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É uma doença auto-imune multissistemica crônica, cuja característica mais marcante do ponto de vista
clínico e patológico, é o desenvolvimento de focos inflamatórios em vários tecidos e órgãos. A doença evolui
com períodos de exacerbações e remissões, comprometendo principalmente a pele, articulações, serosas,
glomérulos e o SNC.
Epidemiologia: preferência por mulheres jovens durante a idade fértil, numa proporção feminino/masculino
9:1. Costuma se manifestar entre 15 e 45 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. Existe predomínio na
raça negra.
Etiologia:
Fatores genéticos:
1. Deficiência dos componentes iniciais da cascata do complemento: deficiência de C1q é o fator mais
fortemente associado ao LES. Reduz a opsonização e o clearance de células apoptóticas, aumentando
a meia vida das mesmas.
2. Deficiência de receptor Fc de imunoglobulinas: reduz o clearance de imunocomplexos, aumentando
a meia vida dos mesmos, o que promove seu acumulo no organismo e facilita sua ação patogênica,
esta fortemente associada à nefrite lúpica.
3. Fator regulador de interferon (IRF5): certos polimorfismos em seu gene provavelmente conferem
aumento na capacidade de produzir interferons tipo 1, o que exacerba o funcionamento da
imunidade inata.
4. Presença de HLA-DR2 e DR3: aumentam o risco de LES em 2-3 vezes, possivelmente por predisporem
à formação de autoanticorpos. Outros alelos do HLA que também se associam ao LES: B8, DQA1 e
DQB1.
5. Deficiência nos mecanismos de autorregulação do sistema imune: no LES pode haver déficit na
produção de IL-2, fator transformador beta (TGF-beta) ou outras citocinas que estimulam linfócitos
TCD4+ subtipo regulador e CD8+ subtipo inibidor, levando a uma ativação exagerada do sistema
imune.
Fatores ambientais:
1. Luz ultravioleta: os raios ultravioleta tipo B (mais que o tipo A) exercem efeitos imunogênicos nos
queratinocitos cutâneos: induzem apoptose dessas células; promovem lesão direta do DNA;
modificam as proteínas nucleares que serão expressas na membrana (como o Ro e o La), tornando-
as mais antigênicas; aumentam a liberação de IL-1, IL-3, IL-6 E TNF-alfa, favorecendo a produção de
anticorpos por linfócitos B autorreativos.
2. Hormônios sexuais: enquanto os estrogênios são imunoestimulantes (aumentam a atividade dos
linfócitos B), os androgênios e progestagenos fazem o oposto, podendo explicar a predominância da
doença em mulheres na idade fértil. Pacientes que fazem o uso de ACO ou TRH possuem risco
aumentado de LES.
3. Medicamentos: um dos mecanismos mais prováveis é a indução de demetilação do DNA (processo
que permite a expressão exagerada de genes que numa situação normal permaneceriam inativos,
como os genes de citocinas e outro fator pró-inflamatórios). As associações mais bem estabelecidas
são com a hidralazina, procainamida,isoniazida, fenitoína, clorpromazina, d-penicilamina, metildopa,
quinidina, interferon-alfa e agentes anti-TNF.
4. Tabagismo: desenvolvimento de anticorpos anti-DNA dupla fita.
5. Exposição à sílica
6. Agentes microbiológicos: os vírus podem promover modificações antigênicas e simular
autoantigenos (mimetismo molecular), desencadeando atividade de doença autoimune. Contudo,
apena o vírus EBV mostrou ate o momento, uma maior taxa de infecção previa nos pacientes com
LES do que na população geral.
Manifestações clínicas:
Os sintomas constitucionais são bastante frequentes, tais como mal-estar, fadiga, queda do estado geral,
febre, perda ponderal, etc.
Os locais mais caracteristicamente envolvidos são: pele, articulações, membranas serosas, rins, sistema
nervoso central.
Pele e mucosas: as lesões de pele do LES podem ser classificadas como especificas e não-especificas, em
presença ou não de dermatite de interface na biópsia de pele (infiltrado inflamatório distribuído ao longo
da junção dermoepidérmica). As lesões especificas ainda podem ser divididas em agudas, subagudas e
crônica.
Específicas de LES:
A. Agudas: a lesão mais característica é a erupção malar ou em asa de borboleta, que se
apresenta de forma aguda como uma erupção sobre as bochechas e o nariz, elevada, por
vezes dolorosa ou pruriginosa, frequentemente precipitada pela exposição solar. Pode
persistir por horas a dias e é habitualmente recorrente. Não acometimento dos sulcos
nasolabiais.
A fotossensibilidade é definida pelo surgimento de uma erupção cutânea eritematosa logo
após exposição aos raios solares ou luz artificial fluorescente. As lesões predominam nas
áreas expostas ao sol e estão associadas à presença do anticorpo anti-Ro.
B. Subagudas: pode ou não estar associado a forma sistêmica, cursa com lesões cutâneas
eritematodescamativas difusas não ulcerativas, predominando em membros superiores e
parte superior do tronco. A face geralmente é poupada. As lesões são de caráter recidivante,
comumente precipitadas pela exposição solar, acompanhadas por sintomas musculares e
anormalidades sorológicas, sendo a mais comum a presença do anti-Ro (SSA). Forma anelar
e forma psoriásica.
C. Crônicas: a principal lesão crônica do LES é o lúpus discoide. Predomina na fce, pescoço,
couro cabeludo e pavilhão auricular, sendo caracterizado inicialmente por placas
eritematosas, infiltradas e hiperpigmentadas que evoluem lentamente com uma cicatriz
despigmentada e atrófica, principalmente no centro da lesão. Costuma deixar sequelas
cicatriciais, como alopecia irreversível. Paniculite de kaposi
Não específicas de LES:
Alopecia não discoide: reversível
Vasculite cutânea (anticorpos antifosfolipídeos)
Livedo reticular e telangiectasias
Fenômeno de raynaud: vasoespasmo episódico das pequenas artérias digitais – palidez-
cianose-rubor
Lúpus bolhoso
Ulceras mucosas:palato, lábios, septo nasal, vagina, etc. tipicamente não doem
Articulares/musculares: quase todos os pacientes com LES apresentam poliartralgia e mialgias. A artrite
lupica costuma seguir um padrão simétrico, distal e migratório, com sintomas durando 1-3 dias em cada
articulação. A rigidez matinal geralmente é inferior a 1h. A artrite é critério diagnostico. Não determina
erosões articulares (AR). Artropatia de Jaccoud: retorna ao normal.
Osteonecrone: obliteração de microvasos que suprem o osso medular, causando infarto. Relacionado com
a presença de anticorpos antifosfolipideos e uso de corticoesteroides. Miopatia e miosite.
Renais:
Proteinúria superior a 500 mg/24h ou maior que 3 cruzes no EAS
Cilindros celulares no EAS
Os glomérulos são os principais alvos renais do lúpus: hematúria, clindruria, proteinuria, síndrome
nefrítica, glomérulonefrite rapidamente progressiva e síndrome nefrotica – a deposição dos
imunocomplexos DNA/anti-DNA é a base fisiopatológica da nefrite lúpica + depósitos de C3, C4,C1q
a quantificação dos níveis sericxos de anti-DNAds e complemento é útil para monitoramento da
atividade e resposta terapêutica da nefrite lúpica.
Classe Descrição
I Mesangial mínima (somente imunodepositos,
sem proliferação celular)
II Mesangial proliferativa
III Focal (<50% dos glomérulos)
A) lesões ativas: proliferativa focal
(A/C) lesões ativas e crônicas: proliferativa e
esclerosante focal
C) lesões inativas crônicas com cicatrizes:
esclerosante focal
IV Difusa (>50%)
V Membranosa
VI Esclerosante avançada
Pulmonares:
Pleurite
Derrame pleural: pode ser unilateral, mais comum bilateralmente. Sempre exsudato, com níveis de
glicose normais.
Pneumonite lúpica
Fibrose pulmonar
Síndrome do pulmão contraído
Cardíacas:
Pericardite e derrame pericárdio
Miocardite
Endocardite de libman-sacks: principalmente na valva mitral. Pode causar insuficiência mitral e/ou
aórtica de grau leve a modrado. Manifestação mais temida: embolia arterial. Relação com anticorpos
antifosfolipídeos
Coronariopatia: frequentemente aterosclerótica – estresse oxidativo: aumenta a deposição de
lipídeos oxidados na parede vascular, além de aumentar a secreção de citocinas.
Psiquiátricas:
Disfunção cognitiva leve
Alterações de personalidade
Depressão
Demência
Psicose lupica – critério diagnostico - anti-P
Neurológicas:
Cefaleia
Convulsões
Ave isquêmico: trombose cerebral na síndrome do anticorpo antifofolipideo; embolia cerebral na
endocardite de libman-sacks; embolia arterioarterial; vasculite cerebral
Ave hemorrágico
Neuropatia periférica
Mielite transversa
Meningite asséptica
Hematológicas:
Anemia: normocitica e normocromica
Leucopenia
Linfopenia
Trombocitopenia: síndrome de evans
Esplenomegalia: casca de cebola: fibrose perivascular do baço, lesão h9istologica nas artérias e
arteríolas esplênicas
Linfadenopatia
Anemia hemolítica: por anticorpos quentes (IgG), COOMBS DIRETO POSITIVO; ligação de
autoanticorpos antifator rh na membrana das hemácias, estimulando a fagocitose pelos macrófagos
esplênicos. Critérios de classificação.
Coagulopatia: anticorpo antifato VIII
Gastrointestinais
Peritonite
Vasculite mesentérica
Pancreatite
Hepatite autoimune: anti-LKM1
Oculares:
Ceratoconjuntivite seca
Conjuntivite/episclerite
Vasculite retiniana