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Resumo
Pode-se afirmar que, para exercer a docência, são necessários conhecimentos e habilidades
específicas, que atendam as exigências e as demandas da profissão. A partir deste pressuposto,
o presente texto apresenta pesquisa realizada no âmbito do Programa de Iniciação Científica da
IES de origem das autoras, tendo como objetivo analisar o papel do estágio curricular
supervisionado para a constituição dos saberes docentes do licenciando em Pedagogia. Para
tanto, numa perspectiva qualitativa, foi realizada pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo
que incluiu um questionário semiestruturado, tendo como sujeitos licenciandos do curso de
Pedagogia de uma universidade pública estadual do Paraná, matriculados no último ano do
curso, ou seja, que já estavam em processo de conclusão de curso e, portanto, já haviam
cumprido toda a carga horária obrigatória de estágio curricular supervisionado. Os dados foram
analisados, principalmente, tendo como base os referenciais teóricos de Pimenta (2012ab),
Behrens (2009) e Tardif (2002, 2009). Denotou-se, de forma significativa, que o estágio
curricular supervisionado desempenha um papel consubstancial na construção dos saberes
docentes do licenciando em Pedagogia, pois, por meio deste processo, o acadêmico tem um
primeiro contato com a realidade em que atuará como profissional, tendo a oportunidade de
conhecer a prática da futura profissão e refletir sobre ela. Os dados coletados permitem afirmar
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Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR. Professora e Coordenadora do
Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná - Unespar/Campus de União da Vitória/PR.
Coordenadora de Área do Projeto Mão Amiga – Capes/Pibid. Membro do grupo de Estudo e Pesquisa em
Educação: Teoria e Prática (GEPE), Linha de Pesquisa Núcleo de Estudos em Formação Inicial e Permanente de
Professores, vinculado ao CNPQ. E-mail: kjunges@brturbo.com.br.
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Graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário de União da Vitória (UNIUV). Acadêmica do
3º ano do Curso de Pedagogia da Unespar/Campus de União da Vitória. Bolsista do Programa de Iniciação
Científica (PIBIC) da Unespar/UV e membro do grupo de Estudo e Pesquisa em Educação: Teoria e Prática
(GEPE), Linha de Pesquisa Núcleo de Estudos em Formação Inicial e Permanente de Professores, vinculado ao
CNPQ. E-mail: carlaarqsoares@yahoo.com.br.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Para exercer a docência, é um consenso entre diversos autores como Behrens (2009),
Morosini (2006), Pimenta (2012a) e Tardif (2002) que o professor necessita construir um
conjunto de saberes e de conhecimentos específicos para desempenhar sua função como
profissional da educação. Afinal, como salienta Cunha (2010, p. 51), “[...] não há profissão sem
saberes e conhecimentos próprios e esses têm de ter um reconhecimento social e institucional
para sua legitimação. Se a docência é uma profissão, há de ter uma base de conhecimentos que
a legitime.”
Partindo deste pressuposto e da necessidade constante de revisitar a organização e o
direcionamento da formação inicial e dos estágios curriculares, questiona-se: como se dá a
construção dos saberes docentes na formação inicial? Qual o papel do estágio curricular
supervisionado para a construção de saberes docentes? Tendo como base estas questões, o
presente texto apresenta pesquisa realizada no âmbito do Programa de Iniciação Científica da
IES de origem das autoras que teve como objetivo analisar o papel do estágio curricular
supervisionado para a constituição dos saberes docentes do licenciando em Pedagogia.
Buscando resposta para tal problemática, numa perspectiva qualitativa, a pesquisa
contou com uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo composta pela aplicação de
um questionário semiestruturado, com a participação dos acadêmicos do quarto ano do Curso
de Pedagogia de uma universidade pública estadual do Paraná, selecionados por já terem
cumprido o total da carga horária prevista de estágio curricular do Curso.
Considerou-se que os dados coletados permitem afirmar que o estágio curricular
supervisionado, é ponto de confluência dos conhecimentos construídos no decorrer do curso,
assim como, majoritariamente, o momento de relacionar teoria e prática, de articular os saberes
curriculares, disciplinares e pedagógicos, de modo a desenvolver o saber da experiência,
coroando o processo de formação inicial.
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Os saberes docentes
Segundo Tardif (2002), os saberes se constituem pela ciência da educação e dos saberes
pedagógicos. De início, os saberes são transmitidos pelas instituições responsáveis pela
formação inicial do profissional docente que, em contato com as ciências da educação, efetivam
a formação científica dos seus saberes. O autor apresenta quatro categorias de saberes
responsáveis pela formação docente: os saberes disciplinares, curriculares, profissionais e
experienciais.
Os saberes disciplinares são apreendidos durante a formação inicial ou continuada,
configuram-se no desenvolvimento de maior conhecimento em determinada área, ou seja, o
domínio do conteúdo a ser ensinado propriamente dito. São aqueles provenientes das diversas
áreas do conhecimento, por exemplo, Matemática, Geografia, Filosofia, entre outras, sendo
normalmente encontradas nas universidades. Como defende Tardif (2002, p.38), “[...] os
saberes das disciplinas emergem da tradição e dos grupos sociais produtores de saberes [...]”.
Já os saberes curriculares são adquiridos nos programas escolares, sendo os saberes
apresentados pela instituição escolar como modelo de formação cultural, modo que se mostram
por meio dos programas escolares, que os educadores têm a necessidade de compreender e por
em prática. Tais saberes são resultantes da produção cultural e, conforme Tardif (2002, p.38),
“correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição
escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos
de cultura erudita e de formação na cultura erudita.”
A respeito dos saberes profissionais, de acordo o autor, são aqueles transmitidos pelas
instituições responsáveis pela formação acadêmica do docente, em conjunto com as ciências da
educação e os conhecimentos já apanhados sendo transferidos para a formação cientifica dos
docentes.
Por fim, sobre os saberes experienciais, Tardif (2002, p.39) relata que são os “[...]
saberes que brotam da experiência e são por ela validados.” Esses saberes profissionais docentes
são constituídos pela prática, ou seja, as experiências adquiridas com base no cotidiano escolar,
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De acordo com o autor, o saber dos professores é plural, determinado por inúmeros
fatores, nos quais a experiência é considerada o coração de todos, é composta por um processo
de tentativas, erros e acertos para ajustes aos fatos e situações. Nesse processo, a experiência
aperfeiçoa-se com o passar dos anos, num contexto de interações humanas, com e para as
pessoas.
Como destaca Pimenta (2012b), o aprendizado docente se constrói na medida em que o
professor articula o conhecimento teórico acadêmico e o contexto escolar, por meio da prática,
partindo do pressuposto que a aprendizagem do professor é somente adquirida quando ele
exerce a profissão, ou seja, a partir da prática, pois contribui no seu desenvolvimento pessoal e
profissional.
O estágio curricular supervisionado é um lócus essencial para a articulação entre teoria
e prática durante o processo de formação inicial. A prática do estágio deve ser um eixo entre
todas as disciplinas e não apenas de uma isolada, tornando-se atividades teóricas que darão
suporte para a prática docente, pois é no contexto escolar, na sociedade em que a práxis acontece
como defendem Pimenta e Lima (2012, p.45): “[...] o estágio curricular, é atividade teórica de
conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta, sim, objeto da práxis”.
O estágio torna-se, então, um retrato vivo da prática docente, tanto para o professor,
como para o aluno, pois:
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Os sujeitos Licenciandos (L) foram numerados de 1 a 11, a fim de preservar sua identidade. Os trechos das
respostas dos questionários transcritos no texto foram deixados entre aspas e em itálico para diferenciá-los das
citações das referências bibliográficas.
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Tabela 1 - Quais os saberes necessários para o exercício docente na opinião dos entrevistados.
Categorias Frequência
Domínio do conhecimento científico 10
Trabalhar com interdisciplinaridade adequando o conteúdo 5
Conhecer a realidade da comunidade escolar 4
Conhecer a realidade do discente 3
Docente possuir didática e flexibilidade 2
Trabalhar com conjunto com a equipe pedagógica 1
Inter-relação da teoria com a prática 1
Docente deve possuir postura e ética 1
Formação continuada 1
Docente contribuir para que aluno se torne pesquisador 1
crítico
TOTAL 30
Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base nos dados coletados, 2016.
Foi notória nas respostas dos entrevistados expostas na Tabela 1 a importância dada
ao saber do conhecimento ou saber disciplinar como apontam Pimenta (2012a) e Tardif (2002,
2009). Grande parte dos Licenciandos valorizou o domínio do conteúdo, ou seja, a detenção do
conhecimento a respeito do assunto a ser ensinado.
Porém, observando as demais respostas, de forma um pouco mais “dissolvida”, aparece
em destaque também o saber pedagógico. Quando os Licenciandos pesquisados afirmam que
é importante ao docente: possuir didática e flexibilidade em seus planejamentos, conhecer a
realidade do discente, articular a teoria com a prática e contribuir para que aluno se torne
pesquisador crítico, entendemos que colocam em evidência o “saber fazer e acontecer” a prática
pedagógica. Ou seja, como explica Pimenta (2012a), este saber realça a efetiva mediação do
professor entre o conhecimento e o aluno.
De forma menos contundente, mas não com menor relevância, aparece o saber de
formação profissional que engloba as categorias: formação continuada e a postura profissional
e ética.
Com base nesta questão, percebe-se que grande parte dos Licenciandos desconhece a
nomenclatura dos “saberes docentes” trazida pela literatura, em autores como Pimenta (2012a)
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e Tardif (2002, 2009). Por outro lado, têm ciência de que é necessário ao professor adquirir
habilidades e competências específicas para sua atuação profissional.
A segunda questão, de forma descritiva, investigou como os respondentes consideram
o estágio supervisionado para a formação docente inicial, como se pode observar na Tabela 2.
Assim o estágio prepara para um trabalho docente coletivo, uma vez que o ensino não
é um assunto individual do professor, pois a tarefa escolar é resultado de ações
coletivas dos professores e das práticas institucionais, situadas em contextos
educacionais, históricos e culturais.
L8: “Sobre o exercício do professor, compreendo que não se limita apenas a conteúdos
específicos, estendendo sua prática a todo contexto social, indo além do saber fazer, portanto
deve desenvolver um trabalho inter e transdisciplinar.”
A terceira questão buscou desvelar quais os principais saberes formados a partir das
experiências no desenvolvimento dos estágios supervisionados no curso, como mostra a tabela
3.
Tabela 3 - Quais os principais saberes docentes construídos a partir das experiências no
desenvolvimento dos estágios curriculares do curso de Pedagogia.
Categorias Frequência
Por meio da inter-relação da prática aliada à teoria, inicia-se 7
a formação da postura e da identidade profissional
Como usar metodologias para atrair a atenção dos alunos 5
Respeitar o tempo de cada aluno 2
Adquirir confiança para exercer a profissão 1
Obter conhecimento científico 1
Conhecer novas metodologias de pesquisa 1
TOTAL 17
Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base nos dados coletados, 2016.
Considerações finais
Com base na pesquisa realizada, pode-se inferir que os saberes docentes são
constituídos ao longo da trajetória formativa e profissional do docente. Porém, destaca-se que
a formação inicial possui fundamental importância, como sendo o primeiro contato do futuro
professor com conhecimentos específicos da docência, que se tornam a base de sua formação.
Denotou-se, de forma significativa, que o estágio curricular supervisionado desempenha
um papel consubstancial na construção dos saberes docentes do Licenciando em Pedagogia,
pois, por meio deste processo, o acadêmico tem um contato inicial com a realidade em que
atuará como profissional, tendo a oportunidade de conhecer a prática da futura profissão e
refletir sobre ela.
Os dados coletados permitem afirmar o estágio curricular supervisionado é ponto de
confluência dos conhecimentos construídos no decorrer do curso, assim como,
majoritariamente, o momento de relacionar teoria e prática, de articular os saberes curriculares,
disciplinares e pedagógicos, de modo a desenvolver o saber da experiência, coroando o
processo de formação inicial.
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REFERÊNCIAS
BURRIOLA, Marta A. Feiten. O estágio supervisionado. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2008.
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Lugares de formação da docência universitária: da perspectiva individual ao espaço
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JUNGES, Kelen dos Santos; PELOSO, Franciele Clara. O estágio nos anos iniciais do Ensino
Fundamental: a articulação necessária entre a teoria e a prática. In: UJIIE, Najela Tavares;
ANSAI, Rosana Beatriz (Orgs.). Estágio supervisionado no Curso de Pedagogia: ação
integrativa e definição de contornos teóricos práticos. Rio de Janeiro: Editora CRV, 2014. p.53-
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MOROSINI, Marília C. Saberes docentes. In: ISAIA, Silvia Maria de A.; CUNHA, Maria
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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
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TARDIF, Maurice. O que é o saber da experiência no ensino? In: ENS, Romilda Teodora;
VOSGERAU, Dilmeiri Sant’Anna Ramos; BEHRENS, Marilda Aparecida. Trabalho do
professor e saberes docentes. Curitiba: Champagnat, 2009. p.25-39.