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Thaís A.

Guedes da Luz 1

Filosofia do Direito – Profº José de Resende Junior

07.20.2017

Filosofia – Ela nasce +/- 2.500 anos atrás. E significa philos (atração) +
sophia (sabedoria). Atribui-se à Pitágoras a criação dessa palavra, que foi
o primeiro a juntar essa palavra e se dizer um filósofo.

Teoria – entender as coisas através da razão.

Texto para a próxima aula: Do mito à filosofia

09.02.2017

O surgimento da filosofia

-Passagem:

Teoria

Mito Logos

Filosofia

Teoria: Ver as coisas através da razão, nós percebemos o mundo ao nosso


redor através dos sentidos (visão, audição, olfato) mas segundo os
gregos, nós teríamos um outro canal que é a razão, que através dela
teríamos uma percepção racional das coisas.
Logos: é a linguagem produto da teoria, é a linguagem que é produzida
por essa nova forma de se colocar diante do mundo, e é isso que dá
origem a filosofia

-Fatores geográficos entre o ocidente e o oriente, econômicos, políticos,


sociais e religiosos procuram explicar o surgimento da filosofia no século
VI a. C. na Grécia.
Thaís A. Guedes da Luz 2

-Ocorrem disputas políticas entre os séc. VIII e V a. C.


aristocracia hereditária x comerciantes x pobres

Os reis que governavam as cidades e quando morriam eram seus


filhos que assumiam, porém eram os comerciantes que produziam
as riquezas e não a nobreza, então eles começaram a se incomodar
e fizeram pressão para também participarem do poder e em
algumas cidades os trabalhadores também. Essa disputa está
intimamente ligada ao desenvolvimento da democracia e ela vai
correr em paralelo com o desenvolvimento da filosofia.

-Desenvolvimento da democracia (séc. V a.C.)


Os pilares da democracia grega eram:
isonomia – nomia vem de nomus que é lei positiva e Iso é igual, então
isonomia é a lei igual para todos, trata todo cidadão do mesmo modo.
isegoria – goria tem a ver com voz, com palavra, então todo cidadão tem
direito de manifestar suas vontades.
isocracia – cracia é governo. Todo cidadão tem direito de governar
diretamente independente de representantes.

-Ágora (praça, sede da democracia) - acesso à palavra, regra do livre


convencimento (não importa quem era a pessoa e sim a consistência dos
argumentos)
sacerdotes (mitos - religião oral, produção de histórias)
x
trabalhadores (técnica - racionalização da religião)

-Hesíodo – Era um fazendeiro que tinha conhecimentos práticos. Ele ainda


não tinha teoria então cria o poema Teogonismo, também conhecido como
"A origem dos Deuses" ele tentou organizar a religião grega

-Prometeu e o mito da criação do homem


O roubo do fogo sagrado
“Nomos” como instrumento de cultivo do fogo

Nomos - lei positiva que estrutura a organização da polis. Para os gregos


sem lei não há ser humano, sem uma estrutura política organizada o ser
humano não se desenvolve.
Thaís A. Guedes da Luz 3

-Princípio da legalidade: governo da lei e não da vontade arbitrária dos


deuses ou reis, inclusive aqueles que governavam deviam estar
submetidos à lei.
A lei (nomos) passa a ser vista como forma de liberdade e não como
instrumento de dominação, a lei é o que possibilita o homem de ser
livre.

14.02.2017

A filosofia do direito pré-socrático

-dike (grego - justiça) x ius (romanos - tradução vinculado à visão de


valor) x de recto (surge concomitantemente ao ius)

Cosmologia
Onto (ser) + logia (estudo)
Dikailogia - ciência que estuda a justiça
Jusnaturalismo Cosmológico - todo jusnaturalista acredita que há um
padrão objetivo do que é justiça

A 1ª coisa que os gregos vão fazer com a teoria foi tentar explicar a
natureza. Todas essas primeiras teorias pré-socráticas vão ter uma forma
de cosmologias (cosmo=mundo; logia-logos; lógica do cosmo). Essas
investigações vão se desenvolver prioritariamente na forma de ontologias
(onto=ser; logia= estudo, ciência; estudo do ser), então eles tentaram
descobrir qual a essência que explicaria todas as modificações,
transformações do mundo.
Nesse desenvolvimento da cosmologia, vai se desenvolver também uma
dikaiologia(dike=justiça)
Todos os pré-socráticos podem ser classificados como “jusnaturalistas”
(essa palavra ainda não existia na época, surgiu em Roma). Todos eles
acreditam que a noção de justiça, que dike é natural, ou seja, justiça não
seria uma convenção, criação arbitrária do homem, mas sim que, o que é
justo, é justo por natureza, e a função do homem seria apenas descobrir
isso.
A 1ª forma de tratar teoricamente de direito na humanidade filosófica/
teórica é através de teorias jusnaturalistas (Nesse período direito e justiça
são vistos como a mesma coisa)
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As escolas pré-socráticas vão se desenvolver de modo +/- autônomo em


lugares diferentes da Grécia, principalmente na Grécia Menor e na Magna
Grécia.

Jônicos (Ásia menor)

-Tales de Mileto – água: Foi o 1º filósofo, e tudo o que se sabe dele é que
para ele, a essência de tudo seria a água, que seria o elemento primordial
da natureza, do cosmo.

-Anaximandro - identifica a noção de dike com a dinâmica do cosmo.


“De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao
fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitência e de
ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo"

-Heráclito - o cosmo é um fluxo eterno de transformações.


Metáfora: fogo (combustão = transformação pura)
Princípio fundamental da natureza: contradição
A guerra é como o direito, e luta, discórdia e tudo acontece segundo
a necessidade contraditória do logos.

Para Heráclito, o Direito é uma harmonia que se estabelece na


tensão entre os opostos. A justiça só seria alcançada através dessa
tensão.

Pitagóricos (Magna Grécia)

-Pitágoras - o número é a razão de tudo.


Concepção matemática da justiça: igualdade entre os opostos da
relação jurídica.
Números justos: 4 e 9 (os dois primeiros números quadrados;
quadrado = perfeição)
Definição de direito: é o igual múltiplo de si mesmo

Eleatas (desdobramento da escola pitagórica)

-Parmênides - o ser é uno, imóvel, imutável. Só é possível pensar e


conhecer o que é idêntico a si mesmo.
Princípio: identidade
Definição de direito: o direito é o fator de imutabilidade do ser.
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Atomismo (desdobramento da escola pitagórica)

-Empédocles - tudo é formado por água, terra, fogo e ar numa dinâmica


justa (dike) de amor/atração e ódio/repulsão.

-Demócrito/Leucipo/Lucrécio - átomo (a = não; tomo = parte)


O universo é composto por partículas indivisíveis e eternas que
sofrem atração e repulsão
Materialismo determinista
Liberdade x determinismo

16.02.2017

Os sofistas e a filosofia do direito

Sofistas sophia = sabedoria – aquele que detinha a sabedoria

Platão - odiava os sofistas, que mataram Sócrates.

Aristóteles - também não gostava dos sofistas pela sua falta de


objetividade. Na obra "A retórica", reconhece a importância de suas
técnicas de discurso, mas demonstra a diferença do discurso racional e do
retórico. A retórica é necessária quando o público-alvo não tem
conhecimento do assunto tratado.

● Relativização das teorias pré-socráticas - os sofistas criticam os


pré-socráticos. Crêem que se houvesse uma verdade única, não
haveriam tantas teorias assim e também que se a dike (justiça)
fosse única, não haveriam tantas maneiras de se organizar
juridicamente diferentes.
Seu pensamento pode ser classificado como um pré-positivismo, já
que ele tem a ideia da imposição das normas, sem regras
fundamentais. Foram os sofistas que viram as diferenças entre o
direito natural e o positivo, enquanto os pré-socráticos não
acreditavam nessa diferença.

● Retórica - "vence a discussão quem tem razão (pré-socráticos) ou


tem tem razão quem vence a discussão (sofistas)"
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Trabalha no plano das emoções (pathos) para o convencimento do


indivíduo. Convencimento por verossimilhança, dando a aparência
de verdade. Aristóteles achava que os sofistas usavam a retórica
para o mal.

● Divisão dos tipos de leis – Foi a grande contribuição dos sofistas,


essa diferenciação entre leis da natureza e leis humanas

physis - natureza, leis naturais (direito natural)


nomos - convenção, leis humanas (direito positivo)

● Principais nomes sofistas:

Arquelau - physis x nomos


Principal nome que diferencia physis (direito natural) da
nomos (direito positivo), não deve misturar como os pré-
socráticos faziam

Trasímaco - direito é força


Aparece em "A república" de Platão discutindo com Sócrates.
Para ele, o direito (dike) não é nada mais que a força, quem
diz o que é justo é a classe dominante,e justo tem a ver com
os valores dessa classe (positivismo, imposição)

Cálicles - a lei é uma perversão contra a desigualdade natural entre os


homens
Tem uma visão pessimista da lei positiva (nomos),
defendendo que a desigualdade é algo natural. Para ele a
nomos é uma estratégia de sobrevivência dos mais fracos.

Aristipo - justo/injusto, belo/feio, verdadeiro/falso são meros predicados


linguísticos
As noções de justo/injustos, etc não têm objetividade, sendo
relativas.
Risco: chegar à conclusão de que não existe justiça, negando
essa ideia e perdendo o critério de avaliação

Licofron - o Estado (polis) é uma convenção


Defende que as estruturas políticas são artificiais, constituídas
por imposição, acordo, etc. antecipando as posições
contratualistas
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Hippias - crítica social. Questiona as desigualdades da época

● Experiência da democracia
Os sofistas são importantes para a experiência da democracia
ateniense, com suas técnicas de argumentação sendo fundamentais.
Essa experiência implica na relatividade da verdade, já que é um
acordo entre a maioria, sendo uma manipulação das paixões.

● Teoria pragmática das leis


Considera-se que os sofistas a esboçaram.
Essa teoria não pensa nas leis em sua essência (ex. natural ou
positiva?) e sim em suas funções, o que elas fazem na prática, são
vistas como regras de um jogo social.

21.02.2017

Sócrates (470-399 a.C.)

Sócrates era visto como um sofista, afinal, ele era muito requisitado e
tido como um sábio. No entanto, ele não cobrava para ensinar -o que o
difere do sofista. Também ele acreditava na verdade e não no
relativismo, o que é outro argumento para dizer que ele não era sofista.

-Diálogos - textos trabalhados fora da academia, era a moda literária da


época. Há três diálogos feitos na juventude de Platão:
● Criton – diálogo de Sócrates com o discípulo Criton
● Apologia de Sócrates
● Fedon

-Método socrático - É um método dialético,para se chegar na verdade e


é separado em duas partes: a ironia e a maiêutica.
Ironia - visa quebrar a doxa (opinião), que é aquilo que todas as
pessoas têm sobre os mais diversos assuntos, mas não é
conhecimento. Nessa parte do método, questiona-se as opiniões do
interlocutor, até que ele caia em contradição.
Maiêutica - Significado: obstetrícia, a arte do parto, Sócrates dizia
que fazia parto de ideias. Visa alcançar a episteme (conhecimento o
contrário de episteme é doxa) que vem do eidos (ideia). E isso não
é algo que outra pessoa possa fazer pelo indivíduo, a única pessoa
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que pode chegar ao conhecimento é o próprio indivíduo, portanto,


para Sócrates, os professores não ensinam uma coisa, porque é
impossível transmitir o conhecimento, ele apenas estimula para que
se chegue nas ideias, isso é conhecimento e é muito raro de ser
alcançado. É feita através de perguntas que estimulam o raciocínio.

-Justiça x Segurança jurídica

Esse é o tema do conflito tratado no texto de Críton. Nele, Sócrates


reconhece a injustiça de sua sentença, porém afirma que não cumpri-la
seria outra injustiça, só geraria mais injustiça. Ele defendia que era
preciso cumprir a lei mesmo que ela seja injusta, você só tem que adotar
uma posição crítica (obedecer não passivamente, mas ativamente)
questionar a lei dentro dos limites por ela estabelecidos.
Para Sócrates, a lei positiva é o único instrumento que o homem tem para
fazer justiça, porém, as vezes, é um instrumento falho, e não consegue
produzir justiça e muitas vezes as leis são injustas, mas isso não é motivo
para não obedecê-las.
Pode-se tentar alterá-la nos moldes que a própria lei permite, mas, após
tudo ter sido feito, só resta aceitar submeter-se a ela.
Para ele, deve-se manter a segurança/previsibilidade jurídica para
conseguir alcançar a justiça.

23.02.2017

Platão (429-347 a.C)


Foi aluno de Sócrates e depois fundou uma escola chamada academia
(porque foi construída num bosque, jardins de academus, que seria um
antigo Herói grego)

-Reação contra o relativismo sofista - Sócrates e Platão creem no


conhecimento objetivo.
Sócrates e Platão vão tentar dizer que é possível sim falar objetivamente
sobre os fenômenos, sobre o mundo, a natureza, o homem, é possível sim
também discutir objetivamente sobre justiça, não é tudo relativo, cada um
com sua ideia.

Problematização do conhecimento - Platão acreditava que precisava-


se estudar sobre a nossa capacidade de conhecimento antes de começar a
criar teorias sobre o mundo, é necessário antes estudar como funciona o
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próprio processo cognitivo, o que é a própria teoria, o que é ver as coisas


através da razão.

Tipos de conhecimento:

● Conhecimento sensível – é aquele apreendido através dos


sentidos, da experiência. É particular, individual, relativo e
contingente.(corresponde a doxa) é produzido através da
experiência empírica.
Para Platão, se tivéssemos só esse tipo de conhecimento seríamos
incapazes de formar pensamentos mais organizados, não
conseguindo agrupar objetos que nossos sentidos compreendem
como distintos em grupos.
Ex. cadeiras (diversas formas e tamanhos)

● Conhecimento inteligível - apreendido através do intelecto. Vem


dos eidos (ideias) que são universais e necessários.(corresponde a
episteme)
Com ele, chega-se no eidos, que é a essência, o arquétipo. A ideia
não é formada, é descoberta. Não tem começo, nem fim.
Ex. cadeira - existem vários tipos, mas todas vêm da mesma ideia.
Segundo Platão, quanto mais próximo o objeto da ideia, mais belo
ele é.

-Mito da caverna (República, livro VII) - tenta explicar as formas de


conhecimento. O conhecimento sensível é as sombras da caverna e o
conhecimento inteligível é o homem que foi para fora da caverna.
Metaforicamente, o que ele viu foi o eidos.

-A República
Principal obra de Platão este livro, basicamente, mostra um
projeto/descrição de uma sociedade justa. O título original do livro pode
ser traduzido para "Como organizar-se politicamente para alcançar a
justiça" ou "Organização política para o alcance da justiça".
Segundo ele, a sociedade deve dividir-se em classes segundo a aptidão de
cada um e a aptidão de cada um tem a ver com a sua alma.
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Filósofos – São a Razão e direção, a consciência desse povo


político. Tomam as decisões políticas, devem criae leis,
governar e dirigir esse corpo político. Eles e os guardiões não
tem vida privada, não podem acumular riquezas nem ter uniões
amorosas estáveis. (cabeça)

Guardiões – Representam a Força e a coragem; Cuidavam da


ordem e da defesa, usavam da força para garantir a boa
execução da lei. Também tinham função educacional. Eram a
proteção militar também, formavam o exército. (peito)

Trabalhadores – Representam a sensibilidade a nutrição;


Cuidavam da economia, da subsistência material. (são os que
tem uma vida privada) (ventre)

A escolha de quem se encaixa em cada classe é baseada na arete


(significa excelência em grego). Por isso a república de Platão é uma
aristocracia. (governo da excelência). Para ele a melhor forma de se
organizar uma sociedade é descobrir a excelência de cada um. E isso será
feito através da educação. Para isso, todas as crianças devem ser criadas
e educadas pelo Estado, sem a ideia de família, porque a família coloca os
interesses privados, desvirtuam as crianças. A função da educação é o
indivíduo descobrir a sua aptidão natural.

-Concepção orgânica da justiça - para ele, a justiça se estabelece no


corpo social. Justiça para ele é quando tem cada indivíduo trabalhando
segundo a sua aptidão natural em prol da harmonia do todo. A justiça,
portanto, vem do equilíbrio, não nasce com o indivíduo, mas é um
fenômeno politico e social.
A justiça é a saúde do corpo social (quando cada um está empenhando a
sua função corretamente)- Passagem do livro - nº 4 4 4 c

- Karl Popper: Em seu livro "Sociedade aberta e seus inimigos" defende


que essa concepção de justiça é o arquétipo (modelo) das utopias
totalitaristas , que veem o indivíduo como apenas uma engrenagem, um
parafuso, no sistema, portanto, descartáveis.
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02.03.2017

- Por que os filósofos devem governar?


Relacionado à teoria das ideias de Platão. Para ele, os filósofos são
aqueles que tem a arete e são aqueles mais capazes de chegar nas ideias,
sendo menos enganados pelo conhecimento sensível (que vem dos
sentidos).
A maior ideia que existe para ele é o Bem, a principal essência de todas é
a ideia do bem, então o filósofo seria quem consegue inteligir com mais
clareza a ideia do bem e a partir dessa intelecção ele vai tomar as
melhores condições possíveis.

Teoria da lei como mímesis – Segundo Platão criar uma lei é sempre
uma tentativa de imitar a ideia do bem (agathon).
Mímesis = imitação
Segundo Platão, criar uma lei é sempre uma tentativa de chegar à ideia
de Bem. Por isso, é necessário que os filósofos façam as leis.
Uma pessoa que que não tem aptidão para isso vai criar leis ruins ,muito
distantes da ideia do bem.

- Estrutura da psique (alma) humana (Fedon, República)

Alma - diferente de espírito. Para os gregos, é a mente, a consciência.


Segundo Platão, ela é dividida em três partes (é a mesma estrutura da
República, tripartida):

Racional – conhecimento, pensamento. Virtude: sabedoria


Localização: cabeça.

Irascível – paixões, amor, raiva, inveja. Virtude: coragem


Localização: peito

Concupiscível - apetites (fome, sede, desejo sexual).


Virtude: temperança

Localização: ventre
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Uma pessoa com equilíbrio entre essas três partes, ou seja, com cada
uma fazendo seu papel sem interferir na outra, é saudável.
Metáfora – A alma humana é como uma carruagem, o cocheiro (racional)
e dois cavalos (paixões e apetites). O que faz alguém iniciar algo é as
paixões e os apetites. A parte racional simplesmente limita e controla-os.

Platão afirma que a justiça é a relação harmônica entre as três virtudes


fundamentais. Quando um filósofo, por exemplo, está equilibrado, sua
excelência se manifesta como sabedoria, a do guardião como coragem e a
do trabalhador como temperança.
A estrutura da psique é a mesma que a da República.

-Formas de governo (República, livro VIII)

Segundo Platão, qualquer forma de organização política pode se encaixar


nessas cinco:

Aristocracia
Quanto mais
para baixo, Timocracia
maior a Oligarquia
degeneração Democracia
Tirania

Aristocracia - para ele, é o governo da arete (excelência), da virtude.


Cada pessoa está em determinada classe por conta de sua aptidão. E
quanto mais distante disso, mais injusto vai ficando.

Timocracia - degeneração da aristocracia. Os melhores ainda estão no


governo, mas são levados pelo seu lado irascível.
Ex. Esparta e sua busca pela glória, ofuscando a razão.

Oligarquia – (Oli= grupo; arquia=poder) è uma degeneração da


timocracia. Não é mais o melhor governo, e sim o daqueles que tiveram a
sorte de herdar o poder ou a astúcia de tomá-lo. O poder é voltado para o
benefício desse próprio grupo, sendo o máximo da alienação política a
existência de mendigos.

Democracia – É a degeneração da oligarquia. Ocorre pela revolta das


pessoas alienadas contra o grupo dos oligarcas, com toda riqueza e todo
poder sendo dividido entre a população.(aqui era uma democracia direta)
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Platão reconhece que essa é a forma de governo com maior liberdade,


mas crê que ela pode facilmente tornar-se uma tirania, já que é uma
forma de governo muito instável, sendo ambiente propício para a
manipulação através da retórica. Essa instabilidade gera crises
econômicas e sociais, que podem fazer com que discursos totalitários
sejam validados pela população.
[Observações: Platão fala na democracia direta e já tem uma
tendência a desgostar dessa forma de governo porque foi em
um democracia que Sócrates foi assassinado. Além disso, ele
provavelmente não classificaria nosso governo atual como
uma democracia e sim uma oligarquia.]

Tirania - degeneração da democracia devido à instabilidade. Todos


tornam-se escravos do tirano, vulneráveis à sua vontade. É a máxima
degradação política. O Tirano persegue os bons cidadãos
[Observação: Essa ordem é só didática, não precisando
ocorrer exatamente assim para chegar na aristocracia ou na
tirania.]
-As leis

Aristocracia + Democracia
Princípio da legalidade

07.03.2017

Aristóteles (384-322 a.C.)

Aristóteles estuda durante 20 anos na academia de Platão. Torna-se professor de


Alexandre, O Grande. Diz-se que, por influência de Aristóteles, ele tenta criar
uma pólis universal. Enquanto Alexandre está em sua campanha, Aristóteles
volta para a Grécia com riqueza e poder, criando sua escola, o liceu ou escola
peripatética.
O liceu valorizava muito mais a experiência (conhecimento sensível) que a
academia de Platão, tentando equilibrar ela com o conhecimento inteligível.
A morte de Alexandre faz com que ele comece a ser perseguido politicamente (já
que os gregos começam a se voltar contra a conquista macedônica) e foge.
Acaba adoecendo e morrendo no mesmo ano.

-Traz as ideias platônicas para a imanência. Enquanto em Platão


temos um dualismo - mundo das ideias e mundo físico - Aristóteles tem
uma visão monista, não tem outro mundo, outro plano. Ele traz as ideias
Thaís A. Guedes da Luz 14

(eidos) para a imanência do mundo, ou seja, diz que elas estão nas
próprias coisas. Para compreender isso, há três conceitos:
Hilemorfismo – (Hile matéria; Morfismo forma). Para Aristóteles,
todas as coisas têm matéria e forma (o que é sensível, percebido
pelos sentidos é a matéria – e a forma não é perceptível pelos
sentidos, apenas inteligível). A eidos está nas coisas como forma, só
que a forma não é sensível (percebida pelos sentidos).
Teleologia - estudo teórico sobre os fins. Para ele, tudo tem uma
finalidade que determina a articulação entre forma e matéria.
Relação entre Ato e potência - tudo também está em uma
dinâmica de ato e potência, que explicam as mudanças no mundo.
Tudo ou é ou está em potencial. (semente de árvore/árvore, mesa)

-A psique (alma) é a forma dos seres que se movem por si


mesmos: A alma, para Aristóteles, é a forma dos seres que se movem
por si mesmos.

-Alma vegetativa - tem o movimento básico. Crescer, reproduzir, se


alimentar e respirar. É aquela dos vegetais.
-Alma sensível - a capacidade de sentir, perceber outros seres.
Sentem dor, estímulos, etc. É aquela dos animais.
-Alma racional - função específica da psique, exclusiva do ser
humano. É a capacidade de conhecer - fazer com que a forma de
outras coisas seja considerada à parte de sua matéria.

-Ética a Nicômaco

-O homem só existe na Pólis.


-Tudo têm uma essência que é determinada por um fim.
-A finalidade do homem é a felicidade.
-A felicidade não é só um estado, mas a atividade através da qual o
homem realiza as suas aptidões.
-O meio para atingir a felicidade são as virtudes (arete).
-Virtude é meio termo, moderação (sôphrosýnê).

Para Aristóteles, O homem só existe na Pólis, o homem é uma animal


político (zoon politikon) e sua essência só se desenvolve na vida política
(sociedade organizada por leis). A alma racional só se desenvolve a partir
da estrutura política.
A finalidade do homem é a felicidade (eudaimonia), que não é um
sentimento, é a prática das virtudes (arethe). A virtude para é o meio-
Thaís A. Guedes da Luz 15

termo, a moderação, o equilibrio. Para Aristóteles, o vício é tanto o


excesso quanto a falta.

Divisão das virtudes:

● Dianoéticas - são as virtudes teóricas, contemplativas, psicológicas.


- arte
- ciência
- sabedoria
- intelecto
- prudência (phronesis) - saber a hora certa de falar, agir, etc. É a virtude
teórica, segundo ele, que nos faz reconhecer a necessidade da estrutura
política para diminuir as injustiças e atingir a felicidade.

● Éticas – vem de ethos = que é caráter (hábito). Para Aristóteles, o


caráter se forma através da prática, tornando-se um hábito. Ele é
moldado ao longo da vida. Virtudes éticas:
- temperança - capacidade de sentir as coisas com moderação, escolher a
quantidade certa de algo. Abster-se de qualquer coisa também é um vício.
- coragem - equilíbrio entre o ser covarde e ser impetuoso. Os dois
extremos são vícios.
- generosidade - equilíbrio entre ser pródigo e avarento ou entre ser
egoísta e altruísta.
- justiça (dikaiosunê) - essa é a primeira análise de Aristóteles, sendo do
ponto de vista do caráter, das pessoas, como elas se comportam. O justo
é aquele que moderadamente toma o que é seu e entrega o que é do
outro na justa medida. Todos merecem a parte que lhe couber.

O individuo ético age com temperança, coragem generosidade e justiça.


O caráter depende de três coisas: a educação recebida, a sociedade em
que se insere e a vontade própria.

*Os extremos são vícios.

*Para Aristóteles, a felicidade plena, ou seja, o alcance de todas as


potencialidades, não é para todas as pessoas por uma questão natural. O
indivíduo precisa se dedicar 24 horas por dia para alcançar esse patamar,
para isso, precisa de tempo livre, servos, ser homem, etc.
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09.03.2017
Aristóteles - continuação
-Justiça Política (Ética a Nicômaco, livro V)- Para ele, há dois tipos de
justiça, analisados através da política:

- Natural (physikon dikaiou) - É a justiça da natureza. Regras,


princípios que, inicialmente, independem da vontade dos homens e
não se confundem com a natureza, é natural num outro sentido. A
diferença entre o direito natural e as leis da natureza é que as leis
da natureza são imutáveis, sem interferência da cultura e os valores
de uma sociedade enquanto o direito natural é mais flexível.
O direito natural é uma regra de tendência universal que pode sofrer
alterações e sua existência não exclui a norma
convencionada.(nomikon dikaion)
Ex. Direito à vida: todas as sociedades do mundo valorizam a vida,
mas a vida de que forma? Qual a aplicação e o entendimento deste
conceito?

- Convencional (nomikon dikaion) – Normas positivas que os


homens cria para estruturar a vida em sociedade, e não são
naturais, e sim artificiais, por exemplo: Regra de trânsito que diz
que o homem deve andar pela direita

-Modos de realização da justiça - Neste caso, não se pensa na


diferença entre o direito natural e o positivo e sim em como a justiça se
aplica na prática.
-Justiça distributiva: "a cada um segundo o mérito (axia)" –
Para se alcançar essa justiça, deve-se dar a cada um segundo o
mérito/valor/princípio (que varia de acordo com o tipo de governo).
É uma noção muito próxima de direito público, em que há uma
prevalência do Estado acima dos indivíduos. São regras
distributivas, distribuídas do estado para os indivíduos

Para ter justiça distributiva tem que distribuir segundo o mérito, o


problema é que o mérito varia; numa aristocracia é a excelência, arete,
(justo quando distribui proporcionalmente conforme a excelência); numa
oligarquia, o critério é a riqueza e o berço e numa democracia, é a
liberdade.

Em uma democracia o critério para a distribuição é a liberdade. Será justo


quando divide os bens, as obrigações, as penas, proporcionalmente
Thaís A. Guedes da Luz 17

segundo a liberdade. Para entender isso, deve-se lembrar que na época


dele, quem tinha liberdade era o cidadão, que era aquele com participação
na vida política. Distribuir segundo a liberdade é dar às pessoas a
capacidade de se autodeterminar, oferecer condições para as pessoas
serem livres. Pensando nisso, poder-se-ia chegar à conclusão de que tudo
deveria ser dividido igualmente, mas isso seria cometer uma injustiça,
pois alguns são mais livres que os outros. Portanto, o Estado deveria dar
mais recursos a essas pessoas, como por exemplo, um cadeirante ou uma
pessoa que tenha condições econômicas baixas e more longe da escola:
ambas merecem uma atenção especial, dedicada às suas particularidades.
É aqui que entra a frase "justiça é tratar desigualmente os desiguais e
igualmente os iguais".

*a noção de justiça comutativa em Aristóteles tem muito a ver com o


Direito Público

-Justiça comutativa/corretiva/sinalagmática: "que cada um dê e


receba o que a parte contrária deve dar e receber". Direito privado.

Ela é um complemento da justiça distributiva, e visa reparar os


desequilíbrios naturais que são gerados pela vida em sociedade. Nela, não
interessa o mérito e sim o equilíbrio das relações, o critério é que "cada
um dê ou receba o que a parte contrária deve dar ou receber". (exemplo:
bateu no carro da pessoa e tem que reparar para buscar o equilíbrio
anterior) Ela é dividida em duas:
Voluntária - quando há vontade livre entre partes na relação, o
equilíbrio é restabelecido voluntariamente pelas partes envolvidas.
Involuntária - quando há um desequilíbrio que uma ou ambas as
partes não querem resolver a relação. Nela, há a interferência dos órgãos
públicos para mediar o conflito e reequilibrar a relação.
Thaís A. Guedes da Luz 18

14.02.2017
Aristóteles - continuação

-Equidade (epieikeia) – Epieikeia significa bom senso. Equidade tem


relação com a interpretação da lei, foi um mecanismo criado por
Aristóteles para resolver um problema sério no direito que é a aplicação
da lei no caso concreto. A lei era sempre geral e abstrata, e o caso
concreto é único, irrepetível, e se aplicar a lei friamente pode estar
fazendo uma injustiça. O legislador não consegue prever tudo, então uma
forma de fazer justiça já que é impossível prever tudo é jogar a
responsabilidade nas mãos do juiz (mas é perigoso dar um poder tão
grande para uma pessoa) então Aristóteles criou este mecanismo de
adaptar a lei ao caso concreto, isso é equidade. Para Aristóteles é um
mecanismo interpretativo que vai orientar o juiz a aplicar a lei ao caso
concreto. Fazendo isto, conseguir-se-á uma decisão mais justa.
Deve-se fazer o seguinte exercício para a decisão por equidade: pensar
em como a lei existente seria se fosse criada por conta daquele caso
concreto que está sendo analisado. -verificar)

-Dike (justiça) x Hÿbris (deformação, monstruosidade, desmedida) -


Passagem de Aristóteles comentando um poema chamado O trabalho e os
dias. Nele, Aristóteles afirma que a essência da pólis é a eterna luta da
dike contra a hÿbris.
A Atividade política para Aristóteles é uma eterna luta contra a
desmedida, o desequilíbrio, a decisão justa é a que dá a cada um o que é
seu, nem mais e nem menos.

-Análise objetiva e subjetiva da responsabilidade - um pensamento


diferente do que se tem hoje. Cuidado!
Injusto x Injustiça
Para Aristóteles, é possível haver um injusto sem haver injustiça.
Para configurar o injusto, basta provar o nexo causal.
Para configurar a injustiça, é necessário provar, além do nexo
causal, que houve uma ação voluntária.
A ação voluntária é aquela executada de maneira intencional e sob o
controle do agente, sem ignorar a pessoa afetada, o instrumento
empregado e o resultado.
Tipos de erro (dentro do injusto):
1- A Conduta que causa o injusto, não extrapola a conduta razoável - a
conduta razoável é aquela esperada pelas pessoas comuns.
A ignorância que causa o injusto está fora do agente.
Thaís A. Guedes da Luz 19

2- A Conduta que causa o injusto extrapola a conduta razoável - a


ignorância que causa o injusto reside no próprio agente.(dirigir
bêbado se enquadraria nisso)
3- Crimes passionais (produto das paixões, impulsos) – a conduta que
causa o dano é consciente, mas não deliberada.(mulher traída) não
configura ação voluntária

16.03.2017

Aristóteles - continuação

-Formas de governo (Política, livro III, capítulo VII) e suas


degenerações:
Monarquia - Tirania
Aristocracia - Oligarquia
Constituição (politeia) - Democracia

Monarquia: é o governo de um só, e segundo Aristóteles pode ser uma


boa forma de governo desde que o governante vise o interesse público
(para ele o interesse público é o equilíbrio). Porém a monarquia pode se
degenerar e virar uma tirania que é o governo de um só, porem não visa
o interesse público, pois o tirano visa os próprios interesses e age
arbitrariamente conforme seus caprichos.

Aristocracia: é o governo de um grupo de pessoas que visam o bem


comum. O problema é que pode se degenerar e virar uma oligarquia que é
um grupo que governa visando interesses escusos, governam para si
próprios.

Politeia (constituição) - É o governo de todos e todos governam


diretamente sem intermediários, pode ser uma boa forma de governo
desde que os cidadãos governem em função do interesse público. Porém
pode se degenerar e virar uma democracia, onde todos governam mas
não visam o interesse público, para ele não é porque todo mundo está
concordando com algo que isso seja bom, pois as pessoas podem estar
manipuladas por alguém que pode alienar as pessoas, instigar a raiva.

-Separação dos “poderes” (Política, livro VI, cap. II) - lembrar que
poderes está entre aspas porque para ele é mais uma questão de gestão
executiva.
Thaís A. Guedes da Luz 20

Assembleia popular – os cidadãos na Ágora devem incumbir-se da


criação das leis.
Magistratura executiva - grupo de indivíduos capazes de administrar
e executar as leis e projetos.
Magistratura jurídica - conselho de anciãos, que resolvam conflitos.

*Pode-se dizer que o primeiro a mencionar a separação de poderes foi


Aristóteles, ele esboçou, mas quem foi o pai da separação de poderes foi
Montesquieu.

Filosofia do direito medieval

-Panorama histórico: Com o surgimento da igreja, os padres começam


a dar fundamentos racionais teóricos para a fé cristã e vão fazer isso
pegando a filosofia da tradição filosófica greco-romana e tentar juntar com
a tradição religiosa hebraico-cristã.

-Logos x Verbum - os cristãos tentam aproximar as duas ideias: logos


(ordem, lógica) e verbum (verbum é a voz, o verbo, a palavra). Eles falam
que o verbum é o mesmo que o logos grego, porém, como os gregos
eram pagãos, não compreendiam a ideia do princípio ser Deus e esse
verbum criar tudo por sua vontade.
Ao contrário desta tentativa de aproximação, na verdade o logos grego
era visto para eles como a lógica, a ordem que rege o mundo e que pode
ser inteligível através da razão.

-Novo conceito de Justiça


A justiça não será mais definida a partir de elementos lógico formais
(proporção, igualdade, meio termo, equidade), mas a partir de
valores humanos ético-voluntários relacionados à vontade de Deus
(amor, caridade, compaixão).

-Visão de mundo teocêntrica


Jusnaturalismo transcendente - Até agora tinha-se um
jusnaturalismo cosmológico. Na Idade Média, desenvolve-se um
jusnaturalismo transcendente (imanente ao mundo).
Para os gregos, essa ordem natural (traduzida no logos) pode ser
compreendida através do intelecto e o conceito de justiça está dentro
desta estruturação.
Para a visão hebraico-cristã, o princípio era Deus, com o homem
anteriormente vivendo no paraíso (comungando do direito natural), mas,
Thaís A. Guedes da Luz 21

sendo expulso, afasta-se de Deus e da ordem natural. O parâmetro o


objetivo de justiça está em Deus, mas para chegar nele, não utiliza-se da
razão e sim da fé.
A liberdade passa a ter um peso maior, com o livre-arbítrio estando na
ideia da maçã.
[Sartre (ateu) - diz que o homem está condenado a ser livre.
Uma consequência à influência do pensamento cristão.]

21.03.2017

Santo Agostinho (354-430 d.C.)

-Neoplatonismo cristão
Converte as ideias platônicas na mente de Deus
Combate ao maniqueísmo
A injustiça e o mal não existem em si, mas são produto do erro e da
ignorância.
Não é que exista o Bem e o Mal, só existe Deus e o outro lado é a
ignorância.

lei eterna ("lex aeterna")


livre-arbítrio
leis humanas ("lex temporalem")

Lei eterna - é o direito natural , que está em Deus. Não a alcançamos pelo
pecado original e pelas nossas limitações como seres.
Livre-arbítrio - capacidade de escolher dada a Deus pela sua infinita
compaixão e misericórdia. Através do livre-arbítrio, podemos criar as leis
humanas.
Leis humanas - toda forma de organização, as normas criadas pelo
homem. Essas leis só são justas quando orientadas pelos princípios das
leis eternas (que podem ser alcançadas através da fé).

- Essa concepção de livre-arbítrio como manifestação interna da lei eterna


em oposição às leis humanas é um esboço da distinção moderna entre
moral (interna) e direito (externo), além disso, abre caminho para a
colocação do livre-arbítrio como centro do direito subjetivo.
Thaís A. Guedes da Luz 22

[Kant usa exatamente o mesmo esquema de Sto. Agostinho, porém


não associa o livre-arbítrio com Deus.
Para Aristóteles, é impossível esse descompasso entre moral e
direito positivo porque para ele, a ética tem a ver com o modo que
você age por hábito, se é justo é porque é ético.]

Ex. adultério - as leis humanas proíbem o adultério para evitar confusão,


mas as eternas não só proíbem o adultério, mas também cobiçar a mulher
do próximo - ou seja, o próprio pensamento.

leis eternas - visam a paz eterna (Justiça absoluta, comunhão com Deus)
leis humanas - visam a paz social (Transitória, neste mundo, nestas
circunstâncias)

-Justiça - “dar a cada um o que é seu”


Influência de Cícero (grego) nessa frase. Cada um deve receber
segundo as suas ações, as suas escolhas, seu livre-arbítrio.

Escola clássica do direito natural

O direito natural passa a ser buscado na natureza humana, no


homem, não mais no cosmo ou em Deus.
Crença em direitos naturais inatos.
Contratualismo
comunidade x sociedade

A partir da modernidade, prevalece um jusnaturalismo racionalista,


antropocêntrico.

Natureza humana - para a escola clássica, é algo universal. O grande


problema seria saber o que é aquilo que é universal entre os humanos.
Desse princípio, decorre-se que o direito natural é inato, tem-se antes de
nascer e que está acima da cultura.

Contratualismo - modo de se legitimar o poder desde quando Hobbes cria


o modelo de contrato na modernidade. Aliás, ainda hoje é o modo de
legitimação do poder.
Thaís A. Guedes da Luz 23

Comunidade ≠ sociedade - a comunidade é uma associação de indivíduos


baseada nos costumes, na tradição, na língua e na visão de mundo,
enquanto a sociedade é fundada no contrato, na lei, é uma associação
contratual dos indivíduos através de uma Constituição.
Uma sociedade pode ter diversas comunidades em si pela ligação
contratual, a partir do momento que essa ligação não existe, há o
estranhamento.

23.03.2017

Hugo de Grócio (1583-1645)

Obra: “Do direito da guerra e da paz” (texto disponível no livro verde de


Clarence Morris)

-Afirmação da razão como fonte do direito


O fundamento do direito não está no cosmo, nem em Deus, mas no
próprio homem, na razão. O argumento dele é matemático, por mais que
existam, hipoteticamente, povos que não conheçam a matemática; se
eles um dia começarem a raciocinar matematicamente eles chegariam
as mesmas verdades. Usando simplesmente a lógica é possível chegar aos
princípios fundamentais do Direito, não precisa nem ser humano para
tal.

Frase polêmica de Grócio: nem Deus poderia fazer com que algo
justo se torne injusto porque justiça tem a ver com lógica e se Deus criou
o mundo desse jeito e se dispôs a raciocinar, ele é obrigado a seguir
certos princípios.
Visão do mundo antropocêntrica. Consequência: jusnaturalismo
antropocêntrico. Os homens, pelo fato de serem humanos, têm
direitos inatos (o problema é definir o que é inato)/

-Dedução racional do direito


- Grócio afirma que a razão é fonte do direito. O direito já está no
homem pela razão e seus fundamentos são deduzíveis
racionalmente (como uma fórmula matemática), por isso, eles são
universais.
Thaís A. Guedes da Luz 24

-Regras fundamentais do direito :


Abster-se dos bens alheios (influência de Cícero e do estoicismo)
Manter a palavra dada (contrato)
Reparar qualquer dano causado

Abster-se dos bens alheios - com isso, deduzimos que ele considera a
propriedade como um princípio natural. O ser humano sempre vai
reconhecer que algo é um bem de alguém pelas formas lógicas, pela
organização do objeto. Não é necessária a existência de um Estado, de
leis, para que se tenha a ideia de bens, ela é universal.
Manter a palavra dada - ideia de contrato. O contrato é um princípio
natural que qualquer ser racional pode fazer, independentemente das
circunstâncias. O Estado simplesmente existe para dar
segurança/efetividade aos contratos, não para criá-los. Se a pessoa vai
cumprir ou não, é outra história, mas a exigência moral de respeitar a
palavra dada é algo natural e lógico.
Reparar qualquer dano causado - princípio da responsabilidade. Qualquer
ser racional para Grócio sabe que, se causar um prejuízo, deve repará-lo.
É uma obrigação moral que qualquer ser racional reconhece. Uma boa
parte das normas jurídicas que acionam o Estado são para a reparação
dos danos.

Lembrar que, para ele, esses princípios podem ser alcançados através
da razão, da dedução racional.

-Direito internacional - Grócio é considerado o pai do direito internacional


por falar em princípios que transcendem a soberania dos Estados. Por
isso, o soberano não seria mais considerado irresponsável juridicamente.
Essa forma de pensar influencia a Convenção de Genebra, que trata dos
direitos e obrigações de combatentes e não-combatentes em tempos de
guerra.
Guerra justa – ele defende a noção de guerra justa, que é uma
guerra de defesa dos princípios do direito (Respeitar os bens
alheios, manter a palavra dada e reparar o dano causado). A guerra
não pode ser um vale-tudo amoral e afastado do direito.

-Procurava subordinar o exercício da soberania ao direito - anteriormente


defendia-se o poder absoluto do soberano em suas terras, mas Grócio
Thaís A. Guedes da Luz 25

afirma que, mesmo assim, há limites. Os princípios independem da


vontade das pessoas e dos soberanos, independem até de Deus.

30.03,2017

Thomas Hobbes (1588-1679)


Obra: Leviatã
- Não existem essências na natureza, mas apenas movimento e processo.
Influência da mecânica dos corpos de Galileu

Galileu descreveu o movimento dos astros, dos corpos sem apelar


para forças obscuras, ou essências, mas sim ele pensou a partir de
processos e movimento, de certa forma é o que quer fazer Hobbes em
relação ao homem, que não ficou discutindo se o homem é mau por
natureza ou se é bom, ele vai descrever o homem simplesmente a partir
dos movimentos e processos que nos constituem enquanto seres
fenomênicos. (Ex. somos atraídos por várias coisas e isso gera um
movimento)

- Liberdade natural: ausência de impedimentos externos, permitindo ao


homem fazer tudo o que for necessário para preservar a vida.

- Direito natural: é a liberdade, a consciência, a faculdade que cada um


tem de usar o próprio poder para preservar a sua natureza. Por conta
dessa análise pode-se argumentar erroneamente que ele é um positivista,
já que ele simplesmente reduz o direito natural ao instinto de
sobrevivência.

- Estado de natureza
Contrato: alienação da liberdade natural em troca da legalidade
Estado civil

Como Hobbes pensa o homem? Ele pega a vida em sociedade e


desmonta ate chegar nos menores elementos, que são os indivíduos, que
são células, as menores partes indivisíveis do todo social.
Estado de natureza: Para Hobbes é um mundo sem leis, não existem
estruturas de controle, e todos são absolutamente livres.
Se não houvesse leis, Estado, e fosse cada um por si, acabaria numa
guerra de todos contra todos, porque todo ser vivo está numa luta pela
sobrevivência, e os recursos são limitados então naturalmente há uma
disputa entre todos os seres vivos, e o fato do homem ser racional vai
Thaís A. Guedes da Luz 26

tornar o homem imprevisível, e como não se pode prever o


comportamento de outros homens, a reação imediata será o ataque,
antes que o outro faça alguma coisa, isso leva a guerra de todos contra
todos. (Hobbes nunca disse que o homem tem uma natureza má, ele só
disse que a natureza humana impossibilita a convivência no estado de
natureza)
Contrato: O homem ao perceber o perigo, nessa guerra de todos contra
todos, faz um pacto de não agressão, por medo da morte violenta do
estado de natureza. Este pacto é erga omnes como se cada indivíduo
dissesse: "abro mão da minha liberdade natural, desde que todos os
outros também façam isso, e todos dizem o mesmo em relação a mim"
então é um pacto de alienação da liberdade natural, do poder que eles
tem de fazer as próprias leis. E isso vai ser transferido para a mão de um
3º que não participou do pacto, que é o soberano, que agora vai fazer as
leis, e quem vai exercer esse poder soberano, pode ser um individuo, ou
várias pessoas (oligarcas, ou uma assembleia) Mas Hobbes prefere que
seja apenas um. Com isso, constitui um monstro que se chama leviatã,
que é o estado. Ele pensa o Estado como se fosse um ser gigante que não
tem o corpo próprio, pois o corpo do estado é constituído pelos corpos dos
indivíduos, os súditos, da estrutura política. Porém a vontade deste
mostro não é a soma da vontade dos indivíduos, ele tem vontade própria,
sendo o(s) detentor(es) do poder soberano quem a exerce.
Ele carrega uma espada que é o poder secular, monopólio da força (a
primeira carac. Do Estado é monopolizar a força, só o Estado pode coagir)
- e um báculo/cetro que é o símbolo da igreja católica, representa o poder
espiritual, das ideias, poder teológico de legitimação do próprio Estado. Na
idade média havia a prevalência do poder representado pelo cetro sobre o
poder da espada. Na época de Hobbes, ocorre uma grande instabilidade
política, uma ruptura com o teocentrismo, o poder da espada passa a
prevalecer sobre o báculo.

- Não é possível denunciar (desfazer) o pacto


-> exceção: disposição arbitrária da vida dos súditos
Os indivíduos não tem mecanismos, cláusulas, que os permitam desfazer
o pacto, portanto pra Hobbes é impossível legalmente voltar para o estado
de natureza, porque todos teriam que retomar a sua liberdade natural,
que foi perdida pelo pacto e transferida ao soberano, que está fora do
contrato, e só destruindo todas as instituições dele isto poderia acontecer.
Há uma exceção, criamos o Estado para nos proteger, mas se ele dispor
arbitrariamente da vida das pessoas, acaba perdendo a sua razão de ser,
como se ele estivesse rompendo com o contrato.
Thaís A. Guedes da Luz 27

- Os atos do soberano são de responsabilidade dos súditos


Os atos do soberano são de responsabilidade dos súditos, porque o
poder do soberano é feito da liberdade dos indivíduos, quando o soberano
cria uma lei ou toma uma decisão ele está exercendo coletivamente a
liberdade de todos, é como se fosse uma tomada de decisão unânime

- Natureza da justiça: manter a validade dos contratos.


O que é justiça para Hobbes? Ele vai dizer que justiça está associada
com os contratos, justiça nada mais é do que manter a validade dos
contratos. Justiça para ele, é aquele sentimento, aquela noção que nós
temos quando se respeita as cláusulas contratuais. E injustiça é quando
alguém descumpre algo que foi pactuado.

- Divisão das leis:


Leis distributivas
Leis penais

Essas leis que vão estruturar o estado, o que poder soberano faz o
tempo todo é criar leis distributivas e leis penais.
Leis distributivas: São aquelas que estabelecem os direitos, obrigações
dos indivíduos, quais os tipos de contratos que eles poderão estabelecer
entre si, elas também vão criar as instituições. Essas leis vão criar
artificialmente um ambiente de previsibilidade da ação. O Estado torna o
homem minimamente previsível. A economia depende delas, pois estas
dão toda a estrutura jurídica.

Leis penais: São aquelas que servem para punir. As leis distributivas
também têm penas e sanções, mas as leis penais visam causar
sofrimento, devolver o mal causado, é a vingança institucionalizada.

- Propriedade
Para Hobbes não é um direito natural, e sim um contrato. No estado
de natureza tudo é de todo mundo e nada é de ninguém, no máximo algo
é meu quando estou segurando (posse empírica). A propriedade é um
contrato que estabelece o Leviatã, então ele pode decidir se ela será
particular ou coletiva. O contrato de propriedade regula o uso, o consumo
e a disposição de bens, espaços e seres vivos.

- Ética e religião
Thaís A. Guedes da Luz 28

Valores éticos e religiosos, tudo o que tem a ver com a consciência e


moral vai ser confinado no âmbito privado. O Estado não está preocupado
com a crença das pessoas, e seus valores.

04.04,2017
John Locke (1632-1704)

Obra: “Segundo tratado sobre governo”

- O estado de natureza não é um estado de guerra, mas um estado de


liberdade.
Locke vai retrabalhar o esquema de Hobbes, ele vai ter uma visão
mais otimista da natureza humana, para ele se nós vivêssemos no estado
de natureza não entraríamos numa guerra necessariamente, pelo
contrário, num mundo sem leis, poder, instrumentos de controle, pelo fato
do homem ser racional torna o homem capaz de resolver racionalmente
todos os seus conflitos, o grande problema é que o homem não é
puramente racional, mas se ele sempre agisse racionalmente ele
conseguiria. Se o homem fosse sempre racional não seria necessário o
Estado.

- Razão: razoabilidade, correção

Fonte do direito natural, já que o homem chega por ele através da razão.

- Direitos naturais inalienáveis


Vida
Liberdade
Propriedade

Esses direitos são descobertos pela razão, não são inventados, o


fato do homem ser racional já o dá consciência desses direitos. O principal
direito natural para Locke é o de propriedade.
Propriedade: É um direito mesmo no estado de natureza, independente de
qualquer tipo de contrato e o fundamento é o trabalho, que é uma
atividade racional de mobilização das forças do corpo em função de uma
finalidade. Quando fazemos isso constituímos a propriedade. Não precisa
de um Estado para legitimar a propriedade. Os animais não trabalham
porque eles não têm a capacidade de fazer algo para alcançar o objetivo
escolhido.
Thaís A. Guedes da Luz 29

Vida: o trabalho se manifesta pela primeira vez no corpo vivo, portanto a


primeira propriedade que temos é a vida.
Liberdade: está intimamente ligada ao trabalho, à possibilidade de poder
trabalhar.
* Fundamento da propriedade: Trabalho.
- Principais fatores que levam às necessidades de constituição do Estado:
Paixões
Falta de um juiz imparcial

O principal fator que vai levar à necessidade de se fazer um contrato, criar


um poder para organizar a vida dos indivíduos são as paixões.
Paixões: são impulsos irracionais que move o homem, há paixões boas e
ruins (o amor, o ódio) e esses impulsos levam a comportamentos
irracionais que podem ofender os direitos naturais, e torna inseguro o
estado de natureza, e é por causa disso que precisa ser criado um
contrato. (delegar a liberdade)
Falta de um juiz imparcial: no estado de natureza quando há uma ofensa
a um direito natural, não se tem uma instância imparcial para solucionar
esse conflito, só se faz justiça com as próprias mãos, que podem
extrapolar e virar uma vingança, devido ao individuo ser passional. Então
o estado deve criar uma instituição autônoma para solucionar conflitos, o
que hoje se chama Judiciário.

06.04.2017
Continuação de John Locke

*Se perguntar na prova: Qual o fundamento do contrato para Hobbes e


para Locke?
R: Para Hobbes é o medo da morte violenta do estado de natureza, e para
Locke são as paixões, a insegurança gerada pelas paixões que
eventualmente pode até levar a uma guerra, mas não necessariamente.

- Contrato: delegação da liberdade

O que leva o homem a fazer um contrato, o que leva a necessidade de


criação do Estado é a insegurança gerada pelas paixões e por causa disso
os indivíduos vão fazer um pacto onde vão DELEGAR a sua liberdade
natural (diferentemente de Hobbes onde era uma alienação da liberdade).
Para Locke, nós delegamos a liberdade quando escolhemos um
representante no legislativo, e são eles (legisladores) que vão desenhar o
estado. O que está delegando? O poder de fazer as leis no meu lugar, não
Thaís A. Guedes da Luz 30

está perdendo a liberdade natural, pode-se inclusive, cassar essa


liberdade e passar para outro.

- Estado mínimo (funções):


(O Estado pra Locke é mínimo, ele não cria direitos, e serve simplesmente
para proteger, e dar segurança para os direitos naturais).

Conservar e regular a propriedade: Não é função do estado criar o direito


de propriedade (para Hobbes é), ele vai apenar criar mecanismos, regras
para conservar e regular a propriedade dos indivíduos.
Organizar uma força comum para garantir a boa execução das leis: Os
indivíduos sozinhos não são capazes de organizar forças coletivas (poder
de polícia, oficial de justiça) somente o Estado pode organizá-la e isso
deve ser de modo que garanta a proteção dos indivíduos.(força interna)
Defender o Estado contra inimigos externos: Tem a ver com a
organização da força, só que aqui é uma força externa, para proteger de
inimigos externos (exército)
Garantir os bens públicos: nenhuma atividade produtiva é bem público
para Locke. Esses bens públicos, são aqueles bens mínimos necessários
para o desempenho das funções mínimas do Estado.

- Divisão dos poderes


Legislativo: é o poder máximo para Locke, porque é nele que estão
centralizadas/acumuladas as liberdades individuais, e ele que desenha
todo o Estado. O Legislativo é composto por cidadãos do povo eleitos por
um mandato com uma função específica e de prazo determinado e depois
voltam para a vida normal.
Executivo: É o que vai executar as leis que são votadas e elaboradas pelo
legislativo, e quem vai exercer pode ser um presidente, um grupo de
pessoas, um rei (sem poder absoluto). Uma de suas funções é de
administrar a justiça
Federativo: Cuida das relações internacionais, relações entre os Estados,
entre soberanias. Para Locke, o Executivo não poderia cuidar das relações
internacionais, pois assim seria uma limitação ao poder Executivo (no caso
da Inglaterra, os reis).

- Direito de revolta
Locke vai defender o direito dos cidadãos de se revoltarem e desfazerem o
Estado, o pacto e voltarem ao estado de natureza, porque houve apenas
uma delegação da liberdade e não uma alienação. E esse direito só vai
funcionar se for exercido coletivamente, não é um direito individual.
Thaís A. Guedes da Luz 31

- Direito de resistência (desobediência civil)


É um direito individual, e é quando há uma injustiça praticada pelo Estado
contra o indivíduo, ou contra um grupo de pessoas, assim, essas pessoas
tem o direito de resistir e praticar a desobediência civil, mas para ter esse
direito tem que ter esgotado todos os outros recursos para sanar essa
injustiça.

- Consentimento
O contrato de Locke se funda na ideia de consentimento. Nunca houve um
momento na história em que as pessoas assinaram um contrato, mas para
Locke é como se tivesse acontecido. O que legitima o contrato não é um
momento histórico, mas sim a sua própria convivência com o Estado, que
supõe sua assinatura nesse contrato, se a pessoa goza dos benefícios que
o estado proporciona, é como se estivesse assinado o contrato.

11.04.2017
Jean Jacques Rousseau (1712-1778)

Obra: “contrato social’


“Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre
os homens”
Rousseau foi uma influência muito grande para Kant, Kant só é Kant
porque ele leu Rousseau.

- No estado de natureza as desigualdades são contingentes e estão


limitadas às forças de cada um.

De certa forma, Rousseau vai equacionar as ideias de Hobbes e Locke e


dá um passo a frente. Para Rousseau a liberdade é um direito natural do
homem, mais do que isso, é aquilo que constitui a essência do homem.
A melhor forma de entender o estado de natureza para Rousseau é
pensando nos animais, porque vivem numa certa harmonia apesar da
existência de luta.
As desigualdades entre os homens no estado de natureza são
contingentes, só há desigualdades nos limites das forças de cada um. O
estado de natureza seria para Rousseau “bom” porque as desigualdades
são mínimas entre os indivíduos, isso é o que acontece com os animais
também.
- Fim do estado de natureza:
Isso é meu (propriedade) -> um dos principais fatores que vai tornar
impossível a vida do homem no estado de natureza vai ser a invenção da
Thaís A. Guedes da Luz 32

propriedade, que vai gerar conflitos, a propriedade nasce da seguinte


forma: um dia um indivíduo cerca um terreno e diz “isso é meu” e
encontra pessoas suficientemente inocentes para acreditar nisso, quando
essas pessoas acreditam elas estão legitimando aquela propriedade. Vale
lembrar que a propriedade NÃO é um direito natural para Rousseau,
porque ela nasce de um ato arbitrário.
Constituição de um poder comum para proteger a propriedade ->Os
“proprietários primitivos” vão constituir uma de poder primitivo, para
proteger a propriedade de cada um deles, é daí que está nascendo o
Estado para Rousseau. É a propriedade que vai gerar a necessidade de
constituir o Estado, de criar um poder, de criar leis, porque ela gera
conflitos.
Aprofundamento das desigualdades -> [não falou sobre isso
diretamente]

- Contrato social ideal: troca da liberdade natural pela liberdade civil.

Pelo fato da propriedade gerar conflitos, aqueles que são "donos"


dela se unem para protegê-la. Então, os indivíduos fazem um pacto para
que ocorra essa proteção e nesse pacto eles vão negociar a liberdade, eles
vão abrir mão, vão alienar a liberdade natural em nome de ter uma ordem
comum, de constituir um poder comum capaz de fazer leis e proteger a
propriedade de cada um deles, então há uma espécie de degradação
humana, a essência do homem é a liberdade e o homem abre mão disso.
Rousseau propõe que o contrato social ideal é a troca da liberdade natural
pela liberdade civil. Ele defende que a essência do homem é a liberdade,
que foi perdida (propriedade = pecado original) pela propriedade, só que
não deve-se parar aqui. Ele acredita que não é possível voltar ao estado
de natureza, então o homem deve encontrar outro caminho de ser livre: a
liberdade civil, que é possível através de uma democracia direta, sendo os
próprios indivíduos que farão as leis, reunindo-se numa assembleia,
discutindo.

- Democracia direta.

Só houve dois períodos em que isso ocorreu: Atenas, séc. V e em


Genebra (Suíça), pós reforma protestante, porque essa participação
coletiva é utópica e só pode ser aplicada totalmente em locais menores,
com uma população menor.
Thaís A. Guedes da Luz 33

- Crítica ao modelo de democracia representativa de Locke.


Ele vai criticar a ideia de Locke que somos livres por procuração
(delegação da liberdade). Para Rousseau, a liberdade só é fazer as
próprias leis, se autodeterminar e o único meio de se manter a liberdade é
com cada indivíduo contribuindo para a criação das leis.

- Crítica ao direito de revolta


Rousseau diz que é impossível desmontar o estado e voltar ao
estado de natureza, por causa da propriedade, porque o homem vai
sempre preferir ter uma ordem para proteger as suas posses. Mesmo que
todos queiram voltar ao estado de natureza, continua não sendo possível.

- Vontade geral
Deve assegurar a liberdade, a igualdade e a justiça dentro do estado
mesmo contra a vontade da maioria.
Rousseau não define o que é ela exatamente. 1º decide-se o que ela não
é: ela não é necessariamente a vontade da maioria,2º também não é a
vontade unânime 3º também não é uma média geral da vontade dos
indivíduos.
(Ideia do professor) Ela é a vontade soberana do Estado que visa realizar
a liberdade civil.
É com essa ideia que pode-se diferenciar democracia (relacionada à
vontade geral) com a ditadura da maioria.

- Rousseau funda os direitos naturais nos sentimentos


Ele destoa dos outros autores da escola clássica do direito natural
quando não funda o direito natural na razão e sim no sentimento, a razão
apenas traduz em conceitos esses sentimentos.
Amor de si: amor, preocupação que temos em relação a nós mesmos,
instinto de sobrevivência. É com base nesse sentimento que vamos tirar
os direitos individuais.
Compaixão (amor dos outros): é a capacidade de sofrer com os outros
Thaís A. Guedes da Luz 34

13.04.2017
Kant (1724-1804)

Obra: metafísica dos costumes

- Liberdade: autonomia, agir de modo incondicionado, agir por dever.


Ele entende liberdade como autonomia (auto=si mesmo; nomia= lei), que
é quando a pessoa se autodetermina, faz as suas próprias leis. Ser livre é
quando você pode agir independentemente de qualquer condicionamento.
Heterônomo = tem as normas impostas por outros.
Autônomo = impõe as próprias normas.
Ex. Se os sentimentos são o que determinam suas ações, você não está
sendo livre já que eles não dependem de escolhas livres; escolher fazer
Direito é uma escolha baseada em uma finalidade que só pode ser
atingida porque a pessoa se insere em uma sociedade em que esse
objetivo existe;
Para Kant, somos seres condicionados, mas podemos, porque somos seres
racionais, nos autodeterminarmos, independente desses
condicionamentos. Quando qualquer ser racional age de forma
incondicionada, ele é livre. Segundo ele, quando se age de modo
incondicionado se age por dever.
Quando você age por dever, ou seja, quando você consegue ser livre de
verdade, é porque você está agindo por dever e ao mesmo tempo está
agindo moralmente.

- Ser livre é ser moral.


Ao mesmo tempo que se age por dever, se age moralmente. Ser
livre é ser moral, Kant está afirmando que se você consegue se
autodeterminar, você necessariamente vai fazer o que é certo, o que é
moralmente correto.
Ele vai fundar a moralidade na liberdade (a essência da moral é a noção
de certo\errado) alguém que é livre respeita o dever seja em si mesmo
seja nos outros, respeita a autodeterminação de si e dos outros.
A capacidade de autodeterminação é possível para qualquer ser racional.

- Pessoa – dignidade – exige ser tratada como um “fim em si mesmo”


Coisa – preço – pode ser usada como “meio”

Segundo ele, em nossa experiência prática do mundo, tudo pode ser


dividido nessas duas categorias:
Thaís A. Guedes da Luz 35

pessoa: é qualquer ser que é capaz de autodeterminação, capaz de agir


por dever, e não é só o ser humano, pode ser uma inteligência artificial. É
essa capacidade que torna as pessoas seres com dignidade, é isso o que
descreve as pessoas. Ter dignidade significa que as pessoas devem ser
tratadas como um fim em si mesmas, respeitando sua
liberdade/autonomia. Não posso tratar as pessoas como coisas.

coisa: Qualquer entidade, qualquer ser, objeto que não tem capacidade de
autodeterminação, e que portanto, pode ser tomada como um meio de
autodeterminação de pessoas. Por isso, podemos dizer que coisas têm
preço e pessoas não.

- Agir conforme o dever – heteronomia


Agir por dever – autonomia

Agir conforme o dever – heteronomia: Quando está fazendo o que é certo


mas não por dever, quando age conforme o dever não está sendo livre,
você está agindo por causa de alguma coisa, mas sua conduta está de
acordo com o que é certo. Para o Direito, basta agir conforme o dever.
Agir por dever – autonomia: é agir de modo incondicionado, é ser livre.
Quando faço o certo simplesmente porque é o certo. É agir em respeito ao
dever, em respeito à autodeterminação de cada pessoa.

18.04.2017
Continuação de Kant

- Imperativo categórico: “faça somente o que a cada vez possa servir de


lei universal”.

Imperativo categórico é uma tentativa do Kant de facilitar o que


significa esse “agir por dever”, então ele transforma numa fórmula para
você testar as suas ações, se você quer saber se sua ação é certa ou não.
Basta universalizar, “o que aconteceria se todo mundo fizesse isso?” (ex.
Do engarrafamento, se subir na calçada consigo sair, mas se todos
fizerem isso o engarrafamento continuaria, mas agora em cima da
calçada).
Para ele, a mentira é sempre imoral, porque você está usando uma
pessoa como um meio, e colocando no Imp. Cat., se todos começassem a
mentir, a mentira se tornaria impossível.
Thaís A. Guedes da Luz 36

- A liberdade em kant permanece a maior parte do tempo como mera


possibilidade, mas é essa possibilidade que nos fornece o parâmetro
absoluto das noções de certo/errado, justo/injusto.

A liberdade é mera possibilidade, você pode se autodeterminar, mas


é impossível sempre ser livre (se alguém ameaçar a minha vida eu vou
mentir, e isso não torna o ato moral), mas para Kant o que interessa é
essa possibilidade de se autodeterminar, essa possibilidade é que vai nos
dar os parâmetros absolutos pra noção de certo e errado, justo e injusto.
O certo é respeitar a autonomia das pessoas, mas isso não é sempre
possível, e por isso precisamos do Direito, para lidar com os conflitos
entre os indivíduos, por eles não conseguirem sempre se
autodeterminarem..

- Como é impossível ser sempre livre, a implementação do direito positivo


(organização coletiva do uso da força) se torna necessária.
Se fosse possível ser sempre livre, não precisaríamos do direito,
mas para que isso fosse possível não poderíamos nem ter um corpo,
porque eles nos limita com as suas necessidades. Somente uma
consciência pura flutuando no vácuo consegue ser completamente livre.
20.04.2017
Continuação de Kant

- Enquanto seres morais, estamos submetidos a duas ordens legais:

Imperatividade do dever – autonomia


Legalidade do direito - heteronomia

Imperatividade do dever – autonomia: qualquer pessoa têm essa lei, é a


lei moral. A norma moral é uma exigência privada, da consciência, ela é
interna. Não tem sanção.
Legalidade do direito – heteronomia: são as normas de direito. Elas têm
sanção e é externa, regula comportamentos.

- A essência do direito é a coação.


Problema: o direito restringe a liberdade?
A norma jurídica tem o poder de coação. Para ele o direito é
caracterizado pela sanção, sanção é o uso organizado da força.
O direito NÃO restringe a liberdade, se ele está coagindo alguém é
porque esta pessoa não está sendo livre, a sanção no direito serviria para
proteger a liberdade, a autonomia dos indivíduos.
Thaís A. Guedes da Luz 37

- Uma norma que obriga a comportamentos que vão contra o dever moral
não merece ser chamada de direito. Trata-se de um uso arbitrário da
força
Ofender a autonomia das pessoas através da sanção é uma violência
institucionalizada. O direito deve ser o uso legítimo da força, e é legítima
quando serve para proteger a liberdade das pessoas.

- Conceito de direito: é o conjunto de condições sob as quais o arbítrio de


cada um pode se conciliar com o arbítrio dos demais segundo uma lei
universal da liberdade.
conjunto de condições = normas positivas, criam condições para as
relações humanas.
arbítrio = liberdade.
lei universal da liberdade = é o dever.
O direito não limita a liberdade, ele concilia os arbítrios.

- Estrutura da teoria do direito:

Direito privado (natural) – sinônimo de direito natural


Direito real – dir. das coisas
Direito pessoal - contratos
Direito pessoal do tipo real

Direito público (positivo) – serve para proteger os direitos naturais


Direito do Estado
Direito penal
Direito internacional – relação entre Estados
Direito das gentes
Direito cosmopolitano

Para Kant, essa estrutura da teoria do direito pode ser alcançada


por qualquer ser racional.

- estado de natureza – direito natural (privado) – justiça comutativa

- Contrato – exigência da razão pura prática – “Deves, com todos os


outros, sair do estado de natureza para entrar sob uma constituição civil.

- Estado civil – direito positivo (público) – justiça distributiva


Thaís A. Guedes da Luz 38

Estado de natureza - para Kant, nunca aconteceu e nunca poderia ter


acontecido. Teoricamente é um lugar/momento em que o ser humano é
livre, porém essa liberdade nunca ocorreu já que o próprio corpo humano
a limita.
Justiça comutativa - horizontal, relação entre os indivíduos. Para que ela
existisse os seres humanos teriam que se respeitar de modo absoluto.

Contrato - é uma exigência para lidar com os conflitos intrínsecos à


condição humana. O ser humano precisa do ponto de vista racional e
moral do direito.

Estado civil - fruto do contrato. Força organizada politicamente e


instrumentalizada através do Direito, e é isso que vai produzir o que Kant
chama de o que cria a justiça distributiva (única justiça que o homem é
capaz de produzir).

25.04.2017
Continuação de Kant

Direitos naturais

Dir. natural (são retirados da razão, só quem destoa disso é


Rousseau) para Kant é sinônimo de direito privado. Ele chama de privado
porque ele é conhecido privadamente independente de qualquer
organização política. Esses direitos naturais é o exercício da autonomia de
pessoas.

- Direito real: é um direito natural que as pessoas tem sobre qualquer


coisa.
São adquiridos originalmente com base na posse inteligível ->
disponibilidade para o uso: posse inteligível (é o fundamento do direito
real) seria uma espécie de posse teórica que pode ser traduzida como a
disponibilidade para o uso da coisa, mesmo que seu possuidor não tenha
o contato físico.
Comunidade geral da terra: não falou sobre
Posse de coisa externa: só pode ter direito real sobre coisas e não
pessoas, uma pessoa não pode ter posse inteligível sobre uma outra
pessoa.
Thaís A. Guedes da Luz 39

Propriedade: regulação e proteção positiva do direito real.: O Estado


através de uma organização coletiva da força vai regular e proteger os
direitos reais, garantindo uma exclusividade de gozo, precisa regular por
causa dos conflitos inevitáveis entre os indivíduos. O uso é legítimo
quando serve para sua autodeterminação.
Limites do direito real.: proteção da autonomia das pessoas

- Direito pessoal: tem a ver com pessoas, são basicamente os contratos,


posso obrigar uma pessoa a fazer ou deixar de fazer alguma coisa,
entregar um bem etc.
Não tem constituição originária. Só pode ser adquirido por
transmissão.: só posso ter o direito de obrigar a pessoa se ela
espontaneamente transmitiu esse direito por meio de uma promessa.
Além disso tem que ser pessoas capazes (loucos não podem)
Declaração simultânea de duas vontades: um dos lados transmite
espontaneamente uma promessa e o outro lado espontaneamente aceita.
(contrato básico)
Posse da promessa do outro: não é uma posse empírica, é uma
posse inteligível, você passa a ter disposição dessa promessa, você pode
obriga-lo a fazer o que prometeu.

- Direito pessoal de tipo real: é uma novidade que Kant acha que
descobriu, é uma mistura de dir. real e dir. pessoal.
Possibilidade de uma pessoa usar a outra como coisa
Posse do estado do outro em relação a mim: Tem a ver com o estado do
outro em relação a mim, tem a ver com as contingências biológicas,
econômicas e sociais.

Direito conjugal: o casamento não é pessoal por conta do gozo


mútuo dos dotes sexuais, há um contrato de exclusividade.
Direito dos pais: você traz uma pessoa ao mundo independente da
vontade dela, isso gera nos genitores uma obrigação de alimentar,
educar.
Direito do chefe de família: relação do chefe de família com os
criados. trata da relação do chefe de família com os seus criados. Kant
não vê essa como uma relação de igualdade, por isso não é direito
pessoal. Ainda há a existência de um contrato, da vontade de ambas as
partes. Ele é uma espécie de tutor que tem obrigação com seus servos
(incapazes de se autodeterminar plenamente)
Thaís A. Guedes da Luz 40

[Tudo já é de todos, o desafio do direito é organizar o uso que as pessoas


fazem das coisas].

27.04.2017
Continuação de Kant

Direito positivo (público)


- Direito do Estado: É aquele que regula o comportamento humano a fim
de proteger os direitos naturais e a liberdade (autonomia das pessoas).
Ele dá efetividade/protege os contratos (promessas) feitos entre pessoas.

- Direito penal

Utilitarismo x retribuição

Kant defende uma concepção retributiva do direito penal.

Preço – coisa – meio


Dignidade – pessoa – fim em si mesmo

Cálculo da pena: “jus talionis”.

O direito penal é uma parte do direito do estado, para ele, a pena no


direito penal tem uma função retributiva, ou seja, ela deve ser aplicada
em função da ofensa moral praticada pelo criminoso, independentemente
das suas consequências sociais. Na época dele o direito penal era visto
como um instrumento de vingança

Utilitaristas: criticam a ideia de vingança pelo Estado, pois para eles ela é
irracional. O direito penal deve ser pensado de forma a beneficiar a
sociedade.

Kant critica ferrenhamente a concepção utilitarista do direito penal,


porque, quando você está aplicando uma pena pensando no benefício
social, você trata do condenado como um meio (coisa). Segundo Kant, a
dignidade, o respeito à pessoa como um fim em si mesmo é a regra
principal, que não pode ser quebrada. Por isso não se pode pensar na
pena em função da sua consequência social.
Thaís A. Guedes da Luz 41

Da mesma forma que Kant vê como um absurdo a aplicação da pena de


acordo com os benefícios à sociedade, ele também vê como um absurdo a
diminuição da pena em troca de benefícios sociais (ex. delação premiada).
Segundo Kant, só há então um único mecanismo para se calcular a pena:
o uso do ius talionis de maneira racional.
Deve-se analisar a qualidade e a quantidade da ofensa à autonomia
praticada pelo ato criminoso e devolver na mesma moeda.
Qualidade = tipo de ofensa.
Quantidade = tamanho da ofensa.

- Direito internacional

- Direito das gentes


A busca da paz é um dever dos povos
Federação de Estados livres

Direito das gentes seria o direito dos povos, dos estados, algo parecido
com o que chamados hoje de Direito internacional público. Da mesma
forma que os indivíduos são compelidos a se organizar coletivamente, os
Estados também são, já que o mundo é finito e não tem como afastar-se
dos inimigos. Então a busca da paz é um dever dos povos, dever é essa
necessidade moral de equacionar os conflitos, paz é equacionar os
conflitos com a lei. Segundo Kant, a finalidade dos Estados é a de criar
uma Federação de Estados livres (tecnicamente, é uma confederação).

- Direito cosmopolitano: seria o direito das pessoas em relação a outros


estados e pessoas de outro estados, algo parecido com o que chamamos
hoje de direito internacional privado.
Direito à hospitalidade: segundo Kant, qualquer pessoa tem o direito
de estar em qualquer lugar da terra, portanto é um direito seu visitar
outros povos e ser reconhecido como pessoa. (posse inteligível)

02.05.2017
Escola histórica do Direito

Para a escola histórica a razão agora é vista pela história, ou seja,


sua definição é o produto de cada momento histórico. O direito não é mais
visto através da razão e sim da história. O positivismo está presente
durante essa escola. Uma característica comum da escola histórica com o
positivismo é a indução ou invés da dedução.
Thaís A. Guedes da Luz 42

Indução - parte da experiência, da observação.


Dedução - chega a conclusões a partir de princípios lógicos.

Friedrich Carl von Savigny (1779-1861)


Obra: Vocação de nosso tempo para a legislação e a jurisprudência (1814)
Savigny é considerado o pai da escola histórica do Direito, 1º foi um
racionalista, mas por influência do romantismo ele muda de pensamento.
- O direito não é um produto da criação arbitrária de um legislador, nem
algo dedutível racionalmente, mas um produto histórico do espírito do
povo (volksgeist)
O direito não é dedutível como a matemática. Para ele o direito é o
produto do espírito do povo, todo povo tem espírito, que é uma espécie de
“consciência coletiva”, compõe esse espirito os costumes, a religião, a
língua, a visão de mundo, esse espírito se desenvolve de maneira
orgânica, ao longo das gerações, cada espírito de cada povo se
desenvolve de maneira diferente, e esse desenvolvimento independe da
vontade das pessoas.
* A principal fonte do Direito para Savigny são os costumes, os
legisladores vão apenas sistematizar isso, mas a fonte primária é os
costumes, e essa fonte é irracional , e não é estática.

- Ao cientista do direito cabe descrever o sistema de direito de um povo,


tal qual ao biólogo cabe a descrição do sistema orgânico de um ser vivo.
Uma consequência desse pensamento é o conservadorismo, porque
não se pode prever o futuro, só estudar o passado. Ou seja, só pelo
estudo da história compreende-se o direito.
Cabe ao cientista do direito estudar o sistema do direito dentro do seu
povo, assim como o biólogo(...). Só está dentro do poder dele descrever o
espírito do povo e não antecipá-lo como houve na Revolução Francesa.

- Savigny compara:

Língua – direito
Gramática – direito positivo

Savigny diz que para entender o que é o Direito deve-se pensar na


língua de um povo, que é produto de uma evolução histórica, e vai se
transformando de modo imperceptível. Um dia aparece os teóricos da
língua e vão estabelecer a gramática, que são produto de indução, as
regras gramaticais são estabelecidas estudando a forma como as pessoa
falam num determinado momento histórico, a gramática seria uma
Thaís A. Guedes da Luz 43

sistematização do modo como as pessoas falam. O problema é que a


língua vai se modificando, então após um tempo haverá um descompasso
entre a gramática e a língua, então acaba tendo que atualizar as regras
gramaticais, a mesma coisa acontece com o Direito, que se transforma
incessantemente.

- Crítica ao projeto de codificação positivista.


A partir do século 19 virou moda fazer códigos. Savigny entra em
uma polêmica nessa questão. O argumento básico para a existência de
códigos é o da segurança jurídica, da racionalidade. Savigny foi contra a
criação de códigos porque um código engessa o direito que, na verdade, é
vivo. O direito se modifica incessantemente enquanto a lei posta demora
muito para se atualizar, o que cria injustiças. Acaba havendo um
descompasso entre o direito vivo e o direito que está escrito, as leis
devem atualizadas de forma que correspondam aos costumes.

- Método: intuição jurídica dos institutos jurídicos


Para ele, a resposta para esse problema é a criação de um método.
Se há um bom método, o jurista saberá qual lei aplicar e como fazê-la.
Método de interpretação histórico - esse método funciona pela intuição
dos institutos jurídicos (costumes sedimentados que formam a base do
direito de determinado povo). Esses institutos são descobertos através do
estudo da história.

[Observação: o relativismo é um perigo que cerca as escolas históricas.


Savigny crê que não há esse problema na teoria dele porque ele parte da
opinião de que a história pode ser compreendida]

- Método de interpretação da lei: *(não falou sobre)


a) elemento gramatical
b) elemento lógico
c) elemento histórico
d) elemento sistemático

04.05.2017
Hegel (1770 – 1831)
Obra: Princípios da filosofia do Direito

Hegel também tem a história como parâmetro último de seu


pensamento. É um autor fundamental para se compreender Marx. Para
compreender seu pensamento, deve-se ter noção de seu sistema básico.
Thaís A. Guedes da Luz 44

- O panteísmo hegeliano identifica deus com a história.


Espinosa era um pensador moderno (judeu),e construiu um sistema
panteísta (pan= universal, teísmo = Deus) ele defendeu que Deus não é
um ser que criou tudo e está fora do mundo, Deus seria imanente a tudo
que existe, Deus constitui tudo o que existe. Esse tese faz muito sucesso
no período de Hegel e influencia-o. Hegel pega esse panteísmo de
Espinosa e transformar na história, para Hegel a história é tudo o que
existe, a hist. não é produto da atividade livre de homens, a história é um
processo universal, e tem uma lógica de desenvolvimento

- Ser é devir
Devir é movimento, aquilo que flui, e está se transformando
incessantemente, então Ser (existência), é o devir puro, a pura
transformação, tudo o que podemos dizer e pensar sobre as coisas são
mediações históricas.

- Dialética: é a lógica desse processo histórico de transformações. É a


própria lógica da história. Dialética é a relação entre tese, antítese e
síntese. Tudo o que existe está numa relação dialética. Quando chegamos
na síntese, ela passa a se colocar como tese e o ciclo continua.

Tese
Antítese
Síntese

- Contradição: combustível da história

- A liberdade se realiza como espírito


A história se realiza como espírito. Para ele, o espírito tem a ver
com a liberdade, como ela se configura através da história. A história é
um processo de realização da liberdade.

09.05.2017
Continuação de Hegel

Hegel afirma que temos uma noção limitada do tempo, já que só


pensamos em termos lineares, mas essa é uma limitação da mente
humana. Para ele, a história sempre se repete.
Thaís A. Guedes da Luz 45

- A liberdade se realiza como espírito

1) Espírito subjetivo (indivíduo)


Consciência
Autoconsciência
Razão

Posições da razão no mundo:


Linguagem
Luta
Trabalho

Espírito subjetivo: é a mente de cada um, e se estrutura em consciência,


autoconsciência e razão.
Consciência: é o conjunto de todas as experiências que você tem de
coisas TESE
Autoconsciência: é o conceito conhecimento vivencias que temos de nós
mesmos ANTITESE
Razão: é a sintese entre consciência e autoconsciência. Ela se desenvolve
em linguagem luta e trabalho. Sintese.
Linguagem: é a capacidade de representar, que os seres racionais
possuem ex. Eu falo de árvore sem precisar mostrar a árvore.
Luta: é sempre a relação de dois espiritos subjetivos. Quando um espírito
subjetivo se depara com outro sempre há uma luta e isso vale inclusive
para as relações de amizade, amor, um esta sempre tentando
impressionar, convencer
Trabalho: sintese. Trabalho é a atividade racional de transformação do
mundo atraves5 dele transformamos a natureza, produzimos bens,
riquezas, cultura. Para ter trabalho precisamos da linguagem e da luta.

2) Espírito objetivo (sociedade)

Moralidade – subordina interiormente o espírito à lei do dever


Direito – reconhece a personalidade de cada indivíduo, mas só pode
regular a conduta externa dos mesmos.
Eticidade – razão de estado materializados
Família
Sociedade civil
Estado
Thaís A. Guedes da Luz 46

Espírito objetivo: são as sociedades e tem algo a ver com aquilo q Savigny
chamava de espírito do povo. Aqui há uma liberdade que é pública e se
realiza coletivamente. Esse espírito tem uma estrutura dialética:
Moralidade: submete interiormente o espírito à lei do dever. Para Hegel é
um tipo de liberdade. As regras morais são históricas.
Direito: ele não é uma exigência interna e sim externa baseada na
ameaça de sanção. Ele se preocupa com o comportamento externo e não
com a consciência.
Eticidade: conjunto de regras e costumes que determinam as relações em
sociedade. É um produto da moral e do direito, sendo a síntese dos dois.
Se realiza em outra tríade:
Familia: é a menor organização social e é uma associação não contratual,
com os direitos e obrigações decorrendo de condicionamentos biológicos e
afetivos. (Tese)
Sociedade civil - ideia nova que intermedia o indivíduo com o Estado. O
indivíduo sai de seu núcleo familiar e interage com a sociedade civil. Ela
também é uma associação não contratual porque os vínculos e obrigações
com os outros decorrem de fatores econômicos, hierárquicos, etc.
(Antítese)
Estado - associação contratual porque vincula os indivíduos à lei pura e
abstrata. Outro motivo que explica esse vínculo é a igualdade formal: do
ponto de vista do Estado você é cidadão e todos são iguais perante a lei.

* A força não oprime o direito, mas o exprime

A força (capacidade de coagir) nunca oprime o Direito, sendo uma


expressão dele. Para Hegel, quando um espírito objetivo consegue se
impor em uma sociedade e é respeitado isso é justo, porque as ideias de
justiça e moral são históricas e a história é o que define tudo.
Essa foi uma ideia utilizada para apoiar ditaduras, tanto de esquerda
quanto de direita.

11.05.2017
Continuação de Hegel

3) Espírito absoluto (consciência universal, plena, divina e adequada


consigo mesma)
Arte
Religião
Filosofia
Thaís A. Guedes da Luz 47

O espírito absoluto seria a síntese, e seria uma espécie de autoconsciência


do processo histórico. E isso se dá na arte na religião e na filosofia.
Arte: segundo Hegel é uma experiência do universal. Na arte temos a
experiência estética e o belo é uma experiência do universal, e é algo
intuitivo.
Religião: a religião para Hegel é uma consciência mítica do universal.
Filosofia: tem o mesmo conteúdo da religião, é uma consciência universal,
porém, é um entendimento racional

Hans Kelsen (1881 – 1973)


Obra: Teoria pura do Direito
Foi uma tentativa de Kelsen de transformar o direito numa ciência de
verdade. Não havia uma clareza de qual era o objeto do Direito

- Projeto neokantiano de fundamentação das ciências culturais


Ele estava num momento em que as ciências culturais (economia, hiat.
Antropologia) estavam nascendo. E Houve uma grande discussão acerca
do método específico para as ciências, então Kelsen estava querendo
estabelecer a metodologia para as ciências humanas

- Objeto de estudo da ciência do direito.


Fato
Valor
Norma

Não havia uma clareza de qual era o objeto do direito. Ele quis
estabelecer um consenso, direito é fato, valor ou norma?
Fato: quem trata de fatos é a sociologia
Valor: quem trata dos valores, especialmente do valor “justiça” é a
axiologia (axio= valor logia =estudo).
Norma: o Direito vai tratar de normas, esse é o seu objeto. Normas são
criadas por homens para regular fatos e por vezes isso é orientado pelos
valores.

- Definição de norma: norma é o “dever ser” do “ser” ato de vontade.


O ser é o que tem existência, a norma é algo que acompanha este ser, a
norma não vai ter existência e sim validade lógica (ex. Placa de proibido
estacionar, o ser é o metal os parafusos da placa, o dever ser é o
Thaís A. Guedes da Luz 48

significado). O ato de vontade-> antes de se tornar norma, a norma é


sempre criada por alguém que tem competência e quem dá essa
competência é uma outra norma.

Dever ser subjetivo -> dever ser objetivo


Antes de se tornar norma ela é um dever ser subjetivo, é um sentido que
acompanha um ato de vontade ex. Os legisladores estão discutindo uma
lei nova, ali temos um grupo de pessoas com competência para fazer as
leis e esses seres discutindo são seres com ato de vontade. O dever ser se
torna efetivamente uma norma quando ele deixa de ser subjetivo e se
torna objetivo, que é quando a norma é promulgada

Objetivação do dever ser -> estrutura primordial de normas


Toda norma ocupa uma determinada posição

Norma fundamental (grundnorm) – pressuposto de validade objetiva.


Toda norma, segundo Kelsen, sempre retira sua validade de uma norma
hierarquicamente superior, que por sua vez, também tira sua validade de
uma outra norma hierarquicamente superior e assim sucessivamente até
chegar no que Kelsen chama de norma fundamental (grundnorm) que e5
o pressuposto de validade de todas as outras normas.
Somente podem criar normas quem tem competência para tal, essa
competência foi dada por uma norma hierarquicamente superior, e esta
foi criada por alguém que tinha competência até chegar numa pessoa que
não tinha competência, então a norma fundamental dá validade para a
primeira norma do sistema, ela é um pressuposto lógico de que quem
criou a primeira norma tinha competência se não todas as demais normas
seriam inválidas

- Sentidos do dever ser


Ordem: obrigação, proibição
Permissão
Atribuição de competência (poder)

Norma pra Kelsen é sempre uma ordem de obrigação oi proibição, uma


Permissão ou uma Atribuição de competência para alguém obrigar,
proibir, permitir.
Thaís A. Guedes da Luz 49

- Normas jurídicas podem ter qualquer conteúdo


A norma pode prescrever qualquer tipo de conduta dentro de obrigação,
proibição e Permissão

- Normas gerais x normas individuais


Há dois grandes tipos de normas
Geral: procura regular o comportamento dos indivíduos sem estabelecer
uma pessoa específica, não individualiza, (matar alguém)
Individual: se dirige a um grupo especificamente (a sentença que um juiz
proferiu para uma pessoa) se a pessoa morrer a norma também morre.

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