla, mas eles perseguem, entretanto, um objetivo comum: colocar em Po~t~~ ex~Iica que, na ironia, o locutor l aprese~ta su~ enunciação como 0
discussão a unicídade do sujeito falante. Lembramos que, para Ducrot, ª e vista de um enunciador E do qual ele se d1stanc1a. Isso quer dizer que
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11!6 • .111 Gmntlel Ttoria1 tln 1i~culirira
-A /exis. Culioli chama lexis um conj unto pré-lingüístico ele dados de sentido
O problema-chave continua a ser o da comunicação, isto é, de uma significação (figuráveis por uma série d.e pal~vras entre colchetes), que são atualizadas e
complexa entre enunciados (textos), uma situação de en~nciação , um sentido moduladas durante a enunciação.
(relação entre os 'objetos' lingiiísticos que remetem aos Objetos extralingüísticos
com suas propriedades tisico-culturais), os valores referenciais (modalidades Uma lexis é, ao mesmo tempo, o que se chama, freqüentemente, um conteúdo
tempo, aspecto, quantificação etc.). ( l 999a, p. 47) ' proposiciona! [.. )e uma.forma geradora de outras formas derivadas (família de
relações pred1cat1vas, de onde a constituição eventual de uma família parafrástica
Culiol i insiste, sobretudo, sobre a característica fundamental da situação de enunciados) ( 1999a, p. 1O1 ).
de interlocução, que é uma não-simetria entre produção e reconhecimento, 0
que o conduz a preferir o termo co-enuncíação ao de enunciação. Por exemplo, a lexis [Pedro, vir] pode engendrar o enunciado a: "Pedro
vem... assinalando a vinda de Pedro como simples acontecimento; o enunciado
A co-enunciação b: "Eu desejo que Pedro venha", formulando um desejo, ou o enunciado e: "Eu
Os dois parâmetros da produção e do reconhecimento são sempre não quero que Pedro venha", exprimindo a rejeição. Esses enunciados formam
mencionados por Culioli, visto que se trata da situação de enunciação. Como o uma família parafrástica derivada da lexis de partida.
emissor e o receptor têm cada um dois papéis, já que o emissor é também seu
próprio receptor e que o receptor é um emissor potencial, há uma dessimetria - Noção e domínio nocional. A noção é um conceito que se refere ao
fundamental no ato de interlocução. Cada um constrói ao mesmo tempo a nível 1, aquele das representações mentais não acessíveis diretamente. Como
produção e a recepção do outro, trata-se, por isso, de "co-enunciadores" para a lexis, a noção é inscrita entre colchetes:
Culioli:
Decidimos chamar noção esse feixe de propriedades físico-culturais que nós
Não é possível satisfazer-se com um modelo simplificado de linguagem l~i~do apreendemos através de nossa atividade enunciativa de produção e de
a uma caixa-preta entre um emissor e um receptor, que, como seu nome 10d1ca, compreensão de enunciados. ( l 999b, p.9).
alternativamente emitem e recebem ( 1999 a, p.11 ).
A noção situa-se na articulação do (meta)-lingüístico e do não lingüístico
O diálogo é, com efeito, a dimensão fundamental da comunicação e Culioli em um nível de representação híbrida:
rejeita, ao mesmo tempo, o modelo linear de transmissão de informação e a
idéia de um "universo pré-recortado, sem modulação, nem qualquer adaptação" - de um lado, trata-se de uma forma de representação não lingüística , ligada
(ibid.) que permitiriam aos co-enunciadores uma comunicação transparente: ao estado de conhecimento e à atividade de elaboração de experiências de
cada pessoa. [... ]
Ora, o fato de que possa haver uma atividade de comunicação, supõe, ao - de outro, trata-se da primeira etapa de uma representação meta lingüística
contrário, a existência de um ajuste, a existência de um circulo vertiginoso, a . [...] Pode-se designá-la pela expressão ter a propriedade de ( 1999b, p. 8-9).
saber, a produção por um sujeito de um agenciamento textual, de modo que este
último seja reconhecido por um outro sujeito como tendo sido produzido a fim Por exemplo, a noção de /animado/ descreve-se pela lista de propriedades:
de ser percebido como interpretável e, enfim, interpretado de uma maneira ou humano, animado, adulto, criança, animal doméstico, inanimado, forças da
de outra (ibid.) natureza etc. A noção de /determinado/ corresponde às propriedades: individual,
lllaciço, indivisível etc.
Já que são necessários conceitos "para fundamentar essa estabi lida<l,e A partir dos construtos teóricos, Cul ioli descreve o funcionamento
deformável e esta plasticidade sempre estabilizada pelo jogo enunciativo, a~v:.s enunciativo da linguagem através do que ele denomina de operações.
~os aju,~tes e fracass~s'_' (i~~d.), Cul.i~li define os "objetos metaling~ís~tc?s •
1.e., os construtos teoncos necessarios para construir um sistema dmamico, As operações enunciativas
e nã? estático c?m? ?1uita~ teorizações linguísticas. Projeto que ele mesmo P -.A operação de localização. Trata-se de uma das operações chaves que
qualifica como dtflctl,Já que implica poder tratar todos os enunciados encontrados ermitem dar conta da elaboração de enunciados no quadro da co-enunciação:
quaisquer que eles sejam, de acordo com 0 postulado inicial da teoria.
Os objetos metalingüísticos .
?quele
é
conceito de localização está ligado ao .conceito de localização relativa e
.de detenninação. Dizer que X em relação a Y significa que x
é localtz~do
il Dentre as ferramentas apresentadas por Culioli escolhemos expor a /ex1s locahzado (no sentido abstrato do termo), situado em relação a Y, que este por
1~ e a noção. ' sua vez serve de Iocalizador (ponto de referência) seja ele mesmo localizado em
1
1)() • Ir l.ouulr> liwtilr 1t1 I "~f.HÍJfim
Por exemplo, no enunciado "O livro está sobre a mesa", x "o livro" é
locnl izado cm relação ao localizador y, "a mesa". Diz-se que x é o localizado
e Y o localizndor. Em nosso enunciado, mesa é o localizador de livro.
As lingüísticas discursivas
- As op erações constitutivas de um enunciado. Nós daremos
apenas dois exemplos de operações constitutivas de um en~nciado, Agrupamos sob a etiqueta lingiiísticas discursivas a lingüística textual, a
apresentadas por Culioli, dentre as cinco que ele explora em sua teona. análise do discurso e a semântica de textos, que se fundamentam sobre a
dimensão transfrástica dos enunciados.
- A relação ordenada ou relação primitiva: é a relação que une x e y, sendo 1A LINGÜÍSTICA TEXTUAL
dois domlnios nocionais. Por exemplo, a relação parte/todo ("O gato tem duas
orelhas") ou interior/ exterior ("O gato está na casa") são relações primitivas. 1.1. Situação e descrição da disciplina
Fala-se, então, de relação de dois argumentos. A operação de relação primitiva História e geogr afi a da lingüística textual (LT)
repousa sobre a idéia de que existe, em um nível profundo, pré-lexical, uma
gramática de relações primitivas na qual a distinção entre sintaxe e semântica Geografia. A abordagem das unidades transfrásticas, i.e., unidades
não tem nenhum sentido. superiores à frase, é um fenômeno de origem americana, pois a lingüística
européia esteve principalmente constituída sob o postulado saussuriano do
- A relação predicativa ou relação orientada: é a relação na qual intervém primado da língua que teve como efeito, até os anos 1970, desconsiderar os
mais de dois argumentos. Em um enunciado com os argumentos x, y e z, a textos e os discursos, i.e. as unidades superiores à frase. No início dos anos
relação predicativa instaura um lugar entre x e z e entre y e z. Trata-se, por 1950, o lingüista americano Zellig Harris apontou os problemas do nível
exemplo, do caso das estruturas factitivas: ' Pedro faz entrar o gato na casa". transfrástico e da relação entre cultura e língua, pontos retomados e refinados,
posterionnente, por Pike. Pode-se citar igualmente, como continuadores dessa
Esse quadro teórico permite a Culioli proceder a numerosas análises abordagem, Longacre e a tipologia dos discursos que ele fonnula em 1968, e
lingüísticas, sustentadas sobre estruturas lingüísticas como a determinação, a também o trabalho determinante de Halliday & Hasan, publicado em 1976,
negação ou o aspecto, sobre palavras como bem ou pois ou sobre enunciados Cohesion in English (Coesão no inglês).
como "um moço tão gentil!" ou "Você acha que pode?!:' Os alemães dominam igualmente uma tradição de lingüística textual
(Textlinguistik) com uma orientação gramatical (Textgrammatik) representada
por Petõf, Lang, Thümmel e Weinrich ( 1973 e 1989)s.i, trabalhos que começam
BIBLIOGRAFIA a ser difundidos na França no início dos anos 1970.
Na França, são os domínios da semiótica e da análise do discurso que
BENYEN ISTE. É. Problemes de linguistique génér a le, 2 vol. P~ris:
trabalham o domínio da fala, mas as verdadeiras tentativas de reflexão sobre o
texto são bastante raras, e provêm freqüentemente da filosofia 55• Da Suíça
Gallimard, 1966 e 1974 [Problemas de Lingüística Geral 1 e II. Campinas. vem a elaboração teórica mais completa em lingüística sobre a noção de texto
Pontes]
com Jean-Michel Adam (nascido e_m 1947)~ cujos trabalhos, ao mesmo temp~
CERVONI,
Ática]. J. L'énonciation. Paris: PUF, 1992 [A enunciação. São Paulo: ~umerosos e em constante evoluçao, constituem atualmente a referência em
--
rngua francesa, em matéria de lingüística textual. '
KERBRACHT-ORECCH IONI, C. L'énonciatlon. De la subjectivité dans
le langage. Paris: Armand Colin, 1980. .
MAINGUENEAU,
9 D. Les termes clés de l'analyse du discours. Semi, Pari~: 541Onº26 da revista langages, cm 1972, propõe um panorama da gnuiiári'c d
A emanha. a e texto na
19 6 [Os termos-chave da análise do discurso . Belo Horizonte: Editora da
UFMG]. 55 Pode . .
·se c11ar Combettcs 1983, Lundqmst 1980 e 1983· Ricocu l 98G 1
• r • acques 1987.
~
'91 :-::ii" r:;;;;;;,tJ 1(1111111 di1 I il!f!.11/Í lira ."'Is /i1~~1ililitt1J 1/i1r11rti/'{IJ e l9J
Hist<Jria. A lingüística textual, enquanto disciplina das ciências da linguagem, Nessa ?b~a, os autores não ~e limitam unicamente a uma descrição de fotos
constituiu-se a partir de várias heranças: J,
trans~rast1.c~s [... eles enfatizam o fato de que a competência dos sujeitos lhes
penrnte d1sungu1r uma coleção de frases sem relações de um todo unificado.
- As hipóteses estruturalistas contêm a idéia de que as unidades superiores Segundo Halliday & Hasan, essa competência geral se acompanha de uma
à rrase são organizadas como as frases. E, sobretudo, Ricoeur quem formula competência relativa às grandes formas de textualização e aos gêneros (1999,
56 p.9).
essa hipótese em Du texte à l'action, essai d 'herméneutique ( 1986) ;
- A semiótica literária, representada na França por Houdebine, Kristeva, Esse "todo unificado" é o objeto escolhido por Halliday & Hasan,já que
Bat1hes, Genette, Greimas e o grupo da chamada Escola de Paris, constroem seu trabalho concerne à continuidade do discurso, por meio do inventário e da
igualmente um objeto no qual as dimensões ultrapassam o quadro da frase; classificação das expressões relacionais. O discurso é, com efeito, para eles,
- A semiologia, representada, por exemplo, por Grize e Borel, dirige uma unidade semântica (eles falam em uma unidade de "uso da linguagem"), e
igualmente a análise por meio da dimensão textual das produções verbais; não uma unidade gramatical. Essa definição está no cerne da lingüística textual,
- A lingüística textual toma as aquisições da retórica antiga, clássica e no conjunto de seus desenvolvimentos.
"nova" (nova retórica de Perelman), integrando-as em novas questões; .
- Enfim, não se pode esquecer, no que se refere às produções .verbais, a A relação entre texto e discurso. Com as noções de texto e discurso,
sociolingilística de Labov (que trabalha em particular sobre a narrativa oral) e tem lugar uma distinção ao mesmo tempo necessária, dificil e polêmica. Adam
propõe uma formulação muito clara, sob a forma de equação matemática:
a sociologia de Goffmann (sobre a conversação).
DISCURSO = Texto + condições de produção
O texto como objeto TEXTO = Discurso - condições de produção.
A dimensão transfrástica. A lingüística textual aparece num contexto
epistemológico dominado pela lingüística da frase, produto da cultura da [...)Em outros termos, um discurso é um enunciado caracteri~vel certa~ente
gramática tradicional e da influência da gramáti ca chomskyana e pelas propriedades textuais, mas, sobretudo, como um ato de discurso reahzado
em uma dada situação (participantes, instituições, lugar, tempo)(...] O texto, ao
transformacional. Em 1969, a expressão discourse analysis (análise do contrário, é um objeto abstrato resultante da subtração do contexto operada
discurso), criada em 1952 por Harris, é traduzida em francês como discours sobre o objeto concreto (o discurso). (1990, p. 23).
suivi (discurso contínuo) e nos anos seguintes aparecem os programas - ou.
pelo menos, as.demandas - de extensão do objeto da lingüística às unidades Em uma outra terminologia, dir-se-á que o objeto discurso integra o
transfrásticas. E, por exemplo, o caso de pesquisadores que trabalham com a contexto, i.e. as condições extralingü.ísticas de sua produção, enq~anto o texto
noção de paráfrase, como A. Culioli57 e também Catherine Fuchs, que declara as descarta definindo-se como arranJO de segmentos que se relacionam com a
dimensão lingüística, i. e. do co-texto.
em 1985:
Tais estudos seriam, portanto, preciosos, pois a limitação à frase. neste domínio A idéia de uma gramática de texto: T.A. van Dijk
da constituição da significação, aparece como uma restrição prejudicial: [...] Os trabalhos de Teun van Dijk (nascido em 1950) inscrevem-se na tradição
muitas ambigüidades potenciais da frase isolada não subsistem a um contexto alemã e nórdica de lingüística textual, que se desenvolve nos anos 1960 e
mais amplo e. inversamente. outras ambiguidades são engendradas pela trama 1 1970. Sua abordagem é cognitiva, na medida em que ele reflete sobre as
progressiva das significações no tio do texto ( 1985, p. 20- 21 ). capacidades que os sujeitos têm de reconhecer textos aceitáveis, i.e. bem
form.ados sobre o plano d~ sua or~anização fo,n_nal, em relação aos planos dos
Em certa medida, já existem respostas a esse desejo de ampliação dos
contextos de estudo, e esse é o caso da obra maior de Halliday & Hasan, \ encaixamentos que não seriam aceitos. A gramat1ca de texto de van Dijk repousa
sobre dois postulados essenciais (analogia entre frase e texto existência d
Cohesion i~ Eng/is?, que testemunha a anterioridade das preocupações textuais u?'ª. gramática textual gerativa) e organiza-se em uma arquÍtetura t •e
na lingüística americana, sobretudo na esteira do funcionalismo. Eles mostram, nivcis. em res
em particular, que todo locutor é depositário de duas competências, como indica
Adam: Frase e texto. A gramática de texto é um. modelo, inspirado na gramática
de frase, que tem por função fo~ular o CO?Junto de re~ras que regem a boa
56 Pode-se citar como ilus1rn\:ilO dessa idéia os trabalhos de Lévi-S1rauss. Todorov, Barthes e formação de um texto e que penmtem produztr o que Harns chama um "discurso
Geneue. continuo". Esse conjunto estabelece uma competência do locutor e, reconhece-
57 Ct: expusemos no capítulo \l, Culioli procura elaborar uma lingüística fundamentada sobre 0
exame de produções de l0<:utores, isto é, de textos. ....._
.1'11 l111~#Íllu111 Jur11n1ru1 • 195
194 • A.1 Gmntlt.s Ttori111 di1 t J"f.11iJ1i"'
1líl . e, freqüentemente, foram didatizadas com sucesso no ensino
. guagem
secundário.
se, evidentemente, a influência do modelo chomskyano da competência frástica.
Isso quer dizer que van Dijk postula que existe, no nível do texto, um sistema Coesão e coerência
de regras análogas àquele que rege a produção e o reconhecimento das frases. A coesão. O termo foi introduzido .
A gramática de texto é pensada no prolongamento da gramática de frase. Essa falam de "coesão transfrástica" para d p~r Halliday & Hasan ( 1976). Eles
. . • es1gnar um co · d •
analogia, um pouco restrita e aplicacionista, será modulada em seus trabalhos linguagearos, recuperáveis por marcas es ' ti nJunt? e fenomenos
posteriores e ele falará, sobretudo, de coerência vs incoerência. as frases sejam ligadas para formar um t~:~: icas, que permitem, assim, que
Uma gramática textual gerativa. van Dijk considera que a competência A coesão intervém quando a interpreta ã d
frástica dos locutores é também uma capacidade de engendramento de textos: de um outro. Um pressupõe 0 outro ç 0 eu~ elemento do discurso depende
é ainda uma herança direta da gramática gerativa, que van Dijk partilha com compreendido quando se recorre a ' no senti 0 de 9ue um apenas pode ser
outros pesquisadores como Petõfi, Hartman, Harweg, Ballmer, Dressler. coesiva é estabelecida e os dois
. 1 .
°
outro. Quando isso ocorre, uma relação
e1ementos, o pressuponente e o pressuposto
Compreende-se, pois, que a gramática de texto é não somente um modelo de são potencia mente mtegrados em um texto. ( 1976, p.4) •
reconhecimento das produções verbais, mas também um modelo de produção:
ela engloba as duas vertentes da interpretação e da produção. Trata-se, nesse caso,.da "textura" do discurso, definível como a organização
fonnal do texto, na medida em que ela assegura a continuidade semântica. As
Três nlveis de textualidade. van Dijk distingue três níveis de estruturação rela?ões entre frases .são assina~adas por expressões ou construções que
textual: Halhday. & ~asan classa~c~m em cmco grandes famílias de relações: as relações
- o nível microestrutural é aquele das microestruturas textuais, i.e. o que de re~erenct ~, de substituição, de elipse, de conjunção e de coesão lexical.
ele chama de proposições (unidades semânticas de base), que possuem um ~ssa h~ologta, retomada, trabalhada e desenvolvida pelos estudiosos do texto,
sentido (plano da significação) e correspondem aos atos de linguagem (plano 1mpuls1onou numerosos trabalhos 59, que se organizam sobre três planos, frástico,
pragmático); transfrástico e suprafrástico:
- o nível macroestrutural é aquele das macroestmturas textuais, i.e. das - plano frástico : estudo dos marcadores de retomada (ferramentais de
grandes proposições ou macroproposições que são, como explica Adam, anáfora como os pronomes) ou de antecipação (ferrameotais da catáfora como
"condensadas para serem estocados na memória de trabalho e permitirem a os demonstrativos), análise de empregos dos tempos (fenômenos de
busca do tratamento dos enunciados sucessivos"( 1999, p.9); seu funcionamento concordância), estudos dos fenômenos de conjunção (coordenação,
não é semântico como as microestruturas, mas cognitivo; subordinação);
- o nível superestrutura l, é aquele das superestruturas textuais, que - plano transfrástico: estudo dos morfemas de ligação (advérbios,
organiza a produção e a interpretação dos discursos em gêneros ou esquemas conectores), de fenômenos de inferências, de formas diversas de repetição e
de texto. São as organizações convencionais que permitem ao locutor/receptor de retomada·,
produzir/reconhecer uma narrativa, uma argumentação etc.
- plano suprafrástico (ou macrosintático): estudo dos marcadores
A elaboração teórica de van Dijk foi seguida, retomada, entendida e refe~e?tes ao conjunto do texto, qualquer que s_ej~ sua. di~,ensão (t.~xto
discutida pelos estudiosos do texto, e, em particular, por Adam em sua própria P~b}1c1tário curto o u obra completa) como os ad~:rba.os ditos de frase , os
elaboração do modelo de seqüências ao qual nós consagraremos uma discussão P1vos d~ argumentação, 0 desenvolvimento de seqüencias. Adam define a .e~se
particular58• Propósito o laço existente entre as noções de coesão e de progressão temataca
(sucessão organizada de informações na cadeia textual):
1.2 As grandes noções da lingüística textual . A coesão é [... ) inseparável da noção de pro~ressão temática. Todo texto
---
No que se pode chamar de versão padrão, a lingüística textual definiu, apresenta, por um lado, um equilíbrio entre as informações pressupostas e as
com certeza, grandes noções que se assentaram firmemente nas ciências da
S9NT N
58 Do lado francófono, deve-se citar igualmente os trabalhos de Lita Lundquist e de Jean-Pierre 1'1.1,~éusº Brasil, destacam-se os trabalhos de FÁVERO & KOCH (1983); KOCH ( 1989) e
Bronckart. CHJ (2001; 2004).
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Uma lingüística das grandes unidades e as seqüências (segmentos textuais atravessados por esquemas prototípicos).
Adotando uma perspectiva que permite u lt~a~assar "as fronteiras clássicas Adam propõe cinco cinco tipos de ligação:
do signo. da proposiçã? ou da !'ra~e, com o objetivo de abordar as pro?uções a) as ligações do significado: elas garantem a continuidade referencial, a
naturais da interação lmguage1ra ( 1999, p.27), Adam redefine o objeto da coesão isotópica, a construção de universos de discurso etc.;
lingilfstica textual como sendo aquele da "proposição enunciada e de seu
empacotamento" ( 1999, p.35). Essa redefini~ão é articulada sob.re ~q~ela do b) as conexões: elas permitem delimitar as unidades textuais, por meio de
objeto da análise do discurso, o que une teoncamente as duas d isciplinas no dois tipos de marcas, os conectores (embora, mas, pois... ) e os organizadores
(depois, por outro lado, em suma ... );
interior do que chamamos nesse capítulo de as lingüísticos discursivas:
e) A implicação: os pressupostos e os subentendidos participam da
A lingüística textual tem por tarefa descrever os princípios ascendentes que textualização na medida em que eles permitem os encaixamentos;
regem os agenciamentos complexos, mas não anárquicos, de proposições no
interior do sistema de uma unidade TEXTO às realizações sempre singulares. A d) A seqüência de atos de discurso: a textura tem igualmente uma
análise do discurso - a meu ver, análise das práticas discursivas que renunciam dimensão pragmática e os enunciados possuem um valor ilocucionário;
a tratar como idênticos os discursos judiciário, religioso, político, publicitário,
jornalístico, universitário etc. - atém-se prioritariamente sobre a descrição das e) As ligações do significante: trata-se das retomadas tõnicas (aliterações,
regulações descendentes que as situações de interação, as línguas e os gêneros rimas... ), rítmicas (grupos binários, ternários ... ), lexicais (derivações,
impõem aos componentes da textualidade. ( 1999, p.35). repetições...), morfossintáticas (poliptoto 60 •••).
Isso implica um certo número de observações sobre os objetos texto, Por uma pragmática textual
discurso, gênero: Os estudiosos do texto falam cada vez mais de pragmática textual, para
- O texto é um objeto abstrato; ele é o objeto da lingüística textual, definido significar que a produção de enunciados possui uma dimensão pragmática
como "uma teoria geral de agenciamentos de unidades" ( 1999, p. 40); incontornável em uma elaboração rigorosa da teoria de textos. Essa abertura
- O discurso constrói-se como objeto integrando os parâmetros de sua para uma dimensão pragmática (mas também cognitiva) da lingüística textual
produção e "a interdiscursividade na qual cada texto é tomado" (ibid.); provém do constante revés das gramáticas textuais, cujo programa não tem se
- Os gêneros (de discurso) constituem urna categoria necessária para realizado em grande parte porque a homologia entre a frase e o texto é
pensar o texto integrado a seu campo cultural, em uma formação discursiva; cientificamente insustentável. Com efeito, a textualização não pode advir de
- O texto como objeto concreto é "um enunciado completo, o resultado um puro algoritmo gramatical: ela deve ser considerada como o resultado de
sempre singular de um ato de enunciação (ibid.). um processo que responde aos dados e às instruções relevantes da comunicação
e da cognição. Os trabalhos ~e _Beau~rande e Dressler ( 1981 ), por exemplo,
O funcionamento do texto: as operações de textualização fundamentam-se sobre uma h1potese interessante sob esse ponto de vista: eles
Essa reorientação da lingüística textual conduz Adam a revisar os apresentam a textualização como um procedimento de resolução de problemas
procedimentos de análise de textos. A uma abordagem que repousa sobre a acentuando o funcionamento cognitivo da produção dos textos. '
categorização, ele prefere uma análise fundamentada sobre a operação: as
operações de textualização são mecanismos específicos ao objeto texto 2.AANÁLISE DO DISCURSO
(diferentes operações sintáticas aptas a dar conta do objeto frase) que produzem Ao fim dos anos 60 emerge uma corrente das ciências da linguagem que
as unidades textuais, objeto da lingüística textual. Ele distingue dois tipos de toma como objeto 0 discurso. Essa corre.nte m~ntém com a lingüística relações
operação, que funcionam em articulação: complexas que se redefinem ao passo e a medida que novas pesquisas surgem
e propõe um conjunto de ~~ções, de. ferramentas e de métodos específicos'.
- A.f operações de segmentação. Em um primeiro nível. elas produzem propícios a fazer da analise do discurso (AD) um campo discipl ·
as proposições enunciadas, em seguida 1igadas entre elas para dar os p~ríodos au.tõnomo.Com efeito, se os trabalh.os dos analistas do discurso pa tna~
e/ ou sequências. Em um segundo nível, os períodos-seqüências são Primeira vista variados, até mesmo dispersos, recem a
segmentados, para passar igualmente por umu operação de ligação que os ::----
configurará em unidades textuais. íl() N.T. Políptoto: figura da retórica que consiste em empregar a
-1s operações de ligaçlo. Elas produzem dois tipos de pacotes de torn mudanças de forma (gênero, número e1c.). mesma palavra repetidas vezes,
proposições, os períodos (mais importantes unidades que compõem um texto)
.......
AI lingiiítlifa1 áilf11rtira1 • 21U
:« • ~· ~~~ r~i: f Jflf!!'Úho'U
[eles) partem do princípio de que os enunciados não se apresenta.m como frases - uma tradição escolar que concede um amplo espaço às diversas formas
de comentário de textos;
ou ..:orno seqüência de frases, mas como textos. Ora o texto e u.m mo~o de
organização específico, que deve ser estudado como tal em relação as condições - um conjunto de reflexões sobre a escritur .
nas quais ele é produzido. Considerar a estruturação de um texto em relação às quadro do estruturalismo6• . ªque surgiu nos anos 1960, no
suas condições de produção, é considerá-lo como discurso. (Gravitz, 1990, p.
354) A situação teórica. A lingüística que tev
"momento estruturalista" da v·1d 10 · t • e um lugar preponderante no
O recente Dicionário de Análise do Discurso, dirigido por Charaudeau · · . . ª e1ectual francesa dos anos 1960 e 1970
e \.1aingueneau (2002) testemunha a existência bem consolidada desse campo, foi naturalmente
•1· d d' a d1sc1phna. de. apoio do estudo
· dos d'1scursos. Em contrapartida
. •
mesmo se as discussões internas continuam a evoluir. a. ana.. •1se· o 1scurso
d'd contnbum para uma renov fu
açao pro n a as abordagens•
- d d
O termo análise do discurso tem origem na tradução de discourse 1mgu1st1cas na me
b· d · ... . 1 a em que na definição sauss ureana da crenc1a .
.• . da 1mguagem
analysis, expressão construida por Harris ( 1952), que lhe dá o sentido de estudo (oº. ~eto ªhngu1~tlca para Saussure é a língua e não a fala) e, sobretudo, na
da dimensão transfrástica, aproximadamente no sentido de lingüística textual. rele1tura e~truturahsta do CLG, a perspectiva discursiva está quase ausente:
De maneira geral, para os anglo-saxões, a análise do discurso corresponde à ne~se se~tldo, o e~tudo do ~~scurso ~parece como um elemento anexo, não
análi11c conversacionul. i.e. o estudo de trocas verbais orais ou escritas, cujo pnm~rd1~l, e, por isso, a analise do discurso teve que constituir-se sobre essa
postulado é que todo discurso é fundamentalmente interativo. marginal idade.
Nu aburdugcm que nos interessa aqui e que é representada pelo que se , .Acresc~nta-se às características da análise do discurso um posicionamento
dcnomina l311col11 francesa. definiremos a análise do discurso como a disciplina teonco particular: ela se apóia em disciplinas conexas no campo das ciências
que cHtudu 1111 produções verbais no interior de suas condições sociais de humanas (história, filosofia, sociologia, psicanálise, literatura etc.), disciplinas
prmJuçno. Essns silo consideradas como partes integrantes da significação e sobre cuja rejeição Saussure fundamenta sua concepção da ciência da
do 11wdo de IOrmuçno dos discursos. A análise do discurso distingue-se da linguagem. Isso explica uma das características fundamentais da análise do
lln~llh1tic11 textunl. cujo objeto é o funcionamento interno do texto e da análise discurso: sua perspectiva transdisciplinar, que não descarta, entretanto, as
litor·(1f'111 quo. mct11110 c~nsidern~1do o cont.exto, não repousa sobr; o postulado exigências de rigor teórico e de competência lingüística. Ocorre exatamente o
du ortlc11l111VR0 entre o hngu11ge1ro e o social. contrário, poder-se-ia dizer, já que a indefinição, a mobilidade e a variedade do
objeto "discurso" reclamam, para que seu estudo seja satisfatoriamente e
l . I. O hl11tórlco da AO: inspirações e fundações cientificamente rentável, uma sólida armadura conceituai. E, assinala
l)11crcr li11.cr 11 hist,\riu d11 amHise do discurso é uma tarefa muito complexa, Maingueneau, a aceitação de um risco, já que, em análise do discurso não se
1111111 cl11 111111ccu de cncúl\lt'Os e de evoluções. que foram produzidos em contextos pode proceder por generalização a partir de explorações empíricas parciais e,
cpl11l c11111h'1glcm1 e iclcológh:os particulares, como explica Charaudeau & por isso, não se pode adotar uma tentativa estreitamente empirista e acumuladora
Mnlr111.11c11c11u (2002. p. 41)
dedados:
t'i dllkll tt•trni;ur u história du análise du discurso. pois não se pode fazê-la Assim, tão togo queiramos sair da ~nálise de corpora bem delimitados, t~mos
ilcpcmlcr lk 11111 111,1 l'umhtll,1r. jt\ quc eln resulta, ao mesmo tempo. da que correr riscos importantes. Os d1scui:sos ~e entrecruzam em todos sentidos,
l'1111vcr1_1.f111'111 de C\11'1'\:lllcs 1wcntes e da renovação de práticas de estudos multiplicam-se indefinidamente em várias dtme.ns~es, logo qu~ se propõe uma
11111111111111i11-,1s de ICXl\ls tretórkos. lilológicos ou hennenêuticos). hipótese um pouco ampla (...) não podemos at1.ng1r um.a prec1s~o e u.m. rigor
suficientes a não ser partindo de lugares bem c1rcunscntos: a d1scurstv1dade,
F"t>~cilk11r-s1.:-11. c1111-etantl.). quais sào os contextos epistemológicos e os enquanto tal, não é capaz de substituí-los. (MAINGUENEAU, 1984, p.17)
llllllll""' 111tclcc111111s que l:Ontribuem para sua constituição.
. .A situação institucional. A análise do discurso é também um campo
( h ~ontl'xtos cplstl'mológlco.s . 1
n~tttucional, no sentido que Bourdieu dá a essa expressão. Isso quer dizer que
.( f'H1ttliftlt1 "•·~ '"'"'' ...~"' fro1tcesas. A formação do domínio da anáh~e ~xis.tem jogos (os bens materiais e simbólicos), atores (indivíduos, grupos,
l"' '1111cun;,, cslâ cslt\!itnmentc ligndn a algumas condições históricas e culturais
---
•nstttuições), estratégias de posicionamento. Esse campo constituiu-se em um
Cll\\\\'llkos '"' c,111tcxt\\ tn\n~·ês:
1111111 lt'tllt' '
~
1..... 11111;\ dvil\
,.,.a., J" li1ni ~ d~uc
,,nu culturntrepuusa numa rei ação com a escrita própria de
' m1<rpretação; ~~V~~ o~ trabalhos de Foucault, Kristeva, Ocrrida, B~h.es, ~oller~, etc:, so?re o cruzamento da
& 15hca, da psicanálise lacaniana, da filosofia, da cnuca hterãna de msptração marxista.
~
IJ l111g1u /tu1JJ 1/11i1tf'li1·111 • 20J
~ • l.t ( :nm1lr1 I m11;1f tl11 1Jll).:mi/1111
-A Universidade de Paris Vil, associada ao Laboratório de Psicologia Esse enunciado lapidar significa que. longe de ser uma pura representação
Social do CNRS, onde Michel Pêcheux elaborou uma teoria da linguagem desconectada da realidade empírica. as idéias e representações de um sujeito
fortemente marcada pelo marxismo e pela psicanálise, no quadro da análise constituem realidades tão concretas quanto as produções materiais: elas
automática do dis curso 62 ; fabricam o real. Isso quer dizer que. para Althusser. a ideologia não é da ordem
psicológica, mas se situa do lado da práxis. que modula as identidades e os
- A École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), onde
modos de ser dos indivíduos.
Greimas trabalhou em uma semiótica geral, traçando o caminho de uma outra É pelo fato de a ideologia constituir-se em práticas que Althusser pode
abordagem do discurso. declarar que ··a existência da ideologia e a interpelação dos indivíduos enquanto
sujeitos são uma única e mesma coisa" ( 1976, p.127). Esse termo ,
Os quadros intelectuais i11te1pelaçào, introduz a dimensão discursiva da ideologia. Com efeito, ele
É sobretudo, o domínio da filosofia que deu à análise do discurso seus contém a idéia de que o sujeito, contrariamente à concepção clássica que o
quadr~s teóricos, e, particularmente, as conceituações de Althusser e de coloca do lado da autonomia e do domínio de si, é um produto da ideologia,
Foucault, filósofos que fizeram do objeto "discurso" o centro de suas reflexões. construído sobre 0 modo da evidência, que é a fonna principal da ideologia:
L. Althusser: discurso científico e ideologia. Louis Althusser ( 1918 - Como todas as evidências, inclusive ~q~elas qu~ fazem com que uma palavra
J990) trabalha no quadro da filosofia marxista sobre a qual ele elabora uma "designe uma coisa· , ou ·possua uma s1gn!fi~aç~o (compreendidas as evidências
nova leitura. Em " Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado(l976)"'"'. da •transparência· da lin~u~gem), essa ev1denc~a de que ~oc~ e eu somos sujeitos
investiga os mecanismos da ideologia que, segundo ele, contribuem para a - e que isso não cons11tu1 um problema - e um efetto ideológico 0 efeito
ideológico elementar. (1976. p. 130). '
reprodução das relações sociais e, portanto, para a reprodução dos modos de
dominação que elas fundam. Althusser apresenta as noções de ..aparelho Althusser dá o exemplo da criança recém-nascida que J.á é const ' d
repressivo de Estado" e de " Aparelho ideológico de Estado". esse último com. o Sujeito
· · desde antes de seu nascimento,
· . do nome que ela rui
por meio rta •a
definindo-se como um conjunto de instituições (Igreja. Escola. mídias. cultura, Aparentemente as escolhas são transparentes, mas se trata de fat po ra.
família, partido polltico, sindicato etc.) que asseguram. no plano das maneiras ~onstrução que é preciso saber desmontar para não cai~ e o, de .uma
de pensar, dos comportamentos e dos discursos, a reprodução das relações de ideológicas. Por isso, a dimensão discursiva é fundamental S ~ ar~adilhas
~SSencialmente discurso, é a análise dos discursos que · den a 1.d~ologia
esconstrução racional: po e penn1t1I a sua
°
62 N .T. Os trabalhos de Mi chel Pêchcux estilo na hnse de uma linha de anâlise do discurso
fortemente assentada no Brasil, principalmente u partir dos trabalhos de Orlandi ( 1987; 1999):
63 Esse ensaio, publicado originalmente, em 1970. na revi sta la Pensée. nº 151, foi
posteri ormente republicado na obra intitulada Positions ( 1976).
~
106 • •~1 Gm"tf'-' ·rtoriaJ '"' l in..e,Nistir;1 .;fJ lit(1'/ií1tira1 1liu 11nfrm • 201
É preciso chegar a este conhecimento se queremos, falando da ide.ologia ~o No caso em que se puder descrever. entre um certo número de enunciados,
interior da ideologia. esboçar um discurso que tente romper com a 1deolog1a, semelhante sistema de dispersão, e no caso cm que entre os objetos, os tipos
pretendendo ser o início de um discurso cienlílico (sem sujeito) acerca da de enunciação, os concellos, as escolhas temúticas, se puder delinir uma
ideologia. (1976. p.125) regulnridnde (um~ ordem, correlações, posições, funcionamentos e
transfonnações), diremos, por convenção, que se traia de uma formação
A análise do discurso pode, pois, constituir-se em uma prática q.u~ permite discursiva - evitando, assim, palavras demasiado carregadas de condições e
conseqüências, inadequadas, aliás, para designar semelhante dispersão, tais
a análise critica da ideologia, condição necessária para a sua desm1st1ficação. como 'ciência', ou 'ideologia', ou 'teoria', ou 'domínio de objetividade'. ( 1969,
Pode-se dizer que, entre os estudiosos do discursos, é Pêcheux quem capta p.53)
a herança althusseriana para elaborar sua conceituação: ele mostra que a
ideologia é de alguma fonna anterior à produção do discurso. ~nquant? o locu~or, Fou~ault nomeia "regras de formação" às condições de existência desses
crendo ser sujeito, pensa falar, ele é falado pelo já-lá ideológ1~0..~a1 as noy~es quatro t1po.s de ~lementos : essa~ regras configuram a identidade de uma
de pré-construído e de interdiscurso que estão no centro da historia da analise fom1ação d1scurs1va. Esses conceitos permitiram-lhe dar retroativamente uma
do discurso. definição de discu~so: '_'um c<:>njunto de enunciados, na medida em que se apóiem
na mesma for.maça~ d1scu~s1va" (~ 969, p.153). Compreende-se que enunciado
M. Foucault: a noção de fo rmação discursiva. Em .A arquelog_ia do e fonnação d1scurs1va estao estreitamente ligados em particular por meio do
saber (1969), Michel Foucault (1926-1984) expõe seu projeto de análise ?o que Foucault chama "práticas discursivas" e que ~le define assim:
discurso. Como assinala Maingueneau, trata-se de um "programa d~ pesquisa
sobre a fonnação e as mutações das práticas discursivas, que exclui qualquer É um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo
forma de análise lingüística dos fatos de língua" (2004, p.59). Com efeito, e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área
Foucault quer interrogar as relações entre práticas discursivas e práticas sociais, social, econômica, geográfica ou lingüística, as condições de exercício da função
e, nesse sentido, nem o pensamento, nem a língua constituem seu objeto. No enunciativa. ( 1969, p. 154)
início de seu trabalho, ele coloca a questão da definição das unidades do discurso, A partir dessas idéias, constitui-se para Foucault a noção de arquivo, que
sendo o discurso, para ele, um conjunto de fenômenos que permite escrever designa um conjunto de saberes em uma sociedade dada e uma época dada,
uma história discursiva do pensamento. não como uma coleção de conhecimentos, mas como um sistema de regras e
FoucauJt estuda "grupos de enunciados" no interior de urna formação social, práticas:
nas relações que eles mantêm entre si e com os fenômenos não-discursivos
como acontecimentos técnicos, políticos, sociais etc. A questão central é: quais Eu chamarei arquivo, não a totalidade dos textos que _foram conservados por
são as condições graças às quais se pode falar de um discurso (discurso da uma civilização (...] mas o jogo de regras que. detennmam em un:a c~ltura a
medicina, da economia, da gramática etc.)? Suas respostas são as seguintes: aparição e o desaparecimento de enunciados,. sua reman~nc1a, seu
enfraquecimento, sua existência paradoxal de acontecimentos e de coisas. ( 1994,
a) Os objetos. É preciso que ~xista um conjunto de objetos comuns (por p. 708)
exemplo, a doença mental para o discurso psiquiátrico);
Na esteira direta do pensamento de Foucault estão constituídos os trabalhos
b~ <?s ~f'~s de enu~iação. Deve-se poder falar de uma "modalidade de Pêcheux e de Maingueneau, esse último utilizando o conceito de arquivo
enunciativa , 1.e. de um tipo de enunciação recuperável e normativa;
em substituição àquele de formação discursiva:
c) Os conceitos. Deve existir um "sistema de conceitos permanentes"
que são .opera~t~s em t~l ou ta~ domínio, em tal ou tal momento (por exemplo, No lugar de formação discursiva, M~ingueneau ( 1991) introdu.z .ª noção de
. ..• t'1ca);
o conceito de sintoma em psiquiatri'a, de .. 11.ngua,, em 1mguis arquivo para reunir enunciados advindos de um mesmo pos1c1onamento,
enfatizando (mediante a polissemia do étimo de arquivo, o grego archéion)
d) As escolhas tem áticas A A • • • que esses enunciados são inseparáveis de uma memória e de instituições que
corresponde às e tr t. . · permanenc1a de uma temat1ca, que lhe conferem sua autoridade, legitimando-se por meio delas" (Cl-IARAUDEAU
ser reconhecida s a eg1as trabalhadas em um campo específico, deve poder
& MAINGUENEAU, 2002, p.62)
trabalhos de B /tºr exemplo, a temática do "evolucionismo" que está nos
u on e se estende até Darwin).
2.2.Aaparelhagem conceituai e metodológica
Assim, explica Fou lt
conjunto, pode-se f: 1 cau • se é possível perceber regularidades nesse Enquadramento teórico: o programa de D. Maingueneau
ªar em formação discursiva :
~ ........_
..__,,.. .......---
.1 l1 lim'jlf11h,11 1//1011 1/lw • 11n
~• I• '·'"""ln lrfl"•" .'41 f ~Jft!f"'''''
Em Ci<'ml.i'C's d 11 di.1·c·o11rs ( 1984 ). antes de apresentar a noção de arquivo, tanto o vocabulário quanto os temns tratndos, a i11tertexl1111lid111lc 1111 1111
M<1ingucnc11u mostrn como nasce 111.n discurso, como :ie se estrutura em um instâncias de enunciação.
Clllljunto coerente e cm um espaço mtelcctunl homogcneo que perdura além No discurso politico, por exemplo, pode ser enco11trnda 11 prcsc111,:11de11111
das v;iriaçõcs individuais e temporais. Ele apresenta e define três concepções vocabulário específico e recorrente (variantes e invcnçê'lcs cm torno ele
centrais da nnálisc do discurso (ic~. p. I 0).,antcs de formular sete hip6teses que democracia, por exemplo), de metáforas naturalizadas ("a diarrclc cio l(sl:ulo
constituem um programa ele análise do discurso (p. 11 e ss.). navega sobre um vulcão", no século XIX, substituicla, mais reccnlcmcnlc pela
Três crmceitos ftmdame11tais. São a formação discursiva (herdada de expressão "o câncer do terrorismo") de referências aos discursos 1'1111cladorcs
Foucault). a superlkie discursiva e o discurso: (no caso francês, por exemplo, a recorrência a Jaurcs, de Gnullc etc.) e marcas
enunciativas particulares (o nós político).
- A formação discursiva é um "sistema de restrições de boa formação
semântica"; - A competência interdiscursiva. Os locutores expressam, cm gemi,
inconscientemente, competências de fala interiorizadas, dependendo de seu
-A superficie discursiva é o "conjunto de enunciados produzidos de acordo meio, sua formação, sua educação:
com esse sistema";
Esse sistema de restrições deve ser concebido como um modelo de c:o111peti:11c:lu
- O discurso é a "relação que une os dois conceitos precedentes". Trata- interdiscursiva [ .. .]. Postulamos, nos enunciadores de 11111 discurso dado, o
se de um "conjunto virtual, o dos enunciados que podem ser produzidos de domínio tácito de regras que permitem produzir e interpretar enunciados que
acordo com as restrições da formação discursiva". resultam de sua própria formação discursiva c, corrcla1ivamcntc, permitem
identificar como incompatíveis com ela os enunciados dns fonnnções discursivas
Sete hipóteses: antagonistas.
- Discurso e interdiscurso. A postura fundamental da análise do discurso - A prática discursiva. O discurso não deve ser pensado como um conjunto
implica estudar as produções discursivas a partir do ponto de vista de que elas de enunciados abstratamente descontextualizado, mas como uma prática,
são informadas por outras produções discursivas, captadas pelos locutores a social, cultural, intelectual, técnica:
partir do modo de uma herança (por exemplo: o discurso contemporâneo sobre O discurso não deve ser pensado somente como um conjunto de textos, mas
a escola é construído sobre as heranças da escola republicana do século XIX) como uma prática discursiva. O si~tema de restrições semânticas. para além do
ou do modo de uma troca: enunciado e da enunciação, permite tornar esses textos comensuráveis com a
'rede institucional' de um 'grupo'. aquele que a enunciação discursiva ao mesmo
O interdiscurso tem precedência sobre o discurso. Isso significa propor que a tempo supõe e toma possível.
unidade de análise pertinente não é o discurso, mas um espaço de trocas entre
vários discursos convenientemente escolhidos. - Uma prática intersemiótica. <? discurso não é uma produção pura
i.e., não brota de si mesmo, mas se articula com outros sistemas de signos: '
_ A lnte rcompreensão. Nenhum discurso é homogêneo e dirigido pelos
A prática discursiva não define somente a unidade de um co ·
enunciados; ela pode também ser considerada como uma pi·átic:a inte~~~m~~ .de
locutores sob a forma de uma expressão puramente pessoal. O discurso do
Outro é constitutivo do discurso do Eu:
que integra produções que pertencem a outros domínios semiót' (.i~m~o~ica
musical etc.). icos p1ctonco,
O caráter constitutivo da relação interdiscursiva faz aparecer a interação
semântica entre os discursos como um processo de tradução. de - A inscrição sócio-histórica. O discurso não é a t' .
interc:umpreensàu regrada. Cada um introduz o Outro em seu fechamento. aos dados sociais e históricos, mas se constrói em rei~ l~ arqutco em relação
traduzindo seus enuncindos nas categorias do Mesmo e, assim. sua rel.~ção modo que esses dados são igualmente configurados ç,io .ª eles, do mesmo
com esHe Outro se dá sempre sob a forma do 'simulacro· que dele constro1. . pe 1os discursos:
~ recurso a esses sistemas de restrições il · .
- O sistema de restrições. 1-ló nos discursos as marcas, explicitas ou °
dissociação entre a prática discursiva e n llnplica de f'orm·\ ·li
histórico. Ele permite, ao contrário a r outras séries de seu 111' •. guma uma
implícitas, de sua integração em uma certu fo rmação discursiva: abrindo a possibilidade de isomor'r.t ofundur o rigor dessa in • t~biente sócio-
sem por isso reduzir a especilieid 3 ~10 entre o discurso e scnção histórica
1
Pura dar contu desse interdiscurso, propomos que existe um sistema de res.trições
semâ111icas glub':'i.1'. O caráter "global" dessa semântica se manifesl:R pel~ fat~
e dos tcnnos assim essas outras séries'
corrclacionados. A,
de que ela restringe simultnneamente o conjunto dos "planos" discursivos.
~ à-.-
2u-. • . . {j(;,mtdt1 'l't'fmr11 dt1 I in,c11uf/M As ling1iístita1 diimrsh a1 • 211
1
ciências humanas" (trata-se de ótica comum a Hjelmslev e Greimas); a 197lb; E. Coseriu, 1962), Rastier elabora uma teoria dos componentes
;IJ li1~1il.s1it,11 tl1i<11rsiru1 . 2u
semiótica concebida como uma "filosofia da significação" (a partir de Peirce), semânticos ( 1987, p.40), assim esquematizada:
enfim, a semiótica centrada sobre o "para além do mundo humano" (rebaixada
ao nível de "filosofia da natureza") e que culmina em um apagamento "tanto
da distinção entre as ciências, quanto entre as ciências e a li losofia" (ibid.p.51- In.rld11rias i111ane11/es de codijicaçào Fe11ô111e110 111a11ifes1ado
52)
l .Sistcm:i 2.N ormas 3.Uso Texto
Definição foncion:il (escrito, oral ou outro)
A perspectiva crítica em relação às orientações de trabalho comumente
admitidas em ciência da linguagem permite pôr em relevo a contribuição "Dialético" Socioleto Id.ioleto
específica de Rastier. A definição que ele propõe de texto encerra as premissas
do novo quadro teórico:
A situação do texto, apreendido como produção cada vez singular, pennite,
Um texto é uma série lingüística empírica atestada, produto de uma prática ao mesmo tempo, conceber a materialidade à luz de determinações prévias
social determinada. e lixada sobre um suporte qualquer. (ibid. p. 21 ). (notadamente genéricas), operando entre o resultado que ele constitui e as
condições da língua. Essa conceituação é de suma importância para
Esses diferentes traços definicionais requerem, por sua vez, algumas compreender as relações que mantém a triade texto/gênero/língua.
explicações. A primeira característica ("o texto é atestado") fundamenta um
"princípio de objetividade" (ibid. p.21 ), já que ela institui uma ruptura Uma semântica unificada
metodológica acentuada no que diz respeito aos procedimentos de fabricação Abordando as exigências da semântica de textos, escreve Rastier:
ad hoc dos exemplos por numerosos praticantes de uma lingüística restrita
que subestima freqüentemente o caráter histórico de seu objeto. A segunda As tarefas principais de uma semântica de textos colocam-se em três linhas
característica (o texto é "produzido em uma prática social determinada") convergentes: elaborar uma semântica unificada pelos principais patamares de
determina o "princípio da ecologia", na medida em que, acentuando o caráter descrição (palavra, frase e texto); elaborar categorias para uma tipologia dos
eminente do entorno de todo texto, ela permite assegurar a sua "delimitação" textos (literários e míticos, científicos e técnicos); desenvolver essas teorias
(ibid. ). Enfim, a terceira característica (o texto "está fixado sobre um suporte") descritivas em relação com o tratamento automático de textos. {ibid.p.38).
formula "a condição de seu estudo crítico", já que ela supõe um "debate de
Limitar-nos-emos à exposição dos princípios teóricos dos "componentes
conj~cturas" (ibid.). i:sa era da multiplicação dos suportes numéricos, Rastier
do plano do significado" (ibid. p.38). Rastier distingue quatro operações tanto
enfatiza, pelo contrário, o fato de que "essa condição empírica rompe com o
privilégio exclusivo da escrita" (ibid.p. 22). no plano da produção quanto no da interpret~ção de textos:
A virada lingüística
. Essa crise da racionalidade tem como efoito 0 fat d
ma1sd? que nunca sensíveis ao pariimctro linguagc· '~d e tornar os teóricos
(o conjunto infinito e o conjunto dos conjunto~ .1 ' ~0 -. escoberta de Cantor
~aráter inevitável da significação e tornou ne .~ 1 ~nitos) colocou à prova 0
e u~a língua perfeita que tornaria impossl c~ssaria, e urgente a constru -
Pares m.coerentes. Uma tal língua asse 'Urari .. ve: no futuro, a formuJ - çao
O fato e que as línguas naturais (a "líg a ao calculo um funda açao de
ngua ordinária") e . mento estável
m muitos aspectos sã~
~
........_
As lt01in1 pragmátiras • 217
Plh~
218 • •-'Is <.nu1da ·1;.,n,u 1!.1 1111,~Ní1t1f,,
/1.1 l tori(IJ pnrt,rt,itit.-u • 219
•
.. .
I• lrnn .u f'' 1{l'/'t.tf/;1lf .ui
l.20 • .• l.t ( ol)t11d ,-c I fltlf,JC i/,1 l /'{C,M •llod
~
1~ Eu te prometo vir
2 Quanto a 11~im: eu virei um ato de fa la é um processo complexo que se compõe de três atos
3 Vuça, eu v1re1 estreitamente intrincados:
Já que a "força" do com~rom isso não é a mesma, apenas 0 exemplo (4) a) um ato locucionário, que consiste em um ato de referência (o dito
: omporta um verbo ~erform~llvo, enquanto que em (5) e (6) 0 valor do ato não enquanto tal);
e marcado. Essas
c: variações
. hngüísticas
. indicam o caráte r expI'1c1·to ou pnm
· á no
· b) um ato ilocucionário, que mostra o que se está fazendo, naquilo que
do va 1or per1ormat1vo dos enunciados: (4) formula um at d. d f: 1 se diz;
enquanto que, no melhor dos casos (5) e (6) form 1 o . ir~to e a a, e) um ato perlocucionário, realizado pelo fato de dizer aquilo que é dito.
(a partir do qual o destinata' r1·0 poderá denvarum
. u am um ato md1reto de fala
valo dº&'. d )
Enfim • a distinção constat1
· ºvo/per1ormattvo
c: . enco t r 11erente . a promessa . Para Austin, esses três níveis de estruturação de um mesmo ato de fala
exemplo: todo enunciado articula u n r~ ~~ outro tipo de contra- não tê~ o mesmo estatuto em termos lingüísticos. Observe um dos exemplos
performatividade. m traço de descnttv1dade com um traço de oferecidos por Austin para ilustrar essa distinção:
Ato (A) - locucionário: Ele me disse: "Você não pode fazer isso".
Seja o exemplo: Está quente ne .
se for verdadeiro que p mas sta sa1ª·(a) P diz que P, e P só é verdadeiro Ato (B) - ilocucionário: ele protesta contra meu ato
certo contexto é susceptÍvel d~ por ou!ro lado, {b~ a enunciação de P em um Ato (C.a) - perlocucionário: ele me dissuade, me detém
pode constituir uma simples . ~?nfenr um valor 1locucionário específico que Ato (C.b) - Ele me chama ao bom senso etc. Ele me importuna.
para que se abra a janela in icaç~o ou um ato de fa la indireto (um pedido E·1
uma açã~ qualquer no ca~~~ convite para deixar a sala, o detonamento de CISJ>ect: ~tem l~ços ~e ordem convencio~al entre.º aspecto locucionário e
lado nà tlo~uc1onáno e, de fato, só a análtse penntte diferenciá-los. Por outro
0
das condições de validaç~ d e tratar-se de uma senha etc.). A interferência
0 as~ct~ iha qu~lq~e~ laço conven~io~a~ sus~eptív:I de reger as relações entre
condições de sucesso ouª•?c: ~ ~drn dato de enunciação (condições de verdade +
entre
d. esses dois . constituintes
• 1
ie 1c1d a e").rnostra que não há uma fronteira clara e, corn0 :ocuc1?nano e o perlocuc1onar10. O 1locuc1onário é um dado do CÓ<f
isso1ução dessa primeira hipót 0 sentido, o que tem como conseqüência a ta •relativamente previsível. O perlocucionário não é outra e · igo
ese. 01sasenão
~
m • As C:rJ•dtJ Ttoriru ,/,, 1i~~uÍJliM AI lton 111 /Jrll/ /lltiti"" • 22J
uma "conseqüência" desprovida de qualquer .caráter de .necessidade. Austin proposicion~l, u.~ª ~orça pro~osicional, explicitada ou não por um marcador de
limita deliberadamente o programa de pesquisa da teoria d?s atos de fala à força ilocuc1onana 6 • A seguir, ele se dedicou ao reexame da taxionomia dos
análise do pólo locucionário/ ilocucionário, excluindo do honzonte da teoria o valores ilocucionários ( 1979) e os reconstruiu segundo 12 critérios, sendo que
estudo da perlocução. somente os 4 primeiros fonnam, realmente, uma série de critérios de escolha:
Intenção/linguagem. O relativo sucesso da hipótese am pliada conduz (a) o objetivo ilocucionário (condição essencial);
Austin a estabelecer uma classificação dos valo res ilocucionários. Com esse
objetivo, ele constrói uma tipologia que comporta cinco rubricas, diferenciadas (b) a direção de ajustamento, seja das palavras com o mundo, seja do
segundo uma ordem conceituai. Esse princípio de classi fi cação se inscreve na mundo com as palavras (condição preliminar que inclui, também, o estatuto
tradição dos Thesaurus: veridictivos (concordar, decretar. .. ), exercitivos dos locutores);
(ordenar, demitir ...), promissivos ( prometer, consentir...), comportamentativos
(c) o estado psicológico expresso (condição de sinceridade);
(desculpar, agradecer ...), expositivos (afirmar, conj eturar ...). Uma ambigüidade
caracteriza, entretanto, essa taxionomia: Austin pretende fazer um inventário (d) o conteúdo proposicional (uma relação colocada sobre o passado ou o
racional dos tipos ilocucionários, mas, ao mesmo tempo, ele repertoria verbos. presente, uma previsão do futuro).
Isso coloca um problema metalingUístico, pois se trata de dois níveis de
articulação de valores pragmáticos inteiramente diferentes. Todavia, essa Esses critérios regem a classificação das "forças ilocucionãrias primitivas"
confusão, talvez voluntária, oferece a vantagem de colocar claramente e de em cinco rubricas:
maneira original o problema das relações entre linguagem e pensamento: as - assertivas (afirmar, constatar... ) , que se caracterizam pela
estruturas intencionais (em número de cinco) são subjacentes às formas correspondência entre o enunciado e o estado de mundo;
lingüísticas (os verbos ou os nomes de atos denotados pelo significado de cada
verbo repertoriado). - diretivas (ordenar, aconselhar...), que visam a modificar a situação do
. A teoria dos atos de fala integra um movimento de pesquisa complexo, alocutário;
feito d~ !upturas e . de reform u.lações. Ela se organizou a partir de três - compromissivas (prometer, jurar...), que visam a fazer corresponder o
P.ropos.1ço~s.: uma h1~ótese restnta (perfonnatividade), uma hipótese geral
mundo com as palavras;
(Iiocuc1?nano), um~ hipótese.conceituai (taxionomia dos valores). Ela comporta,
outrossim, uma teona rrnplic1ta do la.ço político (teoria dos jogos), que apresenta - expressivas (felicitar, agradecer...), que não v isam nem a fazer
um esboç? d~s .relações entre r~stnç~es .con_textuais e restrições discursivas, corresponder as palavras com o mundo (caso 1), nem a modificar o mundo em
mas também ms1ste sobr~ as res~ç~s mstituc1onais, lingüisticamente marcadas, função das palavras (caso 2);
que regem as relações mtersubJet1vas66.
- declarativas (decretar, abrir uma sessão ...), que instituem um estado de
As críticas fato ao mesmo tempo em que o descrevem, elas participam tanto de ( 1) quanto
. . É necessário separar as críticas que emanam do domínio pragmático e as de (3).
cnt1cas externas. Significação e contexto de conhecimento. Para além desse
remanejamento local das teses de Austin, Searle planta as bases de um novo
A crítica pragmática: J.R. Searle, a reconstrução da teoria dos atos desen.vo~vimento da teoria dos atos de fala. Assim, a reflexão que ele desenvolve
de fala. O discípulo e continuador deAustin interferiu nos principais aspectos CO~s~ 11u1 uma tentativa de responde~ à questão de saber sob quais condições os
da teoria dos atos de fala e propôs uma reformulação mais rigorosa. Searle fez ~UJC•to s podem adequadamente interpretar os enunciados e port t
do ato de fala uma entidade com duas faces, comportando um conteúdo inscreverem-se de maneira adequada nos processos de comunica' ão an o,
e não verbal). As perspectivas desse questionamento ultrapassan ç (ver~al
pen.sa~os, o problema das "condições de êxito" dos atos de tàl ~em m~tto,
rad1cahzação do postulado institucional da hipótese perfi ~· a partir da
66 Essas perspectivas forom inspirndas, de um Indo, em certas teorizações da análise e da ormativa que Searle
história dos discursos, de outro na sociologia. Em particular, elas permitiram assentar a análise
das relações hierárquicas e dos confli tos sociois em urna base discursiva, dando, igualmente,
uma base discursiva à problemática da legitimidade ("li nguagem autorizada"). 67 Essa distinção recobre a oposição dictum/mod11s proposta por Bally.
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hipótese do caráter mtcncionul ª~o~u·~a a noção de signi ti cação não natural, O ?bje~o da teoria. ~ob. º.plano de .sua inscrição na história da filosofia, a
eco na medida cm que,.uma ve~fi e, ~~ identificando suas regras fundamentais.
1
deternrn~~ç.10 ~<: s~us p1111c1p1os aproxnna-se mais do projeto de formulação
ateoria da conversação irá espec1 ica a de uma eti.ca (ciencia d?s costumes) do que de uma pesquisa dos fundamentos.
< • _ _ Pela expressão "significação não natural'', A em~rett~da d~ Gnce consiste, em suma, em caracterizar a ética da
A .~ignijicaçao n~o na~t1ra ·
/
ondutas linguageiras (verbais ou não). comun~c.açao subJ~cente à di.nârr~ica das trocas verbais. Ela define o esboço de
Grice identifica a part1~ulandadf das c consiste em instaurar uma relação
ª
Significar qualquer c01sa ~ua quer u~ .fi ão não natural distingue-se uma ~nt1ca da razao ~omu111cac1onal. Grice nos leva a observar que, ao lado
intencional. Assim caractenza~a, a s1gt"1 icaç trib i comumente às relações daquilo ~ue ~m ..~º~Junto. de enunciados permite significar em virtude de
intrinsecamente da significação dita natura que se a se~á signo de tempestade c?m'.enço:s lm~u1sttcas, e necessário prestar atenção a um outro plano de
causais em curso na natureza: uma nuvem negra E d d' s1g111ficaçao obttdo por mecanismos semânticos ligados ao contexto. Nos dois
uma correnteza de lava, signo· ·
de 1rrupç ão vu lcânica
. etc.p .sse mo o e casos, entretanto, o destinatário desenvolve um cálculo semântico ligado à
significação corresponde ao conceito de índice defimdo por eirce. realização de uma inferência: no primeiro caso ele efetua implicações
convencionais, no segundo, implicações conversacionais.
Aspectos da significação não natural. Instaurada ess~ ~i sti~ção, Grice
subdivide ainda o domínio da significação não natural em dois tipos. o P.lan~ da Estrutura da teoria. Outrossim para Grice a comunicação só é possível
significação induzida por meio de um índice direto (por exemplo, a atnbutção porque seus protagonistas aderem tacitamente a um princípio de cooperação.
de uma nota baixa em um exame final equivale a um fracasso) ;. o plano de Com efeito, de um lado, uma troca verbal não se reduz a "uma seqüência de
significação induzida por meio de um índice explí~ito que p~~1 te ao outro marcas desconexas", de outro lado, cada participante reconhece "um objetivo
inferir a intenção que alguém pretende lhe comunicar (a atnbu1ção de uma comum". Observe a definição desse princípio fundamental:
nota desqualificadora em um exame final, seguida da observação "estudante
reprovado pela caligrafia"). Dito em outros termos, somente os atos de Que sua contribuição conversacional corresponda àquilo que é exigido de
você, àquilo é esperado, pelo objetivo ou a direção aceita da lroca verbal na
comunicação que têm o objetivo de fazer com que o destinatário reconheça a qual você está engajado ( 1970, p. 60-61 ).
intenção que se tem ao fazê-lo, contêm o principio da significação não natural.
De fato, o êxito provável de um ato de comunicação fica submetido à inferência As categorias de co1111111icação. A conformidade de c~da t~"!. ao princípio
que permite ao destinatário identificar os conteúdos que se deseja transmitir- de cooperação no decurso d~ "manobra~ conversac~ona1s tem como
lhe. Imaginemos duas situações: a) um policial pára um carro colocando-se no fundamento a identificação (teórica) e o agenciamento (efetivo) de quatro regras
seu caminho; b) um policial pára um carro fazendo um sinal com a mão. O que a especificam: "Com base em Kan~, eu .~h~n:iarei essas categori~s ~e
caso (b) ilustra uma situação de comunicação na qual a atitude do policial é Quantidade, Qualidade, Relação e Modalidade (1b1d, p. 61). Essa. referen~1a
dotada de uma significação não natural. Nesse sentido, a significação não natural a Kant pode aqui surpreender, te~do em conta o f~to de que a teoria de Gnce
exibe du~s intenções: aquela de comunicar que, enquanto tal, precisa ser visa à ética da comunicação, projeto que se aproxima mais, por suas escolhas
r~co!1hec1da; aquel~ de mf~rmar, que exige uma identificação precisa da terminológicas, da Métaphysique de~· ~noeurs (lvl'!_tafisica da ':'foral) do que
~1gm~ca?ão comumcada. Gnce descarta a possibilidade de uma regressão ao da Critique de /a raison pure (Critica da razoo p11ra)11 • E conveniente
tnfi!11to, Já que a recuperação da intenção de comunicação pelo destinatário prevenir-se contra a tendência de uma certa vulgata em caracterizar essas
o~nga-o também a interpretar a intenção de informar aquilo que ela comporta regras como " máximas conversacionnis". As tais múximas são, antes de tudo
s1multaneamente7º. categorias de comunicação. O em~ré~timo. d~sses conceit~s de Kant suger~
que eles constituem as formas a priori da log1ca conversac1ona\:
A teoria da conversação
- Quantidade:
Essa segunda teoria constitui, de uma parte, uma reflexão aprofundada 1 . t. sua contribuição deve conter 11 quantidade ele informação necessária
(infonnatividade)
10 A concepção de Grice deve ser oproximodo daquela de Austin, no que diz respeito à validação 1
do valor ilocucionârio de um enunciado (um enunciado foi compreendido quando foi objeto de 71 Dn qual Grice empresta, com efeito, seus conceitos. Cf. 111, 92 e IV, 65. "Analif d
uma "captaçlo" (em inglb, uptake). 1 e . quadro das categorms . "(G nrn1er
. 1··1umnnon,
. p. 136 e ss.) . ica os
onceuos,
..
!!S • ,.,r~· ;.; ~ ~
-lr C ..-:cMJ T 17*!.t.::.:.
/ Is trori111 PJ"Ul.111úlitt11 • m
2. sua contribuição nào de,·e conter mais informação do que a necessária
(exausti\idade)
conferir uma base racional à gestão dos conflitos, ou, mais precisamente, graças
- Qualidade (sinceridade ): ã mediação retórica. evitar que os conflitos não acabem em violência fisica. A
1. não afirme aquilo que você não acredita que seja verdadeiro obra de Perelman é. assim como a de outros pensadores da mesma geração,
2. não afimle aquilo que ,·ocê não pode provar uma reação aos excessos do logicismo que o autor define como "uma ruptura
com uma concepção do pensamento e do raciocínio, derivada de Descarte". O
- Relação (pertinência): seja pertinente
autor do Tratado de Argumentação ( 1988) fundamenta seu ponto de vista no
- :\lodaUdade (inteligibilidade) desenvolvimento da história do raciocínio, compreendido como o resultado da
1. não se expresse de maneira obscura luta que Platão empreendeu com sucesso contra os sofistas, em proveito do
2. não se expresse de maneira ambígua modelo matemático. Para Perelman, esse momento do pensamento grego (que
os diálogos platônicos bem testemunham, principalmente em Protágoras) está,
Esse dispositivo teórico deve garantir, tanto na fonnulaçào dos enunciados sem dúvida. na origem de uma linha de pensamento que tem como efeito limitar
quanto em sua compreensão, um princípio de economia que consiste e~ ~iar a definição da racionalidade somente ao raciocínio lógico-matemático, o que
uma significação mínima com o objetivo de um resultado comumcac10nal constitui ''uma limitação indevida e perfeitamente injustificada do domínio do
máximo. qual provém nossa faculdade de pensar e de provar". Essa crítica apóia-se
sobre o fato, sublinhado por Perelman, de que existem domínios de práticas (a
Os aportes e limiJes da teoria. O modelo de Grice deve, enfim, ser avaliado começar pela vida cotidiana, pela moral e pelo direito) nos quais os sujeitos,
em seus aspectos descritivo e explicativo mais do que em seus limites. Essa para comunicar e fazer valer seus pontos de vista, mobilizam uma forma de
teoria propõe uma modelização dos mecanismos de inferência característicos racionalidade que não se baseia na administração apodítica da prova. Tal é o
de uma língua natural. Portanto, Grice insiste sobre o fato de que, em situação caso de todas as formas de raciocínio corrente, que não têm como objetivo
de comunicação, nenhum sujeito se conforma estritamente às regras. A dinâmica estabelecer a verdade, mas o de se fundar sobre o registro de valores éticos
comunicacional repousa, de alguma maneira, sobre o acaso, isto é, sobre sua para garantir o verossímel. Esse domínio não é aquele da lógica baseada no
exploração mais ou menos adequada. É ao caráter somente provável da agenciamento da argumentação demonstrativa, mas o da retórica fundamentada
importância que cada um lhe atribui que se reconhece seu valor regulador. Sua no manejo da argumentação persuasiva.
latitude de emprego é considerável: a metáfora, a litote, a ironia, são alguns Os ganhos
efeitos discursivos que resultam da transgressão parcial, inconsciente ou É preciso então, distinguir muito claramente os aspectos do raciocínio
deliberada, dessas categorias. "relativo à verdade" e aqueles que são "relativos à adesão". Essas observações
A afirmação de seu caráter universal constitui um postulado da teoria da tendem à retomada do projeto aristotélico no contexto contemporâneo, deixando
intenção comunicativa. Essa assunção exige vários comentários. A postulação de lado toda consideração sobre a tecnicidade dos gêneros oratórios
universalista pode ser compreendida de duas maneiras muito diferentes. Pode- especializadosn. Perelman define, com efeito, as perspectivas de uma nova-
se ~· comoº. f~ <?rice, que as quatro categorias definem quatro expressões retórica, preocupada em caracterizar as condições da eficácia dos discursos.
especificas do pnnc1p10 de cooperação. Ou, pode-se considerar ao contrário. Assim, a lógica conversacional repousa sobre as modalidades da argumentação
que so~ente o pri~cípio de cooperação constitui um verdadeir~ postulado da persuasiva: confrontado com os fatos, o d~scurso deve acomodar os valores e
comunicação, quaisquer que sejam as línguas e as culturas envolvidas. Nesse crenças dos sujeitos envolvidos na comunicação.
nível, as cate~orias propo~tas por Grice seriam variantes do princípio de Os princfpios
cooperação CUJO emprego e, em última análise configurado por diferentes
formações culturais. ' A~ perspectivas ~a ret?rica ~a~ trocas verbais estão, antes de tud .
à consideração de pnncíp1os teonco-práticos a saber a 'd .. o, 1tgadas
sujeit?s fazem uso da realidade e dos valores~ cren a; 1 eia .que fazem os
2.3. C. Perelman: a alternativa retórica
para Justificarem seus propósitos e suas condutas: E~o~q~ais.e~es aderem
O contexto histórico
A reílexão de C. Pcrclman {1912-1984) foi desenvolvida após ~ segunda
Guerra Mundial, a partir do direito e da filosofia do direito. S~m ~úvida, pod:~
se observar nesse projeto uma marca da época: trata-se, pnnc1palmente,
--
n Perelman e Austin podem ser comparados não
l>Ost:ulados, mas também por essa referência com
rmperw retórico
li
··~
.lU • l f ( .1.m1lt• I '"'""' ,/,1 I mn111/u.1 As l t&ri111 J1rn,1,111ri titm • 2.lJ
v111 ins '". cq11ivnlc111cs gramaticais dos t:onc<.:torcs da lógica formal (conjunções falantes (em relação às restrições dialetais, sociodialetais e idioletais). Admitindo
t:nnnknati vas). quanto de pal av ras com conteúdo semântico di screto em princípio essas normas, elas podem tanto estar cm conformidade quanto
(i111e1:ki\·l·ks) n11. ni11da. elementos adverbiais susceptíveis de numerosos valores em desvio em relação a elas.
de emprego de um ponto de vistn pragmático (aliás, dedsivamente .. .). Esses O implícito. A teorização da dimensão implicita do sentido é uma das
dili:n:11 1es termos atual izam cm discurso um largo espectro de funções maiores conquistas da pragmática integrada. Pouco a pouco, a maquinaria do
arg11mc111ativ:is potenciais. A análise <.lo comportamento discursivo da conjunção sentido repertoria os diferentes aspectos do não-dito, principais condições da
mas ilustra muito clarnmentc o postulado <.la teoria da argumentação na língua. enunciação. Essa reflexão fundamental repousa, antes de tudo, sobre uma
Seja. por exemplo. E 1: O tempo está hom. A enunciação de E 1 permite concluir primeira crítica aos pressupostos da teoria da língua que a entende como um
(r) do tipo: vt1111os passear. O emprego de mas no início de um novo enunciado código:
E2 modilica a orientação argumentativa inicialmente definida pela enunciação Dizer que as línguas naturais são códigos, destinados à transmissão de
de EI: (E I) O tempo está hom mas (E2) meus pés doem. informação de um indivíduo a outro, é admitir, ao mesmo tempo, que todos os
Resulla dessa seqüência uma re-aval iação do tipo de conclusão inicialmente conteúdos expressos por elas são expressos de maneira explícita. [...]O que é
realizada. A partir das propriedades argumentativas que o caracterizam, mas dito no código é totalmente dito ou não é dito de maneira nenhuma. (Ducrot,
1972)
opera no discurso como um inversor. No lugar da impl icação: E 1--+ r (E2),
ocorre uma conclusão r' - inversa de r - que será tirada e tomada como A justificativa do recurso discursivo ao implícito, e, portanto, a sua
válida: (E I) O tempo está bom, mas (E2) meus pés doem: (portanto r') não constituição como objeto da linguística vem da importância que tem esse
vou caminhar. mecanismo de construção do sentido na atividade dos locutores:
As escalas argumentativas. Essa expressão designa os mecanismos de Bem freqüentemente, tem-se a necessidade de dizer certas coisas e de poder
escalaridade (isto é, de gradação) acionados pelos locutores para fazerem valer fazer como se não as tivesse dito, de dizê-las mas de maneira tal que se possa
um ponto de vista (Ducrot, 1982). Trata-se da elaboração de um dispositivo refutar a responsabilidade de tê-las dito. (ibid.)
argumentativo a partir do recurso aos dados do senso comum. Define-se uma Esse recurso está relacionado a dois tipos de razões. Primeiramente, uma
escala argumentativa como uma construção discursiva que visa a desenvolver razão cultural em virtude da qual certos limites éticos são impostos àquilo que
um julgamento de valor a partir de dois eixos normativos susceptíveis de variar. se pode dizer abertamente:
Por exemplo, Podemos caminhar muito quando o tempo está muito bom
articula duas escalas normativas (a norma quantitativa da caminhada, a norma É forçoso admitir o fato de que há, em todas as comunidades - mesmo na mais
qualitativa do clima), mobilizadas pelo locutor para relacionar dois domínios (a aparentemente liberais - um conjunto não negligenciável de tabus lingüísticos.
prática da caminhada, a situação climática): [...) o que importa, ~ntcs de tudo, para o nosso propósito, é que há temas
inteiros que são interditados e ~roteg1dos por uma espécie de lei de silêncio (h,
espécies de atividades, de sentimentos, de acontecimentos sobre os qua·s 1 ãª
Muito bom Muito se fala). Ainda mais, há para cada locutor, em cada situação particular d'fi
1 n °
Bom Longamente tipos de informações que ele n.ão tem o direito de dar não por ue ~I ere.ntes
Mau Pouco nelas mesmas, objetos de uma proibição, mas porque o'ato de dá~I as s.eJ~~·
Muito mau Nada uma atitude considerada como repreensível. (ibid.) as const1tuma
l relacionais".
·---~
2.l4 • As C randtJ 1torilJI da U~(Místira
/ fs ltorirll prt1//lltilir111 • 235
tipo de mformação define a categoria do subentendido. E necessário observar de realizar-se sob quatro formas tópicas, dando lugar s . susceptivel
que pressuposto e sub~nten?ido distinguem-se pela natureza de suas diferentes as~endente (+P, +Q) ou descendente (-P,-Q) seja a um 1 eJa .ª um topos
relaçõ~s: o subentendido, diferentemente do pressuposto resulta do sentido do CUJos predicados variam em sentido inverso· '(+P -Q) ( p opQ os discordante -
enunciado• ele não pode ser ·lll!en~ 'd '
o sem recorrer ao contexto. ·
Além disso, . ' ' - '+ ).
enquanto
. . . os. pressupostos são em numero
· ti101to
. os subentendidos
. A pragmática integrada constitui uma contr'b
não são a 1 .
priori, hm1tados Enfi ?
inteiramente do • · m, enqu~nto a economia pressuposicional depende
'
~lanos. Ela consagra a redefinição em ex te ã0uição fu~damental em dois
1ocutor a caractenza..:io d
o su enten 1 o e1xa a mteiramente
b d'd é d . d . . ~inguagem, abrindo especialmente a análise ns. . de Objetos da teori
inexplorado do implícito. Ela modifica pr~fu dsernanttca ao horizonte até a da
à apreciação do d t. 'á . Y"
o locutor pode ~!:~at ~to. Com e~eito'. f~ce à_interpretação de seu enunciado,
interpretação (l . azao ao ~de~tmatano (E isso mesmo) ou recusar sua dos níveis de análise lingüística. A esa n ~mentea compreensã . ~ntão
sso e 0 que voce dzz). Em suma, do ponto de vista enunciativo, (Benveniste, 1966), esse conceito des. r de amda limitado ao q odtrad1c1onal
•gna, antes de tudo . ua ro frástico
'os diferentes 1
Panos
•-'1·--
2J6 • AJ Grondu TrorioJ da 1 Jnjl,HIÍtirn As lt1ri111 pr111.t»tititn1 • 2J7
Essas reservas dizem respeito, por conseqüência, às principais teorizações . O argu'!'ento do. "saber par~ilh~do". Nesse ponto da discussão, Sperber-
da comunicação que foram construídos sobre a base do código: elas se dirigem, W1lson sublmham o nsco de uma Justificação do modelo do código por m ·10 d
· fimito":
· ' · fundado sob re a " regress ã o ao m
Um rac1ocm10 · e e
em primeiro lugar, à esquematização proposta por Jakobson, que constituiu
uma transposi.ção, no quadro da lingüística estrutural, da representação Para os defensores do modelo do código, o contexto utiliz d .
cibernética da informação (devida ao matemático Wiener). deveria, sempre, ser idêntico àquele pensado pelo loc t [a ]o por um ouvmte
o ouvinte vão distinguir as hipóteses que eles p ~·f~· ··· como o locutor e
começar, eles devem fazer hipóteses de segunda ~ 1 am das outras? Para
A concepção pragmática do código
primeira ordem que eles partilham· mas pa or. em sobre as hipóteses de
f'
hipóteses de segunda ordem, será n~cessá~·10 veri.fi~ar que partilham essa
A crítica desenvolvida por Sperber-Wilson não atinge, evidentemente, os e assim até o infinito. azer hipoteses de terceira orde~
melho':l~entos que foram feitos nesse esquema, inclusive em uma perspectiva Outras objeções são desenvolvidas· 1 . .
pragmatica.
8 Pensamos, principalmente, na reformulação feita por Kerbral • e as incidem · ·
( l 9 0), que propõe uma versão alternativa que consiste em acrescentar pnnc1palmente sobre o
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lJI ~J (;n111.tft 1 liotMt d.1 # J'f(NIJ/lul
/ lt /rnd,11 /•lllf/H.IJ/r,11 • .!.1?
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24Q • A1 Gmndn Ttoria1 do U111,11/11ir11
~ '""ª
verdade desse estado de coisas, nesse caso, diremos que a representação é
uma descrição, ou que ela é utilizada descritivamente. Ou, então, a representação
pode representar outra representação dotada, ela também, de uma forma
proposicional - um pensamento, por exemplo - em virtude de uma semelhança 111110 i11terprelafÕO de descrição de
entre as duas formas proposicionais; nesse caso, diremos que a primeira À
representação é uma interpretação da segunda, ou que ela é uti lizada
interpretativamente.
/""'
m pensamento: Um pensamento! Um estado de Um estado de
atribuído deseiável coisa real coisa desejável
Diante dos enunciados:
(!) Tome cuidado com animais venenosos A importância da pragmática cognitivista deve ser diversamente apreciada.
(2) Seus comentários são muito venenosos Ela consiste em caracterizar a pragmática como uma teoria da interpretação
do sentido dos enunciados, o que distingue esse domínio da lingüística. Mas
A busca de pertinência em (l) dá lugar a um uso descritivo (redundância pode-se objetar a essa dependência aquilo precisamente que ela reivindica dos
das convenções lingüísticas, tendo em conta o contexto cognitivo); quanto a outros, a saber, a involução representacionista da disciplina. Resulta disso um
(2), será a ocasião de um uso interpretativo desse mesmo princípio (excluindo retomo à concepção mentalista da linguagem, ela mesma fundada sobre uma
a literalidade do tenno venenosos). A concepção interpretativa da comunicação concepção a-histórica do contexto. Esta não é a menor das contradições para
aparece mais uma vez r~fonn~lada, a partir da consideração do ponto de vista uma teoria "pragmática".
do enunciador e do destinatário. Reencontramos, nessa tese, a particularidade
metodológica que consiste em tomar como objeto a expressão manifestada 2.6 A Escola de Palo AJto
(pública, segundo Wittgenstein): O espectro da pragmática cultural constituiu-se progressivamente. Mais
~orlemos ~izer que o locutor fornece por meio de seu enunciado uma expressão uma vez não há unidade de visões. Dif~rentes contribuições, nem sempre
mterpretauv~ de um de ~e~s pe~samentos, e que o ouvinte constrói, com base convergentes, participam do desenvolvimento desse domínio. De forma
nesse enunciado, uma h1potese interpretativa a partir da intenção informativa tendencial, a pragmática cultural se confunde com a semiótica76. Suas fontes
do locutor.
76 Com a lingüística, ponanto. A idéia, mesma, do projeto semiológico remonta a Saussurc, que
A questão que se coloca é a de saber qual tipo de pensamento represen!a lhe definiu brevemente o princípio no Curso de li11gflística Geral. Na França (com Barthcs cm
0 enunciado do locutor. A que os autores respondem que uma representaçao panicular, a panir dos anos 1960), como na Europa, os desenvolvimentos dessa disciplina
devem·se às teorizações feitas, do outro lado do Atlântico, por Pcircc c Morris. Em um 1cxto de
"pode ser utilizada descritivamente ou interpretativamente", precisando que 1969, retomado cm Problemas de li11giíís~'.ca _Gera~ ("Scmiologia da língua", 1974, p. 46-66),
"todo enunciado implica pelo menos duas relações: uma relação entre a fo~a Benveniste compara as duas empr~sas de dors gênios antitéticos" que são Saussurc e Pc ·
proposicional e um pensamento do locutor, e uma das quatro relações possíveis Fiel às orientaç~s d.o CLG, Be~vcn1stc construiu a semiologia a partir das observa ôcs se •u. ircc:
"A relação sem16t1ca entre sistema S!! enuncia então como uma rclaçã ç SISgT mtcs.
entre um pensamento e aquilo que esse pensamento representa". Essas INTERPRETANTE e SISTEMA INTERPRETE. É a relação uc nós e o enlrc EMA
diferentes possibilidades podem ser visualizadas no esquema a seguir (ibid, P· escala, entre os signos da llngua e aqueles da sociedade. A lingu~ , oloca~os, cm grande
347) sociedade." sera, então, o interpretante da
-
242 • As Grm1d11 Trori11.r dt1 1i1wiisliM
A I lroriaJ pr.iy/111ilitou • W
é desse segundo tipo, já que os protagonistas, a uma só vez sujeitos culturais e semântico tem como arquétipo "a antinomia do mentiroso''. isto é, aquela do
locutores, trocam com seu meio matéria, energia e informação. sujeito enunciando de si mesmo: "Eu sou mentiroso". A conclusão lógica desse
enunciado (E) é que E é verdadeiro se E não é verdadeiro e que E não é
A noção de sistema aberto. A interação humana apresenta as principais verdadeiro se E é verdadeiro. Contrariamente ao paradoxo lógico-matemático,
propriedades macroscópicas dos sistemas abertos. Entre essas, distinguiremos a dificuldade do paradoxo semântico deve-se ao fato de que uma língua natural
quatro. A propriedade de totalidade deriva do fato de que uma modificação não se apresenta como uma hierarquia de categorias discerníveis. Para "sair"
ocorrida sobre um dos elementos detona uma modificação de todos os outros da antinomia, é necessário produzir uma metalíngua capaz de descrever as
elementos, e, portanto, do sistema inteiro. Pode-se considerar que as três contradições que se alojam em um enunciado formulado no interior da língua.
propriedades seguintes, distintivas dos sistemas abertos, são r~sultantes de A partir da fórmula de Epimênedes, o Cretense, a distinção de níveis de língua
modalidades do traço de totalidade: a retroação (operação de efeito de retorno separados (principalmente de uma língua capaz de falar sobre a língua) permite,
(feedback), característica da dinâmica interacional77); a eqiiiflnalidade de fato, observar a presença de dois enunciados diferentes, mas encaixados,
(determinação exclusivamente devida à interação atual dos elementos no enunciado inicial: o primeiro pertence à língua de partida (língua-objeto), o
efetivamente presentes que justifica suas conseqüências); a estabilização (por segundo relaciona-se à metalíngua e afirma. em relação ao primeiro, que ele
definição, propriedade intrínseca dos sistemas abertos cuja dinâmica, à medida não é verdadeiro. A teoria dos tipos de Russell, no caso do paradoxo lógico, a
que as modificações são susceptiveis de intervir, persegue constantemente um teoria dos níveis de língua de Carnap e Tarski, no caso do paradoxo semântico,
princípio de equilíbrio). provam que as formulações antinômicas são desprovidas de sentido. A
perspectiva metalingüística permite estabelecer que as definições paradoxais
As bases da comunicação. A relação de comunicação não é transitiva, equivalem, em língua natural, à noção de pertencimento a si mesmo em lógica
no sentido de que um indivíduo comunicar-se-ia com um outro indivíduo. O matemática.
sujeito somente participa de uma comunicação, e para ela contribui , enquanto
um "elemento" de um todo. Os estudiosos de Palo Alto enfatizam, como O paradoxo pragmático. P. Watzlawick ( 1972) afirma que o estudo dos
geralmente ocorre nos domínios novos, o caráter ainda aproximativo de suas paradoxos esclarece melhor os objetivos da pragmática, a saber: analisar seus
teorizações. Uma invariante subsiste, entretanto, que pode ser entendida como efeitos práticos, suas incidências efeti vas que resultam da "definição
uma aquisição programática; trata-se de se dotar de uma teoria capaz de dar contraditória" de situações de vida muito variadas.
conta não somente da utilização dos signos pelos sujeitos (o que corresponde, Um caso emblemático de paradoxo é relatado pelo lógico H. Reichenbach
depois de Morris, à definição histórica da pragmática) mas dos efeitos da (ibid, p. 195): "em uma tropa militar, o barbeiro é um soldado a quem o capitão
interação sobre os sujeitos (o que constitui uma extensão do domínio da ordena que barbeie todos os soldados da companhia que não se barbeiem por
pragmática e, sem dúvida, um de seus principais objetos). Eles formulam assim si mesmos." E o lógico conclui que "o barbeiro da companhia, no sentido em
várias "propriedad~s" distintivas do processo de comunicação que podem se; que foi definido, não existe". Nesse caso, pouco importa se no sentido
tomados como axiomas no cálculo da interação humana (WATZLAWICK, estritamente semântico essa formulação seja um non sens. O que importa é a
1972, capítulo 12). situação contraditória em que seus termos mergulham o sujeito que a emprega.
Pode-se, assim, caracterizar o paradoxo pragmático como a realização prática
2.7 Figuras e usos do paradoxo de um paradoxo semântico.
Os teóric?s da Escola de Palo Alto estabeleceram a importância do uso
p~dox~l da lm~uage~ em .diferentes situações de comunicação. É conveniente As condições objetivas. Watzlawick ( 1972, p. 212-213) enumera os dados
d1sttngu1r, a partir da história da problemática três t' d d . 1• · organizadores de uma situação paradoxal: "duas ou mais pessoas estão engajadas
matemático· semânt' (d ti . . •. . ipos e para oxos. og1co- em uma relação intensa que tem um valor vital (tisico e/ou psicológico) para
.õ • d . ico e mição contrad1tona)· pragmático (inJºunções e
previs es para oxa1s) o p · • · d0 ', somente um deles ou para todos"; em um tal contexto, a mensagem é
origem, lembremos d~ cri n~cip~ paradoxo logico-ma.temático está na e:tniturada ~e maneira tal que: a) ela afirma qualquer coisa; b) ela afirma
• se os ndamentos das matemáticas. O paradoxo
q alquer coisa sobre sua própria afirmação, c) essas duas afirmações se
excluem As cons .. • . ló . . . - .
· é u equenc1as
. . ã . g1co-pragmat1cas • sao as seguintes: 1) se a
77 Dela resulta uma outra conceituação da relação interpessoal, ou seja, o questioname~~o ~o
mensagem .
rne ma InJunç o, e preciso obedece-la para obedecê-la; 2) se a
esquema egocêntrico (concepção espontânea dos sujeitos, para a qual o mundo da expenencia
do sujeito se agencia em tomo de cada um deles pelo fato de eles estarem no centro d~ uma
só ~!~~:m é uma.definição (de si ou de outra) o assunto definido pela mensagem
constelação) através do esquema da interdependência reciproca. Sobre esse ponto, cf. Elias. N. colocado~ d.efin1çã? ~~ não a valida. O receptor da mensagem é, finalmente,
Qu'esl que la sociologie? Paris: Pocket, 1991. ª 1mposs1b1ltdade de sair do quadro fixado por essa mensagem, seja
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Sapir E. 133
\Veisberger L. 19 ÍNDICE REl\IUSSIVO
\Vhitney \V. 7, 23, 35-41, 58
São Petersburgo (Círculo) 134
WhorfB. 19, 133
Saussure F. 25, 29, 57, 61 , 63, 126 ln t I\)(ht\'t'l'
Wilson D. 7, 236-239 7
Scherer W. 26
Wittgenstein L. 216
Schlegel A. W. 13
Wolf A. F. 14 Cupitulo l Agrauuiticn comparada
Schlegel F (von) 11-12 9
Wundt W. 19
Schleicher A. 11 , 19-25, 4 1, 55 1 As origens
Schleinnacher F. 212 9
1.1 A impulsão
Schmidt J. 23 9
1.2 Os precedentes
9
Schuchardt H. 85 1.3 O método comparntivo li
Schwob M. 45
Searle J.R. 222-224 2. O advento da disciplina 11
Séchehaye A. 63, 85 2.1 F. von Schlegel ( 1772- 1829) a idéia de gramática 12
Siviers E. 27 comparada
Sperber D. 7, 236-239 2.2 J. Grimm ( 1785- 1863): a idéia de lei fonética 13
Steinthal H. 18 2.3 R. Rask (1787-1832): a idéia de mudança lingüística 14
2.4 F. Bopp ( 1791- 1867): a idéia de organismo lingüístico 15
Tarde G. 33, 35, 4 1
3. \V. von Humboldt ( 1767-1835): a antropologia lingüística 16
Tesniere L. 90, 107, 113
3. 1 A fonnulação do projeto 16
Todorov T. 192
3.2 O contexto teórico 17
Tourtolon G 44
3.3 A fonna interna da linguagem 17
Troubetskoi N. 8, 116, 126 3.4 A influência de Humboldt 18
TurgotA. 10, 14
4. A. Schleicher ( 182 1-1868): a lingüística histórica 19
Van Dijk T.A. 193-195 4. 1 O fim do comparatismo
19
Vendryes J. 87 4.2 A hipótese indo-européia
20
Vemer K. 27 4.3 O estatuto das ciências da linguagem
21
VicoG.B. 34 4.4 A influência de Schleicher
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Viena (Círculo) 216 Bibliografia
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