Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Introdução.
pessoas deficientes. Para este segmento da população mecanismos violentos tais como: a segregação
e o preconceito, a exclusão social, a estigmatização, a omissão e a negligência podem ser ainda mais
prejudiciais. Desse modo, podemos dizer que a violência vai além do ato ou do dito, mas ocupa o
espaço psíquico, social e interpessoal.
Página | 512
Sendo assim, nosso foco de atenção, para este texto, dirige-se para um tipo particular de violência
praticamente invisível, mas que pode comprometer indelevemente as suas vítimas: a violência moral.
A violência moral é objeto de preocupação em outros locais do mundo e o termo mais usado para
definir esse problema é "bullying", que em inglês pode significar tirania, ameaça ou intimidação. No
Brasil, ainda não há uma palavra consensual quando nos referimos a esse fenômeno. Convencionou-
se adotar violência moral, termo este que é a adaptação do francês assédio moral. Esta manifestação
da violência se representa também por atitudes de exclusão, segregação, omissão, negligência,
preconceitos, que ocorrem por meio de ameaças físicas e psíquicas, extorquiações, opressões,
humilhações e insultos ou mesmo de forma velada. Mas, quando tratamos de pessoas deficientes, a
violência moral atribuída a elas é ainda mais otimizada, pois contribuem negativamente, e
freqüentemente de maneiras reiteradas, para gerar mal-estar psicológico para deficientes e seus
familiares e afetam a segurança, o rendimento e a frequência do desempenho escolar, bem como seu
desempenho para a vida. Isto sem falarmos que este tipo de violência pode acontecer dentro do
próprio lar.
Embora os avanços relativos à questão da inclusão social e os incentivos com educação e
reabilitação, muitos dos direitos de pessoas com deficiência lhes são retirados, de modos tão singelos
quanto árduos para essas pessoas. Principalmente em se tratando de deficientes intelectuais,
enquanto algumas pessoas acreditam que são seres selvagens ou hiperssexualizados outros não
reconhecem a sexualidade destes como uma parte integrante do ser, acreditando que são seres
angelicais ou assexuados.
Sendo assim, este texto objetiva apresentar algumas reflexões acerca da violência moral na qual o
deficiente intelectual é submetido, quando negado a ele o reconhecimento e a aceitação de um
aspecto fundamental de sua existência: a sua sexualidade. Desse modo, apresentamos a seguir
algumas reflexões que articulam a educação sexual de pessoas acometidas com deficiência
intelectual com a questão da violência moral.
Compreendemos como deficiência uma série de fenômenos que incapacitam a vida de uma pessoa
nas esferas biológica, psicológica e social. Quando há aspectos que dificultam ou impedem o
desenvolvimento do indivíduo na área cognitivo-intelectual denominamos a deficiência como
Página | 513
intelectual; na área sensorial, denominamos como deficiência auditiva ou deficiência visual;
na área motora como deficiência física e quando duas ou mais áreas são afetadas, denominamos
como deficiência múltipla.
Ao longo da história pode-se acompanhar diferentes movimentos de extermínio, segregação,
alienação, descuido, protecionismo, omissões, paternalismo e reabilitação que as pessoas com algum
tipo de deficiência sofreram e têm sofrido. E, para além das definições elaboradas até então, das
classificações e das posturas frente às pessoas com deficiência que são constantemente construídas e
reconstruídas, tendo em vistas aspectos culturais e sociais, de cada determinada sociedade, pode se
identificar implicitamente arraigado o fenômeno da violência moral e outras categorias de agressão
contra a pessoa deficiente.
Em 1976, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu deficiência de acordo com as seguintes
nomenclaturas e seus significados, os quais foram traduzidos para o português em 1989: (1)
impairment (deficiência), que se refere a perda ou anormalidade de uma estrutura ou função do
organismo; (2) disability (incapacidade), que se refere à restrição de atividades em decorrência de
uma deficiência; (3) handicap (desvantagem), que se refere à condição social de prejuízo resultante
de deficiência e/ou incapacidade.
Assim como a violência, a deficiência pode ser entendida como um fenômeno multidimensional.
OMOTE (1994) chama a atenção que a deficiência deve ser vista de modo psicossocial, não como
uma doença, mas como um estado, um produto de acontecimentos diversos cujo impacto debilitante
será potencializado ou diminuído conforme o posicionamento da sociedade em relação a este
fenômeno. AMARAL (1996) ressalta que os termos deficiência e incapacidade se referem aos
aspectos intrínsecos ao indivíduo, enquanto que a desvantagem se refere aos aspectos extrínsecos a
eles, que seriam relativos e valorativos e, subdivide a deficiência como: deficiência primária
(deficiência e incapacidade) e; deficiência secundária (desvantagem).
Nesse sentido, podemos estabelecer uma relação entre a violência moral e a desvantagem, produzida
socialmente, e dizer que este tipo de violência quando direcionado as pessoas com deficiências, ou
mais especificamente, com deficiência intelectual, assume atitudes de descaso, descuido e
Cria-se então uma situação deveras complicada, pois os familiares e profissionais, por princípio,
ignoram a sexualidade de seus filhos, alunos ou clientes deficientes, e, conseqüentemente, não lhes
prestam nenhum tipo de orientação a respeito. Depois, se surpreendem quando os pegam
sexualmente excitados, e atribuem seu comportamento inapropriado à sua patologia clínica (p.15).
Dessa forma, a sociedade, freqüentemente, classifica os deficientes como pessoas assexuadas e até
mesmo andróginas. Então, quando tratamos da sexualidade e a vivência do amor para os deficientes,
estas manifestações encontram resistências, tornando-se incompatíveis, pois, para muitas pessoas,
personalidade. Desse modo, podemos dizer que uma pessoa com deficiência intelectual possui um
desenvolvimento atípico, isto é, de modo diferente e desigual em relação a outras pessoas de sua
mesma faixa etária ou nível sócio-cultural.
Entretanto, não se considera que a sexualidade bem como as manifestações desta em pessoas
Página | 516
acometidas pela deficiência intelectual seja comprometida, bem como inexistem estudos que tratem
desse tema. Logo, podemos pensar que a sexualidade, conceito este amplo que engloba, além do
sexo, os sentimentos, afetos, concepções de gênero, entre outras manifestações relacionadas, que
correspondem a diferentes formas de expressão humana e envolvem representações mentais,
emoções, desejos, erotismo, sentimentos de afeição e amor, entre outros aspectos, não seja afetada
pelos efeitos do quadro clínico retardo mental.
Todos nós, deficientes ou não, estamos sujeitos a sofrer discriminação, pois ela é predominante na
nossa sociedade, mas a condição da deficiência multiplica a discriminação. Se a questão da
sexualidade freqüentemente é tratada enquanto um tabu em nossa sociedade, esse assunto ainda se
polemiza mais quando discutimos as manifestações da sexualidade em pessoas com deficiência.
A sexualidade pressupõe também, formas de pensar, sentir e agir, pertencentes ao ser humano, a
forma de se perceber no mundo, de ver o mundo e de interagir com outros homens e mulheres
(BECKER, 1984; WÜSTHOF, 1994). Ainda que seja socialmente convencionada derivada de um
impulso, na verdade, a sexualidade trata-se de um processo dinâmico de aproximação e assim:
reconhecer o significado de estados internos, organizar a seqüência dos atos especificadamente
sexuais, decodificar situações, estabelecer limites nas respostas sexuais e vincular significados de
aspectos não sexuais da vida para a experiência sexual propriamente dita (Gagnon & Simon,
1973/2005, p.13).
Entretanto, de acordo com Scabello, Santos, Profida, Freitas e Galati (no prelo), quando os conceitos
de deficiência e sexualidade aparem interligados, instigam-se uma série de preconceitos, dúvidas e
estigmas frente à sexualidade destas pessoas. Nas palavras de MAIA (2001), é claro que, as questões
relacionadas ao desenvolvimento sexual podem estar prejudicadas nas pessoas com deficiência, mas
podem também trazer dificuldades a seus pais ou responsáveis, que esperam que a escola, quanto a
instituição onde estes passem talvez a maior parte do dia, dê conta de fornecer uma educação sexual
adequada a seus filhos, esquecendo que seus filhos, crianças, adolescentes ou adultos deficientes,
têm anseios e sentimentos sexuais próprios.
propostas educativas, reabilitação e inserção dos mesmos no mercado de trabalho. Por outro lado, ao
mesmo tempo em que são incluídos, estão a todo momento colocando-se à prova, pois, ainda se
enfatiza muito o que lhes falta e que, talvez, manifeste-se seja na lentidão dos movimentos, na
dificuldade de suas operações intelectuais, enfim, na não legitimação de suas potencialidades. Num
Página | 518
universo em que a ordem é a auto-superação, o poder do silêncio e da omissão entrem em cena. Em
outras palavras, muitas vezes, embora não seja dito ao deficiente que lhe falta competência, as
atitudes para com ele servem como expressão deste valor. Nesse sentido, quando se valoriza as
dificuldades e as limitações do deficiente, ao invés de focalizar os seus avanços, as suas
possibilidades, a sua competência, contribui-se para uma violência sob a auto-estima, e assim, gera-
se sentimentos de impotência, de menos-valia e de inferioridade que tem, como conseqüência,
sentimentos de solidão, rejeição, evitação e isolamento.
Apropriando-nos das idéias de MAY (1974) podemos dizer que, quando a violência assume a
qualidade dessa sutileza ímpar, expressa no ocultamento ou na distorção da verdade; na falta de
informação, de orientação e de educação sexual e; na negação do direito humano, no que tange as
questões da sexualidade de pessoas com deficiência; ela estaria manifestando justamente uma
tentativa possível do ser humano de lidar com tensões internas, tão intoleráveis quanto inalcançáveis
de significação. Isto quer dizer que, ao se lidar com a sexualidade de pessoas deficientes, o ser
humano se defronta com a vivência de sua própria sexualidade, com os mitos e tabus inerentes ao
seu próprio processo de educação e da vivência dos mais diferentes aspectos de sua sexualidade e,
com seus próprios conflitos internos e interpessoais. Nesse sentido, lidar com a sexualidade do outro
é, revisar os próprios desejos, preconceitos e estereótipos. Desse modo, justamente na
impossibilidade de lidar com os próprios conflitos nessa esfera, o mais fácil é negá-los no outro,
ignorá-los.
Ao retomarmos o conceito de desvantagem, pode-se conjeturar este estaria ainda, de acordo com
AMARAL (1996), relacionado às peculiaridades intrapsíquicas, às contingências sociais, às
especificidades sócio-econômico-culturais (políticas e ideologias) e, em conseqüência, a um
conjunto de ações e reações que temos frente às pessoas que apresentam alguma deficiência e
incapacidade. A desvantagem estaria, pois, relacionada ao prejuízo, ao desvio, ao estigma
pertencente à sociedade em que o indivíduo vive.
Sendo assim, como nossa sociedade ainda compreende a deficiência como uma diferença que
representa desvantagens sociais e, neste sentido, costuma-se generalizar as limitações impostas por
ela a vários aspectos da vida, inclui-se dentre eles, a sexualidade. De acordo com Scabello et al. (no
prelo), tal como a deficiência, a sexualidade implica numa construção sócio-cultural-histórica, pois
não envolve apenas os aspectos biológicos e psicológicos do indivíduo, mas uma reconstrução social
e conceitual que ocorre ao longo dos tempos. Esta reconstrução se pauta visão de mundo e
Página | 519
conseqüentes posturas que o ser humano tem frente aos aspectos que envolvem a sexualidade. Ainda
segundo estas autoras, o modo pelo qual o indivíduo com atraso cognitivo-intelectual decodifica os
valores e a regras sociais frente aos comportamentos sexuais é distinto do modo como uma pessoa
não deficiente os compreende e os assimila. Além disso, uma criança pode ser prejudicada em seu
desenvolvimento afetivo-sexual quando, ao apresentar incapacidade para se alimentar ou se vincular
à figura materna (tendo em vista que em algumas deficiências, a interação mãe-bebê é prejudicada
por internações que a afastariam da mãe, ou por uma incapacidade da criança de sugar o leite
materno, por exemplo), ela se afasta ou é afastada da mãe. Crianças mais velhas também estariam
sendo prejudicadas quando, atitudes de superproteção dos pais, que procuram mantê-las
exclusivamente sob seus cuidados ou de rejeição do meio familiar, estariam segregando estas
crianças do meio social. Inclusive, atitudes como essas, podem dificultar ao deficiente a
identificação com modelos do mesmo sexo.
De acordo com Scabello et al. (no prelo), a sexualidade nas pessoas com deficiência envolveria
também questões como a higiene pessoal e o controle dos esfíncteres; as alterações hormonais,
anatômicas e fisiológicas; o exibicionismo, os jogos ou brincadeiras sexuais; o namoro, a
afetividade, o prazer, a consciência genital, a identificação de gênero e a orientação afetiva e sexual;
o abuso sexual, entre muitos outros aspectos.
Mas, como já dissemos, muitos mitos, são associados à sexualidade do deficiente, ou mais
especificamente, deficiente intelectual. A idéia de que o deficiente é assexuado, por exemplo, estaria,
segundo MAIA (2007), reforçando o estigma da eterna criança e parece explicar a necessidade das
pessoas em mantê-lo como dependentes, infantis e imaturos, dificultando o desenvolvimento afetivo
dos mesmos. Essa idéia acabaria por distorcer que as reais necessidades do indivíduo, alimentando a
sua dependência e insegurança, bem como a sua neutralidade frente às questões sexuais.
Acreditamos que muitos desses mitos são refratários à mudança pela falta de discussão a respeito
dos conceitos e situações diversas implicadas no mesmo. Por exemplo, autores como GIAMI;
DALLONES (1984) acreditam que a sociedade que interage com os deficientes dicotomiza e
maniqueíza as concepções acerca da sexualidade para os deficientes. DENARI (1997) discute a
possíveis limitações, não parece estar na deficiência em si, mas no conjunto de desinformações,
preconceitos, tabus sociais e de nossos próprios limites na área sexual (DENARI, 1992; 1998;
FRANÇA RIBEIRO, 1995; SCABELLO et al., no prelo).
Então, a exemplo de relacionamentos amorosos para pessoas de idade avançada, a sociedade não
Página | 521
concebe, constantemente, que os deficientes intelectuais entrem nesse domínio praticamente
exclusivo das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e fisicamente atraentes (pelo menos como
representação social). Assim, de forma violenta, ainda que escamoteada, lhes é negada a
possibilidade de amar e manifestarem sua sexualidade. O adulto, geralmente, pensa pelo deficiente e
quando não pode agir por ele, acaba por lhe negar também à ação.
Retomando Scabello et al. (2008), seriam as nossas próprias atitudes (e dificuldades) frente à
vivência da própria sexualidade que, incorporadas a uma série de mitos, preconceitos, dúvidas,
omissões e constrangimentos, e refletidas até mesmo no despreparo (inclusive dos profissionais
especializados) ao abordar ou tratar dessa temática. Diante de suas próprias dificuldades nessa
esfera, profissionais e pais estariam, muitas vezes, ao pensarem que não são capazes ou aptos para
realizar uma orientação sexual pertinente, a edificar o que chamamos de a orientação do silêncio.
A sexualidade de pessoas com deficiência, até bem pouco tempo, era tratada com a política do "avis
struthio", termo originalmente pensado por Amaral (1994), em alusão ao avestruz: se eu não vejo,
não existe e, portanto, não vamos falar sobre isso E, compreendemos que, tal tipo de orientação
pode ser de fato uma espécie de violência moral.
É interessante observarmos como pais e demais agentes educacionais apresentam as mesmas
dificuldades referentes à convivência e a educação de aspectos da sexualidade de seus deficientes,
pois ainda se encontra em algumas famílias e profissionais a idéia, errônea, de que a sexualidade das
pessoas com deficiência é intrinsecamente problemática, quando não patológica (ora exibicionista e
desregrada, ora sexualmente infantil, além de inapropriada, quando as manifestações sexuais
ocorrem de modo e, em local, diferentes dos habituais) e acima de tudo prevalece um grande
despreparo diante de sua manifestação no quotidiano (França Ribeiro, 1995; Glat & Freitas, 1996).
Assim, os receios, o despreparo dos profissionais que lidam com esta população e as dificuldades no
trato da sexualidade de seus filhos e alunos são expressos pelos pais por meio do silêncio, da
repressão de sua manifestação e mesmo da infantilização do comportamento dos adolescentes e
adultos acometidos pela deficiência. Isto que dizer que, ou se finge que não se viu uma conduta
inapropriada ou se reprime sem orientá-la adequadamente.
Há os que pensam que a introdução plena e generalizada da educação sexual nas escolas causaria
abalos em todo o sistema e criaria polêmicas entre educadores. Isso poderia ocorrer se a educação
sexual, nas escolas, visasse tão somente à massificação de informações, sem abordar o conteúdo
ético de comportamento e respeito à individualidade e à integridade humana. No entanto, a educação
sexual promove o amadurecimento sem traumas, sem violências, sem abortos, sem doenças
sexualmente transmissíveis, sem tabus, sem medos, sem preconceitos ou conflitos existenciais. Evita
ainda as conseqüências perigosas e indesejáveis dos atos sexuais praticados sem nenhuma
responsabilidade. Essas práticas podem ser evitadas ou diminuídas através da orientação sexual.
Scabello et al. (2008) assinalam que é necessário ensinar ao deficiente sobre a privatização de
algumas práticas sexuais e auxiliá-lo na decodificação do que é permitido e do que é proibido em
nossa sociedade, quanto aos comportamentos sexuais, levando-se em consideração o seu ritmo e as
suas possibilidades de compreensão. Além disso, acreditam que na educação sexual deva haver
Página | 523
clareza e insistência ou repetição de instruções e orientações oferecidas aos adolescentes. Mas, para
além disto, as autoras pontuam que a tarefa de trabalhar com a sexualidade de crianças e jovens com
deficiência mental é trabalhar subjetividades distintas, não por apresentarem uma deficiência, mas
por cada um de nós sermos um ser individualizado e que envolve a revisão dos próprios
preconceitos sobre a díade: sexualidade e deficiência. Trabalho que envolve pais, profissionais,
familiares, deficientes e a comunidade como um todo.
Considerações Finais.