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Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social

Departamento de Psicologia Clínica - IPUSP

A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: ENTRE O DIÁLOGO SILENCIOSO


DA SEXUALIDADE E O "ESCAMOTEAMENTO" DA VIOLÊNCIA.
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Edilaine Helena Scabello


Thiago de Almeida

Introdução.

A violência é usualmente compreendida como a ruptura de qualquer forma da integridade da vítima:


integridade física, integridade psíquica, integridade sexual, integridade moral (Saffioti, 2004, p. 17).
Na visão de MAY (1974), a violência, tal como a agressividade, relaciona-se com a necessidade de
poder do ser humano e seria um dos cinco níveis de poder exercido pelo mesmo. Logo, pode-se dizer
que até mesmo ao nascer o homem está exercendo poder: o poder de ser, que visa às necessidades
básicas de sobrevivência e, durante a sua existência teria necessidade de desempenhar o poder de
auto-afirmação, que visa à manutenção da auto-estima e o poder de auto-reconhecimento, que se
relaciona a percepção da própria capacidade e a auto-afirmação. Em contrapartida, a agressividade e
a violência seriam também, formas de poder, embora consideradas como um mau uso do poder. Para
MAY (1974), enquanto a agressividade surge como uma reação ao bloqueio do auto-
reconhecimento, a violência surge como uma “explosão”, quando os esforços para liberar a
agressividade se tornam ineficazes. Assim, a explosão da violência se apresenta como uma única
forma possível do ser humano se libertar de uma tensão intolerável e alcançar um sentido de
significação. Entretanto, MAY (1974) ressalta que, a violência pode surgir também como fruto da
impotência, como se as pessoas, ao serem violentas, manifestassem uma reação a esse sentimento;
um modo de regular a auto-estima e defender a própria imagem, isto é, alcançar uma necessidade
interpessoal positiva.
Embora a violência seja enquadrada como física (e nesse caso incluímos também a violência sexual)
e/ou verbal, podemos dizer que ela opera também no espaço do implícito, do não-dito, da
negligência e da omissão e que, ficam melhor evidenciados quando tratamos, por exemplo, de

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pessoas deficientes. Para este segmento da população mecanismos violentos tais como: a segregação
e o preconceito, a exclusão social, a estigmatização, a omissão e a negligência podem ser ainda mais
prejudiciais. Desse modo, podemos dizer que a violência vai além do ato ou do dito, mas ocupa o
espaço psíquico, social e interpessoal.
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Sendo assim, nosso foco de atenção, para este texto, dirige-se para um tipo particular de violência
praticamente invisível, mas que pode comprometer indelevemente as suas vítimas: a violência moral.
A violência moral é objeto de preocupação em outros locais do mundo e o termo mais usado para
definir esse problema é "bullying", que em inglês pode significar tirania, ameaça ou intimidação. No
Brasil, ainda não há uma palavra consensual quando nos referimos a esse fenômeno. Convencionou-
se adotar violência moral, termo este que é a adaptação do francês assédio moral. Esta manifestação
da violência se representa também por atitudes de exclusão, segregação, omissão, negligência,
preconceitos, que ocorrem por meio de ameaças físicas e psíquicas, extorquiações, opressões,
humilhações e insultos ou mesmo de forma velada. Mas, quando tratamos de pessoas deficientes, a
violência moral atribuída a elas é ainda mais otimizada, pois contribuem negativamente, e
freqüentemente de maneiras reiteradas, para gerar mal-estar psicológico para deficientes e seus
familiares e afetam a segurança, o rendimento e a frequência do desempenho escolar, bem como seu
desempenho para a vida. Isto sem falarmos que este tipo de violência pode acontecer dentro do
próprio lar.
Embora os avanços relativos à questão da inclusão social e os incentivos com educação e
reabilitação, muitos dos direitos de pessoas com deficiência lhes são retirados, de modos tão singelos
quanto árduos para essas pessoas. Principalmente em se tratando de deficientes intelectuais,
enquanto algumas pessoas acreditam que são seres “selvagens” ou hiperssexualizados outros não
reconhecem a sexualidade destes como uma parte integrante do ser, acreditando que são seres
“angelicais” ou assexuados.
Sendo assim, este texto objetiva apresentar algumas reflexões acerca da violência moral na qual o
deficiente intelectual é submetido, quando negado a ele o reconhecimento e a aceitação de um
aspecto fundamental de sua existência: a sua sexualidade. Desse modo, apresentamos a seguir
algumas reflexões que articulam a educação sexual de pessoas acometidas com deficiência
intelectual com a questão da violência moral.

Educação Sexual para Deficientes Intelectuais versus Violência Moral.

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Compreendemos como deficiência uma série de fenômenos que incapacitam a vida de uma pessoa
nas esferas biológica, psicológica e social. Quando há aspectos que dificultam ou impedem o
desenvolvimento do indivíduo na área cognitivo-intelectual denominamos a deficiência como
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“intelectual”; na área sensorial, denominamos como “deficiência auditiva” ou “deficiência visual”;
na área motora como “deficiência física” e quando duas ou mais áreas são afetadas, denominamos
como “deficiência múltipla”.
Ao longo da história pode-se acompanhar diferentes movimentos de extermínio, segregação,
alienação, descuido, protecionismo, omissões, paternalismo e reabilitação que as pessoas com algum
tipo de deficiência sofreram e têm sofrido. E, para além das definições elaboradas até então, das
classificações e das posturas frente às pessoas com deficiência que são constantemente construídas e
reconstruídas, tendo em vistas aspectos culturais e sociais, de cada determinada sociedade, pode se
identificar implicitamente arraigado o fenômeno da violência moral e outras categorias de agressão
contra a pessoa deficiente.
Em 1976, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu deficiência de acordo com as seguintes
nomenclaturas e seus significados, os quais foram traduzidos para o português em 1989: (1)
impairment (deficiência), que se refere a perda ou anormalidade de uma estrutura ou função do
organismo; (2) disability (incapacidade), que se refere à restrição de atividades em decorrência de
uma deficiência; (3) handicap (desvantagem), que se refere à condição social de prejuízo resultante
de deficiência e/ou incapacidade.
Assim como a violência, a deficiência pode ser entendida como um fenômeno multidimensional.
OMOTE (1994) chama a atenção que a deficiência deve ser vista de modo psicossocial, não como
uma doença, mas como um estado, um produto de acontecimentos diversos cujo impacto debilitante
será potencializado ou diminuído conforme o posicionamento da sociedade em relação a este
fenômeno. AMARAL (1996) ressalta que os termos “deficiência” e “incapacidade” se referem aos
aspectos intrínsecos ao indivíduo, enquanto que a “desvantagem” se refere aos aspectos extrínsecos a
eles, que seriam relativos e valorativos e, subdivide a deficiência como: deficiência primária
(deficiência e incapacidade) e; deficiência secundária (desvantagem).
Nesse sentido, podemos estabelecer uma relação entre a violência moral e a desvantagem, produzida
socialmente, e dizer que este tipo de violência quando direcionado as pessoas com deficiências, ou
mais especificamente, com deficiência intelectual, assume atitudes de descaso, descuido e

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negligência. Contudo, ALMEIDA e ASSUMPÇÃO JR. (2008) afirmam que, mesmo os


reconhecendo como seres humanos, as pessoas, geralmente, imaginam que estes não podem
refletirem acerca do seu próprio mundo interno ou mesmo da realidade que os cerca.
Conseqüentemente consideram que estes estejam alheios a algumas questões presentes no cotidiano
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das pessoas não-deficientes como a vivência da sexualidade, pois, para as famílias, ao menos na
esfera da fantasia, seu(sua) filho(a) acometido(a) por esta ou aquela deficiência é como uma eterna
criança, sem padrões de crítica e valores, que os descaracterizarão enquanto pessoas autônoma
(Almeida; Assumpção Jr, 2008).
De acordo com a visão de MAIA (2006) cultivamos no imaginário social a idéia de que uma pessoa
com algum tipo de deficiência é, com raras exceções, alguém dotada de desvantagens e de atributos
socialmente indesejáveis. Dessa forma, essa imagem construída a partir de uma audiência que julga e
classifica as diferenças já mencionadas serve para enclausurar mais ainda a pessoa com deficiência
dentro de suas limitações. Por exemplo, se segregamos as pessoas com deficiência de práticas
afetivo-sexuais, qual é o tipo de preparação que pensamos estar lhes direcionando?
Segundo GIAMI (2004), pode-se constatar que os pais e profissionais não percebem e nem
descrevem as manifestações da sexualidade dos acometidos por este tipo de deficiência da mesma
forma, nem com a mesma intensidade emocional subjacente. De acordo com Maia (2001) “É
inegável que a sexualidade é inerente a todas as pessoas e que o exercício da sexualidade independe
em sua manifestação da presença ou ausência de deficiências” (p. 38). No entanto, na vida cotidiana,
observa-se a falta de uma orientação afetivo-sexual adequada pelas políticas inclusionistas estatais,
mas também pelos cuidadores das pessoas acometidas pelas mais diversas manifestações da
deficiência. De acordo com Glat & Freitas (1996):

Cria-se então uma situação deveras complicada, pois os familiares e profissionais, por princípio,
ignoram a sexualidade de seus filhos, alunos ou clientes deficientes, e, conseqüentemente, não lhes
prestam nenhum tipo de orientação a respeito. Depois, se surpreendem quando os pegam
sexualmente excitados, e atribuem seu comportamento ‘inapropriado’ à sua patologia clínica (p.15).

Dessa forma, a sociedade, freqüentemente, classifica os deficientes como pessoas assexuadas e até
mesmo andróginas. Então, quando tratamos da sexualidade e a vivência do amor para os deficientes,
estas manifestações encontram resistências, tornando-se incompatíveis, pois, para muitas pessoas,

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estes não possuem sexualidade. Em decorrência dessas expectativas negativas acerca do


comportamento dos deficientes, imaginam que as inevitáveis manifestações da sexualidade na
adolescência dos mesmos serão catastróficas e incontroláveis (ALMEIDA; ASSUMPÇÃO JR,
2008).
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O termo “deficiência intelectual” foi cunhado em 1995, no Simpósio intitulado: Intelectual
disability: programs, policies and plannning for the future, quando a Organização Mundial da Saúde
(OMS) sugere a substituição do termo “deficiência mental” por “deficiência intelectual”. Entretanto,
o termo foi consagrado no documento com o título: "Declaração de Montreal sobre deficiência
intelectual” apenas em 2004, em Montreal, no Canadá, em evento realizado pela OMS e pela
Organização Pan-Americana da Saúde. Esta alteração tem por objetivo diferenciar mais claramente a
“deficiência mental” do “transtorno mental” (a qual se refere a quadros psiquiátricos que não são
necessariamente associados a déficits intelectuais), tendo em vista o fato do termo “intelectual” se
referir especificamente ao funcionamento cognitivo do intelecto e não ao funcionamento da mente
como um todo e, desse modo, distingue melhor estes dois fenômenos que têm gerado confusão ao
longo de anos.
Entretanto, é interessante assinalarmos que, de acordo com MENDES (1995), o estudo científico da
“deficiência mental”, teria surgido no início do século XIX, em 1818, justamente quando Esquirol,
um médico francês, definiu a condição denominada por ele como idiotia ou amência (deficiência
mental ou intelectual) e a diferenciou de demência (doença ou transtorno mental). Desde então, uma
série de nomenclaturas e seus significados tem sido atribuídos, de tempos em tempos, aos fenômenos
que acarretam uma deficiência cognitiva-intelectual, levando-se em consideração níveis de déficits
ou atrasos diferenciados entre os indivíduos. Atualmente a antifa idiotia é reconhecida de acordo
com os manuais diagnósticos mais atuais enquanto retardo mental.
De acordo com a APA(2002), o fenômeno do retardo mental, em nosso texto tratado como
deficiência intelectual, pode ser definido como um funcionamento intelectual significantemente
inferior à média, com início antes dos 18 anos de idade e acompanhado de limitações significativas
no funcionamento adaptativo de pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, auto-cuidado,
vida doméstica, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança.
Essas limitações, longe de influenciar apenas no funcionamento da inteligência do indivíduo,
implicam na funcionalidade de outros aspectos da vida humana ou de habilidades para: o
conhecimento prático, social, conceitual e afetivo, bem como para o próprio desenvolvimento da

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personalidade. Desse modo, podemos dizer que uma pessoa com “deficiência intelectual” possui um
desenvolvimento atípico, isto é, de modo diferente e desigual em relação a outras pessoas de sua
mesma faixa etária ou nível sócio-cultural.
Entretanto, não se considera que a sexualidade bem como as manifestações desta em pessoas
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acometidas pela deficiência intelectual seja comprometida, bem como inexistem estudos que tratem
desse tema. Logo, podemos pensar que a sexualidade, conceito este amplo que engloba, além do
sexo, os sentimentos, afetos, concepções de gênero, entre outras manifestações relacionadas, que
correspondem a diferentes formas de expressão humana e envolvem representações mentais,
emoções, desejos, erotismo, sentimentos de afeição e amor, entre outros aspectos, não seja afetada
pelos efeitos do quadro clínico “retardo mental”.
Todos nós, deficientes ou não, estamos sujeitos a sofrer discriminação, pois ela é predominante na
nossa sociedade, mas a condição da deficiência multiplica a discriminação. Se a questão da
sexualidade freqüentemente é tratada enquanto um tabu em nossa sociedade, esse assunto ainda se
polemiza mais quando discutimos as manifestações da sexualidade em pessoas com deficiência.
A sexualidade pressupõe também, formas de pensar, sentir e agir, pertencentes ao ser humano, a
forma de se perceber no mundo, de ver o mundo e de interagir com outros homens e mulheres
(BECKER, 1984; WÜSTHOF, 1994). Ainda que seja socialmente convencionada derivada de um
impulso, na verdade, a sexualidade trata-se de um processo dinâmico de aproximação e assim:
“reconhecer o significado de estados internos, organizar a seqüência dos atos especificadamente
sexuais, decodificar situações, estabelecer limites nas respostas sexuais e vincular significados de
aspectos não sexuais da vida para a experiência sexual propriamente dita” (Gagnon & Simon,
1973/2005, p.13).
Entretanto, de acordo com Scabello, Santos, Profida, Freitas e Galati (no prelo), quando os conceitos
de deficiência e sexualidade aparem interligados, instigam-se uma série de preconceitos, dúvidas e
estigmas frente à sexualidade destas pessoas. Nas palavras de MAIA (2001), é claro que, as questões
relacionadas ao desenvolvimento sexual podem estar prejudicadas nas pessoas com deficiência, mas
podem também trazer dificuldades a seus pais ou responsáveis, que esperam que a escola, quanto a
instituição onde estes passem talvez a maior parte do dia, dê conta de fornecer uma educação sexual
adequada a seus filhos, esquecendo que seus filhos, crianças, adolescentes ou adultos deficientes,
têm anseios e sentimentos sexuais próprios.

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Desse modo, as percepções dos não-deficientes (educadores, pesquisadores e outros profissionais


que lidam cotidianamente com a questão da deficiência; pais e/ou familiares) que lidam
cotidianamente com as questões concernentes à deficiência e a sexualidade de seus filhos/educandos,
estariam demarcando, o próprio modo destes de compreenderem, lidarem, orientarem e promoverem
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a educação sexual para essas pessoas. Nesse cenário, quando há a segregação ou a exclusão social do
deficiente, a negação de seus direitos, a negligência ou a “falta” (ausência de sentidos simbólicos)
frente à sua educação sexual e as questões de sua sexualidade, a violência moral irrompe de modos
desconcertantes. Assim, a omissão das pessoas não-deficientes frente à sexualidade das pessoas
deficientes encerra atitudes de descaso, descuido e de negligência. O que se percebe, então, é que a
escassez de informações sobre os processos inerentes à deficiência tem auxiliado a manutenção de
preconceitos e, conseqüentemente, trouxe muitas estagnações das atividades afetivo-relacionais das
pessoas com tais características, sobretudo, ao se considerar às imposições de seus cuidadores
(ALMEIDA; ASSUMPÇÃO JR., 2008). Além disso, a compreensão que sexualidade e sexo sejam a
mesma coisa contribui para a segregação do deficiente de seus pares, em qualquer contexto público,
quando não, no próprio lar.
Muitas interpretações errôneas sobre a sexualidade dos deficientes intelectuais são assinaladas, a
todo o momento, por aqueles que lidam diretamente ou indiretamente com eles. É muito comum que
um(a) adolescente que tenha um atraso cognitivo-intelectual que lhe “classifique” como alguém que
tem um pensamento tal como uma criança de cinco anos de idade, por exemplo, possa manifestar
curiosidades sexuais, que seriam próprias desta faixa etária (tais como tocar o próprio genital ou ter
curiosidade em ver o genital do(a) colega). A distância entre a percepção do adulto do
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e os comportamentos infantis do deficiente
intelectual faz com que o adolescente deficiente se torne uma “aberração”. E assim, é estigmatizado
como “pervertido”, “descontrolado”, entre outros termos.
Paradoxalmente vive-se numa sociedade que valoriza a liberdade individual, a liberação sexual, o
gosto pelo efêmero e pelo quantitativo, a aceleração dos ritmos, a busca da qualidade no agora e a
valorização do individual sobre o coletivo, mas ainda estamos convivendo num universo de
marginalização e de segregação.
Embora as diferenças individuais sejam valorizadas e se busque respeitar a diversidade, a sociedade
atual exalta, em contrapartida, os valores hedonistas, competitivos, hiperativos e hiperconsumistas.
Nesse cenário, os deficientes estão de um lado, ganhando visibilidade por meio do investimento em

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propostas educativas, reabilitação e inserção dos mesmos no mercado de trabalho. Por outro lado, ao
mesmo tempo em que são incluídos, estão a todo momento colocando-se à prova, pois, ainda se
enfatiza muito o que lhes “falta” e que, talvez, manifeste-se seja na lentidão dos movimentos, na
dificuldade de suas operações intelectuais, enfim, na não legitimação de suas potencialidades. Num
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universo em que a ordem é a auto-superação, o poder do silêncio e da omissão entrem em cena. Em
outras palavras, muitas vezes, embora não seja dito ao deficiente que lhe falta competência, as
atitudes para com ele servem como expressão deste valor. Nesse sentido, quando se valoriza as
dificuldades e as limitações do deficiente, ao invés de focalizar os seus avanços, as suas
possibilidades, a sua competência, contribui-se para uma violência sob a auto-estima, e assim, gera-
se sentimentos de impotência, de menos-valia e de inferioridade que tem, como conseqüência,
sentimentos de solidão, rejeição, evitação e isolamento.
Apropriando-nos das idéias de MAY (1974) podemos dizer que, quando a violência assume a
qualidade dessa sutileza ímpar, expressa no ocultamento ou na distorção da verdade; na falta de
informação, de orientação e de educação sexual e; na negação do direito humano, no que tange as
questões da sexualidade de pessoas com deficiência; ela estaria manifestando justamente uma
tentativa possível do ser humano de lidar com tensões internas, tão intoleráveis quanto inalcançáveis
de significação. Isto quer dizer que, ao se lidar com a sexualidade de pessoas deficientes, o ser
humano se defronta com a vivência de sua própria sexualidade, com os mitos e tabus inerentes ao
seu próprio processo de educação e da vivência dos mais diferentes aspectos de sua sexualidade e,
com seus próprios conflitos internos e interpessoais. Nesse sentido, lidar com a sexualidade do outro
é, revisar os próprios desejos, preconceitos e estereótipos. Desse modo, justamente na
impossibilidade de lidar com os próprios conflitos nessa esfera, o mais fácil é negá-los no outro,
ignorá-los.
Ao retomarmos o conceito de “desvantagem”, pode-se conjeturar este estaria ainda, de acordo com
AMARAL (1996), relacionado às peculiaridades intrapsíquicas, às contingências sociais, às
especificidades sócio-econômico-culturais (políticas e ideologias) e, em conseqüência, a um
conjunto de ações e reações que temos frente às pessoas que apresentam alguma deficiência e
incapacidade. A “desvantagem” estaria, pois, relacionada ao prejuízo, ao desvio, ao estigma
pertencente à sociedade em que o indivíduo vive.
Sendo assim, como nossa sociedade ainda compreende a deficiência como uma diferença que
representa desvantagens sociais e, neste sentido, costuma-se generalizar as limitações impostas por

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ela a vários aspectos da vida, inclui-se dentre eles, a sexualidade. De acordo com Scabello et al. (no
prelo), tal como a deficiência, a sexualidade implica numa construção sócio-cultural-histórica, pois
não envolve apenas os aspectos biológicos e psicológicos do indivíduo, mas uma reconstrução social
e conceitual que ocorre ao longo dos tempos. Esta reconstrução se pauta visão de mundo e
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conseqüentes posturas que o ser humano tem frente aos aspectos que envolvem a sexualidade. Ainda
segundo estas autoras, o modo pelo qual o indivíduo com atraso cognitivo-intelectual decodifica os
valores e a regras sociais frente aos comportamentos sexuais é distinto do modo como uma pessoa
não deficiente os compreende e os assimila. Além disso, uma criança pode ser prejudicada em seu
desenvolvimento afetivo-sexual quando, ao apresentar incapacidade para se alimentar ou se vincular
à figura materna (tendo em vista que em algumas deficiências, a interação mãe-bebê é prejudicada
por internações que a afastariam da mãe, ou por uma incapacidade da criança de sugar o leite
materno, por exemplo), ela se afasta ou é afastada da mãe. Crianças mais velhas também estariam
sendo prejudicadas quando, atitudes de superproteção dos pais, que procuram mantê-las
exclusivamente sob seus cuidados ou de rejeição do meio familiar, estariam segregando estas
crianças do meio social. Inclusive, atitudes como essas, podem dificultar ao deficiente a
identificação com modelos do mesmo sexo.
De acordo com Scabello et al. (no prelo), a sexualidade nas pessoas com deficiência envolveria
também questões como a higiene pessoal e o controle dos esfíncteres; as alterações hormonais,
anatômicas e fisiológicas; o exibicionismo, os jogos ou brincadeiras sexuais; o namoro, a
afetividade, o prazer, a consciência genital, a identificação de gênero e a orientação afetiva e sexual;
o abuso sexual, entre muitos outros aspectos.
Mas, como já dissemos, muitos mitos, são associados à sexualidade do deficiente, ou mais
especificamente, deficiente intelectual. A idéia de que o deficiente é assexuado, por exemplo, estaria,
segundo MAIA (2007), reforçando o estigma da “eterna criança” e parece explicar a necessidade das
pessoas em mantê-lo como dependentes, infantis e imaturos, dificultando o desenvolvimento afetivo
dos mesmos. Essa idéia acabaria por distorcer que as reais necessidades do indivíduo, alimentando a
sua dependência e insegurança, bem como a sua “neutralidade” frente às questões sexuais.
Acreditamos que muitos desses mitos são refratários à mudança pela falta de discussão a respeito
dos conceitos e situações diversas implicadas no mesmo. Por exemplo, autores como GIAMI;
D’ALLONES (1984) acreditam que a sociedade que interage com os deficientes dicotomiza e
maniqueíza as concepções acerca da sexualidade para os deficientes. DENARI (1997) discute a

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respeito dessa polarização que se cria ao se tratar da sexualidade do deficiente, e especialmente o


que está na fase da adolescência: ou ele é considerado ser hiperssexualidado ou assexuado.
Scabello et al. (no prelo) apontam para uma questão importante, a de que, embora o
desenvolvimento orgânico e fisiológico de uma pessoa com atraso intelectual ser o mesmo de uma
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outra pessoa não-deficiente, a pessoa deficiente, tendo em vista o seu atraso no desenvolvimento
nem sempre teria condições ou necessidades de se relacionar “genitalmente” com uma outra pessoa
(deficiente ou não).
Entretanto, embora o deficiente possa não ter necessidades físicas ou psíquicas para excercer o ato
sexual, ele pode ser uma presa fácil para a violência sexual (abuso de mais diversos tipos). Para
Scabello et al. (no prelo), por um lado, o deficiente pode ser uma “presa” fácil quando ele não se
comunica verbalmente ou, ainda, quando o seu dito é desvalorizado ou ignorado tendo em vista o
seu atraso intelectual.Por outro lado, existem deficientes intelectuais que compreendem sobre e
exercer conscientemente o ato sexual. Por isto mesmo, podemos perguntar por que será que o sexo
tende a ser visto de uma maneira impudente e por que a sexualidade deve estar atrelada a essa
concepção de sexo, sendo conseqüentemente proibida e controlada? Há que se ressaltar que quando
a sexualidade é ignorada, ou ainda negada, e isso contribui para o surgimento de comportamentos
sexuais inadequados (ASSUMPÇÃO JR.; SPROVIERI, 1993; MAIA, 2006), tal como a
infantilização e conseqüente dificuldade do deficiente para estabelecer outros relacionamentos que
não somente com seus pais e/ou cuidadores.
Nesse sentido, seria mais razoável orientar e não interditar esse processo presente e, em andamento.
No entanto, pensam os pais e cuidadores: como é possível sentirem falta de algo que eles não
conhecem, e que talvez nunca lhe venha a pertencer? Contudo, é sabido, que mesmo à revelia da
própria vontade e mesmo para as pessoas sem tais condições, os sentimentos e os desejos bailam
diante de nós e com eles muitas vezes caímos na emboscada dos afetos e, atordoados, tornamo-nos
cativos de nós mesmos.
Há que se levar em conta também que os deficientes são ainda afetados pelas inúmeras repressões
por parte de pais e professores evitando o seu acesso e a possibilidade de expressão de afeto e
vínculo emocional. Similarmente, como muitas práticas afetivo-sexuais são ditadas por seus
cuidadores, não se permite que, um deficiente intelectual expresse socialmente suas manifestações
amorosas, ou ainda, quando as expressa, não são levadas em consideração. Então, a sexualidade das
pessoas acometidas pelas diferentes expressões da deficiência, com todas as suas particularidades e

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possíveis limitações, não parece estar na deficiência em si, mas no conjunto de desinformações,
preconceitos, tabus sociais e de nossos próprios limites na área sexual (DENARI, 1992; 1998;
FRANÇA RIBEIRO, 1995; SCABELLO et al., no prelo).
Então, a exemplo de relacionamentos amorosos para pessoas de idade avançada, a sociedade não
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concebe, constantemente, que os deficientes intelectuais entrem nesse domínio praticamente
exclusivo das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e fisicamente atraentes (pelo menos como
representação social). Assim, de forma violenta, ainda que escamoteada, lhes é negada a
possibilidade de amar e manifestarem sua sexualidade. O adulto, geralmente, pensa pelo deficiente e
quando não pode agir por ele, acaba por lhe negar também à ação.
Retomando Scabello et al. (2008), seriam as nossas próprias atitudes (e dificuldades) frente à
vivência da própria sexualidade que, incorporadas a uma série de mitos, preconceitos, dúvidas,
omissões e constrangimentos, e refletidas até mesmo no despreparo (inclusive dos profissionais
especializados) ao abordar ou tratar dessa temática. Diante de suas próprias dificuldades nessa
esfera, profissionais e pais estariam, muitas vezes, ao pensarem que não são capazes ou aptos para
realizar uma orientação sexual pertinente, a edificar o que chamamos de “a orientação do silêncio”.
A sexualidade de pessoas com deficiência, até bem pouco tempo, era tratada com a política do "avis
struthio", termo originalmente pensado por Amaral (1994), em alusão ao avestruz: se eu não vejo,
não existe e, portanto, não vamos falar sobre isso E, compreendemos que, tal tipo de “orientação”
pode ser de fato uma espécie de violência moral.
É interessante observarmos como pais e demais agentes educacionais apresentam as mesmas
dificuldades referentes à convivência e a educação de aspectos da sexualidade de seus deficientes,
pois ainda se encontra em algumas famílias e profissionais a idéia, errônea, de que a sexualidade das
pessoas com deficiência é intrinsecamente problemática, quando não patológica (ora exibicionista e
desregrada, ora sexualmente infantil, além de inapropriada, quando as manifestações sexuais
ocorrem de modo e, em local, diferentes dos habituais) e acima de tudo prevalece um grande
despreparo diante de sua manifestação no quotidiano (França Ribeiro, 1995; Glat & Freitas, 1996).
Assim, os receios, o despreparo dos profissionais que lidam com esta população e as dificuldades no
trato da sexualidade de seus filhos e alunos são expressos pelos pais por meio do silêncio, da
repressão de sua manifestação e mesmo da infantilização do comportamento dos adolescentes e
adultos acometidos pela deficiência. Isto que dizer que, ou se “finge” que não se viu uma conduta
inapropriada ou se reprime sem orientá-la adequadamente.

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Sem dúvidas, em um ambiente de educação especial é necessário, que os profissionais sejam


treinados para lidar especificamente com a deficiente intelectual, compreendendo que esta não é um
aspecto à parte do indivíduo, bem como com a própria educação sexual. A intervenção deve ser a
mais intensiva e precoce possível, realizada por equipe interdisciplinar que inclua psiquiatra da
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infância e adolescência, psicólogo, neurologista ou neurologista infantil, pediatra, professor,
psicopedagogo, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, dentre outros.
Infelizmente, no Brasil, o deficiente e suas necessidades ainda são freqüentemente ignorados, posto
que a evolução da sociedade não foi suficiente para afastar a exclusão e as dificuldades
experimentadas. Dessa forma, se faz necessário estabelecer por meio de lei e demais programas,
regras que possam favorecer a eqüidade entre as pessoas, deficientes ou não.
Quer tratemos de educandos com deficiência ou não, a educação sexual, de modo geral, é um dos
grandes problemas dos pais e professores, bem como dos demais profissionais da educação e saúde
que tratam do deficiente, tendo em vista que a sexualidade, como manifestação do ser não escolhe
horário ou local para aparecer. Atualmente, a educação sexual no Brasil pode ser dada pelos
professores, mas se torna necessário que, além dos conhecimentos científicos relacionados à
reprodução, as questões vinculadas ao comportamento sexual, individual e social sejam debatidas e
analisadas. Esse sistema de educação sexual e afetiva possibilitará aos educadores e educandos
melhor entendimento de suas características psicossexuais. No entanto, a educação sexual, em
particular, tanto nas escolas, quanto nos lares, ainda é precária. De acordo com Castro (2004) a
sexualidade, no ambiente escolar, é tópico polêmico, considerando a multiplicidade de visões,
crenças e valores dos diversos atores (alunos, pais, professores e diretores, entre outros), assim como
os tabus e interditos que social e historicamente cercam temas que lhe são associados.

Há os que pensam que a introdução plena e generalizada da educação sexual nas escolas causaria
abalos em todo o sistema e criaria polêmicas entre educadores. Isso poderia ocorrer se a educação
sexual, nas escolas, visasse tão somente à massificação de informações, sem abordar o conteúdo
ético de comportamento e respeito à individualidade e à integridade humana. No entanto, a educação
sexual promove o amadurecimento sem traumas, sem violências, sem abortos, sem doenças
sexualmente transmissíveis, sem tabus, sem medos, sem preconceitos ou conflitos existenciais. Evita
ainda as conseqüências perigosas e indesejáveis dos atos sexuais praticados sem nenhuma
responsabilidade. Essas práticas podem ser evitadas ou diminuídas através da orientação sexual.

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Scabello et al. (2008) assinalam que é necessário ensinar ao deficiente sobre a privatização de
algumas práticas sexuais e auxiliá-lo na decodificação do que é permitido e do que é proibido em
nossa sociedade, quanto aos comportamentos sexuais, levando-se em consideração o seu ritmo e as
suas possibilidades de compreensão. Além disso, acreditam que na educação sexual deva haver
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clareza e insistência ou repetição de instruções e orientações oferecidas aos adolescentes. Mas, para
além disto, as autoras pontuam que a tarefa de trabalhar com a sexualidade de crianças e jovens com
“deficiência mental” é trabalhar subjetividades distintas, não por apresentarem uma deficiência, mas
por cada um de nós sermos um ser individualizado e que envolve a revisão dos próprios
preconceitos sobre a díade: sexualidade e deficiência. Trabalho que envolve pais, profissionais,
familiares, deficientes e a comunidade como um todo.

Considerações Finais.

Freqüentemente nos esquecemos que a “sexualidade se manifesta em qualquer pessoa com


deficiência, já que é prevalecente a sua condição de ser humano, a quem a sexualidade é inerente”
(Maia, 2001, p. 40). Dessa forma, o exercício positivo da sexualidade para pessoas acometidas por
alguma deficiência depende de toda uma estruturação de esquemas educacionais que favoreçam
condições adequadas para sua manifestação, pois com relação à dimensão erótica e sexual nada há
que o diferencie das pessoas ditas normais ou não deficientes. Ainda assim, o preconceito e o
descaso em relação a uma orientação apropriada e a compreensão das diversas manifestações
afetivo-sexuais do deficiente, e especialmente do deficiente mental, reforçam consideravelmente esta
problemática.
Certamente, muito da inabilidade dos pais e agentes educacionais frente às questões sexuais de seus
familiares e educandos deficientes reside em dois aspectos: por um lado no fato da sexualidade do
deficiente ser permeada de mitos e idéias distorcidas e por outro lado, no fato do professor sentir-se
despreparado com relação às questões da sexualidade humana, tanto no que se refere às informações
básicas quanto ao trato social de sua manifestação. E, em decorrência de uma educação pautada no
silêncio, tanto de pais, bem como dos demais agentes educadores que convivem com os deficientes,
em geral, as expressões do deficiente são consideradas como inadequadas. Talvez, então, boa
parte dos conflitos existentes entre esses dois mundos, pode estar relacionada à falta de informação.
Dessa forma, diversos são os desafios para pessoas com algum tipo de deficiência para o exercício

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positivo de suas sexualidades, além da questão de uma comorbidade orgânico-cognitiva e do


preconceito social a ela atrelado (Almeida, 2008).

Referências Página | 524

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