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Fundamentos e Princípios da

Agricultura Orgânica

Brasília-DF.
Elaboração

Angélica Prela Pantano

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
AGRICULTURA ORGÂNICA.................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO E FUNDAMENTOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA.................................................... 11

CAPÍTULO 2
HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DENTRO DA AGRICULTURA FAMILIAR............................................. 15

CAPÍTULO 3
POTENCIALIDADES DA PRODUÇÃO ORGÂNICA....................................................................... 21

CAPÍTULO 4
SISTEMA INTEGRADO DE PRODUÇÃO ORGÂNICA.................................................................... 28

CAPÍTULO 5
FERTILIZANTES ORGÂNICOS DE ORIGEM ANIMAL E VEGETAL.................................................... 32

CAPÍTULO 6
COMPOSTOS ORGÂNICOS..................................................................................................... 39

CAPÍTULO 7
MANEJO DAS CULTURAS NO SISTEMA ORGÂNICO................................................................... 45

CAPÍTULO 8
NUTRIÇÃO DE PLANTAS E ADUBAÇÃO ORGÂNICA................................................................... 52

CAPÍTULO 9
NORMAS E PROCEDIMENTOS PARA A PRODUÇÃO EM SISTEMA DE CULTIVO ORGÂNICO.......... 60

CAPÍTULO 10
PLANEJAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DO SISTEMA DE CULTIVO ORGÂNICO... 76

CAPÍTULO 11
CERTIFICAÇÃO DO SISTEMA DE CULTIVO ORGÂNICO.............................................................. 84

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 90

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 91
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Em face da degradação ambiental e dos solos, a Agricultura Orgânica surgiu como
alternativa para tentar equilibrar os exageros da agricultura química. Desde a década
de 1970 até hoje, existem questionamentos sobre o quanto e de qual maneira o pacote
tecnológico moderno, a revolução verde e as consequências do uso de químicos foram
agressivos ao ambiente.

Esse questionamento da agricultura química se deu tanto em níveis técnico, ético e


moral como em nível político, de modo que os grandes conglomerados internacionais
dominaram e dominam hoje a tecnologia nesse setor. A reação contra a agricultura
química veio em diferentes partes do mundo, por meio dos movimentos ecológicos em
diversos locais do mundo, como por exemplo: na Índia (Agricultura Orgânica), no Japão
(Agricultura Natural), na Alemanha (Agricultura Biodinâmica), na Europa (Agricultura
Biológica), na Austrália (Permacultura) e no Brasil (Agrofloresta).

O termo Agricultura Orgânica não se refere apenas ao processo de cultivo que culmina
em produtos saudáveis, de alto valor nutricional e sem qualquer tipo de contaminantes,
é muito mais do que isso. Promove a capacidade da propriedade agrícola para sustentar-
se sozinha, aumentando os benefícios para o agricultor, sua independência no uso de
energias não renováveis, a preservação de sua identidade cultural e de sua saúde, uma
vez que não faz uso de elementos prejudiciais à saúde humana.

A legislação brasileira considera os seguintes sistemas de produção orgânica:


biodinâmico, ecológico, natural, sustentável, regenerativo, biológico, agroecológico e
permacultura.

Para começar a se falar em agricultura orgânica, é importante saber o que significam


alguns termos como: Ecologia, Ecossistema, Agricultura Sustentável, Agrossistemas,
Agroecologia e Permacultura.

Ecologia: o termo “Eco” significa casa, sendo que a casa onde vivem os seres vivos é
o ambiente, então ecologia significa estudo do ambiente. “Eco” vem da palavra grega
oikos que significa também lugar, o que significa que temos de saber lidar com os
sistemas e ciclos existentes no lugar onde trabalhamos e não transferir tecnologia de
ecossistemas diferentes. Ecologia descreve o estudo do funcionamento dos ecossistemas,
suas características, habitat (flora e fauna), condição de equilíbrio, recursos, níveis de
contaminação etc.

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Ecossistema: é a reunião ou o conjunto da comunidade biológica (seres vivos = flora e
fauna) com fatores ambientais (terra, água, ar, vento, umidade etc.) de uma área. Há
grandes ecossistemas naturais como a Mata Atlântica, a Serra do Mar, a Amazônia etc.,
assim como há ecossistemas locais, que devemos conhecer e considerar suas condições
ecológicas, para o estabelecimento adequado do sistema orgânico. A mata ou floresta
que está sendo derrubada para a instalação de uma cultura agrícola contém todo um
ecossistema que está sendo impactado.

Agroecossistemas: se refere aos ecossistemas onde o homem faz sua intervenção de


forma equilibrada e sustentável, com o objetivo de utilizar os recursos naturais e obter
proveito econômico e agrícola. Exemplo: Sistemas agroflorestais, com introdução de
frutíferas comerciais ou no plantio e replantio de palmito em matas.

Agricultura sustentável: este conceito muito amplo e repleto de contradições deve ser
considerado mais como um objetivo a ser atingido do que, simplesmente, um conjunto
de práticas agrícolas. Compreende a produção de alimentos, baseada no aproveitamento
do potencial de recursos e condições disponíveis na propriedade rural, sem afetar o
homem, nem degradar o meio ambiente. Explorar comercialmente a terra, sem afetar
os processos e o equilíbrio dos ecossistemas. É um sistema que mantém e melhora as
condições naturais.

Agroecologia: o termo agroecologia representa o estudo dos sistemas de produção de


alimentos, buscando inserir os ciclos naturais no processo produtivo. Procura estudar
processos de produção que utilizem como fundamentos os ciclos da natureza, como o
ciclo da água, do carbono, do nitrogênio. A agroecologia é uma agricultura que respeita
da melhor maneira possível o ecossistema existente. Utiliza a terra, procurando manter
o equilíbrio da ecologia local.

Permacultura: engloba métodos holísticos para planejar, atualizar e manter sistemas


de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis,
socialmente justos e financeiramente viáveis. Pode ser definida, literalmente, como
Cultura Permanente. Esse conceito foi desenvolvido nos anos 70 pelos australianos:
David Holmgren e Bill Mollison, e foi resultado da criação e desenvolvimento de
pequenos sistemas produtivos organicamente integrados (a casa, o entorno, as pessoas)
proporcionando responder às necessidades básicas de uma maneira harmoniosa.

Objetivos
»» Promover o conhecimento e incentivar o debate entre os agricultores e
proprietários de terra, sobre os problemas e consequências da utilização

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da agricultura químico-industrial, estimulando o trabalho em grupo e o
associativismo, na busca do planejamento, organização e administração
das propriedades rurais, com base nos princípios e práticas da agricultura
orgânica, enfatizando os princípios de conservação e valorização dos
recursos naturais renováveis.

»» Analisar cada ação de manejo e cultivo em relação ao impacto ambiental


e sustentabilidade.

»» Compreender que há uma forte ligação entre produção de alimentos,


saúde e meio ambiente.

»» Visa à redução dos impactos ambientais, além de cultivar produtos


alimentícios mais saudáveis.

»» Entender exatamente a finalidade da Agricultura orgânica, uma vez que


todos convergem para um único centro: alimentação saudável e sem
adição de produtos químicos.

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AGRICULTURA UNIDADE ÚNICA
ORGÂNICA

CAPÍTULO 1
Definição e fundamentos da agricultura
orgânica

Definição
Agricultura orgânica é o sistema de manejo sustentável da unidade de produção com
enfoque sistêmico que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os
ciclos biogeoquímicos e a qualidade de vida humana. A agricultura orgânica aplica
os conhecimentos da ecologia no manejo da unidade de produção, baseada numa
visão holística desta. Isto significa que o todo é mais do que os diferentes elementos
que o compõem. Na agricultura orgânica, a unidade de produção é tratada como um
organismo integrado com a flora e a fauna.

Fundamentos
Um dos fundamentos da agricultura orgânica é a não utilização de produtos
industrializados, tanto adubos minerais quanto defensivos agrícolas. Porém, a adubação
de plantas com produtos de origem orgânica requer muito conhecimento técnico, e
não basta jogar material orgânico, há a necessidade de preparo desse material antes da
adubação, bem como saber quando e como aplicá-la.

Todo material de origem orgânica tais como: estercos, tortas de filtro, palhas, material
vegetal tanto seco e/ou verde, resíduos orgânicos de toda natureza (bagaços, cascas,
serragem, restos de hortaliças, podas de árvores, farinhas de ossos etc.) podem ser
utilizados, porém necessitam de preparo anterior.

A agricultura orgânica fundamenta-se em princípios agroecológicos e de conservação


de recursos naturais.
11
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

O primeiro e principal deles é o do respeito à natureza.

O agricultor deve ter em mente que a dependência de recursos não renováveis e as


próprias limitações da natureza devem ser reconhecidas, sendo a ciclagem e/ou
reciclagem de resíduos orgânicos de grande importância no processo. A reciclagem pode
ser feita de resíduos domésticos, restos de lavoura, podas e outros materiais orgânicos
com a finalidade de se obter um composto rico em nutrientes, a compostagem.

Em sistemas orgânicos, a utilização do método de reciclagem de estercos animais e


de biomassa vegetal permite a independência do agricultor quanto à necessidade de
incorporação de insumos externos ao seu sistema produtivo, minimizando custos, além
de permitir o usufruto dos benefícios da matéria orgânica em todos os níveis.

Podemos destacar como efeitos benéficos da matéria orgânica nas propriedades dos
solos, o bom desenvolvimento das plantas nesses solos:

»» Aumento da capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os


efeitos das secas.

»» Aumento da capacidade do solo em armazenar nutrientes (CTC)


necessários ao desenvolvimento das plantas.

»» Fonte de nutrientes para as plantas.

»» Aumento da população de minhocas, besouros, fungos e bactérias


benéficas e vários outros organismos úteis.

»» Aumento da população de organismos úteis que vivem associados às raízes


das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as Micorrizas,
que são fungos capazes de aumentar a absorção de minerais do solo.

O segundo princípio é o da diversificação de culturas, que propicia uma maior


abundância e diversidade de inimigos naturais.

Estes tendem a ser polífagos e se beneficiam da existência de um maior número de


hospedeiros e presas alternativas em ambientes heterogêneos (LIEBMAN, 1996). A
diversificação permite estabelecer barreiras físicas que dificultam a migração de insetos
e alteram seus mecanismos de orientação, como no caso de espécies vegetais aromáticas
e de porte elevado (VENEGAS, 1996). A biodiversidade é um elemento chave da tão
desejada sustentabilidade.

A diversificação se dá de duas maneiras: quando aplicada à atividade agrícola exercida


pelos agricultores nas suas explorações ou sempre que associado a uma comunidade

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

rural, essencialmente dependente da atividade agrícola (IDRHa, 2004). No primeiro


caso, o conceito de diversificação, associado à multifuncionalidade, significa o exercício,
simultâneo ou sucessivo, por uma mesma pessoa, de várias atividades que relevam da
atividade agrícola e não agrícola, no sentido de tornar mais competitivas as explorações
agrícolas, por meio de alternativas que se complementem. No segundo caso, trata-se
de preservar e de potenciar as características, os valores e tradições, o patrimônio e os
recursos endógenos de cada território, propiciando o seu desenvolvimento sustentado
e conferindo-lhe atratibilidade (IDRHa, 2004).

A diversificação das atividades é uma estratégia frequentemente adotada pelos


agricultores brasileiros. O esforço da diversificação destina-se não só a ampliar o leque
de produtos comercializáveis, mas igualmente a garantir o autoconsumo. Esta pode
ser considerada uma condição indispensável à sobrevivência e à competitividade dos
territórios rurais, na medida em que garante a biodiversidade, promove o mercado
de trabalho mantendo a população, cria riqueza por meio de novas oportunidades de
negócio e gera dinâmicas em torno de agentes de desenvolvimento local.

A diversificação leva ao desenvolvimento de inimigos naturais, sendo item chave para a


obtenção de sustentabilidade.

O terceiro princípio básico e muito importante da agricultura orgânica é o de que o


solo é um organismo vivo.

Desse modo, o manejo do solo privilegia práticas que garantam um fornecimento


constante de matéria orgânica por meio do uso de adubos verdes, cobertura morta e
aplicação de composto orgânico, os quais são práticas indispensáveis para estimular os
componentes vivos e favorecer os processos biológicos fundamentais para a construção
da fertilidade do solo no sentido mais amplo.

O quarto e último princípio é o da independência dos sistemas de produção em


relação a insumos agroindustriais adquiridos, altamente dependentes de energia fóssil,
que oneram os custos e comprometem a sustentabilidade.

Com técnicas simples de manejos é possível desenvolver uma agricultura de forma


saudável, diversificada e autossuficiente, ou seja, que consegue sobreviver produzindo
alimentos de qualidade, sem adição de produtos químicos, não apenas para controle de
pragas e doenças, mas também no que se refere à nutrição das plantas e manutenção do
solo, em relação à fertilidade e biodiversidade biológica.

A lavoura orgânica é manejada com o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis,
promovendo a manutenção da biodiversidade e o desenvolvimento econômico. Esse

13
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

cultivo fundamenta-se, principalmente, em dois princípios: respeito à natureza e


diversificação de culturas, que propicia maior abundância e diversidade de inimigos
naturais.

De acordo com Theodoro et al. (2001), a base científica e filosófica da prática da


agricultura orgânica compreende os seguintes princípios:

I. O solo não é um substrato inerte, mas o habitat de múltiplos organismos


e microrganismos, que funcionam como agentes transformadores dos
nutrientes, tornando-os solúveis e disponíveis às plantas.

II. O desequilíbrio nutricional ou do meio ambiente propicia o aparecimento


de parasitas e reduz as defesas das plantas, tornando-as mais vulneráveis
às doenças (Teoria da Trofobiose).

»» Segundo a Teoria da Trofobiose, todo ser vivo só sobrevive se houver


alimento adequado e disponível para ele. A planta, ou parte dela, só será
atacada por um inseto, ácaro, nematoide ou microrganismos (fungos
e bactérias), quando tiver na sua seiva, o alimento que eles precisam,
principalmente aminoácidos. O tratamento inadequado de uma planta,
especialmente com substâncias de alta solubilidade, conduz a uma
elevação excessiva de aminoácidos livres. Portanto, um vegetal saudável,
equilibrado, dificilmente será atacado por pragas e doenças.

III. Os fertilizantes de origem mineral, por sua natureza de “não viventes”,


devem ser evitados, pois não têm os mesmos efeitos que o adubo líquido
ou o composto bem preparado.

IV. As plantações devem formar um todo orgânico, para alcançar a maior


autossuficiência possível.

Portanto, de acordo com o Ministério da Agricultura (1999), considera-se sistema


orgânico de produção agropecuária e industrial, todo aquele em que otimizem o uso
de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo
por objetivo a autossustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios
sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do
emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente
modificados (OGM/Transgênicos), ou radiações ionizantes em qualquer fase do
processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos, privilegiando
a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os
estágios da produção da transformação.

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CAPÍTULO 2
Histórico e importância dentro da
agricultura familiar

Histórico
A agricultura moderna tem sua origem ligada às descobertas do século XIX, a partir de
estudos dos cientistas Saussure (1797-1845), Boussingault (1802-1887) e Liebig (1803-
1873), que derrubaram a teoria do húmus, segundo a qual as plantas obtinham seu
carbono a partir da matéria-orgânica do solo (DE JESUS, 1985). Liebig difundiu a ideia
de que o aumento da produção agrícola seria diretamente proporcional à quantidade
de substâncias químicas incorporadas ao solo. Toda a credibilidade atribuída às
descobertas de Liebig deu-se ao fato de estarem apoiadas em comprovações científicas.
Junto com Jean-Baptite Boussingault, que estudou a fixação de nitrogênio atmosférico
pelas plantas leguminosas, Liebig é considerado o maior precursor da “agroquímica”
(EHLERS, 1996).

As descobertas de todos esses cientistas, segundo Ehlers (1996), marcam o fim de uma
longa data, da Antiguidade até o século XIX, na qual o conhecimento agronômico era
essencialmente empírico. A nova fase será caracterizada por um período de rápidos
progressos científicos e tecnológicos.

No início do século XX, Louis Pasteur (1822-1895), Serge Winogradsky (1856-1953) e


Martinus Beijerinck (1851-1931), precursores da microbiologia dos solos, dentre outros,
contribuíram com mais fundamentos científicos que fizeram uma contraposição às teorias
de Liebig, ao provarem a importância da matéria orgânica nos processos produtivos
agrícolas (EHELRS, 1996). Contudo, mesmo com o surgimento de comprovações
científicas a respeito dos equívocos de Liebig, os impactos de suas descobertas haviam
extrapolado o meio científico e ganhado força nos setores produtivo, industrial e agrícola,
abrindo um amplo e promissor mercado: o de fertilizantes “artificiais” (FRADE, 2000).

Na medida em que certos componentes da produção agrícola passaram a ser produzidos


pelo setor industrial, ampliaram-se as condições para o abandono dos sistemas de
rotação de culturas e da integração da produção animal à vegetal; que passaram a
ser realizadas separadamente. Tais fatos deram início a uma nova fase da história da
agricultura, que ficou conhecida como “Segunda Revolução Agrícola”. São também
parte desse processo o desenvolvimento de motores de combustão interna e a seleção
e produção de sementes como os outros itens apropriados pelo setor industrial. Estas
15
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

inovações foram responsáveis por sensíveis aumentos nos rendimentos das culturas
(FRADE, 2000).

A expansão da revolução verde deu-se rapidamente, quase sempre apoiada por


órgãos governamentais, pela maioria dos engenheiros agrônomos e pelas empresas,
produtoras de insumos (sementes híbridas, fertilizantes sintéticos e agrotóxicos); além
do incentivo de organizações mundiais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), a United States Agency for International Development
(USAID – Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional), a Agência
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) dentre outras (EHLERS,
1996). Junto com as inovações, o “pacote tecnológico” da revolução verde criou uma
estrutura de crédito rural subsidiado e, paralelamente, uma estrutura de ensino,
pesquisa e extensão rural associadas a esse modelo.

Contudo, esse modelo de agricultura a partir da década de 60 começava a dar sinais


de sua exaustão: desflorestamento, diminuição da biodiversidade, erosão e perda da
fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e dos agricultores
por agrotóxicos passaram a ser decorrências quase inerentes à produção agrícola
(EHLERS, 1993).

Em 1962, Rachel Carson publica o livro “Primavera Silenciosa”, no qual a autora


questionava o modelo agrícola convencional e sua crescente dependência do petróleo
como matriz energética. Ao tratar do uso indiscriminado de substâncias tóxicas na
agricultura, em pouco tempo a obra de Carson tornou-se mais do que um “best seller”
nos EUA: foi também um dos principais alicerces do pensamento ambientalista naquele
país e no restante do mundo (EHLERS, 1993).

Logo após a publicação de Primavera Silenciosa, trabalhos como o de Paul Ehrlich,


The Population Bomb (1966) e o de Garret Hardin, Tragedy of the Commons (1968),
reforçaram a teoria malthusiana, relacionando a degradação ambiental e a degradação
dos recursos naturais ao crescimento populacional. Na prática, porém, o que se viu nos
anos seguintes foi a continuação do avanço da agricultura convencional, particularmente
nos países em desenvolvimento, com o agravamento dos danos ambientais. No início dos
anos 70 a oposição em relação ao padrão produtivo agrícola convencional concentrava-
se em torno de um amplo conjunto de propostas “alternativas”, movimento que ficou
conhecido como “agricultura alternativa”.

Em 1972 é fundada em Versalhes, na França, a International Federation on Organic


Agriculture (IFOAM). Logo de início, a IFOAM reuniu cerca de 400 entidades
“agroambientalistas” e foi a primeira organização internacional criada para fortalecer a
agricultura alternativa. Suas principais atribuições passaram a ser a troca de informações

16
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

entre as entidades associadas, a harmonização internacional de normas técnicas e a


certificação de produtos orgânicos (EHLERS, 2000).

No Brasil, pesquisadores como Adilson Paschoal, Ana Maria Primavesi, Luis Carlos
Machado, José Lutzemberger, contribuíram para contestar o modelo vigente e despertar
para novos métodos de agricultura. Em 1976, Lutzemberger lançou o “Manifesto
ecológico brasileiro: fim do futuro?”, que propunha uma agricultura mais ecológica,
influenciando profissionais e pesquisadores das ciências agrárias, produtores e a
opinião pública em geral.

Em 1979, Paschoal publicou “Pragas praguicidas e crise ambiental” mostrando que o


aumento do consumo de agrotóxicos vinha provocando o aumento do número de pragas
nas lavouras, por eliminar também grande parte dos inimigos naturais. Esses trabalhos
despertaram o interesse da opinião pública pela questão ambiental, crescendo também
o interesse pelas propostas alternativas para a agricultura brasileira.

Durante a década de 1980, o movimento para uma agricultura alternativa ganhou força
com a realização de três Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa (EBAAs); que
ocorreram, respectivamente, nos anos de 1981, 1984 e 1987. Se nos dois primeiros as
críticas se concentravam nos aspectos tecnológicos e na degradação ambiental provocada
pelo modelo agrícola trazido pela Revolução Verde, o terceiro encontro privilegiou o
debate sobre as condições sociais da produção, sobrepondo as questões políticas sobre
as questões ecológicas e técnicas. A partir do terceiro EBAA, foram realizados diversos
Encontros Regionais de Agricultura Alternativa (ERAAs), nos quais os problemas
ambientais decorrentes da produção convencional de alimentos passaram a ser vistos
como problemas ambientais decorrentes do sistema econômico hegemônico no mundo
(o capitalismo); incorporando de modo permanente os aspectos socioeconômicos, que
juntamente com os aspectos ecológicos e técnicos passam a compor a pauta do debate
sobre a produção de alimentos em todo o mundo (PIANNA, 1999).

Foi também na década de 1980 que surgiram várias Organizações Não Governamentais
(ONGs) voltadas para a agricultura, articuladas em nível nacional pela Rede Projeto
Tecnologias Alternativas – PTA (hoje AS-PTA- Assessoria e Serviços – Projeto
Agricultura Alternativa). A denominação “tecnologias alternativas” foi usada nesse
período para designar as várias experiências de contestação à agricultura convencional,
passando a ser substituída numa fase seguinte, por agricultura ecológica, identificada
como parte da agroecologia.

De modo geral, é possível afirmarmos que, na década de 1980, o interesse da opinião


pública pelas questões ambientais e a adesão de alguns pesquisadores ao movimento

17
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

alternativo, sobretudo em função dos afeitos adversos dos métodos convencionais,


tiveram alguns desdobramentos importantes no âmbito da ciência e da tecnologia.

As características mais marcantes destes desdobramentos são: a busca de fundamentação


científica para as suas propostas técnicas e, no caso da agroecologia o firme propósito
de valorizar os aspectos socioculturais da produção agrícola. A principal meta da
agroecologia é a resolução dos problemas da sustentabilidade.

No entanto, Miguel Altieri, (pesquisador de sistemas agroecológicos de produção)


ressaltou que não basta abordar apenas os aspectos tecnológicos sem considerar as
questões econômicas e sociais. Em 1989, o Conselho Nacional de Pesquisa (NRC) – um
órgão formado por representantes da Academia Nacional de Ciências, da Academia
Nacional de Engenharia e do Instituto de Medicina, todos dos EUA,– dedicou-se
a um estudo detalhado sobre a agricultura alternativa. Este trabalho culminou com
a publicação do relatório intitulado “Alternative Agriculture” um dos principais
reconhecimentos da pesquisa oficial a esta tendência da produção agrícola.

Em 1992, com a Conferência Mundial da ECO 92, no Rio de Janeiro – Brasil, surge o
conceito de sustentabilidade, que manifestou uma nova ordem mundial que expressa a
vontade das nações de conciliar ou reconciliar o desenvolvimento econômico e o meio
ambiente, em integrar a problemática ambiental ao campo da economia. Mais do que um
conceito que orienta de maneira imediata ação e decisão, a sustentabilidade manifesta
em primeiro lugar uma problemática de aspectos múltiplos (científico, político, ético)
oriunda da emergência de problemas ambientais em escala planetária e principalmente
da percepção do risco subjacente.

A partir dos anos 1990 emergem os processos de certificação ambiental dos produtos
agrícolas – como os “selos verdes”. A certificação ambiental fundamenta-se no princípio
da produção com uso de técnicas e processos que não degradem o meio ambiente. A
iniciativa de certificar tem partido quase que exclusivamente de organizações não
governamentais, que estabelecem os seus critérios próprios de certificação, o que para
a agricultura, refere-se a produtos orgânicos ou biodinâmicos.

Em 1999, após a mobilização das ONGs brasileiras que trabalhavam direta ou


indiretamente com a agroecologia, é publicada a Instrução Normativa 007/99, que traz,
entre outras novidades a criação de um Órgão Colegiado Nacional e dos respectivos
órgãos estaduais, responsáveis pela implementação da Instrução Normativa e
fiscalização das certificadoras e a exigência de que a certificação seja conduzida por
entidades nacionais e sem fins lucrativos (BRASIL, 1999).

18
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

De acordo com Da Silva (1999), a transformação da certificação de produtos orgânicos


de um processo interno e próprio das ONGs (que consideram as diversas características
de uma localidade: socioeconômicas, ecológicas, culturais etc.) para modelos nacionais
e oficiais de normas vai requerer alguns cuidados para questões que necessitarão ser
estudadas.

Uma delas é que, a partir da institucionalização da certificação, são abertos “nichos”


de mercado que demandam produtos com características e padrões que oferecem
grandes possibilidades de inserção para os produtos provenientes da agroecologia,
nas diferentes redes de distribuição e nos seus diferentes níveis de abrangência (local,
regional, nacional e internacional). Contudo, a concretização de tais oportunidades vai
depender das estratégias de organização e articulação da produção e das quantidades
demandadas dos produtos (CAMPANHOLA, 1999). Neste cenário, é o público, são os
consumidores que, nos países de alto nível tecnológico, levam à implementação de
novos compromissos seja com os produtores, seja com o poder público.

Globalmente, pode-se dizer que a agroecologia (incluindo todas as suas correntes:


orgânica, biodinâmica, natural, ecológica, permacultura) emerge como uma nova visão
de mundo (chamada no meio acadêmico de “paradigma”), que eleva a agricultura a
um novo patamar, que supõe uma diferenciação social. O recurso às tecnologias
sustentáveis passa por um investimento em equipamentos e técnicas específicas e por
um acesso privilegiado à informação.

Considerar o acesso à informação como um novo insumo não é uma simples fórmula e é
possível estimar que alguns segmentos ficarão ainda mais dispersos, se considerarmos
os desafios à extensão rural, cuja eficiência pode ser reduzida por políticas públicas
que concentrem permanentemente a informação e as tecnologias apenas nos agentes
de maior poder econômico. Assim, aumenta o contingente de produtores suscetíveis a
serem excluídos, por insuficiência de renda ou por impossibilidade de aumentarem um
acréscimo nas margens de trabalho ou de risco econômico.

Por isso, no momento atual é importante ressaltar que a agroecologia como um novo
paradigma técnico-científico, ambiental e cultural está sendo construída de forma
progressiva e desigual, com base em uma grande multiplicidade de práticas produtivas,
de ecossistemas e de estratégias diversificadas de sobrevivência econômica (ALMEIDA
et. al, 2001:43). O aprendizado dessa nova maneira de pensar e fazer agricultura passa
por experiências de êxito e fracasso, como todo projeto que é idealizado e realizado pela
sociedade.

É normal pensarmos que em países em desenvolvimento como o Brasil, o desafio


da produção de alimentos em sistemas agroecológicos dentro de uma economia

19
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

globalizada e flexível, implica na retomada do debate sobre políticas públicas amplas e


diferenciadas, reforma agrária, agricultura familiar e segurança alimentar. Fica claro,
porém, que apesar de não ser pequeno, é imprescindível o esforço de toda sociedade
para uma mudança de paradigma da pesquisa agrícola, principalmente, quando esta se
encontra atrelada a alterações sociopolíticas de caráter estrutural.

Importância dentro da agricultura familiar


A agricultura orgânica não é apenas um processo de cultivo que culmina em produtos
saudáveis, de alto valor nutricional e sem qualquer tipo de contaminantes. Ela também
contribui para a criação de ecossistemas mais equilibrados, ajudando a preservar a
biodiversidade, os ciclos naturais e as atividades biológicas do solo.

Além disso, existe outro aspecto da agricultura orgânica que vai além da preservação da
qualidade dos produtos ou do meio ambiente. Ela é uma grande aliada da agricultura
e baixo volume, como a agricultura familiar. A aplicação dos princípios agroecológicos
na pequena propriedade rural consegue aumentar sua sustentabilidade econômica-
financeira, aumentando os benefícios para o agricultor, sua independência no uso de
energias não renováveis e a preservação de sua identidade cultural e da sua condição de
saúde, uma vez que não faz uso de elementos prejudiciais ao homem.

Dessa forma, os benefícios do consumo de produtos orgânicos não se refletem


apenas em nossa saúde. Quando optamos por esses produtos estamos fortalecendo a
sustentabilidade de uma cadeia de suprimento ecológica e comercialmente justa.

20
CAPÍTULO 3
Potencialidades da produção orgânica

Cinco razões podem ser consideradas para o aumento dessa demanda por produtos
orgânicos.

1. Que esta venha dos próprios consumidores: preocupados com


a sua saúde ou com o risco da ingestão de alimentos que contenham
resíduos de agrotóxicos. Essa informação é reforçada por uma pesquisa de
opinião realizada junto a consumidores de produtos orgânicos na cidade
de São Paulo, que teve como uma de suas conclusões a seguinte: “o motivo
determinante das opções dos consumidores que estão reorientando seu
consumo para os produtos orgânicos não é, primordialmente, a preocupação
com a preservação do meio ambiente, que aparece apenas em quinto lugar,
mas sim a atenção com a saúde” (CERVEIRA; CASTRO, 1999).

2. A demanda deve ter origem do movimento ambientalista


organizado: representado por várias ONGs preocupadas com a
conservação do meio ambiente, tendo algumas delas atuado na certificação
e na abertura de espaços para a comercialização de produtos orgânicos
pelos próprios agricultores, o que contribuiu para induzir demanda entre
os consumidores.

3. Resultado de influências religiosas: como por exemplo a Igreja


Messiânica, que defende o equilíbrio espiritual do homem por meio
da ingestão de alimentos saudáveis e produzidos em harmonia com a
natureza.

4. Aumento dos grupos organizados contrários ao domínio da


agricultura moderna por grandes corporações transnacionais:
esses grupos teriam exercido influência entre consumidores, valendo-se
de diferentes meios de comunicação e mecanismos de influência junto à
opinião pública.

5. Resultado da utilização de ferramentas de marketing: as grandes


redes de supermercados, por influência dos países desenvolvidos, teriam
induzido demandas por produtos orgânicos em determinados grupos de
consumidores.

21
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

É difícil identificar quais dessas causas foram mais relevantes no aumento do mercado
de produtos orgânicos no país. Dessa forma, podemos supor que houve uma combinação
delas, sendo que em determinadas regiões uma ou outra se sobressaiu, e teve maior
influência.

Nos países desenvolvidos, o consumidor é o principal elemento articulador de mudanças


que provoca demandas em todos os setores. No Brasil, os consumidores alimentam o
mercado de produtos orgânicos. Hoje em dia, muitas pessoas estão em busca de uma
alimentação mais saudável, na tentativa de resgatar um tempo em que ainda era possível
ter à mesa alimentos frescos, de boa qualidade biológica e livres de agrotóxicos, essa
procura é cada vez maior.

Atualmente, os alimentos passam por uma série de processos de transformação e recebem


muitos produtos químicos até chegarem ao consumidor, o que acaba provocando
uma mudança de hábitos alimentares e um distanciamento entre o agricultor e o
consumidor. Percebe-se que os hábitos dos consumidores vêm promovendo mudanças
nas instituições de mercado, uma vez que a disposição deles em pagar por qualidade
dos produtos reflete nas alterações no padrão de consumo.

A principal motivação para a compra de alimentos orgânicos no Brasil está ligada à


saúde humana e ao meio ambiente.

Apesar disso, ainda existe um grande desconhecimento do consumidor em relação ao


produto orgânico, visto que há uma grande confusão gerada pela “onda” de produtos
considerados naturais, dietéticos, lights, integrais etc. Além disso, produtos orgânicos
e hidropônicos são, em geral, postos lado a lado e embalados de forma similar
estrategicamente. Até mesmo alguns produtos convencionais processados e embalados
em atmosfera modificada constituem outra tendência para disputar este espaço, como,
por exemplo, os alimentos cortados, lavados e prontos para o consumo, já que algumas
embalagens trazem dizeres como “natural, sem conservantes e aditivos”.

Destaca-se que isso se refere à forma como o produto foi embalado e não necessariamente
como foi produzido. Esse processo tem confundido o consumidor, que compra esse tipo
de produto em supermercados, e acaba desconfiando dos alimentos orgânicos, o que
legitima a importância da conscientização da população (DAVID, 2006).

No Brasil, conforme dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE, o valor de venda de


produtos orgânicos dos estabelecimentos certificados e não certificados, por entidade
credenciadora, atingiram R$ 1,3 bilhões naquele ano. Destes, R$ 350,9 milhões referem-
se aos estabelecimentos certificados por entidade credenciadora.

22
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

De acordo com os dados do IBGE, as vendas estão concentradas em Minas Gerais,


Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná e Pernambuco.

Considerando o crescimento estimado do setor de 20% ao ano, projeta 2010,


faturamento de R$ 630 milhões. A crise mundial de 2008, bem como às alterações na
legislação brasileira de orgânicos, mudaram o foco do mercado interno. Tal tendência
consolidou valorização do Real com a consequente perda de competitividade do
produto nacional.

Os preços dos produtos orgânicos embalados tiveram aumento moderado. Os principais


fornecedores de arroz e dos ingredientes dos molhos, condimentos e conservas,
reajustam preços conforme a demanda da indústria versus a oferta de matéria-prima
disponível.

Produção e mercado nacionais


O Brasil encontra-se entre os maiores produtores de orgânicos do mundo, conforme
relatório The World Organic Agriculture, elaborado pelo Research Institute of Organic
Agriculture (FIBL) e pela International Federation of Organic Agriculture Movements
(IFOAM) e (FIBL/INFOAM, 2010). Segundo dados do Censo Agropecuário 2006, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 4,93 milhões
de hectares de área destinada ao cultivo de produtos orgânicos.

O número de estabelecimentos orgânicos apontados pelo Censo Agropecuário 2006 é


de 90.497, contudo até janeiro de 2011 apenas 5.500 produtores estavam registrados
no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (MAPA, 2011). O Censo Agropecuário
2006 e as informações oficiais do setor no ano de 2011, ainda incompletas, permitem
direcionar as prioridades do MAPA e preparar um levantamento mais completo do setor
no próximo Censo Agropecuário a ser executado pelo IBGE em 2016. Os principais dados
do mercado externo do setor de Orgânicos são compilados por meio do projeto Organics
Brasil, do IPD/Apex-Brasil, dentre as empresas responsáveis pelas vendas externas do
País. Até 2010 os únicos dados oficiais disponíveis setor de Orgânicos constavam do
Censo Agropecuário 2006, do IBGE, e os demais envolviam estimativas. A formulação
de políticas públicas responsáveis exige dados oficiais para o estabelecimento de metas
e monitoramento dos resultados para que o setor se estruture, ganhando importância
econômica, social e ambiental (IPD, 2011).

(http://www.ipd.org.br/upload/tiny_mce/Pesquisa_de_Mercado_Interno_de_
Produtos_Organicos.pdf).

23
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

A produção tende a se expandir à medida que o mesmo ocorre com o consumo.


Atualmente, as pessoas estão mais preocupadas com qualidade de vida, e isso está
diretamente relacionado à qualidade dos alimentos consumidos.

O Brasil é, reconhecidamente, o país do agronegócio. O relatório Agricultural Outlook


2010-2019 realizado em conjunto pela Food and Agriculture Organization of the Unides
Nations (FAO) e pela Organization for Economic Co-operation and Development
(OCDE) projeta que o setor agrícola brasileiro terá o maior crescimento do mundo,
com mais de 40% de expansão até 2019.

O valor financeiro exportado pelo agronegócio em 2010 totalizou cerca de 70 bilhões


de dólares, contra importação de aproximadamente 12 bilhões de dólares promovendo
um superávit comercial de 58 bilhões de dólares (AGROSTAT, 2010). Segundo dados
do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil é o
principal exportador mundial de café verde, açúcar, etanol e suco de laranja despontando
no mercado de carne bovina e de frango (BRASIL, 2010).

No setor de orgânicos, o projeto Organics Brasil (IPD/Apex-Brasil) estima que as


exportações de produtos orgânicos brasileiros em 2010 giraram em torno de 250
milhões de dólares. O crescimento estimado de 20% ao ano das exportações ao longo
dos últimos 5 anos proporcionou ao setor um avanço e a consolidação da atividade
no Brasil, permitindo que a produção orgânica vivesse um período de plena expansão
e ganhasse importância econômica no mercado externo e também interno. A média
nacional da área agrícola orgânica por estabelecimento é superior a 54 hectares, e
representa mais do que o dobro da média mundial.

De acordo com o IBGE, o Censo Agropecuário do IBGE, de 2006, que contabilizava


apenas 5 mil estabelecimentos agrícolas orgânicos com algum tipo de certificação,
em 2012, já são no mínimo 11.500 unidades de produção controladas ligadas ao
sistema produtivo de orgânicos, mais do que o dobro do número anterior, incluindo aí
propriedades rurais e estabelecimentos de processamento de orgânicos.

A área total do País com certificação orgânica representa 1,5 milhão de hectares, sendo
Mato Grosso o campeão em área, com 622.800 hectares, seguido do Pará, com 602.600
hectares e Amapá, com 132.500 hectares. O maior número de produtores abrigados
sob o guarda-chuva de alguma certificação orgânica, porém, está no Pará, campeão
absoluto, com cerca de 3.300 produtores; Rio Grande do Sul, com 1.200; Piauí, com
768; São Paulo, com 741, e Mato Grosso, com 691.

Segundo o Ministério da Agricultura, a Região Norte, com 778.800 hectares e 3.800


unidades de produção é a que possui a maior área dedicada à agricultura orgânica,

24
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

seguida por Centro-Oeste, com 650.900 hectares, e 1.100 unidades produtivas. No Mato
Grosso, os produtos orgânicos mais representativos são a carne bovina e a castanha-do-
brasil. Já no Pará, destaque para o cacau, dendê, açaí e castanha-do-brasil. Os dados
foram levantados pelo Departamento de Agroecologia da Secretaria de Desenvolvimento
Agropecuário e Cooperativismo (SDC) do Mapa.

Conforme dados da Apex-Brasil, o setor de alimentos orgânicos deve expandir-se em


46% no período em termos de valor constante entre 2009 e 2014, impulsionado pelo
crescente interesse dos consumidores por produtos orgânicos e a melhor compreensão
de seus benefícios à saúde, ao meio ambiente e ao ser humano (IPD, 2011).

Estima-se que o mercado de bebidas orgânicas tenha crescido em cerca de 38% em termos
de valor constante entre 2009 e 2014 no período, conforme dados da Apex-Brasil. O suco
100% orgânico e o chá verde orgânico deverão ter um crescimento mais dinâmico de
17% e 14%, respectivamente, em termos de valor constante ao longo do mesmo período.
Existe espaço para novas marcas de bebidas orgânicas à base de chocolate e com sabor
de frutas e vegetais. Portanto, espera-se que empresas consolidadas continuem a
investir em seus clientes, em redes de distribuição e em campanhas de marketing a fim
de reforçar a sua presença, bem como obter o reconhecimento da marca.

O mercado brasileiro apresenta grande potencial para os produtores locais e de outros


países. Acredita-se que irá aumentar a demanda por produtos orgânicos, por matérias-
primas e por alimentos industrializados derivados de produtos orgânicos. Deverá
também continuar crescendo o mercado por produtos naturais não alimentícios,
cosméticos e têxteis por exemplo. Esta dupla tendência poderá criar um efeito de
crescimento recíproco também para os setores de prestação de serviços coligados.

Produtos orgânicos e comercialização


O Brasil encontra-se entre os maiores produtores de orgânicos do mundo, conforme
relatório The World Organic Agriculture, elaborado pelo Research Institute of Organic
Agriculture (FIBL) e pela International Federation of Organic Agriculture Movements
(IFOAM) e (FIBL/INFOAM, 2010). Segundo dados do Censo Agropecuário 2006, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 4,93 milhões
de hectares de área destinada ao cultivo de produtos orgânicos.

Atualmente, praticamente todos os produtos agrícolas já possuem certificação ou os


produtores estão procurando meios para sua certificação. A grande maioria são in
natura ou processados, no país, podendo ser citados os seguintes: açaí, acerola, açúcar,
aguardente, algodão, amaranto, arroz, aveia, aves e ovos, banana, banana-passa,

25
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

bovinos, cacau, café, caju, castanha de caju, chá, citrus, coco, ervas medicinais, fécula
de mandioca, feijão, gengibre, girassol, goiabada, guaraná em pó, hortaliças (várias),
hortaliças processadas, laticínios (gado de leite), madeira, mamão, manga, maracujá,
mel, milho, morango, óleo de babaçu, óleos essenciais, azeite de dendê, palmito de
pupunha, pimentão, soja, suco de laranja, suínos, tecidos, tomate, trigo, urucum e uva-
passa.

As bebidas orgânicas estão associadas ao fornecimento de alguns benefícios à saúde


humana, o que ajuda a impulsionar as vendas. Isto é particularmente percebido
quanto ao chá verde, considerado produto auxiliar na perda de peso e os sucos 100%
orgânicos, principalmente de laranja e uva, que colaboram com o sistema imunológico
e apresentam propriedades antienvelhecimento.

As vendas de bebidas orgânicas aumentaram 6% de 2008 para 2009 no Brasil. O setor


foi influenciado pelo desempenho do café fresco orgânico, que detinha 77% das vendas
globais em 2008. O café orgânico fresco experimentou crescimento de apenas 1% do
valor em 2009, devido à menor produção de café, consequência de altas temperaturas e
chuvas mais intensas que o normal no Brasil, que resultaram em preços unitários mais
elevados. As bebidas orgânicas, posicionadas como produtos premium, são geralmente
de 100 a 300% mais caras que as convencionais.

A baixa oferta de produtos, como resultado da limitação das matérias-primas


orgânicas, foi o principal motivo para essa diferença de preço tão elevada em relação ao
convencional.

Os supermercados/hipermercados continuam detendo as maiores vendas de alimentos


e bebidas no Brasil, representando quase 80% do mercado. A presença cada vez maior
de lojas especializadas em produtos naturais levou os fabricantes a diversificarem a sua
distribuição, ampliando seus canais de vendas por meio de atividades de promoção e
merchandising. O Grupo Pão de Açúcar aumentou seus investimentos na diversificação
de seu portfólio de produtos orgânicos, incluindo bebidas orgânicas.

Os supermercados brasileiros crescem em vendas, em números, nos formatos de lojas e


em qualidade dos serviços prestados à população de todas as classes de todas as rendas.
As vendas em 2010 foram cerca de 5% superiores em valor, e 7% em volume, em relação
ao ano anterior. A estimativa é de se chegar ao faturamento de R$ 200 bilhões em 2011,
com geração direta de cerca de 1 milhão de empregos (ABRAS, 2011).

As principais redes de varejo no Brasil, Companhia Brasileira de Distribuição – Grupo


Pão de Açúcar; Carrefour Comércio e Indústria Ltda; e Walmart Brasil Ltda investiram
em marcas próprias e ganharam ampla aceitação e confiança dos consumidores. Além

26
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

disso, podem desfrutar dos benefícios de escala necessária para oferecer alta qualidade de
produtos com preços mais baixos. A maior loja de produtos orgânicos é a Mundo Verde,
presente em praticamente todo o Brasil. Além desses, os principais pontos de venda
são as feiras livres orgânicas que realizam vendas diretas ao consumidor, existentes em
vários municípios brasileiros, assumem grande importância para o fortalecimento da
agricultura familiar, pois estes representam mais de 80% dos produtores orgânicos no
Brasil (Censo Agropecuário 2006, IBGE).

Considerando que mais de 80% dos produtores orgânicos brasileiros são da agricultura
familiar (Censo Agropecuário 2006), destaca-se o Programa de Merenda Escolar, que
abastece com alimentos as escolas públicas brasileiras. De acordo com a Lei Federal
no 11.947/2009, pelo menos 30% dos recursos repassados aos municípios pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para alimentação escolar, sejam
utilizados para comprar produtos da agricultura familiar e/ou do empreendedor familiar
rural ou de suas organizações, priorizando as compras dos assentamentos de reforma
agrária, das comunidades tradicionais indígenas e das comunidades quilombolas.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), uma das ações do Fome Zero, tem por
objetivo garantir o fornecimento de alimentos em quantidade, qualidade e regularidade
às populações em situação de insegurança alimentar e nutricional; e promover a
inclusão social no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar. O PAA, um
instrumento de política pública, foi instituído pelo artigo 19 da Lei no 10.696 (BRASIL,
2003) e regulamentado pelo Decreto no 6.447 (BRASIL, 2008), alterado pelo Decreto
no 6.959 (BRASIL, 2009). Todos os recursos do Programa só podem ser gastos na
aquisição de alimentos produzidos pelos produtores familiares e/ou suas organizações.

O Grupo Gestor do PAA, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social


e Combate à Fome, é composto por representantes de vários outros ministérios. No
Distrito Federal, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento coordena as
ações e a EMATER-DF é o agente executor do Programa. O Programa adquire alimentos,
com isenção de licitação, por preços de referência que não podem ser superiores nem
inferiores aos praticados nos mercados regionais e paga até 30% a mais pelo produto
orgânico fornecido pelo produtor da agricultura familiar e/ou suas organizações.

Os alimentos adquiridos pelo Programa são destinados às pessoas em situação de


insegurança alimentar e nutricional, atendidas por programas sociais locais e demais
cidadãos em situação de risco alimentar, como indígenas, quilombolas, acampados da
reforma agrária e atingidos por barragens.

A venda de produtos orgânicos pela Internet e a venda direta ao consumidor com


entrega em sua residência constituem outros canais de distribuição do segmento (IPD,
2011).

27
CAPÍTULO 4
Sistema integrado de produção
orgânica

Produção vegetal
A agricultura orgânica surge como uma forma de amenizar esses problemas, já que nesta
forma de cultivo várias práticas conservacionistas são usadas (ESPINDOLA, 2001). O
uso de matéria orgânica, de origem vegetal ou animal, tem promovido melhorias nas
propriedades edáficas do solo sob manejo orgânico de produção (CARDOZO et al.,
2008; LOSS, 2008).

Há diversas técnicas de manejo adotadas pela agricultura orgânica, algumas das quais
modificam positivamente as propriedades do solo, principalmente em agroecossistemas
com culturas perenes.

Por exemplo: a manutenção da cobertura permanente do solo; a integração da adubação


orgânica e verde; o controle da erosão, por meio do estabelecimento de curvas em nível;
o terraceamento e as faixas de retenção; e o cultivo mínimo, em faixa ou bordadura.
Com esse conjunto de práticas, procura-se preparar e cultivar o solo de modo a evitar
maior destruição dos agregados e a inversão das suas camadas, contrariamente ao que
ocorre, em geral, no preparo convencional (THEODORO et al., 2003).

Como exemplo de Sistema Integrado de Produção Agroecológica, podemos citar a área


experimental da Embrapa Agrobiologia destinada a estudos em agricultura orgânica,
a qual destaca-se na identificação de cultivares adaptadas a sistemas orgânicos, no
desenvolvimento de substratos apropriados para a produção de mudas, na adequação
do uso de leguminosas para adubação verde, e no ajuste da técnica de plantio direto na
agricultura orgânica.

Existe a integração da agricultura orgânica em diversos setores como: agropecuário,


consorciamento de culturas, café e frutas.

O Sistema Integrado está focado na adequação de sistemas produtivos para geração


de alimentos e outros produtos agropecuários de alta qualidade e seguros, mediante
aplicação de recursos naturais e regulação de mecanismos para a substituição de
insumos poluentes, garantindo a sustentabilidade e viabilizando a rastreabilidade da
produção agropecuária.

28
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Trata-se de um processo de certificação voluntária no qual o produtor interessado tem


um conjunto de normas técnicas específicas (NTE) a seguir, as quais são auditadas
nas propriedades rurais por certificadoras acreditadas pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

Ao certificar, os produtores rurais têm a chancela oficial do MAPA e do Inmetro de que seus
produtos estão de acordo com práticas sustentáveis de produção e consequentemente
mais saudáveis para o consumo, garantindo ainda menor impacto ambiental do que
produtos convencionais e a valorização da mão de obra rural.

As Normas Técnicas Específicas a serem seguidas pelos produtores são construídas


numa parceria entre pesquisa, extensão, ensino e produtores rurais, e trazem consigo,
além da garantia de um produto diferenciado, a redução dos custos de produção e
consequentemente maior rentabilidade para os produtores brasileiros.

É importante salientar que a Produção Integrada Agropecuária ou em consórcio entre


culturas é passível de ser adotada por qualquer produtor, independente do seu porte. A
certificação de pequenos e médios produtores pode ser custeada por entidades parceiras
do MAPA.

A adesão à PI é voluntária, porém o produtor que optar pelo sistema terá que cumprir
rigorosamente as orientações estabelecidas. O produtor pode contatar o MAPA ou o
Inmetro para saber como proceder para adotar esse sistema de produção, inclusive
verificar se o produto que deseja produzir já tem norma técnica publicada. Se tiver,
então o Inmetro fornecerá a lista de empresas acreditadas para certificar o produto.
Caso não tenha norma, então o MAPA analisará a proposta do setor e construirá as
diretrizes, as quais são elaboradas por colegiados formados por especialistas de órgãos
públicos e privados, além de representantes de cooperativas e empresas. As regras
estão relacionadas à capacitação de trabalhadores rurais, manejo, responsabilidade
ambiental, segurança alimentar e do trabalho e rastreabilidade. (www.producao.
integrada@agricultura.gov.br).

Muitos experimentos são desenvolvidos e diversas experiências de produtores já podem


ser levadas em consideração para exemplificar e até mesmo direcionar como alternativa
de manejo integrado.

O cultivo em sistema orgânico, sem aplicação de agrotóxico e sem adição de nitrogênio


industrializado, mostrou-se viável para as seguintes culturas: alfaces, brócolis, cebolinha,
chicória, couve, espinafre, repolho, salsa, abóboras, berinjela, caupi, chuchu, milho,
pimentão, quiabo, feijão de vagem, aipim, batata-doce, beterraba, cenoura, inhame,
bertalha, acerola, maracujá, cana-de-açúcar, rúcula, mamão, banana, sorgo e melancia.

29
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Também é possível Cultivos consorciados, como alguns que se mostraram promissores:


cenoura com alface ou chicória, batata-doce com Crotalaria juncea, berinjela com caupi,
pimentão com caupi, aipim com caupi, inhame com caupi e brócolis, Arachis pintoi
como “cobertura viva” nos plantios de mamão, maracujá e banana.

Em experimento de adubação verde num consórcio de milho com caupi, Vigna


unguiculata, (duas linhas de caupi para cada linha de milho) foi avaliada a contribuição
da fixação biológica de N2 pelo caupi e sua transferência para o milho por meio da
análise de abundância natural de 15N em amostras de plantas de milho e caupi.

O estudo proporcionou os seguintes resultados:

»» a adubação verde aumentou significativamente o teor de N total das


folhas de milho, analisadas oito dias após o corte da leguminosa;

»» a produção de grãos de milho foi aumentada em 16% quando as duas


linhas de caupi foram utilizadas como adubo verde (incorporadas ou só
roçadas) na época da floração;

»» 89% do nitrogênio do caupi consorciado foram provenientes da fixação


biológica, enquanto no caupi “solteiro” apenas 60% foram obtidos dessa
forma;

»» o balanço de nitrogênio no sistema mostrou uma saída de 54kg de N/ha


com milho “solteiro” e uma entrada de 47kg de N/ha derivados do ar nos
tratamentos com duas linhas de adubação verde.

Consórcios de alface com cenoura ou beterraba, avaliados pelo “Índice de Eficiência


de Uso da Terra”, mostraram-se 84 e 37% mais produtivos do que os respectivos
monocultivos; a produtividade da cenoura em consórcio foi de 43,54t/ha contra 35,88t/
ha em monocultivo.

Já a produtividade da beterraba em consórcio foi 29,04t/ha contra 32,24 t/ha em


monocultivo. O peso médio da alface, por outro lado, não foi influenciado pela presença
da cenoura ou da beterraba em consórcio.

Diante de resultados expostos, fica evidente que um sistema integrado entre cultivos traz
melhorias não somente para o solo quanto para as plantas. Evitando-se o monocultivo
contribui-se ainda para a melhoria da fauna e flora microbiana do solo.

O Manejo e o sistema integrado referem-se ainda ao controle de pragas e doenças


de forma natural, ou seja, sem aplicação de produtos químicos, como inseticidas e
herbicidas.
30
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Produção animal
O sistema integrado pode ser aplicado também à criação de animais, de forma orgânica.

Os sistemas de produção animal são modelos sustentáveis de produção que têm na sua
essência a simplicidade e a harmonia com a natureza, sem deixar de lado a segurança, a
produtividade e a rentabilidade ao produtor, onde todos os princípios da agroecologia
podem e devem ser aplicados.

Os maiores entraves para o desenvolvimento da pecuária orgânica referem-se à


produção de forragem e grãos para a alimentação animal, devido ao pequeno tamanho
das propriedades, à escassez de rações orgânicas para a suplementação alimentar
durante o período de estiagem, à baixa fertilidade do solo e áreas de pastagens, à baixa
adoção de práticas de adubação verde e ao clima desfavorável em determinadas épocas
do ano, em algumas regiões, podem limitar esse tipo de sistema.

Dessa forma, o produtor, pode se valer de uma série de alimentos alternativos,


considerados não convencionais e com características orgânicas que podem ser
produzidos na propriedade de forma orgânica, com objetivo de diversificação/rotação
de culturas, fixação de nitrogênio, melhoria das estruturas do solo, combinados para
produção de rações. Por exemplo: mandioca, feijão-silvestre, cana-de-açúcar, farelo de
arroz e de trigo e as pastagens consorciadas (gramíneas e leguminosas).

Assim, tem-se um sistema integrado, desde a formação do pasto, produção de grãos e/


ou forragens para alimentação do animal, que será o produto final comercializado.

Deve-se levar em consideração que nessa propriedade animais e vegetais se mantêm


num manejo integrado em harmonia, reciclando nutrientes e gerando relações químicas
e biológicas complexas.

A agropecuária orgânica, no Brasil, vem crescendo ano a ano. Na maioria das


propriedades rurais a pecuária já vem sendo desenvolvida com aporte reduzido de
insumos externos e com a utilização de recursos naturais existentes nas unidades
de produção. Segundo Soares et al. (2004) o Pantanal e a Amazônia são regiões
com aptidão natural para a produção de bovinos orgânicos e com manejo orgânico,
podem reduzir o impacto da produção animal nestes ecossistemas assim como podem
contribuir para a conservação ambiental a longo prazo.

Além de produção orgânica de bovinos, também já é realidade no Brasil a produção de


carne caprina e suína, ovos e aves.

A produção de aves e ovos pode ser feita em integração à produção de hortaliças. Em


relação aos caprinos é possível uma integração com culturas perenes como cocos,
mamão, abacate, manga e outras frutíferas. Deve-se lembrar ainda do manejo adequado
das forrageiras (grama ou leguminosas), as quais serão utilizadas para alimentação.

31
CAPÍTULO 5
Fertilizantes orgânicos de origem
animal e vegetal

O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem animal e vegetal: folhas secas,


gramas, restos vegetais, restos de alimentos, esterco animal e tudo mais que se
decompõem, virando húmus. O húmus é o fruto da ação de diversos microrganismos
sobre os restos animais e vegetais, este apresenta em média 58% de carbono e 5% de
nitrogênio. De maneira geral, dosando o teor de C e de N pode-se avaliar a % de matéria
orgânica humificada, multiplicando-se, respectivamente pelos fatores 1,724 pelo teor
de carbono e 20 pelo teor de nitrogênio.

A proporção C/N na matéria orgânica do solo é fator importante sobre vários aspectos,
dos quais os mais significativos são:

»» Uma adição ao solo de resíduos com relação C/N elevada motiva a


competição pelo N disponível entre os microrganismos e as plantas.

»» Resíduos com relação C/N baixa (leguminosas) podem favorecer


o desenvolvimento microbiológico no processo de decomposição,
implicando em maior quantidade de N mineralizado.

O húmus se apresenta em forma coloidal e pode influir em diversas propriedades físicas


e químicas do solo:

»» melhora a estrutura do solo;

»» reduz a plasticidade e coesão;

»» aumenta a capacidade de retenção de água;

»» ameniza a variação da temperatura do solo;

»» aumenta a capacidade de troca catiônica;

»» aumenta o poder tampão;

»» compostos orgânicos atuam como quelato;

»» matéria orgânica em decomposição é fonte de nutriente.

32
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Origem animal
Dos adubos orgânicos, o esterco animal é considerado o mais importante, sendo que
seu principal nutriente é o nitrogênio. É formado por excrementos sólidos e líquidos
dos animais e pode estar misturado com restos vegetais.

Sua composição é muito variada. São bons fornecedores de nutrientes, tendo o fósforo
e o potássio rapidamente disponíveis e o N fica na dependência da facilidade de
degradação dos compostos. Sua composição química possui outros elementos, como o
fósforo e potássio.

Apesar de ser bastante rico em nutrientes, pelo fato de a concentração dos elementos
químicos presentes no adubo ser desbalanceada, o esterco animal deve ser aplicado e
complementado por doses adicionais de fertilizantes minerais. A mistura de esterco
com adubos fosfatados tem mostrado excelentes resultados, pois além de ajudar a reter
o fósforo no solo, reduz as perdas de nitrogênio.

Origem vegetal
É grande a quantidade de restos vegetais remanescentes que sobra após as safras. O
arroz e o trigo deixam de 30 a 35%, e o algodão, cana, milho cerca de 50 a 80% da
massa original em forma de resíduo orgânico. Qualquer material orgânico no solo
pode ser eventualmente reduzido em tamanho por pequenos animais e ser putrefeito
por organismos já nele presentes, ou que vêm do solo. Sua função de fornecedor de
nutrientes, como de quase todos os outros resíduos, depende basicamente do material
empregado em seu preparo.

Deve-se destacar que o efeito do composto como agente acondicionador do solo


melhorando suas características físicas, como retenção de água, plasticidade, porosidade
etc., talvez seja mais importante que seu efeito fertilizante.

Resíduos da agroindústria

Após processamento do produto ou matéria prima, as agroindústrias produzem o


resíduo, e muitas vezes esses podem ser reutilizados, às vezes de maneira direta e outras
após um processamento.

33
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Vejamos alguns exemplos:

Vinhaça

Resíduo produzido em grande quantidade nas destilarias de álcool. A vinhaça de cana é


rica em potássio (K) e possui teores relativamente elevados de outros elementos como
nitrogênio, cálcio, magnésio, zinco e cobre. A vinhaça originária da fermentação do
melaço, resíduo da fabricação do açúcar, possui uma maior concentração em relação à
vinhaça gerada na fermentação do caldo de cana.

A composição desse resíduo é muito variável, dependendo das condições em que a usina
vem operando. Se for considerado apenas o efeito do K, pode-se dizer que praticamente
100% deste elemento está disponível para as plantas.

A vinhaça contém ainda N, S, Mat.Org. e alguns microelementos. Sua aplicação mais


racional deve ser feita com base no teor de K. A maioria das aplicações vem sendo feita
in natura, em quantidades que variam de 50 a 200 m3/ha.

A vinhaça é recomendada conforme a fertilidade do solo e o tipo de mosto responsável


por sua obtenção. Sua aplicação nas propriedades agrícolas tem sido responsável por
aumentos de pH e notável elevação da atividade biológica do solo.

A quantidade de vinhaça a ser aplicada na propriedade varia de 60 a 250 metros cúbicos


por hectare, conforme a concentração de potássio existente no solo. A aplicação da
vinhaça é uma boa opção para os produtores de cana-de-açúcar, pois, como é gerada
pela indústria canavieira, sua obtenção é relativamente fácil (RAIJ et al., 1996).

Na Tabela 1 são apresentadas as composições químicas de vinhaças provenientes de


diferentes tipos de mostos.

Tabela 1. Composição química de vinhaças conforme o tipo de mosto.

Parâmetro Melaço Caldo Misto


pH 4,2 – 5,0 3,7-4,6 4,4 -4,6
Temperatura (ºC) 80-100 80 – 100 80 – 100
DBO (mg/l O2) (1) 25.000 6.000 – 16.000 19.800
DQO(mg/l O2) (2) 65.000 15.000 – 33.000 45.000
Sólidos Totais (mg/l) 81.500 23.700 52.700
Sólidos voláteis (mg/l) 60.000 20.000 40.000
Sólidos fixos (mg/l) 21.500 3.700 12.700
Nitrogênio (mg/l N) 450 – 1.610 150 - 700 480 - 710
Fósforo (mg/l P2O5) 100 - 290 10- 210 9 -200
Potássio (mg/l K2O) 3.740 – 7.830 1.200 – 2.100 3.340 - 4600
Cálcio (mg/l CaO) 450 – 5.180 130- 1.540 1.330 – 4.570

34
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Magnésio (mg/l MgO) 420 – 1.520 200 - 490 580 – 700


Sulfato (mg/l SO4) 6.400 600 – 760 3.700 – 3.730
Carbono (mg/l C) 11.200 – 22.900 5.700 – 13.400 8.700 – 12.100
Relação C/N 16 – 16,27 19,7 – 21,07 16,4 – 16,43
Matéria Orgânica 63.400 19.500 3.800
Subst. Redutoras (mg/l) 9.500 7.900 8.300
(1) DBO: Demanda bioquímica de oxigênio.
(2) DQO: Demanda química de oxigênio.
Fonte: Marques (2006).

Torta de filtro

Resíduo da indústria açucareira oriundo da filtração a vácuo do lodo retido nos


clarificadores. É composto de resíduos solúveis e insolúveis da fase de calagem. Cada
tonelada de cana moída rende em torno de 40 kg.

A torta é rica em P, Ca, Cu, Zn, Fe e possui relação C/N muito elevada, podendo diminuir
a disponibilidade de N no solo. É deficiente em potássio, o que sugere a combinação
deste resíduo com a vinhaça.

A torta de filtro é constituída de cerca de 1,2 a 1,8% de fósforo e cerca de 70% de


umidade. A torta também apresenta alto teor de cálcio e consideráveis quantidades de
micronutrientes. Em torno de 50% do fósforo é considerado prontamente disponível e
o restante será mineralizado aos poucos.

A torta é empregada principalmente em cana-planta, nas dosagens de 80 a 100 toneladas


por hectare (torta úmida); em área total, de 15 a 35 toneladas por hectare (sulco) e
40 a 60 toneladas por hectare na entrelinha das soqueiras, substituindo parcial ou
totalmente a adubação fosfatada, dependendo da dose de P2O5 recomendada.

A elaboração da compostagem da torta de filtro adicionando gesso, cinzas de caldeiras


e palhada tem agregado valor a esta, melhorando sua concentração em nutrientes e
reduzindo sua umidade, o que pode ser vantajoso para o transporte a distâncias maiores
e desvantajoso para plantios em épocas de estiagem.

A torta de filtro é produzida na ordem de 2,5 a 3,5% de cana moída e apresenta elevada
umidade, teor de matéria orgânica, fósforo, cálcio, magnésio e nitrogênio.

Além de possuir alto teor nutricional já no primeiro ano de aplicação, a torta de filtro é
capaz de liberar grande quantidade dos seus nutrientes no solo. Outra boa característica
é sua capacidade de reter água e de manter a umidade do solo. O resíduo umedecido
pode ser aplicado na cultura da cana-de-açúcar em área total, com uma concentração
de 80 a 100 toneladas por hectare. No sulco do plantio pode ser aplicada com uma

35
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

concentração de 15 a 30 toneladas por hectare e, nas entrelinhas, com uma concentração


de 40 a 50 toneladas por hectare (RAIJ et al., 1996).

A Tabela 2 a seguir apresenta a composição química de 100 gramas de torta de filtro.

Tabela 2. Composição química aproximada de 100 gramas de torta de filtro.

Parâmetro Quantidade
Carbono 8,04 %
Nitrogênio 0,28 %
Fósforo Orgânico 0,53 mg
Fósforo Inorgânico 1,18 mg
Fósforo total 1,70 mg
Potássio 56,64 mg
Carbono 0,80 g
Magnésio 76,9 mg
Matéria orgânica 16,90 %
Água Livre 77,77 %
Boro 3 ppm
Cobre 11 – 15 ppm
Manganês 138 – 196 ppm
Zinco 10 – 33 ppm
Cobalto 0,3 ppm
Ferro 3.500 ppm

Fonte: Vitti et al. (2006)

Resíduos de biodigestores

Constituídos pelos efluentes de biodigestores, são considerados excelentes adubos


orgânicos. Possui composição muito variável, uma vez que o efluente consiste de
material que por concentração perdeu carbono. Se o material biodigerido contiver alta
concentração de metais pesados, esses aparecerão em concentração ainda maior no
efluente e poderão estar disponíveis para absorção pelas plantas.

Resíduos urbanos

Lodo de esgoto

É um material sólido orgânico, ou inorgânico, removido das águas residuais provenientes


das residências e estabelecimentos comerciais, nas estações de tratamento de esgoto.

A concentração de N, P e K no lodo depende das contribuições recebidas pelas águas


residuais, do tipo de tratamento a que foi submetido e do manejo entre a sua produção

36
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

e a sua aplicação no solo. Há volatilização da amônia durante a digestão aeróbica e


durante a secagem.

A disponibilidade do N do lodo para as plantas diminui à medida que as formas


inorgânicas (nitrato e amônia) diminuem e que as formas orgânicas se tornem mais
estáveis durante a digestão, nas estações de tratamento. O P e K desde que presentes,
estão na forma disponível. O Lodo de Esgoto possui o inconveniente de ser contaminado
com agentes patogênicos e metais pesados.

Lixo urbano

O aproveitamento é feito por diversos processos em função das quantidades, recursos e


intenções, desde a decomposição ao ar livre até a fermentação em digestores fechados.
Possui de 10 a 60% de umidade e de 20 a 30% de matéria orgânica.

O lodo de esgoto ou biossólido e o lixo urbano são recomendados como fonte de


nutrientes, principalmente para a manutenção de parques e jardins, culturas de
interesse madeireiro ou para produção de alimentos, desde que o produto da colheita,
durante seu desenvolvimento, não tenha tido contato direto com o lodo, como exemplo,
as espécies frutíferas.

Composto
O composto é resultado da decomposição de restos vegetais. A decomposição pode
ser feita com o auxílio de camadas superficiais de terra ou esterco animal que, pela
presença de grande quantidade de microrganismos, aceleram a decomposição do
material vegetal. A decomposição dos restos vegetais também é possível por meio da
adição de corretivos, como o calcário e a ureia na mistura.

Os compostos podem possuir diferentes quantidades de carbono, nitrogênio e outros


nutrientes. A relação entre as quantidades de carbono e nitrogênio e carbono e fósforo
dá uma ideia do tempo de liberação dos nutrientes no solo. Assim, é possível prever
quando será necessária uma nova aplicação.

Outros resíduos
Resíduos das indústrias de café solúvel, que são utilizados após o tempo correto de
fermentação, podem ser utilizados diretamente na hortifruticultura. Palha de café e
casca de arroz podem ser aproveitadas após decomposição como adubos orgânicos.

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UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Um engano muito comum é mandar para a lata do lixo partes dos alimentos que
poderiam ir para o prato como as folhas de muitas hortaliças (como as da cenoura e da
beterraba), talos, cascas e sementes são ricas fontes de fibra e de vitaminas e minerais
fundamentais para o bom funcionamento do organismo. Já que em muitas vezes essas
partes são descartadas, podemos utilizá-las na compostagem.

A tabela a seguir traz a composição química de alguns materiais utilizados como


fertilizantes e sua origem.

Tabela 3. Composição química típica de vários materiais orgânicos de origem animal, vegetal e agroindustrial.

Material C/N umidade C N P K Ca Mg S Zn Cu Cd Ni Pb


Orgânico (g/kg) mg/kg
Esterco bovino 20 620 100 5 2,6 6 2 1 1 33 6 0 2 2
fresco
Esterco Bovino 21 340 320 15 12 21 20 6 2 217 25 0 2 1
curtido
Esterco de 10 550 140 14 8 7 23 5 2 138 14 2 2 17
galinha
Esterco de porco 9 780 60 7 2 5 12 3 - 242 264 0 2 3
Composto de 27 410 160 6 2 3 11 1 2 255 107 11 25 111
Lixo
Lodo de esgoto 11 500 170 16 8 2 16 6 2 900 435 - 362 360
Vinhaça in natura 17 950 10 0,6 0,1 3 1 0,4 0,5 3 5 - - -
Torta de filtro 27 770 80 3 2 0,6 5 0,8 3 20 13 - - -
Torta de mamona 10 90 450 45 7 11 18 5 - 128 73 - - -
Mucuna 20 870 60 3 0,6 3 2 0,4 - 6 3 - - -
Crotalária júncea 25 860 70 2,8 0,4 3 2 0,4 - 2 1 - - -
Milho 46 880 60 1,3 0,2 3 0,5 0,2 0,2 3 1 - - -
Aguapé 20 940 20 1 0,1 1 1 0,2 0,2 3 2 0 1 2

Fonte: Raij et al. (1996).

38
CAPÍTULO 6
Compostos orgânicos

A compostagem é a transformação da matéria orgânica bruta, num produto facilmente


assimilável pelas plantas, por meio de um processo eficiente de decomposição executado
por micro-organismos. O composto orgânico dá a possibilidade de cultivar plantas
saudáveis e fortes, sem ter que recorrer a fertilizantes químicos.

O composto orgânico é um adubo de uso rotineiro nas propriedades orgânicas. É uma


excelente forma de aproveitamento dos restos vegetais e animais oriundos da atividade
agropecuária. Pode ser elaborado apenas com resíduos vegetais ou em mistura com
resíduos animais. Entretanto, para obtenção de um composto de qualidade, é necessário
combinar resíduos ricos em carbono, como os capins, com outros materiais ricos em
nitrogênio, como palhada de feijão ou estercos animais.

Seria impossível o cultivo sem o retorno da matéria orgânica ao solo. Quando o solo
é coberto pelo composto, você esta colocando uma grande quantidade de matéria
orgânica. Este material vai estimular e desenvolver os micro-organismos benéficos do
solo, que irão lentamente liberar nutrientes para as plantas, dando a elas aquilo que
necessitarem. Além disso, o composto também altera a estrutura do solo, deixando ele
mais arejado, permeável e com boa capacidade de retenção de água. Assim, o ambiente
físico para o crescimento das raízes também é favorecido pela adição do composto. Um
solo argiloso e pesado fica mais permeável, assim como um solo arenoso torna-se mais
capaz de reter água e nutrientes.

Todos os restos orgânicos sejam eles vegetais, animais ou fúngicos se decompõem,


servindo para a compostagem. Uns mais lentamente e outros mais rapidamente. O
equilíbrio na proporção entre estes tipos de materiais é fundamental. No entanto,
alimentar os micro-organismos decompositores é mais fácil do que você imagina. Os
micro-organismos necessitam, para sua manutenção e crescimento, de materiais ricos
em energia, como os carboidratos, e em nitrogênio, como as proteínas. Os demais, como
sais minerais e outros nutrientes, são um brinde.

Todo material verde, tenro e fresco é rico em proteínas, como por exemplo, a grama
recém-roçada, brotos, cascas de frutas, restos de comida. Da mesma forma, as tortas
oleaginosas como a torta de mamona, de soja e de algodão. No entanto, os materiais
mais ricos em nitrogênio são os materiais de origem animal, como estercos, urina,
farinha de sangue, de chifre e de ossos. Ainda assim, é perfeitamente possível equilibrar

39
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

um composto sem produtos de origem animal, basta equacionar bem com os vegetais
deste grupo.

Os materiais ricos em energia são geralmente, aqueles secos e fibrosos, que contêm
muita celulose e lignina, eles nada mais são do que carboidratos complexos de origem
vegetal e desta forma ricos em carbono, como as folhas secas, palhas, serragem, galhos,
aparas, papel etc.

Para fazer um bom composto, rico em nutrientes, esta proporção de nitrogênio


(proteínas) e carbono (carboidratos complexos) deverá estar o mais correto possível.
Para isto, deverá ser utilizada a relação carbono/nitrogênio. O ideal para os micro-
organismos seria uma relação de 30/1 (trinta partes de carbono para uma de nitrogênio).
Os micro-organismos usam três partes de carbono, e eliminam duas partes, daí a
relação final do composto ser 10/1. Quando esta relação for acima de 30/1, o processo
fica muito mais demorado. Abaixo de 30/1, o nitrogênio se perde para o ambiente e
pode até poluir.

Para um melhor entendimento, uma pilha de serragem (alta relação c/n) demora a se
decompor, isto porque há deficiência de proteínas. Uma pilha de grama decompõe-se
rapidamente, pois a relação C/N está abaixo de 30/1. Neste caso, há falta de materiais
energéticos (fontes carbono). A maior parte do excesso de nitrogênio é eliminada sob a
forma de amônia, provocando uma pilha de compostagem mal cheirosa.

Métodos de compostagem
A compostagem pode-se processar de três maneiras:

»» Aeróbia: caracteriza-se pela presença de ar no interior da massa, pelas


temperaturas elevadas que ocorrem, pela liberação de gás carbônico,
de vapor de água e pela rápida decomposição da matéria orgânica,
elimina organismos e sementes indesejados. (Esta é a compostagem que
geralmente realizamos).

»» Anaeróbia: caracteriza-se pela baixa temperatura de fermentação, pela


ausência de ar atmosférico, pelos gases que desprendem, principalmente
o metano, gás sulfídrico e outros, o que acarreta mau odor e é mais lenta
que a aeróbia e não fica isenta de organismos e sementes indesejados.

»» Mista: são métodos em que a matéria orgânica tem uma fase submetida
a um processo aeróbio seguido de um anaeróbio ou vice-versa.

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Estágios da compostagem
Na compostagem ou processo de transformação dos resíduos orgânicos em adubo, são
identificados dois estágios importantes:

1. Digestão: que corresponde à fase inicial do processo de fermentação, na


qual o material alcança o estado de bioestabilização.

2. Maturação: no qual a matéria prima atinge a humificação.

Como fazer compostagem no campo?


Para produzir o composto, necessita no mínimo de uma área para uma pilha de
compostos orgânicos de 1 metro cúbico. Se tiver menos do que isto, a pilha poderá
não acumular calor suficiente, energia essencial para que o processo se desenvolva
de maneira satisfatória. Para produzir seu próprio composto, você não necessita usar
estercos.

O pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Marco Antônio Leal, desenvolveu um


composto 100% vegetal, utilizando materiais como torta de mamona, bagaço de cana-
de-açúcar e palhada de capim-elefante em sua composição, sem a necessidade de adição
de inoculantes ou adubos minerais.

Esse composto pode ser uma alternativa aos adubos orgânicos, que, em sua maioria,
utilizam esterco bovino e cama de aviário, materiais de difícil obtenção e custo elevado
e que geralmente apresentam problemas de contaminação química ou biológica.

Segundo Marco, os fertilizantes orgânicos e substratos obtidos a partir desse processo


apresentam qualidade superior aos similares encontrados no mercado e podem ser
utilizados também na agricultura orgânica. Segundo ele, esses produtos são isentos
de contaminação biológica, não utilizam adubos minerais e seu custo pode ser muito
inferior. Além disso, podem ser produzidos tanto em grande escala como na pequena
propriedade rural, já que utiliza um processo industrial simples, que não necessita de
grandes investimentos em infraestrutura.

A Embrapa disponibiliza uma videoaula no youtube, no seguinte endereço:


https://www.youtube.com/watch?v=Af0IhGWge2U.

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UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Todos os restos de alimentos, estercos de animais, restos de grama, folhas, galhos,


restos de culturas agrícolas, enfim, todo o material de origem animal ou vegetal pode
entrar na produção do composto.

Alguns materiais que não devem ser usados na compostagem são: madeira tratada
com pesticidas contra cupins ou envernizadas, vidro, metal, óleo, tinta, couro, plástico,
pneus e papel, os quais não são facilmente degradados pelos micro-organismos. Esses
podem ser transformados por meio da reciclagem industrial ou serem reaproveitados
em peças de artesanato.

Deve-se lembrar sempre que quanto mais variados e mais picados (fragmentados)
forem os componentes utilizados, melhor será a qualidade do composto e mais rápido
o término do processo de compostagem.

Preparo das pilhas do composto

Escolha do local: deve-se considerar a facilidade de acesso e a disponibilidade de


água para molhar as pilhas. O solo deve possuir boa drenagem. Também é desejável
montar as pilhas em locais sombreados e protegidos de ventos intensos, para evitar
ressecamento.

Iniciar a construção da pilha colocando uma camada de material vegetal seco de


aproximadamente 15 a 20 centímetros, com folhas, palhadas, troncos ou galhos picados,
para que absorva o excesso de água e permita a circulação de ar.

Terminada a primeira camada, deve-se molhar com água, evitando encharcamento e,


a cada camada montada, deve-se umedecê-la para uma distribuição mais uniforme da
água por toda a pilha.

Na segunda camada, deve-se colocar restos de verduras, grama e esterco. Se o esterco


for de boi, pode-se colocar 5 centímetros e, se for de galinha, mais concentrado em
nitrogênio, coloca-se um pouco menos.

Novamente, deposita-se uma camada de 15 a 20 cm com material vegetal seco, seguida


por outra camada de esterco e assim sucessivamente até que a pilha atinja a altura
aproximada de 1,5 metros. A pilha deve ter a parte superior quase plana para evitar a
perda de calor e umidade.

Deve-se deixar mais plana possível a parte superior para evitar que se formem bolsas e
acumule águas das chuvas.

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Durante a compostagem existe toda uma sequência de micro-organismos que


decompõem a matéria orgânica, até surgir o produto final, o húmus maduro. Todo
este processo acontece em etapas, nas quais fungos, bactérias, protozoários, minhocas,
besouros, lacraias, formigas e aranhas decompõem as fibras vegetais e tornam os
nutrientes presentes na matéria orgânica disponíveis para as plantas.

Como fazer compostagem em casa?


Quem não tem em casa, um quintal com um cantinho livre e não pavimentado, pode
adquirir uma lata ou lixeira plástica grande. Retire uma parte do fundo para escoamento
da água. Para cobrir, use uma lona ou chapa de papelão. Coloque os resíduos, alternando
os vegetais com excrementos de animais herbívoros como gado, cabra e aves.

Usam-se restos de cascas bem picadas, aparas de grama, pó de café e folhas de chá,
erva mate, o papel de filtro do café, guardanapos de papel usados, cascas de ovos bem
trituradas, papel branco bem picado, papelão de caixa de ovos bem desmanchada,
correspondência descartável de papel branco.

Cinzas de lareira ou fogão, também podem ser colocadas, mas em pequena quantidade.

Quem tem tanque ou açude com plantas aquáticas, poderá aproveitar o excesso, pois
estas dão excelente contribuição de nutrientes.

Cascas, folhas verdes de hortaliças, frutas, aparas de poda e estercos são considerados
materiais verdes e são ricos em nitrogênio e carbono.

A proporção recomendada pela Embrapa é de uma relação de 75% de restos vegetais


dos dois tipos para 25% de esterco animal.

Se preferir, pode-se construir uma composteira no quintal, utilizando tábuas e sarrafos,


formando uma caixa. Um dos lados fica aberto e pode ir adicionando tábuas à medida
que a pilha for crescendo. Isso facilitará o revolvimento e a retirada do composto pronto
para ser utilizado.

A composteira dessa forma, não pode ter fundo, a pilha fica em contato com o solo. Se
quiser ajudar na percolação das chuvas e da água do composto, faça uma cama de areia
embaixo, antes de começar a colocar os materiais para compostagem.

Na primeira semana, recomenda-se revolver bem a mistura todos os dias e depois pelo
menos uma vez por semana.

Se o material ficar seco, irá esfarelar na mão, será necessário umedecer a pilha.

43
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Se por acaso começar a escorrer água, será necessário revolver bem, deixando arejar
e ficar sem molhar por um tempo. Também a adição de materiais secos, como papel
picado ajuda.

Existem no mercado composteiras pronta para uso doméstico, onde na base do


recipiente é acoplada uma torneira, por onde é escoado o líquido produzido (chorume),
o qual pode ser utilizado como adubo em vasos e jardins (Figura 1).

Ainda é possível adicionar minhocas junto ao composto, produzindo assim, o que


chamamos de húmus de minhoca e tem-se aí um minhocário.

Figura 1. Modelo de composteira caseira.

Fonte: <www.terraambiental.com.br>

O que não usar na compostagem?


Os materiais: tipo papelão de embalagem de ovos ou de tubos de papel toalha ou
higiênico rasgados, papéis brancos, ramos de poda e pó de serra são chamados de
materiais marrons, têm mais lenta decomposição, mas contêm muito carbono. Comida
cozida que contém sal, carnes cruas ou cozidas de gado, peixe ou aves, sebo, papel
toalha usado para fritura, sementes de tomate, cascas de batatas, sementes de moranga
e abóbora, sementes de inços, excrementos de cães e gatos, a areia do banheiro do gato,
revistas, folders coloridos de propaganda. E também cinzas oriundas de churrasqueira
por causa do sal e porque o carvão contém substâncias que podem prejudicar as plantas.

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CAPÍTULO 7
Manejo das culturas no sistema
orgânico

No manejo das culturas deve-se priorizar o equilíbrio da natureza, preservando a fauna,


a flora, os mananciais e cursos d’água.

O emprego de agrotóxicos, mesmo da Classe Toxicológica IV (faixa verde), são


considerados como perigosos e contaminantes para o meio ambiente (citados no
próprio rótulo). O seu emprego pode causar desequilíbrios sérios, como a contaminação
química dos mananciais de água, erradicação dos inimigos naturais, poluição dos solos
etc. Busca-se o emprego de produtos que não afetem o ecossistema ou que tenham
baixo impacto ambiental, sem efeito residual e que permitam rápida recomposição dos
elementos naturais.

Deve-se reduzir o número de aplicações de defensivos em relação à agricultura


convencional ou química, na qual há um número excessivo de aplicações de defensivos
agrícolas.

A opção de manter a saúde do solo e o emprego de defensivos alternativos que aumentem


a vitalidade e a resistência das plantas vem demonstrando a possibilidade de reduzir a
necessidade de frequentes aplicações de produtos na lavoura.

Na agricultura orgânica não são empregados agrotóxicos, porém defensivos naturais e


processos que visam fortalecer a resistência da planta. Quando se emprega um defensivo
alternativo o objetivo principal não é eliminar ou erradicar os insetos ou patógenos, mas
fortalecer a planta de forma a ativar e favorecer seus mecanismos de defesas naturais
ou reforçar suas estruturas de proteção. A ação fito ou fertiprotetora dos alternativos é
importante, pois além dos insetos-pragas e patógenos, a planta está sujeita a distúrbios
ou doenças fisiológicas e fatores climáticos (stress hídrico, calor, umidade etc.).

É necessário que haja todo um processo para diminuir os gastos com a condução das
culturas, com o objetivo de reduzir o custo de produção e aumentar a lucratividade. A
agricultura atual, caracterizada pela elevada demanda de insumos, tornou-se altamente
onerosa, com baixo retorno ao agricultor. A condução num sistema mais sustentável,
com o emprego das técnicas da agroecologia, permite nos cultivos, reduzir os gastos de
produção e aumentar a renda líquida do agricultor.

45
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

A principal diferença entre o cultivo orgânico e o cultivo convencional está na


utilização de fertilizantes, agrotóxicos e pesticidas na produção agrícola. A agricultura
convencional utiliza mecanismos e tecnologias artificiais para a proteção da lavoura, e
isso é considerado muito agressivo tanto ao meio ambiente quanto à saúde humana.

O uso indiscriminado de agrotóxicos contribui para a degradação e contaminação do solo


e corpos hídricos no entorno das plantações, contaminação de reservas subterrâneas de
água, os chamados lençóis freáticos, desmatamento.

O uso de fertilizantes nitrogenados pode causar impacto do óxido nitroso sobre o


desequilíbrio do efeito estufa. Em relação à saúde humana, estudos comprovam que
a ingestão de alimentos contaminados por quantidade excessiva de agrotóxicos pode
causar disfunções hormonais, contaminação de leite materno, má formação do feto e
dificuldades no desenvolvimento das capacidades cognitivas, além de serem substâncias
possivelmente carcinogênicas.

Uma solução encontrada para essa problemática foi a agricultura orgânica, que por
não utilizar agrotóxicos e no seu cultivo, se ajusta às características do local e utiliza
tecnologias naturais para a manutenção do plantio. No lugar dos agrotóxicos, são
utilizados predadores para as pragas comuns na lavoura, bem como adubos e fertilizantes
naturais e orgânicos e há rotação de espécies a serem plantadas.

Principais diferenças no manejo entre agricultura convencional e agricultura orgânica:

Tabela 4. Diferenças em atividades realizadas em sistema convencional e Sistema Orgânico.

Atividade Sistema Convencional Sistema Orgânico


Aração e gradagens, (movimentação de solo é grande e Solo tratado como um organismo vivo. Busca-se menor
Preparo de Solo
intensiva - exceção para o plantio direto). revolvimento do solo.
Uso de doses elevadas de adubos químicos altamente
Adubação Uso de adubos orgânicos.
solúveis.
Controle de pragas e doenças Uso de produtos químicos (inseticidas e fungicidas). A base de Medidas preventivas e produtos naturais.
O mato é considerado como uma erva daninha. Uso de O mato é considerado como um amigo. O controle é
Controle de ervas daninhas
controle químico com herbicidas, na maioria dos casos. preventivo, manual e mecânico.
Poluição das águas e degradação do solo (elementos
Sintomas ao Meio Ambiente Preservação do solo e das fontes de água.
químicos residuais).

Fonte: <http://www.ecycle.com.br/component/content/article/62-alimentos/2069-conheca-agricultura-organica-o-que-e-
diferencas-relacao-convencional-agrotoxicos-pesticidas-fertilizacao-degradacao-solo-contaminacao-lencois-freaticos-
desmatamento-biodiversidade-impacto-mudanca-climatica-risco-beneficio-saude-humana-certificacao-selo.html, adaptado
por Prela-Pantano>.

Alguns cuidados são necessários após o plantio, como a irrigação sem excesso; controle
de formigas cortadeiras, fazer a desbrota do excesso de brotos, manter sob controle a
vegetação nativa; cobrir a coroa das plantas com uma cobertura de palha seca etc.

46
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

No caso de pomar, deve ser mantido com ervas pioneiras ou invasores sob controle, as
quais no período das chuvas devem ser roçadas ou controladas com capinas.

Irrigação
Nas condições subtropicais, quando ocorre estiagens, é indispensável a irrigação. O
tipo de irrigação, sua frequência e quantidade de água a ser aplicada, dependerão da
região e do ano. Poderá ser empregado o sistema de irrigação localizado (aspersão ou
gotejamento), que é o mais indicado, ou então irrigação por sulco ou aspersão. Em
fruticultura comercial a quantidade e qualidade (tamanho) do fruto são antagônicos,
assim sendo, há necessidade de sacrificar certo número de frutos (desbaste) em favor
da qualidade dos demais.

O controle de patógenos e insetos nocivos deve ser feito por produtos que não agridam
o homem e a natureza. Como não são utilizados os agrotóxicos na fruticultura orgânica,
empregar os defensivos alternativos, nos períodos potenciais, pode decorrer em danos
significativos.

São muito empregados para o controle de moléstias a calda Bordalesa, calda Viçosa e a
calda Sulfocálcica, entre muitos outros.

Controle de plantas daninhas


Há várias medidas que podem reduzir a infestação de ervas invasoras:

»» Uso de sementes de boa qualidade, isentas de sementes estranhas.

»» Mudança da época de plantio, fazendo a semeadura mais cedo, para


promover a germinação da cultura antes das plantas invasoras.

»» Evitar o uso de estercos que possam conter ervas daninhas, principalmente


quando os animais se alimentam de capins ou gramas com sementes
maduras, com feno ou grãos que contenham sementes de ervas daninhas.

»» No esterco do gado tratado com alimentos ensilados ou tratados (moídos


ou cozidos) não há este risco.

»» Nas áreas livres de ervas invasoras somente empregar estercos livres de


sementes estranhas e evitar trânsito ou pastejo de animais, para que não
ocorra a infestação das ervas indesejáveis.

47
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

»» Manter limpos os equipamentos agrícolas para que não sejam veículos


disseminadores de ervas indesejáveis para outras áreas.

»» Fazer a erradicação ou roçada das ervas invasoras antes da sua produção


de sementes.

»» Em pequenas áreas como hortas e jardins pode ser empregada a


erradicação manual das ervas indesejáveis. A capina pela enxada é uma
prática comum, porém de alto custo nos dias atuais.

»» A adição de palha, bagaços de cana-de-açúcar e restos de cultivos


melhoram as condições do solo, reduzindo as infestações de capim-
carrapicho, guanxuma, grama seda etc. O próprio capim marmelada ou
papuã, quando roçado e coberto com palha várias vezes morre.

»» Sombreamento – quando as plantas das linhas crescem, elas acabam


fechando as entrelinhas e com o sombreamento a tendência é diminuir a
infestação.

Cobertura viva
O plantio de adubos verdes constitui uma cobertura viva do solo que pode estabelecer
uma relação de alta competição com as ervas indesejáveis, como o milheto, crotalária,
lab-lab, guandu, e outras. A vantagem é que o seu poder de inibição permanece após
o seu corte e distribuição sobre o solo, como realizado no plantio direto. É possível a
implantação de adubos verdes no verão e em seguida no inverno.

Cobertura viva do solo pode ser considerada toda vegetação presente, quer de
procedência cultivada ou espontânea. Adubos verdes são plantas cultivadas no local
ou trazidas de fora e cultivadas com a finalidade de serem incorporadas ao solo para
preservar a sua fertilidade. Podem ser utilizadas em consórcio, rotação de culturas,
cercas-vivas, quebra-ventos, faixas de contorno e bordaduras. A utilização de biomassa
vegetal como fonte de matéria orgânica representa uma oportunidade para o produtor
diminuir a sua dependência da criação animal (CHAVES et al., 2000).

Dentre os benefícios oriundos da utilização dessa massa vegetal, podem-se mencionar


seus efeitos sobre as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, além de
efeitos alelopáticos. A cobertura viva e os adubos verdes propiciam o aumento do teor
de matéria orgânica, a disponibilidade de macro e micronutrientes, do pH e reduzem
os efeitos tóxicos do alumínio e do manganês. Ajudam a trazer para a superfície os
nutrientes das camadas mais profundas do solo, disponibilizando-os para o cafeeiro,

48
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

além de diversificarem o sistema, elevando a população de insetos polinizadores, bem


como de parasitoides e predadores de pragas da lavoura.

A vegetação cobrindo o solo auxilia a protegê-lo do impacto das chuvas e,


consequentemente, da erosão, aumentando a infiltração e capacidade de retenção de
água, a porosidade e a aeração do solo atenuam as oscilações de temperatura e umidade,
intensificando a atividade biológica, contribui também para diminuir a necessidade de
capinas.

As espécies mais utilizadas como adubos verdes são as leguminosas, devido à sua
capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, incorporando-o ao sistema, o que significa
uma importante alternativa de suprimento às culturas. Na cafeicultura, os adubos
verdes podem ser utilizados no pré-plantio do café, no período de set/out a março/
abril, proporcionando uma elevada produção de massa verde e aporte de nitrogênio.

Muitas espécies podem ser utilizadas, destacando-se: mucuna anã, guandu, crotalárias,
leucena, lab lab, feijão de corda, mucuna preta, mucuna cinza.

Cobertura com plástico ou solarização


A cobertura do terreno com uma lâmina de polietileno (não transparente) vem sendo
muito utilizada para pequenas áreas, como no cultivo do morango e outras hortaliças.

Além de impedir o crescimento das ervas invasoras, ajuda a manter a umidade do solo.

A solarização é utilizada visando apenas ao controle das plantas daninhas, visto que
significa uma grande redução de mão de obra. Geralmente, plantas daninhas anuais são
mais sensíveis à solarização do que as perenes. Em razão das dificuldades do agricultor
em monitorar a temperatura do solo ou a população do patógeno durante a solarização,
o controle de plantas daninhas constitui-se num excelente indicador da eficiência do
método.

A presença de plantas daninhas pode significar que as temperaturas atingidas não foram
suficientes para um controle satisfatório. Quando a solarização é bem-sucedida, há o
controle de plantas invasoras. O tratamento de solarização é feito durante o período de
maior intensidade de radiação solar.

O plástico deve ser colocado, após uma chuva ou irrigação, de forma que permaneça
sobre o terreno sem a formação de bolsas de ar, cobrindo toda a área a ser tratada.
Para o tratamento de canteiros, é recomendado que o plástico cubra vários canteiros de

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UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

forma contínua, pois o aquecimento na borda do plástico (aproximadamente 40 cm) é


menor que na área central.

A principal característica do filme plástico utilizado é a transparência, que permite a


passagem dos raios solares e promove de forma eficiente o efeito estufa e, assim, o
maior aquecimento do solo.

Os filmes pretos e de outras cores não são recomendados por não serem tão eficientes
na elevação da temperatura do solo. A espessura do plástico tem influência sobre
sua durabilidade e custo. Filmes mais espessos são mais caros, porém, podem ser
reaproveitados. Plásticos utilizados em estufas podem ser usados na solarização e
apresentam, como vantagem, uma maior durabilidade que os plásticos sem aditivos.

A solarização tem-se mostrado viável para diversas culturas, apresentando


principalmente as vantagens decorrentes do fato de não ser um método químico. A
procura por métodos não químicos tem sido intensificada ultimamente, e assim a
solarização tem sido adotada por um maior número de agricultores (GHINI, 2001).

Cultivo mecânico
Consiste no emprego de cultivadores tracionados por animais ou trator. É um método
bastante utilizado, principalmente no cultivo de cereais e grãos, como: milho, feijão,
soja, trigo etc.

Plantas alelopáticas
São plantas que combatem outras plantas. Isto ocorre quando uma planta viva ou morta
exerce uma inibição química sobre a germinação ou desenvolvimento de outra. Há uma
liberação de substâncias químicas inibidoras, como os compostos fenólicos, que podem
ocorrer secretados na parte subterrânea de plantas em crescimento ou liberadas por
plantas mortas em decomposição.

Como exemplo:

»» O feijão de porco provoca a erradicação da tiririca, assim como o azevém


afeta a guanxuma.

»» A aveia preta inibe o desenvolvimento do capim marmelada.

»» A mucuna e as crotalárias abafam diversos capins, como a Brachiária


decumbens.

50
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» A mucuna-preta tem forte ação inibidora em Cyperus rotundus.

»» O capim massambará tem ação alelopática sobre várias plantas daninhas


e outras cultivadas, como a soja.

»» A palha da cana-de-açúcar afeta a germinação de várias espécies de


plantas invasoras, também pelo efeito alelopático.

Algumas destas plantas, além do benefício de erradicar plantas invasoras atuam como
aradoras biológicas do solo, como a Crotalária juncea, feijão de porco e mucuna e nabo
forrageiro ajudam a romper as camadas compactadas do solo.

Roçadeiras
As roçadeiras manuais ou tratorizadas são meios simples e rápidos para o manejo das
ervas invasoras nas entrelinhas dos pomares e nas pastagens. A roçada do mato é uma
prática importante de conservação de solo nos terrenos inclinados.

Rotação de culturas
As plantas invasoras são enfraquecidas nas áreas onde é feita a rotação de culturas.
Evitar a monocultura, pois esse sistema permite a formação de invasoras persistentes.
Além disso, a rotação de culturas quebra o ciclo de diversas pragas e doenças.

Outras medidas
Desidratação (lancha-chamas e vaporizador); EM4 - herbicida biológico (gradear o
terreno e na brotação aplicar o EM4); solarização do terreno ou da terra para viveiro
de mudas; vapores d’água, com introdução de tubos de ar quente em área coberta com
plástico. Em todos estes processos verificar o efeito sobre os micro-organismos e o
consequente vazio biológico.

51
CAPÍTULO 8
Nutrição de plantas e adubação
orgânica

Os fertilizantes orgânicos, sólidos e líquidos, são todos aqueles materiais de procedência


mineral, vegetal ou animal que podem ser utilizados para fertilizar os solos como um
todo e assim adubar as culturas. Eles devem ter alto valor agregado e baixo custo de
aquisição e produção.

Eles podem ser produzidos a partir de matérias-primas próprias ou adquiridos de


terceiros e se diferenciam dos adubos convencionais pela sua atividade e atuação sobre
o solo, as plantas e o ambiente, onde normalmente tem efeitos positivos como um todo,
produzindo menores impactos que os convencionais.

Os produtos orgânicos a serem utilizados para a fertilização não podem ser


provenientes de resíduos contaminados por metais pesados e componentes químicos
tóxicos e precisam ser homologados pela legislação e regulamentações das entidades
certificadoras de agricultura orgânica, tanto a nível nacional, quanto internacional.

Normalmente os corretivos de solo são necessários para iniciar o processo de agricultura


orgânica em muitos tipos de solo. Normalmente é permitida a utilização dos corretivos
em escala abaixo da recomendação oficial das análises de solo, de produtos como
cálcário dolomítico, calcário calcítico e calcário magnesiano.

Existem outros produtos, como calcário de conchas que também podem ser empregados
como corretivos, mas são pouco utilizados.

Posteriormente, quando as condições de equilíbrio com a utilização de matéria orgânica,


adubação orgânica, adubação verde e manejo, vão se adequando, praticamente não é
necessário o emprego de corretivos minerais.

Podem ser utilizados os resíduos em forma de pó das mais diversas rochas encontradas
nas regiões, como complemento nutricional. Ex.: todos os tipos de fosfatos naturais,
como de Araxás, Patos de Minas, apatitas, pós de basalto, granito, granodiorito,
diabásio, micaxisto, silvenita, carnalita, kaineita etc.

Podem ser utilizadas as cinzas e carvões da queima de madeiras diversas, resíduos


industriais não contaminantes e bagaço de cana, no entanto deve-se ter cautela ao
utilizar cinzas de queimas, pois podem conter substâncias tóxicas e metais pesados.

52
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Adubação verde
A adubação verde é uma prática recomendada nos sistemas orgânicos, principalmente
nas regiões tropicais e subtropicais. Nestas condições climáticas é possível fazer o
plantio de adubos verdes o ano todo, obtendo uma nutrição natural para as plantas.
Adubo verde é o termo empregado para designar plantas que são empregadas para
melhorar o solo com nutrientes, como nitrogênio e principalmente biomassa (matéria
orgânica) em quantidades elevadas para o solo.

As principais plantas utilizadas como adubos verdes são as leguminosas (mucuna,


crotalária, feijão, soja etc.), gramíneas (milheto, aveia preta etc.) e outras como nabo
forrageiro e girassol.

As leguminosas são importantes por fornecerem nitrogênio por meio do processo de


fixação simbiótica das bactérias. As gramíneas devem ser incluídas como produtoras de
biomassa, por fornecerem carbono, mantêm e aumentam o teor de matéria orgânica no
solo e favorecem a flora e fauna benéficas do solo (micro-organismos).

Vantagens da adubação verde

Com a adoção dessa prática pode-se constatar diversos efeitos benéficos resultantes da
cobertura vegetal viva, morta, incorporada ou não ao solo.

»» otimização da produtividade e do lucro da propriedade;

»» preservação e conservação de recursos naturais e da biodiversidade;

»» proteção, recuperação e manutenção de solos cultivados;

»» ciclagem de nutrientes, adição de nitrogênio pelas leguminosas e


manutenção da matéria orgânica do solo;

»» aproveitamento mais adequado e racional dos insumos;

»» utilização de algumas espécies na alimentação humana e animal;

»» efeitos de quebra-ventos ou de arborização em culturas perenes em


formação;

»» sequestro de carbono, emissão reduzida de gases para a atmosfera,


contribuindo para a redução do efeito estufa e do desmatamento pelo uso
racional de áreas cultivas (Ex. Integração Lavoura x Pecuária);

53
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

»» utilização como possíveis fontes energéticas renováveis, como de biodiesel,


possibilitando a redução de pressão por novas áreas de produção;

»» utilização no controle de nematoides do solo e de plantas daninhas.

Os efeitos benéficos são variados e dependem diretamente das condições locais e de


frequência de uso (WUTKE, et al. 2010).

Limitações da adubação verde

Algumas limitações podem dificultar o uso frequente ou mesmo adoção definitiva dessa
prática.

Segundo Wutke et al. (2010) são elas:

»» desconhecimento sobre as características das plantas em determinados


sistemas de produção e época de semeadura mais adequada;

»» imediatismo – falta de interesse ou persistência do produtor;

»» pouca divulgação detalhada da prática;

»» possível interferência com outras atividades principais na propriedade,


dificuldade atual de mão de obra e eventual possibilidade de adoção de
determinados adubos verdes no sistema de plantio direto;

»» pouca informação em tecnologia de produção e em estudos agronômicos,


incluindo melhoramento genético, pois se têm poucas cultivares no
mercado;

»» possíveis efeitos prejudiciais às principais culturas dos distintos sistemas


de produção, como: estímulo à incidência de doenças e pragas com o
cultivo de adubos verdes hospedeiros;

»» eventuais efeitos alelopáticos indesejáveis; perenização ou mesmo


infestação devido manejo inadequado do adubo verde;

»» custo inicial, pode ser elevado e sem retorno imediato;

»» germinação irregular das sementes, prejudicando estande e manejo das


plantas;

»» inadequação ou falta de equipamentos para semeadura e beneficiamento


das sementes na propriedade e imediações;

54
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» ciclo longo de algumas espécies;

»» dificuldade na colheita;

»» sementes sem qualidade ou falta de sementes constante;

»» preço elevado e variável das sementes de uma mesma espécie e entre


espécies, ao longo do ano.

Defensivos e adubos alternativos


»» Calda Bordalesa: tem ação fungicida e bacteriostática quando aplicada
preventivamente e também pode atuar como repelente de muitos insetos.
A calda bordalesa é um defensivo alternativo preparado com a mistura de
sulfato de cobre + cal virgem (hidratada). Formula clássica 1%.

»» Calda Viçosa: indicada para tratamento preventivo contra doenças


fúngicas e nutriente foliar. A Calda Viçosa é uma variação da Calda
Bordalesa, sendo na verdade uma mistura da Calda Bordalesa com
micronutrientes.

»» Calda Sulfocálcica: tem ação acaricida, inseticida e fungicida, para


tratamento de fruteiras.

»» Tratamento de Inverno: no tratamento de inverno é recomendado para


fruteiras de clima temperado (folhas caducas) em cobertura total. Para
fruteiras tropicais, aplicada nos troncos e ramos. Empregar na dosagem
de 1,0 litro para 8 a 12 litros de água.

»» Tratamento no Verão: utilizada para tratamento fitossanitário no período


vegetativo com êxito, pois tendo custo baixo e eficiência, tornando
muito econômico o seu emprego. Empregar na dosagem de 1,0 litro de
sulfocálcica para 80 a 120 litros de água.

A fabricação da calda é feita a quente, requerendo recipiente de metal (latão ou inox).


No caso de preparar 100 litros, utilizar enxofre ventilado 25 kg+ cal virgem 12,5 kg.

»» Cravo de defunto – as folhas fervidas em água formam uma calda, ou


podem ser picadas e deixadas no molho por 2 dias. Usado como inseticida
natural.

»» Óleo de Nim – extrato de sementes de Nim. Usado como inseticida


natural.

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UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

»» Solução de sabão de Coco – a solução deve ser pulverizada no verão e


primavera, como inseticida natural.

»» Fumo e sabão – utilizados como inseticidas, porém, deve-se tomar


algumas precauções. De acordo com Trani, et al. (2010) a nicotina é tóxica
para homem e animais de sangue quente, por isso, deve-se aguardar 24
horas após seu preparo para ser utilizada. E ainda, os inseticidas à base
de fumo não devem ser aplicados em hortaliças da família das Solanáceas
(tomate e pimentão) pois podem transmitir vírus.

Minerais e suas misturas


»» Bórax: fortalecer as plantas, principalmente no período do florescimento,
aumentando sua resistência contra doenças. Poderá ser aplicado
pulverizado no solo com 3 a 4 Kg/ha de ácido Bórico todo o ano ou via
foliar na fase de pré e pós-frutificação.

»» Cobre (sulfato de cobre): produto de elevado efeito fúngico e bacteriostático,


protegendo as plantas contra a ocorrência de diversas doenças. Pode ser
aplicado na forma de calda bordalesa ou viçosa (corrigido o pH com cal)
no controle e prevenção de moléstias como: míldio, manchas foliares,
requeimas, ferrugens, gomose etc.

»» Óxido de cálcio: pode ser empregado na desinfecção de produtos vegetais,


estufas e viveiros de mudas. Aplicado em pulverização foliar aumenta a
resistência dos frutos.

»» Enxofre: na forma molhável para o controle de ácaros em fruticultura. Na


forma em pó molhável para combater o ácaro do ponteiro do mamoeiro.

»» Molibdênio: no combate a saúvas, uma vez que promove a formação de


proteínas nas plantas, deixando de serem atrativas às saúvas.

»» Pasta bordalesa: recomendada para aplicação em cortes após a poda e


áreas doentes, como cancros do tronco e ramos principais das fruteiras.

»» Pasta de enxofre: para o pincelamento ou caiação do tronco e ramos na


prevenção do ataque de brocas e cochonilhas.

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» Sal (cloreto de sódio): para emprego em pequenos pomares domésticos e


comunitários no combate a pulgões, lagartas, lesmas, caramujos e mosca
brancas.

»» Calda biofertilizante: é usado como adubo foliar e para aumentar a


resistência contra pragas e moléstias. Pode ser preparado na própria
propriedade empregando estercos animais, restos de culturas, capins e
resíduos orgânicos. Processo de fermentação anaeróbica ou aeróbica.

»» Supermagro: é um tipo de biofertilizante, porém enriquecido com


micronutrientes. É indicado como fonte suplementar de micronutrientes
para as plantas; inibidor de fungos e bactérias, causadores de doenças
e para aumentar a resistência contra insetos e ácaros. A indicação na
pulverização foliar é aplicar o Supermagro na concentração de 1 a 5%.
Recomenda-se a diluição de 2% para frutíferas.

»» Controle biológico: consiste no emprego de um organismo (predador,


parasita ou patógeno) que ataque outro que causa danos à lavoura. Entre
os principais meios de controle biológicos temos:

›› Beauveria bassiana: empregado para controle de broca da bananeira


(Cosmopolites sordidus), ácaros.

›› Metarhizium anisopliae: empregado no combate às seguintes pragas


como cigarrinhas e tripes. Pesquisas têm demonstrado o efeito de M.
anosipliae sobre os tripes (Frankiniela occidentalis).

›› Trichoderma: é um fungo utilizado para o controle de podridão do


colo e de raízes de macieira, causados por Phytophora.

›› Bacillus thuringiensis: uso específico para controle de diversas


espécies de lagartas, tendo efeito total 24 a 72 após o consumo das
folhas tratadas.

Plantas defensivas
O emprego de extratos, chás ou sucos de plantas, é uma alternativa viável no combate
a muitas pragas e doenças. As principais plantas utilizadas no cultivo comercial são:

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UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

»» Alho: o extrato do alho tem ação fungicida, combatendo doenças como


míldio e ferrugens, tem ação bactericida. Controla e repele insetos nocivos
como a lagarta da maçã, pulgão etc.

»» Cavalinha (Uquisetum arvense ou E. giganteum): é muito indicada e


empregada na horticultura orgânica para aumentar a resistência das
plantas contra insetos nocivos em geral.

»» Confrei: combate a pulgões em hortaliças e frutíferas e adubo foliar.

»» Cravo-de-defunto: combate a pulgões, ácaros e algumas lagartas.

»» Fumo (Nicotina): a nicotina contida no fumo é um excelente inseticida,


tendo ação de contato contra pulgões, tripes e outras pragas. Quando
aplicada como cobertura do solo, pode prevenir o ataque de lesmas,
caracóis e lagartas cortadeiras. O seu uso não é recomendado pelos órgãos
certificadores.

»» Neem (Nim) (Azadirachta indica): indicada nas pragas de hortaliças,


traças, lagartas, pulgões, gafanhotos etc. Recomendada como inseticida
e repelente de pragas em geral. Tem como princípio ativo Azadiractina,
podendo ser aproveitados as suas folhas e frutos.

»» Pimenta: tem boa eficiência quando concentrada e misturada com outros


defensivos naturais, combate a pulgões, vaquinhas, grilos e lagartas.

»» Urtiga: planta empregada na agricultura orgânica, principalmente na


horticultura para aumentar a resistência e no combate a pulgões.

Óleos e suas misturas


O óleo tem ação inseticida, principalmente contra cochonilhas (de carapaças). O óleo
pode ser de origem mineral, vegetal ou de peixe. Além da aplicação de forma pura (na
concentração de 0,5 a 1%), pode ser adicionado em vários defensivos melhorando sua
efetividade, como na calda bordalesa.

Produtos orgânicos
»» Cinzas: a cinza de madeira é um material rico em potássio recomendado
para controle de pragas e até algumas doenças. Pode ser aplicado na
mistura com outros produtos naturais, como sabão e cal. Misturar 0,5

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

kg de cinzas de madeira, agitar e deixar descansar por 1-2 dias. Tirar o


sobrenadante, adicionar sabão neutro e pulverizar.

»» Farinha de Trigo: a farinha de trigo de uso doméstico pode ser efetiva


no controle de ácaros, pulgões e lagartas em pomares domésticos e
comunitários. Pulverizar de manhã as folhas atacadas, que secando com
o sol, forma uma película que envolve as pragas e caem com o vento.

»» Leite: o leite na sua forma natural ou como soro de leite (10 a 20%) é
indicado para controle de ácaros e ovos de diversas lagartas. Atrativo
para lesmas e no combate de várias doenças fúngicas e viróticas.

»» Sabão e suas misturas: o sabão (não detergente) tem efeito inseticida e


quando acrescentado em outros defensivos naturais pode aumentar a
sua efetividade. O sabão sozinho tem bom efeito sobre muitos insetos
de corpo mole como: pulgão, lagartas e mosca branca. A emulsão de
sabão e querosene é um inseticida de contato, indicada para combate
aos pulgões, ácaros e cochonilhas (insetos sugadores). O emprego do
querosene na mistura com defensivos alternativos NÃO é aceito pela
agricultura orgânica.

59
CAPÍTULO 9
Normas e procedimentos para a
produção em sistema de cultivo
orgânico

A cultura e comercialização dos produtos orgânicos no Brasil foram aprovadas pela


Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Sua regulamentação, no entanto, ocorreu
apenas em 27 de dezembro de 2007 com a publicação do Decreto no 6.323.

As normas técnicas ou procedimentos para a produção vegetal e animal são classificados


em procedimentos permitidos, tolerados e proibidos.

As normas para produção e comercialização de produtos orgânicos foram estabelecidas


pelo Ministério da Agricultura em 17.5.99.

Os órgãos certificadores divulgam e fiscalizam entre os seus certificados o enquadramento


nas normas básicas oficiais, visando preservar as bases fundamentais da produção
orgânica, buscando garantir a produção de alimentos saudáveis e de qualidade, com a
manutenção e proteção do ecossistema.

Um órgão certificador pode fornecer além das normais oficiais outros procedimentos
normativos da sua entidade, por ocasião da filiação do interessado.

A cultura e comercialização dos produtos orgânicos no Brasil foram aprovadas pela Lei
10.831, de 23 de dezembro de 2003. Sua regulamentação, no entanto, ocorreu apenas
em 27 de dezembro de 2007 com a publicação do Decreto no 6.323. Há ainda outros
dispositivos legais:

Dentro da Legislação Nacional existe a Lei no 10.831, de dezembro de 2000, decretos e


instruções normativas as quais regem o cultivo orgânico, a saber:

»» Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003.

»» Decreto no 06.323, de 27 de dezembro de 2007.

»» Decreto no 06.913, de 23 de julho de 2009.

»» Decreto no 07.048, de 23 de dezembro de 2009.

»» Decreto no 07.794, de 20 de agosto de 2012.

60
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» Instrução Normativa Conjunta SDA-SDC-ANVISA-IBAMA no 01, de 24


de maio de 2011

»» Instrução Normativa Conjunta SDA-SDC no 02, de 02 de junho de 2011.

»» Instrução Normativa Conjunta MAPA-MMA no 17, de 28 de maio de 2009


(extrativismo sustentável orgânico).

»» Instrução Normativa no 17, de 18 de junho de 2014.

»» Instrução Normativa no 18, de 28 de maio de 2009 (alterada pela IN Nº


24/11 - processamento).

»» Instrução Normativa no 18, de 20 de junho de 2014.

»» Instrução Normativa no 19, de 28 de maio de 2009 (mecanismos de


controle e formas de organização).

»» Instrução Normativa no 21, de 11 de maio de 2011.

»» Instrução Normativa no 23, de 1o de junho de 2011.

»» Instrução Normativa no 24, de 1o de junho de 2011 (Processamento).

»» Instrução Normativa Interministerial no 28, de 08 de Junho de 2011


(Produção de Organismos Aquáticos).

»» Instrução Normativa no 37, de 02 de agosto de 2011 (Cogumelos


comestíveis).

»» Instrução Normativa no 38, de 02 de agosto de 2011 (Sementes e Mudas


Orgânicas).

»» Instrução Normativa no 46, de 06 de outubro de 2011 (Produção vegetal


e animal) - Regulada pela IN 17/2014).

»» Instrução Normativa no 50, de 05 de novembro de 2009 (Selo Federal do


SisOrg).

»» Instrução Normativa no 54, de 22 de outubro de 2008.

»» Portaria Interministerial no 177, de 30 de junho de 2006.

»» Portaria no 331 de 09, de novembro de 2012.

61
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Comissões de Produção Orgânica – CPOrg


São fóruns compostos por representantes de segmentos da rede de produção orgânica
dos estados ou Distrito Federal, dividido igualmente por entidades governamentais e
não governamentais.

A CPOrg se reúne regularmente e tem várias atribuições definidas na Instrução


Normativa no 54, de 22 de outubro de 2008, como, por exemplo, coordenar ações e
projetos de fomento à produção orgânica; sugerir adequação das normas de produção
e controle da qualidade orgânica; auxiliar na fiscalização, pelo controle social; e propor
políticas públicas para desenvolvimento da produção orgânica.

Do cultivo convencional para orgânico


Dentro da cadeia produtiva existem normas e procedimentos que devem ser acatados
desde a decisão de conversão à agricultura orgânica, passando por todos os itens
envolvidos dentro da propriedade.

Conversão

Para que um produto receba a denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um


sistema onde tenham sido aplicadas as bases estabelecidas na presente instrução, por
um período variável de acordo com a utilização anterior da unidade de produção e a
situação ecológica atual, mediante as análises e a avaliação das respectivas instituições
certificadoras (Anexo I).

Anexo I- Trata do período de conversão

»» a produção vegetal de culturas anuais: para a unidade produtiva em


conversão deverá ser obedecido um período mínimo de 12 meses de
manejo orgânico para que o ciclo subsequente seja considerado como
orgânico.

»» produção vegetal de culturas perenes: para a unidade produtiva em


conversão deverá ser obedecido um período mínimo de 18 meses de
manejo orgânico, para que a colheita subsequente seja certificada.

»» produção vegetal de pastagem perene: para a unidade produtiva em


conversão deverá ser obedecido um período mínimo de 12 meses de
manejo orgânico ou de pousio.

62
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

No entanto, os períodos de conversão mencionados poderão ser ampliados pela


certificadora em função do uso anterior e da situação ecológica da unidade de produção,
desde que seja julgada a conveniência.

Máquinas e os equipamentos

As máquinas e os equipamentos usados na produção não podem conter resíduos


contaminantes, dando-se prioridade ao uso exclusivo à produção orgânica.

Produtos de origem vegetal e os recursos naturais


(plantas, solos e água)

Tanto a fertilidade como a atividade biológica do solo e a qualidade das águas, deverão
ser mantidas e incrementadas mediante, entre outras, as seguintes condutas:

»» proteção ambiental;

»» manutenção e preservação de nascentes e mananciais hídricos;

»» respeito e proteção à biodiversidade;

»» sucessão animal-vegetal;

»» rotação e/ou associação de culturas;

»» cultivo mínimo;

»» sustentabilidade e incremento da matéria orgânica no solo;

»» manejo da matéria orgânica;

»» utilização de quebra-ventos;

»» sistemas agroflorestais;

»» manejo ecológico das pastagens.

»» o manejo de pragas, doenças e de plantas invasoras deverá se realizar


mediante a adoção de uma ou várias condutas, de acordo com os Anexos
II e III, desta Instrução, que possibilitem:

›› incremento da biodiversidade no sistema produtivo;

›› seleção de espécies, variedades e cultivares resistentes;

63
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

›› emprego de cobertura vegetal, viva ou morta, no solo;

›› meios mecânicos de controle;

›› rotação de culturas;

›› alelopatia;

›› controle biológico (excetuando-se OGM/transgênicos);

›› integração animal-vegetal;

›› outras medidas mencionadas nos Anexos II e III, da presente Instrução.

É vedado o uso de agrotóxico sintético, seja para combate ou prevenção, inclusive, na


armazenagem.

»» A utilização de medida não orgânica para garantir a produção ou a


armazenagem, desqualifica o produto para efeito de certificação.

»» As sementes e mudas deverão ser oriundas de sistemas orgânicos.

»» Não existindo no mercado sementes oriundas de sistemas orgânicos,


adequadas à determinada situação ecológica específica, o produtor poderá
lançar mão de produtos existentes no mercado, desde que avaliadas pela
instituição certificadora, excluindo-se todos os organismos geneticamente
modificados (OGM/transgênicos).

»» Para culturas perenes, não havendo disponibilidade de mudas orgânicas,


estas poderão ser oriundas de sistemas convencionais, desde que
avaliadas pela instituição certificadora, excluindo-se todos os organismos
geneticamente modificados/transgênicos e de cultura de tecido vegetal,
quando as técnicas empregadas conduzam a modificações genéticas ou
induzam a variantes soma-clonais.

»» Os produtos oriundos de atividades extrativistas só serão certificados


como orgânicos caso o processo de extração não comprometa o
ecossistema e a sustentabilidade do recurso explorado.

Anexo II – Adubos e condicionadores de solo permitidos

Da própria unidade de produção (desde que livres de contaminantes):

64
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

São eles: composto-orgânico; vermicomposto; restos orgânicos; esterco (sólido ou


líquido); restos de cultura; adubação verde; biofertilizantes.

»» Fezes humanas, somente quando compostadas na unidade produção e


não empregadas no cultivo de olerícolas.

»» Microrganismos benéficos ou enzimas, desde que não sejam OGM/


transgênicos.

»» Outros resíduos orgânicos: obtidos fora da unidade de produção, somente


se autorizados pela certificadora (esterco composto ou esterco líquido;
vermicomposto; biomassa vegetal.

»» Resíduos industriais, chifres, sangue, pó de osso, pelos e penas, tortas,


vinhaça e semelhantes, como complementos da adubação.

»» Algas e derivados, e outros produtos de origem marinha.

»» Peixes e derivados.

»» Pó de serra, cascas e derivados, sem contaminação por conservantes.

»» Microrganismos, aminoácidos e enzimas, desde que não sejam OGM/


transgênicos.

»» Cinzas e carvões vegetais.

»» Pó de rocha.

»» Biofertilizantes.

»» Argilas ou ainda vermiculita.

»» Compostagem urbana, quando oriunda de coleta seletiva e


comprovadamente livre de substâncias tóxicas. Somente se constatado
a necessidade de utilização do adubo e do condicionador, por meio de
análise, e se estes estiverem livres de substâncias tóxicas:

›› Termofosfatos.

›› Adubos potássicos: sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e


magnésio, este de origem mineral natural.

›› Micronutrientes.

65
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

›› Sulfato de magnésio.

›› Ácido bórico, quando não usado diretamente nas plantas e solo.

›› Carbonato, como fonte de micronutrientes.

Anexo III – Produção Vegetal

»» Meios contra doenças fúngicas:

›› Enxofre simples e suas preparações, a critério da certificadora.

›› Pó de pedra.

›› Um terço de sulfato de alumínio e dois terços de argila (caulim ou


bentonita) em solução 1 %.

›› Sais de cobre, na fruticultura.

›› Própolis.

›› Cal hidratado, somente com fungicida.

›› Iodo.

›› Extratos de plantas.

›› Extratos de compostos e plantas;

›› Vermicomposto;

›› Calda bordaleza e calda sulfocálcica, a critério da certificadora;


Homeopatia.

»» Meios contra pragas:

›› Preparados viróticos, fúngicos e bacteriológicos, que não sejam OGM/


transgênicos, só com permissão específica da certificadora.

›› Extratos de insetos.

›› Extratos de plantas.

›› Emulsões oleosas (sem inseticidas químico-sintéticos).

›› Sabão de origem natural.

66
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

›› Pó de café.

›› Gelatina.

›› Pó de rocha.

›› Álcool etílico.

›› Terras diatomáceas, ceras naturais, própolis e óleos essenciais, a


critério da certificadora.

›› Como solventes: álcool, acetona, óleos vegetais e minerais.

›› Como emulsionante: leticina de soja, não transgênicas; Homeopatia.

»» Meios de captura, meios de proteção e outras medidas biológicas:

›› Controle biológico.

›› Feromônios, desde que utilizados em armadilhas.

›› Armadilhas de insetos com inseticidas permitidos no item 2, do Anexo


III.

›› Armadilhas anticoagulantes para roedores.

›› Meios repelentes mecânicos (armadilhas e outros similiares).

›› Repelentes naturais (materiais repelentes e expulsantes), métodos


vegetativos, quebra-vento, plantas companheiras e repelentes.

›› Preparados que estimulam a resistência das plantas e que inibam certas


pragas e doenças, tais como: plantas medicinais, própolis, calcário e
extratos de algas, bentonita, pó de pedra e similares.

›› Cloreto de cálcio.

›› Leite e derivados.

›› Extratos de produtos de origem animal.

»» Manejo de plantas invasoras:

›› Sementes e mudas isentas de plantas invasoras.

›› Técnicas mecânicas.

67
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

›› Aleopatia.

›› Cobertura morta e viva.

›› Cobertura inerte, que não cause contaminação e poluição, a critério da


instituição certificadora.

›› Solarização.

›› Controle biológico como manejo de plantas invasoras.

Produtos de origem animal

Os produtos orgânicos de origem animal devem provir de unidades produção,


prioritariamente autossuficientes quanto à geração de alimentos para os animais
em processo integrado com a produção vegetal, conforme o Anexo IV, da presente
Instrução. Para a efetivação da sustentabilidade, esses sistemas devem obedecer aos
seguintes requisitos:

»» respeitar o bem-estar animal;

»» manter um nível higiênico em todo o processo criatório, compatível com


as normas de saúde pública vigentes;

»» adotar técnicas sanitárias preventivas sem o emprego de produtos


proibidos;

»» contemplar uma alimentação nutritiva, sadia e farta, incluindo-se a água,


sem a presença de aditivos químicos e/ou estimulantes, conforme o
Anexo IV, da presente Instrução;

»» dispor de instalações higiênicas, funcionais e confortáveis;

»» praticar um manejo capaz de maximizar uma produção de alta qualidade


biológica e econômica;

»» utilizar raças, cruzamentos e o melhoramento genético (não OGM/


transgênicos), compatíveis tanto com as condições ambientais e como
estímulo à biodiversidade.

»» entende-se por bem-estar animal, permanecer este livre de dor,


de sofrimento, angústia e viver em um ambiente em que possa

68
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

expressar proximidade com o comportamento de seu habitat original:


movimentação, territoriedade, vadiagem, descanso e ritual reprodutivo;

»» os insumos permitidos e proibidos na alimentação animal estão


especificados no Anexo IV da presente Instrução;

»» o transporte, pré-abate e o abate dos animais devem seguir princípios


humanitários e de bem estar animal, assegurando a qualidade sanitária
da carcaça;

»» excepcionalmente, para garantir a saúde ou quando houver risco de vida


de animais, na inexistência de substituto permitido, poder-se-ão usar
medicamentos convencionais;

»» é obrigatório comunicar à certificadora o uso desses medicamentos, bem


como registrar a sua administração que deve respeitar o que estabelece o
subitem desta Instrução. O período de carência estipulado pela bula do
produto a ser cumprido, deverá ser multiplicado pelo fator três, podendo
ainda ser ampliado de acordo com a instituição certificadora;

»» são permitidas todas as vacinas previstas por Lei;

»» preferencialmente, a aquisição dos animais deve ser feita em criações


orgânicas;

»» no caso de aquisição de animais de propriedades convencionais, estes


devem prioritariamente ser incorporados à unidade produtora orgânica,
com a idade mínima em que possam ser recriados sem a presença
materna;

»» os animais adquiridos em criações convencionais devem passar por


quarentena tradicional, ou outra a ser definida pela certificadora.

Anexo IV – Produção animal

Condutas desejadas:

»» Maximização da captação e uso de energia solar.

»» Autossuficiência alimentar orgânico.

»» Diminuir a dependência de recursos externos no processo produtivo.

»» Associação de espécies vegetais e animais.

69
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

»» Criação a campo.

»» Abrigos naturais com árvores.

»» Quebra-ventos.

»» Conservação das forragens com silagem ou fenação (desde que de origem


orgânica).

»» Mineralização com sal marinho.

»» Suplementos vitamínicos: óleo de fígado de peixe e levedura.

»» Aditivos permitidos: algas calcinadas, plantas medicinais, plantas


aromáticas, soro de leite, e carvão vegetal.

»» Suplementação com recursos alimentares provenientes de unidade de


produção orgânica.

»» Aditivos para arraçoamento: leveduras e misturas de ervas e algas.

»» Aditivos para silagem: açúcar mascavo, cereais e seus farelos, soro de


laticínio e sais minerais.

»» Homeopatia, fitoterapia e acupuntura.

*Técnicas permitidas sob o controle da certificadora:

»» Uso de equipamentos de preparo do solo que não impliquem na alteração


de sua estrutura, na formação de pastagens e cultivo de forragens, grãos,
raízes e tubérculos.

»» Aquisição de alimentos não certificados orgânicos, equivalente a até 20%


e 15% do total da matéria seca de alimentos para animais monogástricos
e para animais ruminantes, respectivamente.

»» Aditivos, óleos essenciais, suplementos vitamínicos e sais minerais.

»» Suplementos de aminoácidos.

»» Amochamento e castração.

»» Inseminação artificial.

**Técnicas proibidas:

70
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» Uso de agrotóxicos nas pastagens e culturas de alimentos para os animais.

»» Restrições especificadas nos Anexos I e III, quanto à produção vegetal.

»» Uso do fogo no manejo de pastagens.

»» Confinamentos que contrairiam subdivisões desta Instrução e demais


técnicas que restrinjam o bem estar animal.

»» Uso de aditivos estimulantes sintéticos na alimentação, na engorda e na


reprodução.

»» Descorna e outras mutilações.

»» Presença e manejo de animais geneticamente modificados.

»» Promotores de crescimento sintéticos.

»» Ureia.

»» Restos de abatedouros na alimentação.

»» Qualquer tipo de esterco para ruminantes ou para monogástricos da


mesma espécie.

»» Aminoácidos sintéticos.

»» Transferência de embriões.

Insumos que podem ser adquiridos fora da unidade de produção, segundo a espécie
animal, e sob orientação da assistência técnica e controle da certificadora:

»» silagem, feno, palha, raízes, tubérculos, bulbos e restos de culturas


orgânicas;

»» cereais e outros grãos e seus derivados;

»» resíduos industriais sem contaminantes;

»» melaço;

»» leite e seus derivados;

»» gorduras animais e vegetais;

»» farinha de osso calcinada ou auto-clavada e farinha de peixe.

71
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Higiene e desinfecção:

»» adotar programas sanitários com bases profilática e preventiva;

»» realizar limpeza e desinfecções com agentes comprovadamente


biodegradáveis, sabão, sais minerais solúveis, permanganato de potássio
ou hipoclorito de sódio, em solução 1:1.000, cal, soda cáustica, ácidos
minerais simples (nítrico e fosfórico), oxidantes minerais em enxágues
múltiplos, creolina, vassoura de fogo e água.

Processamento

Processamento é o conjunto de técnicas de transformação, conservação e envase de


produtos de origem animal e/ou vegetal.

»» Somente será permitido o uso de aditivos, coadjuvantes de fabricação


e outros produtos de efeito brando (não OGM/transgênicos), conforme
mencionado no Anexo V da presente Instrução, e quando autorizados e
mencionados nos rótulos das embalagens.

»» As máquinas e os equipamentos utilizados no processamento dos


produtos orgânicos deverão estar comprovadamente limpos de resíduos
contaminantes, conforme estabelece os termos desta Instrução e seus
anexos.

»» Em todos os casos, a higiene no processamento dos produtos orgânicos


será fator decisivo para o reconhecimento de sua qualidade. Para efeito de
certificação, as unidades de processamento devem cumprir, também, as
exigências contidas nesta Instrução e nas legislações vigentes específicas.

»» A higienização das instalações e dos equipamentos deverá ser feita com


produtos biodegradáveis, e caso esses produtos não estejam disponíveis
no mercado, deverá ser consultada a certificadora.

»» Para o envase de produtos orgânicos, deverão ser priorizadas embalagens


produzidas com materiais comprovadamente biodegradáveis e/ou
recicláveis.

»» Poderá ser certificado como produto processado orgânico, aquele cujo


componente principal seja de origem orgânica.

72
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» Os aditivos e os coadjuvantes de fabricação de origem não orgânica serão


permitidos em percentuais a serem definidos pelas certificadoras e pelo
órgão Colegiado Nacional, conforme estabelece o Anexo V, da presente
Instrução.

»» É obrigatório explicitar no rótulo do produto, os tipos e as quantidades de


aditivos, os coadjuvantes de fabricação e outros produtos de origem não
orgânica nele contidos, sempre de acordo com o subitem 3.1., da presente
Instrução.

»» Os ingredientes de origem não orgânica serão permitidos em percentuais


definidos no Anexo VII, da presente Instrução.

Anexo V- Aditivos para processamento e outros produtos


que podem ser usados na produção orgânica

Condições especiais: Água potável Agente de coagulação; Cloridato de cálcio


Antiumectante, Carbonato de cálcio Agente de coagulação, Hidróxido de cálcio Agente
de coagulação, Sulfato de cálcio Secagem de uvas, Carbonato de potássio, Dióxido de
carbono, Nitrogênio, Etanol Solvente, Ácido de tanino Auxílio de filtragem, Albumina
branca de ovo, Caseína, Óleos vegetais, Coloidal, Carbono ativo, Talco, Bentonina,
Caolinita, Perlita, Cera de abelha, Cera de carnaúba e Microorganismos e enzimas (não
OGM/transgênicos).

Armazenamento e transporte

Os produtos orgânicos devem ser identificados e mantidos em local separado dos


demais de origem desconhecida, de modo a evitar possíveis contaminações, seguindo o
que prescreve o Anexo VI, da presente Instrução.

A higiene e as condições do ambiente de armazenagem e transporte será fator necessário


para a certificação de sua qualidade orgânica.

Todos os produtos orgânicos devem estar devidamente acondicionados.

Anexo VI – armazenamento e transporte

»» Os produtos orgânicos devem ser mantidos separados de produtos não


orgânicos.

»» Todos os produtos deverão ser adequadamente identificados durante


todo o processo de armazenagem e transporte.

73
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

»» O Órgão Colegiado Nacional deverá estabelecer padrões para a prevenção


e controle de poluentes e contaminantes.

»» Produtos orgânicos e não orgânicos não poderão ser armazenados ou


transportados juntos, exceto quando claramente identificados, embalados
e fisicamente separados.

»» A certificadora deverá regular as formas e os padrões permitidos para


a descontaminação, limpeza e desinfecção de todas as máquinas e
equipamentos, onde os produtos orgânicos são mantidos, manuseados
ou processados.

»» As condições ideais do local de armazenagem e do transporte de produtos


são fatores necessários para a certificação de sua qualidade orgânica.

Identificação dos produtos orgânicos

Além de atender às normas vigentes quanto às informações que devem constar nas
embalagens, os produtos certificados deverão conter um “selo de qualidade” registrado
no Órgão Colegiado Nacional, específico para cada certificadora, atendendo às condições
previstas no Anexo VII da presente Instrução, além das contidas abaixo:

»» Deverá ser mencionada no rótulo a denominação “produto orgânico”.

»» Deverá conter o nome e o número de registro da certificadora junto ao


Órgão Colegiado Nacional.

»» No caso de produto a granel, este será acompanhado do certificado de


qualidade orgânica.

Anexo VII – Rotulagem

Deverá conter claramente expressa no rótulo a identificação da pessoa física ou jurídica


legalmente responsável pela produção ou processamento do produto, conforme se
segue:

»» Produtos de um só ingrediente poderão ser rotulados como “produto


orgânico”, desde que certificado.

»» Produtos compostos de mais de um ingrediente, incluindo aditivos, em


que nem todos os ingredientes sejam de origem certificada orgânica,
deverão ser rotulados da seguinte forma:

74
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

›› Os produtos compostos que apresentarem um mínimo de 95% dos


ingredientes de origem orgânica certificada serão rotulados como
produto orgânico.

›› Os produtos compostos que apresentarem 70% de ingredientes de


origem orgânica certificada serão rotulados como produtos com
ingredientes orgânicos, devendo constar nos rótulos as proporções dos
ingredientes orgânicos e não orgânicos.

›› Os produtos compostos que não atenderem às exigências contidas


nas alíneas «a e b», anteriormente mencionadas, não serão rotulados
como orgânicos.

›› Água e sal adicionados, não poderão ser incluídos no cálculo do


percentual de ingredientes orgânicos.

›› Todas as matérias primas deverão estar listadas no rótulo do produto


em ordem de peso percentual, de forma a ficar claro quais os materiais
de origem certificada orgânica e quais os que não o são.

›› Todos os aditivos deverão estar listados com o seu nome completo.


Quando o percentual de ervas e condimentos for inferior a 2% estes
poderão ser listados como «temperos».

A responsabilidade

Os produtores registrados e certificados assumem a responsabilidade pela qualidade


orgânica de seus produtos e devem permitir o acesso da certificadora a todas as
instalações, atividades e informações relativas ao seu processo produtivo.

À instituição certificadora cabe a responsabilidade pelo controle da qualidade orgânica


dos produtos certificados, permitindo o acesso do Órgão Colegiado Estadual ou do
Distrito Federal a todos os atos, procedimentos e informações pertinentes ao processo
de certificação.

75
CAPÍTULO 10
Planejamento e comercialização de
produtos do sistema de cultivo orgânico

Planejamento
A comercialização não se resume simplesmente na venda de um produto, que é uma
das etapas do processo. Para inserção de um produto, é necessário antes traçar um
planejamento, na tentativa de evitar erros e imprevistos. Planejar dá o mínimo de
garantias de que a comercialização aconteça da maneira esperada. As etapas listadas
abaixo demonstram como atender ao planejamento dos agricultores reunidos em grupos
produtivos minimamente organizados, associações e cooperativas, sendo observado
antes o formato jurídico mais adequado à realidade da produção, aspectos locais e nível
de organização entre os produtores.

Etapas do planejamento

Análise do ambiente interno. A análise consiste no exame das relações existentes dentro
dos grupos produtivos formais ou informais, das unidades do sistema PAIS. Para isso
é necessário estar atento à capacidade de produção, à qualidade dos produtos, bem
como ao compromisso com a prática agroecológica, aos custos e às relações entre as
pessoas. A definição da capacidade de produção está condicionada ao planejamento da
produção, processo de crucial importância para o sucesso na comercialização. Pensar
o passo a passo da produção, considerando a importância da qualidade do produto
até o momento de entrega para o consumidor final, previne erros comuns à falta de
planejamento, como irregularidade na entrega ou até perda do cliente em potencial.

Análise do mercado fornecedor

O agricultor ou o grupo pode avaliar o mercado composto pelas empresas e pessoas


que fornecem algum tipo de produto ou serviço. No caso de uma unidade de produção
agroecológica, uma das características principais é a redução na aquisição de insumos de
origens externas (comprados fora da propriedade do agricultor). O que, estrategicamente,
já é uma vantagem em relação aos custos com a produção convencional.

No entanto, o estudo do mercado fornecedor possibilita uma avaliação de preços,


insumos e equipamentos mais adequados e se há capacidade para fornecimento

76
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

pontual e regular e quais as melhores condições de pagamento. É importante ressaltar


que muitas vezes outras cooperativas e associações podem ser fornecedoras exercendo
um dos princípios básicos do cooperativismo/associativismo – a intercooperação, ou
seja, a relação de negócios entre as cooperativas e/ou associações.

Análise do mercado concorrente

Surge a partir da necessidade de identificação da concorrência. Aprender a conhecer os


concorrentes é imprescindível para um bom planejamento. As cooperativas/associações
devem estar constantemente comparando os preços, produtos e canais de promoção
com seus concorrentes. Antes é preciso determinar quem são os concorrentes para
oferta de produtos orgânicos e agroecológicos:

»» Concorrência de marca – oferta de produtos similares.

»» Concorrência industrial – oferta do mesmo produto ou classe de produtos.

»» Concorrência de forma – oferta de produtos com a mesma utilidade.

»» Concorrência genérica – ofertas que disputam a disponibilidade financeira


dos consumidores.

Essa etapa permite a exploração de mercados alternativos, já que é muito difícil para um
pequeno grupo, seja cooperativa ou associação, concorrer com uma grande empresa, em
função do tempo, capacidade, escoamento e, muitas vezes o preço, além da necessidade
de adequação ao conjunto de normas que o mercado convencional exige.

É preciso identificar todos os tipos de consumidores em potencial para os produtos


PAIS e projetar as ações para esse mercado, promovendo um maior escoamento da
produção.

Análise do mercado consumidor

É formado por pessoas, empresas e segmentos de vendas (lojas, bazares, mercadinhos,


feiras livres, feira de negócios, restaurantes, stands em hotéis ou shoppings) que possam
se interessar pelos produtos oferecidos e é fundamental para realizar um planejamento
e tentar garantir boas vendas.

Nessa etapa, temos que identificar quem são os clientes em potencial desse segmento
de produção orgânica, quais técnicas de acesso a esse público. O que não significa que
as organizações e cooperativas devam ficar “presas” às regras de um mercado que já

77
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

existe, pelo contrário é uma forma de prospectar outros mercados, ou seja, pensar no
mercado consumidor dá uma maior probabilidade de escoamento da produção.

São vários os tipos de mercado em construção, ou seja, ele está em constante mudança,
não existindo um mercado fixo ou estável.

Sendo assim, é clara a possibilidade de construção de outros mercados, através da


influência dos produtos e ações que devem ser definidas coletivamente.

Análise do produto

Essa análise é feita de acordo com o mercado consumidor que se deseja acessar. É
também conhecida como “5 Ps”: produto, preço, praça, promoção e pessoas.

Todos os elementos dos “5 Ps” variam de acordo com mercado projetado.

São os seguintes:

1. Produto: qualidade do produto, o que é e como aplicá-la.

2. Preço: as diferentes formas de cálculo de preço para adequação aos custos


e aos preços de mercado.

3. Praça: como e onde os produtos vão estar disponíveis (ver canais de


comercialização).

4. Promoção: ações de divulgação dos produtos.

5. Pessoas: habilidade e perfil para esta função é importante no processo de


comercialização.

Os produtos orgânicos, quanto a sua cotação comercial, tem a tendência de sofrer menor
oscilação durante o ano, dando ao produtor maior segurança para planejar e investir.

A venda direta a consumidores, feirantes, supermercados e demais pontos de venda,


evita os intermediários, permitindo ao agricultor maior margem de lucro. O processo
orgânico consiste numa produção agrícola diferenciada, não pelo fator externo do
produto, mas pela qualidade biológica, muito superior ao convencional, fato que
permite obter preços mais elevados.

Geralmente a redução da dependência dos insumos químicos reduz o custo de produção,


permitindo maiores lucros, mesmo quando obtém os mesmos preços do convencional.
Para muitas culturas, o cultivo orgânico representa aumento da produtividade em
relação ao convencional, fator que aumenta suas receitas.

78
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

A cada dia cresce o número de produtores certificados no país, de tal forma, que o
número de produtores de agricultura orgânica no país deve triplicar nos próximos anos.
A projeção é do IBD (Instituto Biodinâmico), de Botucatu (SP), que certifica com selo
orgânico os candidatos e mantém na lista de espera outros tantos. Este Instituto é uma
das agências certificadoras de produtos orgânicos no país.

A legislação, que regulamenta a Lei 10.831 de 23 de dezembro de 2003 inclui a produção,


o armazenamento, a rotulagem, o transporte, a certificação, a comercialização e a
fiscalização dos produtos.

Em 27 de dezembro de 2007 o governo brasileiro regulamentou através do Diário


Oficial da União (DOU) os novos critérios para o funcionamento de todo o sistema de
produção orgânica, desde a propriedade rural até o ponto de venda. As regras estão
expressas no Decreto no 6323.

São três as formas de comercializar orgânico, direta, indireta ou mista.

Comercialização direta: as transações ocorrem entre o produtor e o consumidor


final, através de feiras, entregas em domicílio de cestas com mix de produtos da estação
ou a venda feita diretamente na própria propriedade do produtor.

Para tal modalidade de comercialização não é exigida a certificação dos produtos


orgânicos.

Entretanto, é necessário que o produtor esteja vinculado a uma Organização de Controle


Social (OCS) e que a venda seja realizada pelo produtor ou membro da família que tenha
participado do processo de produção, permitindo este, prestar qualquer esclarecimento
do produto para o consumidor.

As OCSs são formadas por um grupo, associação, cooperativa ou consórcio, com ou


sem personalidade jurídica, devem estar cadastradas na superintendência do Mapa
(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), ou em outro órgão fiscalizador
conveniado do governo federal, estadual ou do Distrito Federal.

Comercialização indireta: a venda pode ocorrer via supermercados, atacado, lojas


especializadas ou ainda, distribuidoras independentes.

O principal ponto-de-venda desta modalidade, atualmente, são as grandes redes


varejistas (supermercados), em resposta à oportunidade do setor. Para comercialização
de produtos orgânicos nesses pontos-de-venda é necessária a certificação do produto.
Este instrumento reduz a assimetria de informação entre produto e consumidor.

Atacado: hipermercados, ceasas, distribuidoras e atacadistas.


79
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Observa-se uma significativa estrutura de comercialização nos grandes centros urbanos


do país, com vendas de cestas a domicílio, pontos de vendas em lojas especializadas,
supermercados e feiras.

O setor de supermercados vem apresentando crescimento significativo, chegando a


40% de vendas de produtos orgânicos, sendo os legumes, verduras e frutas os principais
produtos comercializados, com uma crescente procura por produtos processados.

O preço do produto orgânico constitui um limite ao desenvolvimento do setor. Fatores


como custo de certificação e produção, referentes à mão de obra e menor rendimento
contribuem para o diferencial de preços em relação ao convencional.

Como a comercialização de produtos orgânicos é caracterizada pela oferta de produtos


de diferentes procedências, a definição de padrões de certificação e cadastramento dos
produtores é fundamental para que se tenha a autenticidade e qualidade asseguradas
do produto.

Para qualquer que seja a orientação principal do sistema produtivo, em termos de


produção comercial, está claro que, superadas as limitações técnicas, o grande desafio
a vencer é o mercado. Acrescentando, então, que se investirem no mercado, os sistemas
de produção orgânica têm futuro garantido (ALMEIDA, 1998).

Trabalhos de aplicação do Sistema de avaliação de impacto ambiental, em propriedades


rurais familiares de hortaliças, indicaram que a comercialização está entre os maiores
desafios da agricultura orgânica (VALARINI et al., 2008).

Comercialização externa
Uma alternativa de comercialização que tem crescido muito na última década é a
exportação de produtos orgânicos para países desenvolvidos, sendo que mais de 70% da
produção orgânica nacional destina-se, principalmente, para os EUA, Europa e Japão
(VALARINI, et al. 2008).

O Brasil exportou mais de US$5,5 milhões de produtos orgânicos de agosto de 2006


a janeiro de 2007, ou 9,5 mil t, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Segundo o MDIC Projeto (2008), de 500 empresas brasileiras produtoras de orgânicos,


metade teria certificação para colocar seus produtos no exterior. Ao contrário da
expectativa de que países da União Europeia dominariam as importações, o registro
revelou os EUA como primeiro importador (41,2%), seguido da Holanda (29,5%),

80
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

Canadá (9,9%), Japão (9%), Reino Unido (4%), França (2,4%), Itália (1,1%), Suécia
(0,9%), Dinamarca (0,5%) e países da Ásia e Oceania, em menor proporção.

De acordo com o Departamento de Desenvolvimento do Comércio Exterior, da


Secretaria do Comércio Exterior, a exportação brasileira de produtos orgânicos vem
crescendo, ou pelo menos tem uma tendência de crescimento. Entre agosto de 2006 a
fevereiro de 2008, foi exportado pelo Brasil um valor de US$18 milhões e o equivalente
a 29 mil toneladas de diversos produtos, desde café orgânico, passando por açúcar,
frutas e derivados de soja e outros (PROJETO, 2008).

Os dados também mostram que açúcar orgânico é o produto campeão, com 66,68%
das exportações (US$3,7 milhões); seguido da manteiga, gordura e óleos, com 7,91%
(US$438,9 mil); café, com 6,78% (US$376,7 mil); cacau com 3,44% (US$190,9 mil) e
outros produtos.

Preços na comercialização
No mercado de produtos orgânicos não existe um parâmetro definido para o
estabelecimento de preços, mas sabe-se que as estratégias de precificação variam
bastante de acordo com o estabelecimento comercial.

Por exemplo, nas grandes redes varejistas, o sobrepreço cobrado em relação aos produtos
convencionais é bem mais elevado, enquanto nas feiras de produtos orgânicos essa
diferença é reduzida. Segundo Campanhola e Valarini (2001), o diferencial significativo
dos preços dos produtos orgânicos em relação aos convencionais, representa um grande
atrativo tanto para os agricultores em geral como para as corporações agropecuárias e
tenderá a diminuir à medida que a quantidade ofertada de produtos orgânicos aumente
e atenda à quantidade demandada desses produtos (TERRAZAN e VALARINI, 2009).

Outro aspecto a ser considerado importante em se tratando de preço e mercado


consumidor é a Lei da Oferta e da Procura, que está diretamente relacionada com o
conceito de demanda. Exemplo, quando a safra do tomate é boa, a oferta aumenta e,
quando isso acontece, a oferta de tomate é maior do que a procura. Por isso o preço cai.
Há mais tomate para vender do que gente para comprar.

Se acontecer o inverso – a safra de tomate for ruim – haverá diminuição da oferta de


batatas. Haverá, nesse caso, aumento da procura. Como consequência o preço sobe,
pois há pouca concorrência no mercado.

Dessa forma, a Lei da Oferta e da Procura rege (em parte) o mercado e determina o
preço, mas outras variáveis também auxiliam nesta definição. É importante destacar

81
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

que esse “fenômeno” não acontece apenas de forma natural ou casual. Muitas vezes
uma escassez de produto é provocada para que ele tenha maior procura sucedida pelo
aumento de preço.

Embalagem
A embalagem muitas vezes não tem a atenção que merece. No entanto, é uma das
partes fundamentais do produto. Ela demonstra cuidado com a mercadoria e com o
consumidor.

Outra estratégia é utilizar embalagens que tenham outras finalidades. É muito atrativa
para a compra e muitas vezes nos leva a comprar o produto. Como exemplo prático:
a utilização de bolsas de tecido e cestos para entrega dos produtos, contendo um
histórico da cooperativa e associação ou informações sobre o processo de formação ou
sobre cultivo agroecológico, destacando o fato de que este cultivo foi feito respeitando
a natureza.

O mais importante de tudo isso é perceber que a embalagem contribui e muito para a
venda do produto quando ela fala sobre o ele e até sobre as pessoas que o produziram.

Aspectos gerais na comercialização na


agricultura familiar orgânica
Os problemas de comercialização modificaram-se profundamente durante os últimos
50 anos. A visão de troca, até meados do século XX baseava-se na oferta dos produtos
e nos fatores condicionantes da produção: aumento de escala, produção em massa e
baixos custos de produção.

Sob influência das transformações sociais e tecnológicas, os estudos de marketing


indicaram a necessidade de que o objeto da comercialização agrícola evoluísse da
distribuição do produto para a satisfação do consumidor.

Recentemente, estruturou-se uma visão de comercialização baseada na demanda, isto é,


no atendimento aos consumidores e orientada para o mercado. Isso requer um sistema
bastante desenvolvido capaz de preencher as deficiências crescentes nas transferências
de produtos entre os agricultores e o consumidor final.

Essas deficiências são sanadas a partir da estruturação e funcionamento articulado


de um conjunto de atividades, funções e instituições que compõem o sistema de
comercialização. Esse sistema deve desempenhar um conjunto específico de funções que

82
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

adiciona utilidades de forma, tempo, lugar, posse, informação e imagem aos produtos,
e opera direcionado por mecanismos de coordenação como preços, informações, metas
estabelecidas pelas firmas, consumidores e contratos.

Os mecanismos de coordenação como preços, informações, metas estabelecidas pelas


firmas, consumidores e contratos determinam a competitividade dos encadeamentos
produtivos.

A ação de comercialização voltada para a realidade da economia familiar e solidária


deve ajustar-se a aspectos particulares. Um dos principais é a organização da produção
e dos agricultores para atingir escala e escopo que permitam a realização de transações
de maneira mais favorável e a obtenção de serviços de qualidade.

Para isso, é necessário que os empreendimentos individuais se organizem em


associativos ou de cooperação.

Existem estudos e publicações que auxiliam nessas áreas como é o caso do Manual
de capacitação da tecnologia social PAIS – Produção Agroecológica Integrada e
Sustentável., produzido pela Fundação Banco do Brasil em 2009.

83
CAPÍTULO 11
Certificação do sistema de cultivo
orgânico

A certificação pode ser obtida por meio da contração de uma Certificadora por Auditoria
ou se ligando a um Sistema Participativo de Garantia – SPG, que deverá estar sob
certificação de um Organismo Participativo de Avaliação da Qualidade Orgânica –
OPAC.

Certificadora por Auditoria ─ o produtor receberá visitas de inspeção inicial e


periódicas e manterá obrigações perante o MAPA e a certificadora, com custo a ser
estabelecido em contrato. Se o produtor descumprir as normas, a certificadora retira
seu certificado e informa ao MAPA. Procure na lista de Entidades Regularizadas as
Certificadoras por Auditoria já credenciadas pelo MAPA.

As Certificadoras por Auditoria atuam comercialmente na prestação de serviços de


certificação a produtores individuais e grupos. Têm por obrigação avaliar e garantir
a conformidade da produção orgânica sob sua responsabilidade. Devem estar
regularmente constituídas para esta atividade e possuir mecanismos de resolução de
conflitos, atendimento a denúncias e aplicação de sanções administrativas.

Devem manter os clientes atualizados quanto às normas vigentes e realizar visitas


programadas e sem aviso prévio às unidades, ao menos uma vez ao ano. Segundo a
complexidade e o grau de risco da produção, estas visitas deverão ocorrer com maior
frequência.

A Certificadora por Auditoria deve possuir quadro profissional habilitado e registrado em


seus conselhos profissionais (inspetores e auditores) que procederão, respectivamente,
com as visitas de inspeção “in loco” às propriedades e com as análises de aceitação de
certificação. Desta forma, os produtores não participam dos processos decisórios sobre
certificação.

O pedido para o credenciamento de uma certificadora deverá ser junto à UTRA quanto
ao protocolo da SFA-UF. A Certificadora por Auditoria deve protocolizar o pedido
apresentando os seguintes documentos (Art 23 da IN 19/09):

»» Folha de rosto com requerimento, dirigido ao Chefe da DPDAG/SFA-UF,


para autuação de processo e encaminhamento à COAGRE.

84
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

»» Formulário de Solicitação de Credenciamento de Certificadora – Fase 1


(Anexo II da IN 19/09).

»» Lista das Unidades de produção com nome do produtor, CPF/CNPJ,


endereço completo, escoto(s) produtivo(s), área de produção destinada a
cada escopo e atividade produtiva (tipos de produtos), se já estiver atuando
na certificação da produção orgânica, ou declaração de inexistência de
unidades de produção controlada. Caso haja produção paralela, informar
de que tipo e qual área ocupa.

»» Comprovante de inscrição no CNPJ.

»» Atos constitutivos da Certificadora (Estatuto ou Contrato Social, e


Regimento Interno).

»» Lista e currículo dos inspetores e auditores que atuarão na certificação.

»» Manual de Procedimentos Operacionais da Certificadora.

»» Normas de Produção Orgânica aplicáveis.

Paralelamente ao pedido de credenciamento junto ao MAPA, a Certificadora deve


solicitar sua acreditação junto ao INMETRO.

Certificação por OPAC ─ o produtor deve participar ativamente do grupo ou núcleo


a que estiver ligado, comparecendo a reuniões periódicas e o próprio grupo garante
a qualidade orgânica de seus produtos, sendo que todos tomam conta de todos e
respondem, juntos, se houver fraude ou qualquer irregularidade que não apontarem e
corrigirem. Se o produtor não corrigir, o grupo deve excluí-lo, cancelar o certificado e
informar ao MAPA.

Existe uma lista de Entidades Regularizadas, os OPAC já credenciados pelo MAPA.


Caso o interesse seja apenas pela venda direta ou institucional, os produtores podem
formar uma Organização de Controle Social – OCS.

A certificação exige uma série de cuidados, como a desintoxicação do solo por 1 a 3


anos para áreas em transição de agricultura química para orgânica, a não utilização
de adubos químicos e agrotóxicos, a obediência a aspectos ecológicos (manutenção de
Áreas de Preservação Permanente, por exemplo, com a recomposição de matas ciliares)
e a preservação de espécies nativas e mananciais, o respeito às reservas indígenas e
às normas sociais baseadas nos acordos internacionais do trabalho, o tratamento
humanitário de animais e para o protocolo ECOSOCIAL, o envolvimento com projetos
sociais e de preservação ambiental.
85
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

O processo de certificação tem uma importância fundamental na viabilização da


agricultura orgânica, sendo uma importante ferramenta no processo de desenvolvimento
da consciência ecológica e social. Nesse sentido, o IBD, ciente de sua responsabilidade
enquanto agente de transformação social vem financiando apoio a projetos de pesquisas
no campo agrícola e de assessoria e acompanhamento de projetos de pequenos
agricultores.

As certificadoras são organismos essenciais para a manutenção e valorização da


agricultura e processamento de orgânicos. São elas que fiscalizam desde a plantação,
processamento e comercialização, garantindo que o produto que chega às mãos do
consumidor aderiu a todos os regulamentos da produção orgânica.

A certificação é a garantia da procedência e da qualidade orgânica de um alimento natural


ou processado. O agricultor ganha um diferencial de mercado, ao oferecer produtos de
melhor qualidade e mais valorizados, estabelecendo uma relação de confiança com o
consumidor.

Na certificação, produtores e processadores são inspecionados e orientados segundo


as normas de produção orgânica. O consumidor tem a garantia de um alimento sem
contaminação química, cuja produção respeita o meio ambiente e o trabalhador.

Além disso, o selo de certificação de um alimento orgânico fornece ao consumidor mais


do que a garantia de estar levando para a casa um produto isento de contaminação
química. O selo assegura também que esse produto é o resultado de uma agricultura
capaz de preservar a qualidade do ambiente natural, qualidade nutricional e biológica
de alimentos e qualidade de vida para quem vive no campo e nas cidades. Ou seja, o selo
de “orgânico” é o símbolo não apenas de produtos isolados, mas também de processos
mais ecológicos de se plantar, cultivar e colher alimentos.

Consequentemente, a importância estratégica da certificação para o mercado de


orgânicos está em permitir ao agricultor orgânico diferenciar e obter uma melhor
remuneração dos seus produtos e proteger os consumidores de possíveis fraudes.
Existem também outras vantagens expressivas como, por exemplo, o fato de que a
certificação torna a produção orgânica tecnicamente mais eficiente, na medida em que
exige planejamento e documentação criteriosos por parte do produtor.

Outra vantagem é a promoção e a divulgação dos princípios norteadores da Agricultura


Orgânica na sociedade, colaborando, assim, para o crescimento do interesse pelo
consumo de alimentos orgânicos.

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

As principais certificadoras são:

»» Associação de Agricultores Biológicos (ABIO).

»» Associação de Certificação Socioparticipativa da Amazônia (ACS


Amazônia).

»» Associação de Agricultura Natural de Campinas e região (ANC).

»» APAN – Associação dos Produtores de Agricultura Natural.

»» Associação de Certificação de Produtos Orgânicos do Espírito Santo


(CHÃO VIVO).

»» BCS Öko-Garantie.

»» Control Union Certifications.

»» Cooperativa Coolmeia.

»» Fundação Mokiti Okada (CMO).

»» Ecocert Brasil.

»» Farm Verified Organic (FVO).

»» IBD Associação de Certificação Instituto Biodinâmico.

»» IMO Instituto de Mercado Ecológico.

»» Minas Orgânica.

»» Associação Mineira.

»» Organização Internacional Agropecuária (Oia).

»» Rede Ecovida.

»» Certificadora Sapucaí.

»» Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR).

Além das certificadoras ainda existem as Acreditadoras. São 6:

87
UNIDADE ÚNICA │ FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é responsável pela gestão


das políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento do agronegócio e pela
regulação e normatização de serviços vinculados ao setor. No Brasil, o agronegócio
contempla o pequeno, o médio e o grande produtor rural e reúne atividades de
fornecimento de bens e serviços à agricultura, produção agropecuária, processamento,
transformação e distribuição de produtos de origem agropecuária até o consumidor final.

Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro


(Cgcre)

A Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (Cgcre) é o organismo de


acreditação de organismos de avaliação da conformidade reconhecido pelo Governo
Brasileiro. O Decreto no 6.275, de 28 de novembro de 2007, estabelece que compete
à Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (Cgcre) atuar como organismo de
acreditação de organismos de avaliação da conformidade. A Cgcre é, portanto, dentro
da estrutura organizacional do Inmetro, a unidade organizacional principal que tem
total responsabilidade e autoridade sobre todos os aspectos referentes à acreditação,
incluindo as decisões de acreditação.

IOAS

O IOAS é uma organização sem fins lucrativos que foi criada em 1997 pela Federação
Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), dedicada à acreditação
de certificadoras e promover a agricultura orgânica internacionalmente desde 1972. O
único objetivo do IOAS é o contínuo crescimento do mercado orgânico, fornecendo
um sistema transparente e respeitado em relação aos padrões de avaliação nacional e
internacionalmente acordados.

IFOAM – Federação Internacional de Movimentos


de Agricultura Orgânica

A IFOAM é a organização mundial para o movimento orgânico, unindo mais de 750


organizações-membro em 116 países. A IFOAM oferece uma garantia para o mercado
de orgânicos. O Sistema de Garantia Orgânica (OGS) une o mundo orgânico por meio
de um sistema comum de normas, verificação e identidade de mercado, promove a
equivalência entre participantes (certificadoras acreditadas) IFOAM, abrindo o caminho
para um comércio mais ordenado e confiável dando credibilidade ao consumidor da
“marca” orgânica.

88
FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA│ UNIDADE ÚNICA

USDA

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é representado em mais


de 90 países através da sua agência Foreign Agricultural Service (FAS). A missão da
agência é desenvolver, manter e expandir o acesso para produtos dos EUA nos mercados
mundiais.

Demeter

Deméter é a única associação ecológica que construiu uma rede de organizações de


certificação individuais em todo o mundo. Em 1997 a Demeter International foi fundada
para uma cooperação mais estreita nos domínios jurídico, econômico e espiritual.
Atualmente a Demeter International tem 16 organizações membros da Europa,
América, África e Nova Zelândia. Assim, Demeter International representa mais de
4.200 produtores Demeter em 43 países.

Orientações Técnicas para certificação


O produtor orgânico deve fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos,
o que é possível somente se estiver certificado por um dos três mecanismos descritos a
seguir:

Certificação por Auditoria – a concessão do selo SisOrg é feita por uma certificadora
pública ou privada credenciada no Ministério da Agricultura.

O organismo de avaliação da conformidade obedece a procedimentos e critérios


reconhecidos internacionalmente, além dos requisitos técnicos estabelecidos pela
legislação brasileira.

Sistema Participativo de Garantia – caracteriza-se pela responsabilidade coletiva


dos membros do sistema, que podem ser produtores, consumidores, técnicos e demais
interessados. Para estar legal, um SPG tem que possuir um Organismo Participativo
de Avaliação da Conformidade (Opac) legalmente constituído, que responderá pela
emissão do SisOrg.

Controle Social na Venda Direta – a legislação brasileira abriu uma exceção na


obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para a agricultura familiar.
Exige-se, porém, o credenciamento numa organização de controle social cadastrada
em órgão fiscalizador oficial.

Com isso, os agricultores familiares passam a fazer parte do Cadastro Nacional de


Produtores Orgânicos.

89
Para (não) Finalizar

A aula não acaba aqui, cada um deve levar para si o que aprendeu de novo nesse estudo,
complementando seus conhecimentos. Deve-se sempre buscar novas informações, pois
com novas pesquisas, ciência e tecnologia sempre haverá mudanças e novas técnicas
a serem lançadas, sempre com o objetivo de melhorar a produtividade visando mais
qualidade dos alimentos e consequentemente qualidade de vida.

90
Referências

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da agricultura brasileira: subsídios à formação de diretrizes ambientais
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